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LICC

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LICC
LINDB
Material Complementar de 
Direito Civil I 
01/03/2013
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Antes de regulamentar as relações interpessoais, o ordenamento deve disciplinar a aplicação, a vigência, a interpretação e até a omissão da própria lei. Em nosso sistema, tal tarefa foi desempenhada pela Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), que tem por objeto a própria lei, o próprio ato normativo criado pelo Congresso Nacional, em consonância com o Processo Legislativo dos arts. 59 e seguintes da Constituição Federal. A LICC é a lex legum, ou seja, um conjunto de normas sobre normas. É chamada de norma supralegal.
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LICC - Decreto-lei no. 4.657/1942
Sendo mais apropriado que levasse o nome de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei- 12.376-2010), posto se aplicar a todos os ramos do Direito.
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Vacatio Legis - Conceito
vacatio legis é o tempo que medeia entre a publicação da norma e sua vigência. Se a norma não o previr, será em 45 (quarenta e cinco dias); se o fizer, vale sua disposição. Nesse intervalo, ela não tem validade no ordenamento (MP/SP - 81º).
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Vacatio Legis
Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. 
Após sua publicação (e não sua promulgação), a norma pode ou não vigorar desde logo (ter vigência). É uma opção do legislador. A LlCC não impõe que se aguarde o prazo de 45 dias para então a lei vigorar; ao contrário, estabelece esse prazo apenas no caso de omissão da lei quanto à sua vacatio.
O fundamento deste lapso temporal é permitir que a sociedade se acostume com o novo ordenamento.
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Nada impede que a lei preveja outro prazo para a entrada em vigor da norma, como fez o artigo 2044 da Lei 10.406/02 (NCC)
Entretanto, é cada vez mais comum a disposição: "Esta lei entra em vigor na data de sua publicação“
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Vacatio de leis brasileiras com aplicação no exterior
O § 1º do art. 1º. da LICC - obrigatoriedade da lei brasileira no exterior. A vacatio legis será de 3 meses se outro prazo não for determinado no bojo da própria lei.
 Via de regra, uma lei brasileira não tem vigência em território alienígena.
Tal dispositivo refere-se à lei brasileira na eventualidade de ser obrigatória em território estrangeiro. 
Lei que regula os "direitos políticos dos brasileiros com moradia no exterior", ou leis que disciplinem a situação de "diplomatas brasileiros em missão de paz" são alguns exemplos.
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Proibição de vacatio legis em lei que altera processo eleitoral
Há, porém, uma hipótese em que a vacatio está proibida. Trata-se da lei que altera o processo eleitoral que deve entrar em vigor na data da publicação. O art. 16 da Constituição quis evitar que artifícios de última hora prorrogassem demasiadamente a entrada em vigor da norma, sobrestando-a por longo período. Porém, ainda que em vigor, tal lei não pode ser aplicada às eleições ocorridas no período de um ano.
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Princípio da obrigatoriedade simultânea
Expirado o seu prazo de vacatio, a lei entra em vigor de uma só vez em todo o território nacional. 
É o que se chama de princípio da obrigatoriedade simultânea ou princípio do prazo único que vigora no país desde 1942.
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Correção em texto de lei dentro da vacatio legis
Se a lei ainda está no período de vacatio, significa que não está em vigor. Ocorrendo nova publicação, o prazo da vacatio reinicia desde a nova publicação. 
Havendo várias publicações, é a última que vale para a contagem do prazo (DINIZ, 2002, p. 60).
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Correção em texto de lei já em vigor
As correções de texto de lei já em vigor consideram-se lei nova, ou seja: para corrigi-la é necessário passar por todo processo de criação de uma lei.
"Se a correção for feita dentro da vigência legal, a lei, apesar de errada, vigorará até a data do novo diploma legal publicado [...]” Maria Helena Diniz (2002, p. 61).
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Juiz pode corrigir inexatidões ou imperfeições
presentes no corpo da lei ?
Lei Complementar nº 95 determinou em seu art. 18 que: "eventual inexatidão formal de norma elaborada mediante processo legislativo regular não constitui escusa válida para o seu descumprimento".
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E se houver inexatidão no procedimento criador da norma???
Estaremos diante de inconstitucionalidade formal da mesma, cabendo sobre ela todo o mecanismo de controle de constitucionalidade analisado na matéria de Direito Constitucional 
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Princípio da continuidade – art 2º.
Só uma nova lei pode revogar outra. 
Esse é o princípio da continuidade das leis, previsto no art. 2º. da LICC: "Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.”
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Espécies de revogação da Lei
Há três formas de uma nova lei revogar anterior. 
Estão previstas no § 1º. do art. 2º.: "A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior."
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Revogação expressa, que ocorre quando a nova lei diz textualmente que está revogando a anterior.
Exemplo é o art. 2.045 da Lei no. 10.406, de 2002, que revogou expressamente "a Lei na 3.071 de 1a de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte Primeira do Código Comercial Lei no. 556, de 25 de junho de 1850". 
Esta é inclusive a orientação da Lei Complementar no. 95/98, que diz no art. 9º.: "A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. "
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Revogação Tácita: Desta forma, nova lei revogará a anterior, "quando seja com ela incompatível“ (art. 2º., § 1º., da LlCC). A nova lei não afirmou expressamente, mas, pelo seu conjunto, verifica-se uma flagrante incompatibilidade com a lei anterior. 
Nas palavras de Câmara Leal (1930, p. 57): "a nova lei, sem declarar revogada a anterior, estabelece preceitos cuja aplicação se torna incompatível com a aplicação da lei anterior”.
É por isso que as Leis não precisariam prever a tradicional expressão "revogam-se as disposições em contrário". Se a disposição antiga é no sentido contrário, já está revogada tacitamente.
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Revogação Global: ocorre quando nova lei disciplina totalmente a matéria anteriormente veiculada em outra norma. Um bom exemplo enunciado por Silvio Rodrigues (2002, p. 19) é o da própria LlCC de 1942, que disciplinou totalmente a matéria versada na LlCC de 1916, sem fazer expressa referência à revogação desta.
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Revogação quanto a sua extensão
ab-rogação: revogação total da lei anterior
Derrogação: revogação parcial
Câmara Leal (1930, p. 57) ainda insere uma terceira espécie de revogação quanto à extensão, a chamada sub-rogação, que seria "a modificação da lei anterior, por se lhe acrescentar qualquer disposição".
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Art. 2º., §2º. LINDB – “A lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior"
"lei geral não revoga lei especial como a nova lei especial não revoga a geral“, podem coexistir pacificamente desde que não se contradigam.
O Estatuto da Criança e do Adolescente -lei especial de 1990 disciplinou a adoção. Este diploma (art. 42) estabelecia como requisito a idade mínima de 21 anos do adotante. O Código Civil - lei geral de 2002 - disciplinou o mesmo assunto nos arts. 1.618 a 1.629 e já em seu artigo vestibular reduziu a idade do adotante para 18 anos. Assim, a lei geral revogou parcialmente a lei especial, sem qualquer possibilidade de se cogitar a convivência das normas nesse pormenor.
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Repristinação
significa restaurar ao estado original: 
a lei A é revogada pela lei B
a lei B, vem a ser revogada pela lei C. Repristinar a lei “A” significa torná-Ia novamente vigente no ordenamento, devolvendo os efeitos que a lei B lhe ceifou.
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Repristinação
Tal possibilidade não é descartada de nosso ordenamento, desde que seja feito de modo expresso pela lei mais recente (a lei C do
exemplo citado).
 A lei C teria então o condão de repristinar a lei A, bastando que mencionasse a volta de sua vigência. 
A possibilidade de repristinação automática, porém, é sufocada pelo art. 2º, § 3º, da LICC, que determina: "Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência."
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Princípio da obrigatoriedade
Com a publicação da norma estabelece-se uma presunção absoluta de que todos conhecem a lei e - por conta disso - não é lícito alegar seu desconhecimento para dela se escusar. É o que estabelece o art. 3º da LICC: "Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
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Há alguma exceção ao princípio da obrigatoriedade?
o ordenamento permite a alegação de ignorância da lei para seu descumprimento em pelo menos uma oportunidade específica: Tal previsão está na lei de contravenções penais (Decreto-lei no. 3.688/41). Esta norma enumera os chamados "crimes menores", prevendo fatos típicos em completo desuso, como "emissão de fumaça, vapor ou gás", "embriaguez" e "vadiagem". O art. 8º salienta: "No caso de ignorância ou errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada. "
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Os sistemas integradores do ordenamento
o Estado não pode se furtar a dizer o Direito, alegando eventual omissão da lei (art. 125 do CPC). Por conta disso, a LICC prevê mecanismos inteligentes que têm a tarefa de completar, tornar íntegro o ordenamento, suprindo eventuais lacunas. São três os chamados Sistemas Integradores da Lei, que passaremos a examinar: Analogia, Costumes e Princípios Gerais do Direito.
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Analogia
Washington de Barros Monteiro (2001, p. 40), é: "aplicar a hipótese, não prevista especialmente em lei, disposição relativa a caso semelhante".
Exemplo: Situação I - Direito das Sucessões. Situação em que determinada pessoa seria excluída da sucessão por força da lei, independentemente de testamento. Instituto da indignidade. 
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Filho Indigno
Permitir que uma pessoa que matou seu pai ainda receba herança deste é no mínimo torpe. Foi por isso que a lei estabeleceu o instituto da indignidade, exigindo a ação própria no âmbito civil para efetivá-Ia. Ainda neste capítulo o Código estabelece que os descendentes do indigno herdam por representação, afinal, a pena não passará da pessoa do condenado. Assim, em nosso exemplo, o filho do assassino teria direito de receber a parte que deste foi retirada.
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Mais para a frente, ainda no livro das sucessões, o Código previu outro instituto denominado deserdação. É um instituto semelhante, que tem como ponto básico impedir que alguém receba do de cujus após tê-Io tratado de modo incompatível com o carinho e atenção que se esperam de um herdeiro, a deserdação depende de testamento, e por privar os herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge) de sua parte legítima, enquanto aquela emana diretamente da lei e priva qualquer herdeiro de receber sua parte na herança. 
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Nas disposições sobre a deserdação, o legislador não previu se o filho do deserdado herdaria por representação ou se os bens voltariam ao monte para ser partilhado entre os herdeiros de mesmo grau do deserdado. Estamos diante da clássica situação ele analogia. Indignidade e deserdação são institutos parecidos, análogos, que visam impedir o direito sucessório para quem não o mereça. Para resolver a questão lacunosa da deserdação, basta aplicar o art. 1.816, que regula a situação semelhante no capítulo da indignidade.
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Costumes
São modos de vida, são procedimentos contínuos e gerais que ganham da sociedade - e até da moral - sua força coercitiva. 
Tais hábitos podem servir como fonte de inspiração para o legislador, como no caso do 13º. salário, que inicialmente era um costume dos patrões de boa índole para com seus subordinados e logo se transformou em lei.
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Costume secundum legem
Serve de guia para o Juiz aplicar devidamente a Lei existente. Um exemplo é o art. 599, que expressamente determina a utilização do costume para delimitar o prazo do contrato de prestação de serviços, na ausência de disposição entre as partes.
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Costume praeter legem
Pode, por outro lado, servir de complemento à lei, ampliando seu alcance quando esta não for suficientemente precisa. É o que se denomina costume praeter legem. É esta espécie de costume que a LICC prevê para integrar a lei quando ela for omissa.
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Costume contra legem
Há ainda o costume contra legem, que fere a lei. Esta espécie não serve de complemento da lei, não podendo integrar nosso ordenamento. É o que relembra João Baptista de Mello e Souza Neto (2000, p. 26), mencionando decisão do STJ: 'o sistema jurídico brasileiro não admite possa uma lei perecer pelo desuso, porquanto, assentado no princípio da supremacia da lei escrita (fonte principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua revogação por outra lei. Noutros termos, significa que não pode ter existência jurídica o costume contra legem'" (RESP no. 30.705-7/SP, 6ª T. j. 14.3.95, ReI. Min. Adhemar Maciel).
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Princípios gerais do Direito
"Nada existe de mais tormentoso para o intérprete que a explicação dos princípios gerais de direito, não especificados pelo legislador.“ Washington de Barros Monteiro (2001, p. 42).
"os pressupostos lógicos e necessários das diversas normas legislativas". (COVIELLO apud MONTEIRO, 2001, p. 43)
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Tribunal de Justiça de São Paulo deparou- se com uma situação singular não prevista pela lei. Um mesmo varão manteve concomitantemente duas amásias por mais de 30 anos, de modo estável, público e duradouro. O inteiro teor do acórdão informa inclusive que ele participava com ambas (de modo separado) de festas familiares, aventuras, viagens etc. Com seu falecimento, a legítima foi disputada por ambas e o Tribunal aplicando os princípios gerais do direito - optou por dividi-Ia ao meio. (inteiro teor do Acórdão in LOUREIRO FILHO, 2000, p. 29):
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"não existe lei que discipline uma situação como a dos autos. Os princípios gerais de direito permitem decidir pela separação eqüitativa da meação (arts. 4º, da LICC e 126 do CPC). Cumpre respeitar a vontade de A, no que tange ao destino de sua parte disponível; a metade do seu patrimônio, no entanto, comporta divisão entre as duas mulheres que lhe foram solidárias com o tipo de vida que escolheu." (grifamos)
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EMENTA: "APELAÇÃO CÍVEL - Deve o juiz encarregado de julgar ação que versa sobre a meação de homem de hábitos incomuns e que manteve vida concubinária dúplice por mais de 30 anos, guiar-se pelos princípios gerais de direito (artigos 4º da LICC e 126 do Código de Processo Civil) - Dividir a meação significa decisão de justiça social (artigo 226, § 3º da Constituição Federal) – Provimento do recurso, em parte, da autora para atribuir-lhe 25% do patrimônio do de cujus, prejudicado os demais recursos" (TlSP Apelação Cível n. 64.847-4 - Piracicaba - 3ª Câmara de Direito Privado - Relator: Ênio Zuliani - 02.03.99 - V.U.)
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Eqüidade
A eqüidade aproxima-se muito do conceito do justo, do razoável, do equilíbrio, que - por natureza – são conceitos subjetivos. Exatamente por este caráter, a lei tomou um cuidado especial para sua aplicação. De fato, não basta a ausência de norma a regular o caso concreto. É preciso ainda que a lei preveja a possibilidade de aplicação da eqüidade. É o que determina o art. 127 do CPC, no capítulo referente ao Juiz, nestes termos: "O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei."
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Exemplo de equidade
Um desses casos está no próprio CPC (art. 1.109): "O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna."
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Bibliografia
NICOLAU, Gustavo Rene. Direito civil: parte geral - 2. ed. - 2. reimpr. - São Paulo: Atlas, 2007. (Série leituras jurídicas:
provas e concursos; v. 3). p. 1-18
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Princípios informadores da eficácia das leis
1. Princípio da obrigatoriedade da lei (artigo 3° da Lei de Introdução): uma vez em vigor, a lei é obrigatória para todos os seus destinatários, sem qualquer distinção, ainda que a desconheça.
2. Princípio da continuidade da lei (artigo 2° da Lei de Introdução): toda lei a partir de sua vigência, têm eficácia continuada até que seja revogada por outra lei.
3. Princípio da irretroatividade da lei (artigo 6° da Lei de Introdução): nenhuma lei nova prejudicará direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
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