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Instituições do Direito - Aulas 01 e 02

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A CIÊNCIA DO DIREITO 
Admar Cass io Fer re i ra Neto 
 
 
1. A c iência 
 
Todo ser humano, de uma forma ou de outra, acumula 
conhecimentos, ou, em outras palavras, todos tem memória, todos guardam 
lembranças. 
Qualquer pessoa, mesmo sem nenhuma bagagem cientí f ica, é 
capaz de um mínimo de operação mental que demonstre algum conhecimento 
a respei to de alguma coisa. Mesmo o ser humano não al fabet izado é capaz de 
conhecer e até de elaborar e operar códigos de comunicação para a 
transmissão de algum conhecimento. 
Esse conhecimento usual que o homem tem de si mesmo e do 
mundo é chamado conhecimento vulgar, is to é, é um conhecimento não 
c ientí f ico. E até por isso lhe t i ram o termo “conhecimento”, para chamá-lo 
apenas “senso”, senso comum, reservando-se a palavra “conhecimento” para 
o c ient í f ico. 
O conhecimento c ientí f ico é uma espécie de ot imização desse 
conhecimento vulgar. A ciência busca organizar e s is tematizar o conheci-
mento do homem. O cient is ta é um ser preocupado com a veracidade e a 
comprovação de seu conhecimento, o que faz com que construa uma sér ie de 
enunciados e regras r igorosas que permitem a descoberta e a prova desse 
conhecimento. 
Enquanto o senso comum é di fuso, desorganizado, 
assistemat izado e advém de vár ias fontes desordenadas e s imul tâneas, o 
conhecimento c ientí f ico tenta ser coerente, coeso, organizado, s is temático, 
ordenado e or ientado a part i r de fontes específ icas e muitas vezes pré-
const i tuídas. 
O senso vulgar impl ica ou parte de constatações - c ircunstâncias 
apreendidas no dia-a-dia do homem comum. O conhecimento c ientí f ico 
também impl ica constatações e delas parte; porém pretende exercer sobre 
elas certo domínio para conseguir expl icar o que exist iu, o que existe e, 
também, o que exist i rá. 
A ciência tenta r igorosamente descrever s i tuações, constatando 
efei tos a part i r de causas. Esta re lação de causa e efei to é um elemento 
norteador do pensamento cientí f ico, que pretende apontar os acontecimentos 
futuros. É um pr incípio lógico da c iência: se um efei to x é ocasionado pelas 
causas a, b, c , toda vez que forem acionadas as causas a, b, c, nas mesmas 
condições que a anter ior , dá-se novamente o efei to x. 
Em outras palavras, conhecida a le i da gravidade e sua força, o 
c ient is ta sabe - e todos sabem – que, ao sol tar uma pedra no ar , e la vai ao 
chão. O c ient is ta consegue, inc lus ive, porque tem o controle adequado do 
conhecimento, calcular com bastante precisão, por exemplo, a velocidade da 
pedra ao cair e o tempo que ela leva para chegar ao solo. Claro que, como se 
sabe, a f ís ica inser iu aí o componente da relat iv idade e da probabi l idade, o 
que não impediu que se calculasse com muita aproximação a probabi l idade. 
Agora, pode-se dizer que a base para a s is tematização e do 
conhecimento cientí f ico são os dados comprovados plenamente. Esses dados 
tornam-se leis que ordenam todo o conhecimento relat ivo ao campo de 
estudo. 
Quando o c ient is ta e labora enunciados que ainda não podem ser 
comprovados, porque não existe conhecimento acumulado suf ic iente para ta l , 
ou porque é uma proposta in ic ia l que visa a uma comprovação futura, fa la-se 
não em leis , mas em hipóteses, que serão ou não comprovadas. E, ao serem 
comprovadas. t ransformam-se em leis. 
É por isso que c iência é teor ia, a inda que suas hipóteses e suas 
le is , bem como o aprendizado, as comprovações e as constatações, tenham 
caráter prát ico, ver i f icadas e v ivenciadas que são na real idade social e real . 
Apesar d isso, cont inua sendo teor ia. 
Toda c iência postula um método de invest igação e também um 
objeto de invest igação que lhe pertence. O método pode ser l igado dire-
tamente ao t ipo de c iência que dele se ut i l iza, is to é, cada c iência tem, ou, 
pelo menos, pode ter, um método apropr iado para seu campo. 
É pelo método que se elabora o conhecimento c ientí f ico, o que 
faz com que ele seja parte integrante do própr io s istema a que serve. O 
objeto, por sua vez, var ia, também, em função da c iência, o que vai 
impl icando uma necessária opção de método. 
Mas, naturalmente, quando se fa la em ciência, objeto e método, 
tem-se de fa lar também no c ient is ta, que é o suje i to da invest igação. Assim, 
no conhecimento c ientí f ico estão l igados sujei to e objeto, através de um 
método; tudo possibi l i tando a constatação, a construção, a apl icação e a 
transmissão do conhecimento c ientí f ico. 
Quanto à c lassi f icação das c iências, existem vár ios t ipos 
propostos pela doutr ina. Encontramos c lassi f icações conhecidas e famosas, 
como as de Ar istóteles ou a de Augusto Comte. Podemos apontar uma básica, 
e quase sempre acei ta: a dis t inção entre dois t ipos de ciências, as naturais e 
as humanas. 
Dentre as di ferenças possíveis entre esses dois t ipos, podemos 
apontar o seguinte: nas c iências naturais o conhecimento é construído com o 
objet ivo de expl icar os fatos e tentar descobr ir as l igações entre eles, 
organizando um mundo próprio de constatações descr i tas e expl icadas. 
Nas c iências humanas busca-se igualmente expl icação para os 
fatos e suas l igações. Contudo, nelas aparece o homem com suas ações como 
objeto de invest igação. As ações dos homens e suas intr incadas re lações 
interpessoais, que trazem resultados imprevisíveis, obr igam à introdução do 
ato de compreender junto ao de expl icar. É necessár io, nas ciências 
humanas, captar o sent ido dos fenômenos humanos; é preciso compreendê-Io, 
portanto, numa acepção valorat iva. 
Além disso, não basta ao cient is ta tentar compreender o sent ido 
da ação ou do comportamento humano; é preciso, também, invest igar o que o 
homem que gerou a ação, e le própr io, pensa ou sente em relação a seu ato, 
bem como das inter-re lações pessoais dal i provenientes. 
Isso acaba aumentando a complexidade dos objetos postos em 
anál ise nas c iências humanas, de forma que alguma coisa se perca ou seja 
di f íc i l de ser captada. A introdução do valor na ciência causa, sem dúvida, um 
transtorno enorme ao c ient is ta. 
Chega-se, por isso, a pôr em dúvida o grau de c ient i f ic idade 
dessa c iência, pois não se pode ter certeza precisa das relações de 
causal idade. Nem sempre as mesmas causas já conhecidas geram o efei to 
esperado. Daí o l imite e a importância da compreensão dos fenômenos para 
as c iências humanas. 
Acrescente-se a tudo isso o quest ionamento que se faz da 
relação do c ient is ta com o objeto a ser invest igado. 
Discute-se se é possível ao c ient is ta agir com “neutral idade” em 
relação ao objeto de invest igação, is to é, se ele, ao ir aval iar o objeto, deixa 
seus própr ios valores e sent imentos pessoais de lado. 
Há os que dizem que s im, apostando na capacidade do c ient is ta 
de observar fatos sem se envolver e a part i r deles elaborar seu trabalho 
c ientí f ico, sem interferência pessoal. 
Há os que af i rmam ser impossível ao c ient is ta invest igar os fatos 
sem uma tomada de posição pessoal , uma vez que a própr ia escolha do 
objeto é, por s i só, real izada com base em informações preconcebidas no 
inter ior do c ient is ta. 
Sem querer aprofundar aqui esse debate, pode-se dizer ser 
verdade que, em alguns ramos, parece possível a e le operar com 
neutral idade, como acontece, por exemplo, com o cálculo matemático do 
c ient is ta que não pode, aparentemente, sofrer inf luência de seus valores e 
sentimentos. 
Acontece que a c iência - a inda que matemát ica - é voltada para 
o út i l , para uma ef icácia social p lena, para um uso real , enf im. E aí qualquer 
esforço por neutral idade se esvai. 
Nas ciênciashumanas, então. não há a mínima possibi l idade de 
neutral idade, v is to que o c ient is ta é ao mesmo tempo pesquisador e 
pesquisado. Part ic ipa do mesmo fenômeno socia l invest igado, sendo certo 
que até mesmo suas buscas inf luem no própr io processo de formação do 
comportamento humano que se invest iga, o que, sem dúvida, t raz mais 
angúst ia para o seio das já angust iadas c iências humanas, que l idam com 
objetos tão di f íceis de ser captados. 
As c iências ref letem, assim, condutas engajadas dos c ient is tas 
no momento histór ico das sociedades em que v ivem e pesquisam. 
 
2. As escolas c ientí f icas 
 
São vár ias as al ternat ivas de estudo aqui, pois são inúmeras as 
escolas que apresentam métodos e crenças para a obtenção do 
conhecimento. 
Vamos trabalhar com posições escolhidas e que possib i l i tam, a 
nosso ver, uma v isão panorâmica - ainda que não exaust iva - das vár ias 
correntes cientí f icas. 
 
2.1. O empir ismo 
No empir ismo, a escola mais conhecida e radical é a do 
posi t iv ismo, representada pelo pensador francês Augusto Comte (1798-1857). 
Essa escola af i rma que o conhecimento cientí f ico nasce do objeto. É neste 
que repousa a verdade c ientí f ica, apresentando-se ao suje i to como de fato é 
na real idade. 
Al iás, d iz essa escola, o real é objeto que dir ige o conhecimento 
como um vetor ao sujei to, que, sendo racional , basta estar preparado para 
colher do objeto sua essência. 
O posi t iv ismo, portanto, funda-se na crença de que os objetos 
em si possuem essências própr ias, que só dependem de uma, cada vez me-
lhor, maneira de observar do sujei to, para serem reveladas. 
E, de fato, o aperfe içoamento do observador - o c ient is ta - ape-
nas se dá porque ele, antes, extraíra dos objetos, pelo mesmo método, 
verdades que agora, por acúmulo de conhecimento, lhe permitem observar 
melhor, e assim por d iante. 
Porém, nada muda a crença, porquanto é lá, no objeto, que 
todas as verdades - ocul tas nas essências - já res idiam. O que se al tera com 
novas descobertas não são os objetos - que sempre t iveram as mesmas 
essências - , mas a maneira de vê-Ios. 
O cient is ta ter ia, assim, uma miopia que se ia curando, com o 
passar do tempo. Na medida em que ele observava melhor os objetos e 
arquivava os conhecimentos daí resul tantes, estes se iam acumulando. E 
melhoravam sua v isão. Mas os objetos ainda eram os mesmos. 
Daí poder-se af i rmar certas máximas do empir ismo e, especial-
mente, do posi t iv ismo: só é cientí f ico o conhecimento ver i f icável 
empir icamente; é do objeto que def lu i o conhecimento; o objeto é trans-
parente e o conhecimento c ientí f ico deve descrevê-Io o melhor possível ; 
quanto mais exata a descr ição do objeto, tanto mais avançado o conhe-
cimento c ient í f ico. 
Um exemplo bastante v ivo desse método posi t iv is ta é o das pes-
quisas genéticas. Nelas há uma pretensão de penetração cada vez mais 
profunda no real , de ta l forma que dele se extraiam as verdades buscadas - 
mas buscadas nele, objeto real , e a part i r dele. 
Vejam-se, no exemplo, os genes. Eles f icam si tuados dentro do 
núcleo das células do corpo, nos chamados cromossomos. E esses genes são 
hoje ident i f icados em nível molecular como ácido desoxirr ibonucléico: o DNA. 
 
2.2. O racional ismo 
Em posição exatamente oposta ao empir ismo e posit iv ismo está 
a escola racional is ta. 
O conhecido f i lósofo f rancês Descartes (1596- 1650), de frase 
não menos famosa – “Penso. logo existo” - , é considerado o fundador do 
racional ismo moderno. 
Os postulados do racional ismo têm aí , em Descartes, seu ponto 
de part ida. 
Já em sua época (século XVII) , ao separar corpo e mente, o 
dual ismo cartesiano pusera os f i lósofos diante da questão: se a mente é 
dist inta do corpo e seus órgãos, e se são estes que entram em contato com o 
mundo exter ior , como ter cer teza da existência do próprio mundo exter ior? 
É importante por isso consignar o que Descartes deixa marcado 
desde o século XVII com seu Discurso do método (de 1637), a obra da frase 
famosa. 
Rejei tou ele a posição escolást ica da unidade substancial do 
composto humano, segundo a qual o corpo e a alma const i tuem um único ser 
e agem como um todo. Para Descartes, corpo e alma (ou mente), cada qual , 
são substâncias completas, auto-suf ic ientes e sem relações imediatas 
recíprocas. 
Acompanhemos seu pensamento: Descartes decidira colocar 
tudo em dúvida para ver se alguma proposição resist ia a esse esforço, 
quando deparou com o famosíss imo “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum). 
Nenhum objeto do pensamento resiste a essa objeção. Contudo, o própr io ato 
de duvidar é indubitável . (É conveniente notar que Descartes não diz "duvido, 
logo existo", v is to que para ele a dúvida não importa como ato, mas como 
conhecimento do fato de que duvida.) 
Assim, Descartes, observando que podia pôr tudo em dúvida, 
exceto o fato de que pensava, d isse: “compreendi por aí que (eu) era uma 
substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para 
ser, não necessi ta de nenhum lugar, nem depende de qualquer coisa mater ia l . 
De sorte que esse eu, is to é, a a lma, pela qual sou o que sou, é inte iramente 
dist inta do corpo e, mesmo, que é mais fáci l de conhecer do que ele, e, a inda 
que este nada fosse, e la não deixar ia de ser tudo o que é”. 
Com esses pressupostos foi-se f i rmando o racional ismo 
moderno, que af i rma resid ir no sujei to o fundamento do ato de conhecer, 
sendo o objeto mero ponto de referência. 
O pensamento opera com idéias e não com coisas concretas; o 
objeto de conhecimento é uma idéia construída pela razão. 
Não há, é verdade, no racional ismo um desprezo total ao 
chamado objeto concreto; o problema em relação a este é que é incapaz de 
oferecer condições de certeza, ou, em outras palavras, os fatos não são fonte 
segura para o conhecimento. 
Um exemplo das incertezas que cercam os fatos pode ser dado 
por um trecho do famoso e cr í t ico f i lme de Char les Chapl in, “Tempos 
Modernos”. 
Em certa cena, o personagem Carl i tos está andando por uma 
rua, quando passa um caminhão carregando madeiras. Como se sabe, quando 
o comprimento das madeiras é maior que a carrocer ia, costuma-se pendurar 
na ponta extrema de alguma madeira uma bandeir inha vermelha, como 
s inal ização de segurança. 
Pois bem, Car l i tos vê o caminhão com madeiras passar, 
deixando cair à sua frente a tal bandeir inha de s inal ização. Cé lere, Car l i tos a 
apanha do chão e começa a correr atrás do caminhão, acenando com ela, 
levantada ao al to de sua mão. 
Ao passar por uma esquina, surge atrás de Carl i tos um grupo de 
trabalhadores em greve, mas ele não se dá conta disso. Continua indo atrás 
do caminhão, acenando a bandeir inha vermelha, agora tendo atrás de si um 
número enorme de trabalhadores grevistas em passeata. 
Na seqüência, o caminhão desaparece e surge perante Carl i tos a 
pol íc ia. Esta vê a passeata, com uma pessoa à frente, agi tando a bandeir inha 
vermelha: Car l i tos é preso como l íder grevista. 
A pergunta é, portanto, re levante: pode-se conf iar nos fatos? 
Claro que o exemplo é s imból ico, mas aponta já a relat iv idade da possível 
verdade fatual . Dependendo de quem olha, o fato muda: o pol ic ia l vê um l íder 
grevista; os trabalhadores vêem um desconhecido; Car l i tos, esse só quer ia 
devolver a bandeir inha, e nem viu a passeata atrás de s i . (É necessár io 
colocar que Augusto Comte, com seu posi t iv ismo, reconhecia e af i rmava que 
o conhecimento c ient í f ico é sempre relat ivo; jamais absoluto.) 
Daria para tomar posições mais adequadas, de maior certeza em 
relação aosfatos? O racional ismo responder ia que não. 
É necessár io colocar, também, que nessa escola há uma 
corrente bastante radical , que prat icamente ignora qualquer objeto concreto: 
é o ideal ismo. 
Para o ideal is ta, o conhecimento nasce e esgota-se no própr io 
su je i to cognoscente. Por isso, o objeto real é ignorado ou, no máximo, 
admit ido numa posição completamente secundária. 
 
2.3. A dialét ica 
A dialét ica é uma escola que pretende superar um obstáculo 
colocado pelas duas correntes anter iormente tratadas: o da distância existen-
te entre sujei to cognoscente e objeto real . 
Com efei to, conforme se v iu, no empir ismo acredi ta-se que a 
verdade está no objeto concreto e é dele extraída. No racional ismo, ao 
contrár io, o invest igador opera apenas com idéias, deixando o objeto concreto 
de lado. 
Olhando para ambas, em especial nas correntes mais radicais – 
posi t iv ismo e ideal ismo, respect ivamente - , percebe-se que há entre suje i to e 
objeto concreto uma distância instransponível . E é para superar esse 
obstáculo que a dialét ica coloca suas diretr izes. 
Para a dialét ica, o importante é a própr ia re lação entre sujei to 
cognoscente e objeto, que sempre se estabelece em qualquer invest igação 
c ientí f ica. 
É verdade que, antes, dentro das própr ias escolas empir is ta e 
racional is ta, surgiram correntes mais moderadas, que t iveram a pretensão de 
superar esse obstáculo, mas sem nunca tê- lo fei to. 
Assim é que na pr imeira escola surgiu o posi t iv ismo lógico, que 
acei ta a ver i f icabi l idade empír ica por pr incípio da invest igação, is to é, a 
proposição c ient í f ica é acei ta como potencialmente ver i f icável , o que não 
el imina a caracter ís t ica de que a pesquisa cient í f ica tem de ser, de uma forma 
ou de outra, comprovada empir icamente. 
No racional ismo, por sua vez, surgiu o inte lectual ismo, corrente 
moderada que tem assente que o conhecimento não pode passar sem a 
exper iência empír ica; porém é o suje i to cognosccnte que, usando da razão, 
deve atr ibuir uma val idade lógica-universal ao conhecimento. Há uma 
racional ização, assim, do objeto concreto. 
Podemos, agora, colocar a a l ternat iva da dia lét ica para tentar 
superar o problema da distância existente entre suje i to e objeto. Em resumo 
são os seguintes os postulados da dialét ica conforme exposto por Agost inho 
Ramalho Marques Neto. 
Para a dia lét ica, como já se disse, o importante não é nem 
sujei to, nem objeto, mas sim a relação que necessar iamente se estabelece 
entre eles. 
Essa relação há de ser tomada não abstrata, mas 
concretamente, dentro do momento v iv ido do processo histór ico-real , no qual 
se dá o ato de conhecer. 
Para essa corrente é preciso dist inguir “objeto real” de “objeto 
de conhecimento” . Aquele é a coisa que existe independentemente do pen-
samento, quer em si mesmo (númeno), quer na sua manifestação concreta 
( fenômeno). Este é um “objeto construído” pelo própr io suje i to, já no ato de 
conhecer, porque é obt ido mediante o referencia l teór ico e pelo método que 
norte ia a pesquisa, e que é fruto da escolha do pesquisador. 
Para a dialét ica, por isso, o invest igador não vai “nu” ao objeto. 
Na verdade, quando busca o objeto, o escolhe e o constrói como objeto de 
conhecimento, ut i l iza-se de todo um conhecimento já acumulado h isto-
r icamente; e na invest igação sua preocupação é a de, superando os co-
nhecimentos anter iores, t razer a públ ico novos conhecimentos. 
Na pior das hipóteses, o c ient is ta da dia lét ica confi rma as 
verdades anter iores; mas, quando o faz, age dentro do processo histór ico-real 
da invest igação, e não como uma aceitação de verdade dogmática 
preestabelecida. 
Por isso é que a dia lét ica diz que “dado” não é “dado”, mas 
“construído”, e, por conseqüência, todo conhecimento obt ido é essen-
cia lmente ret i f icável . 
As verdades c ientí f icas são, então, re lat ivas e provisór ias, 
podendo sempre ser superadas no decorrer do processo histór ico da c iência. 
Há de se reconhecer urna v ir tude importante da dia lét ica, que é 
a de tentar tomar para s i e acatar as contr ibuições traz idas pelas outras 
escolas cientí f icas. 
Mas, de qualquer forma, a escola dia lét ica tem de ser 
c lassi f icada como racional is ta, uma vez que seu vetor epistemológico caminha 
do racional (suje i to) em direção ao real , sendo que o objeto é construído, 
apesar de ter o real corno referência ou dele (do real) par t i r . 
E essa c lassi f icação vale ainda que a dialét ica ponti f ique que é a 
relação do sujei to e do objeto, o que importa, e que ela é uma relação 
concreta, porquanto essa escolha é uma opção da razão. 
 
 
 
2.4. A fenomenologia 
Teçamos, agora, alguns comentár ios sobre a fenomenologia, 
v is to que não só inf luenciou largas correntes do pensamento contemporâneo 
como também f i lósofos de porte, ta is como Sartre, Heidegger e Jaspers, mas, 
sobretudo, porque a postulação de seu método é importante para uma ciência 
com as caracter ís t icas da Ciência do Direi to. 
A escola fenomenológica fo i fundada por Edmund Husser l com a 
pretensão de encontrar para a f i losof ia um método e um ponto de part ida tão 
indiscut íveis quanto os da matemát ica. Ambicioso projeto já tentado por 
Descartes, que o inspirou. 
No método husser l iano constata-se uma relação essencial e 
lógica entre sujei to e objeto, numa tensão dia lét ica que os une. 
Husser l recusa-se a tomar part ido em relação ao ideal ismo ou 
empir ismo, optando pela “neutral idade”. Mas há de reconhecer-se, como se 
verá, que ele consegue ul trapassar tanto um quanto outro, cr iando algo 
totalmente novo. 
Acompanhemos os fundamentos, o funcionamento e os 
postulados da fenomenologia. 
Husser l , pr imeiramente matemático, interessou-se, 
poster iormente, pela psicologia. Ambas as esferas de conhecimento em 
Husser l encontraram no terreno fér t i l preparado por Descartes as sementes, 
que far iam brotar o método fenomenológico. 
Recordemos: ao separar corpo e mente, Descartes pusera os 
f i lósofos diante da questão: se a mente é dist inta do corpo e seus órgãos, e 
se são estes que entram em contato com o mundo exter ior , como ter cer teza 
da existência do própr io mundo exter ior? 
Não resta dúvida que ternos representações muito ní t idas desse 
mundo, r icas, coerentes e que se complementam; representações que são, 
todavia, inte iramente subjet ivas, cuja correspondência com um objeto exter ior 
à nossa subjet iv idade (a nossa consciência) é impossível de ser ver i f icada. 
Estamos encerrados em nós mesmos e por isso não podemos at ingir nenhuma 
real idade objet iva. É-nos vedado ir a lém do pensamento; esse além é 
impensável. 
Husser l é bem específ ico quanto a todos esses aspectos: “O 
caminho que aqui se abre para o pensamento é o seguinte: por mais que eu 
estenda a dúvida da cr í t ica do conhecimento, não posso duvidar de que eu 
sou e duvido, de que eu represento, ju lgo, s into, ou, seja corno for que 
possam ainda ser chamadas as apar ições internamente percebidas, delas não 
posso duvidar durante a v ivência mesma em que as tenho; uma dúvida nesses 
casos ser ia evidentemente um contra-senso. 
Portanto, temos ‘evidência’ da existência dos objetos da 
percepção interna, temos o mais claro dos conhecimentos, aquela certeza 
inabalável que dist ingue o saber, no sent ido mais estr i to. 
O que acontece com a percepção externa é completamente 
di ferente. Falta a ela a evidência, e, de fato, uma múlt ip la contradição nos 
enunciados nela conf iados indica que ela é capaz de nos induzir em erros e 
i lusões. De antemão, não temos, portanto, o d ire i to de acreditar que os 
objetos das percepções externas existam efet iva e verdadeira mente ta is 
como eles nos aparecem”. 
Com efei to, a at i tude fenomenológica surgiu como resposta à 
fa l ta de argumentos apodít icos (evidentes, i r refutáveis) que pusessem f im ao 
drama revelado pela impossibi l idade de penetrar na natureza dos objetos 
conhecidos. Ao invés de eternizar-se nessa busca, a fenomenologia escolheu 
dedicar-se ao estudo dos dados do conhecimento. 
Para o entendimento adequado do trabalho do fenomenólogo, é 
importante examinar o sent ido em que o termo “ fenomenologia” é empregado. 
A palavra “ fenômeno”, or ig inalmente, tanto no sent ido c ientí f ico 
quanto no f i losóf ico comum, tem relação com a palavra aparência. Por isso o 
“ fenômeno” é um “relat ivo” , pois é aqui lo que “aparece” para o suje i to que o 
observa, ou seja, só existe na medida em que é observado na relação com o 
sujei to. 
Além disso, o termo “aparente” sofre inf luência do termo “ i lusó-
r io” , “ i r real” , o que vai afetar também o termo “ fenômeno”, que ganha esse 
caráter de “ i lusór io” , “ i r real” . É verdade que o fenômeno faz parte da 
real idade, mas é como se pertencesse a um nível infer ior de real . 
As coisas são um absoluto, enquanto o fenômeno é um relat ivo 
ao aparecer para o suje i to. Daí é que se f i rmou a tendência no espír i to de 
considerar real apenas “a coisa em si” ou o “númeno”, cuja essência todavia é 
impenetrável . Para o suje i to só há o fenômeno. 
Na perspect iva fenomenológica a relação é invert ida: o fenômeno 
é que é absoluto; as coisas, o mundo exter ior , a árvore, a montanha, só tem 
existência relat iva perante o fenômeno. 
Ao contrár io da v isão anter ior , não é a representação subjet iva 
ou fenômeno que depende das coisas ou do objeto; são as coisas ou os 
objetos que dependem da representação ou do fenômeno. A consciência é a 
base essencial de todas as representações, quer sejam cientí f icas, quer 
vulgares, da real idade conhecida como objet iva. 
A consciência é a condição necessár ia para a af i rmação das 
coisas que são estranhas à consciência. Se pudéssemos remontar todos os 
conhecimentos das coisas di tas objet ivas e fôssemos vol tando de forma a 
decompô- los, chegaríamos na essência pr imeira, que é a consciência. Daí 
concluir -se que as coisas ou objetos só têm real idade a part i r da consciência. 
Para a fenomenologia existe uma confusão, t raz ida pelo 
natural ismo, entre o f ís ico e o psíquico. Este não é o conjunto de mecanismos 
cerebrais e nervosos, mas uma região que possui especi f ic idade e 
pecul iar idade; o psíquico é fenômeno, não é coisa. 
As coisas pertencem ao mundo f ís ico, ao fato exter ior , ao 
empír ico e são governadas por relações causais e mecânicas. Já o fenômeno 
é a consciência, enquanto f luxo temporal de v ivências, e que é capaz de 
outorgar s igni f icado às coisas exter iores. 
A isso a fenomenologia acrescenta uma part icular idade essencial 
de todos os fenômenos psíquicos: a “ intencional idade”. 
A noção de “ intencional idade” realmente vem dos escolást icos, 
no conceito de intenção, apl icado ao conhecimento. 
A palavra " intenção" indica uma direção ou uma tensão de 
espír i to para o objeto; e, por analogia, chama-se também intent io o conteúdo 
de pensamento em que se f ixa o espír i to. Esse caráter de intenc ional idade é 
estendido a todos os fatos psíquicos. É a própr ia consciência que é in-
tencional. A consciência tende sempre para alguma coisa. 
Ao contrár io de se dobrar sobre si mesmo, como propunha a 
psicologia inspirada em Descartes, o caráter própr io do fato psíquico é 
reportar-se a um objeto. 
Todo fenômeno psíquico contém em si algo a t í tu lo de objeto, 
mas cada um o contém à sua maneira. Na representação, é a lguma coisa que 
é representada; no juízo, que é admit ida ou reje i tada; no amor, que é amada; 
no ódio, que é odiada; no desejo, que é desejada; e assim por diante. 
 
3. A CIÊNCIA DO DIREITO 
É preciso ressaltar que existem até dúvidas sobre o caráter de 
c ient i f ic idade do Dire i to, d iante de uma sér ie de pressupostos de di f íc i l 
aval iação. 
Contudo, fazendo-se uma le i tura ampla dos comentadores, 
percebe-se c laramente que, de um je i to ou de outro, todos, ou pelo menos a 
maior ia, tratam o Direi to como c iência, numa evidente mani festação de 
acei tação de seu caráter c ient í f ico. 
Até se compreendem tantas dúvidas, uma vez que o Direi to teve 
e ainda tem muitas escolas de pensamentos que propõem formas di ferentes 
de invest igação para sua ciência. 
A nós importa o fato de que existe uma Ciência do Direi to, 
mesmo que com formas de pesquisas diversas. Como ramo de c iência 
humana, a Ciência do Direi to tem como substrato de pesquisa o homem, em 
todos os aspectos valorat ivos de sua personal idade. 
Da mesma maneira, como não se compreende uma c iência 
humana que exclu i de seu âmbito de pesquisa o ser humano, é inadmissível 
pensar uma Ciência do Direi to que não tenha como fundamento e centro de 
suas atenções o homem. 
É colocado assim, como pressuposto, o homem e sua condição 
existencial como pr incípio de invest igação. A Ciência do Dire i to deve, 
portanto, respeitar o homem na inte ireza de sua dignidade e nos l imi tes 
postos e reconhecidos universalmente como seus: a vida, a saúde, a honra, a 
int imidade, a educação, a l iberdade etc. ; bens essenciais e ind isponíveis que, 
em conjunto com bens socia is como a verdade, o bem comum e a Just iça, são 
norteadores de todo o mater ia l de invest igação da Ciência do Direi to. 
A Ciência do Direi to é uma ciência de invest igação de condutas 
que têm em vista um “dever-ser” jur íd ico, is to é, a Ciência do Direi to invest iga 
e estuda as normas juríd icas. Estas prescrevem aos indivíduos certas regras 
de conduta que devem ser obedecidas. 
É certo que, uma vez cumpr ida a determinação da norma, o 
“dever-ser” exaure-se num “ser” , ou, quando descumprida a determinação da 
norma, ocorre um outro “ser” , porém de conteúdo aparentemente contrár io ao 
pretendido pelo regramento jur íd ico. Contudo, na s ingeleza dessas 
observações, ocul ta-se uma enormidade de questões, de problemas que 
precisam ser examinados. 
Tomemos um simples e corr iqueiro exemplo de problema v isto a 
part i r de uma lei escr i ta: uma norma jur íd ica que discip l ina o trânsi to. Ao s inal 
de luz vermelha corresponde a ordem “o motor ista deve parar” . Essa ordem é 
um “dever-ser” jur íd ico, pois aponta o que a norma jur íd ica pretende que seja. 
É um comando dir ig ido aos indivíduos, especialmente, no caso, aos 
motor is tas. 
Quando diante de um sinal vermelho a ordem é cumprida, ocorre 
um fato que se ajusta ao conteúdo da norma; a norma jur ídica é vivenciada 
como um acontecimento no mundo do “ser” , dos fatos. Já quando o motor is ta 
desobedece à norma, não parando seu automóvel e ul t rapassando o s inal , há 
uma vio lação do comando e ao mesmo tempo outro t ipo de “ser” : um fato 
sancionado pela norma jur íd ica. 
A vio lação é, portanto, também um fato; é um acontecimento no 
mundo do ser. O sis tema jur íd ico, é verdade, regra, também, a conduta 
negat iva ou não querida: ao infrator o Direi to prescreve a sanção. No caso do 
s inal vermelho, é uma multa imposta ao transgressor. Não que o Direi to 
queira pr imordia lmente apl icar a mul ta, mas a sanção faz parte da estrutura 
da norma para que esta seja cumprida, e não para que seja v io lada. 
Olhando-se esse modesto exemplo de norma jur íd ica, que, 
representada por um semáforo, pretende disc ip l inar o t rânsi to, pode-se levan-
tar muitas di f iculdades para o invest igador do Direi to: 
a) O sinal vermelhoestava funcionando no momento da ul trapas-
sagem? 
b) E se est ivesse quebrado? 
c) O motor is ta pode escusar-se de pagar a multa alegando que 
não v iu o s inal? 
d) Pode apresentar a mesma just i f icat iva, a legando que mora na-
quela rua e nem percebeu o s inal , pois fora instalado naquele d ia? 
e) Pode o motor is ta alegar que ul trapassou o s inal , porque se 
aproximaram do seu carro dois suje i tos mal encarados e pressent iu que ia ser 
assal tado? 
f) E se o motor ista for menor de idade, vale a multa? 
g) Se não existe norma administrat iva est ipulando que naquela 
esquina devia ter s inal , e os funcionár ios o instalaram por engano, vale a 
multa? 
h) Pode a mul ta ser lavrada por indicação de um cidadão comum 
a um guarda de trânsito que não assist iu à ocorrência? 
i ) Valerá a multa se ela fo i lavrada por um guarda que f ica 
escondido atrás de uma árvore com um talão na mão, para anotar quem ult ra-
passar o s inal , ao invés de se mostrar ostensivamente? 
j) Estará adequado o valor da multa? Será justo seu montante? 
k) O valor deve var iar dependendo da qual idade do infrator : se é 
pr imár io ou reincidente? 
l ) Vale o argumento de que ninguém respei ta aquele s inal , 
porque está mal colocado naquela esquina? 
Enf im, com esse pequeníssimo exemplo que parte da le i , vê-se 
quão intr incados podem ser os fatos e os argumentos com os quais o c ient is ta 
do Direi to tem de l idar. Mul t ip l icando-se esse caso por um universo enorme 
de outras normas juríd icas e fatos, e, indo além, colocando-se valores e o 
própr io ser humano como elemento de invest igação, percebe-se o grau de 
complexidade que envolve o estudo do Direi to. 
E fr ise-se que neste exemplo o problema está vol tado especi f ica-
mente para uma questão prát ica. Contudo, tendo em vista as pecul iar idades 
do objeto da c iência do Direi to, percebe-se que ela não tem de dar conta 
apenas das normas juríd icas e sua apl icação ou não, mas também tem de 
l idar com fatos sociais, aspectos sociológicos, econômicos, cul turais e até 
c l imát icos, com di ferenças regionais e terr i tor iais , bem como com valores 
ét icos e morais. 
Deve, a inda, invest igar as causas de elaboração das normas 
jur ídicas, em especial as le is , bem como sua adequação ao meio social . 
Todas essas normas e valores devem respeitar o homem em sua dignidade de 
ser humano, no meio social e na natureza em que v ive. A Ciência do direi to 
em sua acepção mais ampla é uma c iência ét ica por excelência. 
 
4. O OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO. QUE É O DIREITO? 
Sob o aspecto et imológico é possível l igar o termo “direi to” , den-
tre outros, a reto (do vocábulo em lat im rectum), a mandar, ordenar (do lat im, 
l igado na or igem a jussum), ou ao termo “ indicar” (do vocábulo grego diké) . 
Observando o Dire i to à luz da real idade dos estudos jur íd icos 
contemporâneos, pode-se v is lumbrar que o termo “direi to” compor ta pelo 
menos as seguintes concepções: a da ciência, correspondente ao conjunto de 
regras própr ias ut i l izadas pela Ciência do Dire i to; a de norma jur íd ica, como a 
Const i tuição e as demais le is e decretos, portar ias etc. ; a de poder ou 
prerrogat iva, quando se diz que alguém tem a faculdade, o poder de exercer 
um direi to; a de fato socia l , quando se ver i f ica a existência de regras, 
ex istentes no meio socia l ; e a de Just iça, que surge quando se percebe que 
certa s i tuação é direi ta porque é justa. 
A palavra “direi to” é, assim, t ida por uns como análoga, ou seja, 
seus sent idos guardam certa re lação entre s i ; mas é apontada por outros 
como vaga e ambígua, v is to que suas s igni f icações não são sempre c laras, ou 
geram dúvida legí t ima e insolúvel ou, até mesmo, apresenta-se de forma 
paradoxal e contradi tór ia. 
Assim é que, por exemplo, o termo “dire i to” , na frase “o trabalha-
dor tem dire i to assegurado ao salár io” , guarda certa aproximação, cer ta 
analogia, com o refer ido termo na expressão “não é de direi to punir um 
inocente” . 
Na pr imeira assert iva a palavra “dire i to” refere-se à previsão 
legal estabelecida (a Consol idação das Leis do Trabalho - CLT - que garante 
o salár io do trabalhador) . Na segunda, aquela palavra refere-se à just iça - ou 
in just iça - de uma decisão judic ia l . 
De pronto percebe-se apenas nos dois s imples exemplos que os 
própr ios usos da palavra "direi to" apontam um para o outro: d irei to aponta 
para just iça e esta para aquele. E é por isso que se diz que os termos são 
análogos. Contudo, há outros usos que se apresentam, como se disse, vagos, 
ambíguos, contradi tór ios. 
Com efei to, d ire i to é um ideal sonhado por cer ta sociedade e s i -
multaneamente um golpe que enterra esse ideal. É símbolo da ordem social e 
s imultaneamente a bandeira da agi tação (estudant i l , dos trabalhadores em 
greve etc.) . O Direi to garante a pr ivacidade e a int imidade e, também, ao 
mesmo tempo, a publ ic idade e a quebra da int imidade. 
Só por esses exemplos percebe-se o grau de di f iculdade que é o 
manejar do conceito “dire i to” . Talvez por isso a chamada Ciência do Direi to 
tenha acabado por pr iv i legiar um dos sent idos, dentre os vár ios possíveis. 
Como, via de regra, as c iências em geral não têm muita 
d i f iculdade na descoberta e f ixação de seus objetos - por exemplo, a medic ina 
não tem dúvida de que deve estudar o corpo humano - , a Ciência do Direi to 
pretende o mesmo. 
Dessa forma, optou por estudar um dos sent idos possíveis do 
termo “dire i to” : o de norma jur íd ica e, especialmente, o de norma jur ídica 
escr i ta. 
Mas não parece ter s ido uma escolha muito fel iz - ainda que se 
possa entendê-Ia - , uma vez que as di f iculdades de f ixação de sentido que o 
termo “direi to” revela ao invest igador, antes de serem um obstáculo, apontam 
para uma r iqueza de s igni f icações que merecem estudo aprofundado. 
Contudo, ao invés de buscar superar o obstáculo, penetrando em 
sua complexidade fecunda, o cient is ta do Direi to deu uma vol ta ao largo do 
problema e levou consigo o sentido mais fác i l de ser abordado. 
Com isso, o que era de humano a impregnar o Dire i to acabou 
congelando-se no conceito da norma jur íd ica escr i ta e perdendo-se no tra-
balho anal í t ico do invest igador. 
É preciso resgatar a magnif icênc ia da dignidade humana, que é o 
fundamento úl t imo que dá sustentação ao Direi to, através da abertura das 
mentes que se dedicam ao estudo do Dire i to, o que passa necessar iamente, 
por uma aval iação s incera dos métodos da Ciência do Dire i to, dos inst i tutos 
jur ídicos existentes, das condições sociais reais nas quais o Dire i to está 
inc luído, sobre as quais e le inf lu i e das quais recebe inf luênc ia.