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R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 1 ICTERÍCIA - É definida como coloração amarelada da pele, escleróticas e do frênulo da língua consequente à deposição de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis ↑ no plasma (hiperbilirrubinemia) - Local mais comum de identificação é a esclerótica Afinidade da bilirrubina com a elastina - É clinicamente detectada quando a [ ] sérica de bilirrubina > 2-3mg/100ml (normal: 0,3-1,0mg/100ml) - Localização da pigmentação Distinção clínica entre outras causas de pigmentação amarelada da pele * Carotenemia: Condição em que o pigmento (betacaroteno) se deposita na pele, particularmente nas palmas das mãos, mas poupa escleróticas e membranas mucosas. - A bilirrubina também pode impregnar a urina, o suor, o sêmen e o leite, além de, em casos de icterícia intensa, o fluido ocular, podendo determinar queixas de xantopsia (objetos são vistos de cor amarela) Metabolismo da Bilirrubina Baço - Principal fonte: Hb proveniente da quebra de eritrócitos maduros (80-85% da produção total) - Lise dos eritrócitos e a degradação da Hb Biliverdina Bilirrubina não conjugada (lipossolúvel) Bilirrubina Não Conjugada ou Indireta - Liga-se reversivelmente à albumina - Tem afinidade pelo tecido nervoso e, quando em ↑ [ ] no sangue em recém-nascidos impregna os gânglios da base causando kernicterus. Fígado: - Responsável por sua captação, conjugação e excreção - Dentro do hepatócito, a bilirrubina se liga a ligandina (proteína citoplasmática) * Essa ligação pode impedir o efluxo dessa substância do hepatócito para o plasma. - No retículo: Bilirrubina não conjugada é convertida pela ação da enzima UDP-glicuronosil- transferase em compostos solúveis em água que são o monoglicuronato (15% do total) e o diglicuronato (85% do total) de bilirrubina Bilirrubina Conjugada ou Direta Bilirrubina Conjugada ou Direta - Excreção para o canalículo biliar Bile - Quando comprometido ↓ da excreção de bilirrubina para a bile Regurgitação da bile para o sangue. - No sangue, a bilirrubina conjugada também se liga à albumina, entretanto, isso se faz tanto de forma reversível como não reversível. * Ligação não reversível Formação de complexos que não são filtrados pelos rins e podem ser detectados na circulação durante várias semanas após a resolução da causa da icterícia - Solúvel em água Penetra mais facilmente em fluidos corpóreos Capaz de provocar graus mais acentuados de icterícia que a bilirrubina não conjugada. - A pele pode tornar-se esverdeada, nos casos de hiperbilirrubinemia conjugada, prolongada, possivelmente pelo ↑ da biliverdina R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 2 Fisiopatologia A. Hiperbilirrubinemia não conjugada A1. Aumento da produção de bilirrubina - Hemólise (esferocitose, anemia falciforme) - Eritropoiese ineficaz Geralmente, acompanham-se de hiperbilirrubinemia leve (até 4mg/100ml) e os níveis de urobilinogênio fecal e urinário podem estar aumentados. A2. Diminuição da captação hepática/ transporte de bilirrubina - Drogas (rifampicina, ácido flavaspídico, probenecide) - Jejum - Sépsis A3. Distúrbio da conjugação da bilirrubina (atividade diminuída da enzima glicuronosil- transferase) a) Deficiência hereditária - Síndrome de Gilbert (leve ↓ da atividade da enzima; níveis séricos de bilirrubina < 6mg/100ml); - Síndrome de Crigler-Najjar tipo II (moderada ↓ da atividade da enzima; níveis séricos de bilirrubina > 6 mg/100ml); - Síndrome de Crigler-Najjar tipo I (ausência da atividade da enzima; níveis séricos de bilirrubina > 20mg/100ml; é fatal). b) Deficiência adquirida - Drogas - Doença hepatocelular - Sépsis OBS: Nos casos de hiperbilirrubinemia não conjugada há icterícia, mas não colúria ou hipocolia/acolia fecal. B. Hiperbilirrubinemia conjugada Colestase B1. Defeitos na excreção da bilirrubina (defeitos intra-hepáticos) a) Doenças hereditárias ou familiares - Síndrome de Dubin-Johnson (bilirrubina sérica: 2-5mg/100ml); - Síndrome de Rotor (bilirrubina sérica: 2-5mg/100ml). R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 3 b) Desordens adquiridas - Lesão hepatocelular (hepatites, cirrose) - Drogas (contraceptivos orais, metiltestosterona); - Sepses B2. Obstrução biliar extra-hepática a) Obstrução mecânica das vias biliares extra-hepáticas, por cálculo, estenoses e tumores (câncer das vias biliares, câncer da cabeça do pâncreas, câncer de papila ou do duodeno, linfomas). OBS: Nos casos de hiperbilirrubinemia conjugada há icterícia e colúria. A hipocolia/acolia fecal pode estar presente ou não. C. Multifatorial (defeito em mais de uma fase do metabolismo da bilirrubina) a) Doença hepatocelular (cirrose, hepatite) - Em geral, as funções de captação, conjugação e excreção estão prejudicadas, sendo que a de excreção é a mais comprometida Predomina a hiperbilirrubinemia conjugada. b) Sepse - Funções de captação, conjugação e de excreção da bilirrubina podem estar comprometidas. c) Icterícia neonatal - Acredita-se que participem fatores como ↓ dos níveis de ligandina hepática, comprometimento da conjugação e da excreção da bilirrubina, ↑ da circulação enterohepática da bilirrubina, além de quebra acelerada de eritrócitos. - Os níveis de bilirrubina no sangue variam entre 6-8mg/100ml, com predomínio da fração não conjugada. Quadro Clínico História Clínica a) Idade: - Auxiliar quanto à etiologia de certas doenças - Hepatite A Crianças e adolescentes - Câncer de vias biliares Idosos. b) Profissão: - Exposição a infecções virais Profissionais da área de saúde - Exposição a tóxicos, álcool, etc. c) Procedência/viagens: - Procedente ou permaneceu em regiões endêmicas de esquistossomose, hepatites e outras doenças que cursam com icterícia. - Deve ser investigado se o paciente esteve em regiões de ocorrência de febre amarela, leptospirose. - Pesquisar contato com excrementos de ratos. d) Raça: - Anemia falciforme Negros. e) Hábitos: - Etiologia mais comum: Alcoólica - Uso de bebida alcoólica (quantidade, tipo de bebida, tempo de uso, história de abuso recente de álcool). - A infecção pelo vírus das hepatites B e C é frequente em usuários de drogas injetáveis f) Antecedentes: - História de transfusões de sangue ou derivados, contato com ictéricos - História familiar de hepatite, icterícia ou anemia, antecedente de operações, particularmente em vias biliares, antecedente de tumores - Tatuagens, tratamento dentário, entre outros. R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 4 g) Uso de medicamentos e exposição a tóxicos: - Uso crônico, uso recente, uso esporádico ou uso atual em todo paciente ictérico. - Uso de chás ou medicamentos feitos a partir de plantas ou ervas pode ser a causa da lesão hepática. - Exposição a diferentes tóxicos (qualquer via, incluindo inalatória) pode provocar doenças hepáticas, que podem ser agudas, fulminantes ou crônicas. h) Pródromos de hepatite: - Queixas de náusea, anorexia e aversão ao cigarro, precedendo o aparecimento de icterícia, sugerem hepatite viral. i) Febre - Baixa, sem calafrios Pode ocorrer na hepatite aguda viral e na hepatite alcoólica; - Com calafrios * Sugere contaminação bacteriana da bile (colangite) e pode acompanhar-se de hepatomegaliadolorosa. * Em cirróticos, sugere bacteremia. * A febre pode fazer parte de um quadro infeccioso de qualquer natureza e a icterícia ter, como causa a sepse j) Manifestações de anemia: - Podem ocorrer nas anemias hemolíticas, na hipertensão portal, na cirrose e em casos de neoplasia. k) Colúria: - É uma indicação da presença de pigmento biliar (bilirrubina conjugada) na urina; - Indica que a doença provoca hiperbilirrubinemia às custas da fração conjugada. l) Acolia/hipocolia fecal: - Indica deficiência de excreção de bilirrubina para o intestino. - Em casos de obstrução completa as fezes tornam-se acólicas. - O urobilinogênio fecal e o urinário não são detectados. - Acolia persistente sugere obstrução biliar extra-hepática. m) Dor abdominal - Cólica biliar: dor em cólica no hipocôndrio direito ou no QSD Sugere cálculo biliar. - Dor ou desconforto no hipocôndrio direito: * Em casos de ↑ rápido do volume do fígado Hepatites agudas, tumores e congestão hepática. * Abscesso hepático Dor no hipocôndrio direito e febre com comprometimento do estado geral. - Dor pancreática Pancreatites e de tumores pancreáticos que obstruem as vias biliares ou pode ser uma complicação da obstrução das vias biliares, extra-hepáticas, por cálculos. n) Prurido Cutâneo: - Colestase intra ou extra-hepáticas. - Pode ser a 1ª manifestação de doença hepática como ocorre na cirrose biliar primária. o) Perda de peso Doenças hepáticas agudas e crônicas particularmente nas fases finais da doença crônica e nos casos de malignidade p) Dispepsia prévia, intolerância a alimentos gordurosos ou cólica biliar - Coledocolitíase q) Tríade de Charcot (Febre, calafrios e cólica biliar) - +/- hipotensão e alteração do nível de consciência (Pentade de Reynolds) Colangite por litíase ou Estenose Biliar Exame Físico Tipo de icterícia - Rubínica (alaranjada) Leptospirose (Disfunção hepatocelular + vasodilatação cutânea) R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 5 Exame Geral - Anemia Hemólise, Câncer, Cirrose - Entumescimento de parótidas, contratura palma de Dupuytren, sinais de pelagra Álcool Exame do Estado Mental - Inversão do ciclo sono-vigília - Desorientação temporoespacial + hálito hepático + flapping Encefalopatia hepática - Questionário CAGE Álcool Alterações Cutâneas - Equimoses Disturbio de coagulação por déficit de síntese hepática - Petéquias Trombocitopenia Cirrose, Hipertensão Portal - Telangectasias, eritema palmar, linhas brancas transversais nas unhas (sinal de Muercke – Hipoalbuminemia), ↓ pilificação secundária Cirrose - Xantomas e xantelasmas Colestases crônicas Exame do Abdome a) Vesícula biliar palpável indolor ou visível (Sinal de Courvosier Terrier) Neoplasia periampolar; * Obstrução biliar extra-hepática * Pode ser observada em casos de coledocolitíase. b) Manifestações de hipertensão portal - Circulação colateral portossistêmica, esplenomegalia e ascite. - Deve ser feito diagnóstico diferencial entre as causas de hipertensão portal que se acompanham de icterícia. c) Manifestações de insuficiência hepática: - Aranhas vasculares, eritema palmar, diminuição dos pelos, atrofia testicular, ginecomastia, distúrbios da coagulação (sangramentos), hálito hepático, encefalopatia hepática. - A icterícia faz parte do quadro de insuficiência hepática. d) Exame do fígado: - Hepatomegalia dolorosa Hepatites agudas, colangites, tumores, congestão hepática, abscesso hepático; - Fígado nodular Tumores e cirrose; - Fígado diminuído de tamanho Hepatite grave e cirrose * Exclui colestase extra-hepática e) Esplenomegalia: - Pode ser manifestação da síndrome de hipertensão portal, fazer parte do quadro de hemólise e acompanhar infecções. f) Sinal de Murphy - Colecistite aguda Toque Retal - Tumor de reto Exames R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 6 Amônia sérica (11-32mmol/L) - ↑ na insuf. hepática - Mede a função detoxificadora do fígado Hemograma - Leucocitose com neutrofilia Hepatite alcoólica e fulminante - Desvio a esquerda + quadro clínico Colangite aguda bacteriana ou leptospirose Bilirrubinas Hepatograma - ↑ Fosfatase e gama-GT Colestase - ↑Fosfatase pode ser decorrente de distúrbios ósseos e na gestação - ↑ gama-GT pode ser exacerbada por medicamentos indutores ou pelo ácool - AST ↑ mais que ALT (relação 2:1) Hepatite alcoólica - Níveis de TGP (ALT) e TGO (AST) de cerca de 300 UI/L podem ocorrer em qualquer tipo de doença do fígado. - Elevações marcantes (transaminases > 1.000 Ul/L) sugerem extensa lesão hepatocelular aguda, como: 1. Hepatites virais. 2. Lesão isquêmica do fígado como consequência de hipotensão prolongada ou insuf. cardíaca aguda ou exacerbada. 3. Lesão hepática induzida por drogas ou toxinas. - O padrão da elevação das aminotransferases pode ser útil do ponto de vista diagnóstico: • TGP > TGO Maioria das desordens hepatocelulares agudas. • TGO > TGP Hepatite virai crônica e doença hepática gordurosa não alcoólica. USG de Abdome - Cálculos pequenos e dilatação do colédoco - 1º passo Colestase - Parênquima heterogêneo, nódulos Hepatopatia crônica - Dilatação das vias biliares Obstrução TC de Abdome - Casos em que a USG foi inconclusiva Colangiografia por Ressonância Magnética - Detecção de pequenos cálculos e estenoses no colédoco terminal USG Endoscópica (Ecoendoscopia) - Detecção de coledocolitíase e neplpasias periampulares Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica (CPRE) - Visualização direta da árvore biliar e dos ductos pancreáticos - Detecção de obstruções extra-hepáticas R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 7 - Procedimento de escolha na suspeita de coledocolitíase - Permite intervenção terapêutica Extração de cálculos ou papilotomia Colangiografia Percutânea Trans-hepática (CPTH) - Útil quando o nível de obstrução é proximal ao ducto hepático comum Biópsia Hepática - Casos de icterícia aguda que há dificuldade diagnóstica por métodos não invasivos - Suspeita de causa intra-hepática - Diagnóstico preciso em casos de Hepatite Alcoólica, Amiloidose e Cirrose Biliar Primária Complicações R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 8 Abordagem Inicial/Tratamento HEPATITES VIRAIS As hepatites virais são causadas por 5 vírus: o vírus da hepatite A (HAV), da hepatite B (HBV), da hepatite C (HCV), da hepatite D (HDV) e da hepatite E (HEV - A doença tem um amplo espectro clínico, que varia desde formas assintomáticas, anictéricas e ictéricas típicas, até a insuficiência hepática aguda grave (fulminante). - A maioria das hepatites virais agudas é assintomática, independentemente do tipo de vírus. - Quando apresentam sintomatologia, são caracterizadas por: * Fadiga, mal-estar, náuseas, dor abdominal, anorexia e icterícia - A hepatite crônica, em geral, cursa de forma assintomática. * Manifestações clínicas aparecem quando a doença está em estágio avançado, com relato de fadiga, ou, ainda, cirrose Notificação - As hepatites virais são doenças de notificação compulsória regular (em até 7 dias). - Todos os casos confirmados e surtos devem ser notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação(Sinan), utilizando-se a Ficha de Investigação das Hepatites Virais R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 9 Tipos Hepatite A - Epidemiologia: 5-12 anos - Transmissão fecal-oral: TGI Fígado (hepatócitos) Bile Fezes - Lesão hepática ocorre em função da resposta imune, mediada por TCD8+ - 5 formas de apresentação Hepatite B - Epidemiologia: 20-69 anos - Transmissão sexual, vertical, percutânea, hemotransfusão, transplantes - Lesão hepática ocorre em função da resposta imune, mediada por TCD8+ - 70% dos pacientes não desenvolvem a fase ictérica - Formas evolutivas * Assintomáticas: Alteração apenas das transaminases e marcadores pra Hepatite B * Anictérica: ≈ quaro gripal + alteração de exames laboratoriais * Ictérica: Clássica * Recorrente: Alteração de transaminases em pacientes que já haviam melhorado * Colestática: Quadro ≈ icterícias colestaticas (padrão clinico e laboratorial) - Hepatite Fulminante Encefalopatia hepática (insuf. hepática) num período de 8 semanas a partir do inicio do quadro clinico * 1% dos casos * Inicio de evolução ruim: ↑Sintomas gastrointestinais, febre persistente, ↓volume hepático à palpação * Sintomas de insuf. hepática Flapping, distúrbios hidroeletrolíticos, alteração da consciência * ↓transaminases, leucocitose e neutrofilia com desvio a esquerda Manifestações Extra-hepáticas - 10-20% dos casos, principalmente os portadores da forma crônica - Mononeurite, mielite - Sindrome de Guillain-Barré - Púrpura de Henoch-Schönlein (em crianças) - Pericardite ou pleurite - Glomerulonefrite Hepatite C - Epidemiologia: Região Norte > taxa de prevalência - Sintomas surgem após 6-12 semanas após exposição - < 20% dos infectados se tornam sintomáticos na fase aguda - Probabilidade de ser portador crônico é de 80% Hepatite D - Necessita da função do HBV pra sua sobrevivência e disseminação R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 10 - Coinfecção infecção simultânea de HBV e HDV * ↑ frequência de hepatite fulminante de < 1% pra 5% - Superinfecção Infecção crônica por HBV + infecção aguda pelo HDV * Cursa com hepatite fulminante em 20% dos casos * Pior prognóstico ↑ evolução pra cirrose Hepatite E Transmissão 2 grupos Grupo de transmissão fecal-oral (HAV e HEV) - Ligado a condições de saneamento básico, higiene pessoal, qualidade da água e dos alimentos. - A transmissão percutânea (inoculação acidental) ou parenteral (transfusão) dos vírus A e E é muito rara, devido ao curto período de viremia dos mesmos Grupo (HBV, HCV, e HDV) de diversos mecanismos de transmissão - Parenteral, sexual (mais comum para o HBV que para o HCV). - Percutânea: Compartilhamento de objetos contaminados (agulhas, seringas, lâminas de barbear, escovas de dente, alicates de manicure), utensílios para colocação de piercing e confecção de tatuagens e outros instrumentos usados para uso de drogas injetáveis e inaláveis. - Risco de transmissão através de acidentes perfuro-cortantes, procedimentos cirúrgicos e odontológicos e hemodiálises sem as adequadas normas de biossegurança. - Na hepatite C poderá ocorrer a transmissão principalmente em pessoa com múltiplos parceiros, coinfectada com o HIV, com alguma lesão genital (DST), alta carga viral do HCV e doença hepática avançada. - Os vírus das hepatites B, C e D possuem também a via de transmissão vertical (da mãe para o bebê) * Geralmente, a transmissão ocorre no momento do parto, sendo a via transplacentária incomum R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 11 Manifestações clínicas - Após entrar em contato com o vírus da hepatite o indivíduo pode desenvolver um quadro de hepatite aguda, podendo apresentar formas clínicas oligo/assintomática ou sintomática. Oligossintomática: Manifestações estão ausentes ou são bastante leves e atípicas, simulando um quadro gripal. Sintomática: Apresentação típica, com os sinais e sintomas característicos da hepatite como febre, icterícia e colúria. - A fase aguda (hepatite aguda) tem seus aspectos clínicos e virológicos limitados aos primeiros 6 meses da infecção - Persistência do vírus > 6 meses Cronificação da infecção. - Apenas os vírus B, C e D têm potencial para desenvolver formas crônicas de hepatite Taxa de cronificação - HBV: 5-10% dos casos em adultos. Chega a 90% para < 1 ano e 20-50% para crianças de 1-5 anos. - Pessoas com qualquer tipo de imunodeficiência também têm ↑ chance de cronificação após uma infecção pelo HBV. - Para o vírus C, varia entre 60-90% e é maior em função de alguns fatores do hospedeiro (sexo masculino, imunodeficiências, mais de 40 anos). - Vírus D varia em função de aspectos ligados ao tipo de infecção (co-infecção/ superinfecção) e de taxa de cronificação do HBV. Fase Aguda - A maioria dos casos de hepatite aguda sintomática deve-se aos vírus A e B (na região Norte a co-infecção HBV/HDV também é importante causa de hepatite aguda sintomática). - O vírus C costuma apresentar uma fase aguda oligo/assintomática, responde por apenas pequena parte das hepatites agudas sintomáticas. Período prodrômico ou pré-ictérico - Período após a fase de incubação do agente etiológico e anterior ao aparecimento da icterícia. - Os sintomas são inespecíficos: * Anorexia, náuseas, vômitos, diarréia (ou raramente constipação), febre baixa, cefaléia, mal-estar, astenia e fadiga, aversão ao paladar e/ou olfato, mialgia, fotofobia, desconforto no hipocôndrio direito, urticária, artralgia ou artrite e exantema papular ou maculopapular. Fase ictérica - Com o aparecimento da icterícia, há ↓dos sintomas prodrômicos. R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 12 - Existe hepatomegalia dolorosa, com ocasional esplenomegalia. - Ocorre hiperbilirrubinemia intensa e progressiva, com ↑ da dosagem de bilirrubinas totais, principalmente à custa da fração direta. - A fosfatase alcalina e a gama-glutamil-transferase (GGT) permanecem normais ou discretamente elevadas. - Há alteração das aminotransferases, podendo variar de 10-100x o limite superior da normalidade. * Este nível retorna ao normal no prazo de algumas semanas * Se persistirem alterados por um período > 6 meses, considerar a possibilidade de cronificação da infecção. Fase de convalescença - Período que se segue ao desaparecimento da icterícia, quando retorna progressivamente a sensação de bem-estar. - A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses. Fase Crônica - Quando o agente etiológico permanece no hospedeiro > 6 meses do início da infecção. - Os vírus A e E não cronificam, embora o HAV possa produzir casos que se arrastam por vários meses. - Os vírus B, C e D são aqueles que têm a possibilidade de cronificar. Portador assintomático - Indivíduos com infecção crônica que não apresentam manifestações clínicas, que têm ↓ replicação viral ou ausente e que não apresentam evidências de alterações graves à histologia hepática. - Evolução tende a ser benigna, sem maiores consequências para a saúde. - Capazes de transmitir hepatite e têm importância epidemiológica na perpetuação da endemia. Hepatite crônica - Indivíduos com infecção crônica que apresentam sinais histológicos de atividade da doença (inflamação, comou sem deposição de fibrose) e que do ponto de vista virológico caracterizam-se pela presença de marcadores de replicação viral. - Podem ou não apresentar sintomas na dependência do grau de dano hepático (deposição de fibrose) já estabelecido. - Apresentam maior propensão para uma evolução desfavorável, com desenvolvimento de cirrose e suas complicações. - Geralmente, só é diagnosticada quando a pessoa já apresenta sinais e sintomas de doença hepática avançada (cirrose e/ou hepatocarcinoma). Hepatite fulminante - Insuficiência hepática no curso de uma hepatite aguda. - É caracterizada por comprometimento agudo da função hepatocelular, manifestado por ↓ dos fatores da coagulação e presença de encefalopatia hepática no período de até 8 semanas após o início da icterícia. - ↑ mortalidade (40-80% dos casos). - A etiologia varia conforme as regiões geográficas. * Nos países mediterrâneos, 45% dos casos é de origem indeterminada e a hepatite A e B representam 15% e 10% dos casos. * A co-infecção HBV/HDV pode ser uma causa em regiões endêmicas para os dois vírus - Hepatite aguda C aparentemente não está associada a casos de hepatite fulminante. R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 13 Diagnóstico laboratorial Hemograma - Leucopenia (↓neutrófilos e linfócitos), evoluindo pra Linfocitose - A presença de leucocitose sugere intensa necrose hepatocelular ou a associação com outras patologias. - Não ocorrem alterações significativas na série vermelha. - A plaquetopenia pode ocorrer na infecção crônica pelo HCV. - Hepatite viral aguda: - Hepatite alcoólica aguda e leptospirose Leucocitose - Hepatite fulminante Neutrofilia (raro) Aminotransferases (transaminases –TGO e TGP) - Marcadores de agressão hepatocelular. - Nas formas agudas, chegam a atingir valores até 25-100x acima do normal, embora alguns pacientes apresentem níveis bem mais baixos, principalmente na hepatite C. - Começam a ↑ 1 semana antes do início da icterícia e normalizam-se em cerca de 3-6 semanas de curso clínico da doença. - Nas formas crônicas, na maioria das vezes não ultrapassam 15x o valor normal - Em indivíduos assintomáticos, é o único exame laboratorial sugestivo de doença hepática. Bilirrubinas - Elevam-se após o ↑ das transaminases - Nas formas agudas, podem alcançar valores 20-25x acima do normal. - ↑ da bilirrubina indireta e da direta, com predomínio de direta * Injúria hepática compromete mais o mecanismo de excreção que de captação/conjugação, devido à excreção ser ↑ dependente de ATP - Na urina pode ser detectada precocemente, antes mesmo do surgimento da icterícia. Proteínas séricas - Normalmente, não se alteram nas formas agudas. - Nas hepatites crônicas e cirrose, a albumina apresenta ↓ acentuada e progressiva. Fosfatase alcalina - Pouco se altera nas hepatites por vírus, exceto nas formas colestáticas, quando se apresenta em níveis elevados. - Devido à presença normalmente ↑ da fração osteoblástica dessa enzima durante o período de crescimento, esse aspecto deve ser considerado no acompanhamento de crianças e adolescentes. Gama-glutamiltransferase (GGT) - Enzima mais relacionada aos fenômenos colestáticos, sejam intra e/ou extra-hepáticos. - ↑ discreta nas hepatites virais, exceto nas formas colestáticas. Atividade de protrombina - Nas formas agudas benignas, sofre pouca alteração, exceto nos quadros de hepatite fulminante. - Nos casos de hepatite crônica, o alargamento do tempo de protrombina indica a deterioração da função hepática e em associação com alguns outros fatores clínicos e laboratoriais (encefalopatia, ascite, aumento de bilirrubina, queda da albumina) compõe a classificação de Child (um importante e prático meio de avaliar o grau de deterioração da função hepática, além de um marcador prognóstico). R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 14 Provas específicas Marcadores sorológicos - Em caso de hepatite aguda deve-se avaliar a faixa etária do paciente, a história pregressa de hepatites virais ou icterícia e a presença de fatores de risco, como o uso de drogas injetáveis, prática sexual não segura, contato com pacientes portadores de hepatite. - Recomenda-se em caso de suspeita de hepatite aguda a pesquisa inicial dos marcadores sorológicos: anti-HAV IgM, HBsAg , anti-HBc (total) e anti-HCV* (caso haja justificativa com base na história clínica). - A necessidade da pesquisa de marcadores adicionais poderia ser orientada pelos resultados iniciais. 1. Hepatite A Anti-HAV IgM - Presença deste marcador é compatível com infecção recente pelo HAV, confirmando o diagnóstico de hepatite aguda A. - Este marcador surge precocemente na fase aguda e começa a ↓ após a 2ª semana e desaparece após 3 meses. Anti-HAV IgG - Não permite identificar se a infecção é aguda ou trata-se de infecção pregressa. - Este marcador está presente na fase de convalescença e persiste indefinidamente. - É um importante marcador epidemiológico por demonstrar a circulação do vírus em determinada população. 2. Hepatite B - Marcadores de triagem: HBsAg e anti-HBc. HBsAg (antígeno de superfície do HBV) - É o 1º marcador a surgir após a infecção pelo HBV, em torno de 30 a 45 dias, podendo permanecer detectável por até 120 dias. - Está presente nas infecções agudas e crônicas. Anti-HBc (anticorpos IgG contra o antígeno do núcleo do HBV) - Marcador que indica contato prévio com o vírus. - Permanece detectável por toda a vida nos indivíduos que tiveram a infecção (mesmo naqueles que não cronificaram, ou seja, eliminaram o vírus). - Representa importante marcador para estudos epidemiológicos. R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 15 Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno do núcleo do HBV) - Marcador de infecção recente, portanto confirma o diagnóstico de hepatite B aguda. - Pode persistir por até 6 meses após o início da infecção. Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície do HBV) - Indica imunidade contra o HBV. - É detectado geralmente entre 1 a 10 semanas após o desaparecimento do HBsAg e indica bom prognóstico. - É encontrado isoladamente em pacientes vacinados. HBeAg (antígeno “e” do HBV) - Indicativo de replicação viral e, portanto, de ↑ infectividade. - Presente na fase aguda, surge após o aparecimento do HBsAg e pode permanecer por até 10 semanas. - Na hepatite crônica pelo HBV, a presença do HBeAg indica replicação viral e atividade da doença (> probabilidade de evolução para cirrose). Anti-HBe (anticorpo contra o antígeno “e” do HBV) - Marcador de bom prognóstico na hepatite aguda pelo HBV. - A soroconversão HBeAg para anti-HBe indica alta probabilidade de resolução da infecção nos casos agudos (não irá cronificar) - Na hepatite crônica pelo HBV a presença do anti-HBe indica ausência de replicação do vírus, ou seja, < atividade da doença e < chance de desenvolvimento de cirrose OBS: Nos casos de hepatite B (forma aguda, crônica ou fulminante) procedente de áreas conhecidas com circulação do HDV (região amazônica) Investigar hepatite D R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 16 3. Hepatite C Anti-HCV (anticorpos contra o vírus HCV) - Marcador de triagem para a hepatite C. - Indica contato prévio como vírus, mas não define se a infecção é aguda, crônica ou se já foi curada. - O diagnóstico de infecção aguda só pode ser feito com a viragem sorológica documentada Paciente inicialmente anti-HCV (-) que converte, tornando-se anti-HCV + e HCV-RNA +, detectado por técnica de biologia molecular. - A infecção crônica deve ser confirmada pela pesquisa de HCV-RNA. HCV-RNA (RNA do HCV) - 1º marcador a aparecer entre 1-2 semanas após a infecção. - Utilizado para confirmar a infecção em casos crônicos, monitorar a resposta ao tratamento e confirmar resultados sorológicos indeterminados, em especial em pacientes imunossuprimidos. 4. Hepatite D - O marcador sorológico mais usado é o anti-HDV (total). - O vírus Delta é um vírus defectivo (incompleto) que não consegue, por si só, reproduzir seu próprio antígeno de superfície (ação patogênica e replicação nas células hepáticas). - Necessita da presença do vírus B, havendo 2 possibilidades para a ocorrência da infecção pelo HDV: • Superinfecção: Infecção pelo vírus delta em um portador crônico do HBV; • Co-infecção: Infecção simultânea pelo HBV e Delta em indivíduo susceptível 5. Hepatite E - A hepatite aguda E é sorologicamente caracterizada por eventual conversão sorológica para anti-HEV ou detecção de anti-HEV IgM. Indicação de provas diagnósticas para indivíduos sem sintomatologia - Monitoramento de pacientes hemofílicos e demais usuários crônicos de hemoderivados; - Exames de profissionais vítimas de acidente com material biológico; - Exames pré-natais (hepatite B); - Exame de população exposta e de contatos de casos - Exames de doadores e receptores de órgãos. R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 17 Tratamento Hepatite A - Apenas sintomático (Ex: antitérmico, antiemético) - Repouso relativo - ↑ ingesta calórica - Evitar drogas hepatotóxicas (Ex: Paracetamol) Não ingerir álcool por pelo menos 6 semanas - Administração parenteral de Vitamina K por 1-3 dias em casos de ↓ da atividade de protrombina - Pacientes com hepatite fulminante devem ser encaminhados para centros com capacidade de realização de transplante hepático Hepatite B - Apenas sintomático (≈ HVA) - Antivirais específicos em formas crônicas - Pacientes com sinais de Hepatite B Fulminante: Lamivudina (duração não bem definida) Hepatite C - Drogas antivirais pra prevenir a evolução pra forma crônica - Critérios para o inicio do tratamento: 1. Se o paciente estiver sintomático (ictérico) Não iniciar tratamento de imediato Dosar HCV-RNA 12 semanas após inicio do quadro Se não houver clareamento espontâneo, ou seja, se HCV-RNA permanece detectável Iniciar terapia antiviral especifica 2. Se o paciente estiver assintomático Iniciar tratamento imediatamente Esquemas 1. IFN em monoterapia, via subcutânea, dose diária nas primeiras 4 semanas (6MUI se IFNa 2a ou 5 MUI se IFNa 2b) seguido de dose 3x/semana nas próximas 20 semanas Total: 24 semanas 2. IFN convencional (imunomodulador) + Ribavirina (antiviral - IFN, via subcutânea, 3x/semana (3 MUI) - Ribavirina 15mg/kg/dia, VO, de 12/12h Hepatite D - Tratar a HBV Hepatite E - ↓ na intensidade da imunossupressão farmacológica em receptores de transplante de órgão sólido - Uso de Ribavirina isolada 600-800mg/dia por 12 semanas (útil nos casos de hepatite fulminante) - Combinação de Ribavirina + PEG-interferon Crônica - É necessária a realização de biópsia hepática para avaliar a indicação de tratamento específico. - Biópsia por agulha Permite a retirada de fragmentos de áreas distantes da cápsula de Glisson (as áreas subcapsulares mostram muitas alterações inespecíficas) * Avalia o grau de atividade necro-inflamatória e de fibrose do tecido hepático Critérios para realização da biópsia hepática para indicação terapêutica: • Doença hepática compensada; • Contagem de plaquetas > 60.000/mm3 ; R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 18 • Atividade de protrombina > 50%; • Ausência de contraindicações às drogas usadas para tratamento. Indicações de tratamento da Hepatite B crônica: • HBsAg (+) por mais de seis meses; • HBeAg (+) ou HBV-DNA > 30 mil cópias/ml (fase de replicação); • ALT/TGP > duas vezes o limite superior da normalidade; • Biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrose moderada a intensa (> F1), segundo critério da Sociedade Brasileira de Patologia/Metavir. • ausência de contra-indicação ao tratamento. Indicações de tratamento da Hepatite C crônica: • Anti-HCV (+) e HCV-RNA (+); • ALT/ TGP > 1,5 vez o limite superior da normalidade; • Biópsia hepática com atividade inflamatória moderada a intensa (> A2) e/ou fibrose moderada a intensa (> F1), segundo critério da Sociedade Brasileira de Patologia/ Metavir; • Ausência de contra-indicação ao tratamento. - Após a indicação do tratamento Exame de genotipagem Definir o tipo de tratamento (interferon convencional ou peguilado) e duração (6 ou 12 meses). HEPATOPATIA CRÔNICA As causas mais comuns de doença hepática crônica na ordem geral de frequência são: - Hepatite C crônica - Doença hepática alcoólica - Esteato-hepatite não alcoólica - Hepatite B crônica - Doença auto-imune - Colangite esclerosante - Cirrose biliar primária - Hemocromatose - Doença de Wilson Hepatite Crônica - Inflamação hepática, confirmada por biópsia, a qual persiste por mais de 6 meses Cirrose - Caracterizada pela substituição difusa da estrutura hepática normal por nódulos de estrutura anormal circundados por fibrose, constituindo o estágio final comum de uma série de doenças hepáticas - Principal causa de hipertensão portal - Causas: Álcool e drogas, hepatites crônicas virais e autoimunes, além das de ordem metabólica, vascular ou biliar, cirrose criptogênica (idiopática) - Hepatite C crônica e doença hepática alcoólica: 80% dos casos R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 19 Fisiopatologia - Atividade necro-inflamatória crônica no parênquima Citocinas inflamatórias (Céls. de Kupffer) Estimula as Céls Estreladas no espaço de Disse ↑ síntese de colágeno tipo I e III Deposição de colágeno no espaço de Disse Capilarização dos sinusoides Altera a captação hepática, diminui o calibre ↑ resistência vascular intra-hepática Shunt Intra-hepático e Hipertensão Porta - Fígado possui capacidade de regeneração Nódulos de Regeneração Manifestações Clínicas - Fígado: Tendência a ↓ e atrofia como um todo - Patognomônico de cirrose: ↓ lobo direito (< 7cm) e ↑ lobo esquerdo, palpável abaixo do gradil costal, de superfície nodular e consistência endurecida - Etiologia alcoólica: * Intumescimento de parótidas * Contratura palmar de Dupuytren * Neuropatia * Pancreatite crônica associada Sinais do Complexo Hiperestrogenismo-Hipoandrogenismo (Fases iniciais) - Eritema palmar - Telangectasias - Ginecomastia - Atrofia testicular - Perda da libido, disfunção erétil - Rarefação de pelos (homens assumem um padrão feminino) Sinais de Hipertensão Portal - Ascite - Varizes de esôfago e fundo gástrico Sangramento digestivo - Esplenomegalia congestiva Hiperesplenismo Pancitopenia - Circulação porta visível no abdome (cabeça de medusa) Ouve-se um murmúrio à ausculta (sinal de Curveilhier-Baumgarten), consequenteao fluxo ↑ e turbilhonamento de sangue - Síndrome de hipertensão portopulmonar *Achados sugestivos de hipertensão pulmonar e de insuf. ventricular D: Hiperfonese de B2, sopro em foco tricúspide e, em estágios avançados, turgência jugular, ascite e anasarca * Taquipnéia e dispneia de esforço Vasodilatação funcional da circulação pulmonar por resposta defeituosa à hipóxia - Manifestações sistêmicas: Circulação hipercinética, como taquicardia de repouso, íctus impulsivo e ↓ PA - Baqueteamento digital: Manifestação de hipoxemia arterial consequente à extração prejudicada do oxigênio na periferia, à presença de comunicações arteriovenosas, além de ↓ da afinidade da Hb pelo oxigênio. Principais Causas: R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 20 Sinais de Insuficiência Hepatocelular Descompensada (Estágio muito avançado) - Icterícia - Encefalopatia hepática - Coagulopatia - Hipoalbuminemia Anasarca - Desnutrição - Imunodepressão - Síndromes hepatorrenal e hepatopulmonar Diagnóstico - Podem se apresentar como: * Hemorragia digestiva alta/baixa * Ascite * Hepatomegalia e/ou esplenomegalia * Sinais de insuficiência hepatocelular crônica (encefalopatia, telangectasias, icterícia, prurido, ginecomastia, equimoses, atrofia testicular, rarefação de pelos, edema, eritema palmar, etc) * Assintomático Diagnóstico acidental (alteração laboratorial e radiológica) - Sinais de encefalopatia hepática - Sinais e sintomas sugestivos de Carcinoma Hepatocelular Exames Laboratoriais Transaminases: - Normais: Cirrose inativa (s/atividade inflamatória) - Relação TGP/TGO > 1: Hepatopatia sem cirrose - Relação TGP/TGO < 1: Cirrose instalada e hepatopatia alcoólica mesmo nas fases pré-cirróticas Fosfatase alcalina e gama-GT: - ↑: Cirrose biliar primária e colangite esclerosante Bilirubinas - Fator de mau prognóstico - Às custas de BD - BTotal > 10 mg/dL Necessidade de transplante ortotópico de fígado Hipoalbuminemia - Insuf. crônica de síntese hepatocelular - Déficit de síntese associado à desnutrição proteicocalórica - Frequente nos etilistas crônicas com cirrose alcoólica Alargamento do TTPa e ↓ atividade de protrombina - Fígado produz os fatores vitamina K-dependentes - ↓ função hepática Hipergamaglobulinemia - ↓ clearance hepático de bactérias (bacteremia espontânea a partir do TGI) Hiperestimulação de linfócitos B Hipergamaglobulinemia policlonal - Cirrose avançada e hipertensão porta grave - ↑IgA: Hepatopatia alcoólica - ↑IgM: Cirrose biliar primária - ↑IgG: Hepatite autoimune Hiponatremia - Marcador de mau prognostico: Cirrose avançada com ascite - Incapacidade de excretar água devido ao ↑ ADH, decorrente da ↓ volume intravascular Pancitopenia - Cirrose avançada complicada por hipertensão portal R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 21 - Esplenomegalia e hiperesplenismo ↓ plaquetas circulantes (Sinal mais precoce), hemácias e leucócitos (sinal mais tardio) - Anemia multifatorial (desnutrição, sangramento digestivo crônico, supressão medular pelo álcool ou por vírus) - Plaquetopenia mesmo na ausência de hiperesplenismo: Hepatite C Exames de Imagem - Avaliar as alterações morfológicas da doença - Avaliar a vascularização hepática e extr-hepática - Detectar e estimar efeitos da hipertensão portal - Identificar tumores hepáticos, diferenciando o carcinoma hepatocelular (CHC) de outros tipos USG de abdome, USG de abdome com Doppler, TC de abdome, RNM * Fases iniciais da cirrose: Normais * Fases mais avançadas: Alterados Angiorressonância * Fases iniciais da cirrose: Normais * Fases mais avançadas: Alterados Arteriografia com ou sem lipiodol * Específica pra diagnósticos de CHC Alterações encontradas * Nodularidade da superfície hepática * Heterogeneidade do parênquima hepático * Alargamento da porta hepatis e da fissura interlobar * ↓ volume do lobo direito e do segmento médio do lobo esquerdo * ↑ volume do lobo caudado e do segmento lateral do lobo esquerdo * Nódulos regenerativos (RM melhor que os outros) Biópsia Hepática - Septos fibrosos porta-centro e porta-porta espessos e completos, os quais delimitam nódulos - Completa desorganização da arquitetura lobular e vascular - Biópsia desnecessária se dados clínicos, laboratoriais e radiológicos ↑ sugestivos de cirrose avançada (ascite, esplenomegalia, hipoalbumineia, INR alargado, fígado atrofiado, heterogêneo e nodular) - Contraindicações de biópsia * Atividade de protrombina < 50% OU * INR > 1,3 OU * Plaquetas < 80.000/mm³ Classificação Funcional (Child-Pugh e MELD) - Avaliar o prognóstico da cirrose e orienta o critério padrão para inscrição no cadastro de transplante hepático (classe B de Child-Pulgh ) R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 22 - Hepatopatia grave Child-Pugh classe C MELD - Parâmetros laboratoriais - Equação para calcular o escore MELD = {9,57 x loge creatinina mg/dL + 3,78 x loge bilirrubina (total) mg/dL + 11,20 x loge INR + 6,42] - Arredonda o resultado para o próximo número inteiro - O valor máximo de creatinina é 4. - Hepatopatia grave MELD ≥ 15 Tratamento - Intuito de ↑ a sobrevida e melhorar a qualidade de vida Terapia Antifibrótica - Colchicina, propiltiouracil, IFN, lecitina poli-insaturada Terapia Nutricional - Cirrótico tender a ser hipercatabólicos e desnutridos Agrava a disfunção hepática - Suplementos com formulações epeciais (com aa de cadeia ramificada) podem ser efetivos - Não existe indicação de restrição proteica - Não há necessidade de ↓ ingesta de gorduras - Deve-se encorajar refeições frequentes Balanço nitrogenado adequado - Recomendações do Colégio Americano de Gastroenterologia: * Conteúdo proteico diário: 1-1,5g/kg * Conteúdo calórico diário: mínimo de 30kcal/kg (50-55% carboidratos e 30-35% lipídios) - Correção da deficiência de vitaminas (complexo B, A, D, E, K), principalmente em cirrose alcoólica e com componente colestático - Cirrose por hemocromatose Não devem receber sais de ferro ou vitamina C Agrava o dano hepático pelo acúmulo de ferro - Evitar a ingesta de frutos do mar Risco de sepse grave e morte por infecção com Vibrio vulnificus e Yersinia sp Tratamento específico da causa Tratamento das Complicações Transplante Hepático R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 23 R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 24 Complicações 1. Encefalopatia Hepática - Síndrome neuropsiquiátrica, potencialmente reversível, caracterizada por mudanças na personalidade e no comprometimento da cognição, da função motora e do nível de consciência Fisiopatologia - 3 condições básicas: Acúmulo plasmático de neurotoxinas - A amônia (NH3) é produzida no intestino por proteólise de alimentos, hidrólise da ureia sanguínea Transportada até o fígado Metabolizada no ciclo da ureia - Em pacientes com insuficiência hepática ou shunts portossistêmicos, a formação da ureia está prejudicada ↑ plasmático de NH3 Atravessa a barreira hemoliquórica Metabolizada nos astrócitos Eventos neuroquímicos Alteração da função da célula e da neurotransmissão normal Efeito de falsos neurotransmissoresEm pacientes com cirrose: - Há ↓ dos níveis de AA de cadeia ramificada (ACR): valina, leucina e isoleucina; e - ↑ dos AA de cadeia aromática (ACA): triptofano, fenilanina e metionina. * Os ACAs atravessam facilmente a BHL Competem com neurotransmissores normais, como a dopamina e a norepinefrina Ação de substâncias neuroinibitórias - GABA é o principal representante desta classe e é sintetizado no SNC e no intestino grosso, a partir do glutamato. - Nos pacientes com cirrose hepática, a hiperamoniemia facilita a produção do GABA, que atravessa a BHL e pode inibir a neurotransmissão Hipermangnesemia - Mais de 80% dos pacientes com cirrose, em coma hepático, têm níveis séricos de manganês ↑ - Exposição prolongada a esse metal Sintomas extrapiramidais e anormalidades na ressonância do SNC R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 25 Quadro Clínico - Síndrome confusional aguda, com prejuízo do estado mental, alterações neuromusculares, fetor hepaticus e distúrbios respiratórios - Manifestações neuropsiquiátricas não são específicas e podem estar presentes em outras condições clínicas. - As alterações psíquicas podem variar de confusão leve ao coma, e, normalmente, apresentam como 1ª manifestação clínica, a alteração súbita da personalidade ou a inversão do ritmo do sono; - Distúrbios de comportamento, desorientação, confusão, bradilalia, estupor e coma podem estar presentes em quadros mais avançados Distúrbios neuromusculares: - Predomínio de hipertonia e hiper-reflexia com sinal do extensor plantar na fase pré- comatosa, e hipotonia e hipo ou arreflexia, no coma profundo - O tremor grosseiro de extremidades (asterixis ou flapping) é o sinal mais característico da fase pré-comatosa, e representa a inabilidade de manutenção ativa da postura ou posição Fetor hepaticus - Atribuído a um composto sulfurado volátil - É percebido, no hálito do paciente, como um odor desagradável Hiperventilação - Mecanismo compensatório que visa ↓ o pH arterial, ↓ a entrada de amônia no cérebro Diagnóstico - Baseado na história clínica, no exame físico e em alguns exames laboratoriais - Exames de imagem, como a TC do cérebro, são recomendados para exclusão de anormalidades estruturais, nos pacientes com encefalopatia grave ou na ausência de fatores desencadeantes - Análise do LCR deve ser reservada para os casos em que há suspeita de meningoencefalite infecciosa - Devido a frequente presença de fatores desencadeantes na EH, como peritonite bacteriana espontânea e hemorragia digestiva, recomenda-se * Punção de líquido ascítico, em todo paciente com ascite * Realização de toque retal naqueles pacientes com suspeita de sangramento digestivo não referido. - Classificação da EH em graus, de acordo com a gravidade R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 26 Tratamento Medidas Gerais • Identificação e remoção dos fatores desencadeantes • Suspensão de diuréticos • Sondas nasogástrica e urinária podem ser necessárias • Sonda orotraqueal e suporte ventilatório no coma profundo Nutrição • Encefalopatia graus 3 e 4: o suporte calórico, nas primeiras 24-48h deve ser realizado com infusão endovenosa de solução de glicose • A dieta deve conter 0,5g proteína/kg/dia nos 1ºs dias, com aumento progressivo de 10-20g a cada 2 ou 3 dias, até atingir 1-1,5g/kg/dia - Recomenda-se dar preferência à proteína de origem vegetal ou utilizar leite e derivados • Nos casos de necessidade de ↑ aporte protéico, o uso de aa de cadeia ramificada pode ser considerado Medicamentos • Dissacarídeos não absorvíveis - Lactulose (b-galactosidofructose): terapia padrão. - Após sua administração, a lactulose é metabolizada por bactérias da flora bacteriana cecal ↓ do pH no intestino e indução do ↑ da excreção fecal de nitrogênio, e conseqüentemente, ↓ na quantidade de amônia plasmática. - A dose inicial recomendada é de 10-30 ml, VO ou por sonda nasogástrica, 3-4x/dia até início das evacuações, ou como enema (300-500ml de lactulose em 1L de água filtrada) • Neomicina - Alternativa aos dissacarídeos não absorvíveis. - Aminoglicosídeo com pouca absorção pelo tubo gastrintestinal (<4%) A dose inicial recomendada é de 3-6 g/dia, VO, por 2 a 3 dias; em seguida, de 1-2 g/dia nos dias posteriores, evitando-se uso prolongado (risco de toxicidade renal e auditiva) • Flumazenil - Antagonista seletivo de receptores centrais dos benzodiazepínicos. - Produz melhora transitória das alterações mentais - Pode estar indicado para melhorar o nível de consciência de pacientes em coma profundo, evitando-se entubação orotraqueal. - A dose preconizada é de 0,4-2,0 mg, EV, em bolus. - Recomenda-se que seu uso seja reservado para os casos em que haja suspeita de que a EH foi desencadeada por benzodiazepínicos • Suplementação com zinco - O Zn é um cofator do ciclo da ureia, frequentemente deficiente nos pacientes cirróticos, em decorrência de excreção urinária ou desnutrição. - A dose proposta de acetato de zinco é de 220 mg, 2x/dia, por VO - Recomendada avaliação prévia de deficiência 2. Peritonite Bacteriana Espontânea - Principal complicação infecciosa do paciente cirrótico - Preconiza-se realizar paracentese diagnóstica em todo paciente cirrótico com ascite, nas circunstâncias seguintes: • Ao ingressar em hospital. • No momento do diagnóstico da ascite. • Quando houver sinais ou sintomas de peritonite (dor abdominal, dor à descompressão brusca, vômito, diarreia). • Na presença de sinais de infecção sistêmica (febre, leucocitose, choque séptico). R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 27 • Em casos de encefalopatia hepática ou de alteração da função renal. • Em situações de hemorragia digestiva. - 60 a 70% dos episódios de PBE são causados por bactérias Gram - E. coli e Klebsiella pneumoniae Variantes da Infecção do Líquido Ascítico PBE - Infecção do LA, definida pela contagem de polimorfonucleares (PMN) ≥ 250/mm³ de LA e cultura positiva do LA, na ausência de foco infeccioso abdominal, cirurgicamente tratável. Ascite Neutrocítica Cultura Negativa - Resultado da cultura do LA é negativo e a contagem de PMN ≥ 250/mm³ de LA. - Apresenta o mesmo prognóstico da PBE, devendo ser tratada de maneira similar. Bacteriascite Monomicrobiana Não Neutrocítica - Caracterizada pelo isolamento da bactéria na cultura do LA e PMN < 250/mm³ no LA. - O curso clínico ≠ 2 entidades anteriores e depende da presença ou ausência de sintomas clínicos. Peritonite Bacteriana Secundária - Caracterizada pela associação de cultura positiva do LA e contagem de PMN ≥ 250/mm³ de LA, na presença de fonte de infecção cirurgicamente tratável Quadro clínico indistinguível da PBE - A presença de outros critérios sugere o diagnóstico de infecção secundária. • Falha de resposta ao tratamento antibiótico. • Cultura polimicrobiana (principalmente anaeróbios ou fungos). • No mínimo, 2 dos seguintes parâmetros bioquímicos no LA: Glicose > 50 mg/dL Proteína > 1g/dL DHL > 225 U/ml (ou > que o limite superior da normalidade do soro) Fisiopatologia Translocação bacteriana de origem intestinal - Inicialmente, o microorganismo migra para os linfonodos mesentéricos Ducto Torácico Corrente sanguínea Coloniza o líquido ascítico Fatores Predisponentes - A gravidade da doença hepática é o principal fator - Aproximadamente,70% dos episódios acontecem em pacientes cirróticos da classe Child C. - ↓ [ ] de proteína do LA se relacionam diretamente com capacidade bactericida ↓ do fluido ascítico - Valor de proteína no LA <1g/dL Fator de risco para desenvolvimento da PBE - Bacteriúria é comum em pacientes cirróticos, principalmente em mulheres, podendo ser uma fonte para desenvolvimento da PBE. - Sondagem vesical deve ser evitada nesse tipo de paciente - Pacientes que sobrevivem a um episódio de PBE têm um risco de 70% de desenvolver um novo episódio infeccioso no período de um ano Quadro Clínico - Os sintomas, geralmente apresentam-se de maneira insidiosa Febre e dor abdominal - Outros sinais e sintomas incluem encefalopatia hepática, diarreia, íleo e alteração da função renal. - Aproximadamente 10% dos pacientes não apresentam qualquer sintoma Diagnóstico - Paracentese (não existe, na maioria dos casos, contraindicação absoluta) R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 28 - PMN ≥ 250/mm³ de LA Indicativo de infecção do LA, sendo o resultado da cultura irrelevante para se indicar o início do tratamento - Os casos de bacteriascite (PMN < 250/ mm³ de LA e cultura do LA positiva) comportam-se de maneira diferente dos quadros de ascite neutrocítica e de PBE, evoluindo, na maioria das vezes, com resolução espontânea. * Recomenda-se repetir a paracentese, com realização de outra citologia e cultura do LA após 48h da primeira Tratamento - Cefalosporina de 3ª geração por no mínimo 5 dias - Controle de parâmetros do LA 48h após o início do esquema antibiótico. - Os critérios de resposta ao tratamento são: * ↓ de > 25% do número de PMN em relação à contagem basal (antes do início do antibiótico) * Melhora dos sinais e sintomas de infecção Complicações da PBE IRA - Resultado de maior ↓ no volume plasmático arterial efetivo, mediado pelo incremento de citocinas circulantes, induzido pela infecção. - Prevenção: * Evitar o uso de antiinflamatórios * Restringir a administração de diuréticos no período de infecção * Evitar paracenteses evacuadoras (não drenar > 4L) HDA - Similar à piora da função renal, o mecanismo mais provável da ruptura das varizes esofágicas é a alteração do sistema hemodinâmico em um paciente com uma disfunção circulatória prévia Profilaxia R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 29 3. Síndrome Hepatorrenal - Condição que ocorre em pacientes com doença hepática crônica e insuficiência hepática avançada e hipertensão portal, caracterizada por função renal alterada, e graves anormalidades na circulação arterial renal e na atividade de sistemas vasoativos endógenos Fisiopatologia - Caracterizada por insuficiência renal devido à ↑ vasoconstricção da circulação renal - O mecanismo de vasoconstricção não é completamente compreendido. - Acredita-se que a insuficiência renal seja causada por alterações hemodinâmicas, consequentes à vasodilatação arterial - Atividade ↑ dos sistemas vasoconstrictores ↓ perfusão renal e a TFG, mas a função tubular mantém-se preservada - Em fases precoces, com cirrose compensada, a perfusão renal é mantida pela síntese ↑ de vasodilatadores renais, principalmente prostaglandinas. - Em fases tardias, a perfusão renal não pode ser mantida, devido à vasodilatação extrema da circulação esplâncnica, que causa ativação máxima dos sistemas vasoconstrictores, produção ↑ de vasodilatadores renais, ou ambos, e a SHR se desenvolve. SHR do tipo 1 ou aguda - Caracterizada por ↑ rápido e progressivo dos níveis de ureia e creatinina séricas em um curto período de tempo * Os valores de creatinina sérica inicial dobram para níveis > 2,5mg/dL ou a clearance de creatinina de 24h inicial ↓ em 50% para valores < 20 mL/min, em um período de 2 semanas) - Comumente, desenvolve-se em pacientes que já apresentam SHR do tipo 2, expostos a algum fator precipitante, como infecções bacterianas, hemorragia digestiva, cirurgias, paracentese sem utilização de expansores plasmáticos, hepatite aguda (álcool, vírus, tóxicos) superimposta a cirrose, entre outras. - Quase todos os pacientes, se não tratados, morrem após 2-3 semanas depois do início da deterioração da função renal SHR do tipo 2 ou crônica - Caracterizada por ↓ moderada da função renal (creatinina sérica de 1,5-2,5 mg/dL, não atingindo os valores que são critérios para SHR do tipo 1), a qual permanece estável durante meses, sem tendência a progredir com o passar do tempo. - Ocorre, geralmente, em pacientes com função hepática relativamente preservada, sendo que a maioria apresenta ascite refratária R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 30 Diagnóstico O diagnóstico de SHR deve ser feito após a exclusão de outras causas de insuficiência renal, em pacientes cirróticos, particularmente a insuficiência renal pré-renal e a necrose tubular aguda. Critérios Diagnósticos Principais - TFG ↓: Creatinina sérica > 1,5 mg/dl ou clearance de creatinina de 24h < 40 mL/min. - Ausência de choque, infecções bacterianas, uso atual ou recente de agentes nefrotóxicos, perdas líquidas pelo trato gastrintestinal (vômitos repetidos ou diarreia intensa) ou rins (perda de peso corporal > 500 g/dia na ausência de edema periférico ou > 1000 g/dia, se houver edema periférico). - Ausência de melhora sustentada na função renal (↓ creatinina < 1,5 mg/dL ou ↑ do clearance de creatinina de 24h > 40 mL/min após retirada de diuréticos e expansão do volume plasmático (infusão EV de 1500mL de solução salina). - Proteinúria < 500 mg/dia e ausência ecográfica de uropatia obstrutiva ou doença do parênquima renal. Adicionais - Volume urinário < 500 mL/dia. - Sódio urinário < 10 mEq/L. - Osmolalidade urinária > Osmolalidade plasmática. - Nº de hemácias na urina < 50/campo. - Sódio sérico <130 mEq/L Prognóstico A sobrevida dos pacientes com SHR é ruim e a recuperação espontânea muito rara - Na SHR do tipo 1 a sobrevida é de cerca de 10%, e o tempo de sobrevida médio é de 2 semanas, se não houver tratamento. - Na SHR do tipo 2, o tempo de sobrevida é de 50% em 6 meses R es u m o d o C as o 4 – C M 2 K ar en C u n h a 31 Tratamento Transplante hepático: Único método efetivo e definitivo de tratamento da SHR Tratamento clínico da síndrome pode possibilitar que o paciente sobreviva até o momento do transplante, além do que a melhora da função renal ↓ a morbidade e a mortalidade pós- transplante - SHR do tipo 2 * Diuréticos para o tratamento de ascite, somente se estes estiverem causando uma natriurese significativa (> 30 mEq/dia). - Ascite de grande volume ou tensa * Paracenteses associadas à infusão EV de albumina (6-8g/L de líquido ascítico retirado). * Restrição de sal na dieta (40-80 mEq de sódio/dia). * Restrição da ingestão de líquidos (1000 mL/dia) pode ser feita em casos de hiponatremia (sódio sérico < 130 mEq/L) Agentes vasoconstrictores - Única terapia clínica atualmente disponível - São efetivos em cerca de 30% dos pacientes com SHR do tipo 1 - Dois tipos de drogas têm sido utilizados: * Análogos da vasopressina (terlipressina) * Agonistas α-adrenérgicos (norepinefrina, midodrina), em combinação com albumina TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunting) - Efetivo no tratamento de pacientes com SHR, entretantoos dados ainda são limitados. - O principal efeito do TIPS é ↓ a pressão portal. - Na SHR do tipo 1, o TIPS melhora a função circulatória e ↓atividade dos sistemas vasoconstrictores ↑ da perfusão renal e da TFG, e ↓ nos níveis de creatinina sérica em cerca de 60% dos pacientes Hemodiálise - Não deve ser rotineiramente usada em pacientes com SHR do tipo 1, uma vez que não interfere na evolução natural do quadro. - Pode ser utilizada como ferramenta temporária até a realização do transplante hepático, em pacientes que não responderam à terapia medicamentosa Prevenção - A SHR ocorre em cerca de 30% dos pacientes com peritonite bacteriana espontânea. - Nessa condição, a administração EV de albumina (1,5 g/Kg no diagnóstico da infecção e de 1g/Kg 48h após), em associação com o uso de antibiótico, ↓ o risco de SHR
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