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Crimes contra a vida

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DIREITO PENAL III
PROFa. LUCIENE SOUZA
TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
Capítulo I – Dos crimes contra a vida
	Neste capítulo, destacam-se os crimes que eliminam a vida humana, considerado o bem jurídico mais importante do homem, razão de ser de todos os demais interesses tutelados. São eles: 
Homicídio – art. 121; 
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – art. 122;
Infanticídio – art. 123;
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – art. 124;
Abortoprovocado por terceiro – art. 125;
Art. 126;
Art. 127; e
Aborto necessário e aborto no caso de gravidez resultante de estupro – art. 128.
Competência para o julgamento de crimes contra a vida, desde que dolosos: art.5º, XXXVIII, da CRFB – Tribunal do Júri.
Homicídio simples – art. 121
Injusta morte de uma pessoa (vida extra ulterina) praticada por outrem.
Bem jurídico tutelado – vida humana.
De acordo com o CP, tem-se:
Art. 121, caput – homicídio doloso simples – ex.: racha;
Art. 121, § 1 º- homicídio doloso privilegiado;
Art. 121, § 2º - homicídio doloso qualificado;
Aert.121, § 3º - homicídio culposo;
Art. 121, § 4 º, 1ª parte – homicídio majorado culposo; 
Art. 121, § 4 º, 2ª parte – homicídio majorado doloso;
Art. 121, §6º – homicídio majorado doloso; e
Art. 121, § 7º – homicídio majorado doloso – feminicídio. 
Crime comum:
Sujeito ativo – crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito passivo – pessoa humana. 
Conduta punida – tirar a vida de alguém. Trata-se de um crime de execução livre.
Voluntariedade – o crime é punido a título de dolo. 
Consumação – o crime de homicídio consuma-se com a morte da vítima. 
A morte ocorre com a cessação da atividade encefálica. 
Tentativa – o crime de homicídio admite a tentativa, pois é um delito plurissubsistente – a execução pode ser dividida em vários atos ≠ crimes unissubsistente, pois a execução não pode ser dividida em vários atos. 
Formas de tentativa dentro do homicídio:
Quanto ao iter percorrido:
Tentativa imperfeita ou inacabada – o agente é impedido de prosseguir no seu intento, deixando de praticar todos os atos executórios à sua disposição. 
Tentativa perfeita ou acabada = crime falho – o agente, apesar de praticar todos os atos executórios à sua disposição, não consegue consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.
Quanto ao resultado produzido na vítima:
Tentativa não cruenta = tentativa branca – o golpe não atinge o corpo da vítima.
Tentativa cruenta = tentativa vermelha – o golpe atinge o corpo da vítima. 
Quanto à possibilidade de alcançar o resultado:
Tentativa idônea – o resultado era possível de ser alcançado.
Tentativa inidônea = crime impossível ou oco – o resultado era absolutamente impossível de ser alcançado. 
Homicídio privilegiado – art. 121, § 1º, do CP
Causa especial de diminuição de pena.
1ª Privilegiadora – matar por motivo de relevante valor social. 
O agente mata para atender aos interesses da coletividade. Ex.: matar traidor da pátria. 
O valor deve ser relevante.
Trata-se de circunstância subjetiva (= motivo). Sendo assim, é incomunicável, nos termos do art. 30 do CP. 
2ª Privilegiadora: matar por motivo de relevante valor moral. Ligadas aos interesses particulares do agente – ex.: eutanásia.
3ª Privilegiadora: homicídio emocional – requisitos:
Domínio (não se confunde com mera influência) de violenta emoção.
Reação imediata – “logo em seguida à injusta provocação da vítima”. De acordo com a jurisprudência, a reação será imediata enquanto perdurar a violenta emoção. 
Injusta provocação da vítima.
Ex.: pai que mata o estuprador da vítima. 
Homicídio qualificado – art. 121, § 2º, do CP
Inciso I – mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe (a razão do delito é vil, ignóbil, repugnante, abjeto, retratando quase sempre ganância) – ex.: homicídio mercenário – dois personagens: mandante e executor (sicário).
Inciso II – motivo fútil – real desproporção entre o crime e a sua causa moral. É a pequeneza do motivo. 
Inciso III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Emprega a fórmula casuística e, ao final, usa fórmula genérica, permitindo ao seu aplicador encontrar casos outros que denotem crueldade ou perigo comum advindo da conduta do agente – interpretação analógica.
Homicídio cometido com emprego de veneno – venefício.
Veneno – toda substância, biológica ou química, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo humano. 
Homicídio praticado mediante tortura – não se pode confundir com o crime de tortura qualificado pela morte. 
	Art. 121, § 2º, III, do CP
	Art. 1°, § 3°, da Lei 9.455/1997
	Tortura = meio
Morte = fim (dolo)
Crime será julgado pelo Tribunal do Júri
	Tortura = fim (dolo)
Morte = resultado involuntário (culpa)
Trata-se de um crime preterdoloso. Como a morte é culposa, o crime não será julgado pelo Tribunal do Júri.
Inciso IV – trabalha com interpretação analógica.
Traição – é o ataque desleal, repentino e inesperado (ex.: atirar na vítima pelas costas).
Emboscada – pressupõe-se ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa. 
Dissimulação – fingimento, o agente oculta a sua intenção criminosa. 
Inciso V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime - homicídio em conexão com outro crime. A doutrina divide a conexão em: 
Homicídio por conexão teleológica – o agente mata para assegurar a execução de crime futuro. Ex.: matar segurança para estuprar atriz.
Homicídio por conexão consequencial – o agente mata para assegurar a ocultação, vantagem ou impunidade de crime passado. Ex.: matar testemunha de um crime estupro. 
Inciso VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino.
Esse inciso foi acrescentado pela Lei 13.104/2015, que trata do feminicídio.
Inciso VII – contra autoridade ou agente descrito nos art. 142 e 144 da CRFB, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra cônjuge, companheiro ou parte consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
Esse inciso foi incluído pela Lei 13.142/2015, que também o inclui no rol dos crimes hediondos – art. 1º, I-A, da Lei 8.072/1990.
Vítimas que estão abrangidas pela nova qualificadora: o homicídio será qualificado se for cometido contra as seguintes vítimas: AUTORIDADE, AGENTE OU INTEGRANTE do (a) (s):
Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica);
Polícia Federal;
Polícia Rodoviária Federal;
Polícia Ferroviária Federal;
Polícias Civis;
Polícias Militares;
Corpos de Bombeiros Militares;
Guardas Municipais;
Agentes de Segurança Viária;
Sistema Prisional (agentes, diretores de presídios, carcereiro, etc.); e
Força Nacional de Segurança Pública.
OU
CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE consanguíneo até 3º grau de algumas das pessoas acima listadas.
Desde que o homicídio tenha sido praticado no exercício das funções ao lado listadas ou em decorrência dela.
Pluralidade de circunstâncias qualificadoras
Ex.: art. 121, § 2º, I (torpe) + III (meio cruel) – segundo Fernando Capez, é impróprio falar em crime dupla ou triplamente qualificado. Basta uma única circunstância qualificadora para se deslocar a conduta do caput para o § 2º do art. 121. Qual a função que assumiriam as demais qualificadoras? Dois posicionamentos:
Uma será considerada como qualificadora e as demais como circunstâncias agravantes de pena (art. 61 do CP) – posição que prevalece.
Uma circunstância é considerada como qualificadora. Com base nela, fixa-se a pena de 12 a 30 ano. As demais serão consideradas como circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, pois o art. 61 do CP é expresso ao afirmar que as circunstâncias não podem funcionar como agravantes quando forem, ao mesmo tempo, qualificadoras. 
Homicídio qualificado + privilegiado
Admite-se, desde que a qualificadora sejaobjetiva, isto é, ligada ao meio ou modo de execução – inciso III e IV. 
	§ 1º - homicídio privilegiado
	§ 2º - homicídio qualificado
	Motivo de relevante valor social
	Motivo torpe – qualificadora subjetiva
	Motivo de relevante valor moral
	Motivo fútil – qualificadora subjetiva
	Domínio de violenta emoção
	Meio cruel – qualificadora objetiva
	Obs.: todas as privilegiadoras são subjetivas
	Modo surpresa – qualificadora objetiva
	
	Vínculo finalístico – qualificadora subjetiva
Homicídio culposo – art. 121, § 3º 
Ocorre quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando, com a sua conduta, o resultado lesivo (morte), previsto (culpa consciente)) ou previsível (culpa inconsciente), porém jamais querido ou aceito.
Imprudência – o agente age sem o devido cuidado que o caso requer, apresentando precipitação, afoiteza.
Negligência – é a ausência de precaução. Diferentemente da imprudência (ação), a negligência é omissão.
Imperícia – é a falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão.
A culpa da vítima pode concorrer com a do agente, inexistindo compensação. Assim, o agente imprudente continua sendo responsável pelo resultado, mesmo que a vítima tenha contribuído, de qualquer modo, para a produção do evento. Contudo, comprovado o nexo entre o comportamento desta e a prática da infração, tal circunstância deverá ser considerada pelo magistrado sentenciante na fixação da reprimenda-base (art. 59 do CP). Somente no caso de culpa exclusiva da vítima é que fica excluída a do autor dos fatos.
Pena:
Em razão da pena mínima prevista (um ano de detenção), permite que o agente se beneficie da suspensão condicional do processo, se cumprido os demais requisitos do art. 89 da Lei 9.099/1995.
Homicídio culposo majorado
Art. 121, § 4º, 1ª parte – a pena é aumentada de 1/3 quando o crime é praticado contra:
Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício – o agente tem aptidão para desempenhar o seu mister, mas acaba por provocar a morte de alguém em razão de seu descaso, deliberadamente desatendendo aos conhecimentos técnicos que possui.
Omissão de socorro – quando o agente, agindo com culpa, deixa de prestar socorro à vítima, podendo fazê-lo e não havendo qualquer risco pessoal a ele. Assim, em vez de figurar o crime de omissão de socorro (art. 135), serve apenas como causa especial de aumento de pena. Se a vítima é socorrida imediatamente por terceiros, não incide o aumento, bem como no caso de morte instantânea, circunstâncias que tornam inviável a assistência. 
Não procurar diminuir as consequências do comportamento.
Foge para evitar a prisão em flagrante. 
Homicídio doloso majorado
Art. 121, § 4º, 2ª parte – a pena é aumentada de 1/3 quando o crime é praticado contra:
Vítima menor de 14 anos – não abrange o dia do 14º aniversário; e
Vítima maior de 60 anos – dia seguinte ao 60º aniversário. 
A idade da vítima é analisada no momento da conduta – art. 4º do CP – Teoria da Atividade.
	1º Momento
	2º Momento
	CONDUTA
	RESULTADO
	Vítima menor de 14 anos – incide o aumento
	Vítima maior de 14 anos
	Vítima menor de 60 anos – não incide o aumento
	Vítima maior de 60 anos
 É indispensável que a idade do ofendido ingresse na esfera de conhecimento do agente, evitando-se responsabilidade penal objetiva.
Perdão judicial – art. 121, § 5º
É o instituto pelo qual o juiz deixa de aplicar ao agente, nas hipóteses taxativamente previstas em lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento. Trata-se de casos em que o Estado perde o interesse de punir. Constitui causa extintiva de punibilidade (art. 107, IX, do CP) que, diferentemente do perdão do ofendido (art. 107, V, do CP), não precisa ser aceita para gerar efeitos. 
Verbete 18 do STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção de punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Milícia privada ou grupo de extermínio – art. 121, § 6º 
A Lei 12.270/2012 acrescentou mais um parágrafo ao art. 121, majorando a pena do homicídio doloso (simples, privilegiado ou qualificado) quando praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança ou por grupo de extermínio. Tipificou também, no art. 288-A do CP, o crime de formação de organização paramilitar, milícia armada e grupo ou esquadrão. 
Grupo de extermínio – reunião de pessoas, matadores, justiceiros (civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas. 
Milícia armada – grupo de pessoas armado (de civis ou não), tendo como finalidade devolver a segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Mediante coação, os agentes ocupam determinado espaço territorial, ignorando o Estado, valendo-se de violência e grave ameaça. 
O texto legal não trouxe o número de agentes para caracterizar o grupo de extermínio ou a milícia privada. Dois entendimentos:
Mesmo número de agentes da associação criminosa (art. 288) – 3 ou mais pessoas.
Mesmo número da organização criminosa (Lei 12.850/2013) – mínimo de 4 pessoas. 
Feminicídio – art. 121, § 7º
Em 10/03/2015, foi publicada a Lei 13.104//2015, que:
Prevê o feminicídio como qualificadora do crime de homicídio; e
Inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
§ 7º. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado:
I. Durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
II. Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência;
III. Na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima como mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
	FEMINICÍDIO
	FEMICÍDIO
	Significa praticar homicídio contra mulher por razões da condição do sexo feminino – razões de gênero.
	Significa praticar homicídio contra mulher – matar mulher. 
	A nova Lei trata do FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata mulher por razões da condição do sexo feminino – por razões de gênero. Não basta a vítima ser mulher.
Antes da Lei 13.104/2015, não havia punição estatal pelo fato de o homicídio ser praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Era punido de forma genérica – art. 121 do CP.
A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter esse nome) poderia ser enquadrado como sendo homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV).
A Lei Maria da Pena não traz um rol de crimes em seu texto. Sendo assim, não é possível falar que referida lei punia o feminicídio. A Lei 11.340/2006 trouxe regras processuais instituídas para proteger a mulher vítima de violência doméstica, mas sem tipificar novas condutas, salvo uma pequena alteração no art. 129 do CP. As medidas protetivas da Lei Maria da Pena poderão ser aplicadas à vítima do feminicídio, obviamente, desde que na modalidade tentada.
Sujeito ativo – pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum). Normalmente, o sujeito ativo é um homem, mas podendo ser mulher – ex.: mulher que mata sua companheira homoafetiva – pode haver feminicídio se ocrime foi por razões da condição do sexo feminino. 
Sujeito passivo – obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino – criança, adulta, idosa.
Homem que mata seu companheiro homoafetivo – não haverá feminicídio, pois a vítima deve ser do sexo feminino. Esse é homicídio. 
Diferenças entre:
Transexual – é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das psíquicas. Segundo a OMS, a transexualidadeé um transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se enxerga (como homem ou mulher). Existem formas de acompanhamento médico oferecidas ao transexual, dentre elas a cirurgia de redesignação sexual (trangenitalização), que pode ocorrer tanto para redesignação do sexo masculino em feminino, como o inverso. A cirurgia para a transformação do sexo masculino em feminino é chamada de neocolpovulvoplastia, que consiste, na maioria dos casos, na retirada dos testículos e a construção da vagina (neovagina), utilizando-se a pele do pênis ou de parte da mucosa do intestino grosso. O transexual não é o mesmo que homossexual ou travesti.
Transexual que realizou a cirurgia de transgenitalização não pode ser vítima de feminicídio, mesmo que já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher para todos os fins de direito, pois continua sendo, sob o ponto de vista genético, pessoa do sexo masculino, mesmo após a cirurgia. O legislador tinha a opção de, legitimamente, equiparar a transexual à vítima do sexo feminino, até porque são plenamente equiparáveis. Entretanto, não o fez. Dessa forma, não pode o intérprete, a pretexto de respeitar a livre expressão sexual do transexual, valer-se de analogia para punir o agente. Em suma: a transexual que realizou a cirurgia e passou a ter identidade sexual feminina é equiparada à mulher para todos os fins de direito, menos para agravar a situação do réu. Isso porque, em direito penal, somente se admitem equiparações que sejam feitas pela lei, em obediência ao princípio da estrita legalidade.
Homossexual – a homossexualidade (não se fala em homossexualismo) está ligada à orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, afetiva ou sexual por pessoas do mesmo gênero. Não possui incongruência de identidade de gênero.
Vítima homossexual (sexo biológico masculino) – não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino. 
A travesti (sempre se utiliza o artigo em feminino) possui identidade de gênero oposta ao sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de redesignação sexual. 
Vítima travesti (sexo biológico masculino) – não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino.
Razões de condição de sexo feminino – no projeto de lei, a locução prevista para o tipo era: se o homicídio é praticado contra a mulher por razões de gênero. Ocorre que durante os debates, abancada de parlamentares evangélicos pressionou para que a expressão gênero da proposta inicial fosse substituída por sexo feminino, com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela lei. A bancada feminina acabou aceitando a mudança para viabilizar a aprovação do projeto. Melhor seria se tivesse sido mantida a redação original, que, aliás, é utilizada na Lei Maria da Penha: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero” (art. 5º) e nas legislações internacionais.
O que são razões de condição de sexo feminino? O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão.
§ 2º-A. Considera que há razões de condições de sexo feminino quando o crime envolve:
I. Violência doméstica e familiar; 
II. Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Inciso I – ex.: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem direito; companheiro que mata sua companheira porque quando ele chegou em casa o jantar não estava pronto.
Não será crime de feminicídio, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a mulher como vítima – ex.: duas irmãs, que vivem na mesma casa, disputam a herança do pai falecido. Determinado dia, um delas invade o quarto da outra e a mata para ficar com a totalidade dos bens para si. Esse crime foi praticado com violência doméstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação íntima de afeto, mas não será feminicídio, pois não foi um homicídio baseado no gênero, tendo a motivação do delito sido meramente patrimonial. 
Inciso II – para ser enquadrado nesse inciso, mister que, além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher –ex.: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada para a função. 
O feminicídio pode ser tentado ou consumado. Pode ser praticado por dolo direito ou eventual.
Natureza da qualificadora – subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente – razões de condição de sexo feminino. Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concursos de pessoas, não há comunicação como os demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiveram a mesma motivação – ex.: João deseja matar sua esposa Maria. Para tanto, contrata o pistoleiro profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas lucrar com a execução. João responderá por feminicídio (art. 121, § 2º, VI) e Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I). A qualificadora do feminicídio não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP. 
Impossibilidade de feminicídio privilegiado. A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. Porém, para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso de feminicídio, a qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que haja feminicídio privilegiado.
Causas de aumento de pena – 1/3 a ½. Para que tais causas de aumentam incidam, o agente deve ter ciência das situações expostas nos incisos, ou seja, precisa saber que a vítima está grávida, que era menor que 14 anos, que tinha deficiência, etc. 
Agravantes genéricas e bis in idem – algumas dessas causas de aumento especiais também estão previstas como agravantes genéricas no art. 61, II, do CP. No caso de feminicídio, o magistrado deverá aplicar apenas as causas de aumento, não podendo, assim, fazer incidir as agravantes que tenham o mesmo fundamento sob pena de incorrer in bis in idem – ex.: se o feminicídio é praticado contra mulher idosa, o agente responderá pelo art. 121, § 2º, VI, com a causa de aumento do inciso II do § 7º. Não haverá a incidência da agravante do art. 61, II, h, do CP.
Competência – dependerá da Lei estadual de Organização Judiciária. 
Existem alguns Estados que-, em sua Lei de Organização Judiciária, preveem que, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica, a Vara de Violência Doméstica será competente para instruir o feito até a fase da pronúncia. A partir daí, o processo será redistribuído para a Vara do Tribunal do Júri. Segundo STF, essa previsão é válida. 
Se a Lei de Organização Judiciária não prever, expressamente, competência da Vara de Violência Doméstica para a 1ª fase do procedimento do Júri, aplica-se a regra geral e todo o processo tramitará na Vara do Tribunal do Júri. 
Crime hediondo
A Lei 13.104/2015 alterou o art. 1º da Lei 8.072/1990 e passou a prever que o feminicídio é crime hediondo.
Diferenças entre o crime comum e o crime hediondo: 
	Crime comum
	Crime hediondo
	Em regra, admite a fiança.
	Não admite a fiança.
	Admite a liberdade provisória.
	Admite a liberdade provisória.
	Admite a concessão de anistia, graça e indulto.
	Não admite a concessão de anistia, graça e indulto.
	O prazo da prisão temporária, quando cabível, será de 5 dias, prorrogável por igual período.
	O prazo da prisão temporária, quando cabível, será de 30 dias, prorrogável por igual período.
	O regime inicial de cumprimento de pena pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
	O regime inicial de cumprimento de pena pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
	Admite a substituição da pena privativa de liberdadepor restritiva de direitos – art. 44 do CP.
	Admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos – art. 44 do CP.
	
	Admite a concessão do sursis, cumpridos os requisitos do art. 77 do CP.
	Admite a concessão do sursis, cumpridos os requisitos do art. 77 do CP, salvo no caso do tráfico de drogas por força do art. 44 da Lei 11.343/2006.
	O réu pode apelar em liberdade, desde que a prisão não seja necessária.
	O réu pode apelar em liberdade, desde que a prisão não seja necessária.
	Para a concessão do livramento condicional, o apenado deverá cumprir 1/3 ou ½ da pena, a depender do fato de ser ou não reincidente em crime doloso.
	Para a concessão do livramento condicional, o condenado não pode ser reincidente específico em crimes hediondos ou equiparados e terá que cumprir mais de 2/ da pena.
	Para que ocorra a progressão de regime, o condenado deverá ter cumprido 1/6 da pena.
	Para que ocorra a progressão de regime, o condenado deverá ter cumprido 2/5 da pena, se for primário; e 3/5, se for reincidente.
	A pena do art. 288 do CP (associação criminosa) é de 1 a 3 anos. 
	A pena do art. 288 do CP será de 3 a 6 anos quando associação for para a prática de crimes hediondos ou equiparados, exceto para o tráfico de drogas, pois a Lei 11.343/2006, em seu art. 35, traz outro quantum de pena: de reclusão de 3 a 10 anos. 
	ANISTIA
	GRAÇA
	INDULTO
	Benefício concedido pelo CN, com a sanção do PR (art. 48, VIII, da CRFB/1988), por meio do qual se perdoa a prática de um fato delituoso. Normalmente, incide sobre crimes políticos, mas pode abranger outras espécies de crimes.
	Graça – ou indulto individual. É um benefício individual, com destinatário certo. Depende de pedido do sentenciado.
Indulto – ou indulto coletivo. É um benefício coletivo, sem destinatário certo. É concedido de ofício e não depende de provocação. 
Concedidos por Decreto do PR. Apagam os efeitos executórios da condenação. Mesmo com a edição do Decreto pelo PR, o Poder Judiciário analisará se o condenado preenche, realmente, os requisitos exigidos para receber o indulto.
Constitucionalidade – a qualificadora do feminicídio é constitucional, pois não viola o princípio da igualdade. O STF enfrentou diversos questionamentos nesse sentido ao julgar a ADC 19/DF, proposta em relação à Lei Maria da Penha. Decidiu que é possível que haja uma proteção penal maior para o caso de crimes cometidos contra a mulher em razões de gênero. Assim, não há violação ao princípio constitucional da igualdade pelo fato de haver uma punição maior no caso de vítima mulher. Na visão da Corte Suprema, a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio são instrumentos que promovem a igualdade em seu sentido material. Isso porque, sob o aspecto físico, a mulher é mais vulnerável que o homem, além de, no contexto histórico, ter sido vítima de submissões, discriminações e sofrimentos por questões relacionadas ao gênero. Trata-se de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da mulher. 
Vigência e irretroatividade – a Lei 13.104/2015 entrou em vigor em 10/03/2015, de forma que a pessoa, a partir dessa data, praticou o crime de homicídio contra a mulher por razões de condição de sexo feminino responderá por feminicídio. Como a lei em comento é mais gravosa, não terá efeitos retroativos. Assim, quem cometeu homicídio contra a mulher por razões da condição de sexo feminino até o dia 09/03/2015, não responderá por feminicídio – art. 121, § 2º, VI, do CP. 
Ação penal pública incondicionada.	
Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – art. 122 
Segundo Nelson Hungria, o suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Para que haja suicídio, é imprescindível a intenção positiva de despedir-se da vida.
No Brasil, como na maioria das nações modernas, a incriminação do art. 122 não pune a pessoa que se mata ou a sua tentativa de se matar, mas a conduta do terceiro que participa do evento, instigando, induzindo ou auxiliando a pessoa e eliminar a própria vida. Somente a vida alheia é penalmente protegida. 
Crime comum:
Sujeito ativo – qualquer pessoa.
Sujeito passivo – pessoa capaz, pois o suicídio se dá com a eliminação da própria vida, realizada de forma voluntária e consciente (capacidade de discernimento).
Pessoa incapaz – tratando-se de suicida incapaz de entender o significado de sua ação e de determinar-se de acordo com esse entendimento, deixa de haver supressão voluntária e consciente da própria vida. Logo, não há suicídio. Nesse caso, o delito é o homicídio, em que a incapacidade da vítima é mero instrumento daquele que lhe provocou a morte. 
O induzimento do agente deve ser dirigido a uma ou várias pessoas determinadas, não podendo ser genérico, dirigido a pessoas incertas – ex.: espetáculos, obras literárias.
Condutas:
Induzimento – hipótese em que o agente faz nascer na vítima a ideia e a vontade mórbida. Essa conduta nos indica que o sujeito passivo não cogitava eliminar a própria vida, sendo convencido pelo agente. 
Participação moral. 
Instigação – o autor reforça a vontade mórbida preexistente na vítima. Essa conduta nos indica que o sujeito passivo já pensava em se suicidar, sendo tal propósito reforçado pelo agente.
Participação moral.
Auxílio – o agente presta efetiva assistência material, facilitando a execução do suicídio – ex.: empréstimo de instrumentos letais. 
Participação material. 
Crime de conduta múltipla ou de conteúdo variado (plurinuclear) – tipo penal que traz mais de um verbo. Mesmo que o agente pratique, no mesmo contexto fático e, sucessivamente, mais de uma ação descrita no tipo penal, responderá por crime único – ex.: agente que instiga e fornece a substância letal (auxílio) para que a vítima se mate, responderá por crime único, devendo o magistrado considerar a insistência criminosa na graduação da pena.
Elemento subjetivo – dolo. O crime somente é punido a título de dolo, expressado pela consciente vontade de instigar, induzir ou auxiliar alguém a se suicidar. 
É possível o dolo eventual – ex.: pai que expulsa de casa a filha desonrada, consciente de que tal arbitrariedade e falta de compreensão poderá incutir na jovem a vontade de se matar, aceitando o risco de produzir o resultado fatal. 
Prevalece o entendimento de que a conduta negligente causadora do suicídio de outrem é fato atípico diante da não existência da forma culposa do delito, não configurando homicídio culposo.
Consumação – divergência doutrinária:
1ª corrente: Ocorre com o induzimento, a instigação ou o auxílio ao suicídio. A punição do crime consumado condiciona-se à superveniência de morte ou lesão grave da vítima (condição objetiva de punibilidade). Não admite a tentativa. Adepto Nelson Hungria. 
Se a vítima induzida, instigada ou auxiliada pratica o ato letal, vindo a falecer, haverá crime consumado, punido com reclusão de 2 a 6 anos.
Se a vítima induzida, instigada ou auxiliada realiza ato fatal, sofrendo lesão grave (suicídio frustrado), o crime está consumado, punido com pena de 1 a 3 anos. 
Se a vítima induzida, instigada ou auxiliada busca acabar com a própria vida, porém sofre apenas lesão leve ou não sofre qualquer lesão, apesar de consumado, não é punível. O mesmo raciocínio se aplica no caso de vítima que nem sequer tenta se matar. 
2ª corrente: nega à morte ou à lesão grave a natureza jurídica de condição objetiva de punibilidade, pois representa o objetivo e o propósito do agente. Isso significa que basta o induzimento, a instigação e o auxílio para caracterizar a consumação do delito. 
Parágrafo único – majorantes de pena – hipóteses:
Motivo egoístico – para satisfazer interesses pessoais – ex.: receber herança do suicida ou ocupar o cargo do suicida.
Vítima menor – menor é todo aquele com idade inferior a 18 anos. 
Vítima que tenha diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência – ex.: ébrio, enfermo, senil, etc. 
Ação penal pública incondicionada.
Pena:
Caput – reclusão de 2 a 6 anos → suicídio consumado; reclusãode 1 a 3 anos → tentativa do suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
Parágrafo único – pena duplicada: se o crime é praticado por motivo egoístico e se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. 
Infanticídio – art. 123 
É o homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo estado puerperal, durante ou logo após o parto.
Deve ser invocado o princípio aparente de normas especialidade para que o art. 123 (norma especial de homicídio) derrogue o art. 121 (norma geral de homicídio).
Esse dispositivo é considerado uma forma privilegiada de homicídio, devido aos sintomas fisiopsicológicos da gestante.
Em razão da pena cominada (pena mínima de 3 anos), trata-se de uma infração penal de grande potencial ofensivo, não admitindo as medidas despenalizadoras trazidas pela Lei 9.099/1995. 
Bem jurídico tutelado – vida humana. 
Sujeito ativo – somente a parturiente, ou seja, a mãe, sob influência do estado puerperal. 
Posicionamentos doutrinários:
1ª Corrente: crime de mão própria – não admite a coautoria.
2ª Corrente: crime próprio – admite a coautoria. 
Sujeito passivo – é o filho nascente (que está nascendo) ou neonato (que acabou de nascer). 
Trata-se de um delito bipróprio, ou seja, exige qualidades especiais tanto do sujeito ativo, quanto do sujeito passivo.
O infanticídio é cometido durante o parto ou logo após.
Se a mãe matar um filho que não seja nascente ou neonato, trata-se de homicídio.
Erro sobre a pessoa – art. 20, § 3º, do CP – a parturiente quer matar o filho que acabou de nascer (neonato). Ela se dirige ao berçário e mata o filho de outra parturiente, pensando ser o seu filho. A parturiente responderá pelo art. 123 do CP. 
O delito deve ser praticado sob a influência do estado puerperal – o estado puerperal funciona como um estado de desequilíbrio fisiopsíquico. Os médicos declaram que toda parturiente passa por esse estágio, o que varia é o grau. 
Se a mãe mata o seu filho e se não se sabendo que ela estava em estado puerperal, deve ser submetida à perícia, para saber se trata de infanticídio ou homicídio. 
Durante ou logo após o parto – elemento temporal + estado puerperal. 
Tipo subjetivo – delito somente punido a título de dolo direto ou eventual. Não se admite a forma culposa. 
Se uma mãe, depois de uma semana do parto, em estado puerperal, ao amamentar o seu filho, muito cansada, adormece sobre o seu bebê, que acaba sendo sufocado e morre, ela responderá por homicídio culposo. Deve-se observar o tipo subjetivo: não agiu com dolo, mas com culpa e não existe a forma culposa no crime infanticídio. 
Em suma: para caracterização do infanticídio não basta que a mãe mate o filho durante ou logo após o parto, sob a influência do estado puerperal: é preciso também que haja uma relação de causa e efeito entre tal estado e o crime, pois nem sempre ele produz perturbações psíquicas na parturiente - Item 40 da Exposição de Motivo do CP. 
Consumação – o crime é material, consumando-se com a morte do nascente ou recém-nascido.
Tentativa – é admissível, pois o delito é plurissubsistente.
Ação penal – pública incondicionada.
Aborto 
Segundo Mirabete, aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
Termo inicial para a prática do aborto – começo da gravidez.
Ponto de vista biológico – fecundação.
Ponto de vista jurídico – implantação do óvulo fecundado no endométrio, ou seja, com a fixação do óvulo no útero materno (nidação).
Bem jurídico tutelado – vida intrauterina. 
A doutrina classifica o aborto em:
Natural – interrupção espontânea da gravidez.
Acidental – decorrente de quedas, traumatismo e acidentes em geral.
Criminoso – arts. 124 a 127 do CP.
Legal ou permitido – art. 128 do CP.
Miserável ou econômico-social – praticado por razões de miséria. Não exime o agente de pena, de acordo com a legislação pátria.
Eugênico ou eugenésico – praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasça com graves anomalias psíquicas ou físicas – exculpante não acolhida pela lei penal. A importância desse assunto recai os casos de fetos anencefálicos. 
Honoris causa – realizado para interromper gravidez extramatrimonium – é crime de acordo com a legislação pátria.
Ovular – praticado até a 8ª semana de gestação.
Embrionário – praticado até a 15ª semana de gestação.
Fetal – praticado após a 15ª semana de gestação.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – art. 124
Duas formas de aborto:
Autoaborto; e
Aborto praticado com o consentimento da gestante.
Sujeitos do crime:
Ativo – as duas condutas somente podem ser praticadas diretamente pela mãe.
Crime próprio ou de mão própria – divergência doutrinária:
Crime próprio – admite o concurso de pessoas: coautoria e participação – ex.: gestante e seu marido, juntos, realizam manobras abortivas. O marido (coexecutor), no entanto, será punido em tipo diverso – art. 126, com pena independente. Trata-se de exceção pluralista à teoria monista (mesmo fenômeno estudado no art. 317 – corrupto – e art. 333 – corruptor). 
Crime de mão própria – não admite delegação, ou seja, somente a gestante pode realizar. Admite apenas a participação, como atividade acessória, quando o partícipe se limita a instigar, induzir ou auxiliar a gestante tanto a praticar o autoaborto como a consentir que terceiro lho provoque.
Passivo – divergência doutrinária:
Estado, pois o feto não é sujeito titular de direitos, salvo aqueles expressamente previstos na lei civil.
O produto da concepção – óvulo, embrião ou feto. Para os partidários dessa corrente, caso sejam vários fetos (gravidez de gêmeos, trigêmeos, etc.), haverá concurso formal de crimes – art. 70.
Condutas:
A mulher grávida, mediante ação ou omissão, interrompe a gravidez, destruindo a vida intrauterina.
A mulher grávida consente o abortamento (responderá pelo art. 124) → figura do provocador → responderá pelo art. 126. 
Elemento subjetivo – dolo → consistente na consciente vontade de interromper a gravidez ou consentir para tanto. Não há a modalidade culposa.
Consumação – como se trata de crime material (necessidade de resultado naturalístico), ocorre com a morte do feto ou a destruição do produto da concepção.
Ocorrendo o nascimento com vida e se verificando a morte do recém-nascido, decorrente de nova ação ou omissão do agente, o delito a se cogitar é o de homicídio ou infanticídio e não mais de aborto, vez que a conduta criminosa recaiu sobre a vida extrauterina. Alguns autores defendem o cúmulo material do homicídio ou infanticídio com a tentativa de aborto. 
Tentativa – como se trata de crime plurissubsistente, é admissível – ex.: realizada a manobra abortiva, o feto é expulso com vida, sobrevivendo. 
Ação penal pública incondicionada.
Pena – detenção de 1 a 3 anos – possibilidade de aplicação da Lei 9.099/1995.
Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante – art. 125
Esse tipo aborto trata-se da forma mais grave do crime.
Sujeitos do crime:
Ativo – qualquer pessoa → crime comum. Admite o concurso de agentes.
Passivo – produto da concepção (óvulo, embrião ou feto) e gestante (dupla subjetividade passiva).
Conduta – interromper, violenta e intencionalmente, uma gravidez, destruindo o produto da concepção – ex.: desferir violento pontapé no ventre de mulher sabidamente grávida.
Elemento subjetivo – dolo.
Consumação – ocorre com a privação do nascimento, a destruição do produto da concepção – crime material.
Tentativa – como se trata de delito plurissubsistente, admite-se a tentativa.
Ação penal pública incondicionada. 
Pena – reclusão de 3 a 10 anos – não cabimento da Lei 9.099/1995.
Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante – art. 126
Sujeitos do crime:
Ativo – qualquer pessoa → crime comum. Possibilidade de concurso de agentes.
Passivo – o feto. 
Conduta – ocasionar (ação ou omissão), com o consentimento válido da gestante, a interrupção da gravidez, destruindo o produto da gestação.Se durante a operação, mas antes da interrupção da gravidez, a gestante desistir do intento criminoso, responderá por aborto não consentido o terceiro que insistir em provocá-lo. A gestante em face do arrependimento ineficaz, responderá pelo art. 124, não se aplicando o disposto no art. 15, mas circunstância atenuante do art. 66. 
Elemento subjetivo – dolo.
Consumação – ocorre com a interrupção da gravidez.
Tentativa – crime plurissubsistente → admite a tentativa.
Parágrafo único do art. 126 – desconsidera a vontade positiva da gestante quando menor de 14 anos, alienada ou débil mental, ou se o seu consentimento foi obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Nessa hipótese, aplica-se ao terceiro provocador a pena do art. 125, ficando a gestante isenta de sanção penal.
Ação penal pública incondicionada.
Pena – reclusão de 1 a 4 anos – cabimento da Lei 9.099/1995.
Aborto majorado pelo resultado – art. 127
O crime de aborto será majorado:
Se, em consequência do aborto ou das manobras abortivas, a gestante sofre lesão corporal de natureza leve – art. 129, §§ 1º e 2º.
Se, por qualquer dessas causas (aborto ou meios empregados), sobrevém-lhe a morte.
Presença do crime preterdoloso. 
Se o agente quer (dolo direto) ou assumi (dolo eventual) o resultado mais grave, o agente responderá pelos dois crimes (aborto e lesões corporais ou homicídio, conforme o caso) em concurso formal – art. 70. 
Art. 128 – aborto legal ou permitido
Inciso I – aborto necessário ou terapêutico: é indispensável o preenchimento de três condições:
Aborto praticado por médico;
Perigo de vida da gestante; e
Impossibilidade do uso de outro meio para salvá-la. 
Entende a melhor doutrina que não há necessidade do consentimento da gestante para a realização do aborto. Basta que o profissional entenda ser indispensável fazê-lo. Desnecessário autorização judicial.
Inciso II – aborto sentimental ou humanitário ou ético– aborto no caso de gravidez resultante de estupro. Consiste em que nada justificaria impor-se à vítima do atentado sexual, ofendida em sua honra, uma maternidade que talvez lhe fosse odiosa e sempre relembraria o triste acontecimento de sua vida. Depende de três condições:
O aborto seja praticado por médico; 
A gravidez seja resultante de estupro; e
Prévio consentimento da gestante ou seu representante legal.
Não há necessidade de sentença condenatória do crime sexual ou autorização judicial. 
Aborto eugênico – o CP, na sua Exposição de Motivos, incriminou o aborto eugênico, aquele praticado em face dos comprovados riscos de que o feto nasça com graves anomalias psíquicas ou físicas.
Feto anencéfalo – embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação congênita, não possui uma parte do sistema nervoso central. Faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma parcela do tronco encefálico (bulbo raquidiano, ponte e pedúnculos cerebrais).
 ADPF 54: dados merecedores de confiança evidenciam que fetos anencéfalos morrem no período intrauterino em mais de 50% dos casos. A gestante convive diuturnamente com a triste realidade e a lembrança ininterrupta do feto, dentro de si, que nunca poderá se tornar um ser vivo. Trata-se de situação concreta que foge à esfera do aborto, que conflita com a dignidade humana, a legalidade, a liberdade e autonomia de vontade. Logo após a decisão do STF, o Conselho Federal de Medicina publicou as diretrizes para interrupção da gravidez em caso de feto anencéfalo. O texto prevê que os exames de ultrassonografia precisam ser feitos a partir da 12ª semana de gravidez, período no qual o feto já se encontra em um estágio suficiente para e detectar a anomalia. No caso do diagnóstico da anencefalia, o laudo terá que ser assinado, obrigatoriamente, por dois médicos. A gestante será informada do resultado e poderá optar livremente por antecipar o parto (fazer o aborto) ou manter a gravidez e, ainda, se gostaria de ouvir a opinião de uma junta médica ou de outro profissional. A interrupção da gravidez poderá ser realizada em hospital público ou privado e em clínicas, desde que haja estrutura adequada. A gestante terá toda assistência de saúde e será aconselhada a adotar medidas para evitar novo feto anencéfalo, com a ingestão de ácido fólico. 
Capítulo II – Das lesões corporais
Lesão corporal – art. 129
Item 42 da Exposição de Motivos do CP
Art. 129, caput – lesão corporal dolosa de natureza leve.
Art. 129, § 1º – lesão corporal dolosa de natureza grave.
Art. 129, § 2º, do CP – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima.
Art. 129, § 3º, do CP – lesão corporal seguida de morte – crime necessariamente preterdoloso – homicídio preterdoloso.
Art. 129, §§ 4º e 5º, do CP – privilégio minorante (causa de diminuição de pena).
Art. 129, § 6º, do CP – lesão corporal culposa.
Art. 129, § 7º, do CP – majorante (causa de aumento de pena).
Art. 129, § 8º, do CP – perdão judicial.
Art. 129, §§ 9º, 10 e 11 – violência doméstica e familiar. 
Art. 129, § 12 – majorante (causa de aumento de pena). 
Bem jurídico tutelado – a incolumidade pessoal do indivíduo, protegendo-o de três formas, conforme a exposição de motivos:
Saúde corporal;
Saúde fisiológica; e
Saúde mental (intelectiva, volitiva ou sentimental).
As lesões podem ser divididas:
Quanto ao elemento subjetivo:
Dolosa simples – caput.
Dolosa qualificada – §§ 1º, 2º e 3º.
Dolosa privilegiada – §§ 4º e 5º.
Culposa – § 6º. 
Quanto ao elemento intensidade:
Leve – caput.
Grave – § 1º.
Gravíssima – § 2º.
Seguida de morte – § 3º.
A lesão corporal dolosa leve e a culposa (não importando se leve, grave ou gravíssima) são infrações penais de menor potencial ofensivo, sendo cabível a transação penal. No caso da lesão corporal qualificada de natureza grave (§ 1º), cuja pena é de reclusão de 1 a 5 anos, admite-se somente a suspensão condicional do feito. Quando o crime doloso for praticado no ambiente doméstico e familiar (§§ 9º, 10 e 11), tratando-se de ofendida mulher, não se aplica qualquer das benesses previstas na Lei 9.099/1995 – art. 41 da Lei 11.340/2006.
Sujeito ativo – trata-se de crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa.
Sujeito passivo – a doutrina entende que o crime também é comum (qualquer pessoa). Entretanto, há duas hipóteses em que o crime deixa de ser comum, sendo crime próprio, cujo sujeito será mulher gestante, a saber:
Art. 129, § 1º, IV – aceleração do parto.
Art. 129, § 2º, V – lesão seguida do aborto.
Significado de lesão corporal = tipo objetivo – ofender, direta ou indiretamente, a incolumidade pessoal de outrem. 
Diferença entre lesão corporal e contravenção penal de vias de fato (art. 21 da Lei de Contravenção Penal) – não se pode confundir o crime de lesão corporal com a contravenção penal de vias de fato, pois nesta inexiste (e nem sequer é a intenção do agente) qualquer dano à incolumidade pessoal da vítima (ex.: mero empurrão, puxão de cabelos, etc.). 
Elemento subjetivo:
Dolo – caput e §§ 1º e 2º. 
Culpa – § 6º.
Preterdolo – §§ 1º, 2º e 3º. 
Consumação – o crime se consuma com a ofensa à incolumidade pessoal da vítima. Trata-se de um crime material. 
Tentativa – com exceção da modalidade culposa, o crime de lesão corporal admite tentativa, mesmo diante da dificuldade probatória. Trata-se de crime plurissubsistente.
Art. 129, caput, do CP – lesão corporal dolosa leve
O que é lesão leve? O conceito é formulado por exclusão, ou seja, a lesão que não é grave, gravíssima, ou seguida de morte (§§ 1º, 2º e 3º), é leve. 
Infração de menor potencial ofensivo. 
Ação penal pública condicionada à representação da vítima – art. 88 da Lei 9.099/1995.
Art. 129, § 1º, do CP – lesão corporal dolosa de natureza grave
Infração de médio potencial ofensivo. Apesar de não admitir a transação penal, é possível a suspensão condicional do processo – art. 89 da Lei 9.099/1995.
Ação Penal Pública Incondicionada. 
Trata-se de qualificadora. Não é uma simples causa de aumento. São lesões qualificadas pelo resultado, podendo o evento ser querido ou aceito pelo agente(dolo: direto e eventual) ou culposamente provocado (culpa), hipótese configuradora do preterdolo. Excepcionalmente, algumas qualificadoras são punidas somente a título de preterdolo, pois, se dolosas também no consequente, outro será o delito. 
Inciso I – incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias – entende-se por ocupação habitual qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou à ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral. Incapacidade entendida como física ou mental.
Mesmo um bebê pode ser sujeito passivo dessa modalidade de lesão, já que tem de estar confortável para dormir, mamar, tomar banho, etc. 
Inciso II – perigo de vida – a presente qualificadora apenas admite o preterdolo (dolo na conduta e culpa no resultado), pois se o agressor considerou a possibilidade de matar a vítima (dolo no resultado), tem-se homicídio tentado. 
Entende-se por perigo de vida a probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovado por perícia. 
Inciso III – debilidade permanente de membro, sentido ou função.
Membro – membros superiores e inferiores que realizam movimentos diversos, entre os quais a locomoção (braços, antebraços, mãos, pernas, coxas e pés).
Sentido – visão, audição, tato, paladar e olfato.
Função – consiste na atividade própria ou natural de um órgão (respiratória, circulatória, digestiva, etc.).
A expressão debilidade significa diminuição, redução ou enfraquecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou função. 
A expressão permanente significa recuperação incerta e por tempo indeterminado. Não significa perpetuidade. 
A perda de um dente configura debilidade permanente? Depende do dente. Se for dente importante para o processo de mastigação, configura debilidade permanente. A perícia atestará se houve debilidade na atividade mastigatória. 
E a perda de um dedo da mão ou do pé? Também depende do dedo. Dependerá de perícia para avaliar se houve debilidade permanente.
Inciso IV – aceleração do parto – o resultado qualificador pode ser doloso ou culposo.
Aceleração do parto – em decorrência da lesão, o feto é expulso com vida antes do tempo normal (parto prematuro). 
Se o feto é expulso sem vida, ou mesmo se com vida logo vem a morrer em razão dos ferimentos, configura-se lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, V, do CP. 
Para privilegiar a responsabilidade subjetiva, é imprescindível que o agente saiba ou tenha condições de saber que a mulher é gestante. Caso ignorada a gravidez da vítima, responderá o ofensor pelo crime de lesão corporal de natureza leve.
Segundo Cezar Bittencourt, todas as qualificadoras contidas no § 1º são de natureza objetiva. Assim, em havendo concurso de pessoas, elas se comunicarão, desde que tenham sido abrangidas pelo dolo do participante.
Art. 129, § 2º, do CP – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima
Trata-se de qualificadora, de regra irreparável ou de maior permanência.
Infração penal de grande potencial ofensivo. Não admite sequer suspensão condicional do processo. 
Ação Penal Pública Incondicionada.
A expressão de “natureza gravíssima” não está na lei. Foi criada pela doutrina diante das consequências mais graves do dispositivo.
	Lei
	Doutrina
	
“Natureza grave” - §§ 1º e 2º do art. 129 do CP.
	“Natureza grave” - § 1º do art. 129 do CP.
“Natureza gravíssima” - § 2º do art. 129 do CP.
Obs.: A Lei de Tortura adotou essa expressão – art. 1º, § 3º. 
Inciso I – incapacidade permanente para o trabalho. Ao contrário do que ocorre no inciso I do § 1º, a incapacidade é para o trabalho (profissão, emprego, ofício, etc.) e deve ser permanente (não mais temporária), absoluta, duradoura no tempo e sem previsibilidade de cessação. 
O resultado qualificador pode ser doloso ou culposo.
A incapacidade deve ser para o exercício de qualquer espécie de trabalho ou basta não poder mais exercer o trabalho anterior? Apesar de divergente, prevalece que a incapacidade deve ser para o exercício de qualquer espécie de trabalho. 
Inciso II – enfermidade incurável – é uma doença que não possui cura.
Entende-se por enfermidade incurável a alteração permanente da saúde, a provocação de uma doença para qual não existe cura no estágio atual da medicina – ex.: vítima, depois das lesões, passa a apresentar convulsões ocasionadas por disritmia cerebral decorrente de traumatismo cranioencefálico.
A doutrina também considera incurável a enfermidade se o restabelecimento da saúde depender de intervenções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos incertos, não estando a vítima obrigada a aventurar-se por caminhos para os quais a própria medicina ainda não reconhece sucesso. 
Inciso III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função – é uma circunstância mais grave que o parágrafo anterior, não mais se falando em debilidade, mas em perda (amputação ou mutilação) ou inutilização (membro, sentido ou função sem qualquer capacidade de exercer as suas atividades próprias. 
O resultado pode ser doloso ou culposo.
ATENÇÃO: Tratando-se de órgãos duplos, a lesão para ser gravíssima deve atingir ambos.
A impotência generandi (em um e outro sexo – laqueadura de trompas e vasectomia) e a coeundi (impotência instrumental) caracterizam a presente qualificadora.
Tema polêmico: cirurgia de remoção da genitália no caso de transexualismo caracteriza perda de membro, sentido ou função: Segundo Cezar Bittencourt, não caracteriza lesão corporal gravíssima, pois a proposta da cirurgia é curar ou reduzir o sofrimento físico ou mental do transexual. Trata-se de uma conduta atípica. 
Inciso IV – deformidade permanente – consiste no dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória (desconforto para quem olha e humilhação para a vítima). 
O resultado pode ser doloso ou culposo. 
Estudo de caso: João, com uma garrafa de vidro quebrada, desfere golpe na face de Pedro, causando-lhe enorme corte na bochecha, que se transforma em cicatriz. O MP oferece denúncia contra João por lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP). Antes de o processo ser julgado, Pedro é submetido à cirurgia plástica reparadora, operação que é bem sucedida, sendo eliminada a cicatriz outrora existente. Diante disso, a defesa pede que a qualificadora da deformidade permanente seja excluída da imputação. O pedido da defesa foi aceito? Não. A qualificadora deformidade permanente do crime de lesão corporal não é afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade da vítima. Isso porque o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou e tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida (sic)) e promovidas a critério exclusivo da vítima. STJ. 6ª Turma. HC 306.677-RJ/2015 – Info 562.
A maioria dos doutrinadores defende posição contrária ao que foi decidido pelo STJ.
Inciso V – aborto. É necessariamente preterdoloso. Pune-se a lesão corporal a título de dolo e o abortamento a título de culpa (crime preterdoloso). Não se confunde com o art. 127, 1ª parte. 
É indispensável que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima. 
	ART. 127 DO CP
	ART. 129, § 2º, V, DO CP
	Aborto qualificado pela lesão grave.
Dolo no aborto e culpa na lesão.
	Lesão qualificada pelo aborto.
Dolo na lesão e culpa no aborto.
Coexistência de qualificadoras – é perfeitamente possível a coexistência, em um determinado fato, de qualificadoras várias, inclusive de natureza leve e gravíssima – ex.: a lesão provoca incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias (§ 1º, I – penal de 01 a 05 anos) e deformidade permanente (§ 2º, IV – pena de 01 a 08 anos) – o crime permanece único, aplicando-se a pena da qualificadora mais grave, devendo o juiz, no momento da fixação da pena-base, considerar as demais consequênciassofridas pelo ofendido – art. 59 do CP.
Art. 129, § 3º, do CP – lesão corporal seguida de morte – homicídio preterdoloso
Homicídio preterdoloso – hipótese em que o agente, querendo apenas ofender a integridade ou a saúde de outrem, acaba por matá-lo culposamente. 
Elementos da figura criminal:
Conduta dolosa dirigida à ofensa da integridade corporal ou da saúde de outrem;
Resultado culposo mais grave (morte); e
Nexo entre a conduta e o resultado.
Infração de grande potencial ofensivo.
Não é crime doloso contra a vida. Assim, não será apreciado pelo Tribunal do Júri.
Ação Penal Pública Incondicionada. 
O caso fortuito ou a imprevisibilidade do resultado elimina a configuração do crime preterdoloso, respondendo o agente apenas pelas lesões corporais. 
Art. 129, § 4º, do CP – privilégio – lesão corporal dolosa privilegiada
Lesão corporal privilegiada é causa de diminuição de pena. Trata-se de uma repetição do homicídio privilegiado.
Art. 129, § 5º, do CP – substituição de pena 
“Não sendo grave as lesões” – a substituição dar-se-á em dois casos: lesão corporal privilegiada (§ 4º) e se as lesões são recíprocas.
Art. 129, § 6º, do CP – lesão corporal culposa 
Lesão resultante de negligência, imperícia ou imprudência. Possui a mesma sistemática do crime de homicídio culposo, modificando-se apenas o resultado.
O grau de lesões sofridas não interfere no tipo, mas somente na fixação da pena-base (art. 59 do CP).
Infração de menor potencial ofensivo.
Ação penal pública condicionada à representação da vítima.
	LESÃO DOLOSA
	LESÃO CULPOSA
	Leve – caput do art. 129 do CP.
Grave - § 1º, do art. 129 do CP.
Gravíssima - § 2º, do art. 129 do CP.
	Leve, grave e gravíssima - § 6º, do art. 129 do CP.
O juiz considerará a gravidade da lesão ao aplicar a pena base – art. 59 do CP. 
A lesão culposa na direção de veículo automotor caracteriza o art. 303 do CTB – Lei 9.503/1997.
	Art. 129, § 7º - lesão corporal dolosa ou preterdolosa majorada
Aumento de pena na ordem de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º, 2ª parte (delito praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos) ou art. 121, § 6º (se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio).
Art. 129, § 8º - perdão judicial
É o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem pra o evento. Em tais casos, o Estado perde o interesse de punir. 
Constitui causa extintiva de punibilidade (art. 107, IX, do CP). 
Cabe à defesa demonstrar que as consequências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se mostra desnecessária. 
Uma vez presentes as circunstâncias previstas em lei, o réu passa a ter direito público subjetivo de não lhe ser imposta qualquer sanção penal.
Art. 129, §§ 9º, 10 e 11 – violência doméstica familiar
	Art. 129, § 9º
	Art. 129, § 10
	Art. 129, § 11
	Qualificadora do caput.
Art. 129, caput – pena de 03 meses a 01 ano. 
Se cometido conforme as características (violência doméstica) do art. 129, § 9º, a sua pena é de 03 meses a 03 anos – deixa de ser infração de menor potencial ofensivo, apesar de permanecer uma lesão leve.
	
Causa de aumento para os §§ 1º, 2º e 3º → as penas são aumentadas de 1/3 no caso de violência doméstica.
	Causa de aumento do § 9º. 
Art. 129, § 9º - pena de 03 meses a 03 anos – no caso de vítima deficiente física, a pena é aumentada em 1/3. 
Para incidir essa majorante, é imprescindível que o agente conheça a deficiência da vítima. 
ATENÇÃO: A vítima não precisa ser mulher nos §§ 9º, 10 e 11, bastando o agente praticar o crime contra ascendente, descendente ou irmão; cônjuge ou companheiro; com quem conviva ou tenha convivido; ou, ainda, prevalecendo-se das relações domésticas de coabitação ou hospitalidade. 
Mesmo na hipótese de lesão leve, tratando-se de violência doméstica e familiar contra mulher, decidiu o STF, no controle concentrado de constitucionalidade (ADC 19 e ADI 4424), que a ação penal é pública incondicionada, pois a Lei 11.340/2006 veda a aplicação da Lei 9.099/1995.
Art. 129, § 12 – lesão corporal contra autoridade ou agente de segurança pública 
Esse parágrafo foi incluído pela Lei 13.142/2015.
Causa de aumento de pena na ordem de 1 a 2/3. 
Ação Penal
Regra: ação penal pública incondicionada.
Exceção: lesão dolosa de natureza leve (caput do art. 129) e culposa (§ 6º) → o oferecimento da ação penal dependerá de representação da vítima ou de seu representante legal – art. 88 da Lei 9.099/1995.
No caso de violência doméstica:
Vítima homem – a) ação penal pública condicionada à representação nas hipóteses dos §§ 9º e 11, pois, apesar de não mais ser de menor potencial ofensivo, permanecem de natureza leve; b) ação penal pública incondicionada na hipótese do § 10 (lesão grave ou seguida de morte).
Vítima mulher – a) ação penal pública incondicionada na hipótese do § 10; b) §§ 9º e 11 – o STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade (ADI 4424), reconheceu que o art. 41 da Lei 11.340/2006 não viola a Carta Magna e decidiu que a ação penal nos crimes de lesão corporal dolosa (mesmo que de natureza leve) cometido contra a mulher no ambiente doméstico familiar é pública incondicionada, dispensando, assim, o pedido de autorização da ofendida. 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal; parte especial. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2016.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 11. ed. Niterói: Impetus, 2015. v.4.
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