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SENTENÇA

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ
Comarca de Fortaleza
44a Vara Cível
		SENTENÇA	
Processo nº: 0001.204-12.2017.4.07.0001
Apensos:
Classe: Procedimento Ordinário
Assunto: Rescisão Contratual
Requerente: Diego dos Santos
Requerido: Paulo José da Silva
Vistos etc. 
Trata-se de Ação de Rescisão de Contrato com Restituição de Valores e Reparação de Danos ajuizada por Diego dos Santos em 07 de abril do corrente ano.
Na exordial, o Autor alega que em 20 de janeiro de 2016 firmou contrato de compra e venda de um imóvel com o Réu, salientando que deixou bem claro para este último a importância da documentação do referido bem, uma vez que o negócio dependia de um financiamento bancário com prazo estipulado pela agência bancária. 
Afirma que a documentação do imóvel permaneceu pendente mesmo após o término do prazo contratual estipulado para tal regularização, fato que restou em 2 notificações extrajudiciais endereçadas ao Réu, constando na última uma ameaça de rescisão do contrato caso não houvesse a imediata entrega da documentação.
Com exaustivas lamentações descabidas, o Autor alega que a documentação do imóvel lhe foi entregue em 05 de agosto de 2016 e que em 15 de setembro de 2016 devolveu o referido imóvel ao Réu, razão pela qual pleiteou a rescisão do contrato.
Salienta ainda que deu o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) como entrada do negócio e que realizou benfeitorias no imóvel, as quais totalizaram o montante de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais). Ademais, ressalta ter sofrido vários transtornos ante a situação narrada. Portanto, pediu o ressarcimento de tais valores acrescido de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de dano moral.
Em peça contestatória apresentada em 12 de abril de 2017 o Réu ratifica a data de pacto do contrato de compra e venda, bem como a forma de pagamento do imóvel. 
A parte Ré reconhece o compromisso em apresentar a documentação do imóvel dentro do prazo acordado, no entanto elucida que a liberação da mencionada documentação não dependia dela, uma vez que é competência do cartório a expedição de tais documentos. 
Informa que insistiu na providência dos documentos do imóvel, no entanto o cartório sempre apresentava empecilhos e falhas que resultaram no atraso do compromisso que o Réu tinha com o Autor. 
Relata que, após muito esforço, conseguiu regularizar o imóvel e entregar a documentação ao Autor em 05 de agosto de 2016, no entanto, foi surpreendido com o desinteresse deste último em continuar o negócio em razão da desvalorização do imóvel em questão. 
Por fim, relata a forma brusca que o Autor decidiu devolver as chaves do imóvel ao Réu e pede que, caso seja rescindido o contrato do caso em tela, que o Autor efetue a devolução dos valores gastos com a documentação, bem como que repare os demais danos causados ao Réu.
Em réplica o Autor insiste na rescisão contratual e reafirma seus direitos quanto ao recebimento dos valores investidos no imóvel por meio das benfeitorias voluptuárias, bem como reitera o cabimento de indenização a título de dano moral. 
As partes prestaram depoimentos pessoais (fls. 21-25), tendo sido ouvida uma testemunha para cada parte.
Rejeitada a proposta final de conciliação, foi encerrada a instrução e aberto prazo para apresentação de razões finais por memoriais.
É o relatório. Passo a decidir.
MÉRITO
Bem analisadas as alegações do Requerente, penso não ser o caso de admissão total da pretensão autoral.
A prova colhida na instrução deixa patente a existência do atraso na entrega da documentação. Com efeito, pelo exame da matrícula do imóvel, percebe-se que a data de emissão da matrícula é, de fato, posterior à data acordada em contrato. 
Em análise aos protocolos juntados pelo Réu (fls.19), verifica-se a ausência de culpa deste pelo atraso do cartório na entrega da documentação, de modo que, havendo o Autor celebrado o contrato com pessoa diferente do Réu, caso a 
documentação do imóvel ficasse na responsabilidade do mesmo Cartório de Registros, o atraso ocorreria da mesma forma.
Em relação ao dano moral alegado pelo Autor, observa-se que inexiste sustentáculo argumentativo ou probatório para o Autor requerer indenização a título de danos morais, visto que não há nos autos mínimos indícios que sejam suficientes a tal pretensão. 
Ante a ausência de provas sobre a efetiva ocorrência do dano moral a jurisprudência traz o seguinte entendimento: 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO SEGUIMENTO AO APELO EXTREMO - INSURGÊNCIA DOS AUTORES. 1. No caso em exame, tanto o juízo de piso, quanto o Tribunal de origem, afirmaram que não há nos autos prova alguma de os autores terem experimentado dano moral passível de indenização, cujos transtornos decorrentes do atraso do voo por algumas horas não passaram de meros dissabores, o que é insuficiente para ensejar a indenização pretendida. 2. As conclusões do aresto reclamado acerca da não configuração de dano moral indenizável encontram-se firmadas no acervo fático-probatório constante dos autos e a sua revisão esbarra no óbice da Súmula 7 do STJ. 3. Agravo regimental desprovido.
(STJ - AgRg no REsp: 1546645 SP 2015/0186903-2, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de Julgamento: 15/12/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/02/2017)
Quanto ao pleito do Autor sobre as benfeitorias, uma vez que estas restaram comprovadamente voluptuárias, não merece prosperar, senão vejamos: 
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE APARTAMENTO - INADIMPLÊNCIA DOS COMPRADORES - DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS PELOS COMPRADORES DEDUZIDOS OS ABATIMENTOS LEGAIS (ART. 53 DA LEI 8.078/90)- RETENÇÃO DE 50% DO VALOR CONTRATADO EM FAVOR DA CONSTRUTORA - ABUSIVIDADE CONSTATADA - VENDA REALIZADA PELA PRÓPRIA EMPRESA CONSTRUTORA - COMISSÃO DE CORRETAGEM INDEVIDA - INDENIZAÇÃO PELA TROCA DO PISO - BENFEITORIA VOLUPTUÁRIA - INDENIZAÇÃO INDEVIDA - DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS E CONDENAÇÃO POR PERDAS E DANOS - POSSIBILIDADE - CORREÇÃO MONETÁRIA PELO INPC - LEGALIDADE - MULTA CONTRATUAL - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - LIMITAÇÃO EX OFFICIO (ART. 52 § 1º LEI 
8.078/90)- SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DEVIDOS AO PROCURADOR DA PARTE CONTRÁRIA NA PROPORÇÃO EM QUE CADA LITIGANTE RESTOU CONDENADO - CUSTAS PROCESSUAIS RATEADAS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Havendo sucumbência recíproca, as custas processuais devem ser divididas entre os litigantes (art. 21 caput), e os honorários advocatícios pagos na proporção da condenação de cada litigante (art. 20 § 3º c/c art. 21 do CPC).
(TJ-SC - AC: 21205 SC 2005.002120-5, Relator: Sérgio Roberto Baasch Luz, Data de Julgamento: 21/02/2006, Primeira Câmara de Direito Civil)
GRIFOU-SE
Portanto, conforme entendimento Jurisprudencial, bem como o previsto no artigo 1.219 do Código Civil Brasileiro, o Autor terá direito a reter tais benfeitorias sem detrimento da coisa, se possível, mas não ao ressarcimento de valores por tê-las feito.
Isto posto, e o mais que dos autos consta, julgo parcialmente procedente a presente ação e, por via de conseqüência, condeno:
O Réu PAULO JOSÉ DA SILVA a rescindir o contrato de compra e venda de imóvel firmado com o Autor DIEGO DOS SANTOS, devendo a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) paga como entrada do valor do imóvel ficar como indenização ao Réu como equivalente ao período em que o Autor residiu no imóvel, mais o valor pago pela regularização da documentação, mais a compensação pela perda de outras vendas que ele poderia ter feito e não as fez acreditando no negócio firmado com o Autor. 
Indefiro o pagamento de indenização a título de dano moral, em razão da falta de comprovação da real ocorrência do mesmo, salientando que mero aborrecimento não é suficiente para o deferimento de tal pleito. 
Indefiro o ressarcimento do valor gasto com benfeitorias, uma vez que foram realizadas benfeitorias voluptuárias, ou seja, para mero deleite do Autor.
Custaspelo Autor, fixadas sobre o valor da causa, no importe de R$ 2.305,20 (dois mil trezentos e cinco reais e vinte centavos).
Intimem-se. Nada mais.
Fortaleza, 14 de junho de 2017.
MMMM
Juíza de Direito

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