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Fundac¸a˜o Centro de Cieˆncias e Educac¸a˜o Superior a Distaˆncia do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educac¸a˜o Superior a Distaˆncia do Estado do Rio de Janeiro Complementos sobre Princ´ıpio de Induc¸a˜o Matema´tica H. Clark & C. Vinagre O objetivo destes Complementos e´ apresentar alguns erros comuns cometidos na demonstrac¸a˜o de afirmac¸o˜es por meio do Princ´ıpio de Induc¸a˜o Matema´tica - PIM. Primeiramente, um problema sera´ apresentado e sua demonstrac¸a˜o correta sera´ apresentada. A seguir, apontam-se os equ´ıvocos mais comuns que aparecem na resoluc¸a˜o, usando o mesmo problema como exemplo. Problema: Mostrar que a soma dos n primeiros nu´meros naturais ı´mpares e´ igual a n2. Ou seja, mostrar que 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2n− 1 = n2 para todo n ∈ N. Prova: A propriedade P[n] e´ p1 + 3 + 5 + · · ·+ 2n− 1 = n2q. Etapa 1: Como 2.1− 1 = 1 = 12 enta˜o P[1] e´ verdadeira. Etapa 2: Hipo´tese de Induc¸a˜o - HI: Seja k ∈ N e suponha que P[k] e´ verdadeira, ou seja, que 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 = k2. Desenvolvimento: Como e´ preciso mostrar uma igualdade, desenvolve-se um dos lados para chegar ao outro, como segue: 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 + (2(k + 1)− 1) = k2 + (2(k + 1)− 1) = k2 + 2k + 1 = (k + 1)2. Ou seja, P[k+1] e´ uma propriedade verdadeira. Assim provou-se que: para todo k ∈ N, se P[k] e´ verdadeira enta˜o P[k+1] e´ verdadeira. Pelas duas etapas acima e pelo PIM a afirmac¸a˜o 1 + 3 + 5 + · · · + 2n − 1 = n2 e´ verdadeira para todo n ∈ N, como se queria. Erros comuns: 1. Partir da conclusa˜o, desenvolvendo-a. Na segunda etapa, deve-se supor que vale P[k] para um natural qualquer fixado e, a partir da´ı, prova-se que vale P[k+1]. Um erro muito comum e´ fazer o desenvolvimento da segunda etapa da seguinte forma: Desenvolvimento errado: 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 + (2(k + 1)− 1) = (k + 1)2 ∴ k2 + (2(k + 1)− 1) = k2 + 2k + 1 ∴ k2 + 2k + 1 = k2 + 2k + 1 . O desenvolvimento acima comec¸a afirmando P[k+1] - que e´ a conclusa˜o - e usa P[k] para chegar a uma identidade. Este procedimento na˜o prova nada e esta´ totalmente errado. Jamais se prova uma igualdade desenvolvendo-se os seus dois lados, pois isto e´ afirmar a conclusa˜o. E jamais se pode afirmar numa prova a conclusa˜o a que se deve chegar. Na˜o faz sentido! 1 2. Assumir que “vale tudo” na hipo´tese indutiva. Na segunda etapa de uma prova de induc¸a˜o, supo˜e-se que P[k] e´ verdadeira para um natural arbitrariamente fixado e, a partir da´ı, prova-se que vale P[k+1]. Um erro muito comum e´ assumir na hipo´tese de induc¸a˜o que P[k] e´ verdadeira para todo k ∈ N. Etapa 2 (hipo´tese indutiva errada): Suponha que P[k] e´ verdade para todo k ∈ N. Procedimento totalmente errado, mostrando que o autor que na˜o entendeu a prova por induc¸a˜o. A conclusa˜o final, o que se deseja provar usando o PIM e´ que vale P[n] para todo natural n, o que e´ o mesmo que afirmar que vale P[k] para todo natural k. Portanto, escrever a hipo´tese indutiva como acima tira todo o sentido da prova. Se voceˆ escreveu assim alguma vez, volte ao enunciado do PIM para entendeˆ-lo realmente. Etapa 2 (forma correta): Suponha que P[k] e´ verdadeira para algum k ∈ N. (veja tambe´m o in´ıcio do texto!) 3. Assumir na HI o enunciado que se quer provar. Outro erro comum e´ assumir na hipo´tese de induc¸a˜o que: se P[k] e´ verdadeira para algum k ∈ N enta˜o P[k] e´ verdadeira. Etapa 2: (hipo´tese indutiva errada): Suponha que se P[k] e´ verdade para algum k ∈ N enta˜o P[k+1] e´ verdadeira. Claramente, esta formulac¸a˜o da HI na˜o faz sentido: a segunda etapa numa prova por induc¸a˜o requer que se assuma P[k] para algum k ∈ N e, a partir da´ı, prove-se P[k+1]. Reveja a forma correta no in´ıcio do texto ou no item anterior. E´ preciso entender que a linguagem matema´tica e´ um encadeamento de s´ımbolos e palavras que teˆm um sentido muito preciso e que na˜o se pode escrever matema´tica de uma forma negligente; e´ preciso estudar para entender o que e´ preciso fazer. Se voceˆ ainda tem esta du´vida, volte ao enunciado do PIM para resolveˆ-la. 4. Na˜o entender o significado da propriedade P[n] e/ou a sua descric¸a˜o. No exemplo dado inicialmente, a propriedade P[n] e´ p1 + 3 + 5 + · · ·+ 2n− 1 = n2q e n varia em N. Isto significa que: P[1] e´ p2.1− 1 = 1 = 12q; P[2] e´ p(2.1− 1) + (2.2− 1) = 1 + 3 = 22q; P[3] e´ p(2.1− 1) + (2.2− 1) + (2.3− 1) = 1 + 3 + 5 = 32q ; ... P[k] e´ p1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 = k2q; P[k+1] e´ p1 + 3 + 5 + · · ·+ (2k − 1) + (2(k + 1)− 1) = (k + 1)2q. Um erro que ocorre a`s vezes e´, tendo escrito corretamente a hipo´tese indutiva, o aluno escrever que a propriedade P[k+1] a ser provada tem a forma: P[k+1] e´ p1 + 3 + 5 + · · ·+ 2(k + 1)− 1 = (k + 1)2q. Etapa 2: Hipo´tese de induc¸a˜o: Seja k ∈ N tal que vale 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 = k2. Ou seja, tal que P[k] e´ verdade. Desenvolvimento errado: 1 + 3 + 5 + · · ·+ (2(k + 1)− 1) =??? Na˜o ha´ como usar P[k] desta maneira e a conta na˜o pode ser feita (reveja o exemplo corretamente escrito no in´ıcio do texto). 2 5. Escrever de menos, fazendo crer que a prova pelo PIM consiste somente da segunda etapa. Um erro que tambe´m ocorre e´ o aluno provar corretamente a primeira e a segunda etapas, e terminar, como se a conclusa˜o final fosse P[k+1]; neste caso, o estudante na˜o considera que a conclusa˜o pelo PIM depende das duas etapas e que e´ uma afirmac¸a˜o mais geral, demonstrando que ainda precisa estudar melhor o assunto. Observe: Etapa 1(correta): Como 2.1− 1 = 1 = 12 enta˜o P[1] e´ verdadeira. Etapa 2 (corrreta): Hipo´tese de Induc¸a˜o - HI: Seja k ∈ N e suponha que P[k] e´ verdadeira, ou seja, que 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 = k2. Desenvolvimento correto: Como e´ preciso mostrar uma igualdade, desenvolve-se um dos lados para chegar ao outro, como segue: 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2k − 1 + (2(k + 1)− 1) = k2 + (2(k + 1)− 1) = k2 + 2k + 1 = (k + 1)2. Conclusa˜o errada: Portanto, P[k+1] e´ uma propriedade verdadeira. A etapa 2 consiste em provar o enunciado geral p para todo k ∈ N, se P[k] e´ verdadeira enta˜o e´ verdadeira q. Para isso, como sempre que se precisa provar uma implicac¸a˜o desta forma, na impos- sibilidade de se provar particularmente para todos os naturais k pois ha´ infinitos deles, considera-se um natural k nas condic¸o˜es da hipo´tese (isto e´, tal que P[k] e´ verdadeira) e prova-se a partir da´ı que P[k+1] e´ verdadeira. O Teorema que e´ o PIM, para garantir que vale a conclusa˜o final, exige que valham os enunci- ados das duas etapas anteriores. Portanto, ao final, o correto e´ indicar que a conclusa˜o p para todo n ∈ N, P[n] e´ propriedade verdadeiraq, e´ consequeˆncia das duas etapas anteriores e do Princ´ıpio da Induc¸a˜o Matema´tica. 3
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