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Estoicismo e epicurismo Estoicismo “Indiferença, renúncia e apatia estóica” A frase acima é de Sêneca, um dos grandes expoentes da escola filosófica do estoicismo. Estoicismo A escola estoica recebe esse nome do local onde foi fundada, a porta pintada ("Stoa Poikile"), em Atenas, por Zenão de Cício, por volta de 300 a.C Bem viver Entre os grandes estóicos de Roma encontram-se o escravo Epicteto (55-135 d.C) e o imperador Marco Aurélio (121-180 d.C.). Mas em que consiste a filosofia estóica e por que ela conseguiu vigorar durante tanto tempo? Bem viver Em primeiro lugar, por que o estoicismo considerava que a ética e as questões morais, ou seja "a arte de bem viver", eram mais importantes do que as questões teóricas. Nesse sentido, era uma filosofia prática. Bem viver Os textos dos autores estóicos se assemelham aos textos de autoajuda contemporâneos, na medida em que propunham maneiras de se atingir esse "bem viver". Tudo tem um motivo Para o estóico, enquanto o animal é guiado pelo instinto, o homem é guiado pela razão. O mundo que a razão apresenta ao homem é a Natureza e não existe nada superior a ela. Deus, portanto, não está fora da Natureza mas impregnado nela. Tudo tem um motivo Uma vez que a Natureza é governada pela razão divina, tudo tem um motivo para ser e nós não podemos mudar isso. Por conseguinte, nossa atitude diante das adversidades e da própria morte deve ser de serena resignação. Tudo tem um motivo Assim, o ideal do estoicismo é atingir a ataraxia ou apatia, ou seja, a indiferença em relação a todas as emoções, o que se alcança pela prática da virtude. Tudo tem um motivo Os estóicos suportavam as adversidades com calma e dignidade, mas também acreditavam que as circunstâncias da vida de um homem podia se degradar a tal ponto (seja devido a uma tragédia pessoal, à ruína e a subsequente miséria, seja devido a uma doença dolorosa e terminal), que um suicídio indolor se tornava a coisa mais racional a fazer. “Sêneca (c. 2 a.C.-65 d.C)” “Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para consolo.” “Sêneca (c. 2 a.C.-65 d.C)” “Vê-se frequentemente um terreno diminuto prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas e incríveis aplicações, e um arranjo hábil torna habitável o menor canto.” “Sêneca (c. 2 a.C.-65 d.C)” “Para vencer os obstáculos, apela à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que era apertado e os fardos tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá- los.” Epicurismo No tempo áureo da Antiguidade Grega, três séculos antes de Cristo, o filósofo Epicuro introduziu, não tanto um princípio do prazer (há hoje uma certa confusão à volta da palavra "epicurismo"), mas mais um princípio de fuga da dor ou de procura da tranquilidade. Epicurismo Epicuro era, de certo modo, um físico-químico, tendo retomado as ideias atomistas do filósofo pré-socrático Para Demócrito e para Epicuro todo o mundo é composto por átomos. "Tudo é átomos e espaço vazio", disse Demócrito. Epicurismo "Tudo é átomos e espaço vazio", disse Demócrito. Epicuro foi atomista ao ponto de imaginar que também os deuses, que na altura estavam no Olimpo, eram feitos de átomos e espaço vazio. Epicurismo Mas os átomos dos deuses não se combinavam de nenhuma forma com os átomos dos homens. Epicurismo O filósofo recusou, portanto, a ideia de os deuses serem senhores das ações dos homens. Estes eram livres e não tinham que ter medo dos deuses, não tinham que sofrer a dor devida a eventual castigo dos deuses. Epicurismo O prazer, no sentido de ausência de dor, foi erguido como trave-mestra da sua filosofia: a procura dele era o impulso para uma vida que merecesse a pena ser vivida. Epicurismo Para Epicuro, havia dois tipos de prazer: passivo e ativo Passivo: aquele prazer estável, que não depende de estímulo interno e externo, que só alcança pela tranquilidade do espírito e o conforto da vida saudável; Ativo: aquele tipo de prazer que depende de estímulos internos e externos. Ele está ligado às paixões e sentimentos, que geram alegria, gozo e tristeza. Epicurismo A ideia é tão simples e atrativa que não se estranha que os seus seguidores se tivessem multiplicado e chegado até aos nossos dias. Só se estranha é que não haja mais. Ao contrário, hoje prevalece o hedonismo, que não se confunde com o epicurismo. No hedonismo, cultiva-se o prazer pelo próprio prazer, que acaba também gerando dor e sofrimento. “A morte não é nada para nós” “Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no fato de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la. Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado.” - Epicuro, in "A Conduta na Vida"
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