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ARGUMENTO E EXPLICAÇÃO

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Argumentos e explicações 
Douglas Walton 
Tradução de Artur Polónio 
Até aqui, aprendemos neste capítulo a reconhecer muitas 
espécies diferentes de argumentos, e começámos a aprender a 
analisá-los e a avaliá-los. Tendo chegado a este ponto, há uma 
tendência para ver argumentos em toda a parte, e mesmo para 
classificar como argumentos coisas que realmente não são, de 
todo, argumentos, apesar de poderem parecê-lo. Por exemplo, 
por vezes um orador está meramente a relatar um facto ou a 
apresentar uma crença, mas não a argumentar a seu favor. Um 
dos mais comuns tipos de casos em que algo pode ser tomado 
por um argumento quando realmente não o é são as explicações. 
Suponhamos, por exemplo, que Larry e Sandra vêem o seu cão a 
coçar-se. Ele pergunta-lhe: 
— Por que está o teu cão a coçar-se? 
E ela responde: 
— Está a coçar-se porque tem uma pulga. 
Neste caso, Sandra ofereceu a Larry uma explicação. Ambos 
vêem que o cão está a coçar-se, e ela explica por que razão está 
a fazê-lo. O acto de fala de Sandra pretende claramente ser uma 
explicação. Mas, de certo modo, parece poder tratar-se de um 
argumento. Sandra está a dar uma razão pela qual o cão está a 
coçar-se, e usa, inclusivamente, a palavra “porque”, o que pode, 
por vezes, ser um indicador de argumento. Como poderemos, 
nesse caso, identificar as explicações, contrastando-as com os 
argumentos e, consequentemente, evitar confundir os dois? 
Afinal, se algo não é de modo algum um argumento, seria um erro 
grave acusá-lo de ser um mau argumento, pretendendo que falha 
os critérios requeridos por um bom argumento. 
 
Mostrámos anteriormente que o propósito de um argumento é 
oferecer uma razão para sustentar uma crença apresentada por 
uma das partes num diálogo. Essa crença é, por vezes, aquilo de 
que duvida quem responde, no contexto do diálogo. É uma 
proposição que está em debate ou que não foi estabelecida. 
Supostamente, um argumento apresenta uma boa razão para que 
quem responde acabe por aceitar essa proposição como 
verdadeira, removendo assim a dúvida. O propósito de uma 
explicação é ajudar quem interroga, que não compreende algo. 
Assim, o conceito de explicação, tal como o de argumento, 
baseia-se no diálogo, no sentido em que envolve uma troca 
conversacional entre dois participantes. No caso em que quem 
responde oferece uma explicação a quem pergunta, uma certa 
função deve ser cumprida. Para a explicação ser útil, deve 
cumprir uma função de clarificação, o que significa que deve 
ajudar quem pergunta a compreender algo que não compreendia 
antes. Uma explicação útil deve tornar claro o que era duvidoso 
para quem pergunta, exprimindo-o em termos com que este está 
familiarizado ou que já compreende. Num diálogo, um pedido de 
explicação toma a forma de uma pergunta que pede ajuda para 
compreender algo. 
Há diferentes tipos de perguntas que caracteristicamente 
funcionam como pedidos de explicação. Uma é a pergunta 
“Como?” Se, por exemplo, não compreendo como funciona um 
certo computador, posso perguntar a alguém “Como funciona?” e, 
fazendo-o, estaria a pedir uma explicação acerca de como 
funciona. Não estaria a pedir a essa pessoa que provasse que o 
computador funciona, ou que usasse um argumento para me 
mostrar que funciona. Estaria, sim, a pedir ajuda para 
compreender como funciona. Sucede também frequentemente 
que a pergunta “Porquê?” é usada como incitamento a uma 
explicação. Posso, por exemplo, perguntar ao leitor: 
— Por que parece o céu azul, visto da superfície da Terra? 
E pode então o leitor dar-me uma explicação. Pode dizer, por 
exemplo: 
— Os raios da luz do Sol são difundidos por partículas na 
atmosfera de tal maneira que a parte azul do espectro é activado 
quando a luz atinge os nossos olhos, se olharmos para o céu. 
Tal explicação pode ser bastante complexa, e pode envolver um 
considerável número de inferências de umas proposições para 
outras a elas ligadas. 
Assim, as explicações parecem, frequentemente, semelhantes a 
argumentos. Tanto as explicações como os argumentos 
consistem em grupos de afirmações em que algumas delas são 
tomadas como pontos de partida e conduzem a outras, que são 
pontos de chegada. Contudo, quando lidamos com explicações, 
não usamos os termos “premissas” e “conclusões”. Em vez disso, 
há uma proposição que é investigada ou que é suposto ser 
explicada. O propósito de uma explicação não é dar uma razão 
para a outra parte aceitar que essa proposição é verdadeira. O 
propósito de oferecer uma explicação é tomar essa proposição 
que o respondente não compreende e clarificá-la, relacionando-a 
com outras proposições com que ele está familiarizado e pode 
compreender. Assim, as explicações são diferentes dos 
argumentos, porque têm propósitos diferentes num diálogo. O 
objectivo de uma explicação não é convencer ou persuadir uma 
das partes de que uma dada proposição é verdadeira, mas sim 
exprimir a proposição investigada em termos mais familiares, ou 
relacioná-la com outro conjunto de proposições que podem ser 
ligadas de tal modo que possam ser-lhe mais familiares ou 
compreensíveis. 
O diálogo dos convectores 
Fred: Por que razão estão os convectores habitualmente localizados por baixo das 
janelas, quando as janelas são a maior fonte de perda de calor? 
Donna: As janelas são a zona mais fria da sala, e é por isso que os convectores são 
colocados por baixo delas. O ar que entre em contacto com as janelas é arrefecido e 
segue na direcção do chão. Isto cria uma corrente de ar, porque o movimento do ar 
resulta numa corrente de convecção. Se o convector estivesse colocado numa parede 
interna, então a parte mais fria da sala, onde as janelas estão localizadas, permaneceria 
mais fria; e a parte mais quente, em direcção ao interior, permaneceria mais quente. Esta 
localização não seria um arranjo confortável para a utilização da sala. Logo, os 
convectores são normalmente colocados sob as janelas, numa sala. 
Na sua resposta à pergunta de Fred, Donna oferece-lhe uma 
explicação, mostrando-lhe o que resultaria da colocação do 
convector próximo de uma parede interna, e mostrando por que 
seria isso indesejável. Neste caso, Fred fez uma pergunta que 
exprimia a sua perplexidade relativamente ao facto de os 
convectores estarem colocados na área onde existe a maior fonte 
de perda de calor. Esta colocação pareceria esbanjadora e, 
portanto, parece-lhe estranho que, normalmente, os convectores 
estejam colocados por baixo das janelas, numa sala. Se se 
considera a sequência de raciocínio envolvido na pergunta de 
Fred, a conclusão sugerida é que a colocação dos convectores 
não é prática, porque se presume que, normalmente, o nosso 
propósito ao construir uma casa é minimizar a perda de calor 
desnecessária. Logo, colocar o convector sob a janela pareceria 
pouco prático. Donna respondeu citando outro factor importante a 
ser considerado: o conforto dos habitantes da sala. Os 
convectores são normalmente colocados por baixo das janelas, 
explica ela, porque as correntes de convecção criam uma 
corrente de ar, e assim a parte fria sob a janela precisa de ser 
aquecida. Claro que, ao conceber uma sala, queremos evitar 
qualquer situação em que as pessoas que a habitam se 
sentissem desconfortáveis em virtude de uma corrente de ar ou 
de uma severa diferença de temperatura entre duas partes da 
sala. Logo, explica ela, colocar o convector na parede interna não 
seria prático. 
Neste caso, o propósito da resposta de Donna no diálogo não é 
produzir um argumento que daria a Fred uma razão para aceitar 
como verdadeira uma proposição acerca da qual ele exprimiu 
dúvida. Donna não está a procurar, por exemplo, dar a Fred uma 
razão para aceitar a proposição questionável de que os 
convectores estão localizados por baixo das janelas. Ele nem 
duvida desta proposição, nem exprime dúvida acercade qualquer 
outra. Ele está perplexo com o facto de se colocarem os 
convectores por baixo das janelas, segundo a prática normal, 
quando tal parece pouco prático, pela razão que ele citou. Donna 
explicou-lhe por que razão esta é a prática normal, ajudando Fred 
a compreender de que modo as correntes de convecção estão 
envolvidas. Logo, a resposta de Donna à pergunta de Fred é uma 
explicação e não um argumento. 
As explicações das acções humanas são semelhantes às 
explicações dos fenómenos naturais, uma vez que ambas são 
tentativas de ajudar um interrogador a compreender algo. 
O exemplo da condutora 
Uma condutora vê um automóvel vazio sem um pneu estacionado na berma de uma 
estrada. À medida que avança ao longo da estrada, observa um homem fazendo rolar um 
pneu ao longo da berma. Ele transporta um bebé no outro braço, e três crianças 
seguem-no. A condutora explica o que vê inferindo que o pneu que o homem fazia rolar 
tinha sido retirado do automóvel por ele. Inferiu que o homem levava o pneu para ser 
reparado. Inferiu ainda que o homem não quis deixar as crianças sozinhas no automóvel.1 
Tendo observado os vários acontecimentos em sequência, a 
condutora que passava fez inferências que os explicavam. Ela 
tinha de saber bastante acerca de como funcionam os 
automóveis e de que modo podem avariar. A condutora que 
passava supôs que o homem com as crianças também sabia 
dessas coisas. Este tipo de conhecimento de senso comum 
acerca de como normalmente se pode esperar que as coisas 
sejam, num tipo de situação familiar, é frequentemente necessário 
para que um agente seja capaz de explicar as acções de outro 
agente e para que ambos se envolvam num diálogo. É também a 
base de muitos argumentos plausíveis. Mas, neste caso, a 
condutora que passava não está a apresentar um argumento 
quando faz as inferências citadas no exemplo da condutora. Ela 
está a explicar o que vê. O que vê parece, inicialmente, familiar, e 
pede alguma espécie de explicação. Por que caminham o homem 
e as crianças ao longo da berma da estrada? Ela é capaz de 
explicar as acções do homem porque consegue fazer inferências 
plausíveis acerca do que ele procura fazer, nomeadamente tratar 
de reparar o pneu sem abandonar as crianças, baseada no seu 
próprio conhecimento de senso comum acerca de como os pneus 
podem furar e do que normalmente é necessário fazer para os 
reparar. 
A fim de distinguir argumentos de explicações num contexto dado 
é necessário ver não só o contexto do diálogo, mas também a 
linguagem usada no raciocínio, nesse trecho de diálogo. Um 
critério para reconhecer um argumento é a existência, nesse 
trecho de discurso, de indicadores. Como se mostrou na lista de 
indicadores de conclusão no capítulo 1, secção 2, algumas 
palavras, como “logo”, “portanto”, “assim” e “consequentemente”, 
indicam, tipicamente, a conclusão de uma inferência. Como se 
mostrou na lista de indicadores de premissa no capítulo 1, secção 
2, outros tipos de palavras indicam a ou as premissas da 
inferência. Estas incluem palavras como “dado que”, “porque”, 
“uma vez que” e “a razão é que”. Contudo, os indicadores não 
são suficientes, por si só, para determinar se uma sequência de 
raciocínio é ou não um argumento, porque muitos dos mesmos 
indicadores, ou indicadores muito semelhantes, são usados em 
explicações. Assim, para distinguir entre quando uma sequência 
de raciocínio é usada como um argumento ou uma explicação, 
num caso particular, temos de examinar o trecho de discurso, a 
fim de determinar a natureza da pergunta a que o raciocínio é 
usado para responder. Temos de tentar determinar, num dado 
caso, qual o propósito do uso do raciocínio. 
O teste básico para fazer esta distinção, em cada caso, é 
centrarmos a atenção na proposição que está a ser explicada, ou 
a favor da qual se argumenta, isto é, centrarmos a atenção na 
proposição específica que é objecto de explicação ou que é a 
conclusão do argumento. Se se presume que esta proposição é 
aceite como verdadeira por ambas as partes intervenientes num 
diálogo, então o raciocínio está a ser usado como explicação. Se 
a proposição em questão é objecto de disputa, isto é, se uma das 
partes duvida de que seja verdadeira ou pensa, inclusivamente, 
que é falsa, então o raciocínio está a ser usado num argumento. 
[…] 
Assim, e de um modo geral, para determinar, num caso particular, 
se uma sequência de raciocínio está a ser usada como um 
argumento ou como uma explicação, devemos perguntar qual é o 
propósito do discurso que contém o raciocínio. Então, em 
seguida, o melhor teste é focarmo-nos na troca conversacional a 
um nível mais localizado, a fim de determinarmos qual é a 
natureza da pergunta feita e que tipo de resposta lhe foi dada. 
Para determinarmos isto, um teste crucial é focarmo-nos na 
proposição específica que é a conclusão do argumento ou a 
proposição a ser explicada, e perguntarmo-nos se os 
participantes no diálogo parecem presumir que é verdadeira ou 
não. Se presumem que é verdadeira, é uma explicação. Se não, é 
um argumento. Eis o teste. Haverá, contudo, casos em que não 
temos informação suficiente acerca do contexto da conversação, 
ou do trecho do discurso num caso particular, e então podemos 
não ser capazes de dizer se o raciocínio está a ser usado como 
um argumento ou como uma explicação. O melhor que podemos 
fazer, ao avaliar semelhante caso em lógica, é uma avaliação 
condicional. Isto é, podemos dizer que se é um argumento, então 
é um argumento correcto ou incorrecto em certos aspectos. O 
erro que devemos tentar evitar é assumir, de um modo geral, que 
uma vez que um trecho de discurso contém uma inferência ou 
uma sequência de raciocínio, deve automaticamente ser um 
argumento, e prosseguir avaliando-o como um argumento 
correcto ou incorrecto, usando métodos lógicos. O problema, 
aqui, é que tendo os estudantes aprendido a usar a lógica para 
avaliar argumentos, há uma tendência para usar métodos lógicos 
de avaliação onde quer que ocorra um raciocínio, num trecho de 
discurso. Mas isto pode ser um erro, porque se o raciocínio não 
está a ser usado como um argumento, mas sim como uma 
explicação, ou talvez como uma descrição, ou qualquer outro tipo 
de acto de fala, então é inapropriado avaliá-lo como um 
argumento. Em particular, não queremos cometer o erro de 
acusar uma determinada sequência de raciocínio de ser um mau 
argumento, ou um argumento falacioso, quando na realidade nem 
sequer é um argumento. 
Douglas Walton 
Retirado de Fundamentals of Critical Argumentation, de Douglas Walton (Nova Iorque: Cambridge 
University Press, 2006), pp. 75-80). 
Notas 
1. Este exemplo foi retirado de uma obra sobre computação: Sandra 
Carberry, Plan Recognition in Natural Language Dialogue, 
Cambridge, Mass., MIT Press, 1990, 9. 17. 
 
 
DISPONÍVEL EM: http://criticanarede.com/argexpl.html. ACESSO EM: 03/09/2017

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