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DIREITO PENAL II AULA 2 - CONCURSO DE PESSOAS Conceito: Também chamado concurso de agentes ou co-delinquência. Com a Reforma do Código Penal de 1984 a denominação concurso de pessoas substitui a co-autoria. Concurso de pessoas é nomenclatura mais abrangente, pois, pode abarcar também a participação. “Art. 29, CP: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3. § 2º - se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.” O Código Criminal do Império (1830) distinguia entre autores e cúmplices. O Código Penal de 1890 manteve esse tratamento. Código Penal 1940 – divide em co-autor e partícipe. REQUISITOS PARA O CONCURSO DE AGENTES Pluralidade de pessoas e de condutas Relevância causal de cada conduta (nexo causal para o resultado) Vínculo psicológico entre os agentes (contribuem para a mesma finalidade) Identidade do ilícito penal (o delito deve ser idêntico para as pessoas) ESPÉCIES DE CRIMES QUANTO AO CONCURSO DE PESSOAS Monossubjetivos ou de concurso eventual: podem ser cometidos por um ou mais agentes. Constituem a maioria dos crimes previstos na lei penal (ex.: homicídio, furto, etc). Plurissubjetivos ou de concurso necessário: só podem ser praticados por 2 ou mais agentes em concurso (ex.: quadrilha, bando, rixa,etc). ESPÉCIES DE CRIMES PLURISUBJETIVOS: De condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente visando a produção de um resultado comum. Centram esforços para a realização do crime. (ex.: assalto a ônibus). De condutas convergentes: as condutas tendem a encontrar-se e desse encontro surge o resultado. Não se voltam para o resultado, mas uma se dirige à outra (ex.: o revogado crime de adultério). De condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra as outras. Agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas (ex.: crime de rixa). ESPÉCIES DE CONCURSO DE PESSOAS Concurso necessário: refere-se ao crimes plurissubjetivos (2 ou mais pessoas). A co-autoria é obrigatória, e a participação de terceiros pode ou não ocorrer. Concurso eventual: refere-se a crimes monossubjetivos (praticados por um ou mais agentes). A co-autoria ou participação não é obrigatória, mas sim eventual. CONCEITO DE AUTOR Conceito unitário ou monista: autor é todo aquele que contribui de modo causal para a realização do fato punível (não há distinção entre autor e partícipe). Conceito restritivo ou objetivo-formal: autor é aquele que realiza ação típica (ou alguns de seus elementos) prevista na lei penal. É quem pratica a conduta principal. Partícipe é quem não pratica a conduta principal e contribui para o resultado. Conceito extensivo: autor é aquele que concorre de qualquer modo para o resultado. Não distingue co-autoria e participação. É mais moderado que o conceito unitário, pois admite causas de diminuição da pena, para estabelecer os diferentes graus de autoria. Admite as figuras do autor e do cúmplice (autor menos relevante). Conceito subjetivo de autor: autor é aquele que age com animus auctoris (quer o fato como próprio) e partícipe é aquele que o faz com animus socii (quer o fato como algo alheio). Falha em não dar relevância à conduta típica. Conceito finalista de autor: Autor é aquele que tem o domínio finalista do fato (delito doloso). No caso de delito culposo, autor é todo aquele que contribui para a produção do resultado que não corresponde ao cuidado devido. Co-autor é aquele que participa da finalidade (delito doloso) e toma parte na divisão do trabalho. PRADO – defende um conceito misto entre o objetivo-formal (sendo autor aquele que realiza a conduta típica – decorre da legalidade penal) e o conceito finalista de autor (critério material – domínio do fato, e não o animus de agir para si próprio). FORMAS DE CONCURSO DE PESSOAS Co-autoria: Todos os agentes, em colaboração recíproca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta principal. Quando 2 ou mais agentes realizam o verbo do tipo. Pode haver divisão dos atos executivos. Participação: o partícipe é quem concorre para que o autor ou co-autores realizem a conduta principal. Não pratica o verbo do tipo, mas concorre para o resultado. É a contribuição dolosa sem domínio do fato. Elementos: 1- vontade de cooperar com a conduta principal; 2 - cooperação efetiva, por conduta acessória à principal. DIFERENÇA ENTRE AUTOR E PARTÍCIPE Autor: realiza a conduta principal descrita no tipo penal. Partícipe: aquele que, sem realizar a conduta descrita no tipo, concorre para sua realização. Autor direto ou imediato: pratica o fato punível pessoalmente. Pode ser: autor executor (realiza materialmente a ação típica) e autor intelectual (sem realizar a conduta de modo direto, domina-a completamente). Autor mediato ou indireto: aquele que, possuindo o domínio do fato, serve-se de terceiro que atua como intermediário, mero instrumento (geralmente inculpável – menor/doente mental; coação moral irresistível/obediência hierárquica). Não cabe autoria mediata em casos em que: O intermediário é inteiramente responsável; Nos delitos especiais e de mão própria (agente reúne características específicas) só pode haver participação (ex.: falso testemunho ou falsa perícia – art. 342 CP; infantícídio). Autoria colateral ou acessória: não integra o concurso de agentes. Ocorre quando 2 ou mais pessoas produzem um fato típico de modo independente umas das outras. Não há vínculo psicológico entre os agentes. Ex.: A e B atiram contra C, para matá-lo, ignorando a ação do outro. É o caso do linchamento. Participação necessária imprópria: ocorre nos delitos que só podem ser praticados com a participação de várias pessoas (delitos de encontro ou convergência). Ex.: art. 235 bigamia; adultério. Delito bilateral: para Prado não é concurso de pessoas, pois é elemento essencial do tipo (ex.: rixa). Não se admite co-autoria para crimes culposos (resultado não desejado). Co-autoria exige o dolo na ação (vínculo psicológico entre autores) A participação também não se estende aos crimes culposos, exceto na modalidade de instigação ou cumplicidade psíquica. Ex.: A incita B a dirigir em alta velocidade, sem obedecer o cuidado devido. CONCURSO DE PESSOAS EM DELITOS OMISSIVOS Delitos omissivos também não dão ensejo ao concurso de pessoas (nem co-autoria, nem participação). Só pode ser sujeito ativo de crime omissivo aquele que tiver a capacidade de agir e se encontre em uma situação típica. Não se concebe que alguém omita uma parte enquanto outros omitam as demais. Em caso de instigação ao crime omissivo, dissuasão, configura-se uma ação delitiva (delito comissivo) (divergência na doutrina). PARTICIPAÇÃO (stricto sensu) Conceito: colaboração dolosa em um fato punível alheio, sem domínio do fato. Participação é sempre acessória ou dependente de um fato principal (teoria da acessoriedade mínima). Basta que a ação ou omissão do autor sejam típicas (não precisa ser ilícita) para que se possa responsabilizar também o partícipe. A existência de uma causa de justificação (excludente de ilicitude) que beneficia o autor só se estende ao partícipe se sua conduta também for justificada. ELEMENTOS DA PARTICIPAÇÃO A responsabilidade do partícipe está adstrita à responsabilidade do autor. São necessários: Elemento objetivo: comportamento que visa auxiliar ou contribuir com o fato punível. Basta a cooperação na atividade coletiva. Elemento subjetivo: acordo de vontades. O partícipe deve agir com consciência e vontade de contribuir para o delito (dolo). A vontade deve ser livre (portanto, não se estende à coação moral irresistível e à obediência hierárquica). ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO Instigação ou induzimento: induzir intencionalmente outro a cometer o delito (persuasão), medianteinfluência moral, ou estimular alguém a levar adiante a idéia já tomada de praticar um delito. Cumplicidade: prestar auxílio, contribuir de forma material (cumplicidade física, material ou real - meios executórios) ou moral (cumplicidade intelectual, psíquica ou psicológica – conselhos e instruções sobre a execução do crime). Parte da doutrina admite a participação em cadeia, ou seja, a colaboração na conduta de um partícipe. Ex.: A instiga B a auxiliar C a cometer um crime. TEORIAS DA PUNIBILIDADE DA PARTICIPAÇÃO Teoria da culpabilidade da participação: decorre da influência exercida pelo partícipe sobre o autor (corrupção do autor). A culpabilidade do partícipe é dependente da culpabilidade do autor. Teoria da causação ou do favorecimento: Baseia-se na contribuição causal do partícipe para a produção do resultado. A conduta típica do autor não a condiciona, pois a participação tem caráter autônomo. É predominante no Brasil. Teoria da participação no ilícito: o fundamento da punibilidade do partícipe advém da transgressão da proibição de contribuir para fato ilícito (constitui crime, ou favorece o crime). PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS Participação de menor importância: decorre do art. 29 CP. Constitui causa de redução da pena, de caráter obrigatório, se a contribuição do partícipe for de pouca relevância (art., § 1º, CP). Pode ser aplicada sanção abaixo do mínimo legal. Cooperação dolosamente distinta: Em caso de desvio subjetivo da conduta - quando um dos agentes queria (dolo) participar do delito menos grave e não do mais grave realizado por outro concorrente – a culpabilidade será mensurada individualmente, com aplicação proporcional da pena. Ex.: A instiga B a surrar C, que se excede e causa a morte de C. O partícipe responderá pelo crime menos grave, com pena aumentada até a metade, se o resultado for previsível (art. 29, § 2º, CP). CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS O art. 30 CP prevê regras próprias para a incomunicabilidade ou não das circunstâncias: Atuantes sobre a magnitude do injusto (circunstâncias objetivas): são os dados materiais referentes ao delito (meios de execução, vítima, parentesco, lugar, tempo). Comunicam-se a todos que participam do crime. Atuantes sobre a medida da culpabilidade (circunstâncias subjetivas): são as condições ou qualidades que se referem à pessoa do agente (reincidência, menoridade, relacionamento agente-vítima). Gera incomunicabilidade, exceto quando for um elemento essencial da natureza do delito. É indispensável que a qualidade ou condição do sujeito ativo seja conhecida pelo partícipe. Ex.: funcionário público (art. 312 CP – peculato); testemunha (art. 342 CP – falso testemunho ou falsa perícia). ATUAÇÃO EM NOME DE OUTREM Em atuações empresariais ocorrem situações em que alguém que não tem o domínio do fato comete a conduta típica em nome de outrem, como seu representante, embora sem reunir as qualidades para ser autor. (ex.: descaminho) Qual é a resolução deste caso? Nem o representado (pessoa em cujo nome o agente atua) nem o representante (que age em nome de outrem) poderiam ser responsabilizados? Os elementos do tipo de injusto estariam repartidos entre os sujeitos ativos, porque nenhum deles o realiza totalmente. O elemento de autoria seria encontrado na pessoa jurídica, mas não nas pessoas físicas que atuam em sua representação. É preciso buscar instrumentos para a imputação das pessoas físicas que controlam a empresa. A relação de subordinação que há entre o diretor e o empregado funcionaria como uma via de transmissão da responsabilidade penal. É preciso introduzir nos Códigos Penais dispositivos que possam solucionar esta problemática. Parte da doutrina entende a representação como fundamento da imputação da conduta delitiva ao que age em nome de outrem. Outra parte defende que o tipo deve ser ampliado para abarcar todo aquele que embora não reúna as qualidades necessárias para ser o autor dos delitos especiais, passe a ocupar de fato a posição de autor (superior hierárquico na empresa). JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA Homicídio culposo – menor inimputável que conduzia veículo sem autorização do pai – co-autoria imputada a este – inadmissibilidade – “A co-autoria, tanto em crimes dolosos ou culposos, depende da existência de um nexo causal físico ou psicológico, ligando os agentes do delito ao resultado. Não é admissível, por tal fato, a co-autoria em delito culposo de automóvel onde figura como autor menor inimputável. A negligência do pai, quando existente, poderá dar causa à direção perigosa atribuída ao menor, jamais à causa do evento” (STJ - RE – Rel. Fláquer Scartezzini). O peculato é crime próprio, no tocante ao sujeito ativo; indispensável a qualificação – funcionário público. Admissível contudo, o concurso de pessoas, inclusive quanto ao estranho ao serviço público. Não se comunicam as circunstâncias e condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime (art. 30 CP)” (STJ – HC – Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro). Policiais militares que, em perseguição a veículo que desobedecera ordem de parar, desferem vários tipos em direção ao veículo perseguido, um deles atingindo o menor que estava na direção, matando-o. Condenação de todos os policiais, o autor do tiro fatal pela autoria, e os demais em co-autoria, por homicídio causador da morte como tendo partido da arma do primeiro. Hipótese em que, por ser a perseguição aos fugitivos fato normal na atividade de policiamento, não se pode torná-la como suficiente a caracterizar a necessária unidade do elemento subjetivo dirigido a causação solidária do resultado. (...) (...) Assim, nessa hipótese, os disparos de arma de fogo devem ser examinados em relação a cada um dos responsáveis por esses disparos., caracterizando-se na espécie, a denominada autoria colateral. Como apenas um desses disparos, com autoria identificada, atingiu a vítima, matando-a, o autor do tiro fatal responde por homicídio consumado; os demais, ante a prova reconhecida pelo acórdão de que também visaram a vítima, sem atingi-la respondem por tentativa de homicídio. Recurso especial conhecido e provido” (STJ – Resp 37.280 – Rel. Assis Toledo).