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O Racionalismo de Descartes René Descartes (1596-1650) Foi um filósofo, físico e matemático francês, considerado por muitos como o fundador da filosofia moderna, assim como o pai da matemática moderna (principalmente por desenvolver a geometria analítica). Dentre suas principais obras estão: Regras para a direção do espírito (1628); Discurso sobre o método (1637); Meditações Metafísicas (1641). Dúvida metódica, Ceticismo metodológico Difere-se do ceticismo clássico dos gregos (Pirro de Élis, Sexto Empírico,etc.), pois possui papel meramente metodológico, e está ligado à dúvida metódica que ele adota na ‘primeira meditação’; Descartes tem uma postura em relação ao conhecimento racionalista e fundacionista. Racionalista porque sustenta que o intelecto humano é também fonte de conhecimento, e defende a doutrina das ideias inatas; Fundacionista: 1 – alcançar conhecimentos indubitáveis que servirão de ponto de partida e apoio infalível para todo o resto do conhecimento humano; 2 – Um método adequado para extrair o restante do conhecimento a partir desses conhecimentos indubitáveis. Dúvida Metódica Parte da constatação natural de que, ao examinar suas ideias e opiniões, encontra entre elas algumas que agora julga falsas mas que, no passado, julgava verdadeiras; Isso então se torna um motivo para rejeitar todas elas, até que se encontre algumas que se mostrem totalmente confiáveis, i.e., até que se alcance algum conhecimento direto e indubitável; Como seria uma tarefa praticamente inviável examinar todas as nossas ideias e opiniões, ele então propõe que seria mais eficaz atacar as mais fundamentais; se forem descartadas, se vão junto todas que nelas estavam fundamentadas, se forem mantidas, então servirão de base para as demais. Dúvida Metódica A dúvida metódica apresentada por Descartes possui dois níveis: Dúvida natural: diz respeito aos sentidos e ao conhecimento neles originado (Argumento do engano dos sentidos, argumento do sonho); Dúvida hiperbólica (exagerada): Podemos duvidar até mesmo das verdades matemáticas (Argumento do gênio maligno). Cosmologia cartesiana: há três substâncias – as coisas materiais fora da mente, a alma (mente, espírito) e Deus (que criou as outras duas e possui poder sobre elas). O Cogito e outras verdades Mesmo que exista um Gênio Maligno, que em tudo me engana, para que ele me engane, é preciso que eu exista. Se ele existir, pode em tudo me enganar, mas não pode me fazer pensar que não existo. Portanto, a proposição ‘eu sou’ é verdadeira toda vez que eu a enuncio. A importância desse argumento é que o cogito cartesiano se torna imune às artimanhas do gênio maligno, servindo como uma primeira certeza indubitável. Entretanto, tudo o mais segue em aberto. O Cogito e outras verdades Mas, então, o que sou? Por exclusão, se ele não é Deus, nem tampouco sabe se é corpo material, conclui que é uma coisa pensante (res cogitans). – essa é a segunda certeza que ele alcança, da qual segue-se imediatamente a terceira: Se estou certo de que sou coisa pensante, embora possa também ser corpo, está claro que o espírito é mais fácil de se conhecer do que o corpo. Percebe-se que até agora se falou de certezas e não de verdades, visto que até agora não envolve nenhuma correspondência com algo fora da mente. Nesses termos, somente na terceira meditação aparece a primeira verdade de Descartes. O Cogito e outras verdades Descartes inicia a “Terceira Meditação” enunciando uma regra metodológica geral, a saber, a da clareza e distinção – são verdadeiras todas as nossas ideias claras e distintas. Argumento ontológico da existência de Deus: Se possuo uma ideia clara e distinta de um Deus bom e veraz, que inclui em si todas as perfeições, e sendo eu imperfeito e limitado, assim como todas as coisas que conhecemos pelos sentidos, tal ideia não pode ter vindo da experiência nem tampouco ter sido criada por ele. Portanto, a única origem possível dessa ideia tem de ser o próprio Deus, que a colocou em minha mente. A existência de Deus têm um papel metodológico importantíssimo na teoria do conhecimento de Descartes, pois é apenas porque existe um Deus bom e veraz, que a regra da clareza e distinção será aplicável de modo geral. O Cogito e outras verdades Desse modo, no sistema cartesiano Deus é uma espécie de fiador da verdade. A existência de Deus é, portanto, a primeira verdade (no sentido objetivo e correspondencial) alcançada por descartes e, a partir dela, muitas outras virão. Problema do erro: se existe um Deus bom e veraz, que nos criou à sua imagem e nos colocou algumas ideias inatas (claras e distintas) que podem constituir a base de nosso conhecimento do mundo, como é possível que erremos? (tomar como falso algo que antes tínhamos como verdadeiro ou vice-versa). Argumento do pedaço de cera: consideramos o pedaço de cera o mesmo objeto porque reconhecemos nele uma certa extensão, que é uma ideia que já está na mente (inata). A essência das coisas materiais é conhecida não pelos sentidos e deles abstraída, mas diretamente através de uma ideia que já está no entendimento – a ideia clara e distinta de extensão. O Cogito e outras verdades Problema do erro: Se existe um Deus bom e veraz, que nos dota de ideias inatas, claras e distintas, que nos permitem alcançar verdades indubitáveis, não pode ser ele a fonte do erro; A verdadeira semelhança entre nós e Deus está na vontade. Essa vontade ilimitada nos permite ter liberdade, e poderia estar aí a fonte do erro. Entretanto, para Descartes, vontade e liberdade são perfeições originárias de Deus, e não poderiam, portanto, ser fonte de erro. O erro só pode ocorrer da desproporção entre a vontade e o entendimento, sendo este limitado, nossa vontade nos leva a ultrapassar os seus limites (aquilo que é claro e distinto para nós) A realidade do mundo exterior Continuando a aplicar a regra da clareza e distinção, e a partir da sua prova da existência de Deus, que garante a validade de tal regra, ele afirma ter uma percepção clara e distinta de que está ligado a um corpo material, cuja materialidade se assemelha a de todos os objetos à sua volta; Se temos ideias claras e distintas a respeito de nosso corpo e dos demais objetos à sua volta, então eles devem existir realmente; A existência de um Deus bom e veraz e a regra de clareza e distinção permitem provar que existem fora de nós aquelas coisas que representamos em nosso mente. A natureza da mente Dualismo cartesiano: Para descartes, o corpo humano é como uma máquina, assim como os demais animais. Entretanto, o homem possui alma (mente). Surge a necessidade de explicar como ocorre essa interação entre corpo e mente; A alma estaria localizada na glândula pineal (epífise), onde se torna possível tal interação; Embora tenha tentado explicar essas interações por meios que hoje chamaríamos neurofisiológicos e psicológicos, o seu dualismo considera corpo e alma duas substâncias distintas, o que, em última instância, inviabilizaria sua interação; A natureza da mente Deixando o problema da relação corpo-mente de lado, voltemo-nos à concepção cartesiana de mente: Segundo Rorty, a concepção de mente humana de descartes e dos demais filósofos modernos é especular (a mente é uma espécie de espelho que reflete a realidade extra-mental, e represta os objetos externos com relativa fidelidade); É um ponto de vista psicologista em epistemologia, considerando o conhecimento como uma questão de representações mentais e eventos psicológicos que ocorrem na mente do sujeito; Embora psicologista, a abordagem cartesiana trata os problemas epistemológicos de modo abstrato e ideal, recorrendo a questões lógicas e conceituais, que podem ser resolvidas sem necessidade de recorrer a investigações empíricas. A abordagem cartesiana, portanto, pode se considerada realista, racionalista e fundacionista.
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