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artigoESTUDO DE CASO: As DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS ATRAVÉS DOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS

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ESTUDO DE CASO: As DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS ATRAVÉS DOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS 
Valdeneza Aparício Fernandes�
Bárbara Madalena Heck daRosa�
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar um estudo de caso realizado, durante o estágio supervisionado da pós graduação em neuropsicopedagogia clínica e educação especial inclusiva. Este estudo de caso foi realizado com uma menina de treze anos de idade que possui três diferentes laudos médicos a respeito de suas características comportamentais, sendo eles de Mutismo Seletivo, Autismo e Trauma Emocional. Maria, nome fictício, esteve ausente do convívio familiar por cinco anos, estando neste período em casas de passagem e abrigos do Estado, quando retornou ao convívio familiar passou a demonstrar atitudes agressivas, fala muito seletiva e comportamentos diferenciados que prejudicam sua socialização, fato que nos instiga a analisar o caso através de entrevistas, anamnese e revisão literária, intervindo com atividades de Alfabetização Emocional, isto não no intuito de decidir qual dos laudos está correto, ou de resolver o problema, mas de aprofundarmos nosso conhecimento acerca da história de vida da menina comparando com as características dos laudos emitidos para melhor desenvolver as habilidades de Maria.
 
Palavras-chave: Autismo. Mutismo Seletivo. Trauma Emocional. Alfabetização Emocional.
1 INTRODUÇÃO
O trabalho do profissional Neuropsicopedagogo deve ocorrer, para melhor desenvolvimento do paciente, em parceria com a instituição escolar que o mesmo frequenta, com os profissionais de saúde que o atendem, e deve ser norteado pelo laudo médico, se tiver, pois através deste analisa-se o sujeito e planeja-se o caminho a ser seguido durante a intervenção.
	No decorrer da escolha do aluno para o estágio nos deparamos com uma menina de treze anos de idade, que frequenta o sexto ano em uma escola Municipal do município de Brusque, com sérios comprometimentos nas relações inter/intrapessoais e apresenta três diferentes diagnósticos médicos. Estes laudos foram emitidos em um curto espaço de tempo depois de sua volta para casa de um orfanato, onde ficou por cinco anos.
	Para elucidarmos o caso, realizamos anamnese com a mãe e algumas entrevistas com pessoas próximas a ela, pois as tentativas de contato com a menina foram frustradas. Também realizamos uma breve pesquisa bibliográfica sobre os laudos emitidos, para podermos compreender melhor a visão dos profissionais e suas razões para os presentes diagnósticos, com o intuito de nos auxiliar nos planejamentos das intervenções, isto sem a pretensão de decidirmos qual melhor se enquadra com as características comportamentais de Maria.
	Nossa análise buscou desenvolver um melhor conhecimento do caso e consecutivo maior desempenho da intervenção, fazendo uso de atividades fundamentadas na Teoria da Alfabetização Emocional, que visa uma interpretação das emoções através do auto conhecimento e posterior controle destes sentimentos, que gera um desenvolvimento emocional, melhoria nas relações sociais e posterior desempenho escolar.
2 ANÁLISE DAS INDIVIDUALIDADES DO SUJEITO
Em razão da dificuldade de Maria em se comunicar, estabelecer relações e deixar-se analisar, foram realizadas algumas entrevistas com pessoas do seu convívio familiar e escolar, na tentativa de termos subsídios para realizar uma análise do sujeito através das diferentes falas sobre o comportamento de Maria nos seus diversos locais de convívio.
 ANAMNESE
A primeira anamnese foi desenvolvida na casa de Maria, com a mãe,chamada Graça, na busca de maiores informações a respeito de seus desenvolvimento neonatal até os dias atuais.
�Maria tem treze anos, mora com a mãe o padrasto e dois irmãos. Sua família é humilde, onde quem trabalha para o sustento é o padrasto, e as crianças recebem o BPC(benefício de prestação continuada), pois a mãe foi orientada pelo conselho tutelar a permanecer com os filhos, pois um deles é autista e Maria passa por crises inesperadas.
Durante entrevista dona Graça, nos relatou que Maria foi uma filha desejada, apesar de estar passando por dificuldades no casamento. Antes de sua gestação a mãe teve um aborto ocasionado por uma queda em escada.
 Maria é a segunda filha de três irmãos, sendo que seu irmão mais velho é autista de alta funcionalidade. Durante o quinto mês de gestação sua mãe foi agredida fisicamente e teve sangramento, necessitando ficar hospitalizada por três dias. Sua gravidez foi bem conturbada, porém apesar da situação Maria nasceu bem, com 3,600Kg, de parto cesária, pois a mãe não teve dilatação.
Após o parto Maria teve apenas uma gripe, não necessitando permanecer hospitalizada por mais dias, além do normal.
Seu desenvolvimento ocorreu dentro do esperado. Sua mãe a amamentou até dois anos de idade, não apresentando problemas para se alimentar, para caminhar e falar. A menina era carinhosa e muito apegada a mãe.
Quando Maria estava com um ano e dois meses, nasceu seu irmão mais novo e neste mesmo período seus pais se separaram, levando a família a morar com a avó materna. Em decorrência dos fatos, dona Graça passou por um período de depressão, necessitando fazer uso de medicamentos, o que a deixava muito sonolenta.
Ao saber da situação o pai das crianças pediu a guarda dos filhos, alegando que a mãe não poderia cuidar deles em razão do seu estado emocional, ficando com eles por duas semanas na casa da avó paterna. A mãe conseguiu reaver a guarda das crianças, pois segundo ela a avó não estava tendo os cuidados básicos necessários com seus filhos.
	Quando a mãe chegou para vê-los, estavam com fome e sujos, o que a levou a dar um banho e comida ainda na casa da avó paterna. A mãe relata que quando as crianças a viram ficaram muito felizes, mas Maria se destacou por ficar segurando-a forte por certo tempo.
Após este episódio a mãe de Maria começou a trabalhar em uma escola e seus filhos ficavam em uma creche até o término do seu expediente. Nesta época Maria falava muito, apesar de ser bastante tímida e gostar de brincar sozinha.
No ano de 2006, quando Maria estava com cinco anos, ela juntamente com seus dois irmãos foram novamente retirados da mãe, porém agora ficaram em uma casa de passagem , na cidade de Cianorte.
A mãe de Maria relatou que as crianças foram retiradas dela em razão de ter um primo que estava envolvido com drogas no mesmo pátio, além de haver uma “rixa” antiga entre ela e uma assistente social, que fez queixa contra ela, alegando que a mãe mantinha relação sexual com seu novo parceiro na presença dos seus filhos.
 Durante todo o período em que dona Graça ficou sem a guarda dos filhos ela não foi autorizada a visitar seus filhos, segundo ela, principalmente por causa de Maria que sentia muito a sua falta, pois se visse a mãe seria muito mais difícil para ela permanecer na casa. Neste tempo a avó materna ia visitar as crianças todo final de semana, mas procurava não falar na mãe, para não entristecer as crianças.
Maria com seus irmãos permaneceram nesta casa até o ano de 2007, quando foram transferidos para Aldeia SOS na cidade de Goioerê.
De acordo com relatos da mãe, as crianças permaneciam em casas com uma mãe social, responsável por oito crianças. Lá as crianças precisavam auxiliar nas tarefas, tinham seus horários previamente definidos, ex. Hora de levantar, comer, estudar e dormir. 
No ano de 2006, depois que as crianças foram para casa de passagem, a mãe, dona Graça, veio embora para a cidade de Brusque, onde permaneceu por alguns meses voltou ao Paraná e se instalou aqui definitivamente no ano de 2007.
Em 2009, dona Graça e sua mãe ainda continuavam tentando restituir a guarda das crianças, porém não obtiveram sucesso. Neste mesmo ano dona Graça conheceu seu atual esposo que a ajudou a conseguir outro advogado para realizar nova tentativa de recuperação da guarda de seus filhos. Este profissional teve acessoao processo e conseguiu marcar uma audiência para o final de agosto de 2010, concedendo o juiz permissão para dona graça visitar seus filhos, que não via a quatro anos. Maria completou dez anos na sexta-feira e recebeu a visita da mãe no domingo. A avó das crianças morreu no mesmo ano, não podendo compartilhar da alegria de ver seus netos novamente com a mãe.
De acordo com dona Graça, ao reconhecerem a mãe, seus filhos a abraçaram e ficaram muito felizes, Maria porém não manteve diálogo. Ao questionar os profissionais da instituição sobre a situação de sua filha, dona graça recebeu informações e um encaminhamento da psicóloga que estava atendendo Maria, para que ela desse continuidade ao tratamento, que havia começado pela inabilidade da menina em se comunicar.
 Na terça-feira dona Graça já estava com seus filhos, pois o juiz lhe concedeu a tutela.
Enquanto se preparavam para vir conhecer a nova residência, cidade, a mãe das crianças contava sobre como seria a nova realidade deles, que teriam um novo pai, estudariam perto de casa. Ao chegarem na cidade, o esposo de dona Graça foi busca-los na rodoviária e naquele momento Maria o abraçou, mas não falou com ele.
 Quando entraram em casa a família estava esperando a todos com uma festa e com presentes. As crianças ficaram muito alegres com a recepção.
Apesar da felicidade perceptível no rosto de Maria, ela evitava falar com a mãe e padrasto, interagindo apenas com seus irmãos, suas duas primas e uma tia.
No primeiro dia útil da semana, dona Graça procurou a escola mais próxima de sua casa para matricular as crianças, levando consigo todos os documentos que tinha dos acompanhamentos médicos já realizados.
Ao ter conhecimento sobre a história de vida e das necessidades das crianças, a equipe orientou a mãe sobre como deveria reagir diante da negação de Maria em comunicar-se com ela, orientaram professores sobre como Maria deveria ser tratada e avaliada, realizando os encaminhamentos para os serviços necessários como psiquiatra e psicólogo, neste momento via CREAS(Centro de Referência Especializado de Assistência Social). No CREAS Maria foi atendida por uma equipe técnica, entre eles um psicólogo que conseguia comunicar-se com ela através de cartas. Na escola a menina foi encaminhada para participar do Atendimento Educacional Especializado, porém não compareceu aos atendimentos.
Maria mostrou-se muito resistente a permanecer no ambiente escolar, realizando tentativas de fuga pelo portão, não se comunicando com nenhum colega, professor ou outro funcionário da escola.
Os dias foram passando e a menina quase não se comunicava, falando apenas com os irmãos. Passados uma semana Maria começou a conversar com a mãe, comunicando-se com ela, dois irmãos, padrasto, uma tia e as primas.
Depois de a escola ter encaminhado família para a assistência social, o irmão mais velho de Maria começou a frequentar uma escola especial Charlotte (associação de atividades Psicofísicas), além da escola regular.
Com o passar dos dias Maria começou a confiar mais em sua mãe, falou que apanhou muito na casa de passagem e mostrou as marcas ainda existentes no corpo. Com estas conversas a mãe passou a ter uma relação mais próxima a ela, no entanto Maria também passou a ter crises de raiva, ansiedade, em casa. Quando em confronto com a mãe passou a agredi-la verbalmente e fisicamente, quebrando os móveis e utensílios domésticos.
De acordo com dona Graça as brigas geralmente são geradas através da cobrança da mãe para que a filha ajude nos serviços diários, onde há a negação da menina e o princípio do “confronto”. Maria também se nega a ir para a escola, principalmente nos dias em que tem aula de matemática, pois diz que não gosta do professor.
Na escola, mesmo já tendo passados alguns anos, ela ainda não conversa com nenhum colega ou professor, tendo de ser avaliada de maneira diferenciada nos momentos da participação oral, porém apesar disso, não apresenta dificuldades de aprendizagem.
Quando perguntado a mãe se ela sabia o motivo da revolta de sua filha com ela, a falta de vontade em ir para a escola, ela nos respondeu que havia tentado conversar com a filha a este respeito, questionando sobre fatos que poderiam ter ocorrido na casa de passagem, explicando sobre os motivos que a levaram para lá e que não permitiam que ela os visse, porém a menina apenas respondia que estes fatos eram “águas passadas”, que não queria falar sobre o assunto. 
Relativo as faltas na escola ela falou para a mãe que haviam escrito “coisas” a seu respeito na cadeira, por isso ela estava com vergonha e não queria voltar para a escola e confessou a prima que queria reprovar de ano para poder estudar com ela.
O relacionamento de Maria com o padrasto é diferente. Segundo fala da mãe quando ele pede ela obedece, não desafia, fica mais tranquila, faz comida, entre outros. Ela também afirmou que tudo que ele pode, dentro das possibilidades, compra para a menina, assim como ela.
Maria também apresenta insônia, medos noturnos, características de síndrome do Pânico, segundo Neuro pediatra que a atendeu. Por não conseguir dormir a noite, a menina fica olhando TV até a madrugada, porém não fica sozinha, sua mãe muitas vezes precisa ficar com ela, pois se não ficar ela tem crises em que começa a bater portas, quebrar as coisas,levantar volume da TV, entre outros. Dona Graça diz que muitas vezes cede as vontades da filha para tentar amenizar a situação, visto que o padrasto trabalha muito durante o dia e precisa descansar a noite.
Durante o dia Maria fica constantemente olhando TV e comendo. Por vezes brinca de boneca, recorta vestidos de revistas. Quando suas primas vão até sua casa elas brincam juntas, posam uma na casa da outra. Em determinados momentos entram em atrito, mas nada diferente do que ocorre com todas as meninas de sua idade.
Apesar das crises apresentadas por Maria, ela também demonstra carinho, abraçando o padrasto, ficando triste e chorando quando a mãe está doente.
Por causa destas constantes crises, que ocorrem de acordo com a mãe, semanalmente, ela procurou auxílio da escola e dos profissionais de saúde para saber o que estava acontecendo com sua filha, fato que aumentou o número dos diferentes laudos emitidos, anteriormente citados.
2.1 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES E ENTREVISTAS
	Após avaliação, notou-se que muito das reações de Maria, tem relação direta com sua estrutura emocional, formada a partir de suas experiências. 
Nos relatos das entrevistas realizadas, percebe-se, através de suas reações, que a menina ainda sofre quando passa por situações que retoma sentimentos negativos já experimentados. 
 	A separação de sua mãe, a saída do seu grupo de convivência e o tempo em que permaneceu longe de sua família, foi causador de muitas experiências negativas, que quando revividas causam raiva, fuga, agressividade e retraimento social.
Ansiedade, depressão ou até mesmo suicídio são os tipos mais comuns de problemas atribuídos aos rompimentos dos laços afetivos. Sabemos que crianças separadas das mães até os primeiros cinco anos de idade são frequentes em pacientes mais tarde diagnosticados como psicopatas ou sociopatas. Sabemos, também, que grandes perdas afetivas (poderão acarretar) acarretarão, mais tarde, problemas potencialmente perigosos. (GOOS, 2000, p.48)
	Maria tem dificuldade em reconhecer e lidar com seus sentimentos, tendo reações que a prejudicam e prejudicam as pessoas próximas a ela. Nega-se a estabelecer qualquer vínculo com outras pessoas além de seu pequeno grupo familiar de convivência.
	No período que ficou longe de sua mãe, seu lar foi o abrigo e neste ambiente a menina sofreu agressões físicas, privação, entre outros.
Segundo Reichenheim, Hasselmann e Moraes, (apud KELLING, 2006, p.21), as consequências psicológicas da violência familiar na saúde de suas vítimas podem aparecer sob a forma de... repercussões psicoemocionais, como ansiedadeou depressão, dificuldade de relacionamento e comportamento manifestados por agressividade, timidez, isolamento social progressivo e distúrbios do sono e do apetite; ou ainda, problemas na esfera de atividades como, por exemplo, baixa performance social e intelectual, pode ser consequência emocional da violência física.
Seus maiores conflitos ocorrem com a mãe, com a qual não demonstra pudor, nem controle durante as brigas. Demonstrando que quanto maior o vínculo menor o controle sobre suas excitações.
	Não temos conhecimento do que a menina ouviu a respeito de dona Graça durante o tempo que não tiveram contato, mas podemos mensurar o que sentiu como consequência da separação: sentimentos como saudade e desamparo.
	De acordo com Bwlby (apud GOSS, 2000) quando a criança é separada da mãe ela tem a capacidade de guardar a imagem da mãe durante certo período de tempo, passado este período se a mãe retorna e a criança sente o vínculo reatado, o comportamento de ligação se estabelece, no entanto se compreende que a mãe não está disponível, a criança torna-se muito hostil e com comportamento negativista. 
	 A mãe de Maria em contrapartida sente-se culpada pela situação a que os filhos foram expostos, cedendo a todos os caprichos da menina, tendo portando dificuldade em estabelecer regras e limites a filha.
	O medo que ela apresenta em perder o amor de Maria a paralisa diante das situações de confronto, fato que acaba por não auxiliar no desenvolvimento emocional de sua filha.
	A escola é interpretada por Maria como ambiente inseguro, na qual não pode confiar, fazendo com que a menina não crie vínculos nem com professores nem com colegas.
	Sendo assim, pode-se dizer que Maria tem dificuldades em administrar seus sentimentos e suas reações, precisando recuperar sentimentos que foram intensamente vividos na infância, para a partir destes conseguir resolver seus conflitos, pois se estes sentimentos forem bem resolvidos ela saberá lidar com atuais e com novas situações indesejosas que vão surgindo.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Serão apresentadas breves descrições das características dos diagnósticos emitidos a Maria, para que assim possa se ter uma melhor visão sobre o caso.
3.1AUTISMO OU (TEA) TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
	O autismo é uma síndrome definida por alterações presentes, geralmente antes dos três anos de idade, que causam desvios na comunicação, na interação social e no uso da imaginação, podendo ser encontrado em suas diferentes formas, sendo classificado em leve, moderado ou profundo.
	Estudos apontam que o autismo está mais ligado a um prejuízo orgânico neurológico central que apresenta alterações cerebrais, as quais, por sua vez, acabam por acarretar problemas não só cognitivos, como também psicomotores, que combina causas hereditárias e ambientais
	De acordo com Melo, (2007) Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatria Bleuler, em 1911, para designar a falta do contato com a realidade no quadro da esquizofrenia, e consequente dificuldade ou impossibilidade de comunicação.
	As primeiras publicações sobre o autismo foram feitas por Kanner no ano de 1943, Kanner (1943, apud Melo 2007), onde comenta sobre o que lhe chamou a atenção foi o fato do autismo gerar uma incapacidade de relacionar-se com as pessoas e com as situações. 
	Asperger (1944, apud Melo) sem conhecimento do trabalho de Kanner, em 1944 publicou suas observações realizadas com crianças na Clínica Universitária de Viena. Sua percepção foi que a principal caraterística demonstrada por estas crianças era a limitação das relações sociais.
	Os dois estudos apresentaram caraterísticas semelhantes e outras distintas o que difere as crianças com a antiga denominação Síndrome de Asperger e Autismo.
	 Asperger acreditava que o autismo era ocasionado por um erro inato e congênito, Kanner, dizia que poderia ser resultado de falta de estímulos e distanciamento dos pais (mãe geladeira). 
	Ainda não se conhece a causa do autismo, mas se reconhece que tem indícios genéticos, onde em alguns casos começa a se perceber os indícios logo que a criança nasce, como rigidez corporal, dificuldade em sugar no peito da mãe, em olhar e interagir com o outro, em outros casos as alterações tornam-se perceptíveis através da observação do atraso da linguagem, ecolalia, fala robotizada, na interação com outras crianças, nos movimentos repetitivos.
	Uma das características do autismo é a ausência de habilidades sociais, o que não permite que o autista compreenda fisionomias, perceba emoções alheias e interprete sentimentos, fato que dificulta a criação de vínculos afetivos. A inabilidade social faz com que o autista sinta medo de contatos mais íntimos, pois não consegue perceber o desejo e a intenção do outo. 
	Outra característica marcante é a dificuldade na linguagem, que para Jerusalinsky (2012) ocorre por que o autista não constitui seu consciente através dela, e sim pelo que ele chama de automatismos, que fazem com que o autista forme-se fora da linguagem, fato que gera os desvios do olhar do outro semelhante e fazem-se de surdos ao ouvir o som da fala humana.
	O desenvolvimento da linguagem varia de autista para autista e é usado como comparativo para designar o grau de autismo da criança, pois alguns tem uma fala compreensível, outros realizam apenas repetições e alguns não chegam a falar.
Para Kearney:
Para que o autismo possa ser diagnosticado, as crianças devem apresentar atraso no funcionamento normal, ou funcionamento inadequado antes dos três anos. A extensão desses atrasos podem no entretanto, variar consideravelmente. Além disso, as áreas social, comunicativa e comportamental devem estar muito prejudicadas.(2012, p.143)
	Além destas existem outras características que podem nortear o diagnóstico de autismo. 
	O diagnóstico, que é realizado através do quadro clínico, não existindo exames laboratoriais, deve ser feito o mais cedo possível para um melhor resultado de intervenção:
Reduzida manutenção do contato visual; 
 Atraso na aquisição da linguagem; 
 Não responder ao ser chamado pelo nome, parecendo surdo; 
 Risos e movimentos pouco apropriados e repetitivos, constantemente ou quando entusiasmado; 
Manipulação de dedos ou mãos de forma peculiar; 
Repetição constante, para si mesmo, de frases e conteúdos que ouvem de diálogos, desenhos animados, filmes, documentários, etc. 
Produção frequente de vocalizações sem uso funcional; 
 Isolamento social, interagindo menos do que o esperado para crianças da sua idade;
 Preferência por interações com adultos, conversando por muito tempo sobre tópicos avançados para a sua faixa etária; 
 A intenção comunicativa e a interação ocorrem preferencialmente para suprir as suas necessidades e/ou explanar os tópicos de seu interesse; 
 Manipulação de objetos e brinquedos de maneira não habitual; 
 Presença de respostas anormais a barulhos e tato; 
 Prejuízo da crítica em relação a situações de perigo; 
 Capacidade de imaginação, fantasia e criatividade reduzidas; 
 Interesses específicos muito exagerados, que comprometem as interações sociais com colegas; 
Rigidez no comportamento e rotinas. 
3.2 MUTISMO SELETIVO (MS)
	O mutismo seletivo (MS) é uma desordem psicológica, descrita com o nome de afasia voluntária em 1877, pelo médico Kussmaul. É caracterizado pela recusa em falar em determinadas situações, e pessoas. Geralmente envolve crianças tímidas, introvertidas e ansiosas, fazendo parte do quadro de características de crianças com fobia social, autismo, trauma, entre outros.
	As crianças com MS não apresentam problemas de comportamento ou aprendizagem, falam com um pequeno e determinado grupo de pessoas mais íntimas, com os animais, mas não falam com adultos desconhecidos ou que não tenham afinidade.
 	Apresentam características semelhantes a extrema timidez, porém com um tempo de duração e intensidademuito maiores. Por ser uma desordem psicológica não apresentam problemas na linguagem, de compreensão nem de fala, sendo outra a causa do MS.
	Para Meyers (1999, apud Peixoto 2006), mutismo seletivo se refere a uma forma de comportamento relativamente raro, na qual crianças que apresentam desenvolvimento da linguagem apropriado para a idade elegem permanecer em silêncio, falando unicamente com pessoas que ela seleciona. 
	O pequeno círculo íntimo com quem o mutista seletivo fala é frequentemente formado por membros familiares, parentes e amigos íntimos. 
 	Os sintomas do MS aparecem geralmente quando a criança começa a frequentar a escola, por volta dos três anos de idade, quando ela passa a ser exposta a situações antes não vivenciadas. Antes deste período a criança é considerada como tendo um perfil de personalidade tímido, ficando mais difícil o diagnóstico do MS.
	Conforme Barbirato (2009), a dificuldade de interação, socialização e verbalização da criança com MS, faz com que ela não participe de peças teatrais, roda de conversa, apresentação de trabalhos orais, que torna seu desenvolvimento prejudicado, interferindo inclusive nas questões psicológicas de segurança, autonomia, pois estas não verbalizam seus sentimentos, não expõem suas frustrações, dúvidas, o que gera dificuldades psicológicas.
	Em uma pesquisa realizada foram encontradas características comuns a crianças com mutismo seletivo, sendo entre estas a de maior prevalência a fobia social, seguido por timidez, ansiedade e por fim comportamento desafiador opositor.
	De acordo com alguns autores existem subtipos de mutismo seletivo assim como variadas possibilidades de causa.
	Conforme consta em (Peixoto, 2006), o MS pode ser enquadrado nestes subtipos dependendo da variação do comportamento: 
	a) mutismo simbiótico, caracterizado por uma relação simbiótica com aquele(a) que cuida dele(a) e por uma relação negativista e manipuladora controlando os adultos em volta 
dele(a); 
	b) mutismo com fobia para falar, caracterizado por um medo de escutar sua própria voz, acompanhado de comportamento obsessivo-compulsivo; 
	c) mutismo reativo, caracterizado por timidez, retraimento e depressão, que aparentemente parece ser resultado de algum evento traumático na vida da criança; 
	d) mutismo passivo-agressivo, caracterizado por um uso hostil do silêncio como se fosse uma arma. 
	Para Stein (2001, apud Peixoto, 2006), nos últimos trinta anos houve uma mudança na concepção dos pesquisadores sobre a causa do MS, onde este era descrito como consequência de um trauma emocional, familiar ou ambiental, como por exemplo abuso sexual e morte de familiar.
	Atualmente para se achar a causa levam-se em consideração um conjunto de fatores como:relação familiar(superproteção ou dominação materna, pai distante e severo), fatores biológicos, temperamento ansioso, inibido, timidez.
3.3 TRAUMA
	Muitas pessoas demonstram atitudes que não compreendemos em razão de traumas, palavra encontrada no dicionário virtual livre Wikipédia, que vem do grego e significa ferida, lesão causada por agente externo, ou seja, experiências ruins que foram vividas que deixaram marcas, trazendo medos e reações inesperadas para determinadas situações. 
	Freud (1920, apud Borges, 2009) já estudava este tema em 1985, e em 1920 caracterizou o trauma como um “afluxo de excitações que é excessivo em relação a tolerância do indivíduo e a sua capacidade de dominar e elaborar excitações”.
	Sendo assim, uma situação de conflito,(evento estressor), poderá ser sentida de maneiras diferentes, dependendo da tolerância psicológica da pessoa, levando a formar ou não um trauma. 
	Quando estas vivências com experiências ruins transformam-se em trauma o indivíduo passa ter e sentir a vida de uma forma diferente depois do ocorrido.
	Esta nova forma de interpretar o mundo causa sofrimento, levando a situações que prejudicam sua auto-imagem, auto-confiança, formação de vínculo, convivência nos círculos sociais, autonomia, entre outros. 
	No Manual de Diagnóstico e estatística de Doenças mentais, DSM IV, o trauma é definido como sendo: 
Experiência pessoal direta com um acontecimento que envolva a morte ou ameaça de morte ou ferimento grave, ou outra ameaça à integridade física; ou observar um acontecimento que envolva a morte, ferimento ou ameaça à integridade de outra pessoa; ou ter conhecimento acerca de uma morte violenta ou não esperada, ferimento grave ou ameaça de morte ou ferimento vivido por um familiar ou amigo íntimo. A resposta da pessoa ao acontecimento deve envolver um medo intenso, sentimento de incapacidade de ter ajuda ou horror(DSM-IV, APA,1994.p. 435).
	O trauma pode ser causado por vários tipos de eventos aterrorizantes, que tornam-se lembranças impressas nos circuitos emocionais que invadem a consciência em momentos inesperados e incontroláveis. 
	Segundo Goleman (1995) estas lembranças traumáticas são como “gatilhos sensíveis”que disparam ao menor sinal de que outro evento possa ocorrer, gerando o medo, pânico e outros transtornos.
	A situação traumática é constantemente imposta ao indivíduo, sendo apresentada inclusive durante o sono através de sonhos. Estas imposições que reportam a lembrança da situação vivida começam a afetar o indivíduo no seu dia a dia, interferindo nas atividades cotidianas. 
	Esta lembrança do trauma deixa o cérebro em prontidão para reagir a qualquer estímulo que se pareça com a situação traumática, trazendo à tona sentimentos já vividos anteriormente como a raiva, a angústia, o medo, sentimento de impotência frente a situação, tornando incontrolável suas excitações.
	Apesar de existirem vários fatores que podem provocar um trauma, os maiores e mais prejudiciais são os que envolvem maus tratos, pois nestes casos, para Goleman(1995) a vítima sente como se tivesse sido escolhida como alvo de uma maldade, e isto destrói sua confiança nas pessoas com as quais se relaciona. Para estas vítimas o mundo torna-se como uma ameaça em potencial a segurança, fazendo com que a mesma esteja sempre em super vigilância, apresentando atitudes inesperadas e anormais para determinadas situações, principalmente no convívio social.
	Conforme Goleman (1995), a perturbação de Stress Pós-Traumático- (PTSD) é o que mais provoca danos na pessoa, pois esta causa uma mudança orgânica no cérebro, fazendo com que a extinção do medo se torne muito mais difícil, havendo uma anormal persistência de lembranças emocionais, sendo necessário maior tempo de experiências adequadas para este trauma desaparecer. 
	Para que ocorra a recuperação de um trauma é necessário que a pessoa traumatizada obtenha uma sensação de segurança, consiga lembrar da situação vivida e lamente a perda que ela trouxe, sem o sofrimento causado.
	Para chegar a este estágio a psiquiatra Judith Lewis, (apud Golemann,1995) comenta sobre algumas alternativas para se ter a “cura” do trauma através da reaprendizagem emocional:
	1º-É necessário que a pessoa compreenda que os pesadelos, a hipervigilância, fazem parte dos sintomas do trauma;
	2º-Precisa desaprender o que o trauma ensinou, ou seja, a impotência diante das situações;
	3º-Falar sobre a situação, expressando através de palavras os sentimentos que teve, o que faz que reviva o trauma de forma segura e controlável, modificando a memória em relação a emoção;
	4º- Lamentar o trauma, para reconstruir nova vidas
Estas alternativas para se levar a pessoa a vencer suas dificuldades necessita de um profissional que auxilie nos passos que devem ser seguidos, para que se obtenha sucesso em todo o processo, levando o indivíduo a reconhecer e trabalhar suas emoções.
	
4 JUSTIFICATIVA DA INTERVENÇÃO
	Os sentimentos e emoções afetam todo nosso organismo. Como não é algo que podemos visualizar, é abstrato, muitas vezes temos dificuldade em identificá-los ou entendê-los e assim, organizá-los. 
	Sentimos angústia,cansaço, uma grande confusão que nos impede até de pensar e, fugimos. Não queremos pensar e muito menos enfrentar, ainda que inconscientemente. Mas logo a angústia insiste em retornar como se fosse para nos lembrar de que há algo mal resolvido dentro de nós. 
	Pelas dificuldades de Maria em administrar, compreender e expor seus sentimentos, comportamento característico de trauma, a intervenção foi realizada com base na teoria de Alfabetização Emocional, discutida por alguns autores, em especial Daniel Goleman, em seu livro intitulado Inteligência Emocional(1996). 
	De acordo com Santos:
A Educação Emocional consiste em utilizar-se a energia psíquica disponível do pensamento, atenção e vontade, para a identificação e avaliação das emoções, bem como da atuação da pessoa no sentido de interferir no curso natural da parte consciente do processo emocional.(2000,p.46)
 
	A partir do treinamento emocional a criança passa a ter subsídios para conhecer-se melhor e analisar suas emoções, pensamentos, atenção e vontade.
	Estabelecido o autoconhecimento a criança passa a conseguir verificar qual qual sentimento está causando determinada emoção e tem a capacidade de atuar conscientemente sobre este, não acarretando em prejuízos a ela nem ao outro.
Com a alfabetização emocional, pretende-se alcançar na criança uma capacidade de auto gerir seus sentimentos, controlando seus impulsos e adianto suas satisfações, gerando sentimentos que facilitam o pensamento, e como consequência trazendo melhorias no seu bem estar e socialização.
	Sendo assim, as atividades sobre alfabetização ou Educação emocional são organizadas com o intuito de promover o auto conhecimento, avaliação, expressão das emoções, para promover o controle de maneira consciente destes sentimentos. 
 	Portanto, as intervenções foram discutidas e planejadas no intuito de oferecer subsídios para que Maria pudesse se autoconhecer, percebendo e discriminando seus sentimentos, através de uma autoanálise, para que assim pudesse agir sobre eles, encontrando a melhor alternativa para lidar com estes sentimentos sem causar prejuízos a ela e ao seu semelhante. Promovendo desta forma seu crescimento emocional e intelectual.
4.1 PRÁTICA DA INTERVENÇÃO
A) Intervenção1:
 Objetivo: Apresentar a proposta de trabalho a ser desenvolvido na turma
Material:Retroprojetor
Metodologia: Apresentação da proposta através de fala e visualização de um vídeo sobre os sentimentos:Os sentimentos e os tesouros do arco íris.
Reflexão:Todos temos dificuldades, que nos deixam tristes, com raiva, com medo. Isso porque, na vida, nem sempre conseguimos tudo o que queremos ou precisamos. Quando sentimos coisas assim, precisamos entender o que estamos sentindo para podermos lidar melhor com os sentimentos. É então que nossas emoções começam a existir. Emoções são coisas que sentimos dentro de nós que podem ser boas e ruins. Se aprendermos a perceber quando estamos com tristeza, raiva ou alegria podemos aprender a pensar porque estamos sentindo essa emoção e então pensar em alguma saída; assim estaremos resolvendo nossos problemas no momento, sem deixarmos para resolver depois. Isso nos faz sentir mais tranquilos.
Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: A primeira intervenção foi realizada com todos os alunos da turma. Como esta era apenas a apresentação da proposta do trabalho, Maria não se manifestou, ficou apenas observando a fala da professora e o vídeo. Seus colegas foram mais enfáticos e já realizaram algumas conversas sobre o assunto. Discutiram sobre recompensa e demonstraram interesse pelo trabalho.
O fato da proposta ter sido bem aceita pelo grupo, incentiva Maria a participar das atividades, embora ela não estabeleça conversação com os colegas ela é influenciada por eles, pois se importa com o que pensam.
B) Intervenção 2:
Objetivo:Tornar possível através da prática de dinâmica e desenho, o reconhecimento dos nossos sentimentos a partir de nossas escolhas em situações do cotidiano, pois para poder aprender sobre nossas emoções, precisamos conhecer como somos, o que gostamos e o que não gostamos de fazer.
Material: Papel, lápis ou caneta
Metodologia: Dinâmica e desenho sobre o que lhe da prazer
Dinâmica: Leilão
Os alunos deverão sentar em círculo, onde todos poderão se enxergar. Serão oferecidas várias coisas que possuem valores diferenciados, onde os alunos deverão dar um lance, comprando o que está sendo oferecido de acordo com seu interesse. Todos terão em mãos simbolicamente doze reais (R$12,00) para gastar com as coisas que lhe são importantes. Se derem um lance de R$12,00 compram apenas um “desejo”, lances menores podem comprar mais de um. 
Os itens são os seguintes: amizade, tristeza, alegria, medo, ciúme, nervosismo,esportes, raiva, férias, família, amor, viagem.
Após a compra os alunos deverão expor porque compraram determinado “desejo”, e em seguida serão questionados sobre o significado de cada um daqueles sentimentos e quando o sentem.
Questionar e explicar o que significa cada sentimento (amizade, tristeza, alegria, medo, ciúme, nervosismo, amor, raiva) e quando que os sentimos.
Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: Na segunda intervenção Maria sentou com o grande grupo, participou da atividade, porém sem manifestar-se oralmente. Esboçou sorrisos, virava-se de costas para que os colegas não a vissem sorrindo, apesar de não ter comprado nenhum item. 
Na segunda parte da dinâmica, onde deveria realizar o desenho das coisas que gosta de fazer, mostrou que as práticas com exercício físico, que incluem, os jogos de tênis de mesa e basquete são as que lhe proporcionam prazer.
C) Intervenção 3:
Objetivo: Mostrar que todos somos muito importantes, necessários e que sempre precisamos de alguém
Material: folha em branco e caneta
Metodologia: Dinâmica 
Dinâmica do autógrafo: Os alunos deverão pegar uma folha em branco, onde terão a função de conseguir o maior número de autógrafos possível dos colegas.
Após a dinâmica questionar quem dá autógrafos? Por que se dão autógrafos?Colocar que nós também somos importantes para alguém e assim como gostamos de receber devemos gostar de dar.
Tempo da intervenção: 1h 
Resultado:Na terceira intervenção, Maria retraiu-se, teve dificuldades em sair do seu lugar, não tendo a iniciativa de ir em busca do solicitado.
Nesta atividade foi necessário os colegas irem ao seu encontro para que ela participasse. Isto fez com que ela percebesse como ela é importante, não deixando de assinar as folhas dos colegas.
 Durante esta dinâmica teve um momento em que todos estavam em torno de sua mesa, situação diferente do seu cotidiano, que não lhe causou grande estranheza.
D) Intervenção 4: 
Objetivo:Pensar sobre as pessoas são importantes, que se pode confiar, partilhar seus momentos de alegria, tristeza, etc.
Material: Papel e lápis
Metodologia: Pensar em todas as pessoas que são importantes para cada cada um e escrever seus nomes em uma folha em branco, colocando qual o parentesco ou afinidade, isto em ordem de preferência.
Após atividade ouvir dos alunos por quais motivos escolheram determinadas pessoas, e pedir que escrevam ao lado do nome, logo após comentar que existem pessoas que gostamos muito e que sabemos que podemos confiar em qualquer momento pois estão sempre dispostas a nos ajudar.
Que estas pessoas são muito importantes para nós desabafarmos quando estamos passando por um momento de raiva, tristeza, rancor, pois elas nos auxiliarão a nos sentirmos melhor e tomar as decisões mais coerentes, sem nos prejudicar ou prejudicar o outro.
Tempo da intervenção: 2h
Resultado:Na quarta intervenção foi possível perceber que Maria possui vínculo com poucas pessoas, sendo que as nomeadas durante a dinâmica foram as pessoas de sua família. Na sua relação de importância a tia apareceu em primeiro lugar, sendo consideradaa pessoa mais confiável, por quem Maria tem apreço. Nos relatos das entrevistas consta que esta mesma tia é a que foi visitá-los no abrigo. Após a tia, Maria citou seu irmão mais novo e depois sua mãe e padrasto.
E) Intervenção 5:
Objetivo:Perceber o que eu não aceito em mim, criando alternativa para a situação
Material:Papel e lápis
Metodologia:Dinâmica 
Dinâmica da autoaceitação: Escrever em um pedaço de papel uma coisa que não gostam em si e gostariam de mudar, colocar em uma caixa, onde a professora irá sortear e discutir com os alunos.
Após atividade comentar com os alunos que todos temos defeitos e qualidades, que existem atitudes e características que nós não aceitamos nos outros e nem em nós, mas que podemos encontrar alternativas para melhorar a situação. Se o que não gostamos é da aparência física, existem muitos métodos, e maneiras de melhorar a beleza, se for de ordem atitudinal devemos repensar sobre que atitudes estamos tendo diante dos enfrentamentos da vida, com isso estaremos melhorando como pessoas.
 Tempo da intervenção: 1h e 20 minutos
Na quinta atividade Maria não participou, todavia ficou atenta a discussão.
F) Intervenção 6:
Objetivo: Reconhecer quando se sente bravo , com raiva, feliz, frustrado, entre outros, e como reage a estes sentimentos.
Material:Questionário, lápis
Metodologia:Reflexão e discussão a partir das respostas escritas dos questionamentos
a) O que você não gosta em você?
b) Como você gostaria de ser?
c) Como você é em sentimentos? (alegre, triste, nervoso,...) 
d) Você já fez alguma coisa que deixou alguém feliz? O quê?
e) O que você faz que entristeça outras pessoas?
f) O que te diverte?
g) Como você está se sentindo?
h) Que coisas deixam você com raiva.
i) O que você faz quando está com raiva?
j) Como você se sente quando você quer assistir à televisão e a sua mãe diz que é hora de dormir ou fazer a tarefa?
k) Como você se sente quando você tenta entender uma história e não consegue?
l) O que te deixa com medo.
m) O que você faz quando está com medo?
n) Como você se sente depois de conseguir alguma coisa que tinha dificuldade?
o) Escreva outras coisas que você não sabe e quer aprender.
p) Em qual situação na sua vida que você se sentiu incapaz, triste, com raiva ou frustrada? Por quê?
Tempo da intervenção: 1h e 40 minutos
Resultado:Esta foi a intervenção que conseguimos um maior retorno de Maria, pois apesar de ter dado respostas curtas não deixou de responder. Pode-se perceber através das respostas do questionário que Maria na maior parte do tempo sente-se nervosa, triste, brava, com raiva e medo, colocou que a situação de sua vida que se sentiu incapaz, triste, com raiva ou frustada foi no lugar onde morava, ou seja, no abrigo. Esta foi a única vez que mencionou algo desagradável em relação ao tempo em que esteve afastada da mãe.
G) Intervenção 7:
Objetivo: Encontrar soluções para as questões que não tenho dificuldades em lidar
Material:Questionário respondido, caixa , lápis e papel
Metodologia: Dinâmica
Caixa dinâmica das soluções: Cada aluno pensando em suas respostas das questões 5, 8,10,11,12 e 16 deverão apresentar soluções para estes problemas. Estas soluções devem ser escritas junto com o problema citado. Este papel deverá ser colocado em uma caixa para sorteio e posterior discussão com o grupo.
Tempo de intervenção: 2 horas
Resultado: Neste momento Maria mostrou-se com dificuldade em descrever as possíveis soluções para as questões. A alternativa que encontrou para a raiva que sentia quando lembrava das brigas no abrigo, foi a de não brigarem com ela, pois assim não teria este sentimento.
H) Intervenção 8:
Objetivo:Compreender que não conseguimos resolver todos os problemas sozinhos, devemos repartir nossas frustrações pois assim as coisas tornam-se mais fáceis de serem resolvidas
Material: Balão, lápis e papel
Metodologia: Dinâmica 
Dinâmica dos balões: Pensar em alguns problemas que ocorrem na sua vida, escrever em pequenos papéis esses problemas, colocar dentro de balões (cada problema um balão), encherem o balão e largar no centro da sala, após os alunos deverão pegar quantos balões conseguirem, sem estourar. Depois discutir com eles que não conseguimos resolver todos os problemas, assim como não conseguimos pegar todos os balões, por isso precisamos dividir com alguém. Após um de cada vez estourar um dos balões. Enquanto eles estouram, explicar que quando estourado, o balão, ou seja, o problema fica mais fácil de se resolver. Após estourado o balão discutir como se pode resolver o problema indicado.
Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: Nesta intervenção Maria participou timidamente da dinâmica, colocou uma situação no balão, mas não teve iniciativa para buscá-los após serem soltos, ficou apenas observando, na discussão apenas ouviu os colegas.
I) Intervenção 9:
Objetivo:Conhecer outro colega através da história contada a partir do seu amuleto, percebendo que todos passamos por momentos bons e ruins
Material: Objetos pessoais
Metodologia: Dinâmica Meu amuleto
Dinâmica:
a)Cada participante é convidado a apresentar algum objeto que lhe seja especialmente significativo (uma medalha, a foto de alguém querido, qualquer coisa que guarde em si uma história que faça do objeto algo especial).
b)Reunidos em dupla, cada um contará a história de seu “amuleto” e por que foi o objeto escolhido. Quem escuta, deverá reter a maior quantidade de informações.
c)Depois, trocarão objetos e irão ao encontro de outro participante a quem transmitirão a história do objeto que receberam.
d)Repete-se o exercício mais duas ou três vezes e depois em roda, cada um/a apresenta o objeto que tem e conta sua história, comparando-a com a original.
Tempo da intervenção: 2h
Resultado: na nona intervenção Maria trouxe como amuleto, objeto da intervenção, uma foto sua de quando criança, do tempo que morava com os pais e irmãos, todavia não participou da atividade de contar a sua história e ouvir a do amigo para depois reproduzir, apenas observou os demais.
J) Intervenção 10:
Objetivo: Realizar o fechamento das intervenções com uma premiação que servirá de canal de desabafo, onde poderão expressar e reconhecer seus sentimentos, minimizando os efeitos negativo que podem trazer
Material:Caderno pequeno(diário das emoções)
Metodologia:Será entregue um caderno/diário para os alunos, para que este serva de amuleto, onde eles poderão escrever tudo o que estão sentindo, seus momentos de raiva, tristeza, alegria, entre outros.
Tempo da intervenção: 30 minutos
Resultado: Após terminada as intervenções em conversa com a família, foi possível constatar que Maria escreve diariamente em seu “amuleto” (diário).
4.2 CONCLUSÃO DAS INTERVENÇÕES
	As intervenções foram organizadas de modo a levar os alunos a realizarem uma análise sobre a importância do reconhecimento de seus sentimentos, sendo que as e moções regem o bem estar humano, podendo ser “manipuladas” quando reconhecidas e compreendidas.
	Logo após, foram discutidos meios de aliviar os sentimentos negativos, que causam conflitos internos, aprendendo que podem ser partilhados com outras pessoas, pois o ser humano vive em um meio social onde constantemente auxilia e pode ser auxiliado.
	Também procuramos demonstrar que não se pode dominar e resolver as situações conforme o desejo pessoal de cada um, mas que existem soluções e alternativas de resolução como partilhar com pessoas de confiança, escrever sobre o que está sentindo no momento, e assim poder identifica-lo e criar a melhor alternativa de resolução.
	Com o término das intervenções percebemos que embora Maria não tenha participado efetivamente de todas as dinâmicas propostas, ela passou a conhecer um novo caminho para vencer suas frustrações, pois estava presente enquanto as situações eram propostas, analisadas e discutidas, fato que provavelmentea auxiliará nas resoluções de seus questionamentos mais íntimos.
	Após este período sua mãe retornou a escola para comunicar que estava conseguindo conversar mais tranquilamente com Maria, contudo não temos a pretensão de pensar que conseguimos resolver algo, mas sim que contribuímos para uma melhor qualidade de vida da aluna.
	Com isso percebemos que apesar do pouco tempo de intervenção, algumas conquistas foram alcançadas a curto prazo, porém temos por certo que as novas aprendizagens de Maria terão influência em suas decisões por um longo período em sua vida.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
	A vida nos proporciona momentos com diferentes emoções e sentimentos, cabendo a nós interpreta-los e direciona-los da melhor maneira possível.
	Todavia quando estes nos causam dores e sofrimento em fazes da vida em que não estamos preparados e/ou maduros, suas consequências são de lembranças carregadas de frustrações, desamparo e impotência que sentimos por toda nossa existência e nos constituem com medos e atitudes que não conseguimos controlar ou explicar.
	No caso acima apresentado procuramos elucidar alguns fatos vividos por uma menina de treze anos, organizando através de anamnese e entrevistas, recortes de situações vivenciadas por ela, na tentativa de encontrar respostas para suas atitudes, discernimento sobre a fundamentação dos laudos médicos emitidos, para assim auxilia-la no seu desenvolvimento emocional através de intervenção, no caso, fundamentada na alfabetização emocional.
	Procuramos situar a família como sendo um fator de fundamental importância no desenvolvimento de Maria, estabelecendo conversas e orientações abaixo descritas.
	Neste ínterim, desenvolvemos a intervenção sem nos apoiarmos em um laudo específico, pois muito nos intriga a disparidade entre os laudos médicos apresentados, não havendo conexão entre a abordagem dos profissionais.
	No entanto, cabe a nós não decidirmos qual profissional está correto ao analisar a situação de Maria, mas aprofundar nosso conhecimento a respeito do laudos emitidos de: mutismo seletivo, autismo, trauma, comparando-os com a vivência da menina e buscando através deste encontrar estratégias para auxilia-la no seu desenvolvimento, ressaltando a importância de se conhecer a história de vida do paciente para que se tenha laudo fundamentado, não ficando arraigados a situações imediatistas de consultório.
	Por fim, ao término do período de intervenção obtemos respostas positivas, embora ainda de pequeno porte; Nos alegra o conhecimento de uma nova prática nas relações interpessoais de Maria frente a sua mãe, que mostra um novo caminho que começa a ser trilhado .
ORIENTAÇÕES AOS PAIS PROFESSORES
Maria precisará constantemente de apoio para que consiga caminhar em direção a seu desenvolvimento emocional, e consecutivamente ao seu desempenho das capacidades emocionais e de socialização. Para isso pesquisamos e elencamos de acordo com o livro Educação Emocional na escola, alguns Itens necessários de serem lembrados durante o período em que estivermos com a menina.
Sempre que possível, diga que ela tem valor e enalteça suas qualidades e seus comportamentos;
Expresse claramente suas necessidades e desejos, dizendo o que realmente sente ou necessita;
Preste atenção ao que a outra pessoa está dizendo e à sua comunicação não verbal: sua voz, gestos, corpo e expressão facial;
 Procure saber o que quer a outra pessoa. Sugira a ela, quando julgar apropriado, maneiras diferentes de fazer as coisas.
Deixe claro para a outra pessoa que compreendeu seus sentimentos;
Mostre sua afeição pelo outro, quando ela for verdadeira, abraçando-o, dando tapinhas nas costas e nos ombros ou apertando seu braço;
 Procure a melhor maneira de apresentar a crítica. Escolha cuidadosamente o local da conversa. Quanto mais à vontade estiver o criticado, mais receptivo será;
Nunca faça críticas na presença de outras pessoas, pois quem as recebe pode se sentir constrangida e humilhada;
Procure não atingir a auto-estima da outra pessoa. Nunca faça afirmações que a menosprezem ou humilhem, do tipo "Não gostei mesmo de seu trabalho, que está todo errado. Você fracassou";
Esclareça qual o comportamento que está sendo criticado e o que deve ser mudado.
Se uma mãe critica seu filho porque sempre deixa o quarto desarrumado, livros pelo chão e roupas emboladas, deve deixar bem claro que está criticando o comportamento dele, em vez de dizer-lhe irritada:"Você é um irresponsável mesmo! Não tem jeito, todo dia lhe falo e você nunca se emenda”;
Isto pode gerar revolta na pessoa criticada, devido à agressão à sua auto-estima. E ela pode não modificar seu comportamento. Este tipo de crítica só faz azedar o relacionamento entre as pessoas.
Quando fizer uma crítica, controle suas emoções. Durante o processo de crítica, a outra pessoa pode tornar-se muito defensiva e enraivar-se, induzindo raiva em você, que deve controlar-se.
 NOTA DA AUTORA
O presente relatório de estágio foi realizado nas dependências da Escola de Ensino Básico Gonzaga Stainer em parceria com a colega e Educadora Especial Vivian Cossentino Campelo. 
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abordagem didática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 
�	 Graduada em Educação Especial. E-mail: valdeneza@yahoo.com.br
�	 Professora Orientadora. E-mail: barbara.madalena@gmail.com.br
�	 Para não expor a família faremos o uso de nomes fictícios

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