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Fundamentos e Metodologias para Aquisição da Linguagem Oral e Escrita Profª Viviane Schueda Stacheski Aula 1 Psicolinguística O termo, que começou a ser usado em 1950, indicava um interesse pelos métodos linguísticos para descrever a produção dos usuários da linguagem; em especial, a análise estrutural em unidades linguísticas P Objetivo da psicolinguística “Estudar as relações entre a mensagem pronunciada por um sujeito A e o modo pelo qual é percebida por um sujeito B, que só retém uma parte dos elementos dessa mensagem.” (Jean-Yvon Lanchec) -A competência linguística de um locutor possibilita a criação de todas as frases da língua 5 A -teoria chomskyana defende que a linguagem é um comportamento humano mais complexo do que era considerado, superando a tentativa de supersimplificação das regras gerativas da linguagem -6 Toda revolução da psicologia iniciou com as ideias gerativistas e transformacionalistas de Chomsky 109 7 “A pesquisa psicolinguística baseia-se no pressuposto de que as gramáticas (gerativas) descrevem a competência linguística de quem usa uma determinada língua.” O pensamento e a linguagem A percepção Os conceitos Os símbolos O pensamento e a linguagem 9 Em seu livro, Metodologia da Linguagem, J. Budin ensina: “Há inúmeras experiências cujo objetivo é conhecer a extensão das representações mentais infantis (...) 109 10 (...) Podem ser apresentados à criança objetos e figuras a fim de verificar se ela sabe dar-lhes nomes.” 11 “Os conhecimentos de um escolar são, em regra, maiores do que sua capacidade de exprimi-los verbalmente.” 109 12 O desenvolvimento perceptivo, relacionado ao desenvolvimento motor, mostra que, por volta dos dois meses, uma criança revela interesse pela voz humana 13 Perto do sexto mês, ela faz distinção entre uma voz amistosa e uma reprovadora Aos nove meses, a criança demonstra capacidade de selecionar as palavras ditas pelos adultos que mais chamam sua atenção Generalização Todas as coisas vindas através dos sentidos ou da manipulação revelam-se úteis à formação de conceitos. No começo, qualquer homem é “papai”; qualquer mulher, “mamãe” Diferenciação Os conceitos se “baseiam em imagens verbais e representam generalizações que contêm elementos essenciais e constantes.” Diferenciação 16 “Todo indivíduo tem tendência a reorganizar suas percepções em um conjunto bem estruturado.” Gestalt Princípio fundamental: “uma forma é algo mais amplo do que a soma de suas partes e a cadeia falada /la bi al/, por exemplo, é percebida como um conjunto diferente de /l+a+b+i+a+l/ (...) Gestalt 18 O encadeamento dos fonemas modifica foneticamente cada um dos elemento 19 “A memória está igualmente ligada à linguagem, pois o adulto só se lembra dos fatos que ocorreram depois que aprendeu a falar.” (Budin) 20 Sendo a linguagem uma forma simbólica de exprimir os pensamentos, quais fenômenos mentais poderão ocorrer que não estejam relacionados com a linguagem e até mesmo dependentes dela? O pensamento e a linguagem Ao definir pensamento como atividade consciente, pode-se observar que ele existe completamente independente da linguagem Exemplos: música e quebra-cabeça O pensamento e a linguagem 22 Uma experiência muito comum, que prova a existência do pensamento sem a linguagem, é quando queremos exprimir uma ideia e não conseguimos encontrar a maneira satisfatória de transformá-la em palavras Palavras “São adequados envoltórios do pensamento que abrangem milhares de experiências diversas e são capazes, ainda, de englobar milhares de outras.” Palavras 24 Pensamos por meio de símbolos que constituem conceitos, utilizando aqueles que são familiares e adequados a cada situação (...) 25 (...) Os mais empregados são as palavras, preciosas na intercomunicação. Pensamos, em geral, por meio de palavras, mas também usamos símbolos matemáticos, cores, linhas... 26 Piaget defende ser graças à linguagem que a criança evoca situações passadas, libertando-se das fronteiras do espaço próximo e presente 27 Os objetos não são mais atingidos em sua condição imediatista perceptiva, mas inseridos num quadro racional que enriquece a possibilidade de seu conhecimento 28 As leis que regem o pensamento individual e produzem a atitude analógica são responsáveis pelo desenvolvimento do simbolismo através do qual se exterioriza a linguagem 29 Na maioria das civilizações, dá-se valor extraordinário à verbalização como forma de simbolização dos fenômenos que se processam na mente 30 A educação coletiva tende a forçar o pensamento a se sujeitar constantemente aos quadros das construções gramaticais 31 Não há quase dúvida de que as diferenças lexicais têm algum efeito no pensamento, pelo menos no sentido de ser mais fácil pensar sobre coisas para as quais temos palavras 32 Piaget pensava de modo semelhante, bastante tempo antes de Chomsky se lançar como luminar da teoria gerativistatransformacional, quando escreveu que (...) 109 33 (...) “a linguagem estende indefinidamente o poder do pensamento e lhe confere uma mobilidade que ele não poderia atingir por si mesmo, mas ela não é a sua fonte.” 34 E acrescenta: “Entre a linguagem e o pensamento existe, assim, um círculo genético tal que um dos dois termos se apoia, necessariamente, sobre o outro numa formação solidária e numa perpétua ação recíproca (...) 35 (...) “Mas ambos dependem, no final de contas, da própria inteligência, que é anterior à linguagem e independente dela.” Ver... 36 “O pensamento deve ser verbal para poder comunicar-se. ” Usos e funções da linguagem A importância da linguagem na organização da conduta e no desenvolvimento da criança: Usos e funções da linguagem 38 1. A influência é feita de fora para dentro, normalmente pelos pais, através da linguagem 2. Passa a se projetar de dentro para fora, ou seja, pela própria criança 39 a) Uso afetivo b) Uso lúdico c) Uso prático d) Uso representativo e) Uso dialético Uso afetivo: é o mais primitivo e o mais consolidado dos usos da linguagem. Tem origem na expressão espontânea das emoções e também nos gestos pelos quais se preparam e esboçam as ações b. Uso lúdico: decorre de emissões sonoras vinculadas aos estados de satisfação ou de calma, caracterizando-se por repetições ritmadas 109 42 Vincula-se às lalações Em seguida, revelam as funções lúdicas através dos trocadilhos, dos chistes etc. c. Uso prático: define a linguagem que tem por fim facilitar a ação em processo de desenvolvimento, quer se trate de crianças brincando, de soldados numa ação militar ou de homens impulsionando em grupo algo demasiado pesado d. Uso representativo: nós ultrapassamos um limiar importante, pois que abandonamos o domínio da linguagem determinada pelo estado afetivo do momento para ingressarmos pela situação concreta (...) 109 45 (...) Entramos, então, em uma área particularmente artificial, onde se impõe ter-se presente, na imaginação, aquilo que está ausente e onde é necessário supor situações que existem. Ver... 109 46 e. Uso dialétic e. Uso dialético: pode ser entendido como um uso formal que não se destina tanto à descrição ou ao relato quanto a fazer e a desfazer combinações simbólicas Os conteúdos aos quais o sistema de signos pode ser aplicado são indiferentes Competência e desempenho Competência: considerada área de interesse da linguística Desempenho: considerado área de interesse da psicologia Fonte: Judith Greene Competência e desempenho 48 A competência referese à linguagem no sentido do que constitui a capacidade para falar uma língua O desempenho referese às expressões produzidas pelos usuários da língua 49 A questão é que nem sempre existe uma correspondência exata entre as expressões de um locutor e as regras da língua 109 50 Uma língua é um conjunto abstrato de regras psicológicas que constituem a competência de uma pessoa como falante A competência linguística precede o desempenho linguístico 51 Uma pessoa que aprendeu uma língua adquiriu um sistema de regras que relaciona som e significado de um modo específico.Ou seja, ela adquiriu uma certa competência que coloca em uso na produção e compreensão da fala (Chomsky) 52 As regras gerativas são as da gramática gerativa da língua do falante. Ter competência linguística é dominar as regras gramaticais de qualquer língua humana 53 É fundamental distinguir a estrutura de uma língua e a maneira como é usada. No que diz respeito ao falante, refere-se à distinção entre sua competência linguística e seu desempenho linguístico A aquisição e o desenvolvimento da linguagem Seria muito bom se todos os que atuam nas séries primárias, em especial na Educação Infantil, tivessem noção do aspecto do desenvolvimento da criança A aquisição e o desenvolvimento da linguagem 109 55 Até hoje não se tem uma explicação clara sobre a aquisição da linguagem, mas duas teorias se destacam: nativismo e empirismo O nativismo dá grande importância ao poder inventivo da criança b) O empirismo declara que a linguagem infantil se forma pela imitação 57 Uma terceira teoria admite uma atividade congênita, instintiva, involuntária e ancestral, sem a qual não pode haver imitação O conteúdo das expressões verbais estaria condicionado à imitação, sem deixar de lado a espontaneidade 58 As crianças mostram uma habilidade surpreendente para falar com fluência qualquer língua constantemente usada ao seu redor. Toda criança normal, que não seja isolada do uso 59 Merleau-Ponty afirmava que “toda linguagem é maternal. Tal como as relações da criança com sua mãe, também a aquisição da linguagem é um fenômeno de identificação (...) 60 (...) Aprender a falar é aprender o desempenho de um certo número de papéis, é dominar um certo número de condutas das quais fomos inicialmente apenas espectadores. Bilinguismo Nos primeiros anos, a criança consegue dominar pelo menos mais de uma língua Bilinguismo 62 O sistema linguístico dominado pela criança é idêntico para todos os fins práticos Se a criança for submetida a duas línguas, provavelmente aprenderá ambas Linguagem egocêntrica Segundo Vygotsky, a criança usa sua linguagem egocêntrica como forma de comunicação com os outros Linguagem egocêntrica 64 Ele admite que a natureza egocêntrica da linguagem resulta da falta de conhecimento do seu mundo interior e do mundo externo Desenvolvimento da linguagem Nos primeiros dois meses de vida, os nenês emitem todos os sons da linguagem humana Desenvolvimento da linguagem 66 Do terceiro mês em diante, expressões traduzem estados de satisfação É a fase do balbucio 67 Depois, para reproduzir as palavras, a criança deve combinar os elementos linguísticos que dispõe, usando a imitação Aos dois ou três anos, a linguagem da criança é o eco de tudo que ouv Linguagem pré-verbal Ocorre antes dos dez meses 1ª fase: manifesta oralmente sensações agradáveis e desagradáveis. A expressão vocal é espontânea, sem imitações Linguagem pré-verbal 69 2ª fase: tenta imitar o que escuta 3ª fase: compreende algumas palavras sem poder repeti-las 70 Aos oito meses, existem movimentos independentes Aos nove meses, compreendem-se gestos simples 71 Entre os dez e os quatorze meses, é pronunciada a primeira palavra com significação 72 Estágio da palavra frase (frases de uma só palavra) O nome de um objeto serve para designar todas as ações a ele relacionadas 73 A oração de duas palavras surge quando a criança completa um ano e meio, ou um pouco mais tarde “Mamã vem” = “mamãe, venha!” 74 Até os dois anos, as palavras da criança não têm flexão Aos três anos, entram as desinências e a criança começa a perceber o valor das palavras dentro da sentença 75 O emprego de formas variadas traduz a necessidade de expressar conteúdos diferentes 76 No início do terceiro ano, aparecem as frases perifrásticas, tais como: “é bom que”, “é necessário que”, entre outras As subordinadas causais introduzidas por porque são empregadas mais tarde 77 As primeiras palavras abrangem formas semelhantes: labiais e dentais, unidas a vogais, com reduplicação: “mamá”, “naná”, “tatá” etc. 78 As palavras desenvolvem a função denominativa A criança pergunta como se chama o que vê, em seguida surge o porquê (aos quatro anos, aproximadamente) 79 Aparecem vocábulos onomatopaicos Alguns significados diferentes do habitual “Mamá” = alimento 109 80 Aos quatro ou cinco anos, o desenvolvimento da linguagem deve permitir condições de manifestar verbalmente seus afetos e ideias a ponto de poder ser compreendida pelo adulto 81 Chomsky insiste no fato de que as estruturas não são todas dominadas antes dos seis anos 82 As crianças incapazes de usar seus órgãos vocais podem aprender uma língua sem dificuldades especiais São capazes de compreender uma língua e aprender a comunicar-se por escrito 83 A aquisição da linguagem não depende unicamente da expressão verbal 109 84 Estar exposto ao uso da língua é o requisito mínimo para a aquisição da linguagem A criança que aprende uma língua o faz a partir dos modelos que tiver em seu convívio 85 Mowrer propõe a hipótese de que o processo de reforçamento beneficia todos os sons emitidos pela própria mãe da criança Sons das crianças semelhantes aos sons da mãe 86 Uma mãe, ao mostrar um objeto pronunciando seu nome (“lápis”, “bola”), favorece à criança escutá-lo enquanto conhece o objeto, olhando-o, apalpandoo etc. 109 87 Assim, a criança adquire a significação ligada ao nome do objeto através de seus órgãos sensoriais e sensitivos 88 O conhecimento do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem é de grande proveito para psicólogos e pedagogos em geral Por quê? Aprendizagem da linguagem A linguagem precisa ser ensinada e aprendida, se a quisermos em níveis mais abstratos e técnicos Aprendizagem da linguagem 90 Ascensão social quase sempre está ligada ao domínio da língua padrão Escola tem grande importância na aprendizagem da língua 91 É durante a primeira infância que a língua materna se instala, segundo processos de aprendizagem particulares que a psicologia ajuda a entender 92 Não é provável que, depois da adolescência, uma pessoa aprenda a falar uma língua estrangeira sem sotaque 93 As crianças podem ser muito inventivas no que diz respeito à linguagem “Língua do p” é uma boa ilustração da flexibilidade e da criatividade linguística Gestalt Um significado pode sugerir seu contrário e seu semelhante: quente faz pensar em frio, pesado em leve... Gestalt 95 Dois estados de consciência que surgiram juntos permanecerão associados, se um deles se realizar, o outro tenderá a reproduzir-se A imagem mental de um objeto lembra seu uso; na linguagem, o significante lembra o significado Condicionamento pavloviano No caso de uma criança que grita porque tem fome, podemos ter um condicionamento do tipo pavloviano se sua mãe atendê-la logo Condicionamento pavloviano 97 Skinner baseia sua teoria na ideia de que o reforço exerce a mesma influência sobre o animal e a criança 109 98 Um reforço positivo aumenta a probabilidade de aparecimento da reação procurada, enquanto um reforço negativo não a faz aparecer 109 99 Lançadas as bases dos estudos linguísticos, pioneiramente na Europa, por Ferdinand de Saussure, e desenvolvidas nos Estados Unidos (...) 100 (...) após a Segunda Guerra Mundial, os métodos modernos de ensino de línguas passaram a utilizar os princípios dos estruturalistas 109 101 A partir do estruturalismo, várias outras teorias surgiram como forma de desenvolvimento ou como contestação de seus princípios (...) 102 (...) Entre elas, o formalismo, o funcionalismo, o gerativismo e o transformacionalismo são as que mais interessam ao estudo, ensino e aprendizagem de línguas 103 Teoria gerativa de Chomsky = aspecto “criativo” da habilidade do usuário da língua para produzir sentenças novas 104 Segundo os gerativistas, a criança percebe primeiramente a frase como um todo, e só posteriormente vai distinguindo as partes, como se estivesse fazendo uma análise sintática Bilinguismo O sistema fonológico de uma língua é difícil de ser dominado, desde que os hábitosauditivos e articulatórios tenham sido adquiridos e fixados para a língua materna Bilinguismo 106 Quando a aprendizagem de uma segunda língua se inicia por volta de onze anos, a criança não poderá, fisiologicamente, voltar à (...) 107 (...) idade de dois a quatro anos, que é particularmente favorável a essa aprendizagem O cérebro já apresenta uma certa “rigidez” 108 Não basta dizer o que afirma Chomsky, que a criança deve ter uma aptidão linguística inata para lhe permitir descobrir as regras que gerarão as sentenças de uma língua O sistema fonológico de uma língua é difícil de ser dominado, desde que os hábitos auditivos e articulatórios tenham sido adquiridos e fixados para a língua materna Bilinguismo 109 106 Quando a aprendizagem de uma segunda língua se inicia por volta de onze anos, a criança não poderá, fisiologicamente, voltar à (...) 109 107 (...) idade de dois a quatro anos, que é particularmente favorável a essa aprendizagem O cérebro já apresenta uma certa “rigidez” 109 108 Não basta dizer o que afirma Chomsky, que a criança deve ter uma aptidão linguística inata para lhe permitir descobrir as regras que gerarão as sentenças de uma língua 109 109 A função da descrição linguística é impedir a supersimplificação do comportamento que está sendo estudado109 A função da descrição linguística é impedir a supersimplificação do comportamento que está sendo estudado
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