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Caderno direito internacional ACR

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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO – ACR
2014
Aula 1 
Bibliografia
1- Direito internacional público
- Manual de Direito Internacional Público – Accioly
- Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional - ACR
- Direitos fundamentais na cooperação jurídica internacional – Denise Abade
Obs. Malcolm Shaw – peculiaridade interpretativa (visão britânica). Mas parte do Edital está ali.
1- Conceito de direito internacional
Consiste em um conjunto de normas jurídicas que rege a relação de Estados, organizações internacionais e, subsidiariamente, indivíduos e outros entes, no seio da sociedade internacional.
Esse direito tem como foco os Estados e as Organizações Internacionais. Cada vez mais há a regulamentação da atividade de indivíduos.
2- Terminologia- ponto 1.a (edital do 27º )
a) Direito das gentes
A expressão é utilizada nos séc XVII e XVIII com mais ênfase (início da afirmação histórica do direito internacional). Depois, vai sendo utilizada como sinônimo rebuscado de direito internacional. Vocação de demonstrar o vínculo da nova matéria com o ius gentium do Direito Romano. O Ius Gentium tinha como objeto a regulamentação das condutas daqueles que não eram cidadãos romanos. Para os romanos, havia o ius civilis.
Problema de usar como sinônimo de direito internacional é que o ius gentium era voltado para indivíduos, ao passo que o direito internacional se volta aos indivíduos somente subsidiariamente.
Cançado Trindade – Juiz da Corte Internacional de Justiça – tem feito menção ao “novo ius gentium”, o que será abordado na explicação sobre desenvolvimento histórico.
b) Direito internacional (International Law)
Contribuição da língua inglesa, onde nation se refere a Estado. Bentham, em 1950, consagra a expressão. Mas o direito internacional se refere a mais do que somente os Estados, como visto no conceito acima.
Clovis Beviláqua: uso da expressão direito público internacional.
=> evitar expressão “direito global”
3- Desenvolvimento histórico do direito internacional
a)1ª fase – da antiguidade à idade moderna
Normas que regulam relações entre comunidades desde a antiguidade oriental até a idade moderna. O relacionamento entre comunidades necessitava de regras de conduta.
Mas o direito internacional tal qual compreendido hoje tem como elemento chave a soberania, o que não existia nesse momento, somente sendo possível a partir da emergência do Estado Nacional, após a crise da baixa idade média na Europa. A depender da região, alguns estados nacionais se organizaram antes e outros (a Itália somente se unificou em 1860, também tendo a Alemanha o feito somente na segunda metade do século XIX).
Nessa época, a extradição era voltada ao inimigo do regime, ao passo que hoje nem mesmo é possível extraditar por crime político.
b) 2ª fase - Afirmação histórica do direito internacional (direito internacional clássico)
Do fim do século XVI ao começo do século XX aproximadamente.
Tem como marcos duas datas:
I- 1625: Hugo Grócio (pai do direito internacional – escreve o primeiro manual)
Francisco de Vitório e Francisco Soares – compõem a Escola de Salamanca do Direito Internacional (Espanha). Esses autores têm alguns escritos importantes para o Direito Internacional. “Do direito da guerra e da paz”.
II- 1648- Paz de Vestifália
2 tratados: Munster e Osnasbruch – põem fim à guerra dos 30 anos. 
O Estado Nacional era o Estado absoluto. Tem como eixo central a existência de um poder soberano. 
Soberania, na visão clássica, é o poder absoluto e incontrastável, na definição de Jean Bodin. 
O nascimento do Estado nacional se deu, dentre outros motivos, pela necessidade de unificação para alcance dos mercados. O Rei encarna a soberania do Estado, atendendo aos interesses da burguesia na época.
Dilema da soberania: Estados soberanos exercendo poderes absolutos podem se relacionar de que modo, se a sua vontade é decisiva? Lembrando que a intenção de alcançar novos mercados era concretizada, muitas vezes, por meio da força.
Nasce a necessidade social que justifica o nascimento do direito internacional, que é a de relacionamento pacífico entre os Estados.
Solução ao dilema: de início, as respostas doutrinária foram duas:
1- Resposta objetivista
Os Estados devem obedecer determinadas normas de convivência (ex: respeitar o tratado de fronteiras e institutos de direito internacional, a não ser que haja justo motivo) porque tais normas contém valores que se impõem aos Estados. Francisco de Vittorio e Grócio. Forte conteúdo jusnaturalista (jusnaturalismo racional). 
2- Resposta voluntarista
O direito internacional clássico deu preferência a essa visão. Afirma que os Estados soberanos devem obediência às normas internacionais porque a elas deram anuência prévia.
Em suma: o direito internacional clássico é voluntarista (exige anuência prévia), pelo que é obrigatória a norma internacional.
- Paradoxo do Direito Internacional: o Estado soberano é livre inclusive para se submeter a normas internacionais que restringem a sua liberdade.
- Características do direito internacional clássico (direito internacional do paradigma grociano)
1- Igualdade soberana (igualdade formal entre os Estados)
2- Integridade territorial: cada Estado detém soberania sobre seu território
3- Auto-organização: deixa-se a critério do Estado o tratamento das questões envolvendo seu próprio território. 
4- Uso da força para solucionar controvérsias: guerra justa (influência católica) – é possível ir à guerra desde que haja motivo justo, conforme a interpretação do Estado. Problema – motivo justo pode ser a não submissão de outro Estado à vontade daquele Estado. 
Era um direito de guerra e paz, basicamente.
Crise do direito internacional clássico
Final do século XIX – emerge o paradigma kantiano do direito internacional. Marco final: tratado de Versalhes
c) 3ª fase – Direito internacional da cooperação (ou da coexistência ou direito internacional do paradigma kantiano)
Final do século XIX. Tratado de Versalhes.
Fatores de mudança do paradigma anterior: 
1- Compreensão de que os Estados nacionais necessitam de cooperação para enfrentar fenômenos transfronteiriços. 
Ex: União Postal Universal serve para levar carta entre Estados. 
2- O uso legítimo da força, que emasculou o direito internacional clássico (desnecessidade de tratados quando o uso da força era pouco restrito), é revisto. O uso da força começa a causar destruição tal que inviabiliza o próprio capitalismo. 
A 1ª guerra mundial e sua destruição coroam o lento processo de esgotamento do direito internacional clássico (que viabilizava o uso da força desnecessariamente). 
Kant – “Da paz perpétua”: essa inscrição constava do túmulo das pessoas na Europa do finam do século XVIII. Kant ironizava a expressão para dizer que as pessoas somente alcançam paz mesmo após a morte, pois as pessoas ficam sempre em guerra. Mas Kant fala em cosmopolitismo: valores diferentes entre os Estados, sem tornar impossível que se unam pelo bem comum da humanidade.
Tratado de Versalhes – pontos principais que demonstram a mudança de fase no DI:
a) Põe fim à 1ª Guerra Mundial;
b) Cria a liga das nações (organização internacional, embora não seja a primeira), com finalidade ambiciosa: a paz e a segurança internacional. Solução pacífica de controvérsias. Sede em Genebra. “Sociedade Genebrina”;
c) Cria a OIT;
d) Prevê esforços para a criação de tribunal internacional (criado apenas posteriormente)
Características desta fase:
1- Cooperação entre Estados.
2- Solução pacífica de controvérsias - esforço pelo banimento do ius ad bellum (direito à guerra). O século XIX é o século das organizações internacionais.
3- Início da preocupação com indivíduos.
d) 4ª fase – perspectivas “ novo jus gentium” 
Marco – queda do muro de Berlim.
Cançado Trindade – “o direito internacional da humanidade”.
A liga das nações fracassou, sendo substituída pela ONU.
O direito internacional cede, cadavez mais, a fenômenos de integração e afirmação da humanidade:
- União Européia
- Direito internacional do meio ambiente/do mar
- Patrimônio comum da humanidade
- Direito internacional dos direitos humanos
- Questões nucleares 
Normas internacionais que são cada vez mais invasivas, visando a regulamentar a conduta de indivíduos dentro dos Estados, ultrapassando a tradicional barreira clássica do direito internacional. Há o reconhecimento de valores essenciais da comunidade internacional como um todo.
Jus cogens e obrigações erga omnes – institutos que demonstram uma fratura no voluntarismo: o Direito Internacional enfatiza a necessidade de reconhecerem determinados valores, quer tenham ou não dado a sua anuência!
- Características da 4ª fase
1-Expansão qualitativa e quantitativa do direito internacional: 
a- Internacionalização do direito: expressão doutrinária que retrata a expansão de normas internacionais, regulando todas as facetas da vida social (aspecto quantitativo). 
b- O aspecto qualitativo é retratado na expressão “constitucionalização do direito internacional” – retrata a existência de institutos no direito internacional outrora reservados ao direito interno. 
2- Vários subramos do direito internacional têm tribunais. O Estado perde o monopólio da interpretação. “Truque de ilusionista”: o Estado celebra o tratado e alega que o está cumprindo, nos termos da sua “peculiar ótica”.
“Juridificação das relações internacionais”- expressão doutrinária que retrata a regulação das relações outrora regidas por critérios de força ou econômicos, agora sendo regidas por critérios jurídicos. Subordinação das relações internacionais ao império da lei internacional. 
Obs.: Quem faz o judicial review das resoluções vinculantes do Conselho de Segurança? Há um debate, mas a CIJ inclina-se a realizar tal revisão.
4- Soberania e atuação do direito nas relações internacionais (item 1a do 27º concurso)
- Expressões doutrinárias: 
a- Soberania interna: poder de regência sobre a conduta social realizada no território do Estado.
b- Soberania externa: poder de atuar de maneira independente. Característica inerente ao Estado, segundo a Convenção de Montevidéu sobre direitos e deveres dos Estados de 1933.
c- Soberania relativizada: art. 1º da CF – fundamentos da República Federativa do Brasil - a independência é um dos princípios que regem as relações internacionais do Brasil. A relativização da soberania pode, segundo André, em virtude desses dispositivos da CF, ser considerada inconstitucional.
d- Soberania formal e soberania real: 
d.1- Soberania formal é o poder inerente ao Estado de se conduzir de acordo com a sua vontade no plano internacional.
d.2- Soberania real: verdadeira possibilidade de agir sem constrangimentos econômicos ou políticos no plano internacional. Fora da União Européia, países como Chipre, por exemplo, teriam muito mais dificuldade de exercer soberania real. 
5- Fontes do direito internacional (item 1b do edital do 27º concurso)
São os modos de produção das normas jurídicas internacionais.
O voluntarismo explica a produção da maior parte das normas internacionais. Vontade direta (do Estado) ou indireta (organizações internacionais que integram).
A prática dos Estados reconhece que o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça representa o rol autêntico das fontes do DI. 
Artigo 38
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: 
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem.
- Esse rol não é exaustivo, mas exemplificativo. 
- Inicialmente, não há hierarquia entre as fontes do DI. 
- Equidade (justiça ao caso concreto). Não cria norma jurídica. Não é fonte do DI.
São fontes do DI
I- Fontes primárias
1- Tratados
2- Costume internacional
3- Princípios gerais do direito das nações civilizadas
4- Ato unilateral => Não consta do art. 38
5- Resoluções vinculantes de organizações internacionais => Não consta do art. 38
II- Fontes secundárias
Apenas explicitam, não criam norma jurídica internacional
1- Doutrina
2- Decisões judiciais internacionais 
5.1- Costume internacional
I- Conceito 
É a prática reiterada com a convicção de obrigatoriedade.
a) Elemento objetivo: prática
b) Elemento subjetivo: reconhecimento da obrigatoriedade da prática (opnio iuris civis necessitatis)
Obs.: Commitas gentium (Estado atuando por cortesia): prática comum entre os Estados quando não querem que sua conduta seja tida por anuência a costume internacional.
II- Criação do costume internacional
Por condutas comissivas ou omissivas.
Ex: passagem inocente (continua, rápida, sem turbação à costa) de navios (inclusive militares) no mar territorial de um Estado. Era costume internacional e exige postura omissiva do Estado costeiro. Basta manter as bases costeiras informadas, desde que preenchidos os requisitos acima (continuidade, rapidez, ausência de turbação/violação da ordem). 
A prova pode se dar por todos os meios. Significa acordo tácito, pelo que a prova de costume é dificultosa.
III- Elementos de prova de anuência ao costume pelo Estado, que constam da jurisprudência da CIJ: 
a) Nota diplomática
b) Manifestações do Estado nas suas relações diplomáticas
c) Norma doméstica pode servir como prova da anuência ao costume
d) Decisão judicial interna
e) Parte da Declaração Universal de DH é norma consuetudinária (espelho do costume internacional de proteção de DH). São exemplos de normas consuetudinárias na DUDH: Devido processo; Igualdade; Liberdade e integridade física.
Exemplo de costume regional é, em sua concepção, o asilo diplomático, que surge na América do Sul. Requer salvo conduto do Estado acreditante para que o asilado passe para o território do Estado acreditado, convertendo o asilo em territorial.
Problema tido com o asilo diplomático costumeiro: Caso Haya de La Torre: o político peruano ingressa na embaixada da Colômbia em Lima, dando o país asilo diplomático a ele. A Colômbia exigiu do Peru o salvo conduto. Mas esse costume regional, segundo o Peru, não lhe era aplicável, por ser ele um “objetor persistente” (Estado que se manifesta sempre contrário à formação de um costume internacional, que a ele não se aplicaria). Alegou que o asilo diplomático violaria o art. 41, $3º, da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, pois os locais da missão não podem ser utilizados para fins incompatíveis com os da missão. E alega que não existiria norma preliminar de Direito Internacional que autorizasse aquele uso. A Corte determinou a concessão do salvo conduta, desde que o crime não seja classificado como político por ambos os Estados, mantendo abertas as vias do impasse (Graal). 
Depois disso, foi celebrada a Convenção de Caracas sobre asilo diplomático, de 1954. O seu art. 4º determinou que cabe ao Estado asilante a classificação da natureza do delito ou dos motivos da perseguição. Seu art. 12 prevê a obrigatoriedade do estado territorial de conceder o salvo conduto, salvo força maior.
Costume é acordo tácito, para a maioria da doutrina brasileira. Por isso, é possível a figura do objetor persistente. 
IV- Costume instantâneo
Prática reiterada, não sendo necessária longa duração ou repetição de atos. Advém de áreas nas quais há poucos Estados. Descoberta da doutrina para explicar situações no direito aeroespacial, por exemplo.Inicialmente, dois atores atuavam somente (EUA e URSS). Por isso, bastaria que EUA e URSS entrassem em acordo para nascer o costume.
V- Modificação do costume internacional
Há alteração a partir de uma violação inicial, em conjunto com a inércia dos demais Estados. Estes não exigem responsabilização do Estado infrator, aderindo à mudança. 
Ex: imunidade de jurisdição – até os anos 60, era costume internacional forte. Depois, sofreu oposição, inicialmente pelos EUA. Nega imunidade para atos de negócio ou mera gestão. Os demais Estados entendem que isso está certo e também alteram sua posição. Brasil – prova - STF, Apelação Cível 9696.
5.2- Princípios gerais do direito das nações civilizadas
I- Terminologia
O art. 38 do Estatuto da CIJ foi baseado no Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional, de 1920, com influência da visão colonialista, de superioridade européia. Por isso foi utilizada a expressão “nações civilizadas”. Hoje se reconhece que todos os Estados são civilizados.
II- Conceito
São enunciados comuns aos mais diversos Estados. Princípios gerais do direito internacional são enunciados que, por sua generalidade e abstração, auxiliam na integração e interpretação das normas do próprio direito internacional.
Ex: ônus da prova. Utilizam-se os princípios gerais para defini-los, por exemplo, no âmbito do sistema interamericano.
O caso da Fábrica da Chorzow: consagra a aplicação do princípio geral da reparação integral do dano:
______________________
Caso Fábrica de Chorzów
- A referida fábrica era do governo Alemão, mas foi vendida, em 1919, à Oberschlesische Stickstoffwerk, continuando o gerenciamento da fábrica, a gestão de sua força de trabalho e as patentes e demais bens intangíveis a pertencer à Bayrische Stickstoffwerk.
- Por conta do Tratado de Versailles, a Alemanha teve que pagar reparações aos Aliados, devido ter sido derrotada na Primeira Guerra Mundial, perdendo, inclusive cerca de 10% de seu território. Dentre tais territórios perdidos, estava parte da região da Alta Silésia, em que se situa a cidade de Chorzów.
- Em julho de 1922, quando a região já fazia parte da Polônia, uma decisão da corte local anulou o registro em nome da Oberschlesische Stickstoffwerk e passou a constar que a fábrica e as terras pertenciam ao tesouro polonês. Esta decisão citou o artigo 276 do Tratado de Versailles e a lei e o decreto que determinavam a alteração e passou a vigorar no dia em que foi exarada. 
- A Oberschlesische Stickstoffwerk não se conformando com a expropriação demandou que se restaurasse a situação anterior ou se pagasse indenização tanto no Tribunal Arbitral Misto Germano-Polonês de Paris, quanto na justiça polonesa, porém até 1927 a causa não havia sido julgada por qualquer destes dois tribunais. Estando a causa pendente em ambos em 1925 a Alemanha, concedendo proteção diplomática aos nacionais, ingressou na Corte Permanente de Justiça Internacional.
- O art. 23 da Convenção de Genebra prevê que as diferenças de opinião, resultantes da interpretação e aplicação dos artigos 6º a 22, levantadas entre o Governo alemão e o Governo polaco, estariam sujeitas à decisão do Tribunal Permanente de Justiça Internacional, não colidindo com a competência do Tribunal Arbitral Misto Germano-Polonês resultante das disposições do Tratado de Paz de Versalhes. O art. 23, I, da Convenção de Genebra trata das cláusulas compromissórias que incluem reparação de danos. De qualquer forma, a arbitragem não é obrigatória, conforme prevê a Convenção de Genebra (Head IV).
Assim, a Corte Internacional de Justiça é competente para conhecer e julgar o referido caso, bem como o fato de haver questão sobre a mesma matéria pendente de julgamento no Tribunal Arbitral Misto não impede a CIJ de julgar qualquer demanda.
- Foi reconhecido pela Corte que é um princípio do direito internacional que a violação de um compromisso implica na obrigação de ressarcimento de um modo adequado. Reparação por isso é o complemento indispensável da falta de aplicar a convenção e não há necessidade de este ser declarada na própria convenção 
________________________
5.3- Fontes secundárias
I – Jurisdição
Não vincula, mas orienta. Vai além da solução de controvérsia, no entanto (alcance e sentido da norma). Fornece o marco da interpretação intenacionalista, combatendo o “truque de ilusionista” (a exemplo do que ocorreu com a lei de anistia brasileira pela visão do STF).
Há também a jurisdição consultiva – emissão de pareceres consultivos. 
É a chamada “coisa julgada interpretada”. Se o Estado interpreta que a jurisdição consultiva não é vinculante, pode acabar descumprindo o direito internacional. Os pareceres consultivos atestam o real alcance e sentido da norma internacional.
II- Doutrina
Não cria norma internacional, mas a esclarece
Aula 2
5.4- Fontes fora do estatuto da CIJ
a) Ato unilateral
Manifestação de vontade vinculante de um Estado ou de organização internacional, sob sua esfera jurídica de disponibilidade. Na prática, tem-se a renúncia, o reconhecimento e a promessa como exemplos:
a.1- Renúncia
Um litígio envolvendo Brasil e Inglaterra foi relevante porque afirmou a soberania brasileira sobre a Ilha de Trindade. Foi ocupada, inicialmente, pelos portugueses, que teriam abandonado a ilha. O Brasil teve de defender sua posição de sucessor da coroa portuguesa. A Inglaterra teria entendido que tinha o título decorrente de ocupação. Mas depois renunciou a pretensão soberana sobre a ilha. Isso porque já tinha ilha melhor para ser sua base naval no atlântico (ilha de ascensão), e tinha relacionamento já favorável com o Brasil, que não valia a pena prejudicar.
a.2- Reconhecimento
Declaração Ihlen: Dinamarca x Noruega na CPJI: a Noruega aceita a soberania da Dinamarca sobre a Groenlândia Oriental. 
a. 3- Estipulação ou promessa em favor de 3º
b) Resoluções vinculantes de organizações internacionais
A vinculação também se dá em relação aos divergentes. 
6- Tratados internacionais
Alterações no voluntarismo, que serão aprofundadas adiante:
a) Conceito de jus cogens (1.1 – b do edital)
b) Art. 103 da Carta da ONU
I- Conceito de tratado internacional
Acordo escrito de vontades, entre dois ou mais sujeitos internacionais, estipulando direitos e deveres vinculantes, regidos pelo próprio direito internacional.
1.1- Acordo de vontades: 
Exige-se ao menos duas partes (acordo bilateral
1.2- Escrito
Há dúvidas doutrinárias sobre a possibilidade de acordo verbal. ACR – se aproximaria do costume internacional caso fosse aceita essa noção. O que fica prejudicado pela possibilidade de afastar a obrigação por objeção persistente, o que não seria possível em se tratando de obrigação posta em tratado. Logo, é indispensável que seja escrito o acordo.
1.3- Sujeitos internacionais
Estados e outros entes autorizados pelo direito internacional podem celebrar tratados. A Santa Sé (ente sui generis) e mesmo entes despersonalizados podem firmar tratados (Ex: governo no exílio; movimentos de libertação nacional; beligerantes ou insurretos).
Empresa multinacional deve celebrar contrato, não tratado. Igualmente o indivíduo. 
O ente federado pode celebrar tratados, desde que autorizado pelo seu Estado. Ex: Quebec pode celebrar acordos culturais. As regiões lingüísticas da Bélgica podem celebrar tratados autonomamente, desde que o Estado Federal autorize.
Isso é denominado “paradiplomacia” – o Brasil já autorizou um ente federado a negociar internacionalmente, no caso dos Meninos Emasculados do Maranhão (Comissão IDH). O Maranhão participou ativamente das negociações perante a Comissão IDH em Washington, o que foi autorizado por decreto presidencial. Lembrando que a proteção de DH exige a atuação conjunta dos entes.
1.4- Gerando direitos e deveres vinculantes
Ressalva – diferenciação de Tratados e acordos de cavaleiros (gentleman agreements)
Acordo centrado na reputação moral dos representantes dos Estados, não vinculante. Foi muito comum o acordode cavaleiros no tempo da Guerra Fria quando, por questão política, o governo dos EUA não podia celebrar tratados.
1.5- Regidos pelo direito internacional
Pode o Brasil celebrar acordo dizendo que se submeterá, naquele assunto, às leis locais de outro Estado, mas não será tratado!
II- Terminologia
Tratados, convenções, carta, convênio, declaração, ajuste, modus vivendi, ajuste, compromisso, estatuto etc. Há doutrinadores que listam mais de 30 denominações. São expressões que designam todos um tratado. E a denominação dos tratados, na prática, não segue o que diz a doutrina, pelo que a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados foi bem em igualar tudo isso no conceito de tratado.
Somente algumas expressões são relevantes, na prática. Citam-se somente as seguintes:
- Concordata: tratado internacional entre a Santa Sé e um Estado, regulamentando o relacionamento entre o mesmo e a Igreja. Regulamentação de tema espiritual. A Santa Sé celebra a convenção da ONU sobre o direito das crianças, mas não trata de tema espiritual, pelo que não é concordata. 
- Armistício: acordo especifico, que põe fim a hostilidades a conflito armado. 
III- Normas pertinentes
- Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 – Brasil demorou a ser parte, mas ratificou e incorporou em 2009.
 - Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados celebrados entre Organizações Internacionais ou entre elas e os Estados – 1986 (não entrou em vigor ainda.
Caso o país não ratifique, os tratados serão regulamentados pelo costume internacional. 
Art. 25 e 66 da Convenção – o Brasil fez reserva. O CN não autorizou o presidente a ratificar sem as reservas. 
Art. 25
1. Um tratado ou uma parte do tratado aplica-se provisoriamente enquanto não entra em vigor, se: 
a)o próprio tratado assim dispuser; ou
b)os Estados negociadores assim acordarem por outra forma. 
2. A não ser que o tratado disponha ou os Estados negociadores acordem de outra forma, a aplicação provisória de um tratado ou parte de um tratado, em relação a um Estado, termina se esse Estado notificar aos outros Estados, entre os quais o tratado é aplicado provisoriamente, sua intenção de não se tornar parte no tratado
Art. 66
Processo de Solução Judicial, de Arbitragem e de Conciliação 
Se, nos termos do parágrafo 3 do artigo 65, nenhuma solução foi alcançada, nos 12 meses seguintes à data na qual a objeção foi formulada, o seguinte processo será adotado: 
a)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação dos artigos 53 ou 64 poderá, mediante pedido escrito, submetê-la à decisão da Corte Internacional de Justiça, salvo se as partes decidirem, de comum acordo, submeter a controvérsia a arbitragem; 
b)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação de qualquer um dos outros artigos da Parte V da presente Convenção poderá iniciar o processo previsto no Anexo à Convenção, mediante pedido nesse sentido ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
IV – Classificação dos Tratados
Classificações úteis
1- Número de partes do tratado
a) Bilaterais: não cabe reserva. Dois estados.
b) Multilaterais: mais estados. 
2- Pela natureza jurídica
a)Tratado contrato: 
Tratados com deveres específicos, como um contrato.
b) Tratado lei
Tratados com conteúdo genérico, diferente dos acima.
c) Tratado ou acordo quadro
Estabelece princípios normativos e disposições programáticas gerais, flexíveis, mas acompanhadas de dispositivos que estabelecem a possibilidade de complementação por atos específicos futuros. 
Ex: convenção quadro sobre mudança climática. Princípios foram especificados no Protocolo de Kyoto e tratados posteriores.
3- Pela forma de celebração
a) Formais
Exige, para sua celebração, ato posterior diverso da assinatura.
b) Forma simplificada (acordo executivo)
Tratado celebrado pela mera assinatura. Em geral, quem assina os tratados no plano internacional é o Poder Executivo, por isso a denominação. A CF, em seu art. 49, I, não veda o acordo executivo. Porém há poucas hipóteses em que será admitido, como se dirá adiante.
4- De acordo com a perenidade
a) Perenes
Envolvem a regulação definitiva de uma matéria. Ex: permuta e cessão de territórios
Há obstáculos à rescisão unilateral de tratados perenes. Pode-se alterá-lo, mas deve haver consentimento de ambas as partes. Ex: para alterar o tratado de fronteira com o Uruguai, deve-se obter a anuência da outra parte.
b) Trato sucessivo ou efeito sucessivo
Tratados que estipulam prestações e contraprestações ao longo do tempo
V- Condições de validade dos tratados
Validade é a qualidade de pertencimento ao ordenamento jurídico. 
1- Capacidade de celebrar tratados (Treaty Making Power)
Significados para o poder ou capacidade de celebrar tratados:
1.1- Ius ad tractarum: quais são os agentes autorizados a celebrar tratados. 
a- Estados
b- Organizações internacionais (depende da autorização prevista em seu tratado institutivo – pertinência)
c- Santa Sé (natureza jurídica sui generis)
d- Governo do exílio (ex: governo francês no exílio, na 2ª guerra)
e- Beligerante: em contexto de guerra civil, se reconhecida a condição de beligerante pelo poder central, pode celebrar tratados na parte territorial por ele dominado. Logo, depende do reconhecimento, que seria feito pelo poder central para não se responsabilizar por atos no território ocupado.
f- Movimento de libertação nacional: mesmo antes de se emancipar, pode uma organização de libertação nacional, a exemplo da Organização de Libertação da Palestina, firmar tratados. Isso mesmo antes de haver controle de território. No caso da OLP, há controle de território, embora diminuto e sempre sob ameaça de invasão de Israel. O Brasil celebrou acordos com a OLP. 
1.2- Quem pode representar os Estados no momento de celebração de tratados?
a) Representantes por presunção absoluta – não precisam de cata de plenos poderes
a.1- Chefe de Estado
a.2- Chefes de Governo
a.3- Ministros de relação exterior
a.4- Chefes de missão diplomático (para tratados bilaterais com o Estado acreditante)
b) Representantes com cartas de plenos poderes (plenipotenciários)
1.3- Rito da incorporação
2- Objeto lícito e possível
É nulo (ex tunc) tratado que violar valores essenciais da comunidade internacional como um todo (jus cogens). 
3- Consentimento
O direito dos tratados é voluntarista. Somente adere ao tratado o agente internacional que o queira. Depois serão estudados os vícios.
VI – Formação dos tratados
1- Negociação
Formato livre. Pode haver a negociação diplomática tradicional ou pode existir a negociação institucionalizada no seio das organizações internacionais. Diplomacia parlamentar – expressão doutrinária que retrata a atividade de negociação de tratados em organizações internacionais, nos moldes do que ocorre nos parlamentos nacionais.
Paradiplomacia – expressão doutrinária que retrata a participação nas negociações internacionais por entes diferentes do Ministério das Relações Exteriores. Logo, abrange entes federados e outros sujeitos também. Ex: lei geral de telecomunicações estabelece que cabe à ANATEL representar o Brasil nas reuniões da União internacional de telecomunicações. É importante que a pessoa que representa o Brasil tenha uma visão do todo. Por isso, há críticos que dizem não ser boa a paradiplomacia, que tende a fazer faltar a visão do todo (ex: negociações entre Estados de um lado, em um tema, cedendo de um lado para conseguir algo de outro). 
A negociação pode se encerrar por:
a) Assinatura: consiste em ato unilateral pelo qual o Estado, em geral, põe fim às negociações (1), autentica o texto (2)e manifesta sua predisposição(3) em celebrar o tratado, devendo se abster de frustrar os objetivos do tratado (4). 
Em geral, a assinatura não celebra o tratado. Há exceção (será abordada depois). A manifestação de predisposição tem ao menos um efeito (art. 18 da convenção de Viena): não frustrar o objetivo do tratado:
Art. 18
Obrigação de Não Frustraro Objeto e Finalidade de um Tratado antes de sua Entrada em Vigor
Um Estado é obrigado a abster-se da prática de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado, quando: 
a)tiver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver manifestado sua intenção de não se tornar parte no tratado; ou 
b)tiver expressado seu consentimento em obrigar-se pelo tratado no período que precede a entrada em vigor do tratado e com a condição de esta não ser indevidamente retardada. 
Obs.: Versões autenticas mais utilizadas no mundo são o inglês e o francês. Português entra nas negociações da OEA e do Mercosul. Versão oficial é aquela que decorre da tradução para o português. No processo de incorporação, o Itamaraty traduz a versão autêntica em versão oficial. É comum na OEA serem negociados os tratados em mais de uma língua. Presume-se absolutamente que as versões autênticas são equivalentes (embora seja problemático na prática). 
b) Adoção do texto: os Estados adotam o texto pondo fim à fase de negociação, autenticando o texto, sem assinatura. Logo, em vez de 4 efeitos tidos na assinatura, haverá somente esses 2 efeitos. Isso se dá, muitas vezes, por ser complicado o momento ou polêmico o tema para encerrar a questão. 
Obs.: retirada de assinatura: em virtude do efeito previsto no art. 18 da convenção de Viena, há interesse jurídico na retirada de assinatura depois. 
2- Celebração do tratado
2.1- Ratificação
Ato unilateral pelo qual o Estado manifesta sua vontade de celebrar um tratado. 
2.2- Assinatura
Pode ser mera manifestação de predisposição ou pode ser com intenção de celebrar o tratado. É o caso da celebração de acordo executivo. 
2.3- Aceitação/aprovação
Utilizado mais para org internacionais
2.4- Adesão
Consiste na manifestação da vontade de celebrar um tratado por aquele que não o negociou. 
Ex: o Brasil aderiu à Convenção da OCDE contra a corrupção de funcionário público internacional. Isso porque o Brasil nem mesmo é parte na OCDE. 
- Diferença entre consentimento e a concretização do consentimento. A concretização pode ser feita:
a) Pela troca de instrumentos: comum em tratados bilaterais. Os representantes dos Estados trocam os instrumentos. 
b) Depósito de instrumento de ratificação: o depositário é previsto no tratado. A ONU tem o Secretário Geral como depositário de praxe. Cada país deposita o ato de ratificação e o depositário informa aos demais.
Depois dessas providências, têm-se tratado válido no plano internacional. Entra em vigor em que momento? Deve-se verificar o seu conteúdo para delimitar esse momento. 
Ex: não é incomum que haja uma exigência do número mínimo de Estados partes para o início da vigência.
3- Publicidade e registro internacionais
Não são condições de validade dos tratados internacionalmente. 
A Carta da ONU, em seu art. 102, estabelece que os tratados não registrados e publicados NA ONU não podem ser invocados perante órgãos da própria ONU. O art. 80 da Convenção de Viena também estabelece esse deve. 
4- Reserva
É ato unilateral pelo qual o Estado manifesta formalmente seu desejo, no momento da celebração, de modificar ou excluir dadas cláusulas do tratado. Permite modificação do que foi negociado.
4.1- Regime jurídico das reservas:
a) Somente para tratado multilateral. Nos bilaterais, reserva é como convite a nova negociação. 
b) Deve ser escrita
c) Precisa ser expressa e 
d) No momento da ratificação
4.2- Trâmite da reserva
- O Estado reservante noticia a reserva quando vai depositar o instrumento de ratificação, notificando de ambas as coisas. 
- Os demais Estados, notificados, podem: 
a) aceitar expressamente a reserva;
b) aceitar tacitamente a reserva (silêncio por 12 meses – Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados);
c) recusar a reserva. A rejeição pode ser feita:
c.1- De modo simples: o Estado rejeita a alteração pretendida e o tratado entra em vigor sem aquela cláusula.
c.2- De modo qualificado: o Estado interpreta que é tão importante aquela cláusula que, sem ela, o tratado não vai entrar em vigor entre o reservante e o objetor.
Ex: Brasil modifica uma cláusula. Alemanha entende que OK. Moçambique discorda. O Brasil estará vinculado com a Alemanha, mas não com Moçambique, em relação a esse tratado. Nasce uma geometria variável, portanto: pode um tratado celebrado entre Brasil e outro Estado não ser aplicável entre eles em virtude dessa questão da reserva!
- A reserva pode ser:
a) Reserva proibida: pelo próprio tratado. 
Ex: o Estatuto do TPI proíbe reservas. 
b) Reserva permitida
- Se o tratado for omisso, pode haver reserva, desde que não seja sobre o objeto e a finalidade mesmos do tratado. Uma parte pode afirmar que a outra não é parte em dado tratado se ela fizer reserva sobre esses aspectos!
VII- Efeitos dos tratados
Princípio da relatividade dos tratados: só possuem efeitos entre as partes. Convenção de Viena:
Artigo 34
Regra Geral com Relação a Terceiros Estados 
Um tratado não cria obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o seu consentimento.
Excepcionalmente, os tratados surtem efeitos sobre terceiros. 
1- Efeito difuso (constitutivo negativo)
Mesmo efeito constitutivo negativo no direito interno. 
Ex: Brasil e Argentina têm tratado sobre fronteiras. O terceiro Estado sofre esse efeito ao reconhecer a soberania naqueles territórios específicos.
2- Previsão convencional a favor de 3os 
Ex: Reino Unido e França previram que, se a Alemanha violasse a integridade territorial da Polônia, haveria guerra.
3- Cláusula da nação mais favorecida
Consiste em disposição que prevê que toda e qualquer vantagem concedida em relação a uma das partes de um tratado será estendida aos demais.
O tratado de Marraquesh prevê essa cláusula no âmbito das relações internacionais comerciais (OMC). 
ACR: na verdade esse é um efeito aparente, não efeito de tratado sobre terceiro. Só haverá obrigatoriedade de estender benefício se violado o tratado de Marraquesh. Mas não vem sendo entendido assim pelas bancas.
VIII – Interpretação dos tratados internacionais
Arts. 31 a 33 da Convenção de Viena
Devem ser considerados na interpretação, dentre outros:
- Boa fé
- Contexto, objeto e sua finalidade
- Buscar assegurar direitos fundamentais
IX – Patologia – vícios 
A Convenção de Viena fixa nulidade por vício de competência e por vício de consentimento.
a) Art. 46 (1) – competência:
Disposições do Direito Interno sobre Competência para Concluir Tratados 
1. Um Estado não pode invocar o fato de que seu consentimento em obrigar-se por um tratado foi expresso em violação de uma disposição de seu direito interno sobre competência para concluir tratados, a não ser que essa violação fosse manifesta e dissesse respeito a uma norma de seu direito interno de importância fundamental.
A violação do direito interno sobre competência gera nulidade de contrato. Isso porque se está prestigiando o Princípio da Boa Fé. Considera-se que houve má-fé da outra parte ao celebrar o tratado daquela forma. Serve o dispositivo à tutela da igualdade soberana.
b) Vícios do consentimento
Arts. 48 a 52 da Convenção de Viena
b.1- Erro: divergência entre a vontade e sua manifestação. Deve ser escusável para gerar vício!
- Caso Templo Preah Viehar (Camboja x Tailândia): esses países compõem o império francês na antiga Indochina. Os franceses fizeram marcos da fronteira. Mas o tratado dizia que a fronteira seguiria o rio, regra pela qual o templo ficaria para a Tailândia. Mas na colocação dos marcos pelos engenheiros, desviaram para que o templo ficasse com o Camboja. Argumentações: a Tailândia nunca aceitou a fonteira. Mas a CIJ ponderou que o príncipe da Tailândia foi ao Templo e se comportou como se estivesse no estrangeiro, pelo que haveria costume reconhecendo o ocorrido. A Tailândia alegou que houve erro, mas ele foi inescusável, pelo que deveria ter gerado questionamento imediato,afastando-se a nulidade. 
- Falando em costume, lembrete: Caso Haya de La Torre: envolve asilo diplomático, costume regional e objeção. 
b.2- Dolo: divergência entre a vontade e sua manifestação causada propositalmente pela parte
b.3- Corrupção: pela ação direta ou indireta de outro Estado negociador, o Estado pode alegar tal corrupção como tendo invalidado o seu consentimento em obrigar-se pelo tratado.
b.4- Coação do representante: anexação dos Sudetos pela Alemanha nazista – palácio cercado para permitir a celebração do tratado (coação física sobre os representantes)
b.5- Coação do próprio Estado: a coação econômica não é apta a causar vício do consentimento. Deve haver coação armada, para ser reconhecida efetivamente.
c) Vício por ilicitude
c.1- Jus cogens
c.1.1- Conceito
Consiste no conjunto de normas internacionais que contém valores essenciais da comunidade internacional como um todo. 
Art. 53 da Convenção de Viena:
Artigo 53
Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens)
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.
Interpretação correta do dispositivo: jus cogens é norma obrigatória com uma qualidade de superioridade. Toda norma internacional é obrigatória, exceto quando se diga que aquela norma é soft Law. Logo, jus cogens não diz respeito à obrigatoriedade.
A conseqüência é que haverá a nulidade de norma internacional contrária à norma de jus cogens.
c.1.2- Origem 
a) Convencional (prevista em tratado)
b) Consuetudinária (costume)
c.1.3- Como reconhecer norma de jus cogens
É fruto de consenso qualificado dos elementos representativos da comunidade internacional. Não precisa de unanimidade. Representantes de países desenvolvidos, árabes, em desenvolvimento, etc. 
Norma de jus cogens não é costume geral! Não admite objetor, pelo que não envolve voluntarismo, cmo ocorre ao costume. 
c.1.4- Quais são?
Demonstração por precedentes internacionais
I- Algumas normas de direitos humanos
- Devido processo legal – CIDH
- Combate à tortura (Integridade física e psíquica – TPII – ex Iugoslávia)
- Igualdade
- Liberdade
- Direito internacional humanitário
II- Autodeterminação dos povos: consiste no direito de emancipação política de comunidades humanas submetidas a jugo colonial ou dominação estrangeira. Recentemente, há discussões sobre uma 3ª hipótese: violações maciças e graves de direitos humanos (Cançado Trindade – voto no parecer consultivo no caso do Kosovo). A Corte não reconheceu a 3ª hipótese, somente tendo menção a ela no voto do Juiz Cançado Trindade, mesmo tendo havido limpeza étnica ali! 
III- Paz e proibição do uso da força: exceções estritas no direito internacional. Carta da ONU – legitima defesa; autorização pelo Conselho de Segurança e autodeterminação dos povos. Mantém-se o dever do combatente de preservar a população civil. 
Obs.: mesmo um país recém independente, sem qualquer tratado, deve respeitar o jus cogens.
Obs. 2: o regime jurídico da proteção da vida é tortuoso em virtude da pena de morte. Enquanto os EUA mesmo estiverem com postura de a manter, prejudicam a evolução do tema, conquanto já tenha sido abolida no sistema da União Européia.
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Autodeterminação dos povos e a Criméia:
A partir de 2008, uma aproximação gradual da Otan à Ucrânia, provocada pelos Estados Unidos, que sempre viram na integração de ex nações comunistas ao bloco militar do norte um meio de prospectar poder na região, somado ao manifesto aliciamento da União Europeia em prol da integração comercial com a antiga república soviética, levaram as relações ucrano-russas à situação de deterioração, somente não esfacelada em razão da assunção de Viktor Yanukovich, aliado de Vladimir Putin, ao cargo de primeiro-ministro da Ucrânia, em 2010.
Mas mantidas as pressões ocidentais, Viktor Yanukovich foi deposto pelo parlamento ucraniano pró-EUA/União Europeia, em 22 de fevereiro último, ato interpretado por muitos como golpe de Estado. Com efeito, as relações entre os dois países restaram profundamente afetadas, em razão de que decidiu o governo russo, de forma unilateral, ocupar militarmente a região da Crimeia, ação extrema que, apesar de condenável, contou com o apoio maciço da população local, em sua ampla maioria de origem russa. Vale ressaltar que, nos últimos anos, já haviam se iniciado hostilidades do parlamento ucraniano com outras etnias residentes no país, inclusive crimeios, impedidos de adotar a língua russa como oficial em sua própria república autônoma.
A medida adotada pelo povo da Crimeia, através de seu parlamento local, foi a realização de um plebiscito no último dia 16 de março, em que, por mais de 95% dos votantes, optou pela secessão territorial da Ucrânia e anexação à Rússia, anexação imediatamente consentida pelo governo e o parlamento russos. Questiona-se somente a legitimidade do plebiscito em virtude de ter sido realizado sob invasão dos Russos (possível influência coativa na população votante).
Nem as ameaças de sanções, boicotes e bloqueios do Conselho de Segurança da ONU, da Otan, das eventuais implicações comerciais com a União Europeia, e tampouco a advertência dos ucranianos de que deverão armar-se nuclearmente devido à transgressão ao comprometimento de garantia de segurança russa à Ucrânia assumido na Convenção de Budapeste de 1994, deverão demover crimeios e russos da decisão de anexação. Isto porque há um elemento central no interior de toda essa discussão que tem sido pouco lembrado pelos que analisam a polêmica sob a égide da influência midiática: o povo da Crimeia e seu desejo de pertencer à Rússia.
A solução do plebiscito foi entendida como legítima em diversos casos da história recente, como a separação da Ucrânia da antiga URSS, em 1991, da ex Tchecoslováquia, em 1993, de Quebec/Canadá, em 1980 e 1995 (venceu a não separação), do Timor Leste, em 1999, Sudão do Sul, em 2011. Por que não reconhecer como legitima a solução do plebiscito agora na Crimeia?
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Autodeterminação dos povos e o Kosovo – parecer consultivo da CIJ
A província do Kosovo sofre intervenções da Sérvia desde o século XX, datando desse período, aproximadamente, uma relação de dominação por parte dos sérvios.
Com a criação do Exército de Libertação do Kosovo (UCK), evidenciou-se uma alteração do cenário do local. Em 1998, portanto, o UCK começou a reivindicar a separação em relação à dominação sérvia, e esses responderam de forma brutal e violenta às reivindicações kosovares. Anos depois, em 2008, o Kosovo declarou de forma unilateral sua independência.
Como a proclamação foi feita de forma unilateral, tal decisão foi rejeitada pelo governo sérvio sob o argumento de que tal ato não estava amparado nas normas do Direito Internacional. Devido às divergências acerca da legalidade da declaração de independência kosovar, e da relevância do discurso sérvio acerca da mesma, tem-se atualmente forte resistência internacional ao reconhecimento do Kosovo como entidade autônoma e soberana. 
Apesar de ter declarado internamente sua independência em relação aos sérvios, externamente o Kosovo precisa de reconhecimento de pelo menos cem países para que sua soberania seja de fato legitimada. Atribui-se que a soberania de um Estado está associada ao reconhecimento diplomático que esse tem em âmbito internacional. A partir da Conferência de Montevidéu, 1933, foram estabelecidos critérios para que um Estado fosse visto como sujeito de Direito Internacional. Além de território definido, populaçãopermanente, um governo próprio, cita-se também o reconhecimento internacional e a capacidade de se relacionar com outras nações. 
Em 22 de julho de 2010, a Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas manifestou seu posicionamento acerca da questão. Para essa instância máxima jurisdicional, o ato de 2008 não violara as normas do Direito Internacional. De acordo com Hisashi Owada, presidente da Corte Internacional de Justiça, a declaração de 17 de fevereiro de 2008 não violara nenhuma regra aplicável ao Direito Internacional geral, ou seja, de acordo com a CIJ, a declaração de independência não violou a resolução
1244 do Conselho de Segurança da ONU, como argumentam Sérvia e Rússia (como aliada da Sérvia e óbice por ser membro do CS da ONU). A resolução 1244 da ONU outorgou ao Kosovo uma “autonomia substancial em relação à soberania sérvia, e adquiriu o direito legítimo de administrar a região, em 1999”, cabendo ressaltar que tal resolução foi aderida por ambas as partes do conflito em questão. A partir desse parecer consultivo emitido pela CIJ, é possível que alguns países que antes não reconheciam a autonomia do Kosovo mudem seus discursos.
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Aula 3
Continuação – jus cogens – vícios por ilicitude
Os temas de jus cogens são determinados por precedentes das Cortes Internacionais. Há 3 grandes conjuntos de normas de jus cogens, como já dito:
1- Direitos fundamentais
2- Direito à autodeterminação dos povos
3- Defesa da paz e proibição da guerra de conquista
Exceções à proibição do uso da força:
- Legitima defesa: resposta armada a agressão armada prévia. Impossibilidade de usar a legitima defesa antecipada ou preventiva, que configura agressão
- Intervenções armadas autorizadas pelo CS
- Autodeterminação dos povos: jugo colonial ou dominação estrangeira
c.1.5- Consequência da violação da norma de jus cogens
- Nulidade da norma violadora
- Os Estados não podem contribuir para conduta que viola jus cogens. Ex: Corte Internacional de Justiça – parecer consultivo da construção do muro por Israel em território palestino – consulta da AG da ONU. A Corte, de início, em 2004, teve de verificar o que seria território palestino. Israel tem o direito de se proteger contra ataques terroristas, mas a construção do muro só é lícita dentro do território determinado a Israel pela ONU. Quando a construção desviava para território palestino era ilícito. Logo, por violar norma de jus cogens, eventual dano deveria ser reparado. E não poderia um Estado auxiliar na conduta ilícita de Israel 
X- Extinção dos tratados
I- Hipóteses de extinção dos tratados:
1- Por acordo
1.1- Pré-determinação abrogatória 
O próprio tratado tem cláusula prevendo o seu lapso temporal de vigência. O mais famoso para o Brasil é o Tratado de Itaipu – 50 anos de vigência previstos. 
1.2- Derrogação do Tratado - superveniente
a) Expressa
Ex: o Protocolo de Olivos derrogou o Protocolo de Brasília expressamente no âmbito da solução de controvérsias no Mercosul.
b) Implícita ou tácita
Regulação completa da matéria por tratar completamente do tema. 
2- Sem acordo – rescisão unilateral (denúncia)
É o ato unilateral pelo qual o Estado manifesta seu desejo de não mais se submeter a determinado tratado. Só não será permitida denúncia quando:
a) Houver proibição expressa;
b) Pela natureza do tratado ou intenção das partes, a proibição de denúncia for implícita.
Ex: tratados perenes, como os de fronteira, não podem ser rescindidos unilateralmente.
Ex 2: O tratado de Itaipu também não pode ser denunciado por uma das partes isoladamente. 
No caso da denúncia permitida, como ocorre à maioria dos tratados, muitas vezes o tratado acautela-se, criando uma cláusula de pré-aviso (após a denúncia, por um tempo, o Estado continua se obrigando perante o Tratado). Ela existe na Convenção Americana de DH. O Estado que a denuncia se vincula por 1 ano após a denúncia ainda. Essa cláusula valeu para a denúncia da Venezuela, por exemplo, cujo um ano terminou em 2013.
O Tratado de Assunção, do Mercosul, também tem essa cláusula.
3- Nos tratados sinalagmáticos (tradicionais) – violação do tratado
A violação dos tratados pela outra parte justifica a rescisão. Art 60, 4, da Convenção de Viena sobre o direito dos tratados.
4- Impossibilidade de cumprimento do tratado
Também é causa de extinção, devendo ser provada pela parte.
5- Mudança fundamental das circunstâncias (rebus sic stantibus)
Pode levar à necessária extinção dos tratados. A prática internacional tem poucos exemplos.
Caso Gabsicoro Nagemaros: polêmica entre a Tchecoslováquia e Hungria, tendo em vista a construção ou não de barragem no Danúbio, dados os impactos ambientais. Trata-se de rio internacional sucessivo. Primeiro caso na Corte entre países ex-comunistas. Houve mudança nas circunstâncias tanto em virtude da queda do regime soviético como em virtude dos impactos ambientais não previstos inicialmente.
6- Jus cogens superveniente
O tratado nasce válido e surge norma de jus cogens. Nesse caso, o tratado não é considerado nulo (como ocorreria se a norma de jus cogens fosse anterior), apenas sendo extinto. 
7- Guerra
Pode gerar suspensão de tratados. Pode também gerar extinção, embora nem sempre ocorra.
II- Efeitos da extinção dos tratados: 
Em regra, ex nunc (não retroativa a extinção). 
III- Princípio da indivisibilidade
Art. 44 da Convenção de Viena - pode existir extinção de somente parte do tratado a depender da causa que ensejou sua extinção.
IV- Conflito entre tratados
a) Da mesma fonte normativa
Significa que as partes nos tratados conflitantes são iguais. Critério da especialidade ou, caso não seja possível, critério temporal. O primeiro tem mecânica diferente da hierarquia e do critério temporal. Isso porque os 2 últimos funcionam na lógica do tudo ou nada. Mas a norma geral e a especial convivem, sendo que o âmbito de atuação das normas é diferente.
Critério cronológico: o último no tempo prevalece quando as partes forem as mesmas.
Art. 30 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados:
Artigo 30
Aplicação de Tratados Sucessivos sobre o Mesmo Assunto 
1. Sem prejuízo das disposições do artigo 103 da Carta das Nações Unidas, os direitos e obrigações dos Estados partes em tratados sucessivos sobre o mesmo assunto serão determinados de conformidade com os parágrafos seguintes. 
2. Quando um tratado estipular que está subordinado a um tratado anterior ou posterior ou que não deve ser considerado incompatível com esse outro tratado, as disposições deste último prevalecerão. => HIERARQUIA 
3. Quando todas as partes no tratado anterior são igualmente partes no tratado posterior, sem que o tratado anterior tenha cessado de vigorar ou sem que a sua aplicação tenha sido suspensa nos termos do artigo 59, o tratado anterior só se aplica na medida em que as suas disposições sejam compatíveis com as do tratado posterior. => CRITÉRIO CRONOLÓGICO
Obs.: Art. 103 da Carta da ONU - Hierarquia
Caso um Estado membro da ONU for chamado a cumprir os princípios da carta da ONU, não pode alegar que outro tratado, fora da ONU, obriga em sentido contrário. EM suma, o Estado membro deve dar preferência à obrigação onusiana.
b) De fonte normativa diferente
É mais comum se ter tratados conflitantes envolvendo Estados diferentes. Há uma possibilidade de conflitos que não são solucionáveis (antinomia real).
Ex: “A” celebra tratado de amizade e assistência militar com “B”. “A” também celebra tal tratado com “C”. Depois,“B” e “C” entram em guerra. Foi o que ocorreu no caso entre EUA e Inglaterra: esses eram aliados, bem como EUA e a Argentina. Argentina x Inglaterra.
Art. 30 da Convenção de Viena: a aplicação da norma depende dos sujeitos da relação jurídica específica, no caso concreto:
4. Quando as partes no tratado posterior não incluem todas a partes no tratado anterior: 
a)nas relações entre os Estados partes nos dois tratados, aplica-se o disposto no parágrafo 3;b)nas relações entre um Estado parte nos dois tratados e um Estado parte apenas em um desses tratados, o tratado em que os dois Estados são partes rege os seus direitos e obrigações recíprocos. 
5. O parágrafo 4 aplica-se sem prejuízo do artigo 41, ou de qualquer questão relativa à extinção ou suspensão da execução de um tratado nos termos do artigo 60 ou de qualquer questão de responsabilidade que possa surgir para um Estado da conclusão ou da aplicação de um tratado cujas disposições sejam incompatíveis com suas obrigações em relação a outro Estado nos termos de outro tratado.
XI- Temas da Teoria das Fontes
a) Hierarquia
a.1- Jus cogens
a.2- Art. 103 da Carta da ONU
Caso: Estado X é obrigado a cumprir Resolução vinculante do CS da ONU, que viola direitos (ex: devido processo legal). É o caso da lista suja do CS: os motivos pelos quais a pessoa foi incluída na lista são confidenciais inclusive em relação à pessoa ali incluída, violando o devido processo legal, que é norma de jus cogens constante da própria Carta da ONU. 
Tendo em vista a posição institucional do MPF, a resposta deve reconhecer a polêmica, mas dizer que nada na Carta da ONU permite que o CS edite resolução violando direitos fundamentais. Cabe ao Estado cumprir o devido processo legal em detrimento da resolução vinculante em virtude de se tratar de norma de jus cogens.
b) Obrigações erga omnes
Instituto do Direito Internacional que manipula normas de conteúdo diferenciado. 
b.1- Origem
Caso Barcelona Traction
Caso Bélgica VS Espanha. A Corte extinguiu o processo sem julgamento de mérito entendendo que a demanda não podia seguir adiante porque os envolvidos não tinham relação com a Bélgica. A Traction é empresa Canadense, somente os seus acionistas eram belgas. A Corte afirmou que, caso as obrigações fossem erga omnes (como combate ao genocídio, etc), a Bélgica poderia ter processado a Espanha. Diferenciou, então, obrigações inter partes das obrigações erga omnes, que podem ser fiscalizadas por toda a comunidade internacional.
Qual a relação entre obrigação erga omnes e jus cogens? Teoria dos círculos concêntricos: o círculo das obrigações erga omnes contém o círculo das normas de jus cogens.
Conceito: obrigações erga omnes são normas com valores essenciais à comunidade internacional, podendo ser protegida por qualquer membro dessa comunidade.
Caso Portugal VS Austrália – a Corte Internacional de Justiça recuou. Portugal processou a Austrália por estar auxiliando financeiramente a ocupação indevida, pela Indonésia, do território do Timor Leste. Violação do direito à autodeterminação dos povos. Portugal era ex-metrópole do Timor Leste. A Corte entendeu que, apesar de a autodeterminação ser obrigação erga omnes, a Indonésia não reconhecia a jurisdição da Corte. Para dizer que a Austrália feriu a autodeterminação, a Corte tinha que se manifestar sobre a ocupação indevida, o que passava por avaliar a situação da Indonésia, que não é parte. Isso foi criticado, pois a questão processual foi óbice ao ingresso no mérito do processo em hipótese envolvendo obrigação erga omnes. Em outros termos, não é bem qualquer membro da comunidade que pode amplamente defender essas obrigações.
c) Soft Law
Consiste no conjunto de normas ainda não vinculantes do direito internacional. É o direito em formação. Apontam uma direção e podem, no futuro, se transformar em normas vinculantes (hard law).
Podem incentivar os Estados a redigirem tratados e podem servir de espelho do costume internacional sobre a matéria. 
Ex: resolução não vinculante da AG da ONU estimularam o debate sobre os direitos das pessoas com deficiência, tendo sido inspiração ao tratado onusiano sobre o direito das pessoas com deficiência.
Ex 2: Declaração Universal de DH é espelho do costume internacional, pelo que tem cunho vinculativo.
d) Cortesia ou comitas gentium
Normas não vinculantes. Expressamente, os Estados justificam a sua conduta alegando que estão agindo por cortesia. 
XII- Direito internacional VS direito interno
1- Como o direito interno vê o direito internacional? Correntes doutrinárias 
É discutido na doutrina desde o começo do século XX. Duas grandes correntes:
1.1- Monismo
Corrente doutrinária pela qual a um único ordenamento jurídico, composto de normas nacionais e internacionais. O fundamento do ordenamento jurídico é o atendimento às necessidades humanas, e ambas as normas o fazem. O grande nome monista é Hans Kelsen. 
a) Incorporação
Não há necessidade de incorporação, pois há um único ordenamento jurídico, composto por normas nacionais e internacionais.
b) Hierarquia
Apesar de ser um único ordenamento, Kelsen afirmava, na visão piramidal da teoria pura, que o máximo da pirâmide era composto de normas internacionais. Consagra-se o monismo internacionalista. Kelsen escreveu nos anos 20.
Nos anos 30, uma corrente soviética do direito internacional tenta esclarecer essa relação do direito interno com o direito internacional. Para esses, há um único ordenamento, mas o conflito seria resolvido a favor das normas nacionais. A doutrina soviética entendia que a vontade nacional foi produzida mais próxima do povo, pelo que merecia destaque. Opunham-se a Kelsen, que defendia que as normas internacionais deviam prevalecer pela pacta sunt servanda.
Não existe monismo nacionalista, segundo ACR! Monismo, apesar da posição acima, somente pode ser internacionalista. Ex: país monista com supremacia da norma interna. Se o país julga inconstitucionais as normas do tratado, ainda assim ele será válido perante os demais agentes internacionais até que haja a denúncia. E isso mostra que existem, na verdade, dois mundos, o que indica o dualismo. Logo, não há monismo naconalista.
1.2- Dualismo clássico - Triepel
Reconhece dois mundos, pelo que será necessária a incorporação das normas internacionais. Como as fontes do direito internacional são diferentes das fontes do direito nacional, há dois ordenamentos jurídicos. Logo, o conflito ocorre entre norma nacional e norma internacional incorporada. 
Ex: a constitucionalidade de tratado não questiona o próprio tratado, mas a norma interna que o incorpora ao ordenamento nacional. 
1.3- Brasil
A opção de cada Estado deve ser estudada pela Constituição. A nossa é omissa acerca da definição da teoria adotada. 
A Constituição de 1988 inova ao primeiro estabelecer os Princípios que regem as relações internacionais que regem o Brasil. Isso ainda não tinha sido tratado na CF. E esta também não fala o que fazer com o costume internacional
Obs.: ACR entende que o art. 4º, p ú, da CF, significa que não se pode dar o mesmo tratamento a um tratado entre membros do Mercosul e um tratado entre não membros:
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Destaca que o tema é polêmico, tendo autores que entendem diferentemente sobre esse tópico.
A CF possui dois artigos que ajudam a definir a teoria adotada: art. 84, VIII (compete ao PR celebrar tratados, acordos, etc sob referendo do CN) e o art. 49, I, da CF (compete privativamente ao CN resolver definitivamente sobre tratados, acordos, etc). 
- Nasce, de acordo com o STF, uma junção de vontades (ou teoria das 4 fases): 
a) Assinatura (ato unilateral pelo qual o Estado manifesta sua predisposição em celebrar o tratado) - PR
Discricionariedade. Poder Executivo. 
b) Fase congressual (decreto legislativo – “decide definitivamente”)
Mensagem presidencial encaminha ao CN a norma assinada. Não tem prazo. Antes da ratificação da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, isso não incomodava. Mas o art. 18 dessa convenção prevê que não pode o Estado adotar nenhum ato que prejudique o objeto ou a finalidade do tratado após ter assinado. Manter a assinatura já engessa, em certa medida, a atuação do país. A retirada da assinatura é tema importante por essemotivo. A prática mostra que o tratado internacional não rejeita tratados assinados, mas os engaveta quando com eles não concorda.
O PR encaminha a mensagem, cuja análise é iniciada na Câmara dos Deputados como PDL (Projeto de Decreto Legislativo – espécie normativa que veicula matéria privativa do CN). Segue à Comissão de Constituição e Justiça (constitucionalidade), depois à Comissão de Relações Exteriores (análise de conveniência e oportunidade). Segue ao Plenário – votação por maioria simples. Aprovado, segue ao Senado. Comissão temática faz as duas análises das comissões da Câmara. Plenário – maioria simples. Publicação e promulgação pelo Presidente do Senado.
Pode o CN aprovar, rejeitar ou requerer alterações no tratado para decidir. Pode impor ao executivo a obrigação de fazer reservas. Nos últimos anos, o CN diz, por exemplo, que “fica aprovado o tratado, com ressalva aos arts. 56 e 57”. Cabe ao Presidente ratificar o tratado com reservas.
Se o PR não fizer as reservas nessas circunstâncias, incorre em crime de responsabilidade!
c) Fase da ratificação
Ato unilateral pelo qual o Estado manifesta seu desejo de celebrar um tratado. Nesse momento, há já a validade internacional do tratado, embora ainda não seja válido nacionalmente.
d) Fase do decreto presidencial
Inovação no ordenamento jurídico internacional. Compete ao PR. Dá publicidade ao texto interno do Tratado. 
Depois dessa fase, o tratado passa a ser válido nacionalmente. Costuma haver um ano mais ou menos de diferença, por isso, entre o início da vigência do tratado internacionalmente e nacionalmente.
=> Pelas fases “c” e “d”, verifica-se que há dois mundos, dois ordenamentos. Logo, há dualismo no Brasil! ACR entende que não há monismo moderado no Brasil, a despeito de Rezek falar isso. Nádia de Araújo, de outro lado, fala em dualismo moderado, no que tem razão, segundo ACR. Não foi exigida lei que copiasse o tratado, que continua sendo utilizado, apenas se utilizando um decreto que o internaliza.
Se houve a ratificação, a fase do decreto presidencial é obrigatória (posição majoritária que o requer).
ACR entende que essa etapa não está prevista na CF, sendo desnecessária. Esclarece que não é posição majoritária, mas interessante para harmonizar o direito interno e o internacional, dado o lapso entre a vigência internacional e a vigência interna. 
* O poder de denunciar tratados também exige junção de vontades? Posições:
- 1ª corrente (majoritária): não. Para que um tratado seja denunciado (ato unilateral), basta haver a vontade de um dos dois poderes (Poder Executivo denuncia ao tratado, pelo PR, ou advém lei do Poder Legislativo obrigando ao Executivo). 
- 2ª corrente (minoritária – ADI 1625 – em julgamento): uma Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura questionou a corrente majoritária, em razão da denúncia feita pelo FHC à Convenção da OIT n. 158. Raciocínio: para introduzir o tratado, é preciso a junção de vontades. Para retirar, também deveria ser necessária a anuência do Legislativo. O único momento em que o PR pode atuar sozinho no âmbito normativo é na denúncia, o que distoa do restante do ordenamento. Mesmo a medida provisória tem duração determinada no tempo se não for convertida em lei. 
**Diferença entre incorporação e formação: a formação depende da teoria das 4 fases. A incorporação, por sua vez, tem somente uma fase, que é a do decreto presidencial.
*** Acordo executivo é possível no Brasil? É denominação doutrinária que advém de homenagem do modelo americano, onde se determinou que há tratados da esfera de competência isolada do executivo. Também denominado tratado de forma simplificada. É possível acordo executivo no Brasil, excepcionalmente. Entende-se que é necessário flexibilizar a interpretação do art. 49, I, da CF, evitando-se a demora por dependência da atuação do legislativo. Exceções são as seguintes, que não significam acréscimo de obrigações impostas ao Brasil:
a) Acordo executivo de execução de tratado formal
Acordos stand by com o FMI: o Brasil contraía dívidas de curto ou médio prazo, na época da ditadura, sem ter dinheiro. A bancada nacionalista queria evitar isso, fazendo com que todo tipo de acordo passasse pelo Congresso. Mas isso não foi obtido. A interpretação dada à CF tal qual foi feita é: o Brasil já aderiu e incorporou o tratado do FMI, o que bastaria para serem feitos os empréstimos sem passar pelo Congresso Nacional, ainda que a repercussão financeira seja enorme. 
 
b) Acordo de interpretação de tratado formal pré-existente
Como o CN já aprovou o tratado, não haveria problemas.
c) Acordo executivo de modus vivendi
Modus vivendi – já existe.
d) Diplomacia ordinária
Representam acordos de esfera mínima de atuação administrativa. Ex: o Brasil acha importante novo tratado na bacia amazônica. Faz acordos, estabelece pautas, etc.
XIII- Hierarquia dos tratados 
1- Tratados em geral
O STF interpretou 3 dispositivos para sua conclusão:
- Art. 47 da CF – na falta de quorum específico de aprovação, será maioria simples;
- Art. 102, III, b, da CF – RE – cabe quando a decisão tiver julgado inconstitucional lei ou tratado;
- Art. 105, III, a, da CF – REsp – cabe quando a decisão impugnada violar ou negar vigência à lei ou tratado.
Logo, o tratado está abaixo da CF (art. 102), sendo equiparado à lei ordinária federal (arts. 47 e 105). RE 80.004, o STF reconheceu essa hierarquia. Aplicação da LINDB para conflito de normas de mesma hierarquia.
ACR: entende que essa posição é ruim ao Brasil. A hierarquia de mera lei ordinária é pequena e pode gerar situações aberrantes, geradas por maioria de momento, em prejuízo de grandes tratados, como os do Mercosul, por exemplo.
2- Tratados de DH
Entendimentos ao longo do tempo:
2.1- Antes da CF de 88
Status de lei ordinária federal.
2.2- Após a CF de 88 – 2004 (EC 45)
Art. 5º, $2º,da CF gerou polêmica:
- 1ª posição – STF: nada mudou. Lei ordinária federal.
- 2ª posição (minoritária – doutrina – Cançado Trindade e Flávia Piovesan): equivalente a norma constitucional. Os direitos previstos na CF não excluem outros decorrentes dos regimes, princípios e tratados celebrados pelo Brasil. O STF não adotou essa interpretação, tendo entendido que os novos direitos teriam a mesma hierarquia tradicional.
- 3ª posição: Ano 2000 – RHC 79785 – Sepúlveda Pertence – em obter dictum, diz que a visão majoritária do STF nega vigência ao art. 5º, $2º. Mas a visão de Piovesan nega vigência ao art. 102, III, b, da CF, que fala no controle de constitucionalidade dos tratados (indicando a infraconstitucionalidade). Mas fala em supralegalidade dos tratados de DH.
2.3- Da EC 45 a 2008
A EC traz o $3º ao art. 5º da CF: tratados aprovados por rito de EC terão status equivalente ao das EC. O movimento dos direitos humanos não gostou da redação. Alguns alegaram a proibição do retrocesso contra a expressão “que forem aprovados pelo quorum...”.
- Piovesan: tratados materialmente constitucionais de DH (todos) x tratados formalmente constitucionais de DH (só os aprovados com quorum de EC – diferença – não podem ser denunciados).
2.4- 2008 em diante – Teoria do Duplo Estatuto
- STF, RE 466, 343: os tratados de DH não aprovados por quorum qualificado são supralegais. Os com quorum de EC têm status constitucional.
Quanto aos tratados aprovados antes de 2008 e da própria EC 45, também têm natureza supralegal. O rito especial é discricionário, podendo ser pedido pelo PR ou adotado pelo CN, por iniciativa própria.
O rito especial requer ratificação? Não se pode interpretar o tratado como PEC, pelo que não se pode dispensar a ratificação do tratado, que é ato discricionário do PR, inclusive.
Aula 4
Tratados com natureza equivalente a EC para o STF:
1- Convenção da ONU sobre o direito das pessoas com deficiência
2- Protocolo facultativo a essa convenção.
3- Tratados tributários
Art. 98 do CTN:
O CTN é pré CF/88. Após a CF, alguns diziam que o dispositivo não tinha sido recepcionado.Mas o STF acabou considerando que o art. 98 foi recepcionado. Estaria dentro do art. 146, III, da CF (as normas gerais de tributário serão veiculados por lei complementar – o CTN foi aprovado por lei ordinária, mas recepcionado como lei complementar). 
Proibição de isenção heterônoma e os tratados internacionais
Art. 151, I, da CF – proíbe a União conceder “benefícios” relacionados a tributos de outros entes da federação. Mas como atuar internacionalmente? Ex: Convenção de Viena sobre relações diplomáticas e consulares concede ampla isenção de tributos, não só federais. É o que ocorre, por exemplo, ao IPTU, municipal.
STF: não é a União, mas o Estado federal que celebra esse tipo de tratado. Logo, não se trata de isenção heterônoma.
ACR – os tratados mercosulinos não têm hierarquia superior a lei ordinária federal.
2- Como o direito internacional vê o direito interno
O direito internacional vê o direito interno como mero fato. Sequer é norma jurídica, salvo se o direito internacional fizer remissão ao direito interno. 
O Chile foi processado por censura a um filme. A Comissão processou o país. Caso “a última tentação de Cristo” – no ordenamento jurídico chileno, a Convenção Americana é equivalente a lei ordinária, pelo que não poderia superar o que consta da Constituição. A hierarquia interna da Convenção é como o direito interno vê o direito internacional. Não interessa. O Chile foi condenado e depois alterou sua Constituição.
O país, quando celebra tratado, tem de saber que irá enfrentar a interpretação internacionalista (como o direito internacional vê o direito interno).
XIV – Bloco de constitucionalidade
Consiste no reconhecimento do estatuto normativo constitucional a diplomas normativos fora da Constituição. No caso brasileiro, o bloco foi reconhecido formalmente com a aprovação do rito especial dos dois tratados relativos a pessoas com deficiência. 
XV – Controle de convencionalidade
a) Conceito: consiste na aferição da compatibilidade de norma ou decisão nacional com normas internacionais.
b) Objeto: normas e decisões nacionais
c) Parâmetro de controle: normas internacionais.
d) Espécies
d.1 – Controle de matriz nacional (preliminar ou provisório) 
Feito pelo juiz nacional.
d.2- Controle de matriz internacional (autêntico ou definitivo) 
Feito pelos órgãos internacionais.
e) Diferenças entre as espécies de controle de convencionalidade
	Quanto à origem
	a) Nacional
b) Internacional
	Quanto à hierarquia da norma paramétrica
	a) Controle nacional: supralegal ou equivalente a EC (teoria do duplo estatuto)
b) Controle internacional: supremacia da norma internacional SEMPRE, inclusive em relação ao poder constituinte originário.
	Objeto do controle
	a) Nacional: mais restrito. Não se controla a Constituição (supralegalidade) ou as cláusulas pétreas (tratados equivalentes a EC)
b) Internacional: todo o ordenamento jurídico.
	Interpretação
	a) Nacional: nacionalista, não vinculante dos órgãos internacionais. Provisória. Cria uma versão nacional do compromisso internacional, deturpando sua real finalidade.
b) Internacional: interpretação definitiva, autêntica.
f) Teoria do duplo controle
Visa a conciliar o controle de constitucionalidade e o controle de convencionalidade (de matriz internacional).
Ex: Caso Gomes Lund x ADPF 153 => o controle internacional de convencionalidade disse ser a lei da anistia incompatível com a Convenção Americana. Já o controle de constitucionalidade, pelo STF, disse que a lei da anistia é constitucional.
No caso Gomes Lund, a lei da anistia passou pelo controle de constitucionalidade, mas sucumbiu ao controle de convencionalidade de matriz internacional. 
g) Como se incorpora o costume internacional?
O STF tem precedentes em que invoca o costume internacional diretamente, como “law of the land”. Há um diálogo direto entre o ordenamento interno e as categorias internacionais que não são tratados, a exemplo também dos princípios gerais do direito internacional. Exemplos: ADI 3741. AD 3510.
7- Sujeitos da sociedade internacional
7.1- Estado
O Estado é sujeito primário do Direito internacional. 
Uma convenção não ratificada por vários Estados ainda assim é considerada costume internacional (por haver acordo tácito). Convenção de Montevideu de 1933 – estabelece os direitos e deveres dos Estados. É citada em todos os precedentes sobre estados, embora seja interamericana.
O art. 3º é costume internacional sobre critérios/elementos formadores do Estado. É a teoria dos 4 elementos:
1- População permanente
2- Território
3- Governo
4- Soberania (capacidade de se relacionar com os demais Estados)
Artigo 3
A existência política do Estado é indepedente do seu reconhecimento pelos demais Estados. Ainda antes de reconhecido, tem o Estado o direito de defender sua integridade e independência, prover a sua conservação e prosperidade, e conseguintemente, organizar-se como achar conveniente, legislar sôbre seus interesses, administrar seus serviços e determinar a jurisdição e competência dos seus tribunais.
O exercício dêstes direitos não tem outros limites além do exercício dos direitos de outros Estados de acôrdo com o Direito Internacional.
Conceito: o Estado é a sociedade política organizada na qual o governo exerce poder soberano em relação a determinado povo e território. 
Outro conceito : a Comissão de Arbitragem que procedeu aos trabalhos de paz na Iugoslávia definiu o Estado como coletividade que se compõem de território e população, submetidos a poder político organizado.
- Apreciação política x jurídica
Art. 4º da Carta da ONU – para ser membro da ONU, é necessário ser Estado. Logo, uma maneira de se identificar um Estado é verificar se foi admitido na ONU. Pode existir apreciação política ou jurídica dos requisitos (a ONU faz a política). A Corte Internacional de Justiça, de outro lado, na questão do Kosovo, fez apreciação jurídica.
- Reconhecimento do Estado
O reconhecimento do Estado é meramente declaratório, não é constitutivo da natureza jurídica de Estado. 
- Reconhecimento de Governo
Contenda entre 2 visões:
a) Doutrina Tobar (1907)– o reconhecimento de governo deve ser realizado somente se houver legitimidade do governo (ascensão legítima de governo). Combater as repúblicas de golpes militares
Obs: doutrina enquanto denominação que designa o posicionamento uniforme de um ou mais Estados acerca de um tópico de direito internacional
 b) Doutrina Estrada: o reconhecimento de governo teria sido manipulado pela Doutrina Tobar para extorquir do novo governo vantagens. Não se deve reconhecer governo, mas somente Estado, evitando-se essa possibilidade.
Golpe x Presidente Zelaya, deposto em Honduras, 2009 – A OEA sancionou Honduras e a suspendeu da sua participação na OEA. Isso seria o retorno da doutrina Tobar, porque o presidente foi deposto e novo governo de fato assumiu? ACR entende que não. Quando se fala na busca da democracia, da condenação da ruptura da democracia, trata-se de deveres internacionais assumidos pelo Estado. Honduras foi sancionada porque participava de tratados que entendiam ilícitas as condutas.
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Resumo do Caso de Honduras:
O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, que voltou ao país em 21 de setembro, havia sido derrubado por um golpe militar em 28 de junho e obrigado a deixar o país rumo à Costa Rica.
 
Ele governava desde 2006 e, segundo os golpistas, pretendia incluir nas cláusulas das eleições presidenciais de novembro deste ano uma consulta sobre a possibilidade de mudar a Constituição do país para poder se reeleger. Isso foi usado como argumento para o golpe.
 
Zelaya foi prontamente substituído no poder por Roberto Micheletti, presidente do Congresso. Micheletti teve o apoio de setores conservadores, embora ambos sejam do mesmo partido político, o Partido Liberal, que saiu rachado da crise.
 
Os golpistas também acusam Zelaya

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