Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ETIOLOGIAS DA HEPATITE CRÔNICA aguda se torna crônica em até 90% dos recém-nascidos infectados e em 25% a 50% das crianças pequenas.Raramente o vírus da hepatite E causa hepatite crônica em pessoas com um sistema imunológico enfraquecido. Objetvo 1) Diferenciar a hepatite aguda e crônica. Há duas variedades de hepatite que conhecemos: a aguda – que dura menos de 6 meses e a crônica – que dura mais de 6 meses. O tipo agudo da doença é o mais comum e tem como causas as hepatites A, B, C, D e E, além de outras doenças virais, infecções por ameba ou bacteriana, medicamentos e drogas. Seus sintomas são variáveis. Por outro lado, a hepatite crônica tem como causa as hepatites B, C e D, a hepatite auto-imune, além de distúrbios congênitos do metabolismo e excesso do uso de drogas. A Hepatite viral aguda é uma inflamação do fígado causada pela infecção com um dos cinco vírus da hepatite; na maioria dos pacientes, a inflamação começa repentinamente e dura poucas semanas. Os sintomas da hepatite viral aguda costumam aparecer repentinamente. Estas queixas incluem falta de apetite, sensação de mal-estar geral, náuseas, vômitos e, com frequência, febre. Nos casos de tabagistas, a aversão ao tabaco é um sintoma típico. Algumas vezes, especialmente na infecção de hepatite B, a pessoa sente dores articulares e aparecem-lhe manchas com prurido (urticária vermelha sobre a pele, com prurido). Ao fim de uns dias, a urina torna- se escura e pode apresentar-se um quadro de icterícia. Neste ponto, a maioria dos sintomas típicos desaparece e a pessoa sente-se melhor, mesmo quando a icterícia está a aumentar. A Hepatite crônica, ainda seja muito menos frequência do que a hepatite viral aguda, pode persistir por anos e mesmo décadas. Em muitas das pessoas, a hepatite crônica é bastante leve e não provoca lesões hepáticas significativas. No entanto, em algumas pessoas, a inflamação contínua deteriora lentamente o fígado e acaba levando à cirrose (cicatrização grave do fígado), insuficiência hepática e, por vezes, câncer hepático. O vírus da hepatite C causa cerca de 60% a 70% dos casos, e pelo menos 75% dos casos de hepatite C aguda se tornam crônicos. Cerca de 5% a 10% dos casos de hepatite B em adultos, às vezes com coinfecção por hepatite D, se tornam crônicos. (A hepatite D não ocorre isoladamente. Ela ocorre apenas como uma coinfecção da hepatite B.) A hepatite B Os sintomas de hepatite crônica frequentemente incluem uma sensação vaga de mal-estar, falta de apetite e fadiga. Por vezes, a pessoa afetada apresenta também febre baixa e um leve desconforto na parte superior do abdômen. Icterícia (coloração amarela da pele e da parte branca dos olhos causada por depósitos de excesso de bilirrubina) é rara, a menos que se desenvolva insuficiência hepática. Objetvo 2) Entender as principais etiologias das hepatites; patogenia; seus quadros clínicos e diagnósticos. (B, C, alcoólica, esquistossomose.) Numerosas causas podem ser incluídas na definição de hepatite crônica, mas há franca tendência entre os hepatologistas em restringir o conceito de hepatite crônica àquela de origem viral, auto-imune, e às relacionadas à ação de drogas, aceitando-se ainda as de causa incerta (criptogênicas). Em nosso meio, na maior parte dos pacientes que apresentam alguma forma de hepatite, com grande destaque para as formas crônicas, predomina a etiologia viral, com cerca de 60% dos casos. Os principais vírus hepatotrópicos atualmente conhecidos são os vírus da hepatite A (VHA), B (VHB), C (VHC), Delta (VHD) e E (VHE). Porém, entre estes vírus, apenas os vírus das hepatites B, C e Delta são os que podem apresentar evolução para a cronificação. HEPATITE B O vírus da hepatite B (VHB) pode determinar um espectro de doença bastante amplo, de infecção aguda e crônica. O HEPATITE AGUDA X HEPATITE CRÔNICA TUTORIA – PROBLEMA 3: “EXCESSO...” https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/hepatite/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-a-hepatite-viral-aguda https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/fibrose-e-cirrose-hep%C3%A1tica/cirrose-hep%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/insufici%C3%AAncia-hep%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/insufici%C3%AAncia-hep%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/tumores-do-f%C3%ADgado/carcinoma-hepatocelular principal determinante responsável pela evolução da infecção crônica pelo VHB é a idade de aquisição do vírus. Quando adquirida no período perinatal ou na infância precoce, a infecção tem mais chance de evoluir para a hepatite crônica. O vírus da hepatite B (VHB) é um vírus do tipo DNA da família Hepadnaviridae, com envelope, que infecta, preferencialmente, o fígado. O vírus da hepatite B (VHB) é um vírus DNA, de fita dupla, da família hepadnaviridae. O genoma do VHB tem cerca de 3,2 kb e, devido à variabilidade genética que apresenta, o vírus é classificado em 8 genótipos (A a H. No Brasil, predominam os genótipos A e D no Nordeste, Sul e Sudeste, todavia o VHB genótipo F é encontrado com frequência em tribos indígenas da Amazônia, em alguns casos de infecção aguda e crônica em Salvador-BA. O VHB é um vírus não-citopático, e a lesão hepática na infecção aguda é mediada por reações imunes do hospedeiro. Células T CD8+ dirigidas contra vários antígenos do VHB exercem papel fundamental na lesão hepática aguda autolimitada, com efeito citolítico e não-citolítico sobre os hepatócitos. O efeito citolítico por linfócitos T citotóxicos (CTL) é devido à apoptose mediada por granzimas, perforinas e ligantes Fas (FasL). Por outro lado, CTL ativadas secretam interferongama e fator de necrose tumoral alfa, que abolem a expressão do VHB e a replicação viral (mecanismos não citolítico). A hepatite aguda B sintomática regride em mais de 95% dos casos. A forma de transmissão da infecção pelo VHB tem grande influência na história natural da hepatite B. As vias de transmissão predominantes variam de acordo com a endemicidade da infecção pelo VHB. Em áreas de alta prevalência, a principal via de transmissão é a perinatal (vertical) e através de contatos intradomiciliares, enquanto em áreas de baixa prevalência, o contato sexual com pessoas de alto risco é a via predominante (horizontal). A história natural da hepatite B depende principalmente das respostas do hospedeiro em eliminar os hepatócitos infectados pelo VHB. Pode ser dividida em cinco fases: 1. Fase de tolerância: geralmente ocorre na infância e no adulto jovem. Observam-se replicação intensa do VHB, elevada viremia e níveis séricos de DNA do VHB, expressão do AgHBe e limitada reatividade imunológica. As lesões hepáticas são discretas, assintomáticas e não há elevação das aminotransferases. 2. Fase de atividade da doença/clareamento (hepatite crônica AgHBe positiva): há perda da tolerância imunológica, com episódios de exacerbações semelhantes aos da hepatite aguda B. Caracteriza-se por resposta imune celular com eliminação dos hepatócitos infectados, queda dos níveis séricos do AgHBe e aumento do anti-HBe (seroconversão), com diminuição dos níveis séricos de DNA do VHB. O prolongamento dessa fase de atividade, com múltiplas exacerbações de ALT, pode resultar em fibrose progressiva e cirrose. 3. Fase de integração do DNA do VHB e tolerância (hepatite crônica inativa): a replicação ativa do VHB cessa nos hepatócitos, mas as células contendo o DNA do VHB integrado continuam a expressaro AgHBs. O anti-HBe é detectado no soro. Caracterizada por baixa (< 2.000 UI/mL) ou indetectabilidade do DNA do VHB, aminotransferases normais e desaparecimento da necroinflamação hepática. 4. Fase de reativação (hepatite crônica AgHBe negativa): apesar da seroconversão do AgHBe, ocorre a reativação da replicação do VHB em virtude da seleção de VHB mutantes. Caracteriza-se pela positividade do anti-HBe, níveis flutuantes dos níveis de DNA do VHB e ALT e alto risco de progressão para fibrose. As exacerbações periódicas intercaladas com períodos de normalização da ALT dificultam a distinção entre hepatite crônica AgHBe negativa e hepatite crônica inativa, portanto, seguimento contínuo dos pacientes é necessário para designá-los como portadores de doença inativa. Há evidências recentes que sugerem que baixos níveis de DNA do VHB (< 2.000 UI/mL) associados a baixos níveis de AgHBs podem ajudar a identificar os pacientes com doença inativa, particularmente naqueles com infecção pelo genótipo D (AgHBs < 1.000 UI/mL) e genótipos B/C (< 100 UI/mL).28 5. Fase de AgHBs negativa: após o clareamento do AgHBs, baixos níveis de replicação do VHB podem persistir com detectabilidade do DNA do VHB no fígado, mas raramente no soro. Imunossupressão significativa pode ocasionar seroconversão reversa (reativação do VHB com reaparecimento do AgHBs). A hepatite crônica pelo VHB geralmente é assintomática até o aparecimento de sinais e sintomas de doença hepática avançada. Muitos pacientes descobrem a hepatite por meio de sorologias positivas ou elevações de aminotransferases ao realizar uma doação de sangue, durante a realização de exames de sangue de rotina ou na investigação de outras doenças. Quando questionados, a astenia é um dos sintomas mais relatados. Outras manifestações relatadas incluem artralgias, anorexia, dor vaga e persistente em hipocôndrio direito. Icterícia, aparecimento de hematomas e sangramento fácil, edema e ascite indicam desenvolvimento de doença hepática avançada, como a evolução para a cirrose hepática e/ou desenvolvimento do carcinoma hepatocelular. Portadores do VHB apresentam maior risco de desenvolver cirrose, descompensação hepática, carcinoma hepatocelular (CHC) e doenças extra-hepáticas, como poliarterite nodosa, glomerulonefrite e vasculite leucocitoclástica. Após inecção aguda, 3 a 5% dos adultos e mais de 95% das crianças falham em produzir resposta imune, tornando-se portadores crônicos do VHB. Embora muitos não desenvolvam complicações hepáticas da hepatite B crônica, 15 a 40% podem vir a desenvolver sérias complicações durante suas vidas. Aproximadamente 25% dos casos de crianças infectadas no período neonatal evoluem prematuramente para cirrose ou CHC. ➢ DIAGNÓSTICO o Exames sorológicos; o Biópsia hepática; o Suspeita-se do diagnóstico da hepatite B crônica nos pacientes com: I. Sinais e sintomas sugestivos; II. Elevações casualmente observadas nos níveis de aminotransferases. III. Hepatite aguda previamente diagnosticada; o Confirma-se o diagnóstico com o antígeno de superfície da hepatite B positivo (HBsAg) e o anticorpo IgG para hepatite B de núcleo (IgG anti-HBc) e IgM anti-HBcAg e medindo o DNA do vírus da hepatite B (VHB-DNA quantitativo). o Se hepatite B crônica é confirmada, realizar testes para antígeno e da hepatite B (HBeAg) e anticorpo para antígeno e da hepatite B (anti-HBe) pode ajudar a determinar o prognóstico e guiar a terapia antiviral. Se infecção por HBV confirmada sorologicamente é grave, deve-se medir anticorpos para vírus da hepatite D (anti- HDV). o Testes quantitativos para HBV-DNA também são utilizados antes e durante o tratamento para avaliação da resposta. o Biópsia é normalmente feita para avaliar a extensão dos danos no fígado e excluir outras causas de doença hepática. A biópsia hepática é mais útil em casos que não atendem as diretrizes para o tratamento. o Testes de função hepática são necessários se não tiverem sido feitos anteriormente; eles incluem níveis séricos de ALT, AST, fosfatase alcalina e bilirrubina. Outros testes devem ser feitos para avaliar a gravidade da doença; eles incluem albumina sérica, contagem de plaquetas e TP/INR. Deve-se também testar infecção por HIV e hepatite C nos pacientes porque a transmissão dessas infecções é semelhante. Se sinais ou sintomas de crioglobulinemia aparecerem durante a evolução de uma hepatite crônica, devem-se colher níveis séricos de crioglobulina e de fator reumatoide; níveis elevados de fator reumatoide acompanhados de baixos níveis de complemento também sugerem a crioglobulinemia. o Deve-se examinar os pacientes com hepatite B crônica a cada 6 meses quanto à presença de carcinoma hepatocelular por ultrassonografia e dosar a alfafetoproteína sérica, embora a relação custo-benefício dessa prática, especialmente a dosagem da alfafetoproteína, seja controversa. HEPATITE C O VHC é membro da família Flaviviridae e único representante do gênero Hepacivirus, sendo composto por pequeno envelope, que contém RNA de fita única e de sentido positivo. O VHC produz proteínas estruturais e não estruturais (non- structural proteins – NS) e circula no sangue em diversas formas: vírions ligados a lipoproteínas de baixa ou muito baixa densidade (“partículas lipovirais”), que parecem compor a fração infectante; vírions ligados a imunoglobulinas; e vírions livres. O VHC classifica-se em seis genótipos (designados pelos algarismos arábicos de 1 a 6) e em mais de 50 subtipos (designados por letras minúsculas); diferentes genótipos distribuem-se de maneira própria em cada região geográfica e também se relacionam à via de transmissão. A infecção crônica pelo VHC afeta aproximadamente 200 milhões de indivíduos no mundo, sendo a principal causa de cirrose, de falência hepática e de carcinoma hepatocelular (CHC) nos países ocidentais. Além disso, é responsável por 70% dos casos de hepatites crônicas no mundo todo. A hepatite C aguda é costumeiramente assintomá - tica. A cronificação da doença, inicialmente estimada em 80 a 90% dos casos, mais recentemente tem sido assumida em cerca de 50% deles. A eliminação viral após quadro agudo, impedindo cronificação, pode estar relacionada à imunidade do hospedeiro: ao au - mento na expressão de genes ligados ao IFN-gama, à titulação de anticorpos neutralizantes após infecção aguda e aos elementos específicos da imunidade celu - lar; certos genes não imunológicos, como alguns dos relacionados ao metabolismo lipídico, também pare - cem ter relação com a depuração viral. A via parenteral é a principal via de transmissão viral. O uso de drogas intravenosas tem ganhado importância como forma de infecção: até 90% dos usuários dessas substân - cias contraem o vírus. Outros fatores de risco são: exposição ocupacional, hemodiálise, reutilização de equipamentos médicos contaminados e tatuagens. As transmissões vertical e sexual são menos comuns. Em aproximadamente 70% dos pacientes a doença é leve e progride em várias décadas, enquanto nos 30% restantes pode progredir rapidamente. Os mecanismos responsáveis pela persistência do VHC e pelo seu curso clínico variável são desconhecidos, mas cogita-se que se deva a uma interação complexa entre a alta diversidade viral e imunidade do hospedeiro. Estudos prospectivos têm tentado identificar fatores clínicos, sorológicos ou virológicos que identifiquem a pior progressão da doença. A resolução da hepatite aguda C é geralmente associada com a detecção de anticorpos neutralizantes, uma alta freqüência de células T específicas para o VHC com produção de citocinas Th1. Em contraste, quando a infecção cronifica, https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/vis%C3%A3o-geral-da-hepatite-cr%C3%B4nica#v900702_pta resposta celular T no sangue periférico geralmente não é detectada na fase aguda e há uma produção de citocinas Th2. Desta forma, diferenças na qualidade e intensidade de resposta celular T nos estágios iniciais da infecção podem influenciar a evolução de hepatite C, mas as causas primárias destes comportamentos não estão definidas. Na hepatite crônica C, a progressão para a fibrose é o que determina o prognóstico da doença e desta forma a necessidade e urgência de tratamento. A fibrogênese é um processo dinâmico, onde é mediado pela atividade necroinflamatória e ativação das células estreladas. A velocidade da progressão da fibrose parece variar entre os pacientes e os principais fatores associados com a progressão para a fibrose parecem ser a idade na qual foi adquirida a infecção, sexo masculino e consumo de álcool excessivo. A carga viral e o genótipo parecem não influenciar significativamente a progressão para a fibrose. Também parecem contribuir para a progressão da fibrose a imunossupressão, esteatose, obesidade e diabetes. Níveis de ALT elevados são associados a um maior risco de progressão da fibrose, e piora da fibrose parece ser incomum em pacientes com níveis de aminotransferases normais. A biópsia hepática é um dos métodos mais precisos para o estadiamento da fibrose e grau de atividade necroinflamatória. No momento, o acompanhamento histológico a cada 3 a 5 anos parece ser o método mais adequado para avaliar a progressão da fibrose. A infecção pelo VHC também é um importante fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (CHC). Geralmente, o CHC se desenvolve somente após duas ou mais décadas de infecção pelo VHC e o risco está aumentado nos pacientes portadores de cirrose ou fibrose avançada. Tem sido uma das complicações freqüentes nos países orientais, mas já se observa uma tendência no aumento de sua freqüência nos países ocidentais. A hepatite crônica C é caracterizada pela persistência do RNA do VHC por pelo menos 6 meses após a infecção. A freqüência de cronicidade varia de 75 a 85%. A fase inicial da doença é semelhante à da hepatite aguda, o RNA do VHC surge no soro 1 a 2 semanas e aumenta a titulação. A elevação da ALT inicia em poucas semanas e os sintomas, se ocorrerem, iniciam com a elevação da ALT. Pacientes que desenvolvem infecção crônica parecem ter menos sintomas e icterícia do que aqueles com hepatite aguda em resolução. O anti-VHC aparece com os sintomas ou logo após. Tipicamente, os níveis de antiVHC aumentam a níveis mais elevados e parecem persistir durante a infecção crônica. A maioria dos pacientes apresenta poucos sintomas, se apresentarem sintomas. O sintoma mais comum costuma ser astenia, que é tipicamente intermitente. Os níveis de ALT são continuamente ou intermitentemente elevados, e a elevação correlacionase a baixa atividade da doença e em um terço dos casos a ALT pode estar normal. A histologia hepática na infecção crônica pelo VHC mostra uma infiltração mononuclear no parênquima e áreas portais, necrose hepatocitária focal e graus variados de fibrose. Quase todos os pacientes apresentam algum grau de atividade necroinflamatória, mas a gravidade da doença e a quantidade de lesão estrutural (fibrose) podem variar consideravelmente. Desta forma, a biópsia hepática tem um papel importante no estadiamento da atividade inflamatória e grau de fibrose na hepatite crônica C. As complicações a longo prazo da infecção pelo VHC incluem a evolução para cirrose, insuficiência hepática e o carcinoma hepatocelular, que pode se desenvolver em um grupo de pacientes após muitos anos ou décadas de infecção. ➢ DIAGNÓSTICO o Exames sorológicos; o Suspeita-se do diagnóstico de hepatite C nos pacientes com as seguintes características: - Sinais e sintomas sugestivos; - Elevações casualmente observadas nos níveis de aminotransferases. - Hepatite aguda previamente diagnosticada; o O diagnóstico é confirmado pelo resultado positivo do anti-HCV e existência de carga viral de RNA do HCV ≥ 6 meses após a infecção inicial. o Biópsia do fígado é útil para um ou mais do seguinte: - Graduar atividade inflamatória; - Estagiar fibrose ou progressão da doença (o que às vezes pode ajudar a determinar quais e quando pacientes devem ser tratados); - Excluir outras causas de doença hepática; o Mas o papel da biópsia hepática está evoluindo na hepatite C, e ela está sendo suplantada por imagens não invasivas (p. ex., elastografia por ultrassom, elastografia por ressonância magnética) e marcadores séricos de fibrose, bem como sistemas de classificação para fibrose com base em marcadores serológicos. o O genótipo do HCV é determinado antes do tratamento porque o genótipo influencia o curso, duração e sucesso do tratamento. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/hepatite/vis%C3%A3o-geral-da-hepatite-cr%C3%B4nica#v900702_pt o A detecção e quantificação de HCV-RNA são utilizadas para ajudar a diagnosticar a hepatite C e avaliar a resposta ao tratamento durante e após o tratamento. Para os ensaios de ARN-VHC quantitativos disponíveis atualmente, o limite inferior de detecção é de pelo < 50 UI/mL. Se um ensaio quantitativo não tiver esse nível de sensibilidade, um ensaio qualitativo pode ser utilizado. Ensaios qualitativos podem detectar níveis muito baixos de HCV-RNA, muitas vezes tão baixos quanto < 10 UI/mL e fornecer resultados positivos ou negativos. Testes qualitativos podem ser usados para confirmar o diagnóstico de hepatite C ou uma resposta virológica sustentada (RVS), definida por ausência de HCV-RNA detectável em 12 e 24 semanas após a conclusão do tratamento, dependendo do regime medicamentoso utilizado. o Testes de função hepática são necessários se não tiverem sido feitos anteriormente; eles incluem níveis séricos de ALT, AST, fosfatase alcalina e bilirrubina. Outros testes devem ser feitos para avaliar a gravidade da doença; eles incluem albumina sérica, contagem de plaquetas e TP/INR. Pacientes devem ser testados para infecção por HIV e hepatite B porque a transmissão dessas infecções é semelhante. Se sinais ou sintomas de crioglobulinemia aparecerem durante a evolução de uma hepatite crônica, devem-se colher níveis séricos de crioglobulina e de fator reumatoide; níveis elevados de fator reumatoide acompanhados de baixos níveis de complemento também sugerem a crioglobulinemia. o Os pacientes com infecção crônica pelo HCV e fibrose avançada ou cirrose devem fazer rastreamento de carcinoma hepatocelular por ultrassonografia durante 6 meses e dosar a alfafetoproteína sérica, embora a relação custo- benefício dessa prática, especialmente a dosagem da alfafetoproteína sérica, seja controversa. O etanol pode produzir efeitos adversos em diversos órgãos, entre eles fígado, esôfago, estômago, intestino, pâncreas, coração e cérebro, prejudicando as principais funções vitais. Desses, o fígado é o mais afetado no organismo, sendo a doença hepática alcoólica (DHA) uma das doenças hepáticas mais comuns do mundo ocidental. Usualmente, a doença hepática alcoólica é dividida em três formas que podem sobrepor-se: esteatose, hepatite alcoólica e cirrose, as quais serão comentadas neste capítulo. Outras lesões hepáticas associadas ao consumo excessivo de álcool têm sido descritas, como fibrose perivenular, hepatite crônica ativa e hepatocarcinoma. O álcool pode causar três tipos de lesão no fígado: (1) esteatose assintomática (“fígado gorduroso”), (2) esteato- hepatite aguda (“hepatite alcoólica”), (3) cirrose alcoólica (cirrose de Laennec). A maioria dos alcoolistas “inveterados” desenvolve esteatose, mas somente uma pequena fração evolui com hepatite alcoólica que, quando persistente ou recorrente, pode levar à cirrosehepática. O carcinoma hepatocelular também pode se desenvolver em pacientes com cirrose, principalmente se houver coexistência de acúmulo de ferro. Vários fatores influenciam na gênese das doenças alcoólicas, em geral, e, especialmente, nas doenças do fígado. A dose ingerida é o fator mais importante. No homem, sabe-se que doses de 40 a 80 g/dia podem levar à cirrose. As mulheres, apesar de consumirem menos álcool do que os homens, têm um limiar menor de risco para o desenvolvimento de cirrose, de apenas 20 a 60 g/dia. Além disso, a DHA desenvolve-se e progride mais rapidamente na mulher. Entre diversos outros fatores para a maior suscetibilidade feminina à lesão hepática, estão aumento na permeabilidade do tubo digestivo para o álcool, menor atividade da álcool desidrogenase gástrica (ADH) e diminuição na taxa de eliminação do álcool. O tempo total de duração do alcoolismo também é diretamente proporcional ao risco de doença hepática, sendo fator agravante a ingestão regular, eventualmente diária. O desenvolvimento de doença hepática não está relacionado necessariamente à embriaguez, pois a ingestão alcoólica pode ser distribuída ao longo do dia sem que as concentrações sanguíneas atinjam níveis de embriaguez, escapando até mesmo à detecção por bafômetros. O tipo de bebida não parece ser importante, mas sim a quantidade equivalente de álcool puro ingerida. Diversos cofatores modulam o risco de DHA. As hepatites virais crônicas (B e C), bem como a presença de obesidade e outras hepatopatias (ex.: hemocromatose), representam os principais amplificadores do risco. A desnutrição (com deficiência de calorias e múltiplas vitaminas) é outra comorbidade que potencializa o dano hepático alcoólico por mecanismos pouco compreendidos. Fatores genéticos como DOENÇA HEPÁTICA ALCOÓLICA (DHA) https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/massas-e-granulomas-hep%C3%A1ticos/carcinoma-hepatocelular#v12496776_pt polimorfismos nos genes do PNPLA-3 (palatin-like phospholipase domain-containing protein 3), TNF-alfa, citocromo P450 e glutation S-transferase também parecem exacerbar o risco, facilitando a ocorrência de DHA em faixas de consumo etílico inferiores às que citamos anteriormente. Quando nenhum fator adjuvante está presente, a chance de cirrose alcoólica é significativamente reduzida, mesmo em pacientes que bebem muito: algo em torno de 5% apenas. O fato é que a maioria das pessoas que desenvolve DHA possui um ou mais fatores adicionais de agressão hepática e, quanto maior a ingestão etílica diária, maior o risco e mais rápida a evolução da doença. De um modo geral, a influência de fatores adicionais de agressão hepática é necessária para que o paciente passe do estágio de “esteatose alcoólica” assintomática para a “esteato-hepatite” e, posteriormente, para a “cirrose”. Na ausência de tais fatores a probabilidade de surgir DHA avançada é muito baixa, em torno de 5% apenas. Um detalhe interessante que todo médico precisa conhecer diz respeito à quantidade de álcool presente em cada tipo de bebida. Na realidade, apesar das diferenças na concentração etílica, a DOSE PADRÃO de cada tipo de bebida contém sempre a mesma quantidade absoluta de etanol. Em resumo, o que acontece é o seguinte: o excesso de etanol absorvido pela circulação porta é metabolizado predominantemente na região centrolobular do lóbulo hepático, local onde existe a maior concentração da enzima álcool-desidrogenase. Durante tal processo o oxigênio acaba sendo intensamente consumido, o que gera hipóxia centrolobular. A hipóxia prejudica o funcionamento das mitocôndrias, bloqueando a oxidação dos ácidos graxos que, desse modo, se acumulam no interior da célula na forma de gotículas de gordura (esteatose). O principal metabólito do etanol é o acetaldeído, molécula que logo após ser formada se liga covalentemente a diversas proteínas teciduais, criando “neoantígenos”. Estes induzem uma resposta autoimune que compõe o processo necroinflamatório do parênquima hepático (hepatite). O acetaldeído também é diretamente tóxico, promovendo peroxidação das membranas celulares e necrose hepatocitária. Outro fator contribuinte é o aumento de permeabilidade da mucosa intestinal induzido diretamente pelo álcool, o que faz aumentar a absorção de toxinas bacterianas como o lipopolissacarídeo (LPS ou “endotoxina”). A translocação de LPS para o fígado através da veia porta estimula as células de Kupffer (macrófagos hepáticos) a produzir citocinas como o TNF-alfa, que amplifica todos os processos já descritos! A persistência ou recorrência desses insultos pode culminar em fibrose e desestruturação do parênquima hepático (cirrose), caso as células estreladas sejam ativadas e comecem a produzir colágeno. O álcool (etanol) é rapidamente absorvido pelo estômago, mas a maior parte é absorvida pelo intestino delgado. O álcool não pode ser armazenado. Uma pequena quantidade é degradada durante o trânsito pela mucosa gástrica, mas a maior parte é catabolizada no fígado, primeiramente pela álcool desidrogenase (ADH), mas também pelo citocromo P- 450 2E1 (CYP2E1) e pelo sistema de enzima de oxidação microssomal (MEOS). Álcool desidrogenase, enzima citoplasmática, realiza oxidação do álcool em acetaldeído. Os polimorfismos genéticos na álcool desidrogenase são responsáveis por diferenças individuais no nível sanguíneo de álcool após o mesmo consumo, mas não na suscetibilidade à doença hepática alcóolica. A acetaldeído desidrogenase (ALDH), uma enzima mitocondrial, realiza a oxidação do acetaldeído no acetato. Consumo crônico de álcool aumenta a formação de acetato. Asiáticos que têm baixos níveis de ALDH são mais suscetíveis aos efeitos tóxicos do acetaldeído (p. ex., rubor); os efeitos são os mesmos do dissulfiram, o qual inibe a ALDH. Essas reações de oxidação geram hidrogênio, que converte o dinucleotídeos de nicotinamida-adenina (NAD, nicotinamide-adenine dinucleotide) à sua forma reduzida (NADH), o que por sua vez aumenta o potencial redox (NADH/NAD) no fígado. O aumento do potencial redox inibe a oxidação de ácidos graxos e a gliconeogênese, promovendo o acúmulo de gordura no fígado. Etilismo crônico induz o MEOS (principalmente no retículo endoplasmático) a aumentar sua atividade. A principal enzima envolvida é CYP2E1. Quando induzida, a via MEOS é responsável por 20% do metabolismo alcoólico. Essa via gera espécies reativas de oxigênio, aumentando o estresse oxidativo e a formação de radicais livres de oxigênio. O acúmulo de gordura nos hepatócitos é causado pelas seguintes razões: A exportação de gorduras do fígado está diminuída em razão da oxidação de ácidos graxos e da diminuição da produção de lipoproteínas / A entrada de gorduras está maior em razão da diminuição da exportação de gorduras no fígado, do aumento da lipólise periférica e da síntese de triglicerídios, resultando em hiperlipidemia. O acúmulo hepático de gorduras pode predispor a um subsequente dano oxidativo. O álcool modifica a permeabilidade intestinal, aumentando a absorção de endotoxinas liberadas pelas bactérias intestinais. Em resposta às endotoxinas (as quais um fígado já comprometido não consegue desentoxicar), os macrófagos hepáticos (células de Kupffer) liberam radicais livres, aumentando o dano oxidativo. O estresse oxidativo está aumentado por: I. Hipermetabolismo hepático secundário ao consumo de álcool. II. Dano peroxidativo lipídico induzido por radicais livres. III. Redução da proteção antioxidante (p. ex., glutation, vitamina A e E) causada pela desnutrição secundária ao álcool. IV. Ligação entre produtos oxidantes, como acetaldeído, com proteínas de células hepáticas, formando neoantígenos e resultando em inflamação. V. Acúmulo de neutrófilose outros leucócitos, atraídos pelo dano peroxidativo lipídico e neoantígenos. VI. Citocinas inflamatórias secretadas pelos leucócitos. Acúmulo hepático de ferro, se presente, agrava o dano oxidativo. Pode haver acúmulo de ferro na doença hepática alcoólica dependendo da ingesta de ferro, contido principalmente em vinhos. Essa condição deve ser diferenciada da hemocromatose hereditária. O ciclo vicioso de piora da inflamação ocorre por: necrose celular e apoptose resultantes da perda de hepatócitos e subsequentes tentativas de regeneração resultando em fibrose. Células estreladas (células de Ito), presentes nos sinusoides hepáticos, proliferam-se e diferenciam-se em miofibroblastos, produzindo excesso de colágeno do tipo I e matriz extracelular. Como resultado, o estreitamento dos sinusoides limita o fluxo sanguíneo. O estreitamento das vênulas hepáticas terminais secundário à fibrose compromete a perfusão hepática e contribui para a hipertensão portal. Fibrose extensa é associada a tentativas de regeneração, resultando em nódulos hepáticos. Esse processo culmina em cirrose. Como vimos, existem três “estágios” na evolução da DHA: esteatose, esteato-hepatite e cirrose. Histologicamente, os três predominam na região central (perivenular) do lóbulo hepático (zona 3), o que ajuda a diferenciar a DHA de outras hepatopatias crônicas, como as hepatites virais, que predominam na região periportal (zona 1). CIRROSE HEPÁTICA: Assim como acontece em outras formas de cirrose, na etiologia alcoólica a deposição de colágeno no parênquima hepático é mediada pelas células estreladas perissinusoidais, ou células de Ito, que fisiologicamente servem como armazenadoras de vitamina A, mas, quando o fígado é exposto a insultos necroinflamatórios persistentes ou repetitivos, podem ser ativadas e conduzir à cirrotização. Na DHA a fibrose se inicia na região centrolobular, tornando- se panlobular num segundo momento. No começo o processo é potencialmente reversível, porém, nos indivíduos que mantém uma ingesta etílica elevada a evolução para fibrose panlobular é normalmente definitiva. É a doença hepática avançada caracterizada por fibrose extensa, que altera a arquitetura hepática normal. O acúmulo de gordura presente varia. A hepatite alcoólica pode coexistir. A fraca tentativa de regeneração hepática compensatória provoca a formação de nódulos hepáticos relativamente pequenos (cirrose micronodular). Como resultado, o fígado frequentemente encolhe. Com o tempo, mesmo após a abstinência, a fibrose forma bandas largas, separando o tecido hepático em grandes nódulos. A esteatose hepática “pura” costuma ser assintomática, com o paciente apresentando apenas hepatomegalia ao exame físico. Alguns portadores de esteatose muito intensa referem desconforto no quadrante superior direito do abdome, além de náuseas e discreta icterícia. Já a esteato-hepatite alcoólica geralmente se manifesta com uma ampla gama de sinais e sintomas! Anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia acentuada constituem a síndrome clássica de apresentação. Cumpre ressaltar que a hepatite alcoólica também pode ser assintomática, sendo reconhecida apenas por alterações laboratoriais sugestivas num paciente com história de etilismo importante. Ascite e hemorragia digestiva por rotura de varizes esofagogástricas complicam até 30% dos casos de hepatite alcoólica aguda, mesmo na ausência de cirrose pré-estabelecida. Tal fato é explicado por uma hipertensão porta “transitória”, decorrente do edema hepatocelular difuso. Casos graves de hepatite alcoólica aguda são mais propensos a desenvolver infecções bacterianas intercorrentes (ex.: pneumonia, ITU, bacteremia), e a falência hepática fulminante pode ser a primeira manifestação em alguns doentes. Varia entre um quadro leve e reversível até uma doença com risco de morte. Em sua maioria, os pacientes com doença moderada estão desnutridos e apresentam fadiga, febre, icterícia, dor no hipocôndrio direito, tendência a hepatomegalia e, algumas vezes, sopro hepático. Cerca de 40% da exteriorização clínica ocorre após hospitalização, com consequências que variam desde leves (p. ex., piora da icterícia) até graves (p. ex., ascite, encefalopatia portossistêmica, sangramento varicoso, falência hepática com hipoglicemia e coagulopatia). Outras manifestações da cirrose podem estar presentes. Na cirrose alcoólica o paciente cursa com manifestações clínicas inerentes a qualquer quadro de cirrose, isto é, sinais e sintomas das síndromes de falência hepatocelular (icterícia, encefalopatia, hipoalbuminemia, coagulopatia, ginecomastia, aranhas vasculares) e hipertensão porta (esplenomegalia, ascite, varizes esofagogástricas). Uma lesão independente do dano hepático, porém clássica do alcoolismo (e, por conseguinte, altamente sugestiva de etiologia alcoólica para a cirrose), é a contratura palmar de Dupuytren. Se compensada, pode ser assintomática. O fígado geralmente está pequeno; quando aumentado de tamanho, esteatose hepática ou hepatoma devem ser considerados. Os sintomas variam desde os relacionados com hepatite alcoólica até os da doença hepática terminal, como hipertensão portal (geralmente com varizes esofágicas e sangramento do trato gastrintestinal superior, esplenomegalia, ascite e encefalopatia portossistêmica). A hipertensão portal pode provocar shunting arteriovenoso intrapulmonar com hipoxemia (síndrome hepatopulmonar), que causa cianose e baqueteamento digital. Pode-se desenvolver insuficiência renal aguda secundária à progressiva queda do fluxo sanguíneo renal (síndrome hepatorrenal). Há desenvolvimento de carcinoma hepatocelular em cerca de 10 a 15% dos pacientes com cirrose alcoólica. O alcoolismo crônico, em vez da doença hepática, causa a contratura da fáscia palmar de Dupuytren, aranhas vasculares, miopatia e neuropatia periférica. Em homens, o alcoolismo crônico causa sinais de hipogonadismo e feminização (p. ex., pele macia, ausência de calvície, ginecomastia, atrofia testicular e alterações nos pelos pubianos). Desnutrição pode provocar múltiplas deficiências vitamínicas (p. ex., de folato e tiamina), aumento das glândulas parótidas e unhas esbranquiçadas. Em alcoólatras, encefalopatia de Wernicke e psicose de Korsakoff são resultantes da deficiência de tiamina. Pancreatite é comum. A hepatite C ocorre em > 25% dos alcoólatras; esta combinação piora significativamente a progressão da doença hepática. HEPATITE - EQUISTOSSOMOSE A esquistossomose é uma doença infecciosa parasitária granulomatosa causada por espécies de Schistosoma, sendo que três principais infectam os seres humanos: Schistosoma mansoni, Schistosoma haematobium e Schistosoma japonicum. Cada espécie tem seu hospedeiro, de modo que a sua distribuição é definida de acordo com o habitat dos respectivos caramujos. O S. mansoni e o S. haematobium necessitam dos caramujos de água- -doce Biomphalaria e Bulinus como hospedeiro, respectivamente, ao passo que o S. japonicum utiliza o caramujo Oncomelania spp. PARA RELEMBRAR: A transmissão para o homem ocorre por meio do contato com água contaminada pelas cercárias (forma larval infectante do S. mansoni). A penetração cutânea das espécies de Schistosoma geralmente é assintomática, mas pode ocorrer dermatite pruriginosa em alguns casos. Após a penetração, as cercárias perdem sua cauda bifurcada e, na forma de esquistossômulos, penetram os capilares e os vasos linfáticos. Após vários dias, o verme migra para o sistema venoso portal, onde sofre maturação e se acasala. Aos pares, então, migram para as veias mesentéricas superiores. A produção de ovos inicia-se de 4 a 6 semanas após a infecção e permanece, geralmente, por 3 a 10 anos (vida média do parasita adulto), embora em alguns casoso parasita possa permanecer até 40 anos nos seus hospedeiros humanos. Os ovos migram do lúmen vascular para os tecidos adjacentes, gerando uma resposta inflamatória local. Muitos deles atravessam a mucosa intestinal e são eliminados nas fezes. O ciclo de vida completa-se quando os ovos eclodem, liberando os miracídios, que, por sua vez, infectam algumas espécies específicas de caramujos em água-doce (espécie Biomphalaria, no caso do S. mansoni); estes, infectados, liberarão cercárias na água. A esquistossomose hepatoesplênica resulta da resposta imune do hospedeiro à presença dos ovos do Schistosoma e da reação granulomatosa desencadeada pelos antígenos que eles secretam. Esse processo inflamatório e granulomatoso pré-sinusoidal vai, progressivamente, sendo substituído por fibrose. Há relatos de que esse processo pode, posteriormente, afetar os vasos pós-sinusoidais. A intensidade e a duração da infecção determinam a quantidade de antígeno liberado e a gravidade da doença fibrótica obstrutiva crônica. O granuloma destrói o ovo, mas resulta em um depósito fibrótico nos tecidos do hospedeiro. A maioria dos granulomas desenvolve-se em sítios de acúmulo máximo dos ovos – intestino e fígado –, no caso do S. mansoni. No entanto, os granulomas periovulares têm sido encontrados em diversos tipos de tecidos, como pele, pulmões, cérebro, adrenais e músculo esquelético. Estudos imunogenéticos sugerem que o polimorfismo genético do receptor do interferon-gama influi na gravidade da doença hepática, implicando uma predisposição genética. A esquistossomose hepatoesplênica é mais prevalente em jovens (10 a 30 anos), apresentando um longo período de latência, o qual varia de 2 a 25 anos. Formas graves da doença continuam a colocar em risco a vida dos pacientes. A hepatomegalia reflete a presença da inflamação granulomatosa e ocorre precocemente na evolução na doença crônica. Depósitos de colágeno periportal resultam em obstrução progressiva ao fluxo sanguíneo hepático, hipertensão portal e, finalmente, formação de varizes, sangramento por varizes e esplenomegalia. A complicação mais grave da hipertensão portal esquistossomótica é a hemorragia varicosa, que ocorre em menos de 10% dos pacientes e cujos sítios principais são o esôfago inferior e a porção superior do estômago (cárdia e fundo). Excepcionalmente, ocorre sangramento de variz intra- abdominal peritoneal, do pedículo hepático ou periesplênico. Entretanto, há raros registros de hemorragia livre na cavidade abdominal ou de hematomas. Há evidências de que a magnitude do risco de sangramento nos não cirróticos é menor que nos cirróticos, quando comparados para o mesmo nível de pressão nas varizes. Isso indica que maiores pressões são, provavelmente, necessárias para a ruptura das varizes em pacientes cuja função hepática está preservada. Apesar dessas características clínicas, hemorragia varicosa significativa tem sido relatada, e a mortalidade relacionada ao primeiro episódio de sangramento pode alcançar 25%. As alterações hepáticas constituem as mais importantes manifestações da doença, sendo característico o quadro anatomopatológico da fibrose de Symmers. A doença é essencialmente mesenquimal e não parenquimatosa, a arquitetura dos lóbulos hepáticos não é alterada, não há hiperplasia nodular regenerativa e os sinusoides hepáticos não estão colapsados, como acontece no fígado cirrótico.Na esquistossomose, a gravidade das lesões fibróticas está relacionada à intensidade da deposição de ovos do parasita em determinado período. Existem alguns relatos de regressão espontânea da esquistossomose na sua forma hepatoesplênica. Com a instituição da terapêutica para o parasita, mais casos de regressão da doença têm sido relatados. Em modelos experimentais em ratos, foi demonstrada possibilidade de regressão da fibrose após tratamento da parasitose, principalmente nos casos de fibrose inicial (8 a 10 semanas após exposição cercariana). Objetvo 3) Conhecer as complicações da hepatite crônica (Ascite, Encefalopatia hepática, Hipertensão portal e Icterícia). ASCITE A ascite é a mais frequente das complicações da cirrose hepática, diagnosticada em torno de 50% dos pacientes em um período de observação de dez anos. Além disso, é a complicação mais frequentemente responsável pela admissão hospitalar dos pacientes cirróticos. Uma vez diagnosticada, a probabilidade de sobrevida em 1 ano é de 85%, e naqueles que não respondem à terapia diurética, em torno de 50%, em dois anos. Dessa maneira, em virtude do prognóstico ruim e do prejuízo na qualidade de vida, muitos pacientes são encaminhados para avaliação de transplante de fígado.O aparecimento de ascite em paciente sabidamente cirrótico pode resultar da própria progressão da doença, de dano hepático adicional (uso de álcool, hepatite viral, quadros infecciosos etc.) ou mesmo do desenvolvimento de carcinoma hepatocelular. Refere-se à coleção de líquido em excesso na cavidade peritoneal. De modo geral, ela se torna clinicamente detectável quando pelo menos 500 mL acumulam-se, porém muitos litros podem se acumular e causar distensão abdominal maciça. Geralmente, a ascite é um líquido seroso que tem menos de 3 g/ dL de proteína (principalmente albumina). Ainda mais importante, o gradiente de albumina do soro para a ascite é ≥1,1 g/ dL. O líquido pode conter número escasso de células mesoteliais e leucócitos mononucleares. O influxo de neutrófilos sugere que há infecção secundária, enquanto a presença de eritrócitos indica possível câncer intra-abdominal disseminado. Na ascite de longa duração, a filtração de líquido peritoneal através dos linfáticos transdiafragmáticos pode produzir hidrotórax, mais frequentemente do lado direito. Dos mecanismos fisiopatológicos para a formação da ascite, a hipótese mais aceita é a da vasodilatação arterial periférica.4 Nessa hipótese, a hipertensão portal resultaria em liberação de substâncias capazes de provocar vasodilatação arteriolar em região esplâncnica, que, por sua vez, induziria à redução do volume arterial efetivo e consequente ativação dos sistemas vasoconstritores, renina- angiotensina-aldosterona (SRAA) e sistema nervoso simpático (SNS) e, mais tardiamente, o hormônio antidiurético (ADH). Esses mecanismos seriam induzidos na tentativa de o organismo obter resposta compensatória, com maior retenção de sódio e de água e restabelecimento da homeostase. Entretanto, à medida que a doença avança, a vasodilatação arteriolar se torna mais acentuada, assim como a ativação dos sistemas de vasoconstrição, havendo retenção de sódio e água e formação de ascite e edemas. Esse mesmo mecanismo fisiopatológico ganha ainda maiores proporções nas fases mais tardias da doença, com a ativação extrema desses hormônios e dificuldade de excreção de água livre, surgindo a hiponatremia dilucional. Posteriormente, se a ativação do sistema neuro-humoral resultar em desequilíbrio, em nível renal, de substâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras, poderá ocorrer desencadeamento da síndrome hepatorrenal. A avaliação inicial do paciente com ascite deve incluir história clínica, exame físico, exames laboratoriais de sangue, urina, líquido ascítico (LA) e ultrassonografia abdominal, esta última para diagnóstico de pequenos volumes de ascite não detectados ao exame físico, assim como para estadiamento da doença e rastreamento de carcinoma hepatocelular. É importante lembrar que a ascite representa even - to tardio da doença hepática crônica, de maneira que o paciente provavelmente apresenta também ao exame físico estigmas de cirrose hepática. Ascite de pequeno volume (300 a 1.000 mL) pode ser detectada pelo to - que retal, que mostra abaulamento do fundo de saco de Douglas, situação na qual ainda não é detectada pelapropedêutica física do abdome em sua face ante - rior. A presença de abaulamento abdominal deve ser seguida da percussão dos flancos. Caso a quantidade de macicez seja maior que o usual, deve-se testar a presença de macicez móvel, que apresenta 83% de sensibilidade e 56% de especificidade na detecção de ascite. São necessários pelo menos 1,5 L de ascite para promover macicez em flancos. Caso esta não exista, o paciente tem menos de 10% de chance de ter ascite. 3 Somente com o aumento progressivo da quantidade de líquido livre, maior que 5 L, aproximadamente, é que o abdome se abaula e é possível a observação do “semicírculo de Skoda” e o “sinal do piparote”. São frequentes também os achados de hérnias inguinais, umbilicais e cicatriciais, edema de membros inferio - res e pobre estado nutricional, com consumo de mas - sa muscular. Derrame pleural, geralmente à direita, pode estar presente, assim como indícios da circulação hiperdinâmica (baixa pressão arterial e taquicardia). Ascite em virtude de cardiomiopatia pode mimetizar aquela da cirrose alcoólica. Ajudam na diferenciação, a presença de distensão venosa jugular e o reflexo he - patojugular (na cardiomiopatia cirrótica) e a concen - tração sérica do peptídio natriurético atrial (BNP). Fornece importantes informações sobre causa da ascite, presença de infecção e hipertensão portal. Embora a cirrose seja a causa da formação da ascite na maioria dos pacientes, aproximadamente 15% dos casos têm outras causas, e cerca de 5% apresentam causa mista. No diagnóstico da ascite decorrente da cirrose hepática, devem-se analisar os exames bioquímicos do sangue e os realizados no LA, obtido por punção. Considera-se ideal a obtenção do material sérico e do LA ao mesmo tempo e dentro das primeiras 24 horas da internação do paciente. Na análise bioquímica do sangue, devem-se solicitar exames que considerem o diagnóstico diferencial das ascites e que avaliem além da função hepática, a função renal, pancreática, tireoidiana e marcadores tumorais, no caso de essa hipótese ser também considerada. Assim, costumam-se solicitar nessa avaliação: hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, AST, ALT, fosfatase alcalina, gamaglutamiltransferase, proteína total e frações, tempo de protrombina e INR, amilase, glicose, colesterol, triglicérides, desidrogenase lática (DHL), TSH, T4L e outros, se necessário, por exemplo, a dosagem do BNP sérico, na suspeita de ascite por insuficiência cardíaca congestiva, 5 e dos marcadores tumorais, alfafetoproteína, CA-19-9, CEA, na suspeita de carcinoma hepatocelular e carcinomatose peritoneal. Os pacientes com ascite não devem ter os níveis séricos de CA-125 medidos, pois é um teste inespecífico, que frequentemente está elevado em pacientes com ascite e não auxilia no diagnóstico diferencial. Na análise bioquímica do LA, consideram-se exames essenciais: proteína total e albumina, glicose e DHL. Ressalta-se que são de importância funda - mental as dosagens da proteína total no diagnóstico diferencial das ascites e o da albumina, no cálculo do gradiente de albumina soro-ascite (GASA), uma vez que esse valor tem elevada especificidade de correlação com a hipertensão portal, quando ≥ 1,1g/dL. Outros exames, auxiliadores no diagnóstico diferencial, poderão ser solicitados, por exemplo, marcadores tumorais para exclusão de ascite carcinomatosa e dosagem da amilase e da adenosina deaminase (ADA), nas hipóteses da presença de ascite pancreática e da decorrente da peritonite tuberculosa, respectivamente. Na avaliação diagnóstica do LA, faz-se necessário também o exame bacteriológico, devendo-se enviar 10 mL de LA em frascos de hemoculturas para cultivo de bactérias aeróbias e anaeróbias. Além desses exames, a análise da leucometria do LA é de extrema importância, uma vez que é considerada o exame - -padrão no diagnóstico da peritonite bacteriana espontânea, outra importante complicação da cirrose. HIPERTENSÃO PORTAL A hipertensão portal (HP) é uma síndrome clínica caracterizada pelo aumento de pressão no sistema porta, com consequentes alterações hemodinâmicas esplâncnicas e sistêmicas, que originam as principais complicações das hepatopatias crônicas, tais como hemorragia digestiva alta, ascite e peritonite bacteriana espontânea, síndrome hepatorrenal, encefalopatia hepática e síndrome hepatopulmonar. Todas essas complicações clínicas da HP relacionam-se fundamentalmente à formação de veias colaterais e à circulação hiperdinâmica em nível esplâncnico e sistêmico. A veia porta, formada pela junção das veias mesentérica superior e esplênica, drena sangue do trato gastrintestinal, do baço e do pâncreas para o fígado. Nos sinusoides, canais sanguíneos localizados no reticuloendotélio, o sangue das vênulas portais terminais se mistura com o sangue proveniente das arteríolas hepáticas. O sangue então segue dos sinusoides, via vênulas hepáticas, para a veia cava inferior. A pressão portal normal é entre 5 e 10 mmHg (7 a 14 cm/H2O), o que excede a pressão da veia cava inferior em 4 a 5 mmHg (gradiente venoso portal). Valores mais elevados são definidos como hipertensão portal. A hipertensão portal resulta principalmente do aumento na resistência ao fluxo de sangue na veia porta. Uma causa comum dessa resistência é doença dentro do fígado; causas incomuns são obstrução da veia esplênica ou portal e fluxo venoso hepático prejudicado ( Causas mais comuns de hipertensão portal). O aumento do fluxo portal é uma causa rara, apesar de geralmente contribuir como um dos fatores na hipertensão portal dos cirróticos e nas doenças hematológicas que causam esplenomegalia maciça. A causa intra-hepática dominante é a cirrose, responsabilizada pela maioria dos casos de hipertensão portal. Muito menos frequentes são as condições de hipertensão portal não cirrótica, como a esquistossomose, a transformação gordurosa maciça, as doenças granulomatosas necrosantes (p. ex., sarcoidose e tuberculose miliar) e as doenças que afetam a microcirculação portal, exemplificadas pela hiperplasia regenerativa nodular. A hipertensão portal na cirrose resulta da resistência aumentada ao fluxo portal no nível dos sinusoides e compressão das veias hepáticas centrais pela fibrose perivenular e nódulos parenquimatosos expansivos. Anastomoses entre os sistemas arterial e portal nos septos fibrosos também podem contribuir para a hipertensão portal, impondo pressão arterial ao sistema venoso hepático de baixa pressão. Na cirrose, fibrose tissular e regeneração causam aumento da resistência sinusoidal e das vênulas portais terminais. Entretanto, outros fatores potencialmente reversíveis também contribuem, como contratilidade das células sinusoidais, produção de derivados vasoativos (p. ex., endotelinas e óxido nítrico), vários mediadores sistêmicos determinantes da resistência arteriolar e, possivelmente, edema hepatocitário. Outro fator importante na causa da hipertensão portal é o aumento do fluxo sanguíneo venoso portal resultante da circulação hiperdinâmica. Isso é causado pela vasodilatação arterial na circulação esplâncnica, resultado primariamente da produção aumentada de óxido nítrico (NO) no leito vascular. Ocorre em resposta à diminuição da eliminação de DNA bacteriano absorvido pelo intestino, que contorna as células de Kupffer devido ao desvio de sangue da circulação portal para a circulação sistêmica. A presença do DNA bacteriano promove produção elevada de NO. Na cirrose hepática, assim como na hipertensão portal não cirrótica, é o aumento da resistência vascular ao fluxo portal que provoca o aumento da pressão portal. Na tentativa de descomprimir o sistema portal, ocorre comunicação entre a circulação portal e a sistêmica. Os locais mais comuns de aparecimento de colateraisportossistêmicas são: submucosa do esôfago e estômago (varizes esofagogástricas); submucosa do reto (varizes retais); parede abdominal anterior (circulação colateral); veia renal esquerda (shunt esplenorrenal). Com o desenvolvimento de hipertensão portal, a veia umbilical, normalmente ocluída na idade precoce, torna-se permeável. O sangue do sistema venoso portal é, então, drenado através das veias periumbilicais até a veia umbilical, e até as veias da parede abdominal, tornando-as proeminentes (“cabeça de Medusa”). A mais característica das complicações da HP é certamente a hemorragia digestiva alta varicosa (HDAV). Entre as possíveis localizações de veias colaterais unindo o sistema porta à circulação sistêmica, as mais importantes são as https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/estrutura-e-fun%C3%A7%C3%A3o-do-f%C3%ADgado#v896789_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/hipertens%C3%A3o-portal#v897877_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/hipertens%C3%A3o-portal#v897877_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/fibrose-e-cirrose/cirrose varizes gastroesofágicas. As colaterais na região retal podem resultar em varizes hemorroidárias, mas as possibilidades de sangramento são pequenas. O ligamento falciforme, que corresponde à veia umbilical obliterada, pode recanalizar ou surgirem veias paraumbelicais. A síndrome de Cruveilhier- Baumgarten consiste na conexão dessas veias com a circulação sistêmica, pelas veias da parede anterior do abdome, ao redor do umbigo. Além do fluxo hepatofugal, avaliado à ultrassonografia com Doppler, clinicamente, é possível auscultar um ruído nessa região ou visualizar varicosidades superficiais, conhecidas como caput medusae. Com o decorrer do tempo, a hipertensão portal leva à formação de colaterais venosos portossistêmicos. Podem diminuir ligeiramente a pressão na veia porta, mas podem causar complicações. Vasos submucosos engurgitados (varizes) na porção distal do esôfago e, algumas vezes, no fundo gástrico, podem romper causando sangramento GI súbito e catastrófico. O sangramento raramente acontece, a não ser que o gradiente venoso portal seja > 12 mmHg. Congestão vascular mucosa gástrica (gastropatia hipertensiva portal) pode causar sangramento digestório agudo ou crônico, independentemente da presença de varizes. Colaterais de parede abdominal visíveis são comuns, mas veias que se espalham a partir do umbigo (cabeça de Medusa) são mais raras e indicam fluxo intenso nas veias umbilicais e periumbilicais. Colaterais venosos perirretais podem se transformar em vasos varicosos e sangrar. Quando a veia umbilical recanalizada atinge grande calibre, produz um sopro característico: o sinal de Cruveilhier- Baumgarten. A circulação colateral superficial pode ser do tipo porta (a partir da região umbilical) ou do tipo cava inferior (direção cranial). Os vasos colaterais portossistêmicos desviam o fluxo venoso portal que iria para o fígado. Portanto, menos fluxo sanguíneo alcança o fígado quando ocorre aumento do fluxo portal (reserva hepática diminuída). Além disso, substâncias tóxicas do intestino são desviadas diretamente para a circulação sistêmica, contribuindo para o aparecimento de encefalopatia portossistêmica. Congestão venosa consequente à hipertensão portal em órgãos viscerais contribui para o aparecimento de ascite, pela alteração nas forças de Starling. Esplenomegalia e hiperesplenismo ocorrem com frequência como resultado do aumento da pressão na veia esplênica. Trombocitopenia, leucopenia e, mais raramente, anemia hemolítica podem ocorrer. A hipertensão portal é comumente associada a um estado circulatório hiperdinâmico. Os mecanismos são complexos e parecem envolver alterações no tônus simpático, produção de óxido nítrico e de outros vasodilatadores endógenos e aumento da atividade de fatores humorais (p. ex., glucagon). Em termos fisiopatológicos, as consequências clínicas da circulação hiperdinâmica são fundamentalmente o aumento da volemia, o aumento do débito cardíaco e a queda da pressão arterial. Embora detectáveis nos estudos hemodinâmicos de qualquer tipo de hipertensão portal, apenas nas fases descompensadas ou terminais da cirrose, as manifestações clínicas da circulação hiperdinâmica tornam-se relevantes. Elas podem se agravar com o tempo ou surgir após episódios de hemorragia digestiva, infecções bacterianas ou uso de medicamentos, como os anti- inflamatórios não esteroides. As consequências mais temidas ou graves da circulação hiperdinâmica traduzem-se clinicamente pela síndrome hepatorrenal ou, então, pela síndrome hepatopulmonar, que deve ser diferenciada da hipertensão portopulmonar, menos frequente, porém, também associada à hipertensão portal. Presume-se que haja hipertensão porta quando um paciente com doença hepática crônica tem circulação colateral, esplenomegalia, ascite ou encefalopatia portossistêmica. Prova requer a medição do gradiente de pressão venosa hepática, que se aproxima da pressão portal, por um cateter transjugular; no entanto, esse procedimento é invasivo e geralmente não é feito. Exames de imagem podem ajudar quando há suspeita de cirrose. A ultrassonografia ou a TC geralmente revelam colaterais intra-abdominais dilatadas e o Doppler pode determinar tanto a patência quanto o fluxo portal. Varizes esofagogástricas e gastropatia hipertensiva portal são mais bem diagnosticadas pela endoscopia, que pode, inclusive, identificar achados preditores de sangramento por varizes esofagogástricas (p. ex., presença de manchas avermelhadas vivas). ENCEFALOPATIA HEPÁTICA A encefalopatia hepática (EH) faz parte do espectro de manifestações psíquicas e neurológicas do paciente com doença hepática aguda ou crônica. Essas manifestações vão desde uma simples alteração do sono até coma hepático profundo, e são induzidas, principalmente, por causas metabólicas. Em pacientes com doença hepática crônica, episódios agudos de encefalopatia geralmente são desencadeados por eventos reversíveis. Os mais comuns são: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/sangramento-gi/varizes https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/sangramento-gi/varizes https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/encefalopatia-portossist%C3%AAmica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-do-ba%C3%A7o/esplenomegalia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-do-ba%C3%A7o/esplenomegalia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/ascite https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/encefalopatia-portossist%C3%AAmica I. Estresses metabólicos (p. ex., infecções; distúrbios hidreletrolíticos, especialmente hipopotassemia; desidratação; uso de diuréticos); II. Condições que aumentam as proteínas intestinais (p. ex., sangramentos GI, alta ingestão proteica); III. Uso de depressores não específicos cerebrais (p. ex., álcool, analgésicos e sedativos); As alterações neuropsíquicas da EH são, sobretudo, de origem metabólica, mas podem envolver atrofia e/ou edema cerebral. Apesar das constantes pesquisas realizadas para o conhecimento da EH, não seconhece, até o momento, o mecanismo exato de sua patogênese. Os fatores metabólicos que contribuem para o desenvolvimento de EH serão revistos neste tópico. O mais aceito é que substâncias nitrogenadas de origem intestinal afetariam adversamente a função cerebral, sendo a principal delas a amônia. Além disso, pode haver um papel da ativação excessiva de receptores gabaérgicos (GABA) com aumento de sua ação inibitória no sistema nervoso central. As alterações metabólicas capazes de deflagrar a EH não agem de forma isolada no dano à função cerebral. Em pacientes portadores de hepatopatia crônica, outras alterações concomitantes podem ocorrer de modo a alterar as funções neuropsíquicas. Estas incluem: 1. Redução da oferta de oxigênio, resultante de complicações como hemorragia gastrointestinal, sepse e liberação de citocinas inflamatórias. 2. Alterações funcionais e anatômicas do SNC como em etilistas, usuários de substâncias psicoativas, e pacientes com doença de Wilson. 3. Implantação de TIPS (shunt portossistêmico transjugular intra-hepático), que pode precipitar EH em cerca de 30% dos pacientes. 4. Eventos diversos, como administração de sedativos e distúrbios hidroeletrolíticos. ➢ Classificação da EH conforme a doença de base A EH pode ser classificada em: • Tipo A: resultante de insuficiência hepática aguda. • Tipo B: resultante de complicação de shunt portossistêmico. • Tipo C: resultante de cirrose hepática (CH). O tipo A é associado a alterações da pressão intracraniana e ao risco de herniação cerebral, e suas manifestações clínicas podem diferir dos tipos B e C, que, por sua vez, são clinicamente similares. ➢ Classificação da EH conforme as manifestações clínicas A EH pode ser dividida conforme a gravidade de suas manifestações clínicas. Embora essa divisão tenha sido proposta inicialmente para fins de pesquisa, tem sido instituída de forma frequente, visando regularizar a avaliação entre examinadores. ICTERÍCIA Icterícia é a coloração amarelo-alaranjada que pode ser observada nas mucosas conjuntival e sublingual e na pele, em decorrência da elevação das concentrações séricas de bilirrubina. Detectável a partir de 2,5 a 3,0 mg/dL (42,8 a 51,3 mmol/L), pode ser sutil ou bastante evidente, a depender da coloração da pele, das condições de iluminação, da sensibilidade do observador e da fração de bilirrubina que se encontra elevada. As concentrações séricas normais de bilirrubina são: ➢ METABOLISMO DA BILIRRUBINA Quando as hemácias “envelhecem” (em média, após 120 dias em circulação), tornando-se muito frágeis para subsistir no sistema circulatório, elas acabam sendo sequestradas e destruídas na polpa vermelha do baço. A hemoglobina (Hb) liberada é fagocitada pelos macrófagos esplênicos e de outros órgãos (chamados, em conjunto, de sistema reticuloendotelial). A Hb é então dividida em globina e heme. Este último é clivado, fornecendo dois produtos principais: (1) ferro livre, que é transportado no sangue pela transferrina ou incorporado à ferritina dos macrófagos; e (2) protoporfirina, uma cadeia de quatro núcleos pirrólicos que serve de substrato para a formação de bilirrubina. Cerca de 85% da bilirrubina formada é proveniente da Hb, sendo o restante derivado de outras proteínas que contêm heme, como, por exemplo, o citocromo P450 e a mioglobina. A primeira substância formada a partir da protoporfirina é a biliverdina, mas esta é rapidamente reduzida à bilirrubina livre insolúvel, que é liberada dos macrófagos para o plasma. A bilirrubina livre imediatamente se combina com a albumina plasmática, para manter a sua solubilidade, sendo transportada dessa forma na corrente sanguínea. A bilirrubina ligada à albumina é chamada de bilirrubina indireta ou não conjugada. A bilirrubina não conjugada ligada à albumina chega ao hepatócito e se dissocia, penetrando a célula e ligando-se a proteínas citoplasmáticas (de forma a impedir seu retorno ao plasma). (Captação). A bilirrubina não conjugada é insolúvel em água e precisa ser convertida num derivado hidrossolúvel, para que possa ser excretada do hepatócito para a bile. Este processo é efetuado no citoplasma do hepatócito, por conjugação da bilirrubina com o carboidrato glucoronídeo, realizada pela importante enzima glicuronil-transferase. Uma vez conjugada ao glucoronídeo, a bilirrubina passa a ser chamada de bilirrubina direta ou conjugada. (Conjugação). A bilirrubina conjugada agora precisa sair do hepatócito e ganhar os canalículos biliares. Este processo é chamado de excreção e depende de ATP. Por isso, como já dito, constitui a etapa limitante do metabolismo da bilirrubina, e é a primeira a ser afetada quando de um distúrbio do hepatócito. Qualquer alteração desta etapa significa acúmulo de bilirrubina direta no hepatócito, que então “regurgita” de volta para o plasma. A Bilirrubina Direta (BD) excretada pelo hepatócito ganha os canalículos, dúctulos e ductos biliares, juntamente com os outros componentes da bile. A bile é secretada e armazenada na vesícula biliar. Como sabemos, o destino da bile é ser eliminada na luz do duodeno, pela papila de Vater. Após o seu aparecimento na luz intestinal, a bilirrubina direta pode seguir dois caminhos: 1- ser excretada nas fezes; 2- ser metabolizada em urobilinogênio (maior parte). Uma vez no intestino grosso, cerca de 50% da bilirrubina conjugada é convertida em urobilinogênio (uma substância altamente hidrossolúvel) pelas bactérias intestinais no cólon ascendente. Uma pequena parte do urobilinogênio é reabsorvida pela mucosa intestinal de volta ao fígado e corrente circulatória de onde é excretada pelos rins através da urina em quantidade que não excede 4 mg/dia. Por isso, todo exame de urina (EAS) apresenta positividade para urobilinogênio (mas não para bilirrubina). Após exposição da urina ao ar, o urobilinogênio se oxida em urobilina, enquanto nas fezes, após oxidação, transforma-se em estercobilina, contribuindo para as colorações características da urina e das fezes. Parte do urobilinogênio que chega ao fígado é excretado novamente na bile. Nas situações em que a excreção hepática está aumentada, como na produção exagerada de bilirrubina (hemólise), os níveis de urobilinogênio urinários podem subir muito, tornando a urina um pouco mais escura (não tanto como na bilirrubinúria). Nas situações em que a secreção hepatobiliar estiver reduzida (hepatite, colestase), ou quando a flora bacteriana estiver suprimida (uso de antibióticos), os níveis de urobilinogênio fecais tendem a estar baixos, e as fezes tendem a ficar claras (hipocolia ou acolia fecal). Em condições normais, a bilirrubina não é detectável na urina por métodos convencionais. A BI, em virtude de estar fortemente ligada à albumina (e também por ser insolúvel em água), não é filtrada pelo glomérulo normal. Já a BD, nas condições em que circula no sangue, é filtrada no glomérulo e acaba aparecendo na urina. Portanto, a hiperbilirrubinemia direta acarreta bilirrubinúria. É interessante a capacidade dos sais biliares aumentarem a filtração renal de BD. Na síndrome colestática (incapacidade de drenar a bile recém-produzida), o elevado nível plasmático de ácidos biliares facilita a excreção de BD pelos rins, provocando intensa bilirrubinúria, quando a urina adquire “cor de Coca-Cola” (colúria). MANEJO DO PACIENTE ICTÉRICO A formação da bile pelo fígado serve para duas funções principais. Primeiro, a bile constitui a principal via para eliminação de bilirrubina, colesterol em excesso e xenobióticos que são insuficientemente hidrossolúveis para serem excretados na urina. Segundo, os ácidos biliares secretados e as moléculas de fosfolipídios promovem a emulsificação da gordura da dieta na luz do tubo digestório. A formaçãoda bile é um processo complexo que pode ser facilmente interrompido por uma gama de lesões hepáticas. Assim, icterícia, a alteração amarela da cor da pele e escleras (icterus), ocorre devido à retenção sistêmica de produtos da bilirrubina em valores séricos acima de 2,0 mg/dL (o valor normal em adultos é abaixo de 1,2 mg/dL). A esclerótica é o local onde mais comumente se identifica um quadro de icterícia. A pigmentação desta estrutura é atribuída à sua riqueza em elastina, que possui especial afinidade pela bilirrubina. A icterícia deve ser distinguida de outras causas de pigmentação amarela, como a hipercarotenemia, que se deve à existência de pigmentos carotenoides na corrente sanguínea, estando associada à coloração amarela da pele, mas não das escleróticas. ➢ ICTERÍCIA NO CIRRÓTICO A icterícia no paciente cirrótico decorre de alterações em diversas etapas do metabolismo da bilirrubina. Há perda de capacidade de transporte das bilirrubinas conjugadas, bem como liberação das bilirrubinas hepatocitárias para a circulação pela agressão aos hepatócitos, em razão da hepatopatia crônica de base. Além disso, parte das bilirrubinas oriundas do baço é desviada do fígado pelas vias colaterais portossistêmicas. Mesmo quando seguem o fluxo para o interior do fígado, deparam com um sistema sinusoidal capilarizado, isto é, empobrecido de fenestras, e, assim, com menores chances de adentrarem os hepatócitos. Como agravantes, a esplenomegalia pela hipertensão portal incrementa a hemocatérese, e a redução volumétrica de parênquima hepático diminui a capacidade de o indivíduo conjugar a bilirrubina. Objetvo 8) Entender o manejo acerca das complicações da hepatite crônica (tratamento). Uma anamnese e exame físico cuidadosos, além de exames bioquímicos e hematológicos de rotina, são essenciais. Na medida da necessidade, exames de maior complexidade, maior custo e/ou maior invasividade poderão ser empregados. ➢ ANAMNESE: ❖ Idade: a prevalência de hepatite A diminui com a idade, ao contrário das doenças neoplásicas. ❖ Profissão: contato com ratos (leptospirose íctero- hemorrágica), proximidade a bebidas alcoólicas. ❖ História familiar: icterícia, hepatite, anemia, esplenectomia, colecistectomia. ❖ Contatos de risco: profissionais de saúde, profissionais de creches ou escolas, usuários de drogas intravenosas, tatuagens, tratamentos odontológicos, uso de medicamentos ou plantas medicinais, ingesta de frutos do mar, ou viagens a áreas endêmicas de hepatite. ❖ Há dispepsia prévia, intolerância a alimentos gordurosos ou cólica biliar? →→→ Coledocolitíase? ❖ Houve cirurgia prévia nas vias biliares? →→→ Cálculo residual? Estenose traumática? Hepatite pós-transfusional? ❖ Há queda progressiva do estado geral, emagrecimento e icterícia progressiva, principalmente em pacientes com mais de 50 anos, sem haver história de cólica biliar? →→→ Neoplasia periampular? ❖ Sangue oculto fecal →→→ Neoplasia periampular? Metástases hepáticas de um tumor de cólon? ❖ Há febre, calafrios e cólica biliar (Tríade de Charcot) + hipotensão e alteração do nível de consciência (Pêntade de Reynolds) →→→ Colangite por litíase ou estenose biliar? ❖ Ausência de colúria e hipocolia fecal: icterícia hemolítica? ❖ Há prurido? →→→ Pensar em colestase. ❖ Mulher de meia-idade, obesa, com história familiar positiva: coledocolitíase? ➢ EXAME FÍSICO: ❖ Tipo de icterícia: Rubínica (alaranjada) → Leptospirose (disfunção hepatocelular + vasodilatação cutânea). ❖ Exame geral: Anemia → Hemólise? Câncer? Cirrose? Há estigmas de insuficiência hepática crônica? Há indícios de etiologia alcoólica? (procurar entumescimento de parótidas, contratura palmar de Dupuytren, sinais de pelagra etc. ❖ Exame do estado mental: Inversão do ciclo sono-vigília (dorme de dia e não dorme de noite)? Desorientação temporoespacial + flapping + hálito hepático → Encefalopatia hepática (icterícia hepatocelular). Questionário CAGE → Alcoolismo? ❖ Alterações cutâneas: Equimoses → Distúrbio de coagulação por deficit de síntese hepática? Petéquias → Trombocitopenia (Cirrose hepática? Hipertensão portal?) Telangiectasias, eritema palmar, linhas brancas transversais nas unhas (sinal de Muercke = hipoalbuminemia), diminuição de pilificação secundária → Cirrose. Xantomas e xantelasmas → colestases crônicas. ❖ Exame do abdome: Circulação colateral (“cabeça de medusa”) → Hipertensão portal (cirrose?) Ascite → Hipertensão portal (cirrose?). Neoplasia intra- abdominal? Fígado de volume reduzido → Exclui colestase extra- hepática. Sopro arterial sobre o fígado → Hepatite alcoólica? Carcinoma hepatocelular? Ponto cístico doloroso + Sinal de Murphy (interrupção da inspiração à palpação) → Colecistite aguda? Vesícula palpável indolor (ou mesmo visível – Sinal de Courvoisier) + Icterícia → Neoplasia periampular. Toque retal é essencial (tumor de reto?). ➢ AVALIAÇÃO LABORATORIAL: ❖ Os exames laboratoriais incluem dosagem sérica de bilirrubinas, hemograma completo e “hepatograma”. ❖ Diante de um paciente clinicamente ictérico, devemos em primeiro lugar confirmar o aumento sérico das bilirrubinas, notando o tipo predominante (BD x BI). ❖ Se a hiperbilirrubinemia for à custa de BI, devemos de imediato seguir um algoritmo de investigação de hemólise, mantendo como diagnósticos diferenciais as síndromes resultantes da deficiência de conjugação da bilirrubina (Gilbert e Crigler- Najjar). ❖ Se a hiperbilirrubinemia for à custa de BD, devemos manter em mente duas possibilidades: Lesão dos hepatócitos (síndrome de lesão hepatocelular) ou Obstrução das vias biliares (síndrome de colestase). ❖ O “hepatograma” é dividido entre as enzimas hepáticas e as provas de função hepática. As enzimas são as transaminases (aminotransferases), como a ALT (TGP) e a AST (TGO). ALT (TGP) = alanina aminotransferase ou transaminase glutâmico- pirúvica; AST (TGO) = aspartato aminotransferase ou transaminase glutâmico-oxalacética. ❖ Na síndrome de lesão hepatocelular (hepatite aguda), encontramos grande aumento das transaminases (5-20x) e pouco aumento da fosfatase alcalina e da gama-GT. ❖ Já na síndrome de colestase (coledocolitíase, por exemplo) encontramos exatamente o inverso: pouco ou nenhum aumento das transaminases (2- 3x) e grande aumento da fosfatase alcalina e da gama-G. Os níveis séricos aumentados de fosfatase alcalina e gama-GT confirmam a existência de colestase, mas não definem o local da obstrução. Lembrar que a atividade da Fosfatase Alcalina (FA) também pode estar aumentada em distúrbios ósseos e na gestação, por isoformas diferentes. Da mesma maneira, é importante lembrar que a atividade da Gama Glutamil-Transpeptidase (GGT) pode ser exacerbada por certos medicamentos ou pelo álcool (mesmo na ausência de um distúrbio hepático) – como esta enzima não é encontrada no osso, valores normais indicam que o aumento da FA é de origem óssea. Conclusão: A FA e a GGT devem ser analisadas em conjunto. ❖ Os ácidos biliares séricos constituem um indicador muito sensível de colestase, mas este teste não costuma ser disponível. ❖ Os maiores níveis de aminotransferases são observados nas hepatites virais, hepatite isquêmica e na intoxicação por paracetamol. Nas obstruções biliares agudas por cálculo há um predomínio inicial e transitório das aminotransferases em relação às enzimas canaliculares, quadro que se inverte passados alguns dias (isto é, o aumento é inicialmente maior em ALT/AST do que em FAL/GGT, mas, depois, predomina o aumento de FAL/GGT sobre ALT/AST). ❖ Quando a AST se eleva mais que a ALT, numa relação > 2:1, devemos pensar em hepatite alcoólica. Outras possíveis causas são esteato- hepatite não alcoólica, hepatite fulminante por doença de Wilson
Compartilhar