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(11) AS VARIEDADES LINGUAƒÆ’A‚A STICAS (1)

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AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Dialetos são as variedades que ocorrem em função das pessoas que usam a língua, ou seja, dos emissores.
VARIAÇÃO GEOGRÁFICA OU REGIONAL
. Representa a variação que acontece entre pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma língua.
Exemplos: Jerimum e abóbora - Macaxeira e mandioca.
VARIAÇÃO HISTÓRICA OU DIACRÔNICA
. Corresponde às alterações sofridas pela língua ao longo do tempo, quanto à forma de falar, à grafia e sentido das palavras etc.
Exemplo - Há pessoas que ainda usam: ir ao banho de mar em vez de ir à praia; vestidos de roupa de banho em vez de calção ou sunga, biquíni; carregando guarda-sol em vez de barraca. Pegarão uma constipação em vez de um resfriado; vão andar no passeio em vez de passear na calçada.
VARIAÇÃO SÓCIO-CULTURAL
. Deve-se às variações percebidas na própria organização social em termos de cultura e situação econômica dos falantes. 
- Eu o conheço desde o tempo em que éramos colegas no colégio.
- O sinhô vai armoçá gorinha mesmo? Não faiz mar, nós vorta despois.
VARIAÇÃO DE FAIXA ETÁRIA
- Você podia dizê, cara, que eu errei.
- Não me queira mal. Eu errei.
VARIAÇÃO DE GÊNERO (MASCULINO/FEMININO
DOIS ESTILOS DE FALAR
HOMEM MULHER
	É objetivo, vai direto ao ponto.
	Diz o que tem a dizer de maneira indireta.
	Segue menos a gramática e utiliza expressões vulgares.
	Fala mais corretamente, usando muitos adjetivos, advérbios e eufemismos.
	Só usa adjetivos como lindíssimo e charmoso em situações de menos importância.
	Emprega lindíssimo, charmoso, adorável nas situações mais variadas.
	Adota interjeições fortes: raios, droga e palavrões. 
	Diz: “Ai, meu Deus, não me diga, puxa vida”. 
	Faz pausas ao longo da frase para organizar o que dirá em seguida.
	Interrompe as frases com né, então, heim, sabe, para planejar a fala.
	Termina as frases em tom grave, afirmativo
	Encerra com entonação crescente, como se esperasse confirmação.
	Usa um tom constante, inexpressivo, para não deixar fluir a emoção.
	Alterna muito graves e agudos porque joga bastante emoção na voz.
	Fala o que quer dizer (não é preciso ler nas entrelinhas
	Manda uma mensagem com as palavras e outra com a voz.
	
	
	EXEMPLO:
- Cara, comprei uma camisa transada para ir à festa.
	EXEMPLO
- Nossa, comprei uma blusinha linda!
VARIAÇÃO DE ACORDO COM A FUNÇÃO
Representa a variação na língua decorrente da função que o falante desempenha. O Português não apresenta variações significativas nessa dimensão.
Exemplo:
“Nós queremos que o povo desta cidade se sinta seguro. Por isso reforçamos e aparelhamos nossa polícia para que possa dar maior segurança aos cidadãos”.
 
Registros são as variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, ou como preferem alguns, dependem do recebedor, da mensagem ou da situação.
GRAU DE FORMALISMO
Representa uma escala de formalidade, entendida como um maior cuidado e apuro no uso dos recursos da língua.
VARIAÇÃO DE MODO
Entende-se a língua falada em contraposição à língua escrita.
	FALA 
	ESCRITA
	ESPONTÂNEA
	PLANEJADA
	EVANESCENTE 
	DURADOURA
	GRANDE APOIO CONTEXTUAL
 
	AUSÊNCIA DE APOIO CONTEXTUAL
	FACE A FACE 
	INTERLOCUTOR DISTANTE
	REPETIÇÕES/REDUNDÃNCIAS/
TRUNCAMENTOS/DESVIOS
	CONTROLE DE SINTAXE/DAS REPETIÇÕES/DA REDUNDÂNCIA
	PREDOMÍNIO DE ORAÇÕES COORDENADAS 
	PREDOMÍNIO DE ORAÇÕES SUBORDINADAS
ESTRUTURAS PRÓPRIAS DA FALA
. Formas reduzidas ou contraídas: pra (para); né (não é); taí (está aí); tá (está).
. Palavras de articulação entre idéias (repetidas em excesso) que substituem conjunções mais exatas: então; daí; e aí; que.
. Sinais utilizados na fala para orientar a atenção do ouvinte: bem; bom; veja bem; certo?; viu?; entendeu?; de acordo?; não sabe?; sabe?
. Verbos de sentido muito geral no lugar de verbos de sentido mais exato; dar, ficar, ser, dizer, ter, fazer.
. Gírias e coloquialismos: papo, enche, velho, manera, pega leve, amarra, se toca, rolando um papo, sem essa.
. Inconsistência no uso de pronomes: te, você, seu, sua, a gente, nós.
SINTONIA
Status - da pessoa a quem se dirige o falante.
Tecnicidade – é a variação que ocorre em função do volume de informações que o falante supõe ter o ouvinte sobre o assunto.
Cortesia – variação que acontece devido à dignidade que o falante considera apropriada ao seu ouvinte e /ou à ocasião.
Norma – variação que ocorre quando ao nos dirigirmos a determinado ouvinte, considerarmos o que ele julga “bom” em termos de linguagem.
Concepção da língua portuguesa ( Texto adaptado)
A estrutura gramatical das frases da língua não garante uma única possibilidade de interpretação, um único sentido.
O sentido de uma frase ou de um texto (uma piada é um texto) não depende exclusivamente das palavras e sua organização em frases.
Para se atribuir sentido a uma frase ou a um texto, além de considerar o vocabulário e a estrutura gramatical (isto é, as palavras e as relações que estas estabelecem entre si na frase), é preciso levar em conta as relações entre o texto e contexto.
Para o processo de produção de sentido são relevantes:
o contexto histórico-cultural – É o fato de pertencermos ao mesmo contexto histórico que possibilita partilharmos os conhecimentos, crenças e valores necessários à compreensão das piadas e frase comentadas 
A situação de comunicação – As circunstâncias em que acontece o uso da língua permitem aos interlocutores partilharem informações necessárias ao sentido das frases e textos. Na comunicação oral, esse papel cabe aos elementos do ambiente; na comunicação escrita, é o “suporte” do texto que cumpre essa função (jornal, revista, livro didático, folheto de propaganda etc.). 
Os interlocutores (falante e ouvinte ou autor e leitor) – Os participantes de uma interação verbal entram no jogo interlocutivo com os conhecimentos de que dispõem, sobre o mundo e sobre a língua, com determinadas intenções e objetivos, disposições e expectativas, e com as imagens mentais que fazem de si mesmos, do outro interlocutor, das suas relações naquelas circunstâncias. Por isso produzimos textos diferentes quando queremos agradar ou ofender, pedir ou ordenar; quando falamos com uma criança ou com um adulto; quando nos dirigimos ao diretor da escola ou a um amigo íntimo.
Para compreenderem e serem compreendidas, as pessoas, além do sistema lingüístico, do contexto histórico-cultural e das circunstâncias da comunicação, precisam também partilhar conhecimentos sobre o tipo de texto: em que situação social ele é usado e com que função, como ele se estrutura. O conhecimento do tipo de texto orienta o falante nas suas escolhas lingüísticas, no momento da produção e na sua expectativa e interpretação, no momento da recepção. 
Nem todas as informações necessárias à compreensão são expressas, muitas ficam
 implícitas. O ouvinte ou leitor não se prende só ao dito, só às formas e estruturas 
 lingüísticas presentes no texto, mas vai além, inferindo os não-ditos, pressupostos 
 ou subentendidos. 
Em suma, no uso da língua, entram em funcionamento e são processados outros elementos além da gramática e do vocabulário da língua. Isso significa que o sistema lingüístico tem outros componentes, outras dimensões. A língua nasce na interação e se estrutura para a interação entre os falantes. Sua dimensão interacional, comunicativa ou discursiva é decisiva na produção de sentido operada pelos falantes.
Mas não é só isso. Vimos que os falantes precisam agir, trabalhar mentalmente, na produção e na recepção de frases e textos. Essa ação dos falantes sobre o sistema lingüístico acarreta a mudança desse sistema no tempo e sua variação no espaço geográfico e na hierarquia social.a língua não é um sistema fixo e imutável;
 não é um “instrumento de comunicação” pronto para ser usado;
8) a língua muda no tempo, evolui, tem história;
 sua história ainda não acabou, ainda está se fazendo, pela ação dos falantes.
 Nem mesmo a história do dialeto padrão já está pronta e acabou. O próprio dialeto 
 padrão vai mudando com o tempo, pela ação dos falantes;
a língua não é um sistema homogêneo; varia no espaço e na hierarquia social.
ENFIM, PODEMOS SINTETIZAR COMO ELEMENTOS IMPORTANTES PARA A CONCEITUAÇÃO DE LÍNGUA:
a língua é uma sistematização estruturada simultaneamente nos planos gramatical, semântico e discursivo;
a língua é uma sistematização sujeita à ação e às condições dos falantes e, portanto, muda no tempo e varia no espaço e na hierarquia social;
a língua é um fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso;
quando produzem frases e textos, os falantes realizam determinadas ações, como perguntar, pedir, ordenar, avisar, ameaçar, prometer, provocar, irritar, humilhar, ofender, elogiar, bajular etc, que fazem parte do sentido dessas frases e textos e devem ser compreendidas pelos interlocutores
 QUE LINGUA DEVEMOS ENSINAR? Ana Maria Stahl Zilles
“A que os alunos já aprenderam em sua comunidade ou a língua de que vão precisar para o exercício pleno da cidadania? Certamente, essa última, que prefiro chamar de língua culta, a dos falantes cultos {...} A meu ver, é importante que os professores compreendam mais claramente o seu papel de formar cidadãos capazes de usar a língua com flexibilidade, de acordo com as diversas exigências da vida e da sociedade. A meu ver, isso só pode ser feito mediante a explicitação da realidade na sala de aula. Por isso, julgo de fundamental importância que se discuta abertamente a variação, que se comparem modos de falar e de escrever, que se desvelem os valores sociais atribuídos às variedades do português e se discutam as atitudes de prestígio e estigma associadas a cada forma de dizer ou de escrever o quê, para quem, em que circunstâncias, com que propósito.” (Texto adaptado)
CONHECER A NORMA PADRÃO DA LÍNGUA NÃO É APENAS UM DEVER. É, ANTES DE TUDO, UM DIREITO COMO CIDADÃOS, COM ACESSO AOS BENS CULTURAIS, POLÍTICOS E CIENTÍFICOS QUE ESTÃO CODIFICADOS NESSA MODALIDADE LINGUÍSTICA.
Referências
COSTA VAL, M. Graça. Concepção de língua. 
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2005

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