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Scheila Maria 2017 CÂNCER DE BEXIGA Anatomia vesical Saco muscular localizado atrás da sínfise púbica. Formado por 3 a 7 camadas de epitélio de células transicionais: epitélio de mudança entre o epitélio cilíndrico simples dos túbulos renais e o epitélio estratificado do terço distal da uretra. As células superficiais chamam atenção pelas uroplaquinas. Após a camada transicional há a membrana basal, a lâmina própria (tecido conjuntivo frouxo) e a camada muscular, responsável pelo relaxamento e contração do órgão. Homem: ductos deferentes, vesícula seminal, ureter e reto (posterior); próstata (inferior), ílio e cólon (superior). Mulher: útero, vagina e reto (posterior), uretra (inferior); útero e ílio (superior) Vascularização: artérias vesicais superior, média e inferior. Suplementar: ramos da aa. umbilicais, obturatórias e glútea menor. Fatores de risco Idade avançada 60-70 anos | Sexo masculino | Raça branca Tabagismo | Abuso de analgésicos derivados da fenacetina Cistites crônicas | Cálculo vesical | Irradiação pélvica Ciclofosfonamida | Exposição industrial a aminas aromáticas | Exposição a tintas artificiais Dieta rica em carnes e gorduras | Infestação por Schistosoma haematobium OBS: O tabagismo é responsável por até 60% dos tumores; leva a deficiência de vitamina B6, importante no metabolismo de produtos endógenos derivados do triptofano, que são carcinogênicos. O risco relacionado ao tabagismo é cumulativo e dose-dependente. Estima-se que o abandono do hábito reduza, em até 4 anos, 60% do risco. Epidemiologia Segunda neoplasia urogenital mais presente em homens. Acomete mais o sexo masculino 3:1 1,73% das mortes notificadas Doença acomete mais idosos (60 a 70 anos) Raça branca 85 a 75% são tumores superficiais Alto índice de recorrência em 12 meses (45%) A bexiga responde por 90% dos cânceres de células transicionais (8% pelve renal e 2% ureter e uretra proximal. Patologia 95% Carcinomas de células transicionais 3-7% Células epidermóides ou escamosas 2% Adenocarcinomas, originados no úraco. Menos de 1% são tumores de pequenas células 75% são tumores superficiais | 20% invasivos | 5% já tem doença metastática Carcinoma in situ agressividade CA de células transicionais, indiferenciado, restrito ao urotélio. Caráter altamente esfoliativo: Citologia positiva em até 90% dos casos Lesão plana, não vista na citoscopia. Maior risco de recidivar e progredir. Carcinoma papilífero Principal tipo de tumor superficial Massa exofítica na parede vesical Restrita a mucosa ou lâmina própria Grau 1: tumor bem diferenciado Tende ao sangramento e à recorrência Apenas 10 a 15% dos casos se tornam invasivos, mesmo na recidiva Tumor invasivo Diferenciação intermediária: grau 2 Anaplásicos: grau 3 Geralmente são sésseis ou planos, evoluindo para carcinoma plano invasivo (50% associado à metástase) Infiltram a parede vesical: Camada muscular, gordura perivesical, estruturas vizinhas. Disseminação: Por contiguidade: parede pélvica, vagina ou próstata. Pelas vias linfáticas: gânglios ilíacos e periaórticos Pela via hematogênica: ossos, pulmão e fígado. Clínica Em 80 a 90%: Hematúria macroscópica sem dor | Pode conter coágulos Em 20%: Disúria | Polaciúria | Urgência urinária Em 2%: Hematúria microscópica Tumores invasivos: obstrução do trato urinário superior Quando suspeitar? Homens > 40 anos com hematúria macroscópica, muitas vezes tabagista, às vezes com sintomas irritativos (polaciúria, urgência, disúria). Massa sólida ou falhas de enchimento em exames de imagem Diagnóstico. Cistoscopia com biópsia: - Conduta padrão ouro no diagnóstico e acompanhamento - Tamanho, localização, nº de lesões e aspecto. - Lesão compatível com CA de bexiga à cistoscopia se confirma em mais de 90% dos casos no exame anatomopatológico - A cistoscopia pode ser terapêutica em caso de lesões superficiais. US abdominal: - Vantagens: não invasiva e não ionizante | permite avaliação do TU superior - Alta sensibilidade na detecção de tumores > 0,5cm - Para tumores < 0,5cm, apenas 33% - Falha em tumores mal localizados: atrás da sínfise púbica, junto ao colo vesical - Não é útil no estadiamento. Outros exames de imagem - Tomografia computadorizada | urografia excretora: investigação do aparelho urinário superior em pacientes de alto grau. - Ressonância: apenas casos especiais com alergia ao contraste e IR. Obs: Na urografia podem-se encontrar falhas de enchimento, permitindo também avaliação do TU superior, como já dito, porém a TC ganhou mais espaço por permitir uma avaliação mais minuciosa. Estadiamento Objetivo: determinar se a doença é superficial ou invasiva (comprometimento da camada muscular), sua extensão locoregional ou metastática. Sistema TNM Biópsia TC de abdome e pelve: pesquisar extensão local e metástases intra-abdominais. Principalmente tecidos perivesicais, próstáticos, vesículas seminais e linfonodos > 2cm. Rx de tórax: rotina para pesquisa de meta pulmonar Cintilografia óssea: pacientes com sintomas apenas (meta pulmonar = 5%) USG não utilizada: não detecta TU < 0,5cm, extensão tumoral na parede vesical e adenomelgalias Lembrar: Carcinoma papilífero não invasivo é altamente recidivante (40-80% dos casos) Metástases mais comuns: fígado, pulmões e ossos. Tratamento Tumor superficial (Ta | Tis | T1) Ressecção endoscópica transuretral Terapia intravestical: recorrência e progressão Indicações: TU>3cm | múltiplos | acometendo > 40% da mucosa vesical | recidivantes | CA in situ | T1 | alto grau Quimioterápicos: Tiotepa | mitomicina C | adriamicin Imunomoduladores: BCG (1x/semana por 6 semanas depois 1x/mês por 1 ano) Contra-indicações BCG: tuberculose em atividade, leucemias, linfoma de Hodgkin, infecção urinária, gravidez, lactação, pacientes transplantados. Efeitos colaterais: febre, prostatite, pneumonia, hepatite, hematúria, artralgia, epididimite, obstrução uretral, rash, bexiga contraída, óbito. Tumor invasivo (T2 | T3): Cistectomia radical (utilizada também em recorrentes, refratários à terapia intravesical...) + linfadenectomia pélvica bilateral No homem: bexiga + próstata + vesículas seminais + ductos deferentes + uretra proximal [complicação: impotência sexual] Na mulher: bexiga + uretra + útero + trompas + ovários + parede vaginal anterior Quimio adjuvante: M-VAC Tumor metastático Não há benefício na cistectomia radical Quimioterapia sistêmica Esquema M-VAC: metotrexato + vimblastina + adriamicina + cisplatina Reconstrução do trato urinário Neobexiga ortotópica: confecção de um novo reservatório de urina utilizando-se um segmento de alças intestinais de cerca de 20 a 30 cm, que ficam excluídas do trânsito intestinal. Os ureteres e a uretra são então suturados (conectados) a essa neobexiga, que armazenará a urina produzida pelos rins. Indicações: tumores não localmente avançados, pacientes mais jovens, sem comprometimento linfonodal, do colo vesical ou da uretra prostática, função renal normal, competência esfincteriana, segmento intestinal saudável. Desvantagens: distúrbios metabólicos, maior tempo cirúrgico, perda urinária noturna, necessidade de esvaziamento. Conduto ileal ou cirurgia de Bricker: faz-se a reconstrução da bexiga utilizando-se um segmento intestinal que é exteriorizado na pele por um orifício chamado estoma. Pelo estoma, a urina produzida pelos rins é eliminada de forma constante, exigindo o uso de uma bolsa coletora aderida à parede abdominal. Indicações: pacientes muito idosos ou debilitados, condições clínicas menos favoráveis, tumores localmente avançados. Desvantagens: desconforto, estética. Obs: É a mais realizada, visto que a maioria dos pacientes são idosos ou estão debilitados.
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