Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba Governo do Estado do Piauí Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural PLANO DE AÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DO VALE DO PARNAÍBA – PLANAP CODEVASF / GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ APOIO NO GERENCIAMENTO DA EXECUÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO VALE DO PARNAÍBA (PDFLOR-PI) APOSTILA DO CURSO TÉCNICAS DE PREVENÇÃO E COMBATE À INCÊNDIOS FLORESTAIS CURITIBA, PR FEVEREIRO 2010 PLANO DE AÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DO VALE DO PARNAÍBA – PLANAP CODEVASF/GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ/FUPEF Produto 11 Apostila do Curso Técnicas de Prevenção e Combate à Incêndios Florestais APOIO NO GERENCIAMENTO DA EXECUÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO VALE DO PARNAÍBA (PDFLOR-PI) Coordenação do Projeto SDR Rubem Nunes Martins CODEVASF Guilherme Almeida Gonçalves de Oliveira GOVERNO DO PIAUÍ Jorge Antônio Pereira Lopes de Araújo STCP Joésio Siqueira Ivan Tomaselli Bernard Delespinasse Rodrigo Rodrigues Dartagnan Gorniski Curitiba, PR Fevereiro de 2010 APOIO NO GERENCIAMENTO DA EXECUÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO VALE DO PARNAÍBA (PDFLOR-PI) APOSTILA DO CURSO DE TÉCNICAS DE PREVENÇÃO E COMBATE À INCÊNDIOS FLORESTAIS SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................1 2. IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO E COMBATE AOS INCÊNDIOS NA VEGETAÇÃO........1 3. CONCEITOS ........................................................................................................................................1 4. TEORIA BÁSICA DO FOGO ............................................................................................................2 4.1. TRIÂNGULO DO FOGO..................................................................................................................2 4.2. COMBUSTÍVEIS...............................................................................................................................2 4.2.1. Tipos de Combustíveis ......................................................................................................................3 4.2.2. Poder Calorífico do Combustível Florestal.........................................................................................3 4.3. FASES DA COMBUSTÃO................................................................................................................3 4.3.1. Fase 1 - Pré-aquecimento...................................................................................................................3 4.3.2. Fase 2 - Destilação ou Combustão Gasosa.........................................................................................4 4.3.3. Fase 3 – Incandescência ou Consumo de Carvão...............................................................................4 4.4. FORMAS DE TRANSMISSÃO DE CALOR..................................................................................4 4.4.1. Condução...........................................................................................................................................4 4.4.2. Convecção.........................................................................................................................................5 4.4.3. Radiação............................................................................................................................................5 4.4.4. Deslocamento de Corpos Inflamados.................................................................................................5 4.4.5. Corrente e/ou Descargas Elétricas......................................................................................................5 4.5. RELAÇÃO DAS VARIÁVEIS METEREOLÓGICAS COM OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS..............................................................................................................................................5 4.5.1. Precipitação ......................................................................................................................................5 4.5.2. Umidade do Ar...................................................................................................................................5 4.5.3. Temperatura do Ar.............................................................................................................................5 4.5.4. Velocidade do Vento..........................................................................................................................5 4.5.5. Índices de Perigo de Incêndios ...........................................................................................................5 4.6 . COMPORTAMENTO DO FOGO NA VEGETAÇÃO..................................................................6 4.6.1. Taxa de Propagação...........................................................................................................................7 4.6.2. Intensidade do Fogo ..........................................................................................................................7 4.6.3. Altura de Crestamento Letal..............................................................................................................7 4.6.4. Tempo de Residência.........................................................................................................................8 4.6.5. Temperatura Letal.............................................................................................................................8 5. INCÊNDIOS FLORESTAIS................................................................................................................8 5.1. Biomas brasileiros...............................................................................................................................8 5.1.1. Bioma Amazônico .............................................................................................................................8 5.1.2. Bioma Cerrado ..................................................................................................................................9 5.1.3. Bioma Caatinga...............................................................................................................................10 5.1.4. Bioma Mata Atlântica......................................................................................................................10 5.1.5. Bioma Pantanal................................................................................................................................11 5.1.6. Bioma Pampa...................................................................................................................................11 5.2. FLORESTAS PLANTADAS...........................................................................................................12 5.2.1. Pinus spp.........................................................................................................................................12 i 5.2.2. Eucalyptus spp.................................................................................................................................12 5.3. CAUSAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS....................................................................................13 5.3.1. Raios 13 5.3.2. Incendiários......................................................................................................................................13 5.3.3. Queimas para Limpeza....................................................................................................................13 5.3.4. Fumantes.........................................................................................................................................13 5.3.5.Fogos Campestres ou por Atividades Recreativas............................................................................14 5.3.6. Operações Florestais........................................................................................................................14 5.3.7. Estradas de Ferro.............................................................................................................................14 5.3.8. Diversos...........................................................................................................................................14 5.4. TIPOS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS.......................................................................................14 5.4.1. Incêndios Subterrâneos....................................................................................................................14 5.4.2. Incêndios de Superfície....................................................................................................................15 5.4.3. Incêndios de Copa............................................................................................................................15 5.5. PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS .......................................................................16 6. MANEJO DO FOGO E SEUS BENEFÍCIOS PARA A FLORESTA............................................18 6.1. PREVENÇÃO E COMBATE À INCÊNDIOS..............................................................................18 6.2. CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS ....................................................................................18 6.3. GERMINAÇÃO DE SEMENTES E REGENERAÇÃO DE ESPÉCIES....................................19 6.4. LIMPEZA E PREPARO DE TERRENOS ...................................................................................19 6.5. MELHORIA DOS ATRIBUTOS DO SOLO.................................................................................19 7. EFEITOS NEGATIVOS DO FOGO NA FLORESTA ...................................................................19 7.1. DANOS AO SOLO ..........................................................................................................................19 7.2. CAPACIDADE PRODUTIVA DA FLORESTA...........................................................................20 7.2.1. Tipo Florestal...................................................................................................................................20 7.2.2. Densidade da Floresta......................................................................................................................20 7.2.3. Rendimento Sustentado da Floresta ou “Princípio da Persistência”..................................................20 7.3. ASPECTO RECREATIVO DA FLORESTA E DA PAISAGEM ...............................................20 7.4. FAUNA SILVESTRE.......................................................................................................................20 7.5. VEGETAÇÃO..................................................................................................................................21 7.6. CARÁTER PROTETOR DA FLORESTA ...................................................................................21 7.7. QUALIDADE DO AR .....................................................................................................................22 7.8. DANOS A VIDA HUMANA............................................................................................................22 7.9. DANOS ECONÔMICOS ................................................................................................................22 8. PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS..............................................................................23 8.1. EDUCAÇÃO PARA A PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS FLORESTAIS ..................................23 8.2. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO .................................................................................................24 8.3. PREVENÇÃO PARA PROPAGAÇÃO .........................................................................................25 8.3.1. Construção e Manutenção de Obras de Infra-estrutura....................................................................25 8.3.2. Construção e Manutenção de Fontes de Água..................................................................................26 8.3.3. Redução de Material Combustível...................................................................................................27 8.4. PLANOS DE PROTEÇÃO PARA INCÊNDIOS ..........................................................................29 8.4.1. Local 29 8.4.2. Causas ............................................................................................................................................30 8.4.3. Períodos de Ocorrência....................................................................................................................30 8.4.4. Classes de Materiais Combustíveis..................................................................................................30 8.4.5. Zonas Prioritárias............................................................................................................................30 9. COMBATE À INCÊNDIOS FLORESTAIS.....................................................................................30 9.1. FORMAÇÃO DE BRIGADAS DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS......................31 9.2. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS..............32 9.3. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)..........................................................32 9.3.1. EPI Básicos....................................................................................................................................32 9.3.2. Equipamentos acessórios aos EPIs...................................................................................................33 9.4. FERRAMENTAS E APARELHOS................................................................................................33 9.4.1. Facão ..............................................................................................................................................33 ii 9.4.2. Motosserra.......................................................................................................................................33 9.4.3. Machado..........................................................................................................................................34 9.4.4. Foice …...................................................................................................................................... 34 9.4.5. Enxada.............................................................................................................................................34 9.4.6. Pá....................................................................................................................................................34 9.4.7. Rastelo ou Ancinho..........................................................................................................................34 9.4.8. McLeod............................................................................................................................................34 9.4.9. Abafadores.......................................................................................................................................34 9.4.10. Bomba Costal................................................................................................................................35 9.4.11. Mochila costal................................................................................................................................35 9.4.12. Aparelho controlador de Queimadas (Lança-chamas ou Pinga-fogo)............................................35 9.5. VEÍCULOS DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS.....................................................369.6. TÉCNICAS E TÁTICAS DE COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS................................36 9.6.1. Método Direto..................................................................................................................................36 9.6.2. Método Indireto................................................................................................................................36 9.6.3. Método Paralelo...............................................................................................................................37 9.6.4. Método de Dois Pés.........................................................................................................................37 9.7. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DE CAMPO..................................................................37 9.7.1. Detecção e Comunicação.................................................................................................................37 9.7.2. Sistemas de Comunicação................................................................................................................38 9.7.3. Mobilização da Brigada...................................................................................................................38 9.7.4. Chegada ao Local e Planejamento do Combate................................................................................39 9.7.5. Ações ..............................................................................................................................................39 9.8. RESCALDO......................................................................................................................................40 10. PONTOS IMPORTANTES A CONSIDERAR NO COMBATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS..........................................................................................................................................40 10.1. PREPARAÇÃO E AÇÃO INICIAL.............................................................................................40 10.2. ORGANIZAÇÃO E PLANO DE ATAQUE................................................................................40 10.3. HORA DE COMBATE..................................................................................................................40 10.4. PONTO E MÉTODO DE ATAQUE............................................................................................40 10.5. ERROS COMUNS NO COMBATE A INCÊNDIOS FLORESTAIS........................................41 10.6. PONTOS QUE NÃO DEVEM SER ESQUECIDOS...................................................................41 10.7. DEZ PRECEITOS DE SEGURANÇA.........................................................................................41 10.8. CUIDADOS A SEREM OBSERVADOS.....................................................................................41 11. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO..........................................................................................................41 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................42 LISTA DE FIGURAS Figura 01. Triângulo do Fogo......................................................................................................................2 Figura 02. As Três Fases da Combustão......................................................................................................4 Fase 1:......................................................................................................................................4 Fase 2:......................................................................................................................................4 Fase 3:......................................................................................................................................4 Figura 03. Índice de Incêndios pela Fórmula de Monte Alegre (SOARES & PAEZ)...................................6 Figura 04. Mapa de Risco de Incêndios da Vila Mortágua- Portugal...........................................................6 Figura 05. Localização e Distribuição dos Biomas do Brasil.......................................................................8 Figura 06. Paisagem do Bioma Amazônico..................................................................................................8 Figura 07. Paisagem do Bioma do Cerrado..................................................................................................9 Figura 08. Paisagem do Bioma Caatinga...................................................................................................10 Figura 09. Paisagem do Bioma Mata Atlântica..........................................................................................10 Figura 10. Paisagens do Bioma Pantanal...................................................................................................11 Figura 11. Paisagens do Bioma Pampa......................................................................................................11 iii Figura 12. Pinus spp..................................................................................................................................12 Figura 13. Eucalyptus spp.........................................................................................................................13 Figura 14. Fumantes podem ser potenciais Fontes de Ignição para Incêndios.............................................14 Figura 15. Operação de Colheita Florestal.................................................................................................14 Figura 16. Incêndio Florestal de Superfície................................................................................................15 Figura 17. Incêndio Florestal de Copa........................................................................................................16 Figura 18. Esquema dos Três Tipos de Incêndios-Subterrâneo, Superficial e de Copa...............................16 Figura 19. Incêndio Florestal de Copa e o Esquema dos Três Tipos de Incêndios.....................................16 Figura 20. Sirex noctilio (Vespa da Madeira do Pinus spp.).....................................................................19 Figura 21. Queima de Resíduos para Limpeza e Preparo do Terreno.........................................................19 Figura 22. Animais fugindo de Incêndio, abrigando-se em um Curso D'Água............................................21 Figura 23. Danos ao Câmbio da Árvore, após sucessivos Incêndios..........................................................22 Figura 24. Danos a vida humana ...............................................................................................................23 Figura 25. Campanha da Defesa Civil para Prevenção de Incêndios Florestais..........................................24 Figura 26. Símbolo da Campanha PREVFOGO do IBAMA.....................................................................24 Figura 27. Símbolos para Restrição da Área para Fumantes, Fogueiras e Fogos.......................................24 Figura 28. Aceiros construídos a partir de Cercas ou Divisas da Propriedade............................................25 Figura 29. Aceiro e Acesso para a Propriedade.........................................................................................26 Figura 30. Divisórias e Contornos do Plantio Florestal..............................................................................26 Figura 31. Lago artificial...........................................................................................................................27 Figura 32. Redução de Material Combustível por Queima Controlada dentro do Plantio...........................28 Figura 33. Redução de material combustível por gradagem do solo...........................................................28Figura 34. Incêndio na Margem de uma Estrada........................................................................................28 Figura 35. Método de Queima Progressiva contra o Vento........................................................................29 Figura 36. Método de Queima em Faixas a favor do Vento.......................................................................29 Figura 37. Método de Queima em Cunho ou “V”, a favor do Vento..........................................................29 Figura 38. Método de Queima em Mancha................................................................................................29 Figura 39. Composição de um “Plano de Proteção Contra Incêndios Florestais”.......................................30 Tabela 07. Principais Causas de Incêndios no Brasil.................................................................................30 Figura 40. Exemplo de Zoneamento de Risco............................................................................................30 Tabela 08. Etapas do Combate à um Incêndio Florestal.............................................................................31 Figura 41. Luva de Couro para Proteção de altas Temperaturas................................................................32 Figura 42. Calçado adequado às Operações de Combate ao Fogo..............................................................33 Figura 43. Roupas usadas pelo Operador no Combate...............................................................................33 Figura 44. Capacete e Óculos de Proteção.................................................................................................33 Figura 45. Máscara Anti-gases.................................................................................................................33 Figura 46. Cantil .......................................................................................................................................34 Figura 47. Facão para Corte de Vegetação................................................................................................34 Figura 48. Motosserra................................................................................................................................34 Figura 49. Machado para Combate a Incêndios usado pelos Bombeiros....................................................35 Figura 50. Foice Roçadeira de Cabo longo................................................................................................35 Figura 51. Enxada......................................................................................................................................35 Figura 52. Pá Cortadeira............................................................................................................................35 Figura 53. Rastelo ou Ancinho...................................................................................................................35 Figura 54. McLeod....................................................................................................................................35 Figura 55. Abafador de Borracha de Cabo longo.......................................................................................36 Figura 56. Treinamento de Brigada com abafadores de borracha..............................................................36 Figura 57. Pulverizador Costal de alta Pressão..........................................................................................36 Figura 58. Saco Costal para Combate a Incêndios...................................................................................36 Figura 59. Queimador ou Pinga-fogo.........................................................................................................36 Figura 60. Veículo especial transportador de Água para Combate a Incêndio............................................37 Figura 61. Torres de Vigilância Estrutura em Madeira (à esquerda) e em Estrutura metálica (à direita)....38 Figura 62. Treinamento de Brigada para o Planejamento das Ações..........................................................40 Figura 63. Desenvolvimento das Atividades de Combate...........................................................................40 Figura 64. Equipe trabalhando na Construção de Aceiro...........................................................................40 Figura 65. Atividade de Combate Direto as Chamas..................................................................................41 Figura 66. Atividade de Rescaldo...............................................................................................................41 iv LISTA DE TABELAS Tabela 01. Poder calorífico da Madeira e da Casca de Espécies florestais a 12% de Umidade.....................3 Tabela 02. Condições para Alteração no Cálculo de FMA...........................................................................6 Tabela 03. Classificação da Velocidade de Propagação do Fogo de Botelho & Ventura (1990)..................7 Tabela 04. Limites das Intensidades para Danos em Povoamento de Eucalipto............................................7 Tabela 05. Áreas e Percentual de Ocupação dos Biomas no Brasil..............................................................8 Tabela 06. Principais Essências Florestais plantadas em Escala Comercial no Brasil................................12 Tabela 07. Principais Causas de Incêndios no Brasil.................................................................................30 Tabela 08. Etapas do Combate à um Incêndio Florestal.............................................................................31 v 1. INTRODUÇÃO Este manual foi elaborado com intuito de instruir os participantes do curso de Prevenção e Combate à Incêndios Florestais sobre a importância de dominar as técnicas contra incêndios e de se prevenir contra estes na silvicultura e manejo florestal, evitando, ou mesmo, amenizando prejuízos econômicos e ambientais ocasionados pelo fogo. A apostila aborda os assuntos: teoria básica do fogo; comportamento nos diferentes tipos de vegetação; manejo correto de queimas; técnicas métodos de prevenção e combate a incêndios florestais. 2. IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO E COMBATE AOS INCÊNDIOS NA VEGETAÇÃO O fogo tem fascinado a humanidade durante milhares de anos e a partir do seu domínio, presumivelmente foi o primeiro grande passo do homem para a conquista de ambientes inóspitos. Ao seu redor e graças ao seu calor, tem vivido centenas de gerações. Com esta conquista, o homem aprendeu a utilizar a força do fogo em seu proveito, extraindo a energia dos materiais da natureza ou moldando os recursos em seu benefício. Devido aquecido pelo calor das chamas, o homem pode suportar as noites frias e habitar zonas temperadas e até árticas, assim como a luz das chamas na noite permitiu a exploração noturna. Além disso, o fogo afasta os outros animais selvagens, cozinha alimentos que crus seriam impossíveis de digerir, permitiu a confecção de ferramentas, armas metálicas, entre outros. Entre muitos fatores, o fogo foi um dos maiores responsáveis pelo grau de desenvolvimento que a humanidade atingiu. Por outro lado, é um elemento de difícil controle, portanto o homem não tem total domínio sobre seu poder destrutivo. Este elemento é comumente utilizado no manejo agrícola, florestal e de pastagens por ser viável economicamente e a prática já estar inserida culturalmente nas diversas civilizações. Entretanto é irrefutável, que, quando a queima for mal conduzida provoca desastres ambientais e danos materiais imensuráveis, sendo a melhor forma de atenuá-la a geração de conhecimento tecnológico. A vegetação tem sido alvo de danossignificativos em termos de redução de biodiversidade, danos ambientais, climáticos e econômicos. Além da destruição da floresta (habitat e ecossistema) os incêndios podem ser responsáveis por: morte e ferimentos nas populações humanas e animais (queimaduras, inalação de partículas e gases); destruição de bens (casas, armazéns, postes de eletricidade e comunicações, destruição de culturas agropastoris, etc.); corte de vias de comunicação; alterações, por vezes de forma irreversível, do equilíbrio do meio natural; proliferação e disseminação de pragas e doenças, quando o material ardido não é tratado convenientemente e/ou quando o equilíbrio do ecossistema é afetado. A prevenção e combate a incêndios florestais são ações dentro da silvicultura que visam proteger a floresta contra o agente destruidor que é o fogo, e assim como outras medidas de proteção florestal, como de prevenção e combate de certas pragas e doenças fazem parte do programa de manejo florestal. Para minimização dos prejuízos causados pelo fogo em florestas, é necessário que o silvicultor inclua nos programas de silvicultura e manejo, medidas de prevenção, assim como ter-se domínio das técnicas, possuir equipamentos adequados para combate e pessoal treinado a fim de suprimir o mais rápido possível o incêndio e diminuir os danos ocasionados pelo fogo. 3. CONCEITOS Bioma: grande ecossistema uniforme e estável com fauna, flora e clima próprios, adaptados a diferentes regiões do planeta. Ex.: florestas temperadas, florestas tropicais, campos, desertos, cerrado. (Dicionário Ambiental Básico, 2008) Incêndio florestal: é todo fogo sem controle que incide sobre qualquer forma de vegetação, podendo ter sido provocado pelo homem (intencional ou negligência) ou por fonte natural (raio). Queima controlada: é o fogo decorrente de prática agropastoril ou florestal, onde é utilizado de forma controlada, atuando como um fator de produção. Silvicultura: é a ciência que trata do cultivo de árvores, referindo-se às práticas relativas à produção de mudas, plantio, manejo, exploração e regeneração dos povoamentos. (DANIEL, 2008) Manejo florestal: é a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema. (IBAMA). Desenvolvimento e aplicação de técnicas de análise quantitativa nas decisões acerca da composição, estrutura e localização de uma floresta, de tal maneira que sejam produzidos os produtos, serviços e/ou benefícios, diretos ou indiretos, na quantidade e na qualidade requeridos por uma organização florestal, ou por toda uma sociedade ...” (ARCE, 2002) Combustível florestal: material vegetal suscetível a arder em chamas. 1 Serrapilheira: constitui-se da matéria orgânica vegetal ou animal que é depositada sobre o solo, sob diferentes estágios de decomposição, representando assim uma forma de entrada e posterior incremento da matéria orgânica no solo (BARBOSA, 2006). Áreas periféricas ou ecótonos: são áreas de transição entre os biomas. Edáfico: relacionados ao solo. Piscicultura: é um dos ramos da aqüicultura, que se preocupa com o cultivo de peixes, bem como de outros organismos aquáticos que vem crescendo rapidamente nos últimos anos, transformando-se numa indústria que movimenta milhões de dólares em diversos países. Caducifólia ou decídua: planta que perde as folhas em épocas desfavoráveis (frio, seca, etc). Endêmica: espécie ou fator encontrado apenas numa certa região. Ex.: doença, animal, planta. Encosta: declive de montanha por onde correm as águas das chuvas. Este local está mais sujeito à erosão. Fauna: conjunto das animais de uma região. Flora: conjunto das plantas de uma região. Floresta: ecossistema no qual as árvores ocupam um lugar predominante. Especificamente é uma área com mais de 0,5 ha e cobertura arbórea (copas) superior a 10%. As árvores no estado adulto podem atingir uma altura mínima de cinco metros. Inclui povoamentos jovens naturais e todas as plantações estabelecidas com objetivos florestais que não tenham atingido a densidade de copas de 10% ou altura de árvores de cinco metros. Inclui também zonas integradas na área florestal que estejam temporariamente desarborizadas como resultado da intervenção humana ou causas naturais, mas para as quais é expectável a reconstituição da cobertura (exemplo: áreas recentementes submetidas a corte final ou percorridas por incêndios). Inclui ainda clareiras e infra-estrutura florestais. Exclui-se terras de uso predominantemente agrícola. (APOSTILA CORPO DE BOMBEIROS – PARANÁ, 2005) Plantio florestal: floresta implantada por meio antrópico (artificial). Rede viária florestal: é a malha de acessos construídos para o trânsito de pessoal, materiais e equipamentos (plantio/manutenção/colheita) e transporte de madeira, podendo ser divisão de talhões e proteção, como aceiros e acesso à equipes de combate a incêndio. (FLORIANO, 2006). 4. TEORIA BÁSICA DO FOGO 4.1. TRIÂNGULO DO FOGO Para compreendermos o comportamento, efeitos e manejo do fogo, devemos a princípio ter conhecimento do que é o fogo. O fogo é uma reação química e é considerado um fenômeno que ocorre quando se aplica calor a uma substância combustível em presença do ar, elevando sua temperatura até que ocorra a libertação de gases, cuja combinação com o oxigênio do ar proporciona a energia necessária para que o processo continue. Para que a reação aconteça, são necessárias a combinação entre três elemento: o oxigênio, combustível e energia de ignição. Fogo ou processo de combustão é, portanto uma reação que é provocada por uma determinada energia de ativação. Esta reação é sempre do tipo exotérmico, ou seja, libera calor. Este fenômeno é uma reação de oxidação muito rápida, assemelhando-se à formação de ferrugem em um pedaço de ferro ou a decomposição de madeira, apenas muito rápida. O fogo pode ser considerado um veloz agente de decomposição. Figura 01. Triângulo do Fogo Fonte: Corpo de Bombeiros/PR (UOV, 2004). A combustão não é mais do que uma reação inversa da fotossíntese: Quando uma substância combustível é submetida pela ação do calor, as suas moléculas movem-se mais rapidamente. Com o aumento do calor, poderá haver libertação de gases, que ao se inflamarem, formarão chamas, dando início à combustão. Uma vez iniciada a combustão os gases nela envolvidos reagem em cadeia, alimentando a combustão, dada a transmissão de calor de umas partículas para outras no combustível; mas, se a cadeia for interrompida, não poderá continuar o fogo. 2 CalorOHCOIgniçãodeEnergiaOOHCCombustão ++→++⇒ 2225106 )( 2510622 )( OOHCSolarEnergiaOHCOseFotossínte +→++⇒ 4.2. COMBUSTÍVEIS 4.2.1. Tipos de Combustíveis O combustível é qualquer material orgânico, vivo ou morto, no solo sobre o solo ou acima deste, capaz de entrar em ignição e queimar. Tanto o material vegetal morto como o vivo pode ser considerado como combustível florestal. Em uma floresta existem infinitas combinações de quantidade, tipo, tamanho, forma, posição, e arranjo de material combustível (SOARES e BATISTA, 2007). Os materiais combustíveis podem, de acordo com suas dimensões e grau de inflamabilidade, ser classificados em combustíveis perigosos, semi- perigosos ou de combustão lenta e combustíveis verdes. Combustíveis perigosos Sãorepresentados por materiais que, em condições naturais, apresentam fácil e rápida combustão. Nesta categoria incluem-se cascas, ramos, galhos finos, folhas, pastos, musgos, líquens, etc, quando secos. São materiais que propiciam o início do fogo, e dependendo da magnitude e abundância, com uma combustão rápida, produzindo grandes chamas e muito calor, podem fazer com que os combustíveis semi- perigosos e verdes sequem, tornando-se perigosos. Combustíveis semi-perigosos ou de combustão lenta Incluem o húmus, geralmente úmido, os ramos semi-secos, troncos caídos, etc. Referem-se aos materiais lenhosos que em razão de sua estrutura, disposição, teor de água, não são capazes de queimar rapidamente. Levando em conta que o início do fogo nestes materiais seja mais difícil que nos materiais perigosos, estes são importantes no avanço do fogo lento e para conservar latente a combustão, incidindo na propagação do fogo, uma vez que estes materiais, como, por exemplo, um tronco, poderá ficar por muitos dias queimando. Combustíveis verdes Referem-se à vegetação integrada por árvores, arbustos, ervas, etc., em estado vivo. Considerando que estes materiais verdes contém um grande teor de água, pode-se considerar que os mesmos são não inflamáveis, porém isso não impede que possam entrar em combustão, após um processo de perda de umidade, o qual poderá ocorrer enquanto o fogo queima o material perigoso e libera calor para aquecer e secar o mesmo. 4.2.2. Poder Calorífico do Combustível Florestal Conforme SOARES e BATISTA (2007) a energia que mantém a reação da combustão é o poder calorífico ou calor de combustão do material combustível, que pode ser medido com bastante precisão através de calorímetros. A quantidade de energia calorífica liberada pela queima de combustíveis florestais é alta e não varia de maneira significativa entre os diferentes tipos de materiais existentes numa floresta. O poder calorífico varia ligeiramente entre espécies florestais, sendo um pouco maior nas coníferas do que nas folhosas, devido ao maior conteúdo de lignina e resina nas coníferas. Assim como a parte da árvore, tipo de combustível apresenta variação de poder calorífico. A tabela 01, mostra o poder calorífico da madeira e da casca de algumas essências florestais. Tabela 01. Poder calorífico da Madeira e da Casca de Espécies florestais a 12% de Umidade Fonte: Departamento de Tecnologia da Madeira da UFPR. (SOARES e BATISTA, 2007) Os dados acima, representam os valores médios máximos possíveis, pois foram obtidos da queima completa do material. Em condições naturais, não ocorre a queima completa do material combustível, portanto sendo menor do que os valores apresentados. 4.3. FASES DA COMBUSTÃO O processo de combustão é dividido em três fases conforme a evolução da queima 4.3.1. Fase 1 - Pré-aquecimento Nesta primeira etapa o material é seco, aquecido e parcialmente destilado, porém ainda não existem chamas. O calor elimina a umidade existente no material e continua aquecendo o combustível até a temperatura de ignição, aproximadamente entre 260 e 400°C para a maioria do material florestal. A temperatura de ignição será alcançada rápida ou lentamente, dependendo do tipo de combustível, seu conteúdo de umidade e seu estágio de maturação (se está verde ou em dormência, no caso de vegetação viva). Os componentes voláteis se movem para a superfície do combustível e são expelidos para o ar circundante. Inicialmente esses voláteis contêm grandes quantidades de vapor d’água e alguns compostos orgânicos não combustíveis. Nos 3 combustíveis florestais, quando a temperatura aumenta, a hemicelulose, seguida da celulose e da lignina, começam a se decompor e liberam um fluxo de produtos orgânicos combustíveis (pirolisados). Pelo fato de estarem aquecidos, esses elevam-se misturando-se com o oxigênio do ar e incendeiam-se produzindo a segunda fase. 4.3.2. Fase 2 - Destilação ou Combustão Gasosa Os gases destilados da madeira incendeiam- se e entram em combustão, produzindo chamas e altas temperaturas que podem atingir 1250°C ou um pouco mais. Nesse estágio do processo de combustão os gases estão queimando, mas o combustível propriamente dito, ainda não está incandescente. Olhando-se atentamente para um pedaço de madeira que está queimando, por exemplo, um fósforo aceso, observa-se que as chamas não estão ligadas diretamente à superfície da madeira, mas separadas dela por uma fina camada de vapor ou gás. Isto ocorre porque combustíveis sólidos não queimam diretamente, necessitando primeiro serem decompostos ou pirolisados, pela ação do calor, em vários gases, uns inflamáveis e outros não. Os gases inflamáveis não possuem suficiente quantidade de oxigênio para queimar quando liberados da madeira, precisando primeiro se misturar com o ar em redor para formar uma mistura inflamável. Se a pirólise é lenta, pouco gás é destilado, e as chamas são curtas e intermitentes. Mas quando grandes quantidades de combustível estão queimando rapidamente, como em um incêndio florestal, o volume de gases é grande e alguns deles necessitam se expandir, afastando-se a consideráveis distâncias do combustível antes que a mistura se torne inflamável. Nesse caso, longas e compactas chamas são formadas. 4.3.3. Fase 3 – Incandescência ou Consumo de Carvão O combustível é consumido, havendo formação de cinzas. O calor é intenso, porém praticamente não existe chama nem fumaça. Nessa fase o combustível (carvão) é consumido, restando apenas cinzas. A quantidade de calor liberada nessa fase depende do tipo de combustível, mas de um modo geral, pode-se dizer que 30 a 40% do calor de combustão da madeira está no seu conteúdo de carbono. A composição do carvão residual que é liberado após a fase de destilação varia de acordo com a temperatura em que ocorreu a destilação dos hidrocarbonos. Se ela ocorreu no limite inferior de temperatura, 260 a 300°C, o carvão retém considerável quantidade de alcatrão e o conteúdo de carbono pode ser apenas 60%. Mas a temperaturas normais de um incêndio florestal, 800°C ou mais, a porcentagem de carbono chega a 96%. Figura 02. As Três Fases da Combustão Fase 1: Fase 2: Fase 3: Fonte: Apostila de Proteção Florestal –UFMS/RS (2005) 4.4. FORMAS DE TRANSMISSÃO DE CALOR Existem cinco possíveis formas de transmissão de calor: 4.4.1. Condução É o mecanismo de troca de calor que produz de um ponto a outro por contato direto, através de um corpo bom condutor de calor. Ex.: Se aquecermos a extremidade de um galho de madeira que esteja em contato com outro, passado um determinado período o outro galho estará aquecido, ou seja o calor foi transmitido de molécula para molécula. 4.4.2. Convecção É a transmissão de calor pelo ar em movimento. Estas correntes de circulação do ar produzem-se devido à diferença de temperatura que existe nos diversos níveis de um incêndio, significa que o ar quente possui menor densidade e por isso estará nos níveis mais altos e o ar frio sendo mais denso, encontrar-se-á a níveis mais baixos. A expansão de um fogo por convecção, provavelmente, tem mais influência do que os outros métodos quando tivermos de definir a 4 posição de ataque a um incêndio. O calor produzido num edifíciode grande altura em que arde em um pavimento intermediário, se expandirá e se elevará aos níveis superiores. Deste modo, o calor transmitido pela convecção tenderá, na maioria dos casos, na direção vertical, embora o ar possa levar em qualquer direção. 4.4.3. Radiação É o processo de transmissão de calor de um corpo a outro através do espaço, realizando-se a transmissão por via dos raios de calor. O calor irradiado não é absorvido pelo ar, portanto, viajará no espaço até encontrar um corpo que por sua vez poderá emitir raios de calor. O calor irradiado é uma das maiores fontes pela qual o fogo se estende e deverá ser prestada atenção na hora do ataque ao fogo nos elementos que podem transmitir calor por este método. Ex.: O calor do Sol. 4.4.4. Deslocamento de Corpos Inflamados Forma de transmissão que se dá pela queda ou lançamento da matéria que está queimando, provocando novos focos de incêndio. Ex.: fagulhas levadas pelo vento, queda de árvores, animais que fogem com o pêlo em chamas. 4.4.5. Corrente e/ou Descargas Elétricas É o caso dos incêndios provocados por curto circuito nas instalações elétricas ou descargas elétrico naturais (raios). 4.5. RELAÇÃO DAS VARIÁVEIS METEREOLÓGICAS COM OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS As medições e análises de variáveis meteorológicas são importantes ferramentas de previsão de incêndios em vegetação, permitindo ao manejador identificar períodos durante o ano de maior probabilidade de ocorrência de incêndios florestais, devido às condições meteorológicas. Com as informações, se ganha tempo para providenciar medidas técnicas e administrativas, em busca de minimizar danos. As principais variáveis meteorológicas relacionadas com ocorrência de incêndios na vegetação são: Precipitação, Umidade do Ar, temperatura do ar e velocidade do vento. 4.5.1. Precipitação Durante o ano, podemos observar que alguns meses tem menores quantidades de chuvas, o que caracteriza, a época de seca na região No período de menor ocorrência de chuvas o ar torna-se mais seco, ou seja, com menor quantidade de vapor de água, consequentemente, é a fase mais propícia à ocorrência de incêndios. Portanto, as atenções devem ser redobradas nestas épocas. 4.5.2. Umidade do Ar A umidade dos combustíveis mortos (ramos secos, árvores e arbustos mortos) está diretamente relacionada à umidade atmosférica. Quanto menor a umidade do material vegetal, maior é a facilidade deste entrar em combustão. A quantidade de vapor de água contida num certo volume de ar em relação ao mesmo volume de ar saturado é chamada de umidade relativa do ar. Quanto menor a umidade relativa do ar, mais seco é o ar e maior é grau de risco de incêndio na vegetação. 4.5.3. Temperatura do Ar A temperatura do ar está também relacionada à sua umidade relativa. Temperaturas elevadas tornam os combustíveis mais secos e suscetíveis de entrar em combustão. 4.5.4. Velocidade do Vento O vento é o responsável pela oxigenação da combustão e, consequentemente, intensifica a queima. É também o responsável pelo arrastamento de fagulhas que poderão provocar focos de incêndio a distâncias consideráveis e pela inclinação das chamas sobre outros combustíveis. Ou seja, o vento aumenta a velocidade de propagação porque fornece oxigênio para a combustão, transporta o ar aquecido, resseca os combustíveis e dispersa partículas em ignição. 4.5.5. Índices de Perigo de Incêndios As variáveis meteorológicas estão estreitamente relacionadas com o risco de incêndios, tanto que foram desenvolvidos métodos para determinar o grau de índice de risco ou de perigo em função das condições meteorológicas de um determinado dia e local. No Brasil, em 1972 o professor Ronaldo Viana Soares, desenvolveu a fórmula de Monte Alegre ajustadas às condições locais. Fórmula de Monte Alegre Onde: FMA = Fórmula de Monte Alegre Hi = umidade relativa do ar (%), medida às 13 horas n = número de dias sem chuva Dependo da quantidade de chuva do dia, devem ser feitas algumas alteração no valor de FMA. 5 )/100( 1 iHFMA n i ∑ = = Tabela 02. Condições para Alteração no Cálculo de FMA. Fonte: Soares &¨Batista (2007). Fórmula de Monte Alegre Alterada Desenvolvido através de dados da região central do Estado do Paraná, pelo pesquisador José Renato Soares Nunes em 2005, este índice, também acumulativo, tem como variáveis a umidade relativa do ar, e o vento medidos às 13 horas. A sua equação básica é a seguinte: Onde: FMA + = Fórmula de Monte Alegre Hi = umidade relativa do ar (%), medida às 13 horas n = número de dias sem chuva maior ou igual a 13 mm v = velocidade do vento em m/s, medida às 13 horas e = 2,718282 - base dos logarítmos naturais Geralmente os gráficos de riscos de incêndios ficam expostos em locais de grande tráfego, para alertar trabalhadores florestais e pessoas da comunidade, sobre o risco atual de incêndio nas imediações. Figura 03. Índice de Incêndios pela Fórmula de Monte Alegre (SOARES & PAEZ) Fonte :Ciências @ Tic (2010). Ou ainda, pode ser construído um mapa com os grau riscos de incêndios de vários pontos dentro de uma área (Figura 04). Figura 04. Mapa de Risco de Incêndios da Vila Mortágua- Portugal Fonte: Fileira Florestal (1997). 4.6 . COMPORTAMENTO DO FOGO NA VEGETAÇÃO O comportamento do fogo num incêndio é determinado conforme a combinação de quantidades e qualidade de elementos (condições de clima, relevo, vegetação e forma de ignição). Portanto, os incêndios são processos muito variáveis e distintos entre si, ou seja, nenhum incêndio é igual ao outro. As variáveis que são usadas para determinar o comportamento do fogo são: taxa de propagação ou velocidade do fogo; intensidade do fogo; energia liberada, tempo de residência; temperaturas atingidas nas zonas de combustão e altura de crestamento letal. 4.6.1. Taxa de Propagação É a medida linear ou da área em que o fogo atinge ou consome uma área de vegetação em função do tempo, o que determina a velocidade de propagação de um incêndio florestal. Com medidas pré-estabelecidas no terreno e a contagem do tempo em que o fogo ultrapassa cada marco no terreno, podemos determinar a velocidade em m/s ou km/h, pelo método direto. Alguns pesquisadores desenvolveram métodos indiretos, por meio de equações que estimam a taxa de propagação para um determinado tipo específico de vegetação em função de outras variáveis como velocidade do vento, altura da vegetação, umidade inicial do combustível, umidade relativa do ar, etc. A velocidade e direção do vento são fatores com elevada influencia na velocidade de propagação do fogo sobre uma área. 6 ∑ = + = n i v i eHFMA 1 04,0)/100( Tabela 03. Classificação da Velocidade de Propagação do Fogo de Botelho & Ventura (1990) Fonte: Soares e Batista (2007). 4.6.2. Intensidade do Fogo É a quantidade de calor energia ou calor liberado durante um período de tempo em uma área. É considerado um importante parâmetro para avaliar o comportamento do fogo. A intensidade é numericamente, segundo BYRAM (1959), igual ao produto da quantidade de combustível disponível pelo seu calor de combustão e pela velocidade de propagação do fogo, como mostra a equação. Fórmula de Byram: Onde: I = Intensidade de do fogo em kcal/m/s. H = Poder calorífico em kcal/kg (± 4000 Kcal/ kg) w = Peso do material combustível (kg/m²) r = taxa de propagação do incêndio (m/s) A estimativada intensidade do fogo pode também ser estimada em função da comprimento médio das chamas por meio da seguinte equação: Onde: I = intensidade do fogo em kcal/m.s. hc = comprimento das chamas em m Em queimas controladas é essencial sabermos a intensidade limite para evitar danos aos plantios. A intensidade máxima do fogo para um povoamento de Eucalyptus spp., fica em torno de 83 kcal/m/s. Em Pinus spp, o limite é aproximadamente de 132 kcal/m/s, sendo mais resistentes comparados ao eucalipto. devido à espessura da casca. Tabela 05 - Limites das intensidades para danos em povoamento de eucalipto. Tabela 04. Limites das Intensidades para Danos em Povoamento de Eucalipto Fonte: Soares e Batista (2007) 4.6.3. Altura de Crestamento Letal Apesar de partes da vegetação não serem atingidas totalmente e diretamente pelo fogo, a temperatura do ar, forma de condução de calor (convecção), a intensidade do fogo e a velocidade do vento podem causar aquecimento do ar superior e provocar a ocorrência de morte de algumas partes dos vegetais (folhas e galhos). A variável é importante para determinar os danos à vegetação e para a queima controlada. A medida do crestamento é feita por método indireto, por estimativa. Foram desenvolvidas equações baseadas em valores de intensidade do fogo , temperatura do ar e velocidade do vento. Ou, pela fórmula adaptada a temperatura do ar e velocidade do vento Onde: hs = altura de crestamento letal em metros; I = intensidade do fogo em kcal/m.s; V = velocidade do vento em m/s; T = temperatura do ar em °C; 4.6.4. Tempo de Residência O tempo de residência, ou o intervalo de tempo em que a frente de fogo permanece num determinado ponto, é também um importante componente do comportamento do fogo. Essa importância se deve ao fato de que os danos causados à vegetação dependem não apenas da 7 rwHI **= 17,2.08,62 chI = 3/2*385,0 Ihc = )60()*107,0( *94,3 2/13 6/7 TVI Ihs −+ = temperatura do fogo, mas também do tempo de exposição da vegetação a essa temperatura. O tempo de residência pode ser calculado através da velocidade de propagação do fogo e a profundidade (ou largura) da chama. Profundidade da chama é a distância horizontal entre as duas extremidades da chama. A relação é a seguinte: Onde: tr = tempo de residência em segundos; P = profundidade da chama em metros; r = velocidade de propagação do fogo em m/s. 4.6.5. Temperatura Letal Chama-se de temperatura letal para os tecidos das árvores aquela que provoca a sua morte. Ela é inversamente proporcional ao tempo de exposição àquela temperatura. Por outro lado, a quantidade de calor que chega ao câmbio é inversamente proporcional à espessura da casca e diretamente proporcional ao conteúdo de umidade da casca. De um modo geral, sabe-se que temperaturas de 60ºC provocam a morte do câmbio em dois a quatro minutos; a 65°C, a morte se dá em menos de dois minutos. Nelson, observando pinus, nos Estados Unidos, constatou a morte das acículas em seis minutos, com temperatura de 54°C; em 30 segundos a 60ºC; e instantaneamente, a 64ºC. A temperatura letal pode ser estimada pela seguinte expressão: Onde: T = temperatura letal (ºC) a e b = constantes ln = logarítimo natural t = tempo de exposição (min) 5. INCÊNDIOS FLORESTAIS 5.1. BIOMAS BRASILEIROS Figura 05. Localização e Distribuição dos Biomas do Brasil Fonte: IBGE Tabela 05. Áreas e Percentual de Ocupação dos Biomas no Brasil. Fonte: IBGE Segundo o IBGE, o Brasil é formado por cinco biomas principais, sendo eles: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Pampa e Áreas Costeiras. A distinção entre um bioma e outro é estabelecido conforme particularidades de sua formação, tais como tipo de vegetação, topografia e clima característico que permite a delimitação de áreas para cada bioma. 5.1.1. Bioma Amazônico Figura 06. Paisagem do Bioma Amazônico Fontes: SIPAM (2008). O bioma Amazônia caracteriza-se pela alternância entre áreas florestais com vegetação arbórea contínua de grande porte, com dossel florestal alto e fechado e áreas de floresta inundadas pelo pelos rios da bacia Amazônica - floresta de várzeas (alagada por um certo período do ano) e floresta de igapó (alagadas permanentemente). Devido a sua magnitude e biodiversidade, é possível encontrar parte de outros biomas dentro da área amazônica, tais como cerrado, campos e floresta semi-decidual, além das regiões de transição com outros biomas. O clima da região é peculiar por apresentar o período da estação chuvosa e a estação seca, sendo constantemente quente e úmido. A Amazônia compreende em área os Estados do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Amapá, Tocantins, e parte do Maranhão e Mato Grosso, além de estender-se a outros oito países da América Latina. 8 r ptr = )ln(* tbaT −= Os incêndios florestais tropicais representam um dos principais elementos de degradação do bioma Amazônia, e têm sido cada vez mais frequentes e abrangentes na região devido a fragmentação da paisagem pela agricultura e pecuária e a intensidade da extração madeireira. Na Amazônia, de acordo com o Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia – IPAM (2003), a pecuária e a agricultura de corte e queima são dependentes do fogo como instrumento de manejo. No entanto, este mesmo fogo frequentemente foge do controle e atinge áreas não destinadas à queima. Segundo Hansing (2007), uma floresta como a amazônica, fechada aos raios do sol, em princípio não é afetada por fogo. Primeiro, porque abaixo do teto de sua vegetação a temperatura ambiente é 3 a 4ºC menor que a temperatura ambiente a céu aberto; segundo, porque devido a alta umidade existente na vegetação, o fogo não tem como progredir. A remoção da densa centenária e alta camada vegetal com auxílio do fogo, uma operação rotineira, ateado na borda da floresta durante a época seca, como é costume, causará migração de nutrientes da vegetação preexistente para a terra. Mas eles não permanecerão lá, sendo levados pelo vento e água da chuva que fatalmente se seguirão ao incêndio, até porque o incêndio propiciará a formação de compostos orgânicos hidrófobos que, entrando no terreno, causarão uma repelência do terreno à água. Mesmo assim, alguma quantidade de nutrientes permanecerá no lugar, mas não tanta quanto o cálculo de conversão direta determinaria se todos os nutrientes permanecessem no local. Também, a remoção de alta vegetação para abertura de estradas de comunicação para transporte das grandes árvores removidas, permitirá a penetração de raios solares, causando a desumidificação do solo aumentando, progressivamente, as áreas devastadas. O fogo na floresta explorada causa a perda de madeiras de valor que poderiam ser aproveitadas em colheitas futuras. Pesquisas realizadas pelo IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) constataram que incêndios na floresta explorada, geralmente, provocam a morte de 45% das árvores remanescentes com DAP (Diâmetro a Altura do Peito) maior que 10 cm durante um período de um ano e meio após o fogo. Além disso, incêndios na mata podem destruir as mudas de espécies comerciais (regeneradas naturalmente ou plantadas) e, assim, afetar a capacidade produtiva da floresta. Após o fogo, a regeneração predominante é formada por árvores pioneirassem valor econômico, por exemplo, a embaúba (Cecropia sp.) e o lacre (Vismia sp.) (OMF, 2010). 5.1.2. Bioma Cerrado Figura 07. Paisagem do Bioma do Cerrado Fonte: Ministério Público do estado de Goiás (2009). A área do Cerrado está presente principalmente na região central brasileira, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal, abrangendo 196.776.853 ha. Há outras áreas de Cerrado, chamadas periféricas ou ecótonos, que são transições com os biomas Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga. Sob o ponto de vista fisionômico temos: o cerradão, o cerrado típico, o campo cerrado, o campo sujo de cerrado, e o campo limpo que apresentam altura e biomassa vegetal em ordem decrescente. O cerradão é a única formação florestal. O Cerrado típico é constituído por árvores relativamente baixas (até vinte metros), esparsas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e uma vegetação baixa constituída, em geral, por gramíneas. Assim, o Cerrado contém basicamente dois estratos: um superior, formado por árvores e arbustos dotados de raízes profundas, situado entre 15 a 20 metros; e um inferior, composto por um tapete de gramíneas de aspecto rasteiro, com raízes pouco profundas, Na época seca, este tapete rasteiro parece palha, favorecendo, sobremaneira, a propagação de incêndios. A morfologia da vegetação típica de Cerrado é de árvores com troncos tortuosos, de baixo porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os estudos efetuados consideram que a vegetação nativa do Cerrado apresenta, devido a fatores edáficos (de solo), como o desequilíbrio no teor de micronutrientes e a não-ocorrência de falta de água, em média 1500 mm anual de precipitação e ainda ali se encontra uma grande e densa rede hídrica (IBAMA, 2010) O bioma Cerrado é muito susceptível ao fogo, devido está geralmente distribuído em regiões de clima seco e quente, de estações bem definidas entre seca e chuvosa. O acúmulo anual de biomassa seca, de palha, acaba criando condições tão favoráveis à queima que qualquer descuido com o 9 uso do fogo, ou a queda de raios no início da estação chuvosa, acabam por produzir incêndios (COUTINHO, 2010). Do ponto de vista ecológico, o fogo sempre fez parte da natureza do cerrado e portanto é um ambiente adaptado a esta condição, devido as características de sua vegetação como maior espessura das cascas das árvores, tortuosidade do tronco e profundidade das raízes, e ainda a capacidade de sementes e brotos germinarem logo após o queima. 5.1.3. Bioma Caatinga Figura 08. Paisagem do Bioma Caatinga Fonte: Caatinga do Piauí (2006). Segundo Castro e Costa (2006) o bioma da Caatinga cobre aproximadamente 10% do território nacional e é um ecossistema exclusivamente brasileiro. Formada por diversas composições florísticas adaptadas ao clima semi- árido. Está presente na região do semi-árido nordestino e nas regiões extremo norte de Minas Gerais e Sul dos Estados do Maranhão e Piauí. Logo, é típica de regiões com baixo índice de chuvas (presença de solo seco). A Caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas (espécies caducifólias), além de muitas cactáceas. Apresenta três estratos: arbóreo (oito a 12 metros), arbustivo (dois a cinco metros) e o herbáceo (abaixo de dois metros). Contraditoriamente, a flora dos sertões é constituída por espécies com longa história de adaptação ao calor e à seca. O aspecto geral da vegetação, na seca, é de uma mata espinhosa e agreste. Algumas poucas espécies da Caatinga não perdem as folhas na época da seca. Entre essas destaca-se o juazeiro, uma das plantas mais típicas desse ecossistema. Ao caírem as primeiras chuvas no fim do ano, a Caatinga perde seu aspecto rude e torna-se rapidamente verde e florida. Além de cactáceas, como Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereu (xiquexique), a Caatinga também apresenta muitas leguminosas (mimosa, acácia, emburana, etc.). Algumas das espécies mais comuns da região são a emburana, a aroeira, o umbu, a baraúna, a maniçoba, a macambira, o mandacaru e o juazeiro. No meio de tanta aridez, a Caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas, é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos (AMBIENTE BRASIL, 2010). Quanto aos incêndios em áreas de caatinga, no período seco, a perda das folhas reduz o material combustível e a inflamabilidade da parte lenhosa é pequena. No período das chuvas, as plantas tornam-se verdes e com grandes quantidades de água em seus tecidos, o que diminui a susceptibilidade ao fogo. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2010) As maiores dificuldades estão atreladas à exploração dos recursos naturais na região ser bastante extensa, com a retirada de madeira, inclusive em Áreas de Proteção Permanente (APPs), e uso indiscriminado do fogo para preparo do solo, prática secular a qual existe uma dificuldade na erradicação (CASTRO e COSTA, 2006). 5.1.4. Bioma Mata Atlântica A Mata Atlântica (Fig. 09) é o bioma mais rico em biodiversidade do planeta. Ao todo, são 1.300.000 km², ou cerca de 15% do território nacional, englobando 17 Estados brasileiros, atingindo até o Paraguai e a Argentina. , sendo que 93% de sua formação original já foi devastado. As formações do bioma são as florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista (Floresta com araucária), Estacional Semidecidual e Estacional Decidual e os ecossistemas associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e ilhas costeiras e oceânicas. (SOS Mata Atlântica). Figura 09. Paisagem do Bioma Mata Atlântica Fonte: Instituto Onça-Pintada (2010) 10 Conforme a descrição de Carvalhal et al., (2010), a floresta pode ser dividida em três estratos. O estrato superior é chamado de dossel (20-30 m), que é composto pelas árvores mais altas, adultas, que recebem toda a intensidade da luz solar que chega na superfície. As copas destas árvores formam uma espécie de mosaico, devido à diversidade de espécies. As árvores do interior da floresta fazem parte do estrato arbustivo, formado por espécies arbóreas que vivem toda a sua vida sombreadas pelas árvores do dossel. O estrato herbáceo é formado por plantas de pequeno porte que vivem próximas ao solo, como é o caso de arbustos, ervas, gramíneas, musgos, selaginelas e plantas jovens que irão compor os outros extratos quando atingirem a fase adulta. A luminosidade é reduzida no interior da mata, por ser filtrada pelo dossel. As plantas dos extratos inferiores normalmente possuem folhas maiores, para aumentar a superfície de captação de luz. A perda de folhas, dirigindo um maior gasto de energia para o crescimento do caule e este, sendo fino e longo, também parece ser uma estratégia para a planta alcançar o dossel e consequentemente, mais luz. Em regiões de floresta atlântica onde o índice pluviométrico é maior, tornando o ambiente muito úmido, é favorecida a existência de briófitas (musgos) e pteridófitas (samambaias, por exemplo). Entretanto, para outras plantas, o excesso de umidade pode ser prejudicial e suas folhas, muitas vezes,apresentam adaptação para não reterem água, sendo inclinadas, pontiagudas, cerificadas e sulcadas, facilitando o escoamento da água, evitando o acúmulo, que poderia causar apodrecimento dos tecidos. Assim como o bioma amazônico, a mata atlântica não é um ambiente naturalmente adaptado ao fogo, devido a sua umidade e clima. Porém, devido ao maior contingente populacional e obras de infra-estrutura, tais como, redes elétricas e rodovias em grande quantidade localizadas nesta área, são comuns incêndios florestais de causas antrópicas, tanto acidentais como intencionais. 5.1.5. Bioma Pantanal Figura 10. Paisagens do Bioma Pantanal Fonte: Instituto Onça-Pintada (2010). 5.1.6. Bioma Pampa O Bioma Pampa ou Campo Sulino (IBAMA), são campos naturais que ocorrem no Rio Grande do Sul, atingindo o Uruguai e a Argentina. A vegetação campestre, compostas predominantemente por plantas herbáceas, mostra uma aparente uniformidade, apresentando nos topos mais planos um tapete herbáceo baixo – de 60 cm a um metro, ralo e pobre em espécies, que se torna mais denso e rico nas encostas. Também ocorrem formações campestres e florestais de clima temperado, como florestas com araucárias ou pinhais (IBAMA, 2009). É muito comum na região, a utilização desta vegetação como suporte alimentar para a produção pecuária, devido à diversidade de plantas com alto valor forrageiro existentes neste bioma ou pastos de gramíneas (TERRA e SALDANHA, 2007) O fogo não faz parte da ecologia dos pampas, porém é tradicionalmente usado como ferramenta de manejo de pastos naturais para a renovação ou limpeza de área para replantio. Segundo estudos, esta prática prejudica as características nutricionais de solos de pampas, porém favorece a germinação de algumas forrageiras e é economicamente viável. Em campos de gramíneas observa-se que quando as queimas são de pequena intensidade, as perdas do solo são mínimas (exceto em solos arenosos), pois este tipo de formação vegetal tem como principal característica um sistema radicular bem desenvolvido, que em pequenas queimas é pouco afetado (LPF,2010). Figura 11. Paisagens do Bioma Pampa Fonte: Funpar (2008). 5.2. FLORESTAS PLANTADAS A crescente demanda por madeira de plantios homogêneos de rápido crescimento, bem como a necessidade de proteção às florestas nativas, alavancou o desenvolvimento da base florestal no Brasil fundamentada principalmente em florestas plantadas. O eucalipto e o pinus, espécies exóticas, ou seja, àquelas que não são nativas do Brasil, 11 demonstraram grande versatilidade, adaptando-se muito bem às condições brasileiras. Conforme os dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF), o pinus e eucalipto correspondem às principais espécies plantadas no país (Tab. 07). Tabela 06. Principais Essências Florestais plantadas em Escala Comercial no Brasil Fonte: ABRAF (2009). 5.2.1. Pinus spp. As árvores do gênero Pinus são coníferas originárias do Hemisfério Norte (Fig. 12). Os primeiros plantios foram estabelecidos no Brasil durante a época dos incentivos fiscais, a partir dos anos 60 nas regiões Sul e Sudeste. Atualmente, com a introdução de diversas espécies, principalmente das regiões tropicais, a produção de madeira de pinus tornou-se viável em todo o Brasil, constituindo uma importante fonte de madeira para usos gerais, englobando a fabricação de celulose e papel, lâminas e chapas de diversos tipos, madeira serrada para fins estruturais, confecção de embalagens, móveis e marcenaria em geral (EMBRAPA FLORESTAS, 2003) Figura 12. Pinus spp. Fonte:Botany Photo of the day (2005). As coníferas são mais suscetíveis a incêndios do que espécies folhosas. A rápida e intensa propagação do fogo é devido a presença de substâncias (resinas e óleos) de elevada inflamabilidade nas acículas e casca, além da deposição de material combustível no piso da floresta. O incêndio de copa desenvolve-se especialmente em povoamentos de coníferas, embora existam também algumas espécies de folhosas com folhagem inflamável e por esta razão, também sujeitas a incêndios de copas. Devido à suscetibilidade de povoamentos de pinus ao fogo, o manejo dos mesmos é muito importante. O material combustível do piso florestal deve ser mantido sempre reduzido por intermédio de limpezas e queimas controladas, além da poda, construção de aceiros e outras obras de infra-estrutura para apoiar ações de controle de incêndios. Apesar de serem mais suscetíveis ao incêndio, as coníferas são mais resistentes à ação do fogo, por apresentarem cascas mais espessas que as folhosas (FIRELAB-UFPR, ANO?) 5.2.2. Eucalyptus spp. O eucalipto é uma folhosa de ocorrência natural na Austrália, Indonésia, Nova Guiné e Timor (Fig. 13) (VIANA, 2005). Ele foi introduzido no Brasil com o objetivo de suprir as necessidades de lenha, postes e dormentes das estradas de ferro na região Sudeste. Na década de 50 passou a ser produzido, como matéria prima, para o abastecimento das fábricas de papel e celulose (EMBRAPA FLORESTAS, 2003). Figura 13. Eucalyptus spp. Fonte: STCP (2006). O eucalipto tem certa resistência ao fogo devido às características do material combustível existente no sub-bosque e da própria árvore, onde é 12 difícil o fogo subir até as copas. Isto não significa que as copas não possam queimar, pois um fogo intenso poderá secá-las através do calor irradiado e num segundo estágio destruí-las por completo. Segundo Soares (2007), o eucalipto, apresenta características de resistência ao fogo, uma delas é a folhagem pouco inflamável e o fato de grande parte dos incêndios serem superficiais. Estes são mais facilmente combatidos em virtude da menor velocidade de propagação. 5.3. CAUSAS DE INCÊNDIOS FLORESTAIS Para efeito de estudos, é muito importante saber quem ou o quê causou o incêndio florestal. Estas causas são de caráter muito variável, sendo o seu conhecimento básico para a elaboração de planos de prevenção. Ainda hoje o Brasil não possui uma estatística confiável que permita o conhecimento das principais causas dos incêndios nas diversas regiões do país. É de extrema importância, portanto, que os órgãos competentes e mesmo as empresas florestais que possuam reflorestamentos, mantenham um banco de dados das ocorrências e causas dos incêndios florestais, para que sejam tomadas medidas concretas de proteção através da elaboração de planos de prevenção. Torna-se necessário, para efeitos estatísticos, então estabelecer um padrão destas causas, para ser usado em todo o país. Schumacher et al. (2005) sugerem uma classificação a ser adotada em todo o Brasil, por ser completa é a descrita abaixo. 5.3.1. Raios São incêndios causados direta ou indiretamente, por descargas elétricas. São os únicos que não constituem responsabilidade humana, sendo, portanto, sua prevenção praticamente impossível. Em certas regiões (Noroeste dos EUA) esta causa pode atingir grande ação destrutiva. No Brasil não são muito comuns em virtude das tempestades serem acompanhadas de precipitação. Porém já ocorreram, focos iniciais de incêndios por raios, focos estes, que foram prontamente debelados, pois foram descobertos no dia seguinte à tempestade e não haviam se propagado ainda, em virtude da umidade do material florestal.
Compartilhar