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Júlia Matos- Medicina Tutoria 1- Módulo IV Abrangências de ações em saúde: Reforma Sanitária: Iniciou-se em a rearticulação dos movimentos sociais com a ideia de melhoria da saúde pública no Brasil. Contou com a ajuda de diversos profissionais (médicos, cientistas...) em busca de uma saúde mais democrática e acessível. Os Departamentos de Medicina Preventiva (DMPs) produziu conhecimento sobre a organização da saúde pública no país. A Lei da Reforma Universitária de 1968, que incorporou a medicina preventiva no currículo das faculdades, tornou obrigatórios os DMPs. Esse novo campo da especialidade médica foi o lócus a partir do qual começou a se organizar o movimento sanitário, que buscava conciliar a produção do conhecimento e a prática política, ao mesmo tempo em que ampliava seu campo de ação, envolvendo-se com organizações da sociedade civil. No final da década de 60, desenvolve-se no Brasil uma grande crítica ao modelo contrato da doença e na medicalização e a Conferência de Alma-Ata (1978) visou discutir a necessidade da Atenção Primária na saúde mundial como direito universal do homem. Portanto, o movimento sanitário, entendido como movimento ideológico com uma prática política, constituiu-se a partir dos DMPs em um confronto teórico com o movimento preventivista liberal de matriz americana e com sua versão racionalizadora proposta pela burocracia estatal. A década de 1980 inicia-se com um movimento cada vez mais forte de contestação ao sistema de saúde governamental. As propostas alternativas ao modo oficial de atenção à saúde caracterizam-se pelo apelo à democratização do sistema, com participação popular, à universalização dos serviços, à defesa do caráter público do sistema de saúde e à descentralização. Ao mesmo tempo, o agravamento da crise da Previdência Social, em 1981, resultou no lançamento do chamado “pacote da previdência”, que previa o aumento das alíquotas de contribuição, a diminuição dos benefícios dos aposentados e a intervenção na área da assistência médica da Previdência Social. Foi nesse contexto que teve origem o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp). Funções do Conasp (1981): organizador e racionalizador da assistência médica Instituiu medidas moralizadoras da saúde, definindo parâmetros assistenciais para os hospitais. O movimento sanitário buscou ajuda em todos os espaços públicos e de poder, influenciando lideranças do País. Em 1986, há a realização da 8º Conferência Nacional de Saúde, cujo presidente foi Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Oswaldo Cruz. Esse evento é considerado o momento mais significativo do processo de construção de uma plataforma e de estratégias do “movimento pela democratização da saúde em toda sua história”. Júlia Matos- Medicina Foi na 8ª Conferência Nacional de Saúde, entre 17 e 21 de março de 1986, em Brasília, que se lançaram os princípios da Reforma Sanitária. Nessa Conferência, que contou com a presença de mais de quatro mil pessoas, evidenciou-se que as modificações no setor da saúde transcendiam os marcos de uma simples reforma administrativa e financeira. Havia necessidade de uma reformulação mais profunda, com a ampliação do conceito de saúde e sua correspondente ação institucional. Assim, foi na 8ª Conferência Nacional de Saúde que se aprovou a criação de um Sistema Único de Saúde, que se constituísse em um novo arcabouço institucional, com a separação total da saúde em relação à Previdência. Enquanto se aprofundavam as discussões sobre o financiamento e a operacionalização para a constituição do Sistema Único de Saúde, em julho de 1987, criou-se o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds), que tinha também como princípios básicos: a universalização, a equidade, a descentralização, a regionalização, a hierarquização e a participação comunitária. Cabe lembrar que, antes da criação do Sistema Único de Saúde, o Ministério da Saúde desenvolvia quase que exclusivamente ações de promoção da saúde e prevenção de doen- ças, como campanhas de vacinação e controle de endemias. A atuação do setor público na chamada assistência médico-hospitalar era prestada por intermédio do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), autarquia do Ministério da Previdência e Assistência Social, e a Assistência à Saúde desenvolvida beneficiava apenas os trabalhadores da economia formal, segurados do INPS e seus dependentes, não tendo caráter universal (SOUZA, 2002). O Sistema Único de Saúde (SUS): O Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública. Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo o território nacional, com direção única em cada esfera de governo. O SUS não é, porém, uma estrutura que atua isolada na promoção dos direitos básicos de cidadania. Insere-se no contexto das políticas públicas de seguridade social, que abrangem, além da Saúde, a Previdência e a Assistência Social. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III. Participação da comunidade. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal de 1988, obedecendo ainda a princípios organizativos e doutrinários, tais como: » universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; » integralidade de assistência, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; » equidade; Júlia Matos- Medicina » descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera de governo; » conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; » participação da comunidade; » regionalização e hierarquização. Na Lei n. 8.142/90, ficou estabelecido que a Conferência Nacional de Saúde (CNS) fosse realizada a cada quatro anos, “com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formulação de políticas de saúde nos níveis correspondentes, convocadas pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por este ou pelo Conselho de Saúde”. Resultados do SUS: Os resultados obtidos pelo SUS nestes vinte anos são inquestionáveis: » A estratégia Saúde da Família iniciou o ano de 2010 com 30.300 equipes prestando serviços de atenção primária em saúde em mais de 5.000 municípios e cobertura de 96 milhões de habitantes (SIAB). Com esse resultado, tem havido uma redução significativa da mortalidade infantil, a ampliação do número de consultas de pré-natal, a diminuição da desnutrição e ampliação da adesão à vacinação. » O Brasil eliminou o sarampo, em 2007; interrompeu a transmissão da cólera, em 2005, da rubéola, em 2009, e a transmissão vetorial de Chagas, em 2006. » Foram reduzidas as mortes de outras 11 doenças transmissíveis, como tuberculose, hanseníase, malária e Aids. » O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atende 105 milhões de brasileiros e oferece uma resposta rápida à população. » As políticas brasileiras de saúde também reforçam a luta contra o tabaco e nosúltimos anos reduziram o percentual de fumantes no país 15%. » O SUS consolidou-se como o principal fornecedor de medicamentos e o mercado de genéricos está crescendo com o aumento de novos registros de medicamentos. » O Sistema Nacional de Transplantes é hoje respeitado pela sociedade brasileira, pelos pacientes e pela comunidade transplantadora. Graças a esse trabalho, o Brasil figura hoje no segundo lugar em número absoluto de transplantes realizados ao ano em todo o mundo. Foram realizados, em 2009, 20.200 transplantes, sendo mais de 90% pelo SUS. » Entre as políticas desenvolvidas pelo SUS com maior reconhecimento nacional e internacional, destaca-se o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (PN-DST/Aids), que tem como principal missão reduzir a incidência e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/Aids. » O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país que tem um dos mais completos e bem-sucedidos programas de imunizações do mundo, constituindo-se em poderosa ferramenta de controle de doenças transmissíveis imunopreveníveis. O País consegue garantir altos índices de cobertura vacinal, atingindo de forma estável e universal todos os segmentos populacionais. Esses objetivos vêm sendo obtidos pelo trabalho intenso e contínuo das três Júlia Matos- Medicina esferas de gestão do SUS, que incorporaram entre suas prioridades o Programa Nacional de Imunizações, realizado por meio de campanhas nacionais e rotineiramente nas 30.280 salas de vacina do País. » É importante também destacar o enorme esforço realizado recentemente pelo SUS, que desencadeou em 2008 a maior campanha de vacinação já realizada no mundo, passo importante para a eliminação da Síndrome da Rubéola Congênita. Em cinco meses, foram imunizadas mais de 67,2 milhões de pessoas, atingindo 95,8% de cobertura. O Brasil é reconhecido internacionalmente como uma referência no setor da saúde por causa dessas e outras iniciativas do modelo de saúde brasileiro. O setor deve ser visto ainda, como um espaço de produção, desenvolvimento, criação de empregos e de riqueza para a nação e como fator imprescindível ao desenvolvimento. As normas operacionais do SUS: A partir das definições legais estabelecidas pela Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica de Saúde, iniciou-se o processo de implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) de forma pactuada entre o Ministério da Saúde, CONASS e Conasems. Esse processo foi orientado pelas Normas Operacionais do SUS, instituídas por meio de portarias ministeriais. Tais normas definiram as competências de cada esfera de governo e as condições necessárias para que estados e municípios pudessem assumir as novas atribuições no processo de implantação do SUS. Desde o início do processo de implantação do SUS, foram publicadas as seguintes Normas Operacionais Básicas: NOB-SUS 01/91, NOB-SUS 01/92, NOB-SUS 01/93 e NOB- -SUS 01/96. Em 2001, foi publicada a primeira Norma Operacional da Assistência a Saúde (NOAS- -SUS 01/01), que foi revista e publicada em 2002, como Norma Operacional da Assistência à Saúde 2002 (NOAS-SUS 01/02). As Normas Operacionais Básicas foram instrumentos utilizados para a definição de estratégias e movimentos tático-operacionais que reorientavam a operacionalidade do Sistema Único de Saúde, a partir da avaliação periódica de sua implantação e desempenho. Entre os objetivos das Normas Operacionais pode-se destacar: » induzir e estimular mudanças no SUS; » aprofundar e reorientar a implementação do SUS; » definir objetivos estratégicos, prioridades, diretrizes e movimentos tático-operacionais; » regular as relações entre seus gestores; » normatizar o SUS. A norma operacional Básica do SUS de 1991: A Norma Operacional Básica do SUS 01/91 (NOB-SUS 01/91) foi editada pela Resolução do Inamps n. 258, de 7 de janeiro de 1991, e reeditada com alterações pela Resolução do Inamps n. 273, de 17 de julho de 1991. Os principais pontos da NOB-SUS 01/91 foram: Júlia Matos- Medicina » equiparou prestadores públicos e privados, no que se refere à modalidade de financiamento, que passou a ser, em ambos os casos, por pagamento pela produção de serviços; » centralizou a gestão do SUS em nível federal (Inamps); » estabeleceu o instrumento convenial como a forma de transferência de recursos do Inamps para os estados, Distrito Federal e municípios; » considerou como “municipalizados” dentro do SUS os municípios que atendessem os seguintes requisitos básicos: e. criação dos Conselhos Municipais de Saúde; f. criação do Fundo Municipal de Saúde; g. Plano Municipal de Saúde aprovado pelos respectivos Conselhos; h. Programação e Orçamentação da Saúde (PROS) como detalhamento do Plano de Saúde; i. contrapartida de recursos para a saúde do seu orçamento; j. constituição de Comissão de Elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) com o prazo de dois anos para a sua implantação; NOB n. 01/1992: Tinha como objetivos: normatizar a assistência à saúde no SUS, estimular a implantação , o desenvolvimento o funcionamento do sistema; e dar forma concreta e instrumentos operacionais à efetivação dos preceitos constitucionais da saúde. NOB n. 01/1993: Institucionalizou as Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite, criando dessa forma um sistema decisório compartilhado pelas diferentes instâncias federativas, além de impulsionar a municipalização mediante as habitações em gestão incipiente, parcial e semiplena. Criou a transferência regular e automática (fundo a fundo). Habilitou municípios como gestores. Possibilitou a constituição das Comissões Intergestores Bipartite (de âmbito estadual) e Tripartite (nacional), como importantes espaços de negociação, pactuação, articulação, integração entre gestores. Fragilizou o papel dos estados, mas esses, ainda assim, passaram a assumir o papel de gestor do sistema estadual de saúde. NOB- 01/96: Nos municípios: Gestão Plena da Atenção Básica; Gestão Plena do Sistema Municipal; Nos estados: Gestão Avançada do Sistema Estadual; Gestão Plena do Sistema Estadual. 1- Induzir e estimular mudanças no SUS; 2- Aprofundar e reorientar a implementação do SUS; Júlia Matos- Medicina 3- Regular relações com os gestores; 4- Normatizar o SUS. NOAS 2001/2002- Tipos de gestão: a) Gestão plena de atenção básica, em que o município recebe um montante para financiar a AB per capita; b) Gestão plena do Sistema Municipal, em que o município recebe um montante para o custeio do seu município. c) Regionalização- PDR- plano diretor de regionalização; d) Ampliação das ações em saúde, de combate à tuberculose, saúde da mulher, saúde bucal.... Pacto pela Saúde (2006): Era compreensão dos gestores estaduais que o processo normativo do SUS necessitava contemplar a ampla diversidade e diferenças do nosso país e que a elaboração de uma nova norma deveria contribuir para a construção de um modelo de atenção que considerasse os princípios do SUS, sob a égide da responsabilidade sanitária, adequada à realidade de cada estado e região do País, integrando ações de promoção à saúde, atenção primária, assistência de média e alta complexidade, epidemiologia e controle de doenças, vigilância sanitária e ambiental, a reafirmação da importância das instâncias deliberativas CIB e CIT e o fortalecimento do controle social. Outros pactos: Em defesa do Sus e Pacto pela vida. Júlia Maria Guimarães Matos Tutoria 1- Módulo IV Abrangênciade Ações em saúde: Principais leis e atos normativos que estruturaram o SUS: Para efeito de melhor entendimento das funções do SUS e de detalhes nas alterações evolutivas de sua construção, é importante enfatizar os conceitos de gestão e de gerência atualmente adotados na área da saúde: » Gerência – administração de uma unidade (simples ou complexa) ou de um órgão de saúde que se caracterizam como prestadores de serviço. Exemplos: ambulatório, hospital, hemocentro, centro de referência, instituto, fundação; » Gestão – a atividade e a responsabilidade de comandar um sistema de saúde (municipal, estadual ou nacional), exercendo para isso funções tais como as de coordenação, articulação, negociação, planejamento, programação, financiamento, regulação, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria. Normas Operacionais: NOB – 01/91: Suas principais características: » equipara prestadores públicos e privados. Trata, portanto, as Secretarias estaduais e municipais apenas como prestadoras. » O Inamps continua como o único gestor, de fato. » Nos estados, a função de gestão ainda é muito incipiente: continuam essencialmente como prestadores. » Início da municipalização com as transferências de Unidades Básicas Estaduais e até mesmo federais para a gerência dos municípios, somando–se àquelas já existentes, sem, entretanto, constituírem–se em redes. »Os municípios mantêm–se como gerentes de unidades e, portanto, como prestadores. » Estados e municípios, como gerentes de serviços, aliam–se aos demais prestadores privados para negociarem com o Inamps (único gestor) questões de interesse comum, como valores de tabelas. 19 Legislação Estruturante do SUS »Para operacionalizar o repasse fundo a fundo, cria a Unidade de Cobertura Ambulatorial (UCA), valor unitário, que, multiplicado pela população, definia o teto financeiro anual a ser transferido. NOB 01/92: A NOB 01/92 tinha como objetivos: normatizar a assistência à saúde no SUS, estimular a implantação, o desenvolvimento e o funcionamento do sistema e dar forma concreta e instrumentos operacionais à efetivação dos preceitos constitucionais da saúde. Os principais pontos da NOB 01/92 foram: i) planejamento; ii) financiamento da assistência à saúde no SUS; iii) estímulo à “municipalização” do SUS e às ações de saúde coletiva; iv) Júlia Maria Guimarães Matos investimentos na Rede; v) sistemas de informação; vi) controle e avaliação; vii) processo de municipalização para repasse de recursos e viii) produtividade e qualidade. A referida NOB instituiu o Índice de Valorização de Qualidade (IVQ) a ser concedido e repassado aos hospitais integrantes da rede do SUS (públicos, contratados e conveniados). Criou o Fator de Estímulo à Gestão Estadual que se destinava a reajustar os valores repassados aos estados habilitados, para a modernização e reposição de equipamentos nos hospitais. Por meio dessa Norma, foi criado o Pró-Saúde, caracterizado como um programa que tinha como principal objetivo a reorganização dos serviços de saúde com a participação das três esferas de governo. NOB 01/93: Formalizou os princípios aprovados na 9ª Conferência Nacional de Saúde – realizada em 1992 com o tema central “a municipalização é o caminho” – e desencadeou um amplo processo de municipalização da gestão com habilitação dos municípios nas condições de gestão criadas (incipiente, parcial e semiplena). As principais contribuições da Norma Operacional Básica do SUS 01/93 foram: » criou a transferência regular e automática – fundo a fundo – do teto global da assistência para municípios em gestão semiplena; » descentralizou a gestão das ações e serviços de saúde para os municípios, possibilitando a habilitação para o recebimento de recursos fundo a fundo; » definiu o papel dos estados de forma frágil, mas esses, ainda assim, passaram a assumir o papel de gestores do sistema estadual de saúde; » criou as Comissões Intergestores Bipartite (de âmbito estadual) e referendou a Comissão Técnica criada em 1991, denominando-a de Comissão Intergestores Tripartite (nacional), como importante espaço de negociação, pactuação, articulação, integração entre gestores (União, estados e municípios). A principal inovação em relação à política vigente no período 90/92, no que se refere ao financiamento da assistência médica ambulatorial e hospitalar, constituiu-se na habilitação imediata de municípios na condição de gestão semiplena, rompendo a relação financeira do governo federal com estados e municípios caracterizada pelo pagamento de serviços prestados, substituindo-a pelo repasse fundo a fundo de recursos. NOB 01/96: Os objetivos gerais da Norma Operacional Básica 01/96 foram: » promover e consolidar o pleno exercício, por parte do poder público municipal, da função de gestor da atenção à saúde de seus habitantes com a respectiva redefinição das responsabilidades dos estados, Distrito Federal e União; » caracterizar a responsabilidade sanitária de cada gestor, diretamente ou garantindo a referência, explicitando um novo pacto federativo para a saúde; » reorganizar o modelo assistencial, descentralizando aos municípios a responsabilidade pela gestão e execução direta da atenção básica de saúde; Júlia Maria Guimarães Matos » aumentar a participação percentual da transferência regular e automática (fundo a fundo) dos recursos federais a estados e municípios, reduzindo a transferência por remuneração de serviços produzidos; » fortalecer a gestão do SUS, compartilhada e pactuada entre os governos municipais, estaduais e federal, por meio das Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite como espaços permanentes de negociação e pactuação entre gestores. Entre as principais características observadas na NOB-SUS 01/96 destacam-se: » transferência, aos municípios habilitados como Plena da Atenção Básica, dos recursos financeiros com base per capita relativos a essa responsabilidade, criando o Piso Assistencial Básico (PAB) repassado fundo a fundo de forma regular e automática, e com base em valor nacional per capita para a população coberta; » reorganização da gestão dos procedimentos de média complexidade ambulatorial (Fração Ambulatorial Especializada – FAE); » reorganização da gestão dos procedimentos de alta complexidade ambulatorial com a criação da Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo (Apac); » incorporação das ações de vigilância sanitária, criando o incentivo para as ações básicas de Vigilância Sanitária; » incorporação das ações de Epidemiologia e Controle de Doenças; » promoção da reorganização do modelo de atenção, adotando-se como estratégia principal a ampliação de cobertura do Programa de Saúde da Família e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, com a criação de incentivo financeiro; » aprimoramento do planejamento e definição de orientações para a elaboração da Programação Pactuada e Integrada (PPI); » definição das responsabilidades, prerrogativas e requisitos das Condições de Gestão Plena da Atenção Básica e Plena de Sistema Municipal de Saúde, para os municípios, e Avançada do Sistema Estadual e Plena de Sistema Estadual, para os estados. Em 1997, foi instituída algumas alterações na NOB 96, as quais foram: » o conceito original do PAB foi modificado. Deixou de ser Piso Assistencial Básico e passou a ser chamado de Piso da Atenção Básica, ampliando sua abrangência; » a Portaria/GM n. 1.882/97 definiu uma parte fixa e uma parte variável do novo PAB; » o valor nacional da parte fixa do PAB foi definido em R$ 10 per capita/ano a ser transferido fundo a fundode forma regular e automática aos municípios habilitados na NOB-SUS 01/96; » foi criado o “valor máximo” da parte fixa do PAB, estipulado em R$ 18 por habitante/ano, na reunião da CIT de 27 de janeiro de 1998; » foi criada a parte variável do PAB, que correspondia a incentivos destinados às seguintes ações e programas: k. Programa de Agentes Comunitários de Saúde; Júlia Maria Guimarães Matos l. Programa de Saúde da Família; m. Programa de Combate às Carências Nutricionais; n. Ações Básicas de Vigilância Sanitária; o. Assistência Farmacêutica Básica; p. Ações Básicas de Vigilância Epidemiológica e Ambiental; NOAS 2001: O objetivo da NOAS-SUS 01/2001 era “promover maior equidade na alocação de recursos e no acesso da população às ações e serviços de saúde em todos nos níveis de atenção”. Estabeleceu o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade. Instituiu o Plano Diretor de Regionalização (PDR) como instrumento de ordenamento do processo de regionalização da assistência em cada estado e no Distrito Federal, baseado nos objetivos de definição de prioridades de intervenção coerentes com a necessidade da população e garantia de acesso dos cidadãos a todos os níveis de atenção à saúde. A Norma preconiza que o PDR deve ser elaborado na perspectiva de garantir o acesso aos cidadãos, o mais próximo possível de sua residência, a um conjunto de ações e serviços vinculados a: a. assistência pré-natal, parto e puerpério; b. acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil; c. cobertura universal do esquema preconizado pelo PNI para todas as faixas etárias; d. ações de promoção da saúde e prevenção de doenças; e. tratamento de intercorrências mais comuns na infância; f. atendimento de afecções agudas de maior incidência; g. acompanhamento de pessoas com doenças crônicas de alta prevalência; h. tratamento clínico e cirúrgico de casos de pequenas urgências ambulatoriais; i. tratamento dos distúrbios mentais e psicossociais mais frequentes; j. controle de doenças bucais mais comuns; k. suprimento e dispensação dos medicamentos da farmácia básica. NOAS 2002: As principais mudanças introduzidas pela NOAS-SUS 01/02 foram: » o município-sede de módulo assistencial podia estar habilitado em Gestão Plena de Sistema Municipal quando em situação de comando único municipal ou em Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPABA) quando em situação de comando único estadual; » cabia aos estados a gerência de unidades públicas de hemonúcleos/ hemocentros e de laboratórios de referência para controle de qualidade, vigilância sanitária e vigilância epidemiológica e gestão sobre o sistema de hemonúcleos/ hemocentros (públicos e privados) e laboratórios de saúde pública; » era prerrogativa dos estados habilitados na NOAS-SUS 01/02 receber a transferência regular e automática dos recursos correspondentes ao financiamento per capita do conjunto mínimo de serviços de média complexidade (M1) em regiões ou microrregiões Júlia Maria Guimarães Matos qualificadas, nos casos em que o município-sede do módulo assistencial estivesse habilitado em GPABA. O Pacto pela Saúde: Entre as prioridades discutidas e consideradas prioritárias pelos secretários estaduais de saúde, podem ser citados: o compromisso com o SUS e seus princípios, o fortalecimento da atenção primária, a valorização da saúde e a necessária articulação intersetorial, o fortalecimento do papel dos estados e a luta pela regulamentação da Emenda Constitucional 29 e por mais recursos financeiros para a área da saúde. A Emenda Constitucional n. 29, de 13 de setembro de 2000, altera os artigos 34, 35, 156, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao ato das disposições constitucionais transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde (texto na íntegra n. 14). Foram definidas três dimensões no Pacto pela Saúde: » Pacto em Defesa do SUS; » Pacto pela Vida; » Pacto de Gestão. As prioridades do Pacto em Defesa do SUS são: 1. implementar um projeto permanente de mobilização social com a finalidade de: » mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor desses direitos; » alcançar, a curto prazo, a regulamentação da Emenda Constitucional n. 29, pelo Congresso Nacional; » garantir, a longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde; » aprovar o orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada uma delas; 2. Elaborar e divulgar a carta dos direitos dos usuários do SUS. Pacto pela Vida: O Pacto pela Vida é constituído por um conjunto de compromissos sanitários, expressos em objetivos e metas, derivados da análise da situação de saúde da população e das prioridades definidas pelos governos federal, estaduais e municipais Implementou: 1- Saúde do idoso; 2- Controle do câncer de colo de útero e de mama; 3- Redução da mortalidade materna e infantil; 4- Fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; 5- Promoção da saúde; 6- Fortalecimento da atenção primária; Júlia Maria Guimarães Matos Pacto de gestão: Contempla os princípios do SUS previstos na Constituição Federal de 1988 e na Lei n. 8.080/90. Estabelece as responsabilidades solidárias dos gestores a fim de diminuir as competências concorrentes, contribuindo, assim, para o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS. Avança na regionalização e descentralização do SUS, a partir da proposição de algumas diretrizes, permitindo uma diversidade operativa que respeite as singularidades regionais. Propõe a descentralização de atribuições do Ministério da Saúde para os estados e para os municípios, acompanhado da desburocratização dos processos normativos. Reforça a territorialização da saúde como base para organização dos sistemas, estruturando as regiões sanitárias e instituindo colegiados de gestão regional. Os objetivos do Pacto de Gestão são: » definir a responsabilidade sanitária de cada instância gestora do SUS: federal, estadual e municipal, superando o atual processo de habilitação; » estabelecer as diretrizes para a gestão do SUS, com ênfase na descentralização, regionalização, financiamento, Programação Pactuada e Integrada, regulação, participação e controle social, planejamento, gestão do trabalho e educação na saúde. Dessa forma, os blocos de financiamento federal agora são seis: » Atenção básica; » Atenção de média e alta complexidade; » Vigilância em Saúde; » Assistência Farmacêutica; » Gestão do SUS; » Investimentos na Rede de Serviços de Saúde. Júlia Maria Guimarães Matos Tutoria 2- Módulo IV Abrangência de Ações em Saúde Explicar sobre a especialidade de Medicina de Família e Comunidade: Residências multiprofissionais em saúde e em área profissional, existentes desde 1975, tiveram sua regulamentação em 2005, com a lei n 11.129, são orientadas pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir das necessidades e realidades locais e regionais, e abrangem as profissões da área de saúde: biomedicina, ciências biológicas, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social e terapia ocupacional. A Medicinade Família e Comunidade no Brasil teve, a partir de 1975, seus primeiros programas de residência médica sob denominações diversas; em 1981, passou a ser especialidade chamada de Medicina Geral Comunitária por meio de Resolução da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM); e em 2001, passou a receber a denominação de Medicina de Família e Comunidade, reconhecida pela CNRM e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Resoluções CFM 1232/86 e 1634/2002. A aplicação dos conhecimentos na prática do médico de família e comunidade é resultado de seus valores e atitudes, sendo orientada por princípios que governam suas ações diante das necessidades das pessoas, famílias e comunidades. O médico de família e comunidade deve ser um clínico qualificado, sua prática sofre influência da comunidade em que atua, é recurso de uma população definida e tem, na relação médico-pessoa, um aspecto essencial à sua prática profissional. Os princípios da Medicina de Família e Comunidade devem ser utilizados como ferramentas para a prática e a formação, fazendo com que o médico de família e comunidade, em sua atuação, preserve as características da especialidade. O médico de família e comunidade é o coordenador do cuidado das pessoas que atende, seja na equipe de cuidados primários à saúde, seja nos demais níveis do sistema. A Medicina de Família e Comunidade (MFC) é definida como a especialidade médica que presta assistência à saúde de forma continuada, integral e abrangente para pessoas, suas famílias e a comunidade; integra ciências biológicas, clínicas e comportamentais; abrange todas as idades, ambos os sexos, cada sistema orgânico e cada doença; trabalha com sinais, sintomas e problemas de saúde; e proporciona o contato das pessoas com o médico mesmo antes que exista uma situação de doença ou depois que esta se resolva. Também tem, como característica especial, o acesso do médico de família e comunidade ao domicílio das pessoas. (Rakel). Segundo Rakel, 1 a APS pode ser definida assim: • É o cuidado de primeiro contato, servindo como um ponto de entrada da pessoa para o sistema de saúde. • Inclui a continuidade, pelo fato de cuidar de pessoas na doença e na saúde ao longo de um período. Júlia Maria Guimarães Matos • É o atendimento integral, extraído de todas as disciplinas tradicionais importantes para o seu conteúdo funcional. • Tem a função de servir e coordenar todas as necessidades de saúde da pessoa. • Assume a responsabilidade pela continuidade e pelo acompanhamento individual da pessoa e por problemas de saúde da comunidade. • E um tipo altamente personalizado de prestação de cuidado. Júlia Maria Guimarães Matos Portanto, a MFC, diferentemente de outras especialidades médicas, não se explica e se aplica somente mediante atividades, e procedimentos que Júlia Maria Guimarães Matos desenvolve. E necessário que o médico de família possua uma base de conhecimentos à qual possa recorrer e que reflita sua prática diária, para que, mediante as situações do dia a dia, possa fazer uso desses princípios a fim de melhor realizar suas intervenções no cuidado às pessoas. O médico de família e comunidade encaminha o paciente quando necessário aos centros de referência do sistema cabendo a ele, no entanto, a coordenação da atenção prestada pelos outros níveis. Diversos estudos asseguram que o manejo adequado de 50 diagnósticos resolve a maioria dos problemas de saúde apresentados pela população de uma determinada região. Embora freqüentes, esses diagnósticos nem sempre são de fácil manejo e exigem muitas vezes alto grau de complexidade para serem solucionados, ainda que com baixa densidade tecnológica. Mas, sem os outros níveis do sistema funcionando de forma adequada, a medicina de família e comunidade não se sustenta e vice-versa. O canadense Mc. Whinney, considerado um dos maiores estudiosos da medicina de família definiu quatro competências próprias dessa especialidade: 1) solução de problemas não diferenciados; 2) competências preventivas; 3) competências terapêuticas (de problemas freqüentes de saúde); 4) competência de gestão de recursos. Objetivos da Medicina de Família e Comunidade: Baseada em princípios, conceitos e recomendações internacionais formalizadas pela Organização Mundial dos Médicos de Família – WONCA – a especialidade Medicina de Família e Comunidade tem por objetivos: Júlia Maria Guimarães Matos I. Atuar, prioritariamente, no âmbito da Atenção Primaria à Saúde, a partir de uma abordagem biopsicosocial do processo saúde— adoecimento; II. Desenvolver ações integradas de promoção, proteção, recuperação da saúde no nível individual e coletivo. III. Priorizar a prática médica centrada na pessoa, na relação médico- paciente, com foco na família e orientada para comunidade, privilegiando o primeiro contato, o vínculo, a continuidade e a integralidade do cuidado na atenção à saúde; IV. Coordenar os cuidados de saúde prestados a determinado indivíduo, família e comunidade, referenciando, sempre que necessário, para outros especialistas ou outros níveis e setores do sistema, mas sem perda do vínculo; V. Atender, com elevado grau de qualidade e resolutividade; VI. Desenvolver, planejar, executar e avaliar, junto à equipe de saúde, programas integrais de atenção, objetivando dar respostas adequadas às necessidades de saúde de uma população adscrita; VII. Estimular a resiliência, a participação e a autonomia dos indivíduos, das famílias e da comunidade; VIII. Desenvolver novas tecnologias em atenção primária à saúde; IX. Desenvolver habilidades no campo da metodologia pedagógica e a capacidade de auto aprendizagem; X. Desenvolver a capacidade de atuação médica, relevando seus aspectos científicos, éticos e sociais. Os Programas de RESIDÊNCIA MËDICA EM MEDICINA de FAMÍLIA E COMUNIDADE – RMMFC - são desenvolvidos no Brasil há mais de 25 anos (até 2002, sob o nome de Medicina Geral Comunitária). Espera-se que o egresso não domine apenas a teoria das doenças mas seja capaz de entender e lidar de forma responsável e competente com a saúde das pessoas, com a saúde da família e da sociedade, a partir do paradigma da integralidade. Saiba valorizar a relação médico-paciente e entenda a importância do trabalho em equipe e da participação individual e comunitária nas questões de saúde e, além disso, que saiba promover a capacidade de resposta, a resiliência dessa totalidade biopsicosocial que é o ser humano. Saiba valorizar a relação médico-paciente e entenda a importância do trabalho em equipe e da participação individual e comunitária nas questões de saúde e, além disso, que saiba promover a capacidade de resposta, a resiliência dessa totalidade biopsicosocial que é o ser humano. Atualmente existem em curso cerca de 50 programas de MFC em atividade e/ou em processo de credenciamento junto à CNRM. Tipos de demandas: Júlia Maria Guimarães Matos Demanda espontânea: é o nome dado para qualquer atendimento não programado na Unidade de Saúde. Representa uma necessidade momentânea do usuário. Pode ser uma informação, um agendamento de consulta, uma urgência ou uma emergência. Demanda programada: Gera fluxo de agenda, as agendas de médicos, enfermeiros e dentistas são organizadas de forma programada, com turnos direcionados previamente para realização de visitas domiciliares, grupos operativos, interconsultas com o Núcleo de Apoio àSaúde da Família (NASF), além das consultas clínicas, exames preventivos, pré-natal e puericultura (para médicos e enfermeiros). Demanda reprimida: são procedimentos ambulatoriais, exames, consultas especializadas e internação aguardando agendamento no município de referência, são os atendimentos não realizados. Multiprofissionais na ESF: As atribuições dos profissionais das equipes de atenção básica devem seguir as referidas disposições legais que regulamentam o exercício de cada uma das profissões. Do Auxiliar e do Técnico de Enfermagem: I - Participar das atividades de atenção realizando procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc.); II - Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; III - Realizar ações de educação em saúde à população adstrita, conforme planejamento da equipe; IV - Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS; e V - Contribuir, participar e realizar atividades de educação permanente. Do Médico: I - Realizar atenção à saúde aos indivíduos sob sua responsabilidade; II - Realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc.); III - Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; IV - Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano terapêutico deles; V - Indicar, de forma compartilhada com outros pontos de atenção, a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento do usuário; VI - Contribuir, realizar e participar das atividades de educação permanente de todos os membros da equipe; e Júlia Maria Guimarães Matos VII - Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USB. Do agente comunitário da saúde: I - Trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a microárea; II - Cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados; III - Orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis; IV - Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea; V - Acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de uma visita/família/mês; VI - Desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade; VII - Desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, por exemplo, combate à dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; e VIII - Estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como ao acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa-Família ou de qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado pelo governo federal, estadual e municipal, de acordo com o planejamento da equipe. Júlia Matos & Ilana Moreira & Hítala Brunet Tutoria 2- Abrangência de Ações em Saúde Módulo IV Tríade de Donabedian: Avedis Donabedian desenvolveu um quadro conceitual fundamental para o entendimento da avaliação de qualidade em saúde, a partir dos conceitos de estrutura, processo e resultado, classicamente considerados uma tríade, que corresponde às noções da Teoria Geral de Sistemas. Define-se a tríade como: ESTRUTURA - recursos físicos, humanos, materiais e financeiros necessários para a assistência médica. Inclui financiamento e disponibilidade de mão-de-obra qualificada. PROCESSO - atividades envolvendo profissionais de saúde e pacientes, com base em padrões aceitos. A análise pode ser sob o ponto de vista técnico e/ou administrativo. RESULTADO - produto final da assistência prestada, considerando saúde, satisfação de padrões e de expectativas. Estrutura corresponde às características mais estáveis da assistência médica ou de saúde: refere- se aos objetivos, recursos físicos, humanos, materiais e financeiros. Envolve desde estrutura física e disponibilidade de equipamentos até a capacitação dos indivíduos que prestam a assistência, passando pela organização dos serviços. Dentro dessa conceituação, cabem tanto dados numéricos em termos de recursos disponíveis quanto a qualificação profissional, qualidade do equipamento, existência de manutenção predial e de equipamentos, entre outros. É difícil quantificar a influência ou contribuição exata desse componente na qualidade final da assistência prestada, mas é possível falar em termos de tendências - estrutura mais adequada aumenta a probabilidade de a assistência prestada ser de melhor qualidade. Processo abrange, grosso modo, todas as atividades desenvolvidas entre os profissionais de saúde e os pacientes. É sobre essas relações que se obtêm os resultados da assistência. Por isso, é de onde se retiram as bases para a valoração da qualidade. Entre outros fatores, no processo aparecem os aspectos éticos e da relação médico/profissional/equipe de saúde-paciente. De certa forma, tudo o que diz respeito ao tratamento diretamente e no momento em que ele está ocorrendo pode ser considerado como processo. Resultado: produto final da assistência prestada, considerando saúde, satisfação de padrões e de expectativas. É a mudança no estado de saúde do paciente que pode ser atribuída a esse cuidado (validade atribuível). Avaliação de qualidade: Avedis Donabedian é reconhecido pelos profissionais de saúde envolvidos com a garantia de qualidade em saúde como uma autoridade em todos os aspectos dessa linha de estudo, principalmente nas questões teóricas e práticas de monitoração e avaliação de qualidade. Muitos dos conceitos citados a seguir são, portanto, provenientes de seus textos. Júlia Matos & Ilana Moreira & Hítala Brunet O conceito de qualidade em saúde envolve vários componentes, que podem ser reunidos em sete grupos, os chamados 7 pilares da qualidade1: 1. Eficácia 2. Efetividade 3. Eficiência 4. Otimização 5. Aceitabilidade 6. Legitimidade 7. Equidade Eficácia: É a capacidade da ciência e da arte do cuidado médico em oferecer o melhor sob as condições mais favoráveis. A eficácia relativa de estratégias alternativas de diagnóstico ou de terapêutica é estabelecida através de pesquisas clínicas bem controladas. A estratégia mais eficaz de tratamento é o limite superior do que pode ser alcançado, o melhor que se pode fazer sob as condições mais favoráveis e controladas. Efetividade: É a melhora alcançada, ou que se espera seja alcançada, em condições reais da prática diária em relaçãoao melhor cuidado verificado. Através da determinação da efetividade pode-se identificar o quanto o cuidado avaliado se aproxima do melhor cuidado possível, determinado nos estudos de eficácia. Efetividade: Melhora real na saúde, com o cuidado a ser avaliado Melhora ideal na saúde, com o melhor cuidado. Eficiência: Definida como a capacidade de se obter o máximo de melhora na saúde com o menor custo. Se duas estratégias em saúde são igualmente eficazes ou efetivas, a mais barata é a mais eficiente. Eficiência: Melhora esperada na saúde com o cuidado a ser avaliado Custo do cuidado É possível que, em muitas situações, pequenas melhoras no cuidado não justifiquem um aumento desproporcional no custo, o que introduz a discussão sobre a otimização dos cuidados. Otimização: O quarto pilar da qualidade pode ser definido como o mais vantajoso balanço entre custos e benefícios. Esse aspecto se torna relevante quando os efeitos do cuidado não são avaliados apenas em termos absolutos, mas relativamente ao custo do cuidado. Aceitabilidade: A aceitabilidade se refere à adaptação do cuidado de saúde aos desejos, expectativas e valores dos pacientes e suas famílias. Depende, em grande parte, da avaliação subjetiva do paciente do que seja efetivo, eficiente e ótimo. Entram também em consideração nesse ponto: a acessibilidade, a relação médico-paciente e a comodidade do tratamento. Legitimidade: A legitimidade introduz a questão social na discussão de qualidade: ao nível social, além do cuidado com o indivíduo, existe a responsabilidade com o bem-estar de todos. Frequentemente a sociedade tem uma percepção de custos bem diferente da percepção do indivíduo. A principal razão é o financiamento social da saúde por terceiros ou pelo estado. O que a sociedade considera cuidado ótimo varia, às vezes, de forma importante, da avaliação do que os indivíduos consideram ótimo. Equidade ou justiça distributiva: É o princípio que determina o que é justo na distribuição de cuidados e seu benefício entre os membros de uma população. No nível social a distribuição equitativa do cuidado em saúde é realizada de acordo com uma política social deliberada. A qualidade do cuidado em saúde é julgada de acordo com a sua conformidade a uma série de expectativas que se originam de três fontes: a ciência, que determina a eficácia; os valores e expectativas individuais, que determinam a aceitabilidade; e os valores e expectativas sociais, que Júlia Matos & Ilana Moreira & Hítala Brunet determinam a legitimidade do cuidado. Assim, a qualidade não pode ser avaliada inteiramente em termos técnicos, já que as preferências dos indivíduos e da sociedade devem ser levadas em consideração. A busca de cada um dos pilares da qualidade pode ser mutuamente reforçada, como no caso de um cuidado mais efetivo ser também o mais aceitável e o mais legítimo. Pode ocorrer também que essa busca seja conflitante entre os vários aspectos, quando então um balanço deve ser procurado. Planejamento Estratégico Situacional: Para garantir a eficiência e a viabilidade na implementação de um modelo de monitoramento e gestão, o desdobramento da estratégia considerou a adoção e a customização do Planejamento Estratégico Situacional (PES) uma metodologia de Planejamento Estratégico Público, cujos temas são os problemas públicos, sendo também aplicável a qualquer órgão para o qual os problemas a serem abordados não sejam exclusivamente o mercado, mas o jogo político, econômico e social. Essa teoria é capaz de aumentar a capacidade de previsão, por tratar-se de um cálculo que precede e preside a ação para criar o futuro. Nesse modelo, não há uma única apreciação da realidade e leva-se em conta a complexidade do sistema social, no qual a análise econômica não é considerada como única dimensão preponderante na explicação da realidade e na elaboração do plano. A definição de prioridades ocorre por meio da análise situacional, que permite identificar, formular e priorizar os problemas, abordados de acordo com as condições de saúde e os aspectos da gestão. O diálogo entre os diferentes atores, suas posições e análises contextualizadas devem se refletir nos problemas descritos, para que o exercício de formular consensualmente os planos de ação se apresente como uma oportunidade política favorável, uma vez que as ações governamentais devem ser conduzidas pela direcionalidade, superando o imediatismo da mera conjuntura. Visando à organização de intervenções e à produção de resultados sobre uma determinada realidade, o PES constitui-se em quatro etapas: • Momento explicativo: identificação e descrição dos problemas de acordo com dados objetivos, mas levando também em conta a percepção dos atores sobre os problemas analisados. Nesta etapa, a identificação das Júlia Matos & Ilana Moreira & Hítala Brunet causas e o levantamento de quais podem ser consideradas nós críticos – centros práticos de ação, oportunos à ação política, de acordo com as viabilidades. • Momento normativo: definição de objetivos a serem alcançados e resultados a serem entregues, no qual se prevê as estratégias e ações necessárias à realização, levando-se em conta a análise política, econômica e social. • Momento estratégico: análise dos recursos necessários sejam eles econômicos, administrativos ou políticos, a partir da qual deve-se intervir para se alcançar os resultados esperados. • Momento tático-operacional: programação da implementação das propostas, incluindo: cronograma, atores responsáveis e outros participantes na execução, a fim de garantir a efetividade e a eficácia de todo o processo. Faz-se necessário, ainda, prever os momentos de análise das informações prestadas acerca da evolução das metas propostas e revisão do plano, assegurando a visibilidade do processo aos atores envolvidos, e a capacidade gerencial de adaptação aos novos contextos, que podem surgir de situações imprevistas. O método conhecido como Planejamento Estratégico Situacional (PES) foi concebido por Carlos Matus, economista e ministro do governo de Salvador Allende, durante os anos em que foi preso político da ditadura militar do Chile, na década de 1970. Os principais conceitos deste método são apresentados abaixo e organizados em tópicos que procuram seguir o mesmo fio lógico do livro que é uma das obras de referência de Matus: O método PES. Júlia Matos Tutoria 2- Abrangência de ações em Saúde Módulo IV Sistemas de saúde comparados: Os Sistemas de Serviços de Saúde são compostos por arquitetura, fisiologia e instrumentos. A arquitetura é o componente que envolve toda a estrutura do sistema e os mecanismos de relações entre o próprio sistema e entre esses e os demais sistemas sociais. A Fisiologia relaciona-se com a capacidade de funcionamento do sistema com o intuito de responder socialmente às condições de vida da população. Já os instrumentos, referem- se aos recursos disponíveis pelo sistema, sejam eles tecnológicos, legais ou organizacionais, utilizados para reger e desenvolver tais funções. Os principais Sistemas de Serviços de Saúde: Sistema de Dominância de Mercado: Este modelo de sistema de serviços de saúde tem como características principais o financiamento predominantemente privado, empresas seguradoras como mediadores coletivos, prestação desempenhada por prestadores privados, escolha da empresa prestadora feita pelo cidadão pagante e regulação delegada ao mercado. Essas características refletem na verdade uma desresponsabilização do Estado com relação aos seus cidadãos, ou seja, o Estado que deveria assegurar um nível ótimo de saúde à sua população, entregaessa responsabilidade ao mercado, que através da lei da demanda e da oferta, regularia o acesso aos serviços de saúde. O exemplo clássico desse modelo é o sistema de saúde estadunidense. Os Estados Unidos têm um elevado gasto total em saúde, cerca de 14% do seu PIB (só para efeito de comparação as demais nações desenvolvidas gastam entre 7 a 9%). Desse montante, quase metade, 44%, é gasto público, e contraditoriamente 40 milhões de americanos não têm qualquer tipo de assistência assegurada à saúde. Isso pode ser explicado pelo fato desse sistema não ser universal e o Estado apenas garantir assistência, através do Medcare e Medcaid, a dois segmentos da população, que são os idosos e os pobres. O restante da população seja de forma individual, seja por meio da empresa onde trabalha, só tem assistência à saúde garantida com a aquisição de um seguro saúde. Sistema de Seguros Sociais Obrigatórios: Atualmente o modelo de seguros sociais obrigatórios é adotado na Alemanha, França e Áustria. Seu surgimento se deu na Alemanha imperial no final do século XIX e sua criação foi influenciada pelo modelo de seguro Bismarkiano. A força principal que impulsionou o surgimento desse modelo, foi a pressão dos trabalhadores alemães para a criação de um modelo de sistema de serviços de saúde que beneficiassem trabalhadores da indústria e das classes de menor poder aquisitivo. As principais características desse modelo são: cobertura de seguro obrigatório; financiamento provindo de contribuição de trabalhadores e empregadores; garantia de asseguramento aos desempregados por parte do Estado; contribuição proporcional à renda e não aos riscos individuais; maioria dos prestadores privados. Este modelo de sistema de serviços de saúde, em virtude da obrigatoriedade do seguro, garante uma cobertura quase total da assistência a saúde. Ao contrário do sistema de dominância de mercado, assegura à população um nível de assistência independente do poder de compra dos cidadãos. Júlia Matos No entanto, esse modelo de sistema de serviços de saúde só é devidamente eficiente em nações cujo índice de desemprego é relativamente baixo, sendo o gasto do Estado pequeno para a garantia aos trabalhadores desempregados. Sistema de Dominância Estatal: O sistema de serviços de saúde de dominância estatal surgiu na década de 50 no Reino Unido e é hoje adotado por vários países da união européia como Itália, Espanha e Suécia. Sua criação se deu sobre influência do Plano Beverdige, que propugnava um sistema nacional de saúde alicerçado nos princípios da universalidade e eqüidade social e geográfica, gestão democrática e planejamento das ações de saúde. As características que se destacam é a forte presença do Estado, o Estado como provedor das três macrofunções do sistema (Financiamento, Regulação e Prestação), descentralização de algumas macrofunções e definição pelo Estado da forma e do montante da extração dos recursos necessários ao seu financiamento. Está organizado através da Atenção Básica, com uma equipe de saúde responsável por um determinado número de habitantes e atuando com a função de filtro para os demais níveis do sistema. Todavia, não se pode deixar de considerar algumas desvantagens desse modelo, como as grades listas de espera, principalmente para os procedimentos de média e alta complexidade, pouca possibilidade de escolha por parte dos cidadãos e, talvez por causa disso, um baixo nível de satisfação entre os usuários. Na Itália, com a aprovação da Lei n¡ 833, de dezembro de 1978, criando o Sistema Nacional de Saúde, foi estabelecida a proteção à saúde como “interesse da sociedade”, assegurado por serviços estritamente públicos que cabe ao Estado prover. Na Espanha, a Lei n¡ 14/1986, que criou o Sistema Nacional de Saúde, define a extensão da cobertura sanitária para toda a população, pela universalização dos serviços sanitários para “todos os cidadãos em condições de igualdade”, independentemente das circunstâncias pessoais ou sociais (Guillén, 1999). Esses processos tardios de adaptação do modelo inglês na Itália e Espanha tiveram de encontrar respostas organizacionais para os desafios da demanda por atenção individualizada que afetou os sistemas nacionais, motivando a primeira onda de reforma nos anos 1980. O primeiro processo de reforma do setor saúde na Europa se desenvolveu pela implementação de uma série de diretivas macroeconômicas visando essencialmente à redução das despesas setoriais. Algumas medidas de curto prazo foram implementadas pelos governos, como o controle de preços no setor saúde, a introdução do co-pagamento no consumo de medicamentos, a redução do escopo do seguro social e a limitação do emprego no setor. As medidas de longo prazo mais importantes foram a redução da produção de médicos e outros profissionais e da disponibilidade de leitos hospitalares, além do estímulo às medidas de prevenção, na esperança de reduzir, a longo prazo, as demandas por atenção à saúde. Essas iniciativas produziram impactos importantes na estabilização das despesas públicas e na mudança do modelo assistencial, pela redução da atenção hospitalar e pelo incentivo às modalidades assistenciais de atenção primária. Porém, foram relativamente inócuas sobre o crescimento do setor e do emprego da saúde nesse período (Abel-Smith & Mossialos, 1994). Júlia Matos Argentina: Sistema de saúde descentralizado: Em 1993, o Banco Mundial recomendou que os governos dessem ênfase à privatização e à descentralização administrativa em suas estruturas de saúde para que houvesse uma melhora nos sistemas, ou seja, o Estado deveria prover apenas os serviços mais básicos de saúde, privatizando o resto. Ocorre que a maior parte dos países latino-americanos sofreu as conseqüências da não adesão a essa política econômica, já que não estavam preparados para este momento, e pouco ou nada implementaram do que foi proposto pelo Banco. O país priorizou a educação e a saúde para investimentos altos e bem estruturados. O gasto público com a saúde, por exemplo, aumentou de 4,5% para 9,5% de 2006 para 2009, de acordo com dados encontrados no portal da Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar do aumento da destinação de recursos à área, o gasto público com saúde ainda está aquém do recomendado pela OMS (o gasto é de cerca de 2% e o recomendado é de pelo menos 5%) (BIASOTO et al; 2006). O desafio a ser superado atualmente é a descentralização exacerbada que ocorreu, já que em cada comuna (equivalente a estado brasileiro) e na capital existe um ministério de saúde autônomo que decide onde e como será gasto o dinheiro, dificultando acordos nacionais e internacionais. Outro agravante é que os preços dos planos de saúde privados têm aumentado ao longo dos anos, se tornando abusivos e o serviço de saúde público ainda não se equipara aos padrões estabelecidos pela OMS (BIASOTO et al; 2006). Portanto, o sistema de saúde na Argentina é bastante diferenciado entre as comunas, já que cada uma pode decidir quase que livremente sobre sua política de saúde e seus gastos. Existe ainda a questão do investimento federal, que é bastante polarizado, oferecendo muitos recursos para poucas comunas, sobrando poucos recursos às demais, e a predominância do sistema de saúde privado sobre o público além de haver muito a ser feito no que tange à melhora em seus indicadores de saúde. Canadá: Canada Health Act O primeiro sistema de saúde em uma província canadense se deu em 1946, a partir de então outras também o fizeram e em 61 todas as dez províncias já possuíam sistemas de saúde. Em 1966, o MedicalCare Act foi instituído, permitindo que cada província mantivesse seu próprio plano de saúde e que tomasse as principais decisões a respeito e viabilizando o pagamento de seus gastos pela esfera Federal. Já em 1984 o Canadá criou uma legislação federal bastante específica, denominada Canada Health Act (CHA), que prevê que todos os cidadãos tenham acesso a serviços de saúde gratuitamente, os gastos são cobertos pelo fundo público, mas os serviços são prestados por empresas privadas (CANADA HEALTH ACT; 1985). Com mais de 35 milhões de habitantes e o segundo maior território do mundo, o Canadá se destaca nos indicadores sociais, mantendo os índices de analfabetismo, de mortalidade infantil e de natalidade baixos (MOURA; 2006). O sistema de saúde se caracteriza por ser universal e público, ou seja, não há a possibilidade de aderir a um plano de saúde, existe apenas a extensão da cobertura normal, que lha dá acesso a alguns pequenos benefícios, como ambulância e quarto privativo em um hospital, mas não importa quão rico seja o cidadão, o tratamento recebido será exatamente igual para todos. Chile: Privatização e regulação em saúde: Júlia Matos O Chile é um dos países com melhor índice de qualidade vida, é um país considerado estável, tanto político quanto economicamente, mas na área da saúde há problemas a serem solucionados (AZEVEDO; 1998). Em 1924 um sistema de saúde obrigatório aos trabalhadores foi implementado. A partir de então os Estados Unidos, em nome da atual Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), redirecionou os sistemas de saúde latino-americanos, no sentido da descentralização no provimento dos serviços, como já mencionado no estudo de caso argentino (LABRA; 2002). A Constituição de 1925 trouxe direitos e garantias fundamentais, como um sistema de saúde, mas apenas em 1939, com o então presidente Allende (1939-1941), os sistemas existentes de saúde foram unificados, ou seja, as disparidades existentes entre regiões foi amenizada e o sistema de saúde foi universalizado, sendo provido gratuitamente desde então (LABRA; 2002). A partir da década de 1970, o Estado decide privatizar a maior parte do sistema de saúde, que apresentava grandes problemas. A população não apoiou a decisão, que foi imposta assim mesmo. Esta decisão afetou bastante o país, restando ao Estado apenas fiscalizar o setor e não mais ser um provedor de serviços de saúde. Atualmente há uma forte discussão sobre a reforma na saúde, que se encontra ineficiente desde a privatização do setor. Estados Unidos: Reforma na política de saúde: As esferas municipal, estadual e federal se misturam quanto aos gastos com a saúde pública e cerca de 38% dos gastos são sanados pela esfera privada (UGÁ; 2001). Existem os seguros de saúde privados, que dominam boa parte do mercado, devido a carência e ao alto custo dos serviços públicos. Estes foram introduzidos em meados de 1980 para amenizar o insulamento do sistema público norte-americano, o que acabou gerando altíssimo custo para o governo, que sempre manteve o sistema público de saúde, para os pacientes que não possuem plano de saúde, já que as consultas e procedimentos devem ser pagos quando se usa o serviço público. A resposta ao serviço costuma ser bastante rápida e precisa e o desenvolvimento da medicina estadunidense é considerado o mais avançado mundo pela OMS (IESS; 2010). No país com um PIB elevado, um exemplo a ser seguido em tantas outras áreas, mas não na saúde e em seu sistema de saúde. Excluindo os mais pobres, os militares e os idosos, não há sistema de saúde universal, ou seja, os americanos são obrigados a obter e pagar seus próprios planos de saúde. Os Estados Unidos gastam mais do que o dobro que os países com melhor sistema de saúde, cerca de 6 mil dólares por habitante, sendo que cerca de 46 milhões de norte-americanos não são cobertos por nenhum sistema de saúde (UGÁ; 2001). A proposta de Reforma, que foi aprovada na Câmara, ainda está em tramitando para ser aprovada, propõe um sistema de saúde praticamente universal, o que melhorará muito a qualidade de vida dos não segurados até então, além disso, pretende desvincular o seguro de saúde público do vínculo empregatício, que gerava grandes divergências de opiniões (IESS; 2010). Inglaterra: O National Health System (NHS) foi criado em 1948 sob o comando do ministério da saúde e, desde então, está soba tensão política entre centralização na esfera federal e descentralização 4 na municipal. Júlia Matos Em 1970, devido à crise econômica do Petróleo, o Welfare State passou a ser criticado e responsabilizado pelos altos impostos e má administração. O Welfare State surgiu nos países europeus devido à expansão do capitalismo após a Revolução Industrial e o Movimento de um Estado Nacional objetivando a democracia. Em 1999, foi implantada a reforma da reforma do NHS com o objetivo de reafirmar a universalidade e reverter as políticas malsucedidas. A separação entre “compradores” e “provedores” de serviços de saúde foi mantida, porém com o foco no monitoramento do desempenho, e não mais na competição da qualidade e custos. Foi praticada a junção de todos os GPs em Grupos de Atenção Primária, os quais passaram a ser subordinados pelas Autoridades Sanitárias, diminuindo assim sua autonomia e desenvolvendo um processo de regionalização. Desde o nascimento do NHS, em 1948, o setor privado não deixou de existir e passou a coexistir com o setor público. As despesas em saúde privada no Reino Unido incluem apenas as despesas de consumo final em saúde por parte das famílias, capital do setor privado e instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias (UK spending, 2014). Indicadores de saúde são parâmetros utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos planejamentos de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em diversos períodos do tempo. (Rouquayrol, 1993). A expectativa de vida aumentou bastante no Reino Unido durante as últimas décadas, principalmente devido ao maior investimento em saúde e hábitos da população. A expectativa de vida no Reino Unido ao nascer é de 81 anos, sendo que as mulheres possuem uma expectativa de vida de 83 anos, enquanto a dos homens é de 79 anos. O Estado de saúde informada, outro indicador de saúde muito importante, mostra que 78% da população do Reino Unido classificamos como boa sua saúde. Levando em consideração o gênero, 79% dos homens do Reino Unido consideram boa sua saúde, enquanto 77% das mulheres consideram como boa a sua saúde. Pessoas mais velhas, pessoas desempregadas, ou as que possuem menor grau de instrução ou renda relatam menos saúde. Cuba: Em Cuba, hoje, para uma população de pouco mais de 11 milhões de habitantes, existem 13 Institutos de Pesquisa que oferecem serviços assistenciais, ensino e pesquisa; 146 Hospitais gerais e especializados; 11.466 Consultórios Médicos de Família; 131 Clínicas Estomatológicas; 122 Asilos para as Terceira Idade; 231 Casas de Avô; e 141 Maternidades, fundamentalmente criadas em zonas distantes para aproximar as grávidas dos serviços com salas de parto. Historicamente, desde o triunfo da Revolução, a ação da colaboração médica cubana internacional foi marcada, fruto do magistério de Fidel Castro, pelo atendimento humano e solidário em resposta a necessidades de saúde de países que sofreram catástrofes e desastres naturais, com falta de pessoal de saúde para ofereceratendimento à população, ou por falta de condições de instalações médico- sanitárias para levar a assistência até lugares distantes. Holanda: Júlia Matos O sistema de saúde holandês tem uma forte propensão para reformas de todas as formas e tamanhos, atingindo vários graus de sucesso em uma longa luta para conter os custos e melhorar a qualidade. Os últimos governos têm investido para facilitar a introdução de mais mecanismos baseados no mercado para alcançar esses objetivos, ao tentar defender tais valores sociais como a solidariedade através de financiamento dos cuidados e acessibilidade. Como muitos países que experimentaram esses mecanismos de mercado, o sistema de saúde holandês recebeu atenção internacional. A Reforma da Holanda de 2006, estabeleceu um mercado privado de seguros sob concorrência regulada, similar às novas trocas de seguros dos Estados Unidos. Todos os residentes nos Países Baixos são obrigados a comprar apólices de seguro, que cobrem um pacote-benefícios essenciais. As seguradoras devem aceitar todos os candidatos e espera-se que seja contratado com base em qualidade e preço. Os recursos do fundo são alocados para as seguradoras de acordo com uma fórmula de ajuste de risco destinado a eliminar os incentivos para evitar inscritos de alto custo. As pessoas com rendimentos mais baixos recebem subsídios fiscais, e seguros privados suplementar estão disponíveis. A reforma de 2006 não afetou diretamente a prestação de cuidados, apenas métodos de pagamento. A Holanda, um país pequeno, densamente povoada, tem uma forte rede de clínicos gerais (GPs), hospitais e centros de tratamento independentes que operam como instituições privadas sem fins lucrativos. Hospital e cuidados especializados (exceto cuidados de emergência) são acessíveis somente por meio de encaminhamento médico. Com uma referência, os pacientes podem escolher o seu hospital, pagando uma franquia máxima obrigatória de 375 euros (R$ 1.631,71) por ano. Praticamente todos os especialistas atuam na base hospitalar e trabalham em parcerias ou, cada vez mais, sobre o salário (25% dos especialistas, a maioria deles em hospitais universitários). A experiência holandesa mostra que a implementação de uma concorrência regulada leva tempo, é técnica e politicamente complexa, e requer muitas correções ad hoc - e que os bons resultados estão longe de ser certo. Mais praticamente, sublinha a importância do ajuste de risco, a aplicação estrita de mecanismos eficazes para o gerenciamento de subsídios, reforma e compra. O sistema continua a ser caro, em comparação com os de outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), embora o crescimento dos custos abrandou recentemente, devido à crise econômica, a introdução de orçamentos hospitalares, aquisição e farmacêutica seletiva. A Qualidade dos cuidados varia de cerca de média para muito boa em alguns indicadores (por exemplo, baixo volume de prescrições de antibióticos nos cuidados primários). Ela continua a ser vista se os governos futuros continuarão incentivando a concorrência ou optar por mais controle direto do governo, como governos passados fizeram regularmente, muitas vezes devido ao compromisso político. Mais radicalmente, este ano, a Holanda vai embarcar em mais uma reforma maciça, o que afeta diretamente a forma como os pacientes recebem os seus cuidados de longo prazo e tem como objetivo manter as pessoas autossustentável tanto tempo quanto possível. Júlia Matos Tal mudança está muito atrasada, uma vez que a Holanda tem uma das maiores taxas de institucionalização da OCDE. A maioria das formas de apoio domiciliário e assistência social se tornará a responsabilidade dos municípios, que terão grande latitude em apoio a organização e podem, por exemplo, optar por substituir outras soluções para cuidados profissionais, como os cuidados prestados por vizinhos ou voluntários. Júlia Maria Guimarães Matos Tutoria 4- Módulo 4 Abrangência de Ações em Saúde Políticas de Saúde voltadas para os indígenas: Política Nacional de Saúde aos Povos Indígenas: portaria nº 254, de 31 de janeiro de 2002. Considerando a aprovação da proposta da política mencionada, pelo Conselho Nacional de Saúde, em sua reunião ordinária de novembro de 2001, resolve: Art. 1o Aprovar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, cuja íntegra consta do anexo desta Portaria e dela é parte integrante. Art. 2o Determinar que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde, cujas ações se relacionem com o tema objeto da política ora aprovada, promovam a elaboração ou a readequação de seus planos, programas, projetos e atividades na conformidade das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas. Art. 3o Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas integra a Política Nacional de Saúde, compatibilizando as determinações das Leis Orgânicas da Saúde com as da Constituição Federal, que reconhecem aos povos indígenas suas especificidades étnicas e culturais e seus direitos territoriais. Esta proposta foi regulamentada pelo Decreto n.º 3.156, de 27 de agosto de 1999, que dispõe sobre as condições de assistência à saúde dos povos indígenas, e pela Medida Provisória n.º 1.911-8, que trata da organização da Presidência da República e dos Ministérios, onde está incluída a transferência de recursos humanos e outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da FUNAI para a FUNASA, e pela Lei nº 9.836/99, de 23 de setembro de 1999, que estabelece o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do SUS. A implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas requer a adoção de um modelo complementar e diferenciado de organização dos serviços - voltados para a proteção, promoção e recuperação da saúde -, que garanta aos índios o exercício de sua cidadania nesse campo. Para sua efetivação, deverá ser criada uma rede de serviços nas terras indígenas, de forma a superar as deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do Sistema Único de Saúde para essa população. Para que esses princípios possam ser efetivados, é necessário que a atenção à saúde se dê de forma diferenciada, levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemiológicas e operacionais desses povos. Assim, dever-se-á desenvolver e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio da adequação das formas ocidentais convencionais de organização de serviços. Antecedentes: No Brasil, a população indígena, estimada em cerca de 5 milhões de pessoas no início do século XVI, comparável à da Europa nesta mesma época, foi dizimada pelas expedições punitivas às suas manifestações religiosas e aos seus movimentos de resistência, mas, principalmente, pelas epidemias de doenças infecciosas, cujo impacto era favorecido pelas mudanças no seu modo de vida impostas pela colonização e cristianização (como escravidão, trabalho forçado, maus tratos, confinamento e sedentarização compulsória em aldeamentos e internatos). Júlia Maria Guimarães Matos Desde o início da colonização portuguesa, os povos indígenas foram assistidos pelos missionários de forma integrada às políticas dos governos. No início do século XX, a expansão das fronteiras econômicas para o Centro-Oeste e a construção de linhas telegráficas e ferrovias provocaram numerosos massacres de índios e elevados índices de mortalidade por
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