Prévia do material em texto
Defeitos do Negócio Jurídico Impedem que a vontade declarada seja livre e de boa fé. Os defeitos dos negócios jurídicos são maneiras de rever ou anular um contrato feito entre pessoas físicas ou jurídicas, quando reconhecidos que há nele vícios do consentimento ou vícios sociais, com um prazo decadencial de quatro anos para ser requerido. Existem os vícios de consentimento e os vícios sociais. Os de consentimento são: - Erro (do art. 138 a 144) - Dolo (do art. 145 a 150) - Coação (do art. 151 a 155) - Lesão (art. 157) - Estado de Perigo (art. 156) Os sociais são: - Fraude contra credores (do art. 158 a 165) - Simulação (art. 167) ------------ O erro é um engano espontâneo, é quando uma pessoa tem uma ideia diferente sobre o negócio ou não sabe realmente do que se trata. Pode ser escusável, que qualquer um poderia ter se enganado ou inescusável, quando faltou atenção de uma das partes a respeito de um erro que poderia ser evitado. O erro para ser anulado também precisa ser substancial/essencial, que incide sobre a essência (substância) do ato que se pratica, sem o qual esse não teria se realizado. Não pode ser por qualquer motivo fútil, tem que ser o motivo pelo qual a pessoa realizou o negócio, motivo este que se ela tivesse conhecimento, não o faria. O erro só pode ser anulado se for escusável e essencial que trata da parte que realmente importa, pois o acidental é a parte secundária e de pouca relevância do negócio jurídico. O dolo acontece quando uma pessoa tem a intenção de prejudicar a outra, pode ser de terceiro que tenha o conhecimento do ato ou o dolo bilateral onde ambas as partes estão agindo de falsidade, nesse não há anulação, existe também o dolo bônus onde a pessoa não tem má intenção. Espécies do dolo: principal, acidental, bônus (exagero na qualidade), malus (intenção de prejudicar outrem), positivo (ação comissiva) e negativo (ação omissiva). Então, apenas quando for dolo malus e principal é que será anulado. A coação física (não tem manifestação de vontade alguma - inexistente) ou moral (incute na vítima um temor constante e capaz de perturbar seu espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada - anulável) obriga uma pessoa realizar certo negócio jurídico ao contrário a sua vontade. É coação quando o fato atuar contra si, alguém de sua família ou seus bens, fora isso o juiz analisará outros aspectos. Coação é separada por absoluta (física), nesse caso a pessoa serve apenas como um objeto para realizar o negócio através da violência e não tem nenhuma outra opção, e a relativa (moral) onde e ameaçada gravemente e injustamente, a realizar um ato, apenas a coação relativa é considerada defeito do negócio jurídico já que sobre a coação física o efeito é ex tunc, retroage desde o início, portanto, é anulado. Quando há coação por terceiro, o vício é realizado por terceiro que não participa do negócio jurídico. Para caracterizar coação ela tem que ser o motivo pelo qual a pessoa fez o negócio, se não fosse a coação ela não teria feito negócio; o temor deve dizer respeito a dano iminente, ou seja, não precisa ser atual (ex nunc), mas razoavelmente próximo; e, o dano deve ser considerável, isso significa que o dano nem sempre tem haver somente com valor/questão pecuniária. O negócio será anulado apenas quando a parte que se aproveita do mesmo souber a respeito da coação. Caso não saiba, então somente o terceiro responderá por perdas e danos. A coação não se dá por exercício normal do Direito nem pelo temor reverencial. A lesão é o “prejuízo resultante da desproporção existente entre as prestações de um determinado negócio jurídico, em face do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um dos declarantes.” (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2011, p. 398) Segue um seguinte organograma: A necessidade é econômica, é a urgência/”necessidade” que se tem que pagar alguma coisa. A inexperiência é o não entendimento do valor da coisa (ex: vende quadros do Van Gogh por preço baixo por não ter conhecimento sobre). A desproporção é o valor da coisa muito acima ou muito abaixo do preço (ex: 500.000,00 é o valor de um patrimônio que é vendido por 200.000,00 para quitar dívida). Para o CDC (código de defesa do consumidor) basta caracterizar desproporção. Elemento objetivo: desproporção manifesta entre as diferentes prestações do negócio. A desproporção será analisada pelo juiz, caso a caso, não havendo um sistema de tarifamento. A lesão deve ser analisada com relação ao momento em que o negócio se realizou. O negócio pode ser conservado no caso de revisão contratual. Elemento subjetivo: costuma ser necessidade econômica. É uma situação de necessidade extrema que faz com que a pessoa faça um negócio ruim só por conta da necessidade. Inferioridade do lesado (inexperiência ou premente necessidade). Premente necessidade é uma situação extrema, que impõe ao necessitado a inevitável celebração do negócio prejudicial (ex: milionário precisa de dinheiro vivo e vende imóvel a preço muito baixo - pode configurar a lesão). A inexperiência é a falta de habilidade para o trato dos negócios. E a leviandade é a atuação temerária, impensada, inconsequente. Não é necessário o dolo de aproveitamento. Exemplo: Otto, necessitando pagar dívida contraída que está prestes a vencer, oferece sua casa, que vale 500.000,00 por 200.000,00 a Vicente, que nada sabe sobre a situação de necessidade de Otto. Exemplo 2: Nino, não sabendo que determinada madeira encontrada em sua propriedade é muito valorizada, vende a Glauco por preço de madeira comum, sem que Glauco saiba que Nino ignorava que aquela era uma madeira nobre. Exemplo 3: Pessoa que vende quadro de pintor famoso por valor baixo por não conhecer a sua fama. O estado de perigo consiste em salvar-se ou salvar alguém de sua família que está em circunstâncias perigosas, fazendo um negócio jurídico desproporcional ao verdadeiro valor com um terceiro que sabe da situação. O negócio pode ser anulado ou apenas reformulado com seu valor original, quase que como a lesão, onde uma pessoa num caso de necessidade ou pouca experiência assume um contrato desproporcional. Há alguns requisitos e estessão cumulativos: - Necessidade de salvar a si ou alguém da família; - Grave dano conhecido pela outra parte; - Obrigação excessivamente onerosa; - “Inexigibilidade de conduta diversa” Para casos médicos, quando cabível, aplica-se o parágrafo 2º do art. 157 do Código Civil. Existem diferenças entre estado de perigo e coação e estado de perigo e lesão. A fraude contra credores ocorre quando um devedor transfere seu patrimônio para outra pessoa com o objetivo dele não ser tomado - penhorado - para servir como pagamento ao seu credor. Isto porque, o patrimônio de seu dono responde por suas dívidas, ou seja, o patrimônio acaba sendo usado como uma garantia para o credor. Então, se o devedor alienar (transferir para outra pessoa) seu patrimônio, o credor não conseguirá cobrar. Assim, ao diminuir seu patrimônio o devedor se torna insolvente, pois não tem patrimônio suficiente para o pagamento de suas dívidas. Para evitar que isso ocorra o credor irá ajuizar uma ação, chamada de ação pauliana ou revocatória, com o objetivo de anular os atos fraudulentos do seu devedor. Fazendo isso, os bens do devedor voltam a ser seu patrimônio a fim de serem penhorados. Porém, nem todo credor pode ajuizar esta ação, somente poderão ajuizar a ação o credor quirografário, ou seja, é aquele credor que não possui uma garantia real, isso quer dizer que esse tipo de credor é aquele que poderá executar os bens que integram o patrimônio do devedor para receber seu crédito. artigo 158, § 1º - é quando a garantia se torna insuficiente. Exemplo: Marcelo pediu um empréstimo de 200.000,00 e deve em garantia várias máquinas que totalizam este valor. Ocorre que Marcelo não pagou o empréstimo e suas máquinas desvalorizaram, passando a valer somente 50.000,00. Sendo assim, a garantia de Marcelo tornou-se insuficiente para garantir o pagamento de sua dívida, então, o banco poderá ajuizar a ação pauliana no caso de Marcelo ter cometido ato de fraude contra credor. § 2º - efeito ex tunc. artigo 159 - ocorre quando o devedor insolvente transfere onerosamente seus bens para outra pessoa com o objetivo de não pagar os credores. O exemplo mais comum disso é o contrato de compra e venda. Na transmissão onerosa de bens a má-fé e a intenção de fraudar somente serão presumidas se: - O adquirente tivesse, ou devesse ter, conhecimento da insolvência do devedor. - Insolvência notória. Nessas transmissões o negócio jurídico somente será anulado se ficar comprovada a má-fé. E quem tem a obrigação de provar a má-fé é o credor. artigo 162 - ocorre quando o devedor insolvente realiza o pagamento de uma dívida não vencida, isso significa que ele está favorecendo um credor e prejudicando os demais credores (caso haja mais de um credor), portanto, este ato é considerado fraude. O credor que recebeu o pagamento antecipado deverá devolver em juízo os valores recebidos para que seja partilhado entre os demais credores. artigo 163 - neste caso, o devedor insolvente não transfere seus bens para outra pessoa, os bens continuam em seu nome, mas ele oferece garantias preferenciais sobre esses bens para terceiros, em detrimento dos credores, pois ele sabe que os credores quirografários (não preferenciais) não terão preferência sobre credores preferenciais. Exemplo de garantias preferenciais: hipoteca. artigo 165 - este artigo quer dizer que, após o juiz anular os atos fraudulentos, os bens tornarão a integrar patrimônio do devedor. Sendo assim o patrimônio do devedor será recomposto para pagamento das dívidas. Parágrafo Único - quer dizer que se a fraude contra credores cometida pelo devedor foi a atribuição de alguma garantia preferencial em favor de outra pessoa, o juiz apenas irá anular essa garantia se for comprovada a fraude. … Fraude contra credores Fraude à execução Instituto de direito material regulado pelo Código Civil e deverá ser efetuada em ação autônoma. Instituto de direito processual, regulada pelo Código de Processo Civil. Esta pressupõe a existência de demanda, razão pela qual a fraude pode ser declarada no próprio processo, não sendo necessário que seja realizada em processo autônomo, como ocorre com a fraude contra credores. Para se caracterizar fraude à execução é necessário que um processo esteja em curso, ou seja, exige-se litispendência. Não existindo o processo em andamento, resta ao credor tentar desconstruir a fraude através da ação pauliana, que não está subordinada à existência de demanda em andamento. A simulação é a vontade interna X vontade manifestada. Existe a simulação absoluta, que na aparência tem determinado negócio jurídico, mas na essência a parte não deseja negócio algum; e tem a simulação relativa, que é quando o negociante celebra um negócio na aparência, mas na essência almeja outro ato jurídico. Ambos geram nulidade. artigo 167, § 1º, I - este inciso quer dizer que o negócio jurídico foi realizado na verdade com uma pessoa, mas no contrato consta outra pessoa favorecida. Exemplo: Joana compra uma moto de Gilberto, no entanto, como Joana possuía muitas dívidas, Gilberto concordou em transferir o carro para a mãe de Joana, para evitar que os credores tomem o veículo. Sendo assim, podemos dizer, nos termos do artigo 167, do Código Civil, que o negócio jurídico aparentou transmitir direitos à pessoa diversa daquela a qual realmente se transmitiu. § 1º, II - este inciso quer dizer que o negócio jurídico contém informações que não são verdadeiras, que não ocorreram. Essas informações não verdadeiras podem ocorrer por meio de uma declaração, uma confissão, uma condição ou uma cláusula. Exemplo de declaração: um atestado médico para abonar faltas no trabalho, sendo que a pessoa não estava doente. Exemplo de confissão: Bruno firma uma confissão de dívida no valor de 100.000,00 em favor de Marta para resguardar o seu patrimônio e evitar pagar seus credores. Informação falsa por meio de confissão, pois, na verdade, Bruno não devia nada à Marta. Exemplo de condição: Lucio (gerente) e Carlos (vendedor) simulam que implementaram uma condição (venda de 10 veículos em 1 mês) para receber uma comissão. Exemplo de cláusula: no contrato social da empresa consta uma cláusula em que João vendeu suas cotas para Aurélio, mas,na verdade, a empresa ainda pertence a João, que possui muitas dívidas e não quer correr o risco de perder seu patrimônio. § 1º, III - este inciso quer dizer que a simulação está na data do negócio jurídico, que não representa a data verdadeira em que o negócio foi realizado. A simulação pode ocorrer em uma data anterior (antedata) ou posterior (pós-datada). Exemplo: Helen e Guilherme vivem em união estável desde 2012 quando adquiriram um terreno de Rafaela, prima de Helen. Mas Helen pretendia dissolver união estável com Guilherme. Para não dividir o imóvel com Guilherme, Helen e Rafaela simularam um contrato de compra e venda em favor de Helen, datando a compra para 2010, quando Helen ainda não convivia com Guilherme. O contrato é simulado, pois foi antedatado. § 2º - ocorre quando o negócio jurídico é declarado nulo por ter sido simulado, ele contamina os demais atos posteriores que também não terão validade. Mas, apesar dos atos posteriores não terem validade, o terceiro de boa-fé terá direito de cobrar daqueles que realizaram ato simulado os prejuízos que sofreu.