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Para uma crítica da violência (Walter Benjamin) Autor de tendência marxista, Walter Benjamin concebeu sua crítica na Alemanha, em 1921, três anos após o fim da Primeira Guerra mundial, nos anos iniciais da República de Weimar. À luz da filosofia do direito, a sua análise é uma denúncia contra a violência opressora das instituições do estado moderno, fazendo uma vinculação lógica entre poder político e violência. Uma vez que o aparato legal do estado moderno, tais como a justiça, a polícia e o parlamento, se embasam na teoria do estado do direito positivo, é justamente nesse campo da filosofia do direito que o autor fundamenta a sua crítica à relação entre violência e poder. Logo, o autor denuncia a violência do direito, e sugere, por fim, a possibilidade de solução de conflitos individuais fora do âmbito do direito positivo. Em virtude da complexidade ética que envolve o tema, o autor circunscreve o assunto ao âmbito da teoria política do estado e à filosofia do direito. Isso se dá para evitar uma interminável argumentação e questionamentos críticos sobre o emprego ético da violência, visando a fins “justos”, ou ainda “se os fins justificam os meios”, etc. Então, o autor se abstém do questionamento crítico acerca da natureza da violência, o que tomaria caminhos diversos da abordagem em foco; neste cãso faz uma abordagem conforme sugere a grande tendência da filosofia do direto. O autor aborda a violência sob o viés do direito natural e do direito positivo, à luz da filosofia do direito, tendo em conta que a justiça, através do direito, se arroga o papel de único mediador dos conflitos entre os indivíduos. Segundo Benjamin, do ponto de vista do direito natural a violência é perfeitamente justificável, desde que empregada visando a fins considerados “justos”. Nesse sentido, a teoria do Estado do direito natural idealiza a violência do Estado como um instrumento de ação naturalmente concebido e moralmente aceitável; neste caso os fins justificam os meios. O direito positivo parte do pressuposto de que cada indivíduo da sociedade, sendo portador de uma “personalidade jurídica” própria e individual, dela abriu mão em favor do estado; esta concepção do direito natural posteriormente influenciou a biologia de Darwin, que considera a violência como “o meio original e o único adequado para todos os fins vitais da natureza”; ainda segundo o autor, esse dogma da filosofia natural serviu de base para o dogma “mais grosseiro” da filosofia do direito, segundo o qual “toda violência que é adequada a fins quase exclusivamente naturais” é justificável, à luz do direito natural. Em suma, à luz do direito natural os fins justificam os meios, logo, a violência é naturalizada. Por outro lado, o direito positivo ocupa-se em chancelar os meios moralmente adequados de emprego da violência, visando a objetivos considerados “justos”, ou seja, o direito positivo justifica os meios em virtude dos fins. O direito positivo, que é um meio de atuação do estado, tem o seu sentido fundamentado em si, de modo que torna inquestionável e incondicional os fins. De uma maneira geral, pode-se dizer que, segundo o autor, a teoria do direito positivo do estado ocupa-se primordialmente dos meios que constituem a violência, já que os seus fins não são objetos de questionamento, uma vez que atendem ao interesse do estado. No direito positivo o próprio estado, detentor do monopólio legítimo da violência, estabelece o direito como árbitro dos meios legítimos de emprego da violência. Nesse sentido, a violência do estado, a violência “legal”, é perfeitamente justificável à luz do direito positivo. Os meios justificam os fins. O autor destaca ainda que existem entre essas duas vertentes do direito uma clara antinomia, no sentido de que o direito natural encontra sua base de justificação nos fins, sem se preocupar com os meios e o direito positivo encontra sua justificação nos meios, tendo em consideração o caráter incondicional dos fins. É nesse sentido que o autor destaca que “o direito positivo é cego para o caráter incondicional dos fins, e o direito natural o é cego para o caráter condicional dos meios”. A teoria positiva do direito compreende uma diferenciação básica da violência: a violência sancionada (legítima) e a violência não sancionada (ilegal). Segundo o autor, o direito positivo entende como ameaça qualquer forma de violência que não provenha dele mesmo. Essa disposição tende a tirar do individuo, pelo menos enquanto sujeito de direito, qualquer direito a violência, mesmo aquela que se dirige a fins naturais. Ainda segundo o autor, o direito positivo preocupa-se em submeter o indivíduo à lei visando a garantir a liberdade. todavia, para manter-se incontestável o direito recorre ao uso da violência, e assim se fortalece. Segundo o autor, a polícia constitui-se na instituição mais representativa da violência do estado em virtude de efetivar-se nela “a violência que instaura o direito e a violência que o mantém”. Isto é confirmado na sua declaração de que “toda violência como meio é, ou instauradora ou mantenedora do direito”. Todavia, o autor observa que a violência é inerente às instituições de direito, no sentido de que a violência está implícita à ideia de compromisso entre as partes, mesmo aquelas supostamente estabelecidas pacificamente. Ainda segundo o autor, a própria existência do direito supõe a sua violência vitoriosa contra qualquer outra que se lhe oponha. Por essa razão, o autor entende que os parlamentos e as instituições políticas não podem, por princípio, oferecer soluções “não-violentas” para conflitos, pois todas as suas soluções têm a marca da violência tanto na origem quanto no desfecho. Neste ponto da exposição o autor esboça a sua proposta e ponto central de sua concepção: a possibilidade de soluções não-violentas para os conflitos, ou seja, soluções que não passam pela esfera do direito positivo – o que o autor chama de “meios puros”. Segundo o autor, a solução dos conflitos entre indivíduos por meio de resoluções “não-violentas” demandam diálogo, cortesia do coração, inclinação, amor à paz, confiança, enfim, a esfera da compreensão mútua. Um exemplo dessa atitude diz respeito prática usual dos embaixadores que, segundo o autor, encontram no diálogo uma maneira de resolver satisfatoriamente os conflitos entre seus países. Em suma, pode-se dizer que Walter Benjamin em sua tese “Para uma crítica da violência” expõe o caráter inegavelmente opressor do direito positivo e aponta, ainda que de maneira idealizada, para formas alternativas de solução de conflitos que não passam pela mediação do direito positivo. Aluno: Marcos Benício de Souza Farias
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