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INSTITUTO CAMILLO FILHO DISCIPLINA: HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO GRUPO DE DISCUSSÃO TEMA: TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO CHAΪM PERELMAN COMPONENTES: Adalberto Neto, Aimêe Portela, Giulia Gedeon, João Felipe de Sá, Marcos Augusto Arrais e Marco Aurélio Dantas Filho. A Nova Retórica de Chaїm Perelman 1.1 - A Justiça no pensamento perelmaniano Perelman tentava definir a justiça a partir da lógica formal, a justiça era constante no seu pensamento e possuía todo um aspecto subjetivo, é o ponto central de toda a sua teoria. Rompe definitivamente com a tradição metafísica clássica. Acredita que só mediante regras que versassem a sua aplicação é que a justiça poderia ser analisada com algum nível de certeza e indiscutibilidade. Estabelece como regra de justiça a Igualdade Formal, que a leva a privilegiar a legalidade nos sentidos, uma legalidade como parâmetro para ação justa (Aristóteles) e uma legalidade como lei revitalizada pelo conteúdo (Direito Positivo). Essa legalidade remete-nos ao Estado, que é o responsável pela criação e aplicação da lei e, por consequência, da justiça. Lei - Regra da Igualdade: ''Os seres de uma mesma categoria essencial devem ser tratados da mesma forma'' (PERELMAN). A fórmula da justiça seria tratamento igual para aqueles considerados iguais. Justiça concreta, tem suas características essenciais, como riqueza, produção, antiguidade e etc. Privilegiar um critério em detrimento de outros significa neutralizar as reais diferenças entre os indivíduos, esses critérios são como: necessidade, produção, lugar (origem/posição social do indivíduo) e legalidade. Uma vez estabelecido qualquer critério a aplicação da regra se faça de forma igual e uniformemente para todos. Esses valores são determinados de forma arbitrária. Para Perelman, a justiça não fundamenta o Direito, a igualdade só pode ser verificada no correto procedimento de aplicação da lei. Determinado pelo pensamento positivista, a justiça do Direito só podia conhecer a justiça pelo seu aspecto formal, fora isso preponderaria o arbítrio e a igualdade se basearia na adoção de certas regras. O importante era dar tratamento igual aos seres unidos pela semelhança, e nada melhor que a lei para estabelecer certa igualdade. Porém, ao romper com o pensamento positivista-kelseniano vê o ordenamento jurídico firmado sobre uma pauta valorativa. Os valores, assim determinados, é que nos permitirão justificar as regras e viabilizar a existência da justiça, só o acordo sobre os valores nos permite justificar as regras. Esse tal acordo pode possibilitar o desenvolvimento racional do sistema normativo, e as regras estranhas a ele é que poderão ser arbitrarias. O Relativismo Jurídico de Perelman, a justiça não é um valor absoluto que pode ser fundamentado unicamente na razão, mas relativo, porque fruto da vontade. Perelman distingue três elementos na justiça, o valor que a fundamenta, a regra que a enuncia e o ato que a realiza. A regra e o ato podem ser submetidos a exigências racionais, já o valor não, pois ele é arbitrário e logicamente indeterminado. O valor em si mesmo não é justo, mas sim seus atos e regras. Define equidade como a ''muleta da justiça'', sempre usada em casos em que a lei não se mostre suficiente como parâmetro de justiça, e por conta do seu não-formalismo o juiz forneceria uma solução equilibrada. Um outro elemento mais imediato e espontâneo como forma de fazer justiça é a caridade. Para ele, todo sistema de justiça não deveria perder de vista sua própria imperfeição e disso concluir que uma justiça imperfeita, sem caridade, não é justiça. Quase vinte anos depois, declara que os valores e as normas fundamentais que guiam nossas ações são alheios a qualquer racionalidade, porque são produtos de interesses e paixões logicamente indetermináveis. 1.2- A Nova Retórica - Perelman percebe, em primeiro lugar, que a busca da verdade a partir de opiniões, através do método dialético, pressupõe o diálogo. Contrariando a filosofia contemplativa ou a pesquisa empírica, afirmando que não basta o sujeito buscar sozinho as evidências; é necessária a presença do interlocutor, ou seja o auditório. - O autor individualiza, então, os vários tipos de auditório “diferenciados pela idade ou pela fortuna”, podendo sua extensão ser universal; de um único ouvinte; ou uma deliberação consigo mesmo, e tudo isso com o intento de convencer/persuadir um auditório na sua especificidade. - É que, reconhecer as características específicas de cada um desses auditórios contribui significativamente para o sucesso do empreendimento argumentativo. - Cabe ressaltar, no entanto, que no âmbito da nova retórica a denominada deliberação consigo mesmo perde importância e isso porque, muito embora o orador discorde de sua própria tese, possui um auditório maleável, isto é, consegue adaptá-lo e convencê-lo no momento que isso depende tão somente dele próprio, o orador. - O objeto da retórica, segundo PERELMAN, “é o estudo das técnicas discursivas que visam provocar ou a aumentar a adesão das mentes às teses apresentadas a seu assentimento”. - Portanto, podemos dizer que a Retórica é a adesão intelectual de um ou mais espíritos apenas com o uso da argumentação; é o preocupar-se mais com a adesão dos interlocutores do que com a verdade; é não transmitir noções neutras, mas procurar modificar não só as convicções daqueles espíritos, como as suas atitudes. 1.3- O Auditório Universal - A ênfase dada por Perelman à ideia de auditório corresponde à relatividade que o mesmo vê com relação à verdade e à sua dimensão histórica. - O auditório é um dos elementos fundamentais da retórica: é o referencial da retórica. - O encontro de ideias provocado pela argumentação e pelo convencimento é, para Perelman, o verdadeiro “encontro dos espíritos”. - É em função de um auditório que a argumentação se desenvolve. Por isso, ela pressupõe a existência de um contato intelectual. Basta falarmos em discurso, para a ideia de auditório aparecer. - Orador: é quem discursa apresentando a argumentação. Auditório: aquele indivíduo ou aquele grupo de indivíduos a quem o discurso se dirige, e que, ao mesmo tempo, mostra-se apto a recebê-lo. - Perelman chega a dizer que a ação do orador é uma agressão, pois sempre tende a mudar algo; a transformar o ouvinte. - A finalidade do discurso é a de reforçar a comunhão em torno de valores que deverão prevalecer de forma a orientar a ação futura. - Pode-se chamar persuasiva a uma argumentação que pretende valer só para um auditório particular e chamar convincente àquela que deveria obter a adesão de todo ser racional. - Um discurso convincente é aquele cujas premissas e cujos argumentos são universalizáveis, isto é, aceitáveis, em princípio, por todos os membros do auditório universal. - O orador precisa conhecer o auditório ao qual se dirige, principalmente as teses que comungam. - O auditório universal é aquele para o qual o filósofo se dirige. É a fonte imanente da razão. É a própria razão, ou seja, aquela força que se impõe às mentes esclarecidas, mais especificadamente aos sábios. - O papel do filósofo é mais difícil, porque sua fala é dirigida a todos os que estão dispostos e aptos a ouvi-lo; no caso, pode ser a humanidade inteira ou, ao menos, os mais competentes e razoáveis. - O orador sempre olhará para o seu semelhante como para si próprio e, assim, cada cultura, cada indivíduo tem a sua própria concepção de auditório universal. - Perelman resgata de Aristóteles a ideia do discurso epidílico, que tem por objetivo reforçar a disposição para ações futuras, aumentando a adesão sobre os valores que exalta. O discurso de gênero epidílico trabalha basicamente com valores tradicionais. - Perelman expressa sua adesão à ideologia democrática, voltada para a abertura do diálogo e para a recusa da violência. 1.4- Deliberação e justificativa - Perelman valoriza a ideia de justificação em oposição a ideia de demonstração, ou seja, a “Racionalidade como argumentação”- Toda ação corresponde a uma deliberação, ou decisão valorativa, ao contrário das deduções puramente silogística - O Raciocínio Prático é aquele capaz de justificar uma decisão com o recurso a técnicas de argumentação. São questões só possíveis de serem respondidas mediante apresentação de argumentos convincentes sobre situações concretas - Percebe-se que as posições de acordo com os usos e os costumes ou valores já enraizados na tradição são mais facilmente aceitas, pois não precisam de justificativa - A regra de tradição serve de fundamento de validade, mas o pragmatismo requer que sejam levadas em consideração as consequências da posição assumidas num e noutro sentido - Por outro lado a “nova” decisão pode virar regra de justiça à medida que inspira e serve de exemplo para o julgamento de casos similares - Kelsen: toda solução logicamente possível é juridicamente válida - Perelman: admite a criatividade do juiz na interpretação, ou seja, não existe a indiferença valorativa que Kelsen atribui ao Direito 1.5- A lógica jurídica ou a lógica do razoável - O termo "lógica jurídica" tem um significado especial para Perelman. O que ele entende por lógica jurídica é a ciência encarregada de analisar o raciocínio propriamente jurídico ,que ele sabe aproximar-se do raciocínio dialético. - A lógica jurídica deve ser capaz de suportar e organizar o enfrentamento de teses opostas referentes a um mesmo problema jurídico. - A ideia da lógica jurídica como lógica razoável é apresentada por Perelman em contraponto a lógica formal demonstrativa, característica do pensamento teórico, em que conclusões verdadeiras são extraídas por inferências válidas de premissas também verdadeiras . - Uma crítica que poderíamos apresentar com relação ao trabalho de Perelman é o fato de ele limitar a argumentação jurídica ao âmbito exclusivo do juiz .
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