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A África no imaginário europeu
O papel da Geografia e da cartografia
A cartografia da antiguidade
 No final da Antigüidade Clássica, Cláudio Ptolomeu (II d.C) e Macróbio (Vd.C), promoveram uma sistematização das concepções espaciais do seu tempo, elaborando dois modelos cartográficos que influenciaram profundamente a cartografia e o imaginário ocidentais: Os mapas ptolomaicos, em forma de leque invertido, praticamente eram desconhecidos pela Cristandade ocidental. Eram “norteados” (o norte era a parte superior do mapa), e freqüentemente designavam por África uma realidade semicontinental que, às vezes, correspondia a atual África do norte. Sua organização em paralelos e meridianos forneceria a base para a elaboração dos “portulanos” (mapas portugueses) a partir do século XIII. 
 A cartografia ptolomaica referenda a Europa na posição Norte, isto é, superior, a Ásia como sendo o Leste, ou seja, pátria de populações antagônicas ao ocidente, e a África, às regiões meridionais do mundo conhecido, vale dizer, inferiores.
Mapa ptolomaico por Girolamo Porro,Veneza, 1598. 
Noroeste da África
Centro-norte (“África menor”) 
Nordeste
Norte 
A visão ptolomaica do mundo, reconstrução de 1907
Mapa reconstruído a partir da lógica de Eratóstenes (285 - 194 a.C)
Reconstrução de um mapa romano antigo (Orbis Terrarum) 
 Já os mapas macrobianos, conhecidos como “mapas em T” ou “discários”, eram “orientados” (o leste era a parte superior do mapa) e predominaram entre os cristãos e mulçumanos durante toda a era medieval. Os macrobianos medievais, diferentemente dos seus similares antigos, apresentavam apenas um disco com a “Orbis terrarum”, não representando num outro discário a Terra ignota” ou “Terra incógnita”. Também influenciados pelos trabalhos de Ptolomeu e Macróbio, outro “povo do livro” – os árabes – contrapunham o Billad el-Bidan (“a terra dos homens brancos”) e o Machrek (“jóia do Oriente”), berços da civilização mulçumana, ao Billad el-Sudan (“a terra dos homens negros”) e ao Maghreb (“jóia do Ocidente”).
Para Santo Isidoro de Sevilha (560-636), a Terra era esférica e formada por três continentes.
Tem três características significativas:
- a Ásia está situada na parte superior porque o Sol nasce a Leste e o Paraíso era geralmente representado como estando na Ásia;
- á Ásia tem o tamanho igual ao dos outros dois continentes;
- o mar Mediterrâneo, que separa os três contimentes (Ásia, Europa e África), é representado pela haste vertical do T, enquanto o Oceano circundante tem a forma de um O.
Este mapa serviu de modelo a quase todos os mapas medievais, que foram chamados, por isso, mapas T-O.
Mapa mundi, século XII
 Durante o período medieval europeu, o nascimento da Cristandade redesenhou o imaginário das terras conhecidas e desconhecidas, a partir da fusão da cartografia ptolomaica-macrobiana e da cosmologia cristã. Europa, Ásia e África – seja nos mapas ptolomaicos, seja nos mapas macrobianos – aparecem explicitamente associadas ao pós-dilúvio bíblico e a descendência dos filhos e netos de Noé; respectivamente, a Jafet, a Sem e a Cam. A Cam foram associados os povos de cor negra, lábios grossos e cabelos crespos, destinados por uma suposta maldição bíblica a serem escravizados. Os descendentes de Cam passam a ser identificados com os habitantes de Africae e da Aethiopia. No final da era medieval européia, os escritos de viajantes, cronistas e pensadores árabes e cristãos já consideravam os povos negros como bárbaros e pagãos irredutíveis que possuíam na pele e na aparência física as marcas ou estigmas que autorizariam a sua escravização.
 É no período medieval que diversas imagens subalternizantes a respeito dos africanos foram articuladas no imaginário europeu. Uma dessas peças imaginárias é a Teoria camita, interpretação que estigmatizava os negros enquanto descendentes do personagem bíblico Cam como indignos, posteriormente conotada pelo pressuposto de que os africanos estariam fadados à escravidão. 
O Polo Sul
 conhecido ao longo da história como o polo da incivilidade. Para o mundo ocidental, as plagas do Oriente sempre constituíram uma ameaça, periculosidade substantivada na localização Leste. O Sul, por sua vez, usufruiria, nesse código espacial simbólico, dos adereços da inferioridade mais abjeta.
Mapa mundi TO, século XII
Mapa dos Salmos, 1250
 Neste mapa, aparece claramente a indicação do Paraíso e de Cristo, redentor da humanidade, posicionados na direção Norte. Por sua vez, acatando a genealogia dos relatos bíblicos, esta carta geográfica discrimina, na sua posição sul a África, um “continente negro e monstruoso”, ocupado “pelas gentes descendentes de Cam, o mais morenos dos filhos de Noé” (NORONHA, 2000). 
 No Antigo testamento, Cam, um dos filhos de Noé – considerado ancestral bíblico das populações africanas – teria zombado do pai, recaindo sobre ele o estigma da escravidão (Gênesis, 9:23-27). No entanto, ressalve-se que não consta nenhuma indicação bíblica de que Cam fosse negro. Afinal, Cam, na Bíblia, refere-se a um antepassado comum a povos muito diferentes entre si, desde os povos identificados com a orla africana do mar Vermelho até populações entendidas como mesopotâmicas. 
 
 O embrião dessas concepções discriminatórias remete a considerações urdidas na Antiguidade clássica. Para os antigos gregos e romanos, a África compreendia as terras situadas entre as atuais Líbia e Marrocos, habitadas por povos de idioma berbere. 
Berbere
O termo berbere não designa nenhuma etnia. Diz respeito a um grupo de línguas que integra a família afro-asiática. Desse modo, refere-se a povos cujas características são, em alguns contextos, muito discrepantes entre si.
Contudo, o termo berbere deu origem a palavra bárbaro, identificando populações que, pelo fato de a sua língua e a sua cultura diferirem da greco-romana, eram consideradas inferiores em face do padrão hegemônico 
O calor
 A África é o único continente eminentemente tropical do planeta. A presença constante do sol e do calor foi um dado manipulado para confirmar uma inferioridade tida como inata ao negro africano. No passado recente foram abundantes nos meios científicos europeus as teses que advogavam, por exemplo, baixa capacidade intelectual, passionalismo e preguiça como decorrentes da tropicalidade e da elevada umidade do ar. 
 
 Ademais, para a cristandade europeia, as temperaturas altas possuem, de um ponto de vista cultural, sentido simbólico negativo:
 CALOR = sensualidade
 inferno
 pecado 
 No período das navegações europeias, as peças cartográficas evidenciam uma visão crescentemente matematizada do espaço, expressão de um novo modelo de sociedade e de visão de mundo que surge na esteira do avanço da classe mercantil burguesa. 
 No século XV, as encíclicas papais Dum Diversas e Romanus Pontifex autorizavam a escravidão de islâmicos, pagãos e dos povos “pretos”. Expressão do espírito da época da expansão comercial e marítima européia, as encíclicas papais foram uma resposta ao contato desigual da Cristandade com outras civilizações. É nesse contexto que uma nova cartografia começa a se desenvolver, e o conceito de Africae passa a designar uma área, ainda imprecisa, mas muito mais ampla do que nos tempos antigos e medievais. 
 
 O termo ‘África’ passa a concorrer com os termos Guiné e Aethiopia para designar em escalas muitas vezes sobrepostas, terras, povos e sociedades que começam a ser melhor conhecidos pelos exploradores europeus, e sangrados pelo criminoso tráfico transatlântico de escravos. 
 Assim, data do início dos tempos modernos a interpenetração dos conceitos de Africae e Aethiopia: enquanto o primeiro, seguindo a tendência medieval, se descola do universo das regiões conhecidas e civilizadas e passa a se identificar com a “terra de Cam”, de bárbaros e pagãos pecaminosos destinados a escravidão, o segundo, sem perder sua associação com
a barbárie e a selvageria, passa a indicar cada vez mais as terras interiores do continente negro, ainda desconhecidas.
 Foi exatamente a força do trato negreiro que decidiu o destino do termo Africae. Assiste-se, a partir do século XVII, à suplantação das expressões Aethiopia e Guiné pela idéia continental de África, à medida que a imagem do continente negro confunde-se com a de um imenso mercado e reservatório de escravos.
 Nos séculos XVIII e XIX, os estereótipos erigidos pela Modernidade em torno da idéia de África terminaram por se somar ao darwinismo social e as teorias raciológicas, que animavam a ação colonizadora de exploradores, conquistadores, missionários e administradores coloniais na partilha dos territórios africanos pelas potências capitalistas européias. Os africanos foram associados à “infância da humanidade”: a “raça” negra seria o mais grosseiro e primitivo estágio do homem. 
 Por contraposição, o homem branco europeu corresponderia ao estágio superior da humanidade, apto a “civilizar” e tutelar os demais povos. Bárbaros, selvagens, pagãos e representantes dos estágios mais primitivos da humanidade, os africanos seriam desprovidos de civilização e o continente africano de qualquer forma de história.
 
Mapa realizado por Ortelius, Holanda, 1570-1580
Gerhard Mercator, mapa da África, século XVI
Africa Nova Descipto, Willem Blaeu, 1630 
An accurate map of Africa from the latest improvements and regulated by astronomial observations from a new universal collection, 1771, Londres
Mapa da áfrica, 1829
Mapa da África, The Scottish Geographical Magazine, 1885 
Mapa da África, 1890 da Americanized Encyclopaedia Britannica, Vol I, Chicago, 1892 
Detalhe do mapa anterior. Nota-se a palavra “unexplored” (inexplorado)
Mapa inglês, século XIX
Detalhe do mapa anterior. Lê o nome “NEGROLAND”
 Os mapas elaborados sobre a África foram granjeados por um repertório do topônimos cuja imprecisão é representativa da “falta de substância” que o mundo ocidental sempre emprestou ao continente. A partir daí se compreende porque nomes como Ethyopia, Guiné, Lybia, Sudão, Berberia, foram grafadas quase que ao gosto da imaginação do cartógrafo. O mesmo aconteceu com nomes de etnias.
 Uma vez que o continente foi contemplado com o estigma da subalternidade, não é de se admirar haver representações confirmando uma pretensa inferioridade junto aos mapas, que, a despeito de constituírem uma peça técnica, condensavam uma imagem socialmente construída do mundo: 
Projeção de Mercator (1512-1694), geógrafo flamengo, considerado pai da cartografia moderna. 
Projeção de Gerhard Mercator
Nesta projeção os meridianos e os paralelos são linhas retas que se cortam em ângulos retos. 
Manteve as formas dos continentes, mas não respeitou as proporções reais.
Nela as regiões polares aparecem muito exageradas. 
Favorece as desigualdades econômicas, pois amplia de maneira desigual, e aumenta mais o Hemisfério Norte. 
Excelente para a navegação (criada no século XVI). 
Perfeita nos ângulos e formas.
Coloca a Europa no centro do mapa (Eurocentrismo). 
Transformou-se num modelo clássico de mapa mundi
Projeção de Peters(1916-2002), 1973
Projeção de Arno Peters
Alterou as formas para manter as reais proporções dos continentes 
Mantém a área proporcional dos continentes mais próxima do tamanho real. 
Destaque ao continente Africano no centro do mapa. 
Propostas de Peters: Valorização do mundo subdesenvolvido, mostrando sua área real. 
Civilização
 palavra com origem no latim civitas (cidade), caracteriza-se por um nível mais complexo da produção de alimentos, da estratificação social, vida urbana e formais estatais de controle. É preciso cuidado na utilização da terminologia: a construção de uma vivência urbana e de um aparato estatal é uma opção histórica dos povos, e estes não podem ser julgados em função de prioridades não condizentes com as suas expectativas.
Regiões do continente africano
Azul- norte da África (África setentrional)
Verde-oeste da África
Rosa-África central
Laranja-leste da África
Vermelho – sul da África

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