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Hermeneutica_Juridica_Unidade_2

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NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Disciplina de Hermenêutica Jurídica
Unidade II - Hermenêutica filosófica
NEAD Núcleo de Educação a Distância
2
Sumário (Unidade 2)
EXPOSIÇÃO SINTÁTICA DA UNIDADE•	
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA CONTEMPORÂNEA•	
Hermenêutica Metodológica ou Epistemológica em Schleiermacher e Dilthey1. 
Hermenêutica Ontológica ou Existencial em Heidegger e Gadamer2. 
Contribuições de Jean Paul Sartre e Paul Ricoeur3. 
HERMENÊUTICA FILOSÓFICA NA TEORIA DO CONHECIMENTO•	
Conhecimento1. 
Norma, Cultura, Valor e Sentido2. 
Conhecimento e Interpretação3. 
Interpretação e Formação Profissional4. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS•	
NEAD Núcleo de Educação a Distância
3
Exposição sintática da unidade
Começamos agora a segunda unidade da disciplina de Hermenêuti-
ca Jurídica. Durante esta unidade, iremos apresentar, inicialmente, as 
principais correntes filosóficas da hermenêutica contemporânea, que 
tiveram influência direta sobre a hermenêutica jurídica. Em seguida, 
faremos a aplicação destes estudos para a hermenêutica, por ser a in-
terpretação algo que faz parte de um ato de conhecimento. Para tanto, 
iniciaremos abordando o conceito de conhecimento, os vários tipos e 
graus do conhecimento, suas metodologias, seus sujeito e objetos.
Evoluindo para a relação entre conhecimento e cultura, iremos demons-
trar que todo conhecimento é uma atividade interpretativa dos fatos, pela 
qual buscamos compreender os acontecimentos e objetos da vida cotidiana 
e, através de uma análise cultural, atribuímos a estes os padrões valorativos 
sociais vigentes. Neste contexto é que surgem a norma jurídica, como dis-
ciplinadora desses padrões, e o Direito como estudo sistemático da norma, 
ambos essencialmente vinculados à sociedade e à cultura.
Assim, para que você possa compreender melhor o nosso estudo, faz-
se importante conhecer quais são os objetivos desta unidade:
Objetivo
Analisar as elaborações filosóficas do problema hermenêutico • 
e suas repercussões no campo jurídico.
 A hermenêutica jurídica se afirma, assim, como atividade de referência 
para alcançar a dimensão valorativa dos fatos presentes na cultura, da qual se 
depreende o sentido conferido às ações humanas, sentido este passível de ser 
captado pelo exercício da interpretação. A interpretação é uma verdadeira re-
criação da norma, no momento concreto de sua aplicação, evidenciando assim 
o dinamismo do Direito na tentativa de alcançar a contínua evolução social.
Desse modo, a seguir examinaremos os momentos constitutivos do ato 
de interpretar e o modo como atuam nele os elementos objetivos do mun-
do jurídico e subjetivos da formação do intérprete. Acompanhe!
NEAD Núcleo de Educação a Distância
4
Unidade 2: Hermenêutica filosófica
TEMA: HERMENÊUTICA FILOSÓFICA CONTEMPORÂNEA
1 HERMENÊUTICA METODOLÓGICA OU EPISTEMOLÓGICA 
EM SCHLEIERMACHER E DILTHEY
Desde a antiguidade até a era moderna, as teorias da herme-
nêutica não tiveram evolução significativa, permanecendo sempre 
o entendimento da hermenêutica enquanto exegese, ou seja, in-
terpretação literal. Foi no âmbito da filosofia contemporânea, por 
influência do pensamento de Hegel e Schleiermacher, que começa-
ram a surgir as novas tendências do estudo da hermenêutica. Hegel 
contribuiu com o seu novo conceito de razão histórica, conforme foi 
explicitado na primeira unidade e Schleiermacher fez a adaptação 
do método histórico-crítico, que era utilizado na teologia protes-
tante, para o plano geral do conhecimento científico, aplicando-o 
primordialmente no processo de compreensão interpessoal. Desse 
modo, examinemos brevemente a teoria de Schleiermacher.
O interesse de Schleiermacher pela hermenêutica surgiu a par-
tir da necessidade de fundamentar os procedimentos práticos de 
tradução e interpretação de textos antigos. Embora esta seja uma 
atividade humana bastante antiga, ainda não havia sido abordada 
de uma maneira sistemática, de modo a ser considerada científica. 
O que havia era um conjunto de princípios e técnicas que verifica-
vam apenas o aspecto objetivo, literário, gramatical, sem levar em 
conta o processo interior mental que se passa no pensamento do 
intérprete. Ele afirma que é impossível dissociar o que está escrito 
de quem o escreveu, na medida em que a linguagem escrita de 
alguém é uma interpretação pessoal dos fatos que são descritos. A 
hermenêutica visa não apenas a explicação das palavras do texto, 
mas, também, e principalmente, a apreensão do pensamento que 
está contido no texto escrito.
Então, Schleiermacher iniciou o trabalho de elaboração de uma 
teoria hermenêutica geral, que não se limitasse a regras e proce-
dimentos práticos de interpretação, mas que também e principal-
mente demonstrasse as razões implícitas destes procedimentos, 
tornando a hermenêutica um estudo acerca da compreensão em 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
5
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
geral. Ou seja, em vez de perguntar “como” se interpreta um tex-
to, ele pergunta primeiramente o que significa interpretar e com-
preender e de que modo isso ocorre na nossa mente. Só depois de 
esclarecidas estas questões fundamentais, deve-se partir para a 
parte prática da formação de regras específicas de interpretação.
Importante
Assim, a atividade da hermenêutica não será mais deter-
minada pelo objeto a ser interpretado, mas pelas condições 
subjetivas daquele que faz a interpretação. Ele desloca a 
hermenêutica de uma posição essencialmente técnica e 
científica para um domínio filosófico argumentativo, relacio-
nando-a com o fenômeno geral da compreensão humana, 
estritamente conectada com a arte de pensar e de falar. 
Visto que a arte de falar é apenas o lado exterior da arte 
de pensar, será sempre necessário procurar compreender, 
junto com a linguagem (falada ou escrita) o pensamento 
elaborado por quem falou ou escreveu.
Processo Hermenêutico
Interpretação do 
conteúdo
Interpretação do texto 
(falado ou escrito)
apreende descobre
duas etapas 
conjuntas e 
complementares
Interpretação 
gramatical do texto
signos e símbolos 
linguísticos utilizados 
pelo autor (aspecto da 
literalidade)
Interpretação da 
genialidade do autor
pensamento desen-
volvido pelo autor na 
produção do texto 
(processos mentais da 
produção)
NEAD Núcleo de Educação a Distância
6
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Como visto no esquema, entende-se deste modo que o pro-
cesso hermenêutico pode ser distinguido em duas etapas con-
juntas e complementares: a interpretação do texto (falado 
ou escrito) e a interpretação do seu conteúdo. A primeira 
visa, a apreensão dos signos e símbolos linguísticos utilizados 
pelo autor, ou seja, o aspecto da literalidade; a segunda procu-
ra descobrir o pensamento desenvolvido pelo autor ao produzir 
aquele texto, os processos mentais envolvidos na sua produção. 
A primeira é a interpretação gramatical do texto; a segunda é a 
interpretação da genialidade do autor do texto.
Para Schleiermacher, portanto, a interpretação e a compre-
ensão (aqui entendidas como sinônimas) deveriam enfocar não 
apenas as palavras faladas ou escritas, mas a questão do porquê 
de certas ideias serem expressas de uma maneira e não de outra 
(compreensão genética). O foco primeiro da compreensão não é 
a validade do que está sendo dito, mas sua individualidade, en-
quanto pensamento de uma pessoa em particular, expressada de 
uma forma particular, num momento particular. Mas para que isso 
seja possível, isto é, para que se compreenda a individualidade de 
quem fala, Schleiermacher acreditava que se deve retroceder até 
a gênese das ideias, como se pudesse repetir na mente do intér-
prete aquilo que se passou no pensamento original do autor.
A ênfase na compreensão de produtosmentais individuais 
trouxe à tona, então, uma nova preocupação: a hermenêutica 
psicológica. Deve-se notar, entretanto, que o tipo de conheci-
mento psicológico em questão não se refere ao conhecimento 
de uma psicologia experimental, baseada em leis do comporta-
mento, mas de uma “psicologia descritiva” de acordo com a qual 
a mente, a sociedade e os processos históricos são aspectos de 
um domínio psíquico geral. Esta nova visão do problema herme-
nêutico teve grande importância na formação da ciência psicoló-
gica, até então vinculada à filosofia.
No que diz respeito ao Direito, afirma o Professor Glauco Maga-
lhães (2004):
Percebemos aqui um intenso psicologismo no método pro-
posto. Isto repercutiu posteriormente no Direito, através da 
ênfase exagerada dada à vontade do legislador como referen-
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
cial necessário à interpretação correta da lei (subjetivismo), 
ensino praticamente já superado pelo objetivismo de caráter 
evolutivo e sociológico, o qual procura o sentido da norma 
jurídica na vontade nela objetivada e que acompanha a dina-
micidade dos fatos sociais (MAGALHÃES, 2004, p.34).
Em seguida a Schleiermacher, outro pensador que contribuiu 
para o desenvolvimento da hermenêutica filosófica foi Wilhelm 
Dilthey. Ele foi discípulo e biógrafo de Schleiermacher, aprofun-
dando-se nas teorias deste, evoluindo, porém, e buscando de-
monstrar como a experiência histórica pode tornar-se ciência, 
ou seja, como é possível a história ser considerada uma ciência. 
Através do método hermenêutico proposto por Schleiermacher, 
os estudiosos da psicologia ganharam força para que este es-
tudo fosse considerado científico, o que não era até então. Dil-
they, então, procurou demonstrar que, pelo mesmo método, a 
história também poderia ser estudada cientificamente.
Afirma Dilthey que todas as manifestações humanas, e não 
apenas os textos escritos, fazem parte de um grande contexto 
sócio-temporal, que nós chamamos de cultura. O grande empe-
cilho para que os estudos dos fenômenos humanos fossem con-
siderados científicos era a falta de um método adequado a eles, 
já que estes estudos não se enquadravam no método científico 
clássico, baseado na lógica matemática, como acontecia com as 
ciências da natureza. As teorias de Hegel, demonstrando a exis-
tência de uma racionalidade humana própria presente na histó-
rica (razão histórica), já haviam modificado o conceito antigo de 
história como simples relato de fatos.
O método hermenêutico iniciado por Schleiermacher demons-
trara a possibilidade de uma análise científica dos fenômenos 
psicológicos. Considerando que a pessoa humana, enquanto in-
divíduo, tem necessariamente uma vida pessoal dentro de um 
determinado contexto temporal e social (cultura), Dilthey viu 
que seria possível ampliar o método hermenêutico para alcançar 
esse contexto mais amplo em que se passa a vida humana e, 
com isso, se alcançaria o plano da história.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Dilthey
Ciências do 
Espírito
Ciências da 
Natureza
Ato de 
Conhecimento na:
Ato de 
Conhecimento na:
Exemplo:
se opõem
Exemplo:
propôs divisão 
do conhecimento 
científico
Método Analítico 
Esclarecedor
Vida Humana
=
Compreende-se
Natureza
=
Esclarece-se
Ciências 
Naturais
Ciências 
Humanas ou 
Sociais
Procedimento de 
Compreensão 
Descritiva
Explicação Compreensão
Interpretação 
Esclarecedora
Interpretação 
Compreensiva
Evoluindo
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Como visto nesse outro esquema, observamos que com o 
resultado das suas teorias, Dilthey foi o primeiro pensador 
a propor a divisão do conhecimento científico entre ciên-
cias da natureza e ciências do espírito, que se distin-
guem por um método analítico-esclarecedor (as primeiras) 
e um procedimento de compreensão descritiva (as segun-
das). O ato de conhecimento próprio das ciências naturais 
é a explicação, enquanto o ato de conhecimento próprio 
das ciências do espírito é a compreensão. Esclarecemos 
por meio de processos intelectuais, mas compreendemos 
pela cooperação de todas as forças sentimentais na apre-
ensão, pelo mergulhar das forças sentimentais no objeto.
Dilthey estabelece assim uma interpretação compreensiva, 
que se opõe explicitamente à interpretação das ciências 
naturais, naturalmente esclarecedora. A natureza, nós a 
esclarecemos, mas a vida humana, nós a compreendemos. 
Esta distinção entre os grupos de ciências evoluiu poste-
riormente para ciências naturais e ciências humanas ou so-
ciais, nomenclatura atualmente mais utilizada.
Uma das ideias que Dilthey procura deixar clara é que 
tanto o mundo externo afeta o conteúdo da nossa mente 
quanto é afetado por ela. Neste sentido, tanto o conhecimen-
to quanto as estruturas objetivas do mundo (social, cultural, 
linguística) devem ser concebidos como um processo histó-
rico, e o papel da filosofia e das ciências do espírito deveria 
ser o de refletir sobre os pressupostos que estão na base do 
desenvolvimento histórico da consciência, de analisar os da-
dos da consciência humana ou, em outros termos, iluminar o 
processo da vivência. Isto porque, por um lado, a experiência 
humana é sempre formada por vivências, isto é, por experi-
ências de caráter histórico, e, por outro, toda ciência, assim 
como toda filosofia, deve se referir à experiência. Foi desta 
maneira que Dilthey procurou justificar a história como ciên-
cia, sendo considerado o pai do historicismo.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
10
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
De acordo com Dilthey, a perspectiva na qual a pergunta 
pela cientificidade da história é feita é inteiramente distinta 
daquela na qual se pergunta pela possibilidade da ciência na-
tural. A diferença está no seguinte: a ciência natural trata de 
um mundo exterior ao homem e não produzido por ele, daí 
que o grande problema da verdade científica é a adequação 
entre os conceitos e os fatos do mundo natural. Dilthey cha-
ma a atenção para o fato da existência de dois mundos: um 
mundo “dado”, ou seja, que não foi feito pelo ser humano, e 
outro mundo “construído”, ou seja, produzido pelo homem, 
seja modificando os aspectos do mundo dado, seja constituído 
de conteúdos que o próprio homem produz.
Importante
Se no caso do mundo dado, no qual atua a ciência natu-
ral, a verdade científica está na adequação entre o pensa-
mento e a realidade externa, no caso da ciência histórica, 
não é necessário, em princípio, se perguntar pela razão 
segundo a qual nossos conceitos históricos se adequam ao 
mundo externo, pois o mundo histórico é um mundo pro-
duzido e formado pelo próprio espírito humano. Ou seja, 
os objetos do mundo da natureza guardam certa distância 
do ser humano, mas os objetos históricos não, pois o ser 
humano, que os produziu, está totalmente inserido neles. 
Assim, será mais acessível ao homem conhecer o mundo 
histórico do que o mundo natural.
As teorias de Dilthey tiveram também ampla repercussão 
no mundo científico, contribuindo para o reconhecimento 
dos estudos de humanidades como ciências, tornando-se 
clássica a distinção entre a compreensão e esclareci-
mento, caracterizando a diferença do conhecimento histó-
rico ou de ciência do espírito em relação aos métodos de 
ciências naturais. Esclarecer significa descobrir as relações 
de causalidade (causa e efeito), enquanto compreender 
significa penetrar no âmago dos fatos, buscando atingir as 
suas motivações mais profundas.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
11
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosóficaEm relação ao Direito, a hermenêutica jurídica moderna, de-
senvolvida inicialmente por Savigny e voltada para o Direito 
Privado, foi influenciada por essas teorias. Assim, teve iní-
cio uma hermenêutica metodológica expressa em diversas 
técnicas de interpretação. A interpretação histórica encon-
trava apoio no método histórico-crítico de Schleiermacher. 
A interpretação sistemática, cujo amadurecimento ocorreu 
no pensamento de Dilthey, via as produções do espírito na 
unidade da vida e conhecia a unidade da vida nas produções 
do espírito, compreendendo o todo pela parte e a parte pelo 
todo, inspirada na concepção da circularidade hermenêuti-
ca. Mais tarde, Ihering explicitou a interpretação teleológica 
e as escolas sociológicas se reportaram à interpretação so-
ciológica, sendo que tanto uma como as outras levaram em 
conta a evolução do sentido da norma na sociedade.
Na próxima unidade, estudaremos as escolas hermenêuti-
cas contemporâneas e, assim, esclareceremos melhor so-
bre o desenvolvimento dessas teorias da hermenêutica e 
da filosofia sobre o Direito.
2 HERMENÊUTICA ONTOLÓGICA OU EXISTENCIAL EM HEI-
DEGGER E GADAMER
Continuando na evolução da hermenêutica filosófica con-
temporânea, veremos as contribuições de Heidegger e Gada-
mer, que tiveram forte influência sobre a hermenêutica jurídica, 
especialmente a hermenêutica constitucional.
Heidegger discordava dos dois mestres anteriores, enten-
dendo que o objetivo da hermenêutica não era pesquisar re-
gras e métodos para a compreensão, mas aprofundar a própria 
compreensão, o compreender em si mesmo, qual a mudança 
interior que ocorre no ser humano quando ele compreende 
algo. Ou seja, ele entendia que a compreensão está direta-
NEAD Núcleo de Educação a Distância
12
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
mente ligada à existência, porque é na vida concreta que nós 
a desenvolvemos. Compreender as coisas não é algo que o ser 
humano pode fazer ou deixar de fazer, ao contrário, o ato da 
compreensão faz parte da própria essência do homem, porque 
é com base na compreensão que o homem se forma como ser 
humano e constitui a sociedade.
Assim, a compreensão não trata apenas de regras para me-
lhor entendimento de falas ou textos, mas por ela é possível 
penetrar na essência mais profunda do ser humano. Isso 
significa que a hermenêutica, para Heidegger, não é ape-
nas uma metodologia de conhecimento, mas um esforço de 
compreensão do próprio ser humano. Desse modo, Heideg-
ger transformou a hermenêutica em um estudo ontológico, 
relacionado com a existência das pessoas.
Reflexão
Vamos tentar explicar melhor a teoria de Heideg-
ger. Segundo ele, quem quer compreender um tex-
to não está interessado apenas em técnicas ou regras, 
mas antes de tudo o leitor faz certo “projeto” de lei-
tura. Quem lê um texto tem sempre certas expectati-
vas na busca de um determinado sentido que está ali 
oculto. Ou seja, o leitor de um texto não tem em vista
apenas regras gramaticais de ortografia e sintaxe, vai 
mais além, realiza uma incursão mais profunda no texto 
tentando encontrar ali uma mensagem de quem o escre-
veu. De acordo com Heidegger, a compreensão do tex-
to consiste exatamente na realização deste “projeto”, e 
aquelas expectativas iniciais vão se confirmando ou não, 
de modo que a tarefa principal da compreensão é a con-
firmação ou reforma desse projeto inicial. A essas ex-
pectativas, Heidegger chama de pré-opiniões ou pré-
conceitos, que serão confirmados ou não, ao passo que 
vamos aprofundando nosso conhecimento na leitura.
...
NEAD Núcleo de Educação a Distância
13
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
...
Com isso, Heideger quer significar que toda compreen-
são que passamos a ter de algo é antecedida de certa 
pré-compreensão (pré-opiniões ou pré-conceitos) acerca 
daquilo, de modo que o compreender seria exatamente 
confirmar ou desfazer essa pré-compreensão. Seria, en-
tão, o caso de perguntarmos a Heidegger de onde vêm 
essas nossas pré-opiniões ou pré-conceitos, que for-
mam a pré-compreensão? A resposta será: provêm da 
nossa cultura, as nossas percepções culturais apreendi-
das na vida em comunidade são o ponto de partida da 
nossa pré-compreensão, que por sua vez está na base 
de toda compreensão de algo que fazemos depois. Nós 
compreendemos algo sempre de acordo com as expec-
tativas da nossa formação cultural, pois é dentro dela
que o nosso pensamento se gera e se desenvolve. Cada 
intérprete, de acordo com o panorama de suas vivências 
anteriores, tem uma percepção diferenciada das coisas 
que vê no mundo e entende este mundo de acordo com 
isso. Segundo Heidegger, cada ser humano tem dentro de 
si, na sua capacidade racional, uma parcela da racionali-
dade geral presente no mundo. Ele chama isto de hori-
zonte do Ser, isto é, cada ser humano vive neste cenário 
em que, ao mesmo tempo em que detecta a razão em si 
mesmo e nas outras pessoas, capta também certa razoa-
bilidade geral que está presente em todas as coisas.
Esse cenário fornece as expectativas dos nossos conheci-
mentos futuros e nos prepara para a aquisição desses novos 
conhecimentos. A cultura, como produção coletiva dessa ra-
cionalidade humana, é uma forma de manifestação do Ser 
no mundo, através da existência humana. Desse modo, em 
cada compreensão de algo haverá sempre, indiretamente, 
certa compreensão deste Ser, pois a compreensão manifes-
ta não apenas o sentido racional presente no objeto conhe-
cido, mas vai além e alcança também o nível da racionali-
dade geral, que é o Ser.
NEAD Núcleo de Educação a Distância
14
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Evoluindo mais nesta linha de pensamento, Gadamer irá di-
zer que a compreensão de um texto é resultado de certo diálogo 
entre o intérprete e o próprio texto. Não interessa tanto o autor 
do texto, mas o próprio texto em si mesmo, o qual tem uma ob-
jetividade que permite a busca de um sentido no seu conteúdo, 
já que tem existência autônoma. Desse modo, ao mesmo tempo 
em que o texto “responde” as perguntas do intérprete, essas 
respostas se incorporam ao seu campo mental, suscitando novas 
perguntas que, ao serem respondidas, novamente se incorpo-
ram ao patrimônio mental do intérprete, formando uma espécie 
de movimento circular contínuo e interminável.
Importante
Com isso, Gadamer desenvolve o conceito de círculo her-
menêutico, demonstrando que todo conhecimento nosso 
sobre qualquer objeto tem como ponto de partida uma pré-
compreensão e se desenvolve em busca da compreensão; 
uma vez atingida a compreensão de um determinado ob-
jeto, esta se torna pré-compreensão para a compreensão 
de outros objetos, de modo que assim o nosso processo 
compreensivo se constitui num movimento constante de 
pré-compreensão para a compreensão e posterior retor-
no à pré-compreensão, para depois seguir adiante. Con-
siderando que um determinado texto é ou pode ter sido 
compreendido por muitas pessoas, essas compreensões se 
reúnem e se fundem em um grande cenário interpretativo, 
que ele chama de horizonte da compreensão. Esta fusão 
de horizontes demonstra a riqueza de sentido de um tex-
to, após sucessivas interpretações no decorrer da história, 
compreensão esta que se expande sempre mais em cada 
época histórica e com as ações de novos intérpretes.
Cada vez que nós lemos um texto e colocamos nele a nos-
sa interpretação, estamos colaborando para que esse horizonte 
compreensivo se torne cada vez mais ampliado. O resultado dis-
so é que o círculo hermenêutico não tem a figura de um círculo 
geométrico, mas de uma espiral, na medida em que a cada nova 
NEAD Núcleo de Educação a Distância
15
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
leitura e compreensão o seu sentido vai se manifestando em 
novas formas, de acordocom a mentalidade dos intérpretes e o 
momento cultural em que este ato é realizado.
Assim entendida, a compreensão de um texto não seria 
um simples ato intelectual, racional que ocorre na mente do 
intérprete, mas tem uma implicação com a situação concreta 
em que isso se realiza, ou seja, a compreensão de um texto 
não se esgota no ato mental, mas tem sempre uma aplicação 
prática no nosso mundo existencial. Essa quase identidade 
entre interpretação e aplicação, defendida por Gadamer, veio 
esclarecer que a atividade própria da hermenêutica não é ape-
nas uma ação teórica, mas um conjunto integrado de ações 
teóricas e práticas, uma forma de atuação da atividade mental 
na vida concreta da pessoa.
Essas teorias de Heidegger e Gadamer acerca da compreen-
são e da sua estrutura circular, aplicadas à hermenêutica jurídi-
ca, conduzem à necessidade de que, na interpretação legislati-
va, devemos ter sempre em referência o texto constitucional e, 
num plano mais distante, o todo sociocultural. A interpretação 
legislativa se faz no horizonte constitucional, onde se delineiam 
os parâmetros culturais da sociedade que esta constituição re-
presenta. Os princípios constitucionais sempre enunciam valores 
que devem receber atribuição de peso correspondente à intensi-
dade com que são vivenciados socialmente.
Desse modo, visto que os valores que interessam ao Direi-
to são valores intersubjetivos, há a pressuposição de que 
o jurista, membro da sociedade, terá uma pré-compre-
ensão dos valores culturais semelhante àquela que tem o 
restante da sociedade, o que o tornaria um autêntico in-
térprete dos sentimentos e anseios da sociedade que ele 
representa. É nesse entendimento que a Constituição se 
torna o ponto de encontro entre o Direito e a Sociedade, 
reproduzindo, na esfera jurídica, a circularidade do movi-
mento hermenêutico da filosofia.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
3 CONTRIBUIÇÕES DE JEAN PAUL SARTRE E PAUL RICOEUR
Jean Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo existencia-
lista francês do século XX, foi casado com Simone de Beau-
voir, muito conhecida pela sua luta em favor do feminismo. 
Num de seus escritos mais famosos, uma conferência com 
o título de “O existencialismo é um humanismo”, ele explica 
os fundamentos dessa doutrina e daí retiraremos suas con-
sequências para a hermenêutica.
A característica fundamental do existencialismo é a afir-
mação de que a existência precede a essência, ou seja, é 
necessário sempre partir da subjetividade. Esta referência à 
subjetividade demonstra que o pensamento de Sartre foi for-
temente influenciado pela fenomenologia de Husserl e Hei-
degger. Ambos criticaram o conceito de subjetividade formal, 
conforme explicada por Kant, substituindo-o pela subjetivida-
de intencional, ou seja, a razão do homem não é predefinida, 
mas será o que ele fizer com o uso de sua vontade.
Exemplo
Partindo dessa ideia, Sartre critica o que ele chama de 
visão técnica do mundo, em função da qual as coisas, 
antes de existirem, já tiveram sua essência definida. Por 
exemplo: ao fabricar uma cadeira, o marceneiro se serve 
de certo modelo mental, o qual ele concretiza num objeto. 
Desde a antiguidade, esta mesma visão técnica foi aplica-
da ao homem, de acordo com a noção de Deus criador, ou 
seja, os seres humanos foram criados de acordo com uma 
ideia que existia na mente de Deus.
Sartre combate esse entendimento e defende o existencialis-
mo ateu, dizendo que não existe um Deus criador, mas o homem 
é quem cria a si mesmo através de suas decisões e ações durante 
a sua vida. Portanto, no homem, sua existência vem antes da sua 
essência. O homem, de princípio, não é nada; só depois ele vai se 
definindo e, por fim, será o que ele fez de si mesmo. O homem é 
o que ele faz de si mesmo: este é o princípio do existencialismo.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Importante
Diferentemente de uma pedra ou uma mesa, que já es-
tão definidos, o homem é aquele ser que se projeta para 
o futuro e tem consciência disso. Nada existe antes deste 
projeto. Isto quer dizer que o homem é responsável por 
aquilo que ele é, responsabilidade total pela sua exis-
tência. Ser responsável por si é uma tarefa que não se 
esgota no indivíduo, porque esta responsabilidade de si 
se estende a todos os outros homens. Ao criarmos a nós 
mesmos, estamos simultaneamente criando uma ima-
gem ideal de homem tal como julgamos que todo homem 
deva ser, isto é, um modelo que se aplica a cada um de 
nós e a todos também.
Isto significa que a nossa responsabilidade é muito maior 
do que a que temos por nós mesmos, porque as nossas es-
colhas engajam a humanidade inteira. Por exemplo, ao de-
cidir casar-se, o homem está se engajando numa instituição 
representativa de uma forma da vida humana sob o modelo 
da monogamia. Se sou cristão ou ateu, a minha escolha me 
engaja numa linha histórica de compromisso que envolve 
toda a humanidade.
É verdade que nem todas as pessoas têm essa consciên-
cia e essa preocupação, mas Sartre diz que, muitas vezes, 
essas pessoas mascaram a responsabilidade para não enca-
rá-la de frente. Tais pessoas não podem ter paz na consci-
ência, porque vivem na mentira e o fato de mentir implica 
atribuir à mentira um valor universal, que ela não tem.
Reflexão
O homem se constrói num processo que dura toda a vida, 
através das decisões que ele toma no decorrer da sua exis-
tência, ao escolher essas ou aquelas situações que lhe são 
postas. A escolha é sempre possível, o que não é possí-
vel é não escolher. Eu devo escolher sempre e devo estar
...
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18
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
...
ciente de que, mesmo não escolhendo, assim mesmo 
eu escolho. Esta escolha/invenção também acontece no 
campo da moralidade, onde não há regras prévias. O 
homem se constrói fazendo a sua própria moral. É a li-
berdade como fundamento de todos os valores. Mas isso 
não significa fazer o que se quer, porque a nossa liber-
dade depende integralmente da liberdade dos outros, 
assim como a liberdade dos outros depende da nossa.
Em outras palavras, isso significa que a vida não tem um 
sentido a priori. A vida em si mesma não é nada, é quem 
vive que deve dar sentido à vida. E o valor nada mais é 
do que este sentido escolhido. Assim se explica porque o 
existencialismo é um humanismo.
As consequências dessa teoria para a hermenêutica partem 
da afirmação de que não existe nada ‘a priori’, ou seja, desvin-
culado das condições concretas da existência. Isso quer dizer 
que os significados que as coisas têm estão relacionados com 
um tempo e um lugar determinados, não existindo ideias ab-
solutas e desligadas do momento histórico. Com o passar do 
tempo, as coisas vão mudando de significado, os valores vão 
se transformando, e assim a interpretação é dinâmica e está 
sempre se modificando também.
Ao construir a sua essência no decorrer de sua existência, 
o homem constrói também os diversos significados das coisas 
que ele realiza, isso se reflete nos campos da moral, da filoso-
fia, da vida social, de modo que não existe um sentido perma-
nente e imutável, mas tudo está em constante transformação. 
A interpretação dos fatos, assim, não possui uma regra fixa ou 
uma fórmula constante, mas vai também se construindo e se 
aperfeiçoando ao longo do tempo.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Importante
As influências dessas ideias sobre o Direito são no senti-
do de que as normas devem ser entendidas dentro des-
se constante movimento de mudança e construção da 
vida humana na sociedade. Assim, as normas não são 
realidades abstratas e atemporais,produtos da racio-
nalidade pura como quer o positivismo, mas elas estão 
relacionadas com um momento determinado no tempo 
e no espaço e o seu significado também não é fixo, mas 
evolutivo. Desse modo, a hermenêutica jurídica não é 
uma simples operação de lógica dedutiva, mas um es-
forço produtivo de construção de um novo significado 
(valor) a cada vez que a norma deve ser aplicada a um 
fato concreto, considerando sempre a dimensão espa-
cial e temporal de ambos.
Paul Ricoeur (1913-2005) foi um pensador francês, con-
temporâneo de Sartre, que desenvolveu estudos nas áreas 
de psicanálise, linguística e hermenêutica, dedicando-se es-
pecialmente a textos clássicos do cristianismo. A sua con-
tribuição à hermenêutica, portanto, situa-se na análise e 
crítica dos textos escritos.
Ricoeur contesta os pensadores do seu tempo que vin-
culavam a interpretação de um texto à compreensão do seu 
autor ou do momento histórico, pois, segundo ele, os textos 
escritos vão além disso, eles acrescentam um conjunto pró-
prio de significados que ultrapassa o contexto sociocultural 
do seu autor ou de sua época, envolvendo também a pessoa 
do intérprete. Assim, a intenção do autor nunca é imedia-
tamente dada, ao contrário do que pensava a hermenêutica 
romântica, nem os signos são reflexos puros das condições 
e fatos empíricos da época e situações em que foram escri-
tos, contrariando a interpretação historicista.
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Importante
Portanto, o objeto da hermenêutica é a própria narrativa, o 
próprio texto, que precisa ter reconhecida a sua autonomia, 
devendo o intérprete concentrar-se nas categorias do discur-
so, da linguagem e voltar-se sobre o seu conjunto de signi-
ficados semânticos. Ricoeur chama isso passar da “língua” 
para a “palavra”, ou seja, da linguística para o discurso, a 
narrativa. É neste particular que deve ater-se o intérprete.
Nesse sentido, realiza-se uma espécie de diálogo entre o 
texto e o intérprete, através do qual as polissemias manifestam 
seu sentido, pois o hermeneuta investiga a intencionalidade 
presente na narrativa, e não os símbolos e signos linguísticos. 
Com isso, abre-se um novo campo de atividade, onde interagem 
o fato narrado, o autor e o intérprete, surgindo daí a sua 
interpretação. Para que isso ocorra da melhor forma, Ricoeur 
considera que é necessário fazer uma despsicologização, uma 
desistorização e uma desabsolutização do texto. Desse modo, 
chega-se à autonomia do texto, pois o seu verdadeiro significado 
não se encontra nem dentro nem fora dele, mas num movimento 
circular compreensivo que envolve o próprio texto, o autor, o 
leitor, a história e a sociedade.
Ricoeur chama a isso uma multiplicidade de canais por meio 
dos quais flui o significado do texto. Por isso, nunca será pos-
sível chegar a uma conclusão definitiva, a uma interpretação 
completa e terminativa, mas o que se consegue perceber são 
sempre mediações parciais que nos dão várias perspectivas 
da obra, mas nunca a sua totalidade de significados. Tal como 
uma obra de arte abstrata que a cada nova visão do observa-
dor manifesta novas formas e percepções, a leitura do texto 
também confere ao seu intérprete significados e visões novas 
em cada nova apreciação.
A hermenêutica de Ricoeur defende uma ideia de signifi-
cação em que o sentido da obra escrita não se encontra nem 
nos mundos físico, psíquico, histórico, social, ou particular do 
leitor, mas no mundo próprio do texto, e nesse sentido, o con-
Despsicologização 
significa deixar de 
lado a preocupação 
com o aspecto psico-
lógico do texto e não 
levar em conta o en-
tendimento do autor 
do texto na hora de 
interpretá-lo.
Desistorização signi-
fica deixar de lado a 
preocupação com o 
caráter histórico do 
texto e não levar em 
conta as influências 
do momento históri-
co sobre o autor do 
texto.
Desabsolut ização 
significa considerar 
o texto escrito como 
algo que possui 
um sentido mutá-
vel, não um sentido 
único que teria sido 
posto pelo autor ao 
escrever.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
junto de significados que ele possibilita encontra-se sempre 
aberto e inconcluso. Todas as várias interpretações já produzi-
das não esgotam esses significados e nem levam a uma mesma 
e imutável conclusão, permanecendo sempre a possibilidade 
de novas e diferentes interpretações, dentro da ideia hege-
liana da pluralidade e da inesgotabilidade do sentido. Cada 
interpretação de um texto é uma espécie de apropriação, pelo 
leitor, do seu sentido atual, com a consciência de que sempre 
novos sentidos são possíveis.
Ricoeur contesta também a famosa divisão feita por Dilthey 
entre ciências da natureza, que buscam a explicação dos 
fenômenos, e ciências do espírito, que buscam a compre-
ensão. Segundo ele, a hermenêutica é uma atividade que 
circula entre o modo explicativo e o modo compreensi-
vo, não se encontrando totalmente nem no primeiro nem 
no segundo. Tanto a explicação quanto a compreensão são 
necessárias e se completam. Sem a explicação, só temos 
uma compreensão mística; sem a compreensão, a explica-
ção não alcança seu significado mais adequado. Embora a 
compreensão tenha prioridade na hermenêutica, esta pre-
cisa da intermediação da explicação.
Pode-se perceber que as ciências humanas (compreensivas) 
utilizam procedimentos explicativos com muita propriedade; 
por outro lado, pode-se ver também que a intuição e a sensi-
bilidade também fazem parte do trabalho do cientista da na-
tureza. Não se trata, portanto, de escolher um ou outro dos 
procedimentos, mas adotá-los com critério e ponderação.
A importância dessa teoria para o Direito encontra-se em dois 
pontos. Em primeiro lugar, na defesa da autonomia do texto, o 
que vem reforçar a corrente objetivista da interpretação, isto é, 
a interpretação segundo a mens legis, pela qual o próprio texto 
da norma possui um sentido próprio e autônomo, desvinculando-
se da intenção original do legislador e podendo o seu sentido ser 
encontrado no conjunto da sua própria configuração linguística. 
Em segundo lugar, na indicação de que toda interpretação de 
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um texto é sempre parcial e incompleta, assim a interpretação e 
aplicação da norma se renova a cada aplicação ao caso concreto, 
não havendo um sentido único e imutável para ser aplicado a to-
dos os casos. A ideia de uma interpretação sempre incompleta e 
sempre em processo de construção leva à compreensão da nor-
ma como um texto capaz de produzir uma interpretação sempre 
renovada e sem repetição, de modo que cada interpretação que 
já foi realizada servirá como mediação ou instrumento para as 
novas interpretações que ainda serão construídas no futuro.
Este novo conceito da hermenêutica produtiva vem superar 
a noção de hermenêutica reprodutiva, do positivismo jurídico, 
pela qual a interpretação era entendida como uma técnica de 
subsunção do fato à norma, por um processo lógico racional e 
silogístico. A hermenêutica produtiva possibilita que, na análise 
valorativa, a subsunção do fato à norma se faça por um processo 
criativo e renovador, buscando sempre descobrir a melhor reali-
zação da justiça.
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TEMA: HERMENÊUTICA FILOSÓFICA NA TEORIA DO CONHECIMENTO
Importante
Pelo que pudemos observar, a hermenêutica está inserida 
num processo de conhecimento, apoiando-se naquilo que 
a filosofia chama de teoria do conhecimento. Todo ato 
interpretativo está determinado por certa compreensão e 
esta está comprometida com o conjunto dos conhecimen-
tos prévios dointérprete (pré-compreensão). Desse modo, 
para um melhor esclarecimento da importância que tem a 
hermenêutica filosófica para o Direito, faremos um estudo 
resumido da teoria filosófica do conhecimento. Acompanhe!
1 O CONHECIMENTO
Todos nós praticamos essa atividade básica humana, que se 
chama conhecimento. Aristóteles já dizia, no início de sua 
metafísica, que “todos os homens desejam ardentemente 
conhecer” (Aristóteles, Metafísica, I, 1). Mas, o que é o co-
nhecimento? Para responder a esta pergunta, utilizaremos 
duas metáforas:
1.Conhecimento é a fabricação do ideal sobre a terra.
2.Conhecimento é o caminho de busca e de regresso 
à tenda de convivência com todos os seres.
Agora, vamos compreender o que significa “fabricação do 
ideal”? O que é o “ideal”? Esta palavra remete, de imediato, 
ao conceito de algo perfeito, algo longínquo que se pretende, 
um dia, alcançar. Mas não é neste sentido que aqui empre-
gamos. Ideal é aquilo que pertence ao campo das ideias. As-
sim, fabricação do ideal significa produção de ideias novas. 
...
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24
Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
...
Toda vez que adquirimos um novo conhecimento, a nossa men-
te fabrica novas ideias. Essa fábrica não para nunca, trabalha 
em cada um de nós durante a vida inteira. Assim, conhecer algo 
ou alguém é sempre fabricar conceitos, produzir ideias, trans-
formar um ser do mundo material em representações mentais.
Dessa forma, como se dá o caminho de busca e regresso à ten-
da comum? Toda vez que procuramos conhecer algo, precisamos 
sair de nós mesmos em busca de novos objetos do mundo exterior. 
Esta é a primeira parte do caminho: a busca. Ao encontrarmos o 
objeto procurado, nós o transformamos em conceito, ou seja, fa-
zemos o retorno ao nosso próprio interior, ao nosso mundo mental. 
Esta é a segunda parte do caminho: o regresso. Ora, conhecer 
algo do mundo exterior leva sempre a um conhecimento indireto 
de nós mesmos, da nossa subjetividade. A tenda de convivência de 
todos os seres é, assim, a consciência que o homem adquire de si 
mesmo, toda vez que conhece algo. Quando nós conhecemos um 
objeto, percebemos também que ele se distingue de nós mesmos, 
ou seja, o conhecimento de algo exterior a nós é também um co-
nhecimento indireto do nosso próprio ser.
Este pensamento reflexo produz a nossa consciência de “ser-no-
mundo”, de fazer parte de um determinado mundo físico e social, 
no qual convivemos com objetos, pessoas, costumes, instituições, 
valores, espíritos e significados. Esta é a tenda da convivência 
comum, onde nós e outros seres do mundo nos encontramos ins-
talados. Por isso, conhecer o mundo é sempre conhecer também, 
indiretamente, a nós mesmos.
Mas como se produz o conhecimento, isto é, de que modo o 
conhecimento se processa na nossa mente? Dizemos que o 
conhecimento se perfaz em etapas sucessivas, denominadas:
• Intuição sensível
• Memória
• Experiência
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O primeiro momento é a captação das “coisas”’ (objetos, pesso-
as, comportamentos, valores, costumes etc.). A intuição sensível 
é o ato de apreensão ou de percepção da realidade. Não cria 
a realidade, recebe-a do mundo exterior, através dos nossos órgãos 
sensoriais. Por isso, a intuição sensível é sempre receptiva e passiva. 
Por conseguinte, a sensibilidade desempenha um papel de mediação 
indispensável entre o nosso interior e o mundo fora de nós.
O segundo momento do ato do conhecimento está na me-
mória. Sua função é conservar e lembrar o que já esteve ao 
alcance da intuição sensível. Se não existisse a memória, não 
haveria acúmulo de percepções e, portanto, todos os conheci-
mentos chegariam até nós sempre como se fosse a primeira 
vez. É a memória que permite a contínua construção do conhe-
cimento. “A memória é o tesouro e o lugar de conservação das 
imagens” (S. Tomás, Sum. Th., I, q. 29, 7)1.
O terceiro passo constituinte do conhecimento está na experiên-
cia: esta é a síntese ordenada do material captado nas intui-
ções sensíveis e depositado na memória. É ponto de partida para 
conhecimentos mais elaborados, como são as artes e as ciências.
Importante
Assim, nota-se que este fenômeno chamado de conhecimento 
ocorre em todos os seres humanos, através de um exercício 
espontâneo da inteligência natural, independentemente de fre-
quência a uma escola ou de leitura nos livros. É o conhecimento 
como ato existencial. A vida é um contínuo processo de percep-
ção e acumulação de conhecimentos. Pelo simples fato de vi-
vermos, estamos a todo o momento adquirindo novos saberes. 
Por isso, mesmo as pessoas analfabetas têm a sua produção de 
conhecimentos e, algumas vezes, até se destacam com a sua 
sapiência natural. Todos conhecem as figuras, por exemplo, do 
cego Aderaldo, do Patativa de Assaré, que são pessoas simples, 
de pouca instrução e mestres do saber popular.
1 Expressão: S. Tomás, Summa Theologica, pars prima, quaestio 29, 
articulum 7 (Suma Teológica, primeira parte, questão 29, inciso 7).
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Nesse sentido, coloca-se aqui também a utilização prática do 
saber popular na produção de receitas típicas regionais, na pro-
dução de medicamentos com raízes, frutos e folhas, na produção 
do artesanato, na técnica rudimentar dos sertanejos que atuam 
na agricultura, sem nunca terem estudado agronomia, dos jan-
gadeiros que pilotam embarcações sem nunca terem estudado 
navegação, dentre outros. Todas essas manifestações exempla-
res da nossa cultura popular nordestina são confirmações da 
existência desse conhecimento espontâneo, que provém do uso 
natural da inteligência e que, em todos os lugares e em todas as 
épocas, os seres humanos sempre foram capazes de desenvol-
ver, interagindo com o seu meio ambiente.
O primeiro conhecimento produzido pelo homem é o mito, 
que já foi estudado na primeira unidade. Dos mitos primitivos 
se originaram os diversos saberes humanos, inclusive esse 
tipo especial de conhecimento chamado de ciência. O conceito 
original de ciência era bem diferente do que hoje se tem. Na 
Grécia, no século VII a.C., a mitologia começou a ser subs-
tituída pelo pensamento racional dos primeiros filósofos, que 
utilizavam a matemática para explicar os fenômenos do mun-
do. Naquela época, ciência era sinônimo de filosofia e assim 
continuou durante toda a Idade Média.
Curiosidade
Para se ter uma noção do conceito antigo de ciência, quan-
do esta era sinônimo de filosofia, podemos tomar o exem-
plo de Tales. É comum os historiadores da filosofia apon-
tarem Tales de Mileto como o primeiro pensador ao qual 
se atribui o qualificativo de “filósofo”. Mas se estivéssemos 
estudando a história da astronomia, verificaríamos que Ta-
les foi também o primeiro “astrônomo” do Ocidente, por 
ter previsto através de cálculos um eclipse solar (aproxi-
madamente 585 a.C.). Já nos livros colegiais de geometria, 
há sempre a referência a um famoso teorema atribuído a 
Tales, o que o faz também um “geômetra”. Tales foi ainda a 
primeira pessoa a medir a altura das pirâmides do Egito, e 
o raio da terra, o que faz dele também um “matemático”.
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O que se observa disso tudo é que Tales não era um “es-
pecialista” em um determinado conhecimento, como hoje 
costuma ocorrer. Na verdade, ao fazer suas extraordinárias 
descobertas, Tales estava exercitando um conhecimento 
generalista, porque naquela época os campos do conheci-
mento eram todos integrados: ao exercer astronomia, ele 
também exercia a geometria, era também matemático e fi-
lósofo, tudo ao mesmo tempo. Somente nos tempos moder-nos, com a busca de maior precisão do conhecimento, os 
estudiosos vieram a particularizar cada vez mais, distinguir 
sempre mais, diferenciar cada vez mais os ramos do saber, 
afastando-se dessa experiência universalizante dos gregos, 
modificada pelo Renascimento e que o pensamento contem-
porâneo procura historicamente reconstruir.
O exemplo de Tales nos ajuda a compreender o surgi-
mento histórico do saber filosófico-científico. Na sua 
época, era costume atribuir-se a origem dos fenôme-
nos a feitos grandiosos de heróis e deuses, cujos desíg-
nios escapam ao controle dos homens e são governa-
dos por forças sobre-humanas. Com Tales, inaugura-se 
uma nova visão desses fatos, que podem ser medidos 
e previstos. Com ele, a mitologia foi substituída pela 
matemática, o irracional pelo racional. A previsão ca-
racteriza o saber que surge com Tales: o saber medir, 
que em nossos dias caracteriza mais a ciência do que a 
filosofia. Esta mudança de mentalidade introduzida por 
Tales, que chamaremos de princípio da medida, foi o 
grande diferencial histórico que marca o início da filo-
sofia grega e, a partir dele, de todo o pensar filosófico 
e científico no mundo ocidental.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Pelo conhecimento 
científico comum:
Ciências Filosóficas
Ciências Naturais
Ciências Sociais
A solução dos 
problemas é o 
resultado da 
articulação de 
algum MÉTODO
Física ou 
Filosofia da 
Natureza
Metafísica ou 
Filosofia das Coisas 
Sobrenaturais
Ciências
Sociais
Atualidade
administram:
Conhecimentos diferentes 
e importantes
Física ou 
Filosofia da 
Natureza
Metafísica ou 
Filosofia das Coisas 
Sobrenaturais
Ciências
Sociais
Além das Ciências 
Físicas agregou:
A partir do século XIX
A partir do Renascimento
(século XV)
Com o tempo pas-
sou a se chamar:
Explicação
Física ou Filosofia 
da Natureza
Metafísica 
ou Filosofia 
das Coisas 
Sobrenaturais
Ciência
Natural
FilosofiaCom o tempo pas-
sou a se chamar:
se divide:
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Como podemos verificar no esquema acima, a partir do Re-
nascimento (séc. XV), surgiu uma divisão da filosofia em duas 
partes: a física (physica ou filosofia da natureza) e a metafí-
sica (metaphysica ou filosofia das coisas que estão para além 
da natureza). Esta filosofia física (depois chamada de ciência 
natural) foi cada vez mais se distanciando da filosofia me-
tafísica (que depois também foi chamada simplesmente de 
filosofia). A partir do séc. XIX, agregou-se paralelamente às 
ciências físicas outro grupo de conhecimentos, que são os 
conhecimentos sobre a sociedade, as chamadas ciências so-
ciais (contribuição de Dilthey, na qual já estudamos antes). 
Hoje, portanto, esses três grupos administram conhecimen-
tos diferentes e importantes, porque todas as valorações da 
vida passam, necessariamente, pelo crivo da filosofia e das 
ciências. Na linguagem atual, aplicando um conceito genérico 
de conhecimento científico, esses três grupos denominam-se: 
ciências	filosóficas, ciências naturais e ciências sociais.
O que há de comum entre todas as formas do conheci-
mento científico é que a solução de problemas é sempre 
o resultado da articulação de algum método, ou seja, de 
algum mecanismo ou instrumental, que possa determi-
nar os critérios da veracidade ou falsidade. Entretanto, 
deve-se considerar que, em todas as áreas do saber, ain-
da há muitos problemas para os quais não temos nem so-
lução, nem método para obter uma solução. Aliás, méto-
dos que servem para solucionar um conjunto de problemas 
podem ser totalmente inoperantes para solucionar outros.
Nesse sentido, vários métodos têm surgido no decorrer dos 
séculos, mas há algumas constantes que sempre aparecem nes-
sa variedade de métodos. Dizemos que o fundamento e a base 
de todos os métodos é o bom senso, a razão natural, o conheci-
mento compartilhado por todos, aquele que aprendemos no meio 
em que vivemos e que forma a nossa identidade cultural. Esta é 
a fonte do conhecimento mais fundamental, o ponto de partida 
de toda reflexão. Podemos aprimorá-lo, mesmo ultrapassá-lo, 
porém nunca dispensá-lo.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Porém, o bom senso por si só não basta, sendo necessário um 
suporte para a razão natural, de modo que seja possível alcançar 
as evidências das coisas. Todo método sempre se apoia numa 
evidência. Evidência é aquela situação em que a nossa mente sen-
te completa segurança diante dos resultados do conhecimento. 
Um conhecimento evidente é aquele que está livre de dúvidas.
Exemplo
Quando, por exemplo, medimos uma distância utilizando ape-
nas a visão, temos um resultado impreciso e inseguro, mas 
quando utilizamos uma fita métrica, temos um resultado pre-
ciso e seguro. Esta segurança é proporcionada pelo instru-
mento utilizado (a fita métrica), que nos traz maior certeza. 
Isso é resultado da evidência. Havendo evidência a favor de 
uma ideia, o pensador assume a atitude de mantê-la; haven-
do evidência contrária, a atitude de revê-la ou rejeitá-la; e na 
falta de evidência a favor ou contra, assume a atitude de dú-
vida, continuando assim na sua busca de dados evidentes.
A busca da evidência através dos processos de raciocínio se reali-
za através de dois caminhos ou métodos opostos e complementares. 
Esses caminhos foram estabelecidos ainda por Aristóteles, no séc. IV 
a. C. e são reconhecidos por todos os pensadores desde a antiguidade 
até hoje. São as duas formas básicas de o nosso pensamento evoluir:
A primeira, partindo de ideias gerais que vão sendo simplifica-• 
das por um processo de divisões e subdivisões até chegar aos 
fatos concretos. A isso se chama dedução ou pensamento 
dedutivo. É o método comum utilizado nas ciências teóricas, 
tendo sua aplicação mais perfeita nas matemáticas; e
A segunda forma é aquela que parte dos fatos • 
concretos e, por um processo de generalização com 
base nas semelhanças encontradas, procura formular 
princípios gerais ou hipóteses, que necessitam de 
comprovação através da experiência. A isso se chama 
indução ou pensamento indutivo. É o método utilizado 
nas ciências da natureza e ciências aplicadas.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Nas ciências sociais, pratica-se uma metodologia mais com-
plexa, resultado de uma síntese entre dedução e indução, in-
tegrada com referências de caráter histórico e cultural, motivo 
pelo qual os seus resultados não são apresentados em termos 
absolutos, mas sempre dentro de parâmetros flexíveis, onde 
predomina mais a probabilidade do que a certeza.
No que diz respeito à ciência jurídica, a questão do método 
ainda é polêmica. Há aqueles que defendem a estruturação do 
saber jurídico de acordo com o padrão das ciências da nature-
za, atribuindo-lhe excessivo rigor lógico e exagerado formalis-
mo, como é o caso do positivismo jurídico. Por outro lado, há 
aqueles que defendem uma maior aproximação entre o Direito 
e as ciências sociais, conferindo-lhe maior flexibilidade, com a 
aplicação de padrões valorativos relacionados com a cultura, 
como é o caso da sociologia jurídica. Da nossa parte, dize-
mos que a ciência jurídica tanto pode adotar o rigor lógico e 
formal das ciências da natureza quanto a flexibilidade valorati-
va das ciências sociais, dependendo da matéria em questão.
Assim, por exemplo, nas questões tributárias e outras que 
envolvem conhecimentos técnicos, deve-se priorizar uma me-
todologia com maior rigor lógico formal; já nas questões que 
envolvem direitos pessoais subjetivos ou coletivos, a prioridade 
deveser para a metodologia aberta das ciências sociais, consi-
derando o contexto fático sociocultural.
Até aqui, fizemos uma análise conceitual e histórica acerca do 
conhecimento humano. Passemos, então, a considerar o conhe-
cimento sob o aspecto que mais interessa à hermenêutica, isto 
é, o conhecimento visto dentro de um sistema interpretativo, 
aproximando assim os conceitos relacionados ao conhecimento 
com uma teoria da interpretação, uma vez que o conhecimento 
não se realiza de forma isolada, mas faz parte de um conjunto de 
ações corporais e mentais, integradas à vida do ser humano.
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
Diz-se que o conhecimento é um processo, isto é, uma 
ação que se realiza numa série de etapas e não se faz de uma 
única vez. Além disso, sempre que se ocorre um ato de conheci-
mento, tem-se a presença de três elementos necessários: o EU 
(sujeito) que conhece, a ATIVIDADE em si mesma e o OBJETO 
a que se dirige a atividade desenvolvida.
O conhecimento é uma ação. Isso quer dizer que não é algo 
estático, mas essencialmente dinâmico, em movimento. Já a ativi-
dade é o próprio motor do processo do conhecimento. O sujeito é 
sempre o ser humano, o eu pensante, a consciência cognoscente, a 
pessoa dotada de racionalidade, a realidade subjetiva. E o objeto 
é tudo aquilo que está ao alcance da atitude consciente do eu pen-
sante, tudo aquilo acerca do qual se possa elaborar uma explicação, 
um raciocínio lógico. Resumidamente, o sujeito é o eu (indivíduo), 
o objeto é o mundo. Até o próprio eu pode ser objeto da atividade 
cognoscente, num processo que se chama de autoconhecimento.
O sujeito do conhecimento, portanto, é singular. O objeto, 
porém, é plural e complexo, podendo assumir variadas for-
mas, as quais são agrupadas em quatro grandes classifica-
ções: objetos naturais, ideais, culturais e metafísicos.
Os objetos naturais são os que têm existência no tempo 
e no espaço e que se apresentam à nossa experiência, sendo 
captados pelos nossos órgãos sensíveis. Essa captura se dá por 
meio da intuição fundada em critérios empíricos, isto é, a intui-
ção sensível. São os seres da natureza física, tais como existem 
no mundo, sem interferência do homem.
Objetos ideais são aqueles que não têm existência no mun-
do físico, podendo ser apreendidos apenas racionalmente. São 
puros conceitos formados pela nossa razão. Por exemplo, os 
números e as relações matemáticas (maior do que, menor do 
que), os conceitos geométricos (esfera, cone, retângulo) são 
objetos ideais. São expressões simbólicas, que são representa-
das em figuras desenhadas ou corpos materiais, para efeito de 
comunicação entre os homens.
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Os objetos culturais também têm existência no tempo e 
no espaço e são acessíveis à experiência sensível. Diferem, po-
rém, dos objetos naturais porque são moldados pela mão e/
ou pela inteligência do homem. Podemos dizer que são aqueles 
objetos em princípio naturais, mas aos quais a ação do homem 
agrega um determinado valor com o seu trabalho muscular ou 
intelectual. O valor está presente na essência dos objetos cul-
turais, uma vez que se pode observar neles uma característica 
supra sensível ou um sentido que a ação do homem faz aderir 
a eles. Todas as produções humanas, materiais ou imateriais, 
realizadas ao longo da história, formam o acervo de objetos 
culturais, dos quais hoje somos guardiães.
E os objetos metafísicos, tais como os objetos ideais, 
também só podem ser alcançados pelo pensamento racional, 
todavia diferem destes por serem entes puramente racionais, 
de representação material ou gráfica impossível. Existem ape-
nas na mente e não podem ser materializados. Assim são os 
conceitos tradicionais de divindade, liberdade, de imortalida-
de, de verdade, de bondade, equidade, de justiça, de valor, 
dentre outros. São entes de pura razão, cujo conteúdo nos é 
transmitido sociologicamente e cuja existência se verifica em 
todos os povos de todas as épocas, razão pela qual outro-
ra eram classificados como conceitos absolutos, universais e 
imutáveis. Atualmente, está superado esse entendimento, que 
foi substituído por uma visão histórica e evolutiva deles, de 
acordo com os parâmetros desenvolvidos e aceitos na socie-
dade em contínuo desenvolvimento.
Importante
A partir do que foi dito anteriormente, classifica-se a nor-
ma jurídica como um objeto cultural. Ela faz uma altera-
ção sobre a conduta natural do homem, limitando volun-
tariamente a sua liberdade inerente à própria natureza, 
através do uso da racionalidade. Na sua liberdade natural, 
o ser humano pode, em princípio, fazer tudo que quiser, no 
entanto, pela racionalidade, ele tem a capacidade de eleger 
suas próprias alternativas de conduta; a possibilidade de
...
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...
escolher por livre arbítrio o comportamento consciente a ser 
seguido. A vida na sociedade só é possível se o homem im-
puser limites à sua liberdade, em prol do bem de todos. Isso 
é feito através das regras de conduta, das normas de com-
portamento e ação social. A norma jurídica faz parte deste 
conjunto de normas, sendo assim um produto cultural.
Assim se classifica a norma jurídica pelo fato de que ela 
tem uma forma cultural de expressão e exprime um conteúdo 
também cultural de caráter linguístico. Desta maneira, tanto 
a norma enquanto regra de conduta, quanto a sua expressão 
escrita, são objetos culturais. Como todos os objetos cultu-
rais, a ela está agregado um potencial de valor, que é o ele-
mento axiológico contido na norma. Em consequência disso, o 
Direito, que tem por finalidade de estudo a norma jurídica, é 
também cultural. Não há um Direito eterno e imutável, válido 
para todo o sempre, mas é sempre mutável e evolutivo, assim 
como a sociedade. Mais do que isso, na verdade, ao debruçar-
se sobre a norma, o Direito é cultura sobre cultura, porque 
é cultura que trata da cultura. Em resumo, o Direito é uma 
sobre-cultura ou uma meta-cultura.
2 NORMA, CULTURA, VALOR E SENTIDO
Na qualidade de objeto cultural presente na sociedade, a 
norma jurídica encontra-se sempre referenciada a valores, na 
medida em que ela protege e estimula os comportamentos 
atinentes à consecução das mais elevadas finalidades sociais, 
ou seja, os valores mais importantes para a sociedade. As-
sim, deve entender-se que a norma associa-se sempre uma 
situação de natureza valorativa, que deve ser interpretada e 
compreendida. O Direito é comprometido com valores e a nor-
ma jurídica, trabalhada através do processo de interpretação, 
encontra-se relacionada a uma situação histórica da qual fa-
zem parte tanto o sujeito (intérprete) quanto o objeto a ser 
interpretado (fato e norma).
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Por isso, podemos afirmar que todo processo de 
interpretação e aplicação das leis corresponde a uma 
situação hermenêutica, ou seja, a uma apreensão de um 
sentido referenciado a um valor, cujo resultado se expressa 
no fenômeno da compreensão.
Por conseguinte, toda conduta é axiológica, está ligada 
a valores, depende deles, e não existe sem esta ligação es-
treita e intrínseca a algum tipo de valor. A palavra “conduta” 
vem do verbo latino ducere (conduzir) associado à preposição 
cum (com), ou seja, cum + ducere, através do seu particípio 
passado (cum+ductum - conduzido com), assumindo na lín-
gua portuguesa a forma de substantivo feminino. Isso signifi-
ca que não existe ser humano que não se conduza e não existe 
homem sem conduta.
Preposição cum 
(com)
Verbo ducere 
(conduzir)
se origina de:através de:
+
Particípio Passado 
cum + ductum 
(conduzir com)
CONDUTA
Por isso, não há ser humano indiferente ao valor. Se a con-
duta é axiológica, o homem é um ser axiológico. Sendo racional, 
o homem possui em si a aptidão de eleger racionalmente alter-
nativas de conduta. Mas quando o faz concretamente, isto é, 
quando se conduz, quando se realiza concretamente, sempre o 
faz movido por valorações.
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Por outro lado, se a cultura é uma das consequências da 
conduta, e se a conduta contém necessariamente valor, afir-
mamos que os objetos culturais possuem um valor intrínseco, 
de sorte que a norma jurídica e o Direito, enquanto objetos 
culturais, são carregados de valores como consequência de 
sua existência social. Em toda norma e em toda conduta re-
grada, existe sempre um valor subjacente, funcionando como 
determinação e matiz da sua natureza. Ao agir, consciente-
mente ou não, o homem sempre o faz em função de um valor, 
que confere sentido a este agir.
Podemos agora desenhar o seguinte esquema: onde se 
encontra o homem, ali está o valor; onde está o valor, 
dali brota um sentido; da busca pelo sentido inerente ao 
valor vem a interpretação. Portanto, concluímos: onde 
está o homem, está a interpretação. Tendo em vista o 
dinamismo dos objetos culturais, e, portanto, dos valo-
res agregados, deduz-se que o sentido também acom-
panha esse dinamismo, reformulando-se continuamente. 
Assim, a interpretação, enquanto atividade que busca 
captar este sentido, será assim também essencialmente 
dinâmica e interminável.
Toda manifestação de um sentido não se faz ao acaso, mas 
é orientada por uma espécie de “farol social” que é toma-
do como referência para dimensionar graus de intensidade de 
sua claridade, o que faz com que algumas coisas apresentem 
uma variação de luminescência no referencial do sentido que 
indicam, tornando-se algumas delas mais atrativas, preferen-
cialmente às outras. Este referencial é o que chamamos de 
valor. Isto quer dizer que quanto mais “luminoso” for um de-
terminado fato social, quanto maior o interesse que ele provo-
ca, quanto mais forte for o seu significado social, maior será 
o valor que ele porta. O valor é um conceito indefinível, que 
representa uma espécie de vivência.
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Quanto mais nos inserimos na vida social, mais aprende-
mos a reconhecer os valores que ali estão presentes. E, em-
bora não conseguindo definir claramente o que seja, todos 
nós estamos constantemente tomando decisões em nossas 
vidas e o que orienta qualquer decisão é a noção de va-
lor que temos. Decidir é valorar. Quando decidimos algo, 
assumimos que a nossa escolha contém um valor de gran-
de importância. Quanto preferimos uma coisa em relação à 
outra, estamos reconhecendo naquele objeto preferido um 
maior valor do que o rejeitado. Assim, se onde há o homem, 
há interpretação, da mesma forma, onde há homem e in-
terpretação, há valor. Toda decisão humana é inerente ao 
reconhecimento de uma determinada faceta valorativa, sob 
a qual o sentido se nos apresenta.
Embora não seja uma definição adequada do valor, podemos 
reconhecê-lo como uma energia que produz no homem uma 
atração irresistível por algo determinado, gerando assim os sen-
timentos e reações de aproximação, aceitação, adesão, quan-
do identificamos valores positivos, assim como também os seus 
opostos de afastamento e recusa, quando há uma contradição 
entre o que é esperado e o que nos é oferecido. Inegavelmen-
te, o valor é uma força de natureza espiritual que o homem não 
consegue definir claramente com postulados racionais, mas que 
é capaz de percebê-lo sem qualquer relutância toda vez que 
diante dele se apresenta.
É, assim, mais fácil classificar o valor do que defini-lo. Costu-
ma-se classificá-los quanto ao seu alcance, à sua duração, à sua 
legitimidade e à sua matéria. Acompanhe cada uma delas:
Quanto ao seu alcance•	 , há os valores universais, 
aqueles que exercem sua atração sobre os homens em 
qualquer lugar onde estes estejam, e os valores indi-
viduais, isto é, aqueles que uma pessoa elege como 
diretriz de sua existência. Atualmente, a sociedade tem 
dificuldade em aceitar valores que seriam imutáveis e 
permanentemente válidos, preferindo reconhecê-los 
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como realidades mutáveis de acordo com o momento 
cultural. Mesmo reconhecendo a universalidade de cer-
tos valores, admite-se uma relativização histórica e so-
cial, considerando-se os alvitres das variadas culturas 
e a inevitável influência dos fatores temporais. É a uni-
versalidade possível dentro da historicidade humana.
Quanto à sua duração•	 , os valores podem classificar-
se como permanentes, duradouros ou passageiros. Os 
permanentes se confundem com os universais citados 
acima, aqueles que acompanham constantemente a 
humanidade desde sempre, embora com os compre-
ensíveis percalços da historicidade. Isso não quer dizer 
que sejam eternos, porque são humanos. Os duradou-
ros são aqueles que, mesmo não permanentes, acom-
panham a humanidade por longos decursos temporais, 
exercendo sua influência de forma marcante enquanto 
persistem. E há os valores passageiros, efêmeros, de 
duração mais curta, como os modismos, que passam 
muitas vezes sem fincar a sua marca.
Quanto à sua legitimidade•	 , os valores classificam-
se como positivos ou negativos. Pode parecer contras-
senso falar-se em valores negativos. Mas esta positi-
vação e negativação têm como referência o todo da 
sociedade, ou seja, o ser humano genérico, não o in-
divíduo. Positivos são os valores que contribuem para 
a manutenção, a melhoria, o aperfeiçoamento da vida 
social e os negativos são aqueles que, ao invés, levam 
à desagregação e à insegurança. O trabalho hones-
to, por exemplo, é valor positivo e permanente, na 
medida em que contribui tanto para o bem-estar do 
próprio homem, quanto para o progresso do todo so-
cial. A atividade ilícita, por outro lado, conquanto seja 
proveitosa para um indivíduo ou um grupo, lesa as 
outras pessoas e produz revolta e insegurança social, 
tornando-se um valor negativo.
Quando à sua matéria•	 , os valores se classificam de 
acordo com a área social em que se situam. Há os va-
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lores éticos, jurídicos, religiosos, políticos, econômicos, 
históricos, nacionais, regionais e locais, referindo-se 
todos como desdobramentos dos valores humanos e 
sociais em geral, sedimentados na atividade humana 
e presentes em todas as épocas históricas. Conclui-se, 
portanto, que em qualquer lugar onde esteja presente 
o homem, ali estará também o valor.
3 CONHECIMENTO E INTERPRETAÇÃO
A interpretação decorre do livre exercício da razão. A este 
livre exercício da razão chama-se pensamento. Portan-
to, pensar é interpretar. O ser humano naturalmente pen-
sa, por isso, naturalmente sempre interpreta. Nas rotinas 
do dia-a-dia, nas relações sociais, familiares, laborativas, 
o homem está sempre revelando um sentido. Não é pos-
sível a identidade humana sem esta interpretação, por-
que o homem só toma consciência de si mesmo interpre-
tando. É por intermédio da interpretação do outro e de 
si próprio que o ser humano se apercebe de sua própria 
realidade e da realidade do mundo. A interpretação é ne-
cessária ao homem, faz parte da sua natureza humana.
Por causa dessa necessidade da natureza humana é que, des-
de a mais remota antiguidade, o homem interpreta. As varia-
das formas de interpretação, criadas pela atividade incessante 
do homem, produziramos vários conceitos de hermenêutica, 
apresentados pelos estudiosos ao longo dos tempos. Fazemos, 
assim, uma diferença entre interpretação e hermenêutica, que 
não são sinônimas. Interpretação é atividade prática, enquan-
to que a Hermenêutica é modelo teórico. Os procedimentos 
interpretativos fundamentam as várias escolas de hermenêutica 
e os vários conceitos de hermenêutica orientam formas diversas 
de interpretação. Aliás, os próprios conceitos diferenciados de 
hermenêutica são prova da capacidade interpretativa humana.
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Exemplo
Explicando com exemplos. Quando alguém quer obter sua 
carteira de motorista, antes vai precisar submeter-se a uma 
série de exigências prévias (exames de saúde, aulas de 
legislação do trânsito, lições elementares de mecânica de 
veículos) e somente depois se sentará no banco do motorista, 
para colocar em prática os ensinamentos teóricos.
Quando alguém adquire um novo aparelho eletroeletrônico, 
deve fazer uma leitura do manual de instruções, para 
entender as diversas funções do aparelho e somente 
depois vai operá-lo.
Num exemplo mais simples, quando alguém quer aprender 
andar de bicicleta, vai precisar que alguém lhe dê orientações 
sobre os movimentos do guidão, das alavancas e dos pedais, 
somente depois irá tentar equilibrar-se nas duas rodas.
Nos exemplos citados, o primeiro momento é o conceitual ou 
teórico, no qual o interessado aprende os requisitos básicos da 
atividade que vai desenvolver. O segundo momento é a execução 
prática das orientações conceituais prévias. Trazendo para o tema 
em pauta, a hermenêutica corresponde aos procedimentos 
conceituais, teóricos prévios, que servirão de roteiro e 
orientação para as atividades práticas de interpretação. As 
duas estão inteiramente vinculadas, mas constituem atividades 
distintas que não se confundem entre si. Os vários conceitos e 
escolas hermenêuticas ocorridas no decorrer da história são fru-
to de diferentes maneiras de conceber e realizar a interpretação, 
sendo esta a atividade que se apresenta em todas elas.
Importante
O estudo da hermenêutica é, portanto, uma atividade teóri-
ca. Neste estudo, são analisados e discutidos os requisitos 
necessários para o ato de interpretar. Antes de nos entre-
garmos a tal atividade, precisamos nos instrumentalizar e
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
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nos familiarizar com princípios, procedimentos e técnicas 
que nos permitam a realização de um trabalho competente 
e seguro. Devemos, porém, estar conscientes de que, dada 
a constante evolução histórica e consequente transforma-
ção da sociedade, não existem receitas infalíveis nem roti-
nas prontas, mas apenas indicações e propostas. Algumas 
delas já foram utilizadas por longo tempo e continuam vá-
lidas. Obviamente, passaram por processos de refinamento 
e atualização permanentes. Outras estão sendo, a todo o 
momento, tentadas com maior ou menor eficiência, con-
quistando adeptos ou adversários.
Por seu turno, a sociedade está em incessante movimen-
to evolutivo, com substanciais interferências sobre a cul-
tura e a mentalidade das pessoas. Aquilo que tem sentido 
e valor numa determinada época, pode dali a pouco sofrer 
mutações. Novos padrões culturais e valorativos estão se 
manifestando a todo momento. Disso tudo resulta que a ta-
refa humana de interpretar é historicamente inesgotável, na 
medida em que a interpretação é a busca do sentido e este 
constantemente se transforma. A hermenêutica, enquanto 
ciência e arte da interpretação, é entendida assim como 
uma atividade perene e incompleta.
Costuma dizer-se que “onde está a sociedade, aí está o 
Direito”. Em todas as épocas, sempre onde houve grupos hu-
manos reunidos num mesmo território, houve algum tipo de 
norma disciplinadora de sua conduta, por mais rudimentar que 
tenha sido. De acordo com o Prof. Raimundo Falcão (2004), 
esta frase deveria ser “onde está o homem, aí está o Direito”, 
considerando que não é a sociedade um sujeito concreto de 
direitos, e sim a pessoa. A importância da sociedade deriva 
da importância das pessoas que a formam. A referência à 
sociedade tem apenas a vantagem de chamar atenção para o 
fato de que o Direito se realiza na convivência social. Melhor 
ainda seria adaptarmos a frase dentro do contexto delineado 
nos tópicos anteriores, no qual demonstramos que a vida do 
homem na sociedade é um constante exercício interpretativo, 
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Hermenêutica Jurídica Unidade II - Hermenêutica filosófica
para dizermos “onde está o homem, aí está a interpretação”. 
O Direito, como todos os objetos culturais, não se desenvol-
ve sem a atividade do intérprete, não permanece vivo sem o 
contínuo trabalho da interpretação.
Historicamente, foi assim que aconteceu nas origens do Di-
reito, em Roma. Foi a atividade interpretativa dos juristas que 
deu alma e vida ao Direito Romano, cujo legado chega até nós. 
Os jurisprudentes romanos foram os pioneiros na ciência e na 
arte de transformar a norma numa criação permanentemente 
viva, fertilizando-a com suas experiências de vida e com seu 
apurado senso de percepção da evolução da sociedade do seu 
tempo. Mesmo sem teorizar a respeito desta vital atividade 
jurídica, eles nos deixaram exemplos práticos e concretos de 
elaboração da ciência jurídica, a partir da sua capacidade de 
sempre interpretar de maneira nova antigos costumes e prá-
ticas, o que os transforma em referência permanente para o 
estudo do Direito em todos os tempos.
Importante
Filosoficamente, a interpretação é um processo que faz 
parte do próprio ato essencial, a partir do qual o homem se 
identifica ontologicamente como ser pensante e atuante no 
mundo, tornando-se capaz de conhecê-lo e de transformá-
lo. A capacidade racional do ser humano se manifesta de 
forma mais expressiva exatamente na atividade interpreta-
tiva. Não há racionalidade sem interpretação. Quer seja de 
forma consciente ou inconsciente, é na atividade racional 
interpretativa que o homem conhece a si mesmo, conhece 
o outro e conhece o mundo, ou seja, é através da interpre-
tação que o homem chega à consciência de si mesmo e dos 
outros, o que torna a interpretação uma ação necessária, 
indispensável ao homem.
A essência do ato de interpretar é o esforço de captação de um 
sentido. Este sentido, enquanto epifania do absoluto, apresenta-
se de infinitos modos nas coisas, nas pessoas, nos acontecimen-
tos, e sempre sem repetição, o que torna o sentido potencial-
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mente inesgotável. Por ser dotado da capacidade de perceber a 
sua presença, o homem pode ser considerado o portal do sentido 
do mundo, entendendo-se com isso que todas as demais coisas 
existentes têm acesso ao sentido através do homem. Esse enten-
dimento transforma a atividade interpretativa na tarefa humana 
por excelência, conferindo-lhe um lugar central entre todos os 
existentes e a responsabilidade pela exuberância interminável 
dos infinitos desdobramentos nos quais o sentido se manifesta. 
Por isso, onde está o homem, aí está a interpretação.
Podemos concluir, então, que a interpretação é um momento 
constitutivo dessa realidade humana chamada de conheci-
mento. A interpretação é o momento dinâmico do conheci-
mento da realidade, é o ato de apreendê-la racionalmen-
te, tal qual ela se apresenta à nossa percepção subjetiva. 
A hermenêutica, enquanto conjunto de teorias formadas a 
partir da prática interpretativa desenvolvida pelos estudio-
sos ao longo da história, é o momento teórico da atividade 
interpretativa. Ao estudar a hermenêutica, estaremos re-
passando as tentativas

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