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EaD Leitura Produção Textual

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Universidade regional do noroeste do estado do rio grande do sUl – UnijUí 
vice-reitoria de gradUação – vrg 
coordenadoria de edUcação a distância – cead 
coleção educação a distância
série livro-texto
ijuí, rio grande do sul, Brasil
2014
jaci Kieslich 
Maristela righi lang 
rosita da silva santos 
taíse neves Possani
leitUra 
e ProdUção 
textUal
 2014, editora Unijuí
 rua do comércio, 1364
 98700-000 - ijuí - rs - Brasil 
 Fone: (0__55) 3332-0217
 Fax: (0__55) 3332-0216
 e-mail: editora@unijui.edu.br
 Http://www.editoraunijui.com.br
editor: gilmar antonio Bedin
editor-adjunto: joel corso
capa: elias ricardo schüssler
designer educacional: jociane dal Molin Berbaum
responsabilidade editorial, gráfica e administrativa: 
editora Unijuí da Universidade regional do noroeste 
do estado do rio grande do sul (Unijuí; ijuí, rs, Brasil)
catalogação na Publicação: 
Biblioteca Universitária Mario osorio Marques – Unijuí
l533 leitura e produção textual / jaci Kieslich et al.. – ijuí: ed. Unijuí, 2014. – 90 p. – (coleção 
educação a distância. série livro-texto).
 isBn 978-85-419-0098-0
 1. leitura. 2. linguagem. 3. Produção textual. i. lang, Maristela righi. ii. santos, rosita da 
silva. iii. Possani, taíse neves. iv. série.
 cdU : 028.1
 82.08
3
Sumário
CONHECENDO OS PROFESSORES .................................................................................................................................................... 5
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 7
UNIDADE 1 – LINGUAGEM E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA .............................................................................................................. 9
Seção 1.1 – Variação Linguística no Português Brasileiro ......................................................................................................10
1.1.1 – Variação Diacrônica ........................................................................................................................................11
1.1.2 – Variação Diatópica (ou Geográfica) ..........................................................................................................11
1.1.3 – Variação Diastrática (ou Social) ..................................................................................................................13
1.1.4 – Variação Diamésica .........................................................................................................................................13
1.1.5 – Variação Estilística ...........................................................................................................................................14
Seção 1.2 – Norma Padrão e Preconceito Linguístico .............................................................................................................14
Seção 1.3 – Linguagem Culta/Linguagem Popular..................................................................................................................15
Seção 1.4 – Diferenças Entre Oralidade e Escrita ......................................................................................................................17
UNIDADE 2 – O TEXTO E A TEXTUALIDADE .................................................................................................................................19
Seção 2.1 – Textualidade e Seus Elementos ...............................................................................................................................22
UNIDADE 3 – A LEITURA.....................................................................................................................................................................29
Seção 3.1 – Leitura e Inclusão Social .............................................................................................................................................29
Seção 3.2 – Objetivos da Leitura .....................................................................................................................................................30
Seção 3.3 – Como Ler para Cumprir Tarefa? ...............................................................................................................................31
Seção 3.4 – Estratégias para Compreensão de Textos ............................................................................................................31
Seção 3.5 – A Leitura do Texto Literário .......................................................................................................................................35
Seção 3.6 – A Plurissignificação da Linguagem Literária: denotação e conotação ......................................................38
Seção 3.7 – A Literatura e Suas Funções ......................................................................................................................................39
UNIDADE 4 – NOÇÕES DE ESCRITA ................................................................................................................................................41
Seção 4.1 – Propósito Comunicativo .............................................................................................................................................42
Seção 4.2 – Estratégias Argumentativas ......................................................................................................................................43
Seção 4.3 – Adequação Vocabular .................................................................................................................................................48
Seção 4.4 – Coesão e Coerência Textuais .....................................................................................................................................50
Seção 4.5 – O Parágrafo ......................................................................................................................................................................54
UNIDADE 5 – A ARGUMENTAÇÃO COMO PRÁTICA DE LINGUAGEM .................................................................................59
Seção 5. 1 – O Texto Argumentativo .............................................................................................................................................60
Seção 5. 2 – Argumentos ...................................................................................................................................................................62
Seção 5.3 – Gêneros Textuais da Ordem do Argumentar ......................................................................................................68
Seção 5.4 – Defendendo um Posicionamento por Meio da Expressão Oral ...................................................................82
REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................................................................89
5
Conhecendo os Professores
jaci KieslicH
Professora, graduada em Letras pela Unijuí; pós-graduada em Literatura e 
mestre em Educação nas Ciências pela mesma universidade, com apresentação 
da Dissertação intitulada: “Práticas de leitura de professoras que atuam no Ensino 
Fundamental”. Leciona o componente curricular Leitura e Produção Textual junto 
ao Departamento de Humanidades e Educação da Unijuí. Também participa de 
Projetos de Extensão desta universidade. Possui diversas publicações de textos 
e artigos, abordando questões sobre a leitura e seu ensino. 
Maristela rigHi lang
Professora colaboradora horista na Universidade Regional do Noroeste do 
Estado do RS– Unijuí – e professora no Colégio Sagrado Coração de Jesus de Ijuí/
RS e no Colégio Tiradentes da Brigada Militar/Ijuí/RS. Possui Mestrado em Letras 
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul– UFRGS (2003) – Pós-Graduação 
lato-sensu em Literatura Infanto-juvenil (1997) e Graduação em Letras pela Uni-
versidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí (1994). 
Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística, trabalhando 
principalmente com os seguintes temas: gêneros textuais, leitura e produção de 
textos, prática docente, pesquisa em Letras, gramática (morfologia e sintaxe), 
ensino.
rosita da silva santos
Professora, possui Graduação em Letras – habilitação Língua Portu-
guesa, Língua Inglesa e respectivas literaturas – pela Universidade do Vale do 
Jacuí, especialização em Leitura e Produção de Textos pela Univali (Itajaí/SC) e 
Mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 
Atua, também, com Ensino Médio e tem experiência na área de Letras (língua 
e literatura), principalmente nos seguintes temas: leitura, produção de textos, 
Semântica e Pragmática, Sociolinguística. Participa de projetos de extensão e 
cursos de formação continuada para professores na Região Noroeste do Estado 
do Rio Grande do Sul. 
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
6
taíse neves Possani
Professora, licenciada em Letras –Licenciatura Plena – habilitação Língua 
Portuguesa, Língua Inglesa e respectivas Literaturas pela Universidade Federal 
do Rio Grande (2006). Mestre em História da Literatura pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande (2009). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em 
História da Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas: Metaficção 
e Metaficção Historiográfica, análise e leitura intertextual, reflexões acerca do 
ensino-aprendizagem de Língua Inglesa e Língua Portuguesa. Atua também 
como coordenadora do posto aplicador do Exame Celpe-Bras – Certificado 
de proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros. Dentre as principais 
atividades que têm realizado junto a universidade, estão os cursos de formação 
continuada para professores na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, realizados 
em parceria com a Coordenadoria Regional da Educação e o governo do Estado 
do Rio Grande do Sul. 
7
Apresentação
A disciplina de Leitura e Produção Textual justifica-se como um dos eixos 
da Formação Geral Humanista nesta instituição de ensino superior, por priorizar 
espaço de reflexões aos alunos acerca da realidade, articulando inúmeras temá-
ticas, tais como as de ordem social, política, ambiental, étnica, cultural, da saúde, 
da arte, entre outras. Isso acontece por meio da leitura e problematização de 
diferentes textos orais e escritos, verbais ou não. Assim, buscamos desafiar/auxiliar 
os envolvidos para que desenvolvam uma percepção maior da existência, bem 
como atuem efetivamente como produtores em um mundo textualizado e que 
se constituam não somente receptores, mas que exerçam uma leitura de mundo 
crítica, reflexiva, propositiva de soluções, posicionando-se ante aos discursos e 
ideologias de maneira ativa e contestadora, não ingênua e manipulada. 
Para tanto, são articuladas, neste livro, questões relativas à forma da língua 
e de seu uso em contextos específicos, nos quais a língua significa e causa diferen-
tes efeitos de sentido para auxiliar você a agir em um contexto sociocomunicativo 
específico, a partir do desenvolvimento da habilidade de comunicar-se ampla e 
eficazmente nas diferentes situações da língua em uso.
Além disso, acreditamos que a partir do desenvolvimento de suas habili-
dades linguísticas e comunicativas você passará a dialogar com as propostas das 
demais disciplinas, sejam elas do específico de seus cursos de Graduação ou da 
própria Formação Geral e Humanista, às quais estão articuladas. Cabe também 
considerar que, de acordo com os PCNs (Brasil, 1998), toda a educação que se 
comprometa com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o alu-
no desenvolva a sua competência comunicativa. Por competência comunicativa 
podemos entender a capacidade que o sujeito tem de colocar-se no contexto 
precisamente, apreendendo os gêneros comuns a cada domínio discursivo e 
não discursivo, bem como alterando o registro, o léxico, a forma como um todo, 
a fim de atingir seu propósito comunicativo. 
Por fim, cabe ressaltar que possibilitar a vocês, acadêmicos, uma Formação 
Geral e Humanista é, sem dúvida, por um lado, reconhecer o caráter mais amplo 
e dinâmico da formação superior, e, por outro, mostrar-se preocupados com a 
atuação dos sujeitos para além da técnica e da especificidade. Nessa perspecti-
va, a disciplina de Leitura e Produção Textual está intensamente comprometida 
com a formação dos seus alunos, na medida em que privilegia o caráter ativo 
da prática de ler, refletir, escrever, analisar, produzir textos sobre temas como: 
a saúde, a educação, a segurança, a justiça, o meio ambiente, a arte, a cultura, 
a ética, a inovação, além de contribuir na constituição étnica e racial, histórica, 
como também nas suas relações com a sociedade do século 21.
Bons estudos!
Professores do componente curricular 
Leitura e Produção Textual 
9
Unidade 1
lingUageM e variação lingUística
oBjetivos desta Unidade
Compreender a linguagem como modo de inserção nas práticas sociais, de •	
forma ética, propositiva, transformadora de sua realidade, de sua história, 
cultura e de sua identidade, considerando os aspectos multiculturais e pluri-
étnicos de sua constituição. Além de ser conhecedor da realidade brasileira, 
o sujeito deve ser capaz de compará-la, analisá-la e entendê-la na sua relação 
com a realidade global.
Auxiliar para a compreensão e a consciência a respeito da variação linguística, •	
de registro e de preconceito linguístico, por meio de leituras e análises de 
textos, utilizando esse conhecimento nas práticas de escrita.
as seçÕes desta Unidade
Seção 1.1 – Variação Linguística no Português Brasileiro
Seção 1.2 – Norma Padrão e Preconceito Linguístico 
Seção 1.3 – Linguagem Culta/Linguagem Popular 
Seção 1.4 – Diferenças Entre Oralidade e Escrita 
A linguagem é uma atividade humana que, nas representações de mundo 
que constrói, revela aspectos históricos, sociais e culturais. É por meio da lingua-
gem que o ser humano organiza e dá forma as suas experiências. Seu uso ocorre 
na interação social e pressupõe a existência de interlocutores. São exemplos de 
diferentes linguagens utilizadas pelo ser humano as línguas, a pintura, a dança, 
os logotipos, os quadrinhos, os sistemas gestuais, entre outros.
Usamos a linguagem para pedir ou transmitir informações na maior 
parte do tempo, mas, além do intuito comunicativo, a linguagem deve dar 
conta também das necessidades subjetivas, que se expressam nas palavras, nos 
sentimentos, nas sensações, nas emoções.
As linguagens utilizadas pelos seres humanos pressupõem conhecimento, 
por parte de seus usuários, do valor simbólico dos seus signos. Se não houvesse 
acordo com relação a esse valor, ou seja, se não fosse possível aos usuários de 
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
10
uma mesma linguagem identificar aquilo a que determinado signo faz referência, 
qualquer interação através da atividade da linguagem ficaria prejudicada, pois 
não haveria comunicação (Abaurre; Pontara, 2006, p. 3).
A linguagem tem um valor social, pois tudo o que o ser humano alcançou 
de crescimento cultural está ligado a ela. Sem a linguagem, a cultura não existiria, 
e os conhecimentos não poderiam ser transmitidos de geração para geração. A 
linguagem torna possível o desenvolvimentoe a transmissão de culturas, bem 
como o funcionamento eficiente e o controle dos grupos sociais.
 A linguagem pode ser dividida em dois tipos; verbal e não verbal. 
VERBAL•	 : aquela que utiliza a língua (oral ou escrita), que tem a pala-
vra, ou signos linguísticos, por sinal.
NÃO VERBAL•	 : aquela que usa qualquer código que não seja a pa-
lavra, como a música, que tem o som por sinal; a dança, que tem o 
movimento por sinal; a mímica, que tem o gesto por sinal; a pintura, 
a fotografia e a escultura, que têm a imagem por sinal, etc. Quem 
está recebendo a mensagem pode expressar corporalmente diversas 
manifestações de atenção, agrado ou desagrado. Um bocejo, o cenho 
franzido de atenção, o olhar vago e distante, os olhos que se fecham, 
a expressão de dúvida, são indícios significativos para quem quer 
receber uma mensagem. 
Sendo assim, entender a linguagem é essencial para poder usá-la de 
forma efetiva, principalmente no que respeita à linguagem verbal, uma vez que 
a existência humana se organiza em torno de relações de interações sociais, em 
que questões históricas, sociais, econômicas e culturais estão envolvidas. No que 
se refere ao contexto universitário, em que a linguagem verbal é amplamente 
utilizada, o seu domínio deve ser um dos grandes objetivos e foco de formação 
dos estudantes. 
seção 1.1 
variação linguística no Português Brasileiro
O Brasil é o maior país falante de língua portuguesa no mundo:1 somos 
200 milhões de habitantes, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística – IBGE – (Brasil, 2013). Sabemos que o português não surgiu 
no Brasil, pois fomos colonizados por portugueses, e o português deriva do latim, 
língua da civilização que teve como centro a Roma antiga. Por isso, o que deu 
origem ao português não foi o latim literário, mas sim uma terceira variedade, 
o chamado latim vulgar (ou vernáculo). O aprendizado de um vernáculo se dá 
1 O português é língua comum em vários países, além do Brasil: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, 
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. 
EaD
11
Leitura e Produção Textual
por assimilação espontânea e inconsciente, no ambiente em que as pessoas 
são criadas, opondo-se ao que acontece, por exemplo, na escola, cujo objetivo 
principal é o de fazer chegar às pessoas a variedade linguística prestigiada (Ilari; 
Basso, 2006). 
Por este motivo, a uniformidade na língua é um mito e a variabilidade 
linguística deve ser aceita como um fato natural. Pensar na língua como algo 
imutável é ter uma visão limitada do fenômeno linguístico, que só se consegue 
quando se leva em conta a língua culta como a única que deve ser aceita. A lín-
gua varia no tempo, varia de região para região, ou de acordo com os diferentes 
estratos sociais, entre outras. 
A transformação de uma língua opera-se pelo constante contato com 
outras línguas ou mesmo com suas variedades regionais e sociais. Esse processo 
é inevitável, porque nenhum povo vive isolado. Do contato com outras línguas 
surgem os empréstimos linguísticos, por exemplo. Quando a fonte do contato é 
de origem interna, ou seja, entre variedades regionais ou sociais de uma mesma 
língua, ocorre transferência. 
Por isso, os autores costumam citar alguns tipos de variações. Essas 
variações convivem entre si, ou seja, não são excludentes e não podem ser apli-
cadas em separado. Os autores referem-se à variação diacrônica, diatópica (ou 
geográfica), diastrática (ou social), diamésica, estilística. 
1.1.1 – variação diacrônica 
A variação diacrônica é aquela que se dá através do tempo. Esse tipo de 
variação pode ser percebida ao compararmos gerações. Em um bom exemplo, 
podemos notar as mudanças na palavra você, que antigamente era uma ex-
pressão de tratamento e se transformou em pronome pessoal. Vossa mercê, em 
sua origem, passou a ser vosmecê, você, ocê, e atualmente ouvimos pessoas que 
falam somente cê.
No século 20, o Brasil era muito influenciado pelos franceses, o que refletia 
diretamente na língua. Neste período, foram incluídas, no português, palavras 
como menu, abajur, chique, charme, dentre outras. Nos dias de hoje, podemos 
observar que o inglês tem se incorporado às diferentes línguas dos países de todo 
o mundo, e no Brasil não é diferente, visto que palavras como internet, windows, 
hardware, mouse e muitas outras, já fazem parte de nossa língua.
1.1.2 – variação diatóPica (oU geográFica)
Variação diatópica são diferenças que uma mesma língua apresenta na 
dimensão do espaço, quando é falada em diversas regiões de um mesmo país 
ou em distintos países. 
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
12
A variação diatópica é o tipo de variação que encontramos ao compa-
rarmos uma região a outra. Por exemplo, ao compararmos um diálogo entre 
pessoas que moram no Sul e que moram no Norte do país, encontramos 
uma diversidade de palavras muito grande. Enquanto no Norte a mandioca é 
chamada de macaxeira, no Sul ela é conhecida como aipim.
2
Além do conhecimento de mundo, relacionado às questões culturais, 
podemos analisar a diferença entre as falas de um gaúcho e um mineiro, por 
exemplo, com características próprias de cada Estado, como uai, utilizado por 
um mineiro, e bah, falada pelo gaúcho. 
Os termos sinal, semáforo, sinaleira e farol, por exemplo, referem-se a um 
mesmo aparelho de sinalização das vias urbanas, empregado para orientar o trá-
fego. Trata-se claramente de variação diatópica, pois entendemos as diferenças 
que uma mesma língua apresenta na dimensão do espaço, quando é falada em 
diferentes regiões de um mesmo país ou em distintos países.
3
2 Disponível em: <http://emoxinha25.spaceblog.com.br/275382/Um-caipira-fazendo-declaracao-de-amor-
aos-amigos-leiaamm/>. Acesso em: 10 dez. 2013.
3 Disponível em: <http://variou.blogspot.com.br/2011/05/variacao-regional.html>. Acesso em: 13 dez. 
2013.
EaD
13
Leitura e Produção Textual
As variedades geográficas conduzem a uma oposição fundamental entre 
linguagem urbana e linguagem rural. Essas variações são motivadas pelas ca-
racterísticas do falante e do grupo a que pertence, ou pelas circunstâncias que 
cercam a situação de fala.
1.1.3 – variação diastrática (oU social)
A variação diastrática é a diferença entre o português falado pela parte 
mais escolarizada da população e pela menos escolarizada. A variação diastrática 
é o português falado por diferentes estratos da sociedade. É uma variante bas-
tante abrangente, pois é a diferença entre a camada menos e mais escolarizada 
da sociedade, assim como pode ser também a variante das gírias. 
A variação social ou diastrática relaciona-se a um conjunto de fatores 
que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização 
sociocultural da comunidade de fala. Neste sentido, podemos apontar os se-
guintes fatores relacionados às variações de natureza social: a) classe social; b) 
idade; c) sexo; d) situação ou contexto social (Alkmim, 2001). Alguns exemplos 
de variação social: 
o uso de dupla negação, como em “ninguém não viu”, indica a fala de •	
grupos situados abaixo na escala social.
presença de [r], em lugar de [l], em grupos consonantais, como em •	
“brusa” (blusa) e “probrema” (problema), também sugere que os fa-
lantes estão situados abaixo na escala social ou possuem baixo grau 
de letramento.
o uso de certas gírias (“parada”, “é nóis”) denota faixa etária jovem;•	
a duração de vogais como recurso expressivo, como em “maaaravilho-•	
so”, costuma ocorrer na fala de mulheres, assim como o uso frequente 
de diminutivos, como “bonitinho”, “vermelhinho” (Camacho, 1978 
apud Alkmim, 2001).
Na música “Samba do Arnesto”(O Arnesto nos convidou pra um samba/
ele mora no Brás/Nós fumo não encontremo ninguém), de Adoniran Barbosa, 
podemos ver que se trata de uma variação diastrática, pois apresenta orações 
como nóis fumo, ao invés de nós fomos, ou não encontremo por não encontramos, 
que seriam impossíveis de serem aceitas pela norma culta da língua. 
O português substandard, como é conhecido, tem uma gramática própria, 
mas permite uma boa comunicação. Por exemplo, a queda da letra s nas palavras, 
como nóis fumo, nóis cantemo, ou a criação de neologismos.
1.1.4 – variação diaMésica
Conforme o gênero textual a que pertencem, os textos apresentam, sejam 
orais ou escritos, vocabulário e gramática próprios. Dentre todas essas varian-
tes, ainda existe a variação diamésica, que coexiste com todos os outros tipos 
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
14
de variação, pois é a variante que está associada ao meio ou veículo em que é 
empregada. Existem diferenças quando o telefone é atendido por uma secretária 
eletrônica ou por uma pessoa; ou mesmo quando estamos conversando com 
alguém por meio de uma mídia social ou na comunicação cara a cara. 
4
O internetês é um bom exemplo de variação diamésica. O internetês de-
signa a linguagem utilizada no meio virtual, em que as palavras são abreviadas 
até o ponto de se transformarem em uma palavra com, no mínimo, duas e, no 
máximo, cinco letras. Essa forma de expressão deu-se a partir do uso das mídias 
sociais, com a necessidade de interação instantânea e dinâmica entre os usuários. 
O uso, portanto, de abreviações ou símbolos (como vc, naum, tb) não se trata de 
um erro, mas de uma variação linguística.
1.1.5 – variação estilística
A variação estilística está relacionada ao contexto; ocorre em situações de 
fala, uma vez que a mesma pessoa muda a sua maneira de falar dependendo do 
ambiente. Os falantes adaptam suas formas de expressão às finalidades específicas 
de seu ato enunciativo. Podemos observar estilos diferentes, por exemplo, quando 
um falante conversa numa mesa de bar, com um amigo, ou quando apresenta um 
trabalho na universidade. A seleção de formas mais ou menos prestigiadas vai 
depender do grau de intimidade, do ambiente, enfim, de uma série de fatores.
seção 1.2 
norma Padrão e Preconceito linguístico
A norma culta (ou padrão) é considerada um modelo de linguagem 
a ser utilizado pelos falantes da língua portuguesa. Faraco (2002, p. 39) 
afirma que norma culta é aquela que é falada por pessoas escolarizadas, 
que se assemelha ou fica próximo de um português mais correto, o por-
tuguês padrão.
4 Disponível em: <http://espacoeducacaoriopreto.blogspot.com.br/2011/06/diversidade-linguistica.html>. 
Acesso em: 13 dez. 2013.
EaD
15
Leitura e Produção Textual
5
O português padrão, segundo Faraco (2002, p. 40), é uma forma de 
preconceito linguístico, de menosprezar as variantes da língua, pois, para o 
português padrão, somente o português baseado na gramática normativa é o 
correto. Isso acontece porque a norma apresenta um caráter estático, enquanto 
a fala é dinâmica, representando a diversidade, dado que evolui a cada instante, 
acompanhando as transformações da sociedade (Terra, 2008). 
A escolha de um determinado uso da língua para alçá-lo à condição de 
norma culta possui um caráter ideológico, e o critério utilizado, geralmente, para 
estabelecer qual seria a linguagem padrão, é o histórico-literário (Terra, 2008). 
seção 1.3 
linguagem culta/linguagem Popular 
De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa formal, bus-
cará seguir as regras da norma culta de sua língua, e ainda procurará seguir, no 
que diz respeito ao léxico, um repertório que, se não for erudito, também não 
será vulgar.
Isso configura o que se entende por norma culta que, conforme Pretti 
(1997), apresenta as seguintes características:
é a variante de maior prestígio social; •	
é realizada com certa uniformidade pelos membros do grupo social •	
de padrão cultural mais elevado;
5 Disponível em: <http://petpedagogia.blogspot.com.br/2012/04/variacao-linguistica-uma-realidade.
html>. Acesso em: 13 dez. 2013.
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
16
cumpre o papel de impedir a fragmentação dialetal;•	
é usada na escrita em gêneros discursivos em que há maior forma-•	
lidade;
é a que mais se aproxima dos padrões prescritos pela gramática •	
tradicional;
é a mais empregada na literatura;•	
é a usada pelas pessoas cultas em diferentes situações de formali-•	
dade. 
Em linhas gerais, as diferenças que se estabelecem entre linguagem 
culta e linguagem popular podem ser resumidas através conforme o seguinte 
Quadro:
Quadro 1 – Linguagem culta x linguagem popular
LINGUAGEM CULTA LINGUAGEM POPULAR
Apresenta indicação precisa das •	
marcas de gênero, número e pes-
soa;
uso de todas as pessoas, com exce-•	
ção de vós; 
emprego de todos os modos ver-•	
bais;
correlação verbal de tempos e •	
modos;
coordenação e subordinação;•	
riqueza de construção sintática;•	
maior utilização da voz passiva;•	
grande emprego de preposições •	
nas regências;
organização gramatical cuidada •	
da frase.
economia nas marcas de gênero, nú-•	
mero e pessoa;
redução das pessoas gramaticais do •	
verbo;
mistura de pessoas verbais;•	
uso intenso da expressão •	 a gente em 
lugar de nós;
redução dos tempos da conjugação •	
verbal, como a perda quase total do 
futuro do presente e do pretérito-mais-
que-perfeito;
falta de correlação verbal entre os •	
tempos;
redução do processo subordinativo •	
em benefício da frase simples e da 
coordenação;
maior emprego da voz ativa em lugar •	
da passiva;
predomínio das regências verbais •	
diretas; 
simplificação gramatical da frase;•	
emprego dos pronomes pessoais retos •	
como objetos.
Fonte: Pretti, 1997. Adaptado. 
EaD
17
Leitura e Produção Textual
seção 1.4 
diferenças entre oralidade e escrita
Segundo Marcuschi (2002), a fala é uma atividade muito mais central do 
que a escrita no dia a dia das pessoas, embora as instituições de ensino priorizem 
a escrita como objeto central. Analisar a fala é uma oportunidade para esclarecer 
aspectos relativos ao preconceito e à discriminação linguística, bem como suas 
formas de disseminação. Além disso, é uma atividade relevante para analisar 
em que sentido a língua é um mecanismo de controle social e reprodução de 
esquemas de dominação e poder implícitos em usos linguísticos na vida diária, 
tendo em vista suas íntimas, complexas e comprovadas relações com as estruturas 
sociais (Marcuschi, 2002). 
O que tem sido observado, no entanto, é a primazia do ensino da escrita, 
uma vez que há a crença de que, aprendendo a escrita, haverá a aprendizagem 
da fala. De certa forma, isso acontece, mas é necessário abordar questões relativas 
à fala, posto que, na grande maioria das profissões, a oralidade prevalece. No 
Quadro a seguir temos um comparativo entre a fala e a escrita, o qual nos ajuda 
a entender tais diferenças:
Quadro 2 – Diferenças entre oralidade e escrita 
Oralidade Escrita
O momento de produção e o de recep-
ção do texto são simultâneos.
Há defasagem entre o momento de produção 
e o de recepção.
É possível negociar o sentido com o 
interlocutor e, também, corrigir-se.
O autor deve antecipar possíveis dúvidas do 
leitor e tratar de esclarecê-las ainda no mo-
mento de produção.
O texto é coconstruído: para se comuni-
car melhor, os interlocutores interagem 
o tempo todo, usando tanto a lingua-
gem verbal quanto a não verbal.
O autor produz o texto solitariamente e, de-
pois, o leitor deve reconstruir seus significados 
também sozinho.É impossível “voltar atrás” no que foi 
dito.
É possível revisar o texto quantas vezes forem 
necessárias.
O processo de produção é transpa-
rente: o interlocutor “vê” seus erros e 
correções.
O processo de produção fica oculto: o leitor 
tem acesso apenas ao texto final.
É impossível consultar outras fontes 
durante a produção.
É possível consultar outras fontes e checar as 
informações.
O planejamento é local: enquanto está 
falando uma frase, a pessoa pensa na 
próxima.
O planejamento é global: a pessoa planeja 
o texto como um todo e, caso se desvie do 
plano inicial, pode aceitar a nova ordem ou 
voltar atrás.
Tende a haver maior tolerância a erros e, 
portanto, mais informalidade.
Tende a haver maior cobrança e, portanto, mais 
formalidade.
A obediência à norma padrão costuma 
ser menos rígida. Por exemplo: as mar-
cas do plural, às vezes, desaparecem.
A norma padrão costuma ser seguida com mais 
rigor, até porque é possível revisar o texto.
Predomínio de períodos curtos e sim-
ples. 
Predomínio de períodos longos e mais com-
plexos. 
Predomínio da voz ativa e da ordem 
direta: “Vamos revisar os fundamentos 
de cálculo”.
Uso frequente da voz passiva e da ordem 
indireta: “Serão revisados os fundamentos de 
cálculo”.
Abundância de períodos com cortes 
sintáticos, ou seja, aquele que aban-
dona o que estava dizendo, como se 
houvesse uma mudança de rumo no 
pensamento. 
Maior linearidade na construção dos perío-
dos. 
Fonte: Adaptado de Marcuschi, 2002.
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
18
A partir do Quadro, é possível compararmos e entendermos as principais 
diferenças entre a língua falada e a língua escrita. Tal entendimento deve não 
só nos auxiliar no momento de produção de textos orais e escritos, mas tam-
bém evitar atitudes que alimentem o preconceito linguístico, como considerar 
somente a língua escrita como correta e imaginar que a língua falada é a língua 
“errada” ou vice-versa, desconsiderando os contextos de produção.
síntese da Unidade 1
Nesta Unidade buscamos auxiliá-lo na com-
preensão do que seja a linguagem, uma vez 
que a existência humana se organiza em 
torno de relações de interações sociais, em 
que questões históricas, sociais, econômicas 
e culturais estão envolvidas. No que se refere 
ao contexto universitário, em que a linguagem 
verbal é amplamente utilizada, o seu domínio 
deve ser um dos grandes objetivos. De modo 
geral, procuramos mostrar que um falante cul-
to, em situação comunicativa formal, buscará 
usar as regras da norma culta de sua língua, e 
ainda procurará seguir, no que diz respeito ao 
léxico, um repertório que, se não for erudito, 
também não será vulgar.
19
A partir do Quadro, é possível compararmos e entendermos as principais 
diferenças entre a língua falada e a língua escrita. Tal entendimento deve não 
só nos auxiliar no momento de produção de textos orais e escritos, mas tam-
bém evitar atitudes que alimentem o preconceito linguístico, como considerar 
somente a língua escrita como correta e imaginar que a língua falada é a língua 
“errada” ou vice-versa, desconsiderando os contextos de produção.
síntese da Unidade 1
Nesta Unidade buscamos auxiliá-lo na com-
preensão do que seja a linguagem, uma vez 
que a existência humana se organiza em 
torno de relações de interações sociais, em 
que questões históricas, sociais, econômicas 
e culturais estão envolvidas. No que se refere 
ao contexto universitário, em que a linguagem 
verbal é amplamente utilizada, o seu domínio 
deve ser um dos grandes objetivos. De modo 
geral, procuramos mostrar que um falante cul-
to, em situação comunicativa formal, buscará 
usar as regras da norma culta de sua língua, e 
ainda procurará seguir, no que diz respeito ao 
léxico, um repertório que, se não for erudito, 
também não será vulgar.
o texto e a textUalidade
oBjetivos desta Unidade
Compreender o texto como a expressão de um processo de interação •	
social, com a presença de, no mínimo, dois sujeitos –, o que fala/escre-
ve e para quem se fala/escreve –, no qual estão inseridos os sentidos 
linguísticos, a visão de mundo de cada um dos interlocutores e a(s) 
intencionalidade(s).
Reconhecer a necessidade de produzir textos, tanto orais quanto es-•	
critos, claros, coerentes, coesos, adequados ao contexto de produção, 
ao estilo e à correção gramatical, por meio da escrita de diferentes 
gêneros textuais, a fim de melhorar sua prática discursiva como 
produtor de textos. 
a seção desta Unidade
Seção 2.1 – Textualidade e Seus Elementos
Como vimos na primeira Unidade, o homem está inserido em uma realida-
de constituída de linguagens. O choro, primeira manifestação do ser humano ao 
nascer, é uma das inúmeras formas de linguagem que acompanha sua trajetória. 
Com o passar dos anos, outras formas vão sendo usadas – os balbucios, os gestos, 
as palavras, as imagens, entre outras – e tal uso tem como principal objetivo a 
interação com seus semelhantes. Na verdade, seria difícil conceber o desenvol-
vimento humano se o homem não fosse dotado da capacidade de linguagem, 
o que o diferencia dos outros animais. Como afirma Émile Benveniste (1995), é 
a linguagem que permite ao homem constituir-se enquanto tal. 
Pensando no processo interacional, é essencial falar sobre texto, uma vez 
que, sempre que o homem se manifesta, ele o faz por meio de textos. Reporta-
mo-nos a Luiz Antonio Marcuschi (2002, p. 22), para quem “[...] é impossível se 
comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se 
comunicar verbalmente a não ser por algum texto”. Isso permite afirmar que cada 
vez que alguém abre a boca para dizer alguma coisa, está produzindo texto(s).
Unidade 2
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
20
É claro que a estrutura e a organização dos textos, bem como a seleção 
vocabular, estarão diretamente relacionadas à intencionalidade, à situação 
de comunicação e ao conhecimento dos usuários da língua, uma vez que é o 
contexto que determina o seu uso. Cabe então destacar que se faz necessário 
relativizar a questão do certo e do errado no que respeita à língua, pois as ques-
tões históricas, econômicas, sociais e culturais são determinantes no processo de 
produção textual. Assim, se alguém estiver falando do seu lugar de professor, ele 
precisa adequar seu modo de falar a isso. Se a pessoa estiver enviando um e-mail 
para um amigo, sua escrita poderá ser abreviada ou conter ícones, o que já não 
será possível se a secretária de uma empresa enviar e-mail para outra empresa. 
É uma questão de adequação.
Vários são os estudiosos que se dedicaram à análise do texto, entre 
eles pode ser citado Isemberg (1976 apud Koch, 2002), para quem o texto é 
uma configuração linguística em que estão presentes oito aspectos, a saber: 
a) legitimidade social; b) funcionalidade comunicativa; c) semanticidade; d) 
referência à situação; e) intencionalidade; f ) boa formação; g) boa composição; 
e h) gramaticalidade.
Para Van Dijk (1981 apud Koch, 2002), o texto está inserido em uma con-
cepção da linguagem como ação social. Em suas palavras “[...] o planejamento 
pragmático de um discurso ou conversação requer a atualização mental de um 
conceito de ato de fala global. É com respeito a esse macroato de fala que se 
constrói um propósito de interação” (Van Dijk apud Koch, 2002, p. 18). Pode-se 
entender, então, que os objetivos é que vão determinar o “curso” da ação social, 
isto é, da produção textual.
Halliday e Hasan (1989 apud Antunes, 2010, p. 31) asseguram que texto 
é “uma linguagem que é funcional. Por linguagem funcional, queremos referir 
aquela linguagem que cumpre algumafunção em um contexto”.
Beaugrand e Dressler (1981 apud Koch, 2002, p. 19) afirmam que “A 
produção e recepção de textos funcionam como ações discursivas (grifos do 
autor) relevantes para algum plano ou meta”. Os autores também estão inseridos 
nos “quadros de teoria da atividade”. Para eles, é necessário um planejamento 
para que se possa atingir determinado(s) objetivo(s); assim, vão elencar alguns 
elementos essenciais para que o texto se constitua enquanto tal.
Para Ingedore Koch (2002),
um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma 
atividade comunicativa global, diante de uma manifestação linguística, pela 
atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, 
cognitiva, sociocultural e interacional são capazes de construir, para ela, 
determinado sentido (p. 30).
Foram muitos os anos de estudos para se chegar ao conceito que ora 
expomos e com o qual vamos embasar este componente curricular. Por isso, é 
importante entender e lembrar que o texto é organizado a partir de intencio-
EaD
21
Leitura e Produção Textual
nalidades, ou seja, quando alguém produz um texto, seja ele escrito ou falado, 
faz isso porque possui um objetivo (informar, perguntar, relatar, questionar, 
causar o riso ou a indignação, etc.). Existindo intencionalidade(s), o locutor terá 
de organizar suas ideias e demais elementos disponíveis de modo a permitir 
ao outro o entendimento. Assim, um texto não é um “conjunto aleatório de 
palavras ou frases”, é uma organização de conhecimentos que permite ao leitor 
constituir sentido(s).
A fim de melhor entender as questões expostas, vamos ler o texto a 
seguir:
O texto a seguir é uma charge retirada do Jornal Zero Hora de 13 de junho 
de 2012, a qual foi produzida após um fato ocorrido na cidade de Caxias do Sul/
RS, em que uma senhora de 86 anos atira e mata um ladrão que invadiu seu 
apartamento durante a madrugada. Percebe-se claramente a intencionalidade 
do texto: promover humor a partir da situação.
1
O chargista utiliza o recurso da intertextualidade para alcançar seu objeti-
vo: une o fato ocorrido à história da Chapeuzinho Vermelho, colocando a figura 
do lobo – o malvado da história – num processo de retirada às pressas, uma vez 
que esta não é uma vovó indefesa, conforme a visão corrente; ela é “de Caxias”, 
fazendo menção àquela que não ficou passiva enquanto era atacada pelo mal-
feitor na versão da história infantil “Chapeuzinho Vermelho”.
1 Jornal Zero Hora de 13 de junho de 2012.
EaD
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22
seção 2.1 
textualidade e seus elementos
A textualidade, segundo Irandé Antunes (2010, p. 29), pode ser entendida 
“como a característica estrutural das atividades sociocomunicativas (e, portanto, 
também linguísticas) executadas entre os parceiros da comunicação”. Isso permite 
afirmar que, quando alguém produz um texto (oral ou escrito), vai organizá-lo 
em uma estrutura, que se configura em um ou outro gênero textual.
Gêneros textuais, segundo Bakhtin (apud Marcuschi, 2002, p. 29), são 
tipos “relativamente estáveis” de enunciados produzidos nas mais diversas 
esferas das atividades humanas. Eles se configuram como eventos linguísticos 
que se caracterizam como “atividades sociodiscursivas”. Por isso, de acordo com 
as questões histórico-sociais, os gêneros vão se modificando. Na atualidade, 
por exemplo, dificilmente as pessoas se comunicam por meio de cartas; o mais 
comum, existindo condições para isso, é o uso dos e-mails, mais fáceis e rápidos. 
Este gênero, porém, mantém com o outro – a carta – características comuns: a 
presença de interlocutores, um assunto a ser tratado, o desejo da comunicação 
e, provavelmente, a intenção de uma resposta.
Vale repetir: o texto é a expressão de um processo de interação social – há 
a presença de, no mínimo, dois sujeitos, o que fala/escreve e para quem se fala/
escreve –, no qual estão inseridos os sentidos linguísticos, a visão de mundo de 
cada um dos interlocutores e a(s) intencionalidade(s). Sobre isso, Marcuschi (apud 
Antunes, 2010, p. 31) afirmava que “não existe um uso significativo da língua fora 
das inter-relações pessoais e sociais situadas”. Assim, pensar o texto exige inseri-lo 
em contexto(s) de uso da língua, caso contrário não será possível compreendê-
lo, interpretá-lo, pois seu(s) sentido(s) não está(ão) apenas nas palavras, eles são 
constituídos num processo de produção e também da leitura.
Não se pode deixar de anunciar que quando alguém produz um texto – 
indiferente de seu gênero – traz à tona um conjunto de saberes que foi construído 
ao longo de sua trajetória de vida: pelas leituras feitas, pelo contato com outras 
pessoas, pelas vivências experienciadas. Assim, um texto é composto por várias 
vozes, é entrelaçado por ideologias, é dotado de intencionalidade(s). No processo 
de produção, dependendo do público ao qual o texto é dirigido, são selecionadas 
algumas ideias, pois só é dito/escrito aquilo que se acredita ser interessante dizer 
naquele momento, a fim de atingir um objetivo. Bakhtin apud Antunes (2010) já 
afirmava que o dialogismo – processo em que um “eu” e o “outro” sempre estão 
presentes – é uma característica fundamental da linguagem. Ele informara tam-
bém que o “eu” se constitui na contraposição com o “outro”.
Outra questão fundamental quando se fala em texto é o tema. Ninguém 
usa a língua de forma aleatória; há necessidade de tratar de um tema. Como 
afirma Antunes (2010, p. 32), “o texto se constrói a partir de um tema, de um tó-
pico, de uma ideia central, ou de um núcleo semântico, que lhe dá continuidade 
e unidade”. Se isso não for levado em consideração, simplesmente não haverá 
EaD
23
Leitura e Produção Textual
entendimento, não será possível a produção de sentidos, o que conduz à outra 
questão, muito bem posta por Antunes (2010): “o que um conjunto de palavras 
precisa ter para funcionar e ser identificado como um texto?”. 
Para Beaugrande e Dressler apud Antunes (2010), são necessários sete 
elementos: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, 
intertextualidade e situacionalidade. Antunes (2010) propõe uma reordenação 
desses elementos, o que se opta por fazer também aqui. Para a autora, há 
elementos que fazem parte do que ela chama de condições de efetivação do 
texto, isto é, a intencionalidade, a aceitabilidade e a situacionalidade e também 
aqueles que constituem a propriedade do texto, ou seja, a coesão, a coerência, 
a informatividade e a intertextualidade. A seguir, serão descritos cada um dos 
elementos propostos:
a) Intencionalidade – característica de qualquer texto, uma vez que sempre que 
se produz algo, isso é feito com um objetivo, uma intenção. A intencionalidade 
diz respeito ao produtor do texto, mas deve ser “captada” pelo leitor. 
Marcuschi (2008) reflete sobre o fato de que a intencionalidade não se 
constitui uma primazia do autor, pois evidencia o princípio da dialogicidade, 
posto que é necessário o leitor entender/“captar” a intenção do autor. Não é 
raro acontecer de alguém ler um texto em que prevalece a ironia e isso não ser 
entendido, e as ideias postas são lidas em seu sentido literal. Dessa forma, a 
intenção de usar a ironia para fazer uma crítica a alguém ou a algum fato não é 
entendida e o texto não é lido segundo aquilo que o autor pretendia produzir 
em seu interlocutor.
b) Aceitabilidade – relacionada à atitude do interlocutor de receber o texto como 
uma configuração “aceitável, interpretável e significativa”, ou seja, cabe ao leitor 
do texto esforçar-se para processar os sentidos e as intenções ali colocadas.
Vale salientar que tanto Marcuschi (2008) quanto Antunes (2010) levan-
tam a questão de que essesdois elementos não são propriedades intrínsecas 
do texto, uma vez que dependem do autor e do interlocutor. Nas palavras de 
Antunes (2010, p. 34): “Como se vê essas duas propriedades não são propriamente 
do texto. Embora lá se reflitam, refletem para a disponibilidade cooperativa das 
pessoas envolvidas na interação”.
c) Situacionalidade – envolve a situação em que se dá o processo de produção 
textual. As questões históricas, sociais, culturais, econômicas, entre outras, são 
a base que vão permitir que um texto se configure de uma ou de outra forma. 
As atividades sociais norteiam o gênero textual escolhido, a seleção vocabular, 
as relações com outros textos, etc. 
Em um ambiente acadêmico, por exemplo, é muito comum a ocorrência 
de palestras. Estas são organizadas de acordo com o nível de conhecimento do 
seu público; são usadas determinadas estruturas, como é o caso do power point 
ou similar, diversos estudiosos da área são citados, além de promover a interação 
EaD
Jaci Kieslich – Maristela Righi Lang – Rosita da Silva Santos – Taíse Neves Possani
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entre palestrante e público, a fim de discutir o tema ou tirar dúvidas que tenham 
ficado ou surgido. Já dizia Marcuschi (2008, p. 129): “A situacionalidade pode ser 
vista como um critério de adequação textual”. 
A linguagem é usada num processo de interação social. O usuário da língua 
faz uso da mesma a partir de um lugar, com o objetivo de executar um ato de lin-
guagem, independente de qual for: convencer, contar, demonstrar sentimentos, 
opinar, etc. Antunes (2010, p. 35), em relação a isso, afirma: “fazemos, o dia todo 
e todos os dias, inúmeras ações de linguagem, cada uma, parte constitutiva de 
uma situação social qualquer”.
d) Informatividade – diretamente relacionada à quantidade de informações 
presentes no texto que vão torná-lo legível. Para Marcuschi (2008, p. 132), “a 
informatividade diz respeito ao grau de expectativa ou falta de expectativa, 
de conhecimento ou desconhecimento e mesmo de incerteza do texto ofe-
recido”. 
Para que um texto seja compreendido, é necessário que haja um equi-
líbrio entre informações já dadas e informações novas, pois se alguém ler um 
texto em que todas as ideias colocadas sejam previsíveis, conhecidas, não vai 
atender à expectativa. Da mesma forma se o grau de novidade do texto for total. 
É necessário que haja um grau de novidades, de modo que cause certo “estra-
nhamento”, a partir do que seja possível à produção de novos conhecimentos. 
Vale salientar que a quebra da previsibilidade necessária aos textos pode ser 
tanto em relação à forma (modo como se diz alguma coisa) quanto ao conteúdo 
(ideias e conceitos novos).
e) Intertextualidade – relativa à relação existente entre um texto e outro(s). É 
corrente o entendimento de que a intertextualidade é uma característica ine-
rente a todos os textos, uma vez que a produção sempre se dá a partir daquilo 
que já existe. Há textos em que tal característica fica explícita e é facilmente 
reconhecida. Em outros, porém, a intertextualidade não é tão evidente. Assim, 
existem variadas formas de inserir, em um texto, aquilo que faz parte de outro. 
Há a intertextualidade marcada (por aspas, pela citação de nomes, pelo reco-
nhecimento dos textos) e a constitutiva (aquela que vem da memória, mesmo 
que de forma inconsciente).
Antunes assegura que:
todo texto é um intertexto [...] no sentido de que sempre se parte de modelos, 
de conceitos, de crenças, de informações já veiculadas em outras interações 
anteriores. Ou seja, dada a própria natureza do processo comunicativo, todo 
texto contém outros textos prévios, ainda que não se tenha inteira consciência 
disso. Mas há uma intertextualidade explícita, que tem lugar quando citamos 
ou fazemos referência direta ao que está dito em outro texto, por outra pessoa. 
Nesse caso, a intertextualidade assume um aspecto dinâmico, na medida em 
que significa mais do que o simples trânsito do outro texto ou da outra voz. 
Quem recorre à palavra do outro, o faz para apoiar-se nessa palavra, ou para 
reafirmá-la ou para refutá-la. Ou seja, o recurso à palavra do outro responde 
sempre a alguma estratégia argumentativa (2010, p. 36).
EaD
25
Leitura e Produção Textual
Percebe-se, então, que o uso da intertextualidade tem um objetivo, 
normalmente o de enriquecer o texto, estabelecer a relação entre os diferentes 
pontos de vista ou até mesmo evidenciar diferentes formas de dizer algo, etc. A 
seguir, alguns exemplos de intertextualidade:
Texto I – Monte Castelo – Renato Russo
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem. Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
EaD
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O texto – música de Renato Russo – é um caso de intertextualidade explíci-
ta, ou seja, é possível perceber até onde vai o texto bíblico (primeira carta de Paulo 
aos Coríntios) e onde começa o soneto composto por Luiz Vaz de Camões.
2
Não há como não relacionar as imagens mostradas. A primeira, a obra 
Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, dá origem ao quadro de Maurício de Sousa, 
assim como já permitiu inúmeras outras releituras. Mônica é a personagem 
criada por Maurício de Sousa, pintada com a mesma postura, o mesmo cenário 
da obra-prima, mudando as cores, mas sem impedir que o leitor estabeleça a 
relação entre uma obra e outra.
f) Coesão – está relacionada à forma como as ideias são organizadas no texto, 
seja pelos recursos lexicais, seja pelos gramaticais. A coesão está visível na su-
perfície do texto. Sempre que são usadas preposições, conjunções, pronomes 
ou até mesmo sinônimos há a preocupação com o modo como as palavras, as 
orações, os períodos e os parágrafos são organizados de modo a formar uma 
unidade semântica. Nem todos os textos exigem a presença de elementos de 
coesão (como é o caso, principalmente, do poema), mas conhecer os recursos 
linguísticos disponíveis para encadear ideias e evitar repetições é fundamental 
no processo de produção textual.
A coesão pode ser referencial ou sequencial. A primeira é aquela em que 
são usados recursos linguísticos que objetivam evitar a repetição de palavras. 
Já a coesão sequencial é feita por meio de elementos conectivos, como é o caso 
das conjunções, as quais, à medida que vão sendo usadas, vão estabelecendo 
relações semânticas de oposição, tempo, adição, condição, entre outras.
As relações coesivas se dão por:
Referência (pronomes pessoais retos e oblíquos, pronomes demons-•	
trativos).
2 Disponível em: <http://redacaoressucat.files.wordpress.com/2010/02/monicalisa1.jpg>. Acesso em: 3 
dez. 2013.
EaD
27
Leitura e Produção Textual
Substituição (nominal, verbal, frasal).•	
Elipse.•	
Lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, hiponímia, etc.).•	
Conjunção (aditivas, adversativas, temporais, condicionais,causais, •	
consecutivas, etc.).
A coesão não é garantia de um texto bem-elaborado, pois existem outros 
elementos fundamentais para a constituição de bons textos. Conhecer os recursos 
que a língua disponibiliza, porém, auxilia no processo, sem sombra de dúvidas.
g) Coerência – é o elemento que garante a unidade textual. É mais complexo 
tratar da coerência do que da coesão, uma vez que a coerência não está posta 
na superfície do texto. Ela está relacionada ao encadeamento de sentido, à 
lógica e exige conhecimentos além dos linguísticos. Afirma Antunes:
a coerência concerne [...] ao encadeamento de sentido, a convergência con-
ceitual, aquela que confere ao texto interpretabilidade – local e global – e lhe 
dá unidade de sentido que está subjacente à combinação linear e superficial 
dos elementos presentes ou pressupostos (2010, p. 35).
Desconhecer determinado assunto pode resultar em entendimento equi-
vocado, afirmando que o texto está incoerente, ou então na produção de textos 
incoerentes. Por isso, pode-se alegar que a coerência manifesta-se nas relações 
que vão sendo construídas no texto. A coerência é a espinha dorsal, é ela que 
vai garantir a constituição dos sentidos no texto.
síntese da Unidade 2
Nesta Unidade procuramos destacar que é 
impossível nos comunicarmos verbalmente a 
não ser por algum gênero textual. Isso permite 
dizer que cada vez que alguém abre a boca 
para dizer alguma coisa, está produzindo 
texto(s). A estrutura e organização dos tex-
tos, bem como a seleção vocabular, estarão 
diretamente relacionadas à intencionalidade, 
à situação de comunicação e ao conhecimen-
to dos usuários da língua, uma vez que é o 
contexto que determina o seu uso.
29
a leitUra
oBjetivos desta Unidade
Comparar e contrastar ideias presentes nos textos, assim como fazer •	
uso de estratégias de compreensão de leitura: objetivos da leitura, 
ativação de conhecimentos prévios, criação de inferências/deduções, 
retenção de informações. 
Oportunizar a leitura e a interpretação de textos, assim como a •	
produção fluente e eficiente, mediante a prática contextualizada de 
leitura e escrita, observando elementos constitutivos do texto e do 
contexto. 
as seçÕes desta Unidade
Seção 3.1 – Leitura e Inclusão Social 
Seção 3.2 – Objetivos da Leitura 
Seção 3.3 – Como Ler Para Cumprir Tarefa? 
Seção 3.4 – Estratégias Para Compreensão de Textos 
Seção 3.5 – A Leitura do Texto Literário
Seção 3.6 – A Plurissigificação da Linguagem Literária: denotação e conotação
Seção 3.7 – A Literatura e suas Funções
seção 3.1 
leitura e inclusão social
Lemos para dar conta da realidade e de todos os desafios que dela rece-
bemos ou a ela impomos. A cidadania é a referência maior. Saber pensar inclui, 
entre outros ingredientes, saber ler. Uma democracia de qualidade só é possível 
com uma população que sabe pensar (Demo, 2006, p. 7).
Unidade 3
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Segundo Hernández, 
[...] o domínio da leitura e da escrita não é uma questão mecânica, mas concei-
tual, porque o sujeito tem capacidades cognitivas e competência linguística e 
porque a língua escrita é um objeto de conhecimento em si mesma [...] o que 
antes era um processo aprendido por repetição e por imitação mecânica, hoje é 
um processo em que se aprende a partir do estabelecimento de relações entre 
a experiência, o saber e o desejo de conhecer do aprendiz e sua necessidade 
de dar sentido ao que o rodeia e a si mesmo (2001, p. 9).
Ao ler, o leitor ressignifica seu “estar” no mundo: desvenda as formas de 
organização social e desenvolve uma consciência crítica que lhe possibilita fazer 
parte de certas práticas políticas de mobilização e de organização. Autoras como 
Kleiman (1993) e Solé (1998) entendem que a leitura é um processo de interação 
a distância entre o leitor e o autor via texto para satisfazer objetivos definidos. 
Nessa interação, o autor favorece a compreensão por meio de marcas formais 
que atuam como pistas, necessárias para que o leitor recupere a informação do 
autor, ou seja, perceba quais as razões que levaram este a dizer o que disse e do 
modo como disse. Sempre que nos deparamos com um texto, estabelecemos 
com ele algum tipo de diálogo. Antes mesmo de saber seu conteúdo, já temos 
algumas pistas sobre o que encontraremos nele. O gênero textual também é 
denunciado em nosso primeiro contato com ele.
A partir da concepção sociointerativa como prática essencialmente social 
e cultural, o entendimento que hoje orienta os principais estudos da área indica 
que o ato de ler ultrapassa o código da escrita alfabética e a mera capacidade de 
decifração. É um processo complexo de compreensão e de produção de sentidos, 
realizado pelos leitores a partir de um texto criado por outro sujeito. 
Ler diariamente é uma atividade imprescindível para desenvolver o gosto 
pela leitura. Ler para a transformação, para a consciência social, para a mudança 
social. A leitura só despertará interesse quando interagir com o leitor, quando 
fizer sentido e trouxer conceitos que se articulam com as informações do mundo 
lido com o mundo vivido.
Outro aspecto a ser observado na formação do leitor diz respeito à leitura 
de diversos gêneros textuais: contos, notícias, poemas, textos informativos, his-
tórias em quadrinhos, jornais, etc. Assim, o leitor terá acesso aos textos sociais 
que circulam no seu cotidiano, que tratam sobre a realidade social, cultural e 
econômica. Ao entrar em contato com os textos sociais, passamos a ter condi-
ções de ler e compreender, construir criticamente o conhecimento e intervir no 
contexto em que estamos situados. 
seção 3.2 
objetivos da leitura
A perspectiva da formação de leitores inicia pela valorização de livros 
e da cultura escrita, o que requer que se considere três propósitos de leitura 
(Koch; Elias, 2006):
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Leitura e Produção Textual
a) ler para se informar: ler para buscar informações práticas para satisfazer curio-
sidades e para saber sobre o que acontece no mundo;
b) ler por prazer, para distrair-se; 
c) ler para estudar, para construir conhecimentos, para cumprir determinada 
tarefa. 
Assim, pode-se desenvolver e aprender estratégias e procedimentos 
de leitura para que nos tornemos leitores competentes. A autora destaca que 
é possível trabalhá-la a partir de três propósitos. Os objetivos e interesses que 
temos ao ler também determinam a compreensão da leitura.
seção 3.3 
como ler Para cumprir tarefa?
Para Solé (1998), o ensino da leitura deve ocorrer em todas as etapas de 
sua realização, ressaltando-se o ensino de estratégias de leitura para cada uma 
dessas etapas: 
a) Antes – predições iniciais sobre o texto e objetivos de leitura – durante a 
pré-leitura ocorre o estabelecimento de previsões sobre o texto. Para estabe-
lecer previsões, o leitor baseia-se nos aspectos do texto como: superestrutura, 
títulos, ilustrações, cabeçalhos, etc. E atém-se, também, em suas próprias 
experiências e conhecimentos sobre o que estes índices textuais permitem 
antever sobre o conteúdo do texto. 
b) Durante – levantamento de questões e controle da compreensão – Fou-
cambert (1994) analisa que, em relação ao aspecto semântico da leitura, 
podemos refletir de que maneira ela pode informar, acrescentar, provocar, 
inserir ideias na mente do leitor. Ler é explorar a escrita de uma maneira não 
linear... jamais se chega ao significado de um texto pela soma do sentido das 
sucessivas palavras que o compõe. Não lemos de maneira linear, isto é, não nos 
comportamos como um autômato, mas interagimos e criamos interferências 
no processo de leitura, imaginamos, raciocinamos, lembramo-nos de algo, 
envolvemo-nos, comovemo-nos com o que está sendo lido; o ato de ler como 
um exercício deir, avançar e retornar no corpo físico do texto, um exercício 
voluntário e dinâmico, no qual o leitor atribui sentido ao texto.
c) Depois – construção da ideia principal e resumo do texto – esse também 
é um momento de abstração, quando o leitor relaciona a ideia principal e o 
conteúdo do texto lido com o universo extratextual. 
seção 3.4 
estratégias Para compreensão de textos
Para que a leitura realmente seja compreensiva, precisamos levar em 
consideração alguns aspectos importantes: 
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– Ativação de conhecimentos de mundo: previamente à leitura ou durante o 
ato de ler, o leitor está constantemente colocando-se em relação a seu conhe-
cimento amplo de mundo com aquele exigido e utilizado pelo autor no texto. 
Caso esta sincronicidade falhe, haverá uma lacuna de compreensão, que será 
preenchida por outras estratégias, em geral de caráter inferencial. 
– Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades dos textos: o leitor 
não aborda o texto como uma folha em branco. A partir da situação de leitura, 
de suas finalidades, da esfera de comunicação em que ela se dá, do suporte do 
texto (livro, jornal, revista, outdoor etc.), de sua disposição na página, de seu 
título, de fotos, legendas e ilustrações, o leitor levanta hipóteses tanto sobre 
o conteúdo quanto sobre a forma do texto ou da porção seguinte de texto 
que estará lendo. Esta estratégia opera durante toda a leitura e é também 
responsável por uma velocidade maior de processamento do texto, pois o 
leitor não precisará estar preso a cada palavra dele, podendo antecipar muito 
de seu conteúdo. 
– Checagem de hipóteses: ao longo da leitura, no entanto, o leitor estará checan-
do constantemente essas suas hipóteses, isto é, confirmando-as ou refutando-
as e, consequentemente, buscando novas hipóteses mais adequadas. Se assim 
não fosse, o leitor iria por um caminho e o texto por outro. 
– Localização e/ou cópia de informações: em certas práticas de leitura (para 
estudar, para trabalhar, para buscar informações em enciclopédias, obras de 
referência, na internet) o leitor está constantemente buscando e localizando 
informação relevante, para armazená-la – por meio de cópia, recorte-cole, ilumi-
nação ou sublinhado – e, posteriormente, reutilizá-la de maneira reorganizada. 
É uma estratégia básica de muitas práticas de leitura (mas não de outras, como 
a leitura de entretenimento ou de fruição), mas também não opera sozinha, 
sem a contribuição das outras que estamos comentando.
– Comparação de informações: ao longo da leitura o leitor está constantemente 
comparando informações de várias ordens, advindas do texto, de outros textos 
e de seu conhecimento de mundo, de maneira a construir os sentidos do texto 
que está lendo. Para atividades específicas, como as de resumo ou síntese do 
texto, esta comparação é essencial para medir relevância das informações que 
deverão ser retidas. 
– Generalização (conclusões gerais sobre fato, fenômeno, situação, proble-
ma, etc. após análise de informações pertinentes): uma das estratégias que 
mais contribui para a síntese resultante da leitura é a generalização exercida 
sobre enumerações, redundâncias, repetições, exemplos, explicações, etc. 
Ninguém guarda um texto fielmente na memória. Podemos guardar alguns 
de seus trechos ou citações que mais nos impressionaram, mas em geral ar-
mazenamos informações na forma de generalizações responsáveis, em grande 
parte, pela síntese. 
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Leitura e Produção Textual
– Produção de inferências locais: no caso de uma lacuna de compreensão, 
provocada, por exemplo, por um vocábulo ou uma estrutura desconhecidos, 
exerceremos estratégias inferenciais, isto é, descobriremos, pelo contexto ime-
diato do texto (a frase, o período, o parágrafo) e pelo significado anteriormente 
já construído, novo significado para este termo até então desconhecido. 
– Produção de inferências globais: nem tudo está dito ou posto num texto. O 
texto tem seus implícitos ou pressupostos que também têm de ser compreen-
didos numa leitura efetiva. Para fazê-lo, o leitor lança mão, ao mesmo tempo, 
de certas pistas que o autor deixa no texto, do conjunto da significação já 
construída e de seus conhecimentos de mundo, inclusive lógicos. Analisemos, 
por exemplo, o texto a seguir:
1
O texto nos permite afirmar que há o pressuposto de que a unificação 
ortográfica garantiria a unidade linguística. Esse pressuposto é inadequado, uma 
vez que a língua não é constituída apenas por sua ortografia, mas também por 
1 Disponível em: <http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2011/download/comentadas/
portugues.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2013.
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aspectos semânticos, sintáticos, morfológicos, fonológicos e discursivos, que 
implicam a relação histórica do falante com a língua que se territorializa em um 
dado espaço e tempo.
A quebra da expectativa se dá pela dificuldade de compreensão semântica 
de itens lexicais usados no português de Portugal, como “bicha”, “bica” (que, no 
português brasileiro, têm significados diferentes) e “peúgas” (que não é usado 
no português do Brasil); explicita-se, nessa quebra, uma das várias diferenças 
entre o português brasileiro e o europeu. 
– Recuperação do contexto de produção do texto: para interpretar um texto 
discursivamente, é preciso situá-lo: Quem é seu autor? Que posição social 
ele ocupa? Que ideologias assume e coloca em circulação? Em que situação 
escreve? Em que veículo ou instituição? Com que finalidade? Quem ele julga 
que o lerá? Que lugar social e que ideologias ele supõe que este leitor ocupa 
e assume? Como ele valora seus temas? Positivamente? Negativamente? Que 
grau de adesão ele intenta? Sem isso, a compreensão de um texto fica num nível 
de adesão ao conteúdo literal, pouco desejável a uma leitura crítica e cidadã. 
Sem isso, o leitor não dialoga com o texto, mas fica subordinado a ele. 
– Definição de finalidades e metas da atividade de leitura: todo o controle do 
processo de leitura, da ativação de estratégias ou do exercício de capacidades 
está subordinado às metas ou finalidades de leitura impostas pela situação em 
que o leitor se encontra. Ler para estudar, trabalhar, entreter-se, buscar infor-
mação, atualizar-se, orientar-se. Não há leitura, a não ser, por vezes, a leitura 
escolar, que não seja orientada a uma finalidade da vida. 
– Percepção de relações de intertextualidade (no nível temático): ler um texto 
é colocá-lo em relação com outros textos já conhecidos, outros textos que estão 
tramados a este texto, outros textos que poderão dele resultar como réplicas 
ou respostas. Quando esta relação se estabelece pelos temas ou conteúdos 
abordados nos diversos textos, chamamos de intertextualidade.
– Percepção de relações de interdiscursividade (no nível discursivo): perce-
ber um discurso é colocá-lo em relação com outros discursos já conhecidos, 
que estão tramados a este discurso. Quando esta relação se estabelece, então, 
num dado texto, como nas paródias, nas ironias, nas citações, falamos de 
interdiscursividade. 
– Percepção de outras linguagens (imagens, som, imagens em movimento, 
diagramas, gráficos, mapas, etc.) como elementos constitutivos dos sentidos 
dos textos e não somente da linguagem verbal escrita. 
– Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas: ao ler, replicamos ou 
reagimos ao texto constantemente: sentimos prazer, deixamo-nos enlevar 
e apreciamos o belo na forma da linguagem, ou odiamos e achamos feio o 
resultado da construção do autor; gostamos ou não gostamos, pelas mais 
variadasrazões. Isso pode, inclusive, interromper a leitura ou levar a muitos 
outros textos. 
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Leitura e Produção Textual
– Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos: mas 
também discutimos com o texto: discordamos, concordamos, criticamos suas 
posições e ideologias. Avaliamos os valores colocados em circulação pelo texto 
e destes são especialmente importantes para a cidadania os valores éticos e 
políticos. Esta capacidade é que leva a uma réplica crítica a posições assumidas 
pelo autor no texto (Rojo, 2008).
Enfim, para a leitura de um texto é necessário:
perceber a estrutura: partes do texto; relação entre as partes;•	
relacionar informações verbais e não verbais em um texto;•	
perceber a coerência como elemento fundamental para a compre-•	
ensão de um texto;
identificar fatores que levam à coerência intra e extratextual;•	
comparar modos de organização textual;•	
perceber o diálogo que pode ser estabelecido entre os textos•	
depreender o sentido das palavras no texto e no contexto;•	
identificar e analisar informações centrais e periféricas de um texto;•	
estabelecer relação entre a ideia principal/ideias secundárias;•	
perceber e parafrasear ideias explícitas. Explicitar ideias implícitas;•	
perceber a questão do duplo sentido das palavras à luz de elementos •	
linguísticos ou extralinguísticos;
identificar as estratégias de argumentação e contra-argumentação •	
utilizadas em um texto;
identificar e analisar o(s) objetivo(s) de um texto dentro da situação •	
da enunciação (Quem? Diz o quê? Para quem? Para quê? Onde? 
Quando? Como?);
reconhecer e empregar adequadamente, em um texto, os mecanis-•	
mos coesivos de referência por substituição e reiteração. 
Evidenciamos, assim, que o papel do leitor é o de refazer o “caminho”, o 
raciocínio do autor na construção de sentidos, dialogando com o texto. Esse 
diálogo continua durante todo o tempo em que se lê. Esse procedimento auxilia 
a não apenas reproduzir as ideias do texto lido, mas oportuniza ao leitor assumir 
uma atitude de posicionamento diante dos textos.
seção 3.5 
a leitura do texto literário
De acordo com Salvatore D’Onofrio, em sua obra Literatura ocidental: 
autores e obras fundamentais (1990), a literatura é uma forma de conhecimento 
da realidade que se serve da ficção e tem como meio de expressão a linguagem 
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artisticamente elaborada. Se a busca do saber é a característica fundamental do 
ser humano, que o distingue dos outros seres que habitam o universo, é natural 
que qualquer atividade do homo sapiens vise ao conhecimento de uma realidade 
exterior ou interior, material ou espiritual. 
Enquanto o filósofo lança mão do pensamento especulativo e o cientista 
se apoia na observação sobre os fenômenos da natureza, o artista recorre à ima-
ginação e à fantasia para compreender o mundo. De fato, fictício não significa 
falso, mas apenas historicamente inexistente. O que acontece num romance, 
numa tela de cinema ou de televisão, num quadro pictórico, é parte da fantasia 
do autor que, refletindo sobre a realidade existencial, cria um universo imaginário 
no qual os valores ideológicos são questionados. 
A personagem de ficção é muito mais verdadeira do que a pessoa real, 
pois esta é obrigada a ocultar sua verdadeira essência, seus desejos mais re-
cônditos, e a colocar a máscara que o seu status social requer; aquela, por ser 
fruto da imaginação, pode abrir-se para nós em toda a sua autenticidade, não 
constrangida por preceitos morais.
O texto literário, portanto, além de fornecer um prazer estético (o fim 
lúdico), é a fonte mais fascinante de conhecimento do real. Daí a função social 
da literatura que, ao lado da Filosofia, Psicologia, Biologia e de outras Ciências e 
Artes, embora por caminhos diferentes, induz o homem a refletir sobre os pro-
blemas existenciais. É por isso que a atividade literária, oral ou escrita, primitiva 
ou evoluída, é consubstancial à sociedade humana, não existindo povo sem 
literatura. 
No capítulo inicial de seu livro Sobre a literatura (2003), Umberto Eco 
questiona: “Para que serve este bem imaterial que é a literatura?” (p. 10). Talvez 
essa seja a pergunta de muitas pessoas que procuram na literatura alguma ob-
jetividade. Esquecem-se, entretanto, de que nela pouco ou quase nada há de 
objetivo. Respondendo a sua colocação, o autor inicialmente chama a atenção 
para o fato de que “A literatura mantém em exercício, antes de tudo, a língua como 
patrimônio coletivo” (p. 10), criando identidade e comunidade. Afirma ainda que 
“a prática literária mantém também em exercício a nossa língua individual” (p. 11), 
elevando o sujeito a práticas sociais mais puras e livres, menos violentas, sendo 
o livro um dos encontros com “os ecos de um mundo de valores que chega de 
e remete a livros” (p. 12).
A literatura instaura um mundo paralelo que nos possibilita entender as 
relações vividas por nós, e jamais se resume à inventividade, à ficção e à estória. 
Pelo contrário, trata do universo humano em toda a sua complexidade, não 
adentrando no jogo reducionista do falso e verdadeiro. Se podemos contestar a 
Ciência e a História, dificilmente contestaremos o que nos diz um texto literário. 
Isso porque, 
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Leitura e Produção Textual
Os textos literários não somente dizem explicitamente aquilo que nunca 
poderemos colocar em dúvida mas, à diferença do mundo, assinalam com so-
berana autoridade aquilo que neles deve ser assumido como relevante e aquilo 
que não podemos tomar como ponto de partida para interpretações livres (Eco, 
2003, p. 13).
Não podemos ler o que queremos em uma obra, por isso ela nos impulsio-
na para o contato com um legado artístico e cultural e para um vasto patrimônio 
histórico construído pela palavra. A ação do leitor é a de pura e simplesmente 
percorrer os caminhos traçados por meio das obras, os quais são extremamente 
dialógicos e abertos, passíveis da recriação. Diferente do que imaginamos, não 
podemos atribuir a um texto literário toda e qualquer interpretação, assim como 
a leitura não está centrada no gosto do leitor unicamente. Existem sentidos 
construídos, sugeridos pelo texto, e que não podem jamais ser descartados 
pelo bom leitor.
A leitura das obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e de res-
peito na liberdade da interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica de 
nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira, 
nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugerirem. 
Não é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação, 
pois propõem um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante 
das ambiguidades e da linguagem e da vida. Mas para poder seguir nesse 
jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser 
movido por um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei 
de intenção do texto (Eco, 2003, p. 12).
Para Umberto Eco (2003), “o mundo literário é um universo no qual é possí-
vel fazer testes para estabelecer se um leitor tem o sentido de realidade ou é presa 
de suas próprias alucinações” (p. 15). A leitura literária, portanto, nos dá muito 
mais do que imaginamos, principalmente libertação de um mundo pragmático 
que nos sufoca de objetividades. Há na leitura literária uma emancipação do ser 
que o leitor desconhece, mas que realiza, no momento em que percorre a teia de 
sentidos plurais posta tradicionalmente pelo texto literário. Para Eco, diante de 
uma obra literária, “qualquer que seja a história que estamos contando, contam 
também a nossa, e, por isso, nós os lemos e

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