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POLÍTICAS PÚBLICAS VERSUS CULTURAS SOCIAIS

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POLÍTICAS PÚBLICAS VERSUS CULTURAS SOCIAIS: UMA BREVE EXPOSIÇÃO DE UMA UNIDADE SOCIOEDUCATIVA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Diego Felipe Muniz Garcia
Graduando em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense
diegoarqmuniz@hotmail.com
Categoria: Práticas educativas escolares
RESUMO: 
O trabalho insere-se no eixo temático “práticas educativas escolares” ao descrever parcial e individualmente os resultados angariados na posição de graduando colaborador para a pesquisa de pós-doutorado do Prof. Dr. Jonas Alves da Silva Junior intitulada “GÊNERO, SEXUALIDADES E MASCULINIDADES EM INSTITUIÇÕES SOCIOEDUCATIVAS” realizada em uma unidade provisória de privação de liberdade. Nosso objetivo é tentar, brevemente, descrever como certos aspectos e comportamentos socioculturais dos agentes envolvidos no universo socioeducativo acabam distanciando das práticas efetivas todo o conjunto de normas legais instituídas e empenhadas a dar condições básicas de convivência e ressocialização aos menores em conflito com a lei em respeito a seu gênero e sua orientação sexual. A metodologia adotada estará pautada em análise qualitativa ao tratamento dos dados obtidos na pesquisa exploratório-descritiva. Espera-se que o trabalho ofereça subsídio às reflexões no que tange ao sistema socioeducativo e às políticas públicas em vigor ao regime de socioeducação. 
Palavras-chave: Gênero; Violência Sexual; Socioeducação; Religião; Novo DEGASE.
INTRODUÇÃO
 
Buscamos empreender o nosso produto de pesquisa dentro de um nicho limitado como referência teórica e, para isso, apoiamo-nos basicamente em Foucault (1987; 2005). Em suas recheadas discussões políticas, claramente percebe-se o compromisso ao tratar do controle social promovido por frações de uma hegemonia dominante que, segundo COSTA (2004), ora exerce o seu poder através de aparelhos disciplinares, ora por meio da criação de um tipo (novo) de comportamento.
Os comportamentos, por sua vez, caracterizados quase sempre através de modelos, parecem tão mais agressivos quando são desenhados por instituições públicas que deveriam respeitar em sua essência o caráter máximo da diversidade já que estão servindo não só a um ou outro sujeito, mas ao coletivo, à comunidade. As instituições sociais (a família, a escola, a igreja etc.) não só desenham o padrão social definido dada sua individual inserção social, mas, também, acabam comprometidas a negar qualquer tipo de (re)desenho que seja apresentado como possibilidade – no que tange ao campo da diversidade sexual e/ou de gênero, por exemplo, este (re)desenho é taxado muitas vezes como crime, como doença e/ou “certa” vertigem espiritual. 
O trabalho insere-se no eixo temático “práticas educativas escolares” ao descrever parcial e individualmente os resultados angariados na posição de graduando colaborador para a pesquisa de pós-doutorado do Prof. Dr. Jonas Alves da Silva Junior intitulada “GÊNERO, SEXUALIDADES E MASCULINIDADES EM INSTITUIÇÕES SOCIOEDUCATIVAS” em realização em suas unidades do NOVO DEGASE. Nosso objetivo é tentar, brevemente, descrever como certos aspectos e comportamentos socioculturais dos agentes envolvidos no universo socioeducativo acabam distanciando das práticas efetivas todo o conjunto de normas legais instituídas e empenhadas a dar condições básicas de convivência e ressocialização aos menores em conflito com a lei em respeito a seu gênero e sua orientação sexual. A metodologia adotada estará pautada em análise qualitativa ao tratamento dos dados obtidos na pesquisa exploratório-descritiva. Espera-se que o trabalho seja mais um colaborador às reflexões no que tange o sistema socioeducativo e às políticas públicas em vigor ao regime de socioeducação. 
OBJETIVOS 
A tentativa do trabalho é evidenciar, de maneira restrita ao tratamento do gênero e das sexualidades, como certos aspectos e comportamentos socioculturais dos agentes envolvidos no universo socioeducativo, seja por insuficiência no reconhecimento às políticas públicas existentes e/ou seja, pelo cumprimento dos protocolos criados pelos “usuários” deste mesmo sistema, acabam distanciando das práticas efetivas todo o conjunto de normas legais instituídas e empenhadas a dar condições básicas de convivência e ressocialização aos menores em conflito com a lei. 
 
METODOLOGIA 
O percurso metodológico do trabalho em questão pretendeu dialogar entre os campos das análises quantitativas em se tratando da coleta de dados obtidos através do questionário semiestruturado proposto e, para o tratamento destes dados, nos debruçamos em análises qualitativas segundo apoio oferecido dado o referencial teórico adotado e a sua aproximação com o tema.
Os dados obtidos através da pesquisa exploratória encaminhada pela etapa do projeto de pós-doutorado ao qual estamos inseridos permitiu-nos enumerar, classificar e, de certa forma, medir alguns indicadores inerentes a frações das políticas públicas regenciais aos sistemas de socioeducação. Por outro lado, as exposições qualitativas tentam em si mostrar o que acontece e como estão acontecendo no âmbito das unidades socioeducativas as referidas políticas públicas versus as culturas sociais brevemente discutidas no bojo deste limitado e não esgotado ensaio. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
A Lei Nº 12.594, de 18 de Janeiro de 2012, é a responsável por, dentre outras, ter instituído “o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e” regulamentado “a execução das medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional” (BRASIL, 2012); “o SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa” (BRASIL, 2006); e, por fim, “o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069/1990, reconhecido internacionalmente como um dos mais avançados Diplomas Legais dedicados à garantia dos direitos da população infanto-juvenil” (DIGIÁCOMO, 2013).
De certa forma, tomando como parâmetro apenas o conjunto de normas teóricas específicas em relação ao sistema nacional de unidades socioeducativas, algumas das mais consagradas tendo sido expostas no parágrafo anterior, talvez fosse possível visualizar um sistema bem articulado, eficiente e/ou eficaz e humanizado. No entanto, dialogar em consonância com os textos normativos (leis, regimentos internos, estatutos etc.) pode não ser tão simples como seguir a um texto injuntivo. Deveria se considerar, especificamente em casos que discutem o sistema socioeducativo, uma série de fatores que estão para além dos textos quando tratamos do cumprimento ou não de certos deveres referentes ao tema em questão: corrente político-ideológica, crenças, estímulos e condicionantes socioculturais, formação/capacitação profissional e, principalmente, as relações de poder distribuídas no convívio.
Na unidade em questão, popularmente conhecida por ser uma das unidades socioeducativas mais violentas no Estado do Rio de Janeiro – e do país –, mudou-se o nome, o modo de funcionamento, parte dos agentes e, mesmo assim, parece que pouco mudou no que diz respeito à ressocialização daqueles que passam por ali, mesmo que tal violência não seja mais tão evidente. Além de indicadores que apontam grande parte dos jovens como reincidentes ao sistema socioeducativo e, posteriormente, sendo eles parte dos adultos que acessam o sistema prisional pelo cometimento de crimes, estamos usando como análise os discursos dos agentes entrevistados e/ou que responderam ao questionário semiestruturado.
Fragilidades e indeterminações no “sistema” acentuam-se quando o assunto se refere aos campos do gênero e da sexualidade que, como percebemos, é tratado à distância pelos responsáveis à socioeducação. Aqui, apontamos três principais questões: o “sistema” segue o pouco desdobramento promovido pelas políticas públicas vigentes; os padrões sociais hegemônicos em relação ao gênero e às sexualidades são constantementereproduzidos pelos agentes socioeducativos das diversas áreas; e, por último, também representando o padrão hegemônico em relação ao gênero e à sexualidade, o cumprimento de um regimento supervalorizado por facções criminosas às quais se identificam/afeiçoam os jovens. 
Não obstante, verificou-se que os agentes socioeducativos pouco sabem da existência do SINASE quando disposto ao tratamento das questões relacionadas ao gênero e a sexualidade – em alguns casos, relataram não ter nenhum tipo de conhecimento, mas, mesmo assim, se disseram aptos a trabalhar com o tema na socioeducação. Não é apenas uma contradição tal fato, ao contrário, é a transparente exposição de que o tema ainda é tratado como um assunto sem o seu devido valor, pois, muito provavelmente não responderiam da mesma maneira se fossem perguntados da aptidão em trabalhar questões da eletromecânica ou da física nuclear. A subalternização do tema gênero e sexualidade nas unidades socioeducativas são o reflexo de todo um empreendimento social que veicula livremente todos os dias através das mídias sociais, dos “instrumentos da sociedade disciplinar” (FOUCAULT, 2005), das heranças culturais machistas, homofóbicas e sexistas, ambas formando um conjunto de (re)criações peculiares à cada período histórico.
Por fim, ainda em conflito à legislação vigente, ressalta-se a existência de um código demasiado sofisticado pertencente aos jovens e suas culturas e que, por sua vez, acaba sendo adotado pelo “sistema” (pela unidade socioeducativa) com a justificativa de que tal postura é necessária à “harmoniosa manutenção da paz e da tranquilidade dos internos”. Além da segregação social percebida de acordo com a facção criminosa a qual este menor diz fazer parte – geralmente relacionada à periferia na qual ele vive e/ou tem origem –, existe a segregação social proposta pela orientação sexual e/ou identidade de gênero, evento que separa dos demais jovens “aqueles que apresentam em suas feições características afeminadas”. Novamente é repetida a justificativa: “São medidas de seguranças, pois, os outros jovens não os aceitam no convívio”. 
 
CONCLUSÕES
Como conclusão do presente trabalho, tal qual anteriormente já se apresentou como insuficiente e não exaustivo, reforçamos que é necessário e urgente o aprofundamento nas discussões acerca do tema gênero e sexualidade no âmbito de todos os níveis da educação. O apelo não se justifica pela aderência particular ao tema, ao contrário, justifica-se na própria realidade social que vem se tornando mais violenta de acordo com o tempo, sobretudo àqueles (as) que apresentam em si modos diferentes dos socialmente normatizados.
Reforça-se, também, que a pesquisa raiz na qual estamos inseridos segue o seu percurso empenhada em coletar o maior número de dados possíveis para que, assim, seja possível uma elucidação mais clara acerca das dúvidas que este humilde texto deixou em aberto. Certamente pela ausência de espaço, não nos coube trazer aqui um possível método salvacionista ao sistema socioeducativo, ao sistema educacional, quiçá ao modo de se fazer pesquisa, em contrapartida, nos coube trazer como indignação o conflito entre as políticas públicas existentes versus o modo de se fazer valer tais políticas por interesses próprios e/ou de pequenos grupos.
Esperamos, mesmo que minimamente, que o trabalho possa ser usado ao menos como referencial no que tange o sistema socioeducativo e suas particularidades, certamente tendo em vista que o acesso ao sistema incorre de um processo demorado, burocrático/metódico e cheio de dificuldades.
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90). Brasília, 13 de julho de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 09 jun. 2017. 
__________. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Lei 12.594/12). Brasília, 18 de janeiro de 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 09 jun. 2017.
COSTA, R. Sociedade de Controle. São Paulo em Perspectiva, 18(1): 161-167, 2004.
DIGIÁCOMO, M. J. Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado / Murillo José Digiácomo e Ildeara Amorim Digiácomo.- Curitiba. Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2013. 6ª Edição.
FAZENDA, I. Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 2010.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 19ª ed. Petrópolis: Vozes, 1987. 
__________. Diálogo sobre o poder. In FOUCAULT, Michel. Estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 253-266. 
__________. História da sexualidade 1: A vontade de saber. 16ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2005.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
UNICEF. Coordenação Nacional de DST/Aids. Sem prazer, sem afeto: sexualidade e prevenção às DST/Aids nas instituições de privação de liberdade de adolescentes. Brasília, 2002. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pol/sprazer_safeto.pdf. Acesso em: 09 jun. 2017.

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