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Material Didático n. 5 Ação Penal

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Material Didático de 
Direito Penal n.5: 
AÇÃO PENAL 
Produzido por Gisele Alves e Ieda Botelho 
 
 
 AÇÃO PENAL 
 
De acordo com Cleber Masson (2012, p. 833) a “ação penal é o direito de exigir do 
Estado a aplicação do direito penal objetivo em face do indivíduo envolvido em um 
fato tipificado em lei como infração penal”. 
Características da Ação Penal: 
→ pública : É incumbência do poder público. 
→ subjetiva: o titular da ação exige do estado a prestação jurisdicional. 
→ autônoma: não depende da real existência do direito material. 
→ abstrata: não depende do resultado final da postulação, ou seja, se será favorável 
ou não. 
→ instrumental: visa à instauração de um processo que proporcionará a composição 
da lide (conflito) através da tutela jurisdicional. 
Classificação da Ação Penal 
A classificação leva em conta a tutela jurisdicional invocada ou a legitimidade para sua 
propositura. 
Com base na tutela jurisdicional invocada a classificação é a seguinte: 
 Ação de conhecimento: que objetiva que o direito submetido para apreciação 
judicial obtenha reconhecimento. No caso de uma ação de natureza penal visa 
a condenação do acusado por um fato criminoso. 
 Ações Cautelares: Procura resguardar direito que é invocado na ação principal, 
de maneira que por ocasião da apreciação judicial da lide, a decisão 
jurisdicional venha a ser realmente efetiva. Há diversas medidas cautelares 
como o sequestro (art. 125 e 132 do CPP). 
 Ação de Execução: Finaliza que um direito já reconhecido seja efetivado, no 
caso, de uma condenação torna-se necessária a execução da pena 
estabelecida. 
 
Com base na legitimidade para propositura das ações penais (titularidade), o Código 
Penal em seu art. 100 definiu que “a ação penal será pública, salvo quando a lei 
expressamente a declara privativa do ofendido.” 
Para o Estado ter direito de punir deve haver uma ação penal anterior, que permitirá 
que o acusado exerça seu direito de ampla defesa e de contraditar a imputação, mas 
apesar do direito de punir ser do Estado, a iniciativa para provocar o Estado a iniciar 
uma ação pode ser do próprio Estado ou do particular ofendido ou seu representante 
legal. 
No Brasil a ação penal quanto à sua titularidade se divide em PÚBLICA (PROPOSTA 
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO) e PRIVADA (PROPOSTA PELA VÍTIMA ou seu 
representante legal), mas vale lembrar que o direito de punir o crime é sempre do 
Estado, representado pelo juiz. A regra é que a Ação Penal seja Pública Incondicionada 
(art. 100 do CP) 
 
 
Pública 
Iniciativa do Estado 
→ Representado pelo MP 
que oferece a Denúncia 
ao Juiz competente. 
Privada 
Iniciativa da vítima 
que oferece a 
Queixa ao Juiz 
competente. 
Incondicionada 
Condicionada 
(Ordem do MJ) 
- À Requisição do Ministro da Justiça 
 (solicitar/ requerer) 
- À Representação do ofendido 
REGRA 
Propriamente Dita 
 (exclusivamente privada) 
Personalíssima 
Ex: art. 236, parágrafo 
único do CP. 
Subsidiária da Pública 
→ Ação PENAL PÚBLICA 
Para que o MP possa elaborar a peça processual (denúncia) é primordial haver indícios 
de autoria e materialidade do fato. Por isso existe inquérito policial, para levantar 
informações sobre tais indícios e sobre o fato. Vale ressaltar, no entanto, que o 
inquérito policial não é peça obrigatória, já que se com o cometimento da infração já 
há materialidade do fato e indícios da autoria, é dispensável o inquérito. Como já 
exposto há duas modalidades de Ação Penal Pública. 
A ação penal pública pode ser: 
→ Incondicionada 
→ Condicionada. 
- INCONDICIONADA – Para o MP oferecer a denúncia ao juiz não é exigida nenhuma 
condição. Só é necessário haver indícios de autoria e materialidade do fato. Não é 
necessário saber se a vítima concorda, não precisa pedir autorização a ninguém. O MP 
formula a denúncia e oferece ao juiz. Quando o juiz recebe a denúncia, ele verifica se a 
denúncia está cumprindo todas as formalidades e assim a recebe iniciando a ação. O 
juiz pode recusar a denúncia se as formalidades não forem cumpridas. 
Como é possível identificar se um crime é de ação penal pública incondicionada? A 
ação penal pública é a regra. Desta forma, se o legislador não informar nada sobre o 
tipo de ação penal na norma definidora da infração ou em outras relacionadas, 
presume-se pela omissão do legislador que prevalece a regra: ação penal é pública 
incondicionada. 
Ex: crimes contra vida se procedem mediante Ação Penal Pública Incondicionada. 
(homicídio, infanticídio, aborto, etc). 
- CONDICIONADA – A iniciativa da ação também é do Estado, como na ação penal 
pública incondicionada, mas na ação penal pública condicionada o MP depende de 
condições para oferecer a denúncia ao juiz. Mesmo que haja indícios de autoria e 
materialidade do fato o MP só poderá oferecer a denúncia se atender a condição 
exigida. São duas condições que podem ser exigidas legalmente. 
CONDIÇÕES para a Ação penal pública Condicionada 
- REPRESENTAÇÃO do ofendido 
Existem crimes que exigem a representação do ofendido, isto é, autorização da 
vítima/representante legal para que seja feita a denúncia e também pedido ao MP 
para que a faça. Se isto não ocorrer o MP não pode denunciar. 
Ex: Estupro (em regra é Ação Penal Pública condicionada à representação, mas há 
exceções – art. 225 do CP). 
Ex: Ameaça (art. 147, parágrafo único do CP) 
- REQUISIÇÃO do Ministro da Justiça 
Existem crimes que exigem a requisição do Ministro da Justiça para o MP poder 
denunciar o crime ao Juiz. Enquanto o MJ não der a ordem o MP não pode denunciar. 
Ex: Crime contra honra do Presidente da República se procede mediante requisição do 
MJ. (art. 145, parágrafo único do CP). 
Como é possível identificar se um crime é de ação penal pública Condicionada à 
representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça? 
O dispositivo legal informará qual é a condição para o MP oferecer a denúncia ao Juiz. 
Ex.: “se procede mediante representação” no parágrafo único do art. 147 do CP, ou 
“se procede mediante requisição” no crime de calúnia contra o Presidente da 
República (art.145, parágrafo único do CP). 
Art. 145, Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante 
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão 
corporal. 
Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, 
no caso do n.º I do art. 141, e mediante representação do ofendido, no caso 
do n.º II do mesmo artigo. 
 
 
 
→ Ação PENAL PRIVADA 
O direito de punir é sempre do Estado, mas na Ação penal Privada a iniciativa é do 
ofendido/particular. Ele exerce este direito fazendo uma petição, que é a peça 
processual que vai inaugurar a Ação Penal Privada, chamada queixa. A queixa também 
deve conter os indícios de autoria e materialidade do fato. O MP não é parte na Ação 
Penal Privada, participando ele como fiscal da lei (“Custus Legis”). Os legitimados para 
movimentar a ação (peticionar, fazer audiência, etc.), são as partes: vítima que oferece 
a queixa (querelante) e autor do crime, o acusado contra quem foi feito a queixa 
(querelado). 
Existem três espécies de Ação Penal Privada: 
 
→ Propriamente Dita (exclusivamente privada) 
→ Personalíssima 
→ Subsidiária da Pública 
 
→ PROPRIAMENTE DITA (exclusivamente privada) 
Neste caso pode oferecer a queixa tanto o ofendido (desde que maior de 18 anos e 
capaz), assim como seus representantes legais junto com o advogado. Se a vítima é 
menor de 18 anos ou possui enfermidade mental, a ação poderá ser proposta por seu 
representantelegal (art. 30 do CPP). 
Representantes: ascendentes, descendentes, cônjuge, curador especial ( em caso de 
não existirem os demais representantes citados ou de colisão de direitos com os 
citados), etc. Podem substituí-lo para oferecer a queixa. Mas é obrigatório haver a 
procuração com poderes especiais. 
No caso de morte da vítima ou declaração judicial de sua ausência o direito de 
oferecer a queixa é passado aos representantes mencionados no art. 31 do CPP. 
Exemplo de crimes que se procedem mediante ação penal privada propriamente dita: 
art. 138, 139 e 140 ambos do CP. 
→ PERSONALÍSSIMA 
Neste caso, o oferecimento da queixa deve ser feito pelo ofendido, não cabendo 
representante legal o substituindo na iniciativa da ação, mesmo que em caso de 
falecimento, de incapacidade, etc. 
 
Mas como saber se cabe ou não representante legal? 
Há normas que trazem a expressão “somente se procede mediante queixa”, nestes 
casos é cabível a queixa do representante legal, já nas normas que informam que o 
delito se “procede mediante queixa”, mas destacam que esta só poderá ser oferecida 
pelo ofendido”, não tem cabimento a figura do representante legal. No entanto, o 
prazo decadencial nestas ações só começa a correr após cessada a incapacidade penal, 
ou seja, no momento em que a vítima completa 18 anos de idade. 
Ex: art. 236 do CP (ação penal privada personalíssima). 
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro 
contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento 
anterior: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente 
enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a 
sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. 
 
→ Ação Penal PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA (Art. 100, § 3º do CP) 
 
Ação pública e de iniciativa privada 
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a 
declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, 
quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do 
Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do 
ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação 
pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
Qual é o Crime Objeto desta Ação? Um crime de natureza pública. 
Nesta situação o MP se manteve inerte e não denunciou um crime de ação penal 
pública, que de acordo com o princípio da obrigatoriedade deveria ser denunciado por 
ele. Um terceiro interessado, que pode ser a própria vítima, um ascendente, um 
descendente, enfim, alguém legítimo para entrar com a ação vai tomar uma 
providência para que a ação penal ocorra e o fato seja julgado. O legislador criou o art. 
100, § 3º do CP, prevendo a Ação Penal Privada Subsidiária da Pública para possibilitar 
esta iniciativa. Este interessado vai formular uma queixa subsidiária, contendo os 
mesmos elementos formais de uma queixa, mas informando a inércia do MP. 
Como se formará a Ação? 
 
O ofendido Formulará uma Queixa, que deve conter: 
 Indícios de Autoria 
 Materialidade do Fato Criminoso 
 Rol de Testemunhas 
 Informação da inércia do MP e amparo do art. 100, § 3º do CP. 
 
 
Quem será o Titular desta Ação e movimentará esta Ação? 
 O Querelante, o interessado. Será ele que contratará um advogado para mover a 
Ação, ou seja, executar os atos processuais indispensáveis ao seu desenvolvimento, 
como por exemplo: peticionar, fazer audiência, etc. Mas, nada obsta que o Ministério 
Público possa aditar a queixa, ou repudiá-la e oferecer uma denúncia substitutiva, que 
possibilita que ele intervenha em todos os atos do processo e forneça elementos de 
prova, interponha recursos e diante de qualquer omissão do querelante retome a ação 
como parte principal (art. 29 do CPP). 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral – vol. 1, 16ª ed. São 
Paulo: Saraiva, 2012. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral – vol. 1, 16ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012. 
ESTEFAM, André. Direito Penal: parte geral – vol. 1, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral – vol. 1, 13ª ed. Rio de Janeiro: 
Impetus, 2011. 
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte geral – vol. 1, 6ª ed. rev., atual. 
e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013.

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