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Cefaleias Existem as cefaleias primárias – quando não está presente nenhuma outra doença subjacente – ou secundárias – quando a dor existe como sintoma de outra condição. ▪ Características semiológicas: durante a anamnese de um paciente com cefaleia, pergunta-se a localização, duração, frequência, irradiação, qualidade e tipo de dor (pulsátil, facada, pontada, pressão), sintomas associados, fatores predisponentes, agravantes e de alivio (incluindo medicamentos), história pregressa (se apresentou quadro semelhante antes), pessoal e familiar. ▪ Exame físico: inspeção da cabeça e do pescoço; palpação dos músculos cervicais e cranianos e das artérias carótidas, temporais e seus ramos; palpação dos nervos occipitais maiores, supra e infraorbitários e das raízes cervicais; exame das articulações temporo-mandibulares; pesquisa da mobilidade cervical; pesquisa de anormalidades da sudorese, das pupilas e outras alterações autonômicas na cabeça e no tronco. Tipos de cefaleia ▪ Primários 1. Cefaleia Tensional O mais comum dos distúrbios primários. São mais comuns em mulheres do que em homens e com maior frequência começam na segunda década da vida. Em ambos os sexos, a prevalência diminui com o aumento da idade. Esse tipo ocorre nas formas episódicas ou crônicas. A cefaleia do tipo tensional episódica consiste em ataques recorrentes de dor constrictiva, em aperto, bilaterais, de intensidade leve a moderada, com duração de minutos a dias. Não pioram com esforço físico rotineiro, nem estão associadas com náusea. Fotofobia ou fonofobia podem estar presentes. Na forma crônica, as cefaleias do tipo tensional ocorrem pelo menos 15 dias por mês. – Cefaleia Crônica Diária (pode ser aplicada para as outras síndromes abaixo) Pelo menos 10 crises de cefaleia com duração de 30min a sete dias. Pelo menos duas das seguintes características: localização bilateral, caráter em pressão/aperto (não pulsátil), intensidade leve a moderada, não é agravada por atividade física rotineira como caminhar ou subir degraus. 2. Enxaqueca (migrânea): Segundo distúrbio cefalálgico mais comum; afeta muito mais mulheres do que homens e aflige a população comumente durante os anos mais produtivos da vida (25 a 45 anos de idade). Causas: preocupações excessivas; jejum prolongado; dormir mal; ciclo hormonal; irritação/alteração no humor; excesso de cafeína (apesar das propriedades vasoconstrictoras da cafeína que melhoram os quadros de enxaqueca e outras dores); falta de exercícios físicos; uso excessivo de analgésicos; alimentos como frutas cítricas, chocolate, alimentos gelados, alimentos gordurosos, etc.; genética. Sabe-se que a dor é causada por sensibilização das vias sensitivas, com vasodilatação das artérias no espaço subaracnóideo e um componente inflamatório associado. Esta sensibilização é explicada por um fenômeno conhecido como ‘depressão alastrante de Leão’, uma onda de despolarização/hiperpolarização alastrando-se pelo córtex, liberando mediadores de vasodilatação e sensibilização neuronal, que explicam a dor e a aura. Categorias: Enxaqueca sem aura: mais comum, ocorre em 85% dos pacientes. Esses pacientes podem relatar sintomas padrômicos que começam 24 a 48h antes do ataque de cefaleia, sendo eles: hiperatividade, leve euforia, letargia, depressão, desejo por certos alimentos, vertigem, retenção de líquidos e bocejos frequentes. Pelo menos duas das seguintes características devem estar presentes: localização unilateral, dor pulsátil, intensidade moderada ou severa, piora com atividade física ou rotineira. Pelo menos um dos seguintes sintomas: náuseas e/ou vômitos; fotofobia e fonofobia. Enxaqueca com aura Aura: consiste em episódios transitórios de disfunção neurológica focal aparecendo 1h a 2h antes do início da cefaleia e desaparecendo em 1h. Obs.: os sintomas da aura podem ser de diferentes tipos, e mais de um tipo de sintoma pode estar presente em uma dada aura. Sintomas de aura típicos: distúrbio visual, parestesia e/ou dormência unilaterais, fraqueza unilateral, disfasia (ou outros distúrbios da linguagem). Cefaleia crônica diária: qualquer cefaleia que ocorre mais de 15 dias por mês por pelo menos um mês. O paciente típico é uma mulher com 30 a 40 anos com histórico de enxaqueca episódica ou de cefaleia do tipo tensional começando na adolescência ou por volta dos 20 anos. Com o tempo, as dores de cabeça vão aumentando gradualmente de gravidade e a frequência a ponto de serem raros os dias consecutivos livres de cefaleia. Pelo menos dois ataques de cefaleia, com características de enxaqueca com aura, com duração de 5 a 60 min., caracterizados por: sintomas visuais positivos (moscas volantes, manchas ou linhas), negativos (perda de visão homônima); sintomas sensitivos; disfasia. Obs.: algumas vezes, os sintomas de aura se localizam no tronco cerebral e podem incluir vertigem, disartria, zumbido, perda flutuante da audição, diplopia, fraqueza bilateral, parestesias bilaterais e uma diminuição do nível de consciência. Esse tipo é chamado de Enxaqueca Basilar. Obs.2: Enxaqueca complicada/com aura prolongada – ataques de enxaqueca com sintomas de aura que persistem por mais de 1h (e menos de uma semana), com estudos neuroimaginológicos normais. Um ataque de enxaqueca (com ou sem aura) consiste em 4 a 72h de dor de cabeça latejante unilateral com intensidade moderada a grave, agravada por esforços físicos e associada com náusea, fotofobia e fonofobia. Durante o estado enxaquecoso podem ocorrer períodos livres de dor de cabeça (não incluindo o sono) de menos de 4h. O estado enxaquecoso está usualmente associado com o uso prolongado de analgésicos e pode necessitar de tratamento hospitalar com desintoxicação. Tratamento: intervenções não-farmacológicas – evitar fatores desencadeantes (ex: ingestão de certos alimentos, luz brilhante, cheiros fortes) e o estabelecimento de padrões regulares de alimentação e sono - e farmacológicas. 1. Cefaleia em salvas Mais incomum; ao contrário dos pacientes enxaquecosos, os pacientes com cefaleia em salvas buscam usualmente consulta médica por causa da dor intensa que acompanha os ataques. A condição é mais comum em homens e começa usualmente da terceira até a sexta décadas de vida. As causas ainda não estão definidas, mas é comumente associada ao etilismo (esse tipo de cefaleia ocorre em 70% dos indivíduos alcoólatras) e tabagismo. Episódio acontece comumente à noite, acordando o paciente. Na forma completa da doença, pacientes com esse tipo de cefaleia relatam dor na primeira e na segunda divisão trigeminais; disfunção simpática (síndrome de Horner), ativação simpática (sudorese da fronte e da face), ativação parassimpática (lacrimejamento e congestão nasal). Episódio acontece comumente à noite, acordando o paciente. Na forma completa da doença, pacientes com esse tipo de cefaleia relatam dor na primeira e na segunda divisão trigeminais; disfunção simpática (síndrome de Horner), ativação simpática (sudorese da fronte e da face), ativação parassimpática (lacrimejamento e congestão nasal). Esses ramos passam pelo seio cavernoso e estreitamento desse seio pela dilatação da artéria carótida foi observado em pacientes com cefaleia em salvas. – No entanto, é apenas uma hipótese, a real fisiopatologia da doença ainda não foi estabelecida. Pelo menos cinco crises, sendo que a dor é muito severa; unilateral; orbitária, supraorbitária e/ou temporal;durante 15 a 180 minutos, se não tratada. A cefaleia é acompanhada de, pelo menos, um dos seguintes aspectos: hiperemia (aumento da quantidade circulante de sangue em determinado local) conjuntival e/ou lacrimejo, ipsilaterais; congestão nasal e/ou rinorréia ipsilaterais; edema palpebral ipsilateral; sudorese frontal e facial ipsilateral; miose (contração da pupila – a dilatação é midríase) e/ou ptose ipsilateral; sensação de inquietude e agitação. As crises tem frequência de uma a cada dois dias a oito por dia. 3. Hemicrania Paroxística Síndrome incomum com muitas características de cefaleia em salvas, incluindo intensidade grave, localização orbitária unilateral ou temporal e sinais autonômicos (hiperemia conjuntival, lacrimenjamento, rinorréia, etc.) ipsilaterais, No entanto, essas crises são mais frequentes e de duração mais curta (o paciente sofre ataques de várias cefaleias por dia durante dias ou semanas de cada vez). Ex: 5 vezes por dia, durando 5 a 20 minutos. Mais predominante em mulheres e responde de maneira absoluta à indometacina. Pelo menos 20 crises com dor severa, unilateral orbitária, supraorbitária e/ou temporal, durando de 2 a 30 min. Acompanha pelo menos um dos seguintes sintomas/sinais: hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento ipsilaterais; congestão nasal e/ou rinorreia ipsilaterais; edema palpebral ipsilateral; sudorese frontal e facial, miose e/ou ptose ipsilateral. As crises tem frequência superior a cinco por dia em mais da metade do tempo, embora possam ocorrer períodos de menor frequência. 4. Cefaleia Benigna da Tosse Consiste em dor de cabeça bilateral e grave inicio súbito que se segue a tosse ou a outras manobras de Valsava. É um distúrbio benigno que responde também à indometacina. No entanto, o diagnóstico dessa cefaleia exige a exclusão de lesões estruturais com a RM, pois a cefaleia pode às vezes resultar de tumores da fossa posterior ou da má formação de Chiari. 5. Cefaleia Orgásmica/por exercício físico Consiste em cefaleia latejante ou constritiva bilateral, desencadeada por esforço físico ou vários tipos de exercício, que podem persistir por vários minutos até 48h. Conduta: As cefaleias primárias são tratadas sob acompanhamento neurológico e baseadas no abortamento e prevenção dos episódios de dor. No tratamento da enxaqueca é comum o uso de antidepressivos profiláticos, betabloc, anticonvulsivante e AINES abortivos. As cefaleias tensionais normalmente melhoram com o uso de anti-inflamatórios. RED FLAGS para cefaleias secundárias Febre Sinais e sintomas de HIC (hipertensão intracraniana): cefaleia, papiledema, vômitos, diminuição do nível de consciência. Neoplasias, HIV Exame físico alterado Início após 50 anos Mudança de padrão da cefaleia (a dor ficou diferente, a duração, etc.). Esforço físico Pior cefaleia já referida pelo paciente Sinais de irritação meníngea ▪ Secundárias 1. Cefaleia pós-traumática As cefaleias atribuídas a traumatismos crânio-encefálico ou cervical são muito comuns e muito prevalentes entre as cefaleias secundárias. A lesão prévia é o fator desencadeante principal, mas outros aspectos, como alterações no metabolismo cerebral, predisposição genética e até mesmo a expectativa de desenvolver a cefaleia figuram como elementos deflagradores. Aqui as características particulares do sintoma dão lugar à associação causal. Comumente, há aparecimento dos sintomas sete dias após traumatismo, com ou sem perda da consciência. A dor pode desaparecer em três meses após a história de trauma. Caso persista, é qualificada como Cefaleia pós-traumática persistente. 2. Cefaleia relacionada à neoplasia intracraniana Os tumores do SNC não são muito frequentes, mas ainda assim os tumores intracranianos são grande motivo de preocupação. Nestes casos, a benignidade do tumor nem sempre é um sinal de bom prognóstico, visto que o cérebro não tem como dividir espaço com uma massa dentro do crânio. Existe grande variedade de sinais e sintomas nesta condição, focais e generalizados. A cefaleia aparece como o sintoma generalizado mais frequente, sendo o primeiro sintoma a aparecer em 30 a 40% dos pacientes. Não é possível distinguir um padrão especifico de cefaleia, uma vez que a depender da disposição e tamanho do tumor, várias características são admitidas. Sabe-se que estas dores são piores pela manhã e melhoram ao longo do dia devido, especialmente, à redução do retorno venoso e vasodilatação resultante da redução do ritmo respiratório. A associação entre o progresso da neoplasia e da dor é crucial. Aumento da cefaleia com evolução do tumor, melhora com tratamento efetivo da neoplasia e aparecimento do sintoma relacionado ao surgimento da massa são relações imprescindíveis. Conduta: TC e RNM são os exames complementares eficazes no diagnóstico de neoplasias. O tratamento desta patologia é muito difícil, complexo e estritamente particularizado. 3. Cefaleia Relacionada à Hemorragia Subaracnóidea (HSA) As cefaleias relacionadas à HSA merecem atenção especial, uma vez que esta condição é muito grave e comumente confundida com outras patologias, principalmente Migrânea. A HSA é uma condição emergencial, na qual 80% dos casos estão relacionados com ruptura de aneurismas saculares, localizados principalmente no polígono de Willis. Diagnóstico Duas características devem chamar atenção para esta cefaleia: Instalação abrupta e grave intensidade. É conhecida como cefaleia em “ribombar de trovão” ou Thunderclap headache, frequentemente relatada como a pior cefaleia da vida. Os sintomas associados de maior importância são rigidez de nuca, rebaixamento do nível de consciência, náuseas e vômitos. Obs.: Vale ressaltar que nem todas as HSA’s cursam com cefaleias muito intensas, e que nestes casos os sintomas associados e o exame neurológico podem direcioná-lo para a suspeita. Conduta: O paciente sob suspeita clínica de HSA deve ser encaminhado para a TC, uma vez que a não realização deste exame é a maior causa de erro diagnóstico. Caso sinais sugestivos não sejam detectados, a punção liquórica deve ser feita. A xantocromia do LCE é altamente sugestiva, mas a aparência sanguinolenta do líquido é o achado mais comum. A RMN é mais eficaz associada à realização da punção. O tratamento da HSA é cirúrgico e envolve cuidados especiais na internação do paciente. Obs.: A conduta para todas as cefaleias secundárias consiste no tratamento das doenças de base, que normalmente são emergências clínicas ou cirúrgicas.
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