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1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 25 U N ID A D E 2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como resposta intelectual para as “crises” decorrentes da implantação e da consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade de estudo, vamos a Sociologia Clássica. OBJETIVOS DA UNIDADE: Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos na Sociologia do século XIX e no início do século XX. São eles Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. PLANO DA UNIDADE: • Uma nova ciência: a Sociologia. • A Sociologia de Émile Durkheim. • A Sociologia de Karl Marx. • A Sociologia compreensiva de Max Weber. Bons estudos! UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 26 UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo duplo processo revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, no século XVIII - fizeram emergir um novo gênero de “questões sociais” que despertou o interesse de filósofos e intelectuais em investigar a sociedade. A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma nova ciência – a Sociologia. Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles procurou em estudos que realizaram, interpretar as questões sociais fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de maneira diversa, estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em contradições profundas. Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna estava associada à fragilidade moral da época em orientar com eficácia a conduta dos indivíduos. A sociedade só poderia manter sua estrutura e equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hábitos e valores, instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a “normalidade social” e preservando, assim, a ordem social. Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do seu tempo eram as contradições insolúveis engendradas pela sociedade capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constituía a realidade concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os homens era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento político para a transformação social. A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou- se referência para o desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histórico de Marx, Weber foi capaz de compreender as particularidades das ciências humanas realçando o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo que ela apresenta de específico. Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos teóricos, que nos levam a diferentes abordagens e concepções metodológicas também variada. A marca principal da análise sociológica do fenômeno social é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa diversidade teórica nos permite construir diferentes imagens do fenômeno estudado e apontam para diferentes direções. SOCIOLOGIA APLICADA 27 A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como fundador da Sociologia pela sua preocupação de dotar a Sociologia de bases científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos desta ciência. Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a investigação social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critérios e limites impostos pela ciência. Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A Divisão de Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909). Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de estudo de seu interesse; definir um objeto de investigação próprio, específico, distinto do objeto analisado por outras ciências. Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e procurar interpretá-los sociologicamente. O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social. Mas, o que são fatos sociais? Afirma Durkheim (1970, p.87-88): “Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos. A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem desta qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente para designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades, pouco interesse social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim dizer, acontecimentos humanos que não possam ser apelidados de sociais. Cada indiví-duo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que estas fun-ções se exerçam regularmente. Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia e da psicologia. Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado de fenômenos que se distinguem por características distintas dos estudados pelas outras ciências da natureza. Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou cidadão, quando satis-faço os compromissos que contraí, cumpro UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 28 deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no direito e nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os meus próprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva, pois não foram estabelecidos por mim, mas sim recebidos através da educação. Quantas vezes acontece ignorarmos os pormenores das obrigações que nos incumbem e, para os conhecer, termos de recorrer ao Código e aos seus intérpretes autorizados! Do mesmo modo, os fiéis, quando nascem, encontram já feitas as crenças e práticas da sua vida religiosa; se elas existiam antes deles, é porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetário que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha profissão, etc. funcionam independentemente do uso que deles faço. Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se compõe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propósito de cada um deles. Estamos, pois, em presença de modos de agir, de pensar e de sentir que apresentam a notável propriedade de existir fora das consciências individuais. Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são exteriores ao indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e coercivo em virtude do qual se lheimpõem, quer ele queira quer não. Sem dúvida, quando me conformo de boa vontade, esta coerção não se faz sentir ou faz-se sentir muito pouco, uma vez que é inútil. Mas não é por esse motivo uma característica menos intrínseca de tais fatos, e a prova é que ela se afirma desde o momento em que eu tente resistir. Se tento violar as regras do direito, elas rea-gem contra mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for possível, ou a anulá- lo e a restabelecê-lo sob a sua forma normal, caso já tenha sido executado e seja reparável, ou a fazer-me expiá-lo, se não houver outra forma de reparação. Tratar-se-á de máximas puramente morais? A consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas especiais de que dis-põe. Noutros casos, a coação é menos violenta, mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu país e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto produ-zem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propria-mente dita. Aliás, a coação não é menos eficaz por ser indireta. Não sou obrigado a falar francês com os meus compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas é impossível fazê-lo de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a minha tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me proíbe de trabalhar com processos e métodos do século passado, mas, se o fizer, arruíno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas regras e violá-las com sucesso, nunca é sem ser obrigado a lutar SOCIOLOGIA APLICADA 29 contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem. Não há inovador, mesmo bem sucedido, cujos empreendimentos não acabem por chocar com oposições deste tipo. Aqui está, portanto, um tipo de fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não poderiam ser confundidos com os fenômenos orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos indiví-duos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais. Tal qualificação convém-lhes, pois, não tendo o indivíduo por substrato, não dispõem de outro para além da sociedade, quer se trate da sociedade política na sua íntegra ou de um dos grupos parciais que engloba: or-dens religiosas, escolas políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, a designação convém unicamente a estes fatos, visto a palavra “social” só ter um sentido definido na condição de designar apenas os fenômenos que não se enquadrem em nenhuma das categorias de fatos já constituídas e classificadas. Eles são, portanto, o domínio próprio da sociologia.” A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as características básicas que permitem reconhecer os fatos sociais. A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo Durkheim, o indivíduo ao nascer já encontra regras sociais, morais, legais, religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações anteriores que deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em sociedade. São maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que existem independente de sua vontade individual, ou seja, são fatos sociais exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não em concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer a uma determinada sociedade ou grupo social implica na adesão obrigatória de regras que servirão para orientar sua conduta e comportamento. Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja, dotados de um poder imperativo que se impõem ao indivíduo pela força. Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais - exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais, religiosas, financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele conformar-se às regras socialmente instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua vontade particular. Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela existência que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo. UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 30 Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade, pode não querer usar a moeda corrente em seu país ou pode não querer se subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá sobre seu comportamento. Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira característica deve ser considerada – a generalidade. Será considerado social o fato que é geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hábitos, as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de comunicação que definem o fluxo das correntes migratórias e de escoamento da produção. Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo de fenômenos – fatos sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de uma determinada sociedade. O Método Sociológico Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem ao pesquisador a escolha de um método que permita investigar de maneira cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das ciências naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos que pertencem ao reino social, com especificidades próprias que os distinguem dos fenômenos da natureza. Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em relação aos fenômenos observados. A regra fundamental para observação dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades exteriores ao indivíduo. O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é condição essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem “contaminar” a interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e concepções de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer verdadeiramente o objeto em questão. O sociólogo deve procurar interpretar a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse, fazendo prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos. A Sociedade Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada “órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade, SOCIOLOGIA APLICADA 31 desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo. Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patológico. Para ele,os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio social e que estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poderá apresentar comportamentos que podem ameaçar a integridade e a harmonia sociais, colocando em risco o consenso que deverá prevalecer. Tais situações são consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção. Depois de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar prejuízos maiores e comprometer a integridade e “bom” funcionamento da ordem social. Os fenômenos sociais “patológicos” deveriam ser tratados para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da sociedade. Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado patológico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era de natureza econômica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa fragilidade moral e a ausência de regras de conduta e comportamento que correspondessem à nova realidade, capazes de frear o ímpeto de destruição e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos. A Sociologia de Karl Marx Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo seleto de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia Clássica. Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto do Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859) e, sem dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento do sistema capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo histórico que o gerou e a sua evolução. Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903). Comprometidos com a não-preservação da ordem socioeconômica do sistema capitalista, Marx e Engels não estavam interessados em dotar a Sociologia de um caráter científico, institucionalizá-la como disciplina acadêmica, como, aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la instrumento político de reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as contradições e os antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário, defendiam a adesão da ciência a uma proposta de ação política prática. Para Marx, a ciência deveria converter-se em um instrumento de transformação radical da sociedade. UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 32 A análise socioeconômica do capitalismo Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados como fenômenos passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivíduos. A análise marxista procurou realizar uma crítica radical a esse modelo histórico de sociedade, apontando suas contradições e antagonismos. Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx e Engels identificavam a luta de classes como a principal característica da sociedade capitalista. Concordavam que a crescente divisão de trabalho na sociedade moderna era a principal fonte de exploração, opressão e alienação. Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista: A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. (Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels – História. São Paulo: Editora Ática, p.365-366) Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe social e alienação. Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes, cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em um único sistema que é o modo de produção capitalista. SOCIOLOGIA APLICADA 33 Para Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem duas classes principais: a burguesia – classe dominante detentora dos meios de produção (propriedades, máquinas, ferramentas, capital, etc.), e o proletariado que destituído dos meios de produção, oferece a sua força de trabalho em troca de salário. Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria desigualdade social, uma vez que a concentração de riquezas se daria pela exploração dos trabalhadores. O capitalismo se revelaria, portanto, em um sistema “selvagem”, pois o trabalhador produziria mais para o seu empresário do que o seu próprio custo para a sociedade. O capitalismo se apresentaria necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais- valia a lei fundamental do sistema. O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.), provocando um “estranhamento” entre o trabalhador e seu trabalho. O homem aliena- se de sua própria essência que é o trabalho. A divisão social do trabalho no capitalismo promove, então, a alienação, uma vez que o trabalhador deixa de ter o domínio do processo de trabalho e dele não se beneficia. As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado decorriam, em grande medida, da oposição de interesses entre as classes sociais. No capitalismo, os trabalhadores estão submetidos à dominação econômica, uma vez que se encontram destituídos da propriedade dos meios de trabalho. A enorme capacidade de produzir do regime capitalista não foi capaz de reduzir a miséria da grande massa da população. Os trabalhadores, no entanto, não estavam submetidos somente a dominação econômica. A dominação estendia-se ao campo político, ideológico e jurídico da sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispõe a burguesia para fazer prevalecer seus interesses e privilégios é o Estado. Através do Estado e dos seus aparatos repressivos (exércitos, polícias), a classe dominante impõe seus interesses ao conjunto da sociedade, fazendo-a submeter-se às regras políticas. Além do aparato repressivo, a classe dominante dispõe do aparato jurídico – o Direito – para garantir, através do estabelecimento de leis que sua vontade prevaleça. Materialismo HistóricoPara interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades humanas, Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que procurava explicar qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através de fatos materiais, essencialmente econômicos. Na Contribuição à Critica a Economia Política, afirmava Marx (1957, 4-5): “O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente assim: na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independente de suas vontades, UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 34 relações de produção que correspondem a um grau de desenvolvimento determinado de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciências sociais determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é inversamente seu ser social que determina sua consciência. A um certo estágio de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações existentes, ou, o que não é senão a expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se moviam até então. De formas de desenvolvimento de forças produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre- se, então, uma época de revolução social. A mudança na base econômica transtorna mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura. Considerando-se estes transtornos, torna-se necessário sempre distinguir entre a desordem material – que pode -constatar de forma cientificamente rigorosa - das condições de produção econômica e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas conseqüências. Da mesma forma que não se pode julgar um indivíduo pela idéia que faz de si mesmo, não se poderia julgar uma época de transtornos pela consciência que ela tem em si mesma; é necessário, ao contrário explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma formação social nunca desaparece antes que sejam desenvolvidas todas as forças produtivas que ela possa conter, e nunca relações de produção novas e superiores tomam seu lugar antes que as condições de existência materiais destas relações surjam no seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso de mais perto, poder-se-á observar sempre que o problema só surge onde as condições materiais para resolvê-lo já existem ou estão pelo menos em vias de existir. Em geral, os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno podem ser qualificados de épocas progressivas da formação social-econômica. As relações de produção burguesas são a última formação contraditória do processo de produção social, contraditória, não no sentido de uma contradição individual, mas de uma contradição que nasce das condições de existência social dos indivíduos; entretanto, as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as condições materiais para resolver esta contradição. Com esta formação social termina então a pré-história da sociedade humana.” Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram de suporte teórico ao materialismo histórico: SOCIOLOGIA APLICADA 35 1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não as constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua vontade. A vida em sociedade estabelece relações sociais que não foram geradas pela vontade individual. A ação do indivíduo no mundo que o envolve obriga-o a contrair relações, as relações sociais. Elas determinam o ser social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças econômicas e das relações sociais que atuam sobre ele. Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza, arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a vida simplesmente natural. É pelo trabalho que os homens transformam e dominam a si próprios e a natureza. Assim, é pelo trabalho, através dos instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas, as técnicas empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem a sua existência. Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as relações de produção. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. São as relações fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua atividade produtiva. As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza, as tecnologias e a divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as forças produtivas. No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer modificações e aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de novos recursos naturais exigem o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção de novas técnicas para atingir o máximo de produção. Por outro lado, além da incorporação de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organização da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos padrões de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho. Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores essenciais para organização de toda atividade produtiva realizada em sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o que Marx chamou de modo de produção. 2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos de produção. São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal e o capitalista. Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser reunidos em dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista são representantes da história do Ocidente. Enquanto o modo de produção asiático caracteriza uma civilização distinta da do Ocidente. O modo de produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho assalariado. Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 36 homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma formação social baseada na exploração do homem pelo homem, na medida em que o modo de produção que o substituiria, seria o modo de produção socialista, não submeteria a massa de trabalhadores à exploração e à opressão. 3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura. Compara a sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria representada pelas forças econômicas - forças produtivas e relações de produção, enquanto a superestrutura representaria as idéias, costumes e instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as filosofias. É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da sociedade moderna. O campo político, jurídico e ideológico por sua vez representa a forma como os homens estão organizados no processo produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectualem geral. A Sociologia compreensiva de Max Weber Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia estabelecer “leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações históricas, e do Materialismo Histórico de Marx – que pressupõe um determinismo econômico na análise dos processos históricos, Max Weber parte da idéia de que cada formação histórica carrega especificidade e importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de peculiar, de particular em cada uma delas. Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não devem ser tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser analisados à distância pelo pesquisador. “O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões ‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes perspectivas é que nasce uma nova ciência”. (WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. Weber – Sociologia. São Paulo: Editora Ática, p.84) Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como única explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos fenômenos culturais pode a redução unicamente a causas econômicas ser exaustiva, mesmo no caso específico dos fenômenos ‘econômicos’”. (WEBER,Op.Cit,86) Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos econômicos, históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a realidade social era infinita e inesgotável, portanto, o conhecimento e os fundamentos gerados pelas ciências sociais não deveriam se limitar a determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social. SOCIOLOGIA APLICADA 37 “A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciência da realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e não de outro modo. Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos mani-festa, “dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma transação concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de forma exaus-tiva essa “singularidade” em todos os seus componentes individuais, e muito mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que tem de causal-mente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita realizado pelo espírito humano finito baseia-se na premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica, e de que só ele será “essencial” no sentido de “digno de ser conhecido”. (WEBER, In: COHN, 1979, p.88) Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de conteúdo”. “Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger o que existe de comum no maior número possível de fenômenos, forçosamente deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.” (Ibid., p.96) Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise objetiva das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.) da realidade, sem a intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos fatos a leis gerais. O que importa é compreender a significação que a realidade da vida possui para os indivíduos em diferentes contextos e em diferentes épocas. O método sociológico interpretativo Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre uma seleção, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 38 “conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o pesquisador escolhe, assim como a delimitação do problema que orientará a sua investigação serão determinados pelas suas escolhas, orientado pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela sua convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma direção e exprime uma determinada interpretação do fato estudado. Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem determinar o objeto de estudo e os limites desse estudo. Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como conferir ao conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores subjetivos do pesquisador, a validade e o rigor de uma obra científica? Como alcançar a objetividade científica? No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que para alcançar maior objetividade científica seria fundamental o pesquisador construir sua interpretação baseada nas normas e preceitos válidos e determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma verdade científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a verdade.”(WEBER,idem,p.100) Segundo Aron (1987), a ciência, na perspectiva weberiana, apresenta dois pressupostos fundamentais para o alcance de sua validade científica. O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não- acabamento, isto, porque o conhecimento científico é um processo que jamais se esgotará. Weber não acreditava que o conhecimento gerado na atividade científica representava um retrato fiel e acabado da realidade, já que esta é ampla e inesgotável, impossível de ser encerrada em sua totalidade. O conhecimento será sempre parcial, fragmentado e inacabado. O que o pesquisador consegue alcançar em sua tarefa investigativa é apenas uma comparação aproximada da realidade. O segundo diz respeito à objetividade do conhecimento como requisito indispensável para qualquer cientista que procure construir um conhecimento verdadeiro e válido. Ação Social: objeto da ciência Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social, conduta humana dotada de sentido e subjetivamente elaborada. À Sociologia caberia buscar compreender o sentido que os indivíduos atribuem a sua conduta. Segundo Cohn (1979) é tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo indivíduo como fundamento da sua ação. Tanto o indivíduo como as suas ações são considerados pontos-chave da investigação científica, evidenciando o que SOCIOLOGIA APLICADA 39 para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreensão e a percepção do sentido que cada indivíduo atribui à sua conduta. Portanto, é tarefa do cientista social reconstruir o motivo que fundamenta a ação, porque ela figura como causa e efeitos da conduta dos indivíduos. Na concepção weberiana, o indivíduo age orientado por motivações informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela emoção. Existirá uma ação social toda vez que um indivíduo estabelecer com outro algum tipo de comunicação, a partir da sua condutacom os demais indivíduos. Para Cohn (1979) a ação social é a conduta à qual o indivíduo associa um sentido subjetivo. É a ação orientada significativamente pelo indivíduo conforme a conduta de outros indivíduos e que transcorrem consonância com isso. Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação tradicional e a ação afetiva. 1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em que o agente concebe claramente objetivos específicos a serem alcançados. Exemplo: o atleta que se prepara para realizar uma competição; a ação do cientista. 2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela crença consciente no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica determinada conduta. O indivíduo age motivado pela “força” dos valores sobre a sua conduta. Aceita todos os riscos para manter-se fiel a sua honra ou causa que acredita. Por exemplo: o “homem-bomba”, que mesmo consciente do fim trágico de sua ação, age em conformidade com a sua crença religiosa. 3) A ação afetiva: é a ação que corresponde ao “estado de espírito” do agente que a pratica. É definida por uma reação emocional dos indivíduos em determinadas circunstâncias, que necessariamente não foi orientada por um planejamento prévio ou motivada por valores. Exemplo: a explosão de raiva do motorista quando leva uma “fechada” no trânsito. 4) A ação tradicional: é a ação ditada pelos hábitos, costumes e crenças arraigadas. O indivíduo age obedecendo a reflexos adquiridos pela prática. Para agir conforme a tradição, o indivíduo não precisa orientar-se por um objetivo ou valor, nem tragado por uma emoção, obedece simplesmente a hábitos enraizados por longa prática. Exemplo:o batismo dos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a religião. Segundo Quintaneiro (1999), o sociólogo pode usar essas categorias para analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivíduo pode ou não praticar: estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de uma associação, fumar, presentear, socorrer, castigar, comer certos alimentos, assistir à televisão, ir à missa, à guerra, etc. É tarefa do sociólogo, portanto, compreender o sentido que o sujeito atribui à sua ação e seu significado social. UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 40 Os “tipos ideais” Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e conceitos empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos instrumentos metodológicos que permitiriam ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares. A este recurso metodológico Weber chamou de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas. Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído: “mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quan-tidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentua-dos a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em que medida portanto o caráter econômico das condições de determinada cidade poderá ser qualificado como “economia urbana” em sentido conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da investigação e da representação”. Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo ideal) acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante na observação do fenômeno selecionado para o estudo. Segundo Costa(2005, 100): o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas forma-ções sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade observável. É um instrumento de análise científica, numa construção do pensa-mento que permite conceituar fenômenos e formações sociais e iden-tificar na realidade observada suas manifestações. Permite ainda com-parar tais manifestações. A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade complexa, partindo de traços característicos essenciais. Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões e conceitos que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da Sociologia. Esperamos que você tenha percebido que a realidade social é um fenômeno que pode ser compreendido de várias formas distintas e que a análise sociológica é plural, porque permite olhar um mesmo fenômeno por diferentes ângulos. SOCIOLOGIA APLICADA 41 LEITURA COMPLEMENTAR: COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo: Moderna, 2005. 416p. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção Primeiros Passos-57). 58p. QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana. Vamos em frente!
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