Enfermeiro em Unidades Móveis de Atenção Pré-Hospitalar Aloísia Pimentel Barros. Enfermeira Assistencial do SAMU - Recife. Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Especialista em Saúde da Criança e do Adolescente. Coordenadora Pedagógica e Docente da Pós-Graduação Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Ciências e Tecnologia (FAMEC). Preceptora do Programa de Residência em Enfermagem em Atendimento Pré-Hospitalar. Jackeline Maria Tavares Diniz. Enfermeira do Serviço de Educação Continuada da Central de Transplantes de Pernambuco. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Saúde da Criança e do Adolescente. Coordenadora Pedagógica e Docente da Pós- Graduação Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Ciências e Tecnologia (FAMEC). Cibele de Lima Souza Silveira. Enfermeira. Coordenadora Geral de Enfermagem do SAMU-Recife. Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Especialista em UTI. Docente da Pós-Graduação Lato Sensu de Enfermagem da Faculdade Metropolitana de Ciências e Tecnologia (FAMEC). Introdução O crescimento da mortalidade por trauma se traduz hoje em um fenômeno mundial, atingindo tantos países desenvolvidos como os em desenvolvimento. O avanço da vida urbanizada, o acelerado ritmo econômico e as complexas relações sociais são fatores contribuintes para tal fenômeno. No Brasil, os acidentes e as violências configuram um problema de saúde pública de grande magnitude por alterar e ocasionar intenso impacto na morbidade e na mortalidade da população. A Política Nacional sobre o tema é recente, embora, existam iniciativas particulares de alguns estados, desde a década de 1980, em tentar alcançar estratégias de prevenção a esses agravos. Nessa referida época, a ausência de diretrizes nacionais para a área de emergência, particularmente de Atendimento Pré-Hospitalar (APH), levou alguns estados a criar seus próprios serviços, dissociados de uma linha mestra e de uma normalização típica de planejamento, instalação e operacionalização, surgindo assim diversos modelos, sendo a maioria deles com deficiências técnicas importantes, tanto no setor público, como no privado. A partir daí fez-se necessário então a normatização dos serviços de Atendimento Pré-Hospitalar (APH). A Portaria nº 814/GM, de 01 de Junho de 2001, foi criada com o objetivo de regulamentar e normatizar os serviços de APH móvel de urgências, já existentes em todo território nacional, tantos os civis como os militares, públicos ou privados, bem como os que viessem a ser criados no país. O atendimento pré-hospitalar é, por definição, qualquer assistência realizada fora do ambiente hospitalar. O Ministério da Saúde define como sendo a assistência prestada em um primeiro nível de atenção, aos portadores de quadros agudos, de natureza clínica, traumática ou psiquiátrica, quando ocorrem fora do ambiente hospitalar, podendo acarretar sequelas ou até mesmo a morte, sendo necessário prestar-lhe atendimento e/ou transporte adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil e no mundo, o atendimento pré-hospitalar se tornou um componente fundamental do sistema de atendimento às urgências e, mais que isso, uma ferramenta fundamental no combate a morbi-mortalidade, recebendo para tanto, enormes incentivos. Com a regulamentação dos serviços de APH, O SUS passou a ter a responsabilidade de instrumentar e estimular a implantação de serviços que garantissem a assistência rápida e de qualidade aos cidadãos acometidos por agravos de urgência. É esperado que a organização desse tipo de atendimento auxilie ainda na ordenação da entrada dos pacientes nesses sistema, garantindo que as premissas de universalização, hierarquização e regionalização do atendimento , previstas na Constituição Federal, sejam atendidas. Objetivos: Ao final da leitura do presente capítulo, o leitor deverá ser capaz de: Identificar os marcos históricos e aspectos legais da atuação do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar; Compreender a importância da avaliação no contexto global do atendimento do paciente politraumatizado; Sistematizar as etapas distintas envolvidas no atendimento inicial ao politraumatizado; Relacionar as etapas do atendimento inicial ao politraumatizado com a sistematização da assistência da enfermagem. Aspecto Históricos e Conceituais do APH O atendimento às emergências/urgências no local da ocorrência é relatado desde o período das grandes guerras, mais precisamente no século XVIII, período napoleônico. Neste período, os soldados feridos em campo de batalha eram transportados em carroças com tração animal, para serem atendidos por médicos, longe dos conflitos. Em 1792, o cirurgião e chefe militar Dominique Larrey, começa a "dar os cuidados iniciais", a soldados feridos, no próprio campo de batalha, a fim de prevenir possíveis complicações. A iniciativa de atendimento aos soldados no campo de batalha continuou no século XIX e levou à formação da Cruz Vermelha Internacional, em 1863, organização que, ao longo do tempo, demonstrou a necessidade de atendimento rápido aos feridos, tendo sua atuação destacada nas Guerras Mundiais do século XX(2,10,11). No Brasil, a idéia de atender as vítimas no local da emergência é tão antiga quanto em outros países. Data de 1893 a aprovação da lei, pelo Senado da República, que pretendia estabelecer o socorro médico de urgência na via pública, no Rio de Janeiro, que era a capital do país. Consta ainda que, em 1899, o Corpo de Bombeiros da mesma localidade punha em ação a primeira ambulância (de tração animal) para realizar o referido atendimento, fato que caracteriza sua tradição histórica na prestação deste serviço(2,10,11). No Estado de São Paulo, com a promulgação do Decreto n.395 de 7 outubro de 1893, ficou sob a responsabilidade dos médicos do Serviço Legal da Polícia Civil do Estado o atendimento às emergências médicas. Em 1910, o Decreto n.1392, tornou obrigatória a presença de médicos no local de incêndios ou outros acidentes. Em 1950, instalou-se em São Paulo o Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (SAMDU), órgão da então Secretaria Municipal de Higiene, pelo Decreto Estadual n.16629, ficando como responsabilidade do município, o atendimento de urgência na cidade de São Paulo. A atividade de atendimento pré-hospitalar no Brasil sempre foi muito diversificada; vários Estados, ao longo dos anos, desenvolveram um sistema de atendimento às urgências e emergências de caráter público e/ou privado(15). O Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA) foi um exemplo de serviço privado com interligação a órgãos e serviços públicos. Em 1976, implantou o Sistema de Ajuda ao Usuário nas rodovias sob sua jurisdição (Sistema Anchieta-Imigrantes, Sistema Anhanguera-Bandeirantes e Sistema dos Trabalhadores); estes serviços tinham como característica o posicionamento de uma ambulância, tripulada por um motorista e um atendente de primeiros socorros, a cada 30 km de rodovia, durante as 24 horas de todos os dias do ano. A supervisão, treinamento em serviço e reciclagem periódicos era realizadas por médicos, e o serviço era mantido com arrecadação dos pedágios e recursos da Previdência Social, o antigo INAMPS(16). Na tentativa de resgatar este sistema de atendimento pré-hospitalar, no ano de 1979, foi assinado um "protocolo de intenções" entre a Prefeitura do Município de São Paulo e o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, constituindo um serviço de ambulâncias da prefeitura, para o qual alguns