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Violência intrafamiliar: na perspectiva dos homens agressores

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
CCBS - CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLOGICAS E DA SAÚDE 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
Violência intrafamiliar: na perspectiva dos homens autores de violência 
 
 
 
VANDERLEI RAMIRO DE SOUZA JUNIOR 
310.7123-6 
MARINA DOS SANTOS LEAL 
310.0318-4 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
2 
 
VANDERLEI RAMIRO DE SOUZA JUNIOR 
MARINA DOS SANTOS LEAL 
 
 
 
 
Violência intrafamiliar na perspectiva dos homens agressores 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI) apresentado a 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado no curso de Psicologia, 
sob orientação do Profª Drª Vânia Conselheiro Sequeira. 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
3 
 
Sumário 
 
I. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 
1.1. Objetivo geral ...................................................................................................................... 6 
1.2. Objetivos específicos ........................................................................................................... 6 
II. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 8 
2.1. Cultura Patriarcal ............................................................................................................. 8 
2.2. O Novo (Velho) Homem ............................................................................................... 10 
2.3. Lei Maria da Penha ........................................................................................................ 12 
2.4. Violência Doméstica ...................................................................................................... 13 
2.5. Grupos com Homens Autores de Violência Doméstica ................................................ 16 
III. MÉTODO ......................................................................................................................... 20 
3.1. Participantes ................................................................................................................... 20 
3.2. Procedimento ................................................................................................................. 20 
3.3. Instrumento .................................................................................................................... 20 
3.4. Possíveis benefícios ....................................................................................................... 21 
3.5. Possíveis riscos .............................................................................................................. 21 
3.6. Cronograma .................................................................................................................... 21 
IV. RESULTADOS ................................................................................................................. 22 
4.1. Entrevista 1: Profissional 1 ............................................................................................... 22 
4.2. Entrevista 2: Profissional 2 ............................................................................................... 23 
4.3. Grupo com homens: 1° encontro ................................................................................... 24 
4.4. Grupo com homens: 2° encontro ................................................................................... 25 
4.5. Grupo com homens: 3° encontro ................................................................................... 27 
4.6. Grupo com homens: 4° encontro ................................................................................... 29 
V.ANÁLISE ............................................................................................................................ 30 
5.1. Violência ........................................................................................................................ 30 
5.2. Lei maria da penha ......................................................................................................... 33 
5.3. Sociedade patriarcal / Poder masculino / Machismo .................................................... 35 
5.4. Casamento / Família ...................................................................................................... 37 
5.5. O Feminino na perspectiva dos homens ....................................................................... 41 
5.6. O Masculino pelos homens ............................................................................................ 43 
5.7. Masculino e Feminino na Atualidade ............................................................................ 45 
4 
 
5.8. O Grupo de Reflexão e seus resultados ........................................................................ 47 
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 49 
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 51 
VIII. ANEXOS ........................................................................................................................ 54 
8.1. ANEXO I ....................................................................................................................... 54 
8.2. ANEXO II ...................................................................................................................... 55 
8.3. ANEXO III ..................................................................................................................... 56 
8.4. ANEXO IV .................................................................................................................... 58 
8.5. ANEXO V ...................................................................................................................... 60 
8.6. ANEXO VI .................................................................................................................... 64 
8.7. ANEXO VII ................................................................................................................... 75 
8.8. ANEXO VIII .................................................................................................................. 76 
8.1. ANEXO IX .................................................................................................................. 101 
8.2. ANEXO X .................................................................................................................... 102 
8.3. ANEXO XI .................................................................................................................. 119 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
I. INTRODUÇÃO 
 
Ao nos depararmos com as mudanças que ocorreram nos últimos 60 anos, vemos o 
quanto nossa sociedade do ponto de vista social, econômico e tecnológico, se transformou, e o 
quanto isso está presente em nosso modo de viver. Dentre essas grandes mudanças estão as 
conquistas adquiridas pelas mulheres, no movimento feminista, que atribuíram a elas uma 
série de direitos que durante séculos, foram negados. 
O movimento proporcionou às mulheres uma maior inserção nos acontecimentos da 
sociedade, como o direito ao voto, liberdade de expressão, ingresso ao mercado de trabalho, e 
elas se tornaram uma expressiva mão de obra para nossa sociedade capitalista. Organizavam-
se nos coletivos feministas, que visavam, entre outras coisas, a luta pelos direitos iguais para 
ambos os sexos, isso proporcionou muitos benefícios as mulheres, visto que aindahavia 
discriminação contra a mulher, o que de certa forma ainda persiste quando observamos o 
salário de um mesmo cargo e função e o comparamos em relação ao gênero, e, encontramos, 
geralmente um salário maior para o sexo masculino. 
Do ponto de vista de uma sociedade ainda com raízes e costumes oriundos de um 
modelo patriarcal, essa mudança no lugar da mulher na sociedade é radical, o que também 
causa estranheza para muitos. Percebe-se certa crise social, de estabelecimento de papéis. 
Tal crise acometeu principalmente os homens, que vivendo em uma sociedade 
patriarcal – no qual, o “detentor de poder” é homem – tem o seu papel social questionado com 
essa nova mulher, papel esse que durante séculos, milênios, foi estabelecido e enraizado, isto 
é, uma autoridade que por tanto tempo não foi questionada, estava bem estabelecida, porém 
agora que as mulheres vêm ganhando território, o homem vem perdendo esse espaço que era 
só dele. 
 O conflito social se estende para dento das casas, pois a mesma mulher que está no 
mercado de trabalho, é aquela que ainda cuida de casa, dos filhos, da educação dos mesmos, o 
que indica uma sociedade regida por regras machistas, tendo uma sobrecarga para a mulher, 
por outro lado, o homem não perdeu a referência do estabelecido como dele, qual é o seu 
papel perante a sociedade, uma vez que a mulher tem encontrado espaço em todos esses 
setores, conseguido executá-los bem e se estabelecer nesse novo papel social. É verdade que 
temos uma mulher sobrecarregada, e um homem (re) descobrindo seu papel, em crise e 
6 
 
possivelmente, inseguro. 
Dentro deste cenário atual, temos um elemento antigo que se faz presente: a violência. 
E mais especificamente a violência doméstica. Esse elemento, que já ocorre há séculos, tem 
ganhado hoje cada vez mais visibilidade devido a uma série de fatores, que podemos colocar 
como os movimentos feministas. Tais movimentos fizeram com que aquilo que era velado, 
por uma sociedade machista, fosse exposto, quebrando esse poder, lutando pela igualdade da 
mulher. Tal modificação social seria a motivação por trás da violência acometida contra a 
mulher na atualidade? 
Historicamente havia um poder do homem sobre a mulher, e talvez essa violência que 
ocorre desde tempos remotos na humanidade, fosse naturalizada, nos constituídos como 
sociedade patriarcal. Pode-se pensar então, que mesmo com toda a modificação de 
equipamentos sociais, e emancipação da mulher, tal caráter social ainda não desapareceu. 
Há hoje diversas pesquisas que comentam o tema da violência, poucas ainda cujo 
centro tratem do homem autor de violência doméstica, mas algumas já apontam os grupos de 
reflexão e intervenção tem encontrado bons resultados. Realizar estudos sobre este fenômeno 
é crucial, intervir junto às vítimas é muito importante, porém queremos nessa pesquisa fazer 
um recorte sobre a vivência do homem e a violência. Entendemos que a vivência do ser 
humano em geral é um fenômeno que contribui essencialmente para sua tomada de decisão, 
seus pensamentos e sentimentos geram ações. Sabemos também que a cultura, a sociedade e 
sua ética, crenças e valores, também influenciam nesses elementos citados acima. 
 
1.1.Objetivo geral 
 
Tivemos, portanto, como objetivo geral dessa pesquisa compreender as vivências do 
homem autor de violência doméstica. 
 
1.2.Objetivos específicos 
 
 Mapear bibliografia sobre gênero masculino na atualidade e sobre violência conjugal; 
 Aprofundar conteúdos sobre essas temáticas; 
7 
 
 Acompanhar sessões grupais com homem em situação de violência conjugal; 
 Analisar o conteúdo que emerge nesses encontros grupais; 
 Entrevistar profissionais que trabalham com essa temática e analisar essas entrevistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
II) REFERENCIAL TEÓRICO 
 
2.1. Cultura patriarcal 
 
Alves (2009) retoma três tipos básicos de família, a patriarcal, nuclear e a atual. A que 
temos em foco é a patriarcal. Gilberto Freire (1951, 1973 apud ALVES, 2009) em seu 
trabalho, que pesquisou e fez relatos da família brasileira a partir do período de colonização, 
deixando claro como esta família foi formada a partir de um regime patriarcal e sobre 
influência da mistura das culturas indígena, europeia e africana. A família patriarca foi 
formada neste contexto, composta pelo chefe de família, o patriarca, “[...] responsável por 
cuidar dos negócios e defender a honra da família, exercendo autoridade sobre toda a sua 
parentela e demais dependentes que estivessem sob sua influência." (ALVES, 2009, p.2-3). 
Porém essas “relações patriarcais, suas hierarquias, sua estrutura de poder contaminam toda a 
sociedade, o direito patriarcal perpassa não apenas a sociedade civil, mas impregna também o 
Estado.” (SAFFIOTI, 2004). 
 
No Brasil - Colônia, "família" passou a ser sinônimo de organização familiar 
latifundiária, o que provocou a instalação dessa sociedade do tipo paternalista, em que 
as relações de caráter pessoal assumiram vital importância. Nesse contexto, Samara 
(1986) enfatiza que a família patriarcal era a base deste sistema mais amplo "por suas 
características quanto à composição e relacionamento entre seus membros, [que] 
estimulava[m] a dependência na autoridade paterna e a solidariedade entre os 
parentes. (ALVES, 2009, p.4) 
 
Pode-se perceber que a família patriarcal era o mundo do homem por excelência. 
Crianças e mulheres eram seres insignificantes e amedrontados, os homens em geral 
dispunham de infinitas regalias, desde que fosse guardada certa discrição, enquanto que às 
mulheres tudo era proibido (COTRIM, 2005, p.57). Deve-se deixar claro, que o 
patriarcalismo, assim como o machismo, não são benéficos nem para os próprios homens, 
visto que segundo a linha de pensamento dessas vertentes, homem não deve e não possui o 
direito de falhar, ele representa a carga de algo forte, viril e de provedor primário da família e 
da sociedade (SAFFIOTTI, 2004). 
9 
 
Importante se colocar que os pontos podem não ser favoráveis inteiramente aos 
homens, mas tem um maior prejuízo para as mulheres. Saffioti (2004) comenta que: 
 
“A mulher construída pelo modelo patriarcal, é incapaz de usar a razão e de ser 
detentora do poder, já que são educadas para serem dóceis, recatadas, submissas e 
essencialmente femininas. Além de sob hipótese nenhuma questionar sua inferioridade 
social. Atribuiu-se um papel a elas de prudentes e cuidadoras, deixando com que seu 
leque de atividades e possibilidades sejam bruscamente reduzidos e fazendo com que 
fique presa a uma noção de feminino estabelecida pelo masculino”. 
 
Na família nuclear brasileira, historicamente falando, eram e são raros os casais que 
agrupam mais do que a própria família nuclear em uma casa só, como genros, noras, netos, 
quando se casavam (casam), constituíam e ainda constituem a própria família, em outra casa, 
com seus próprios bens, diferente da família patriarcal, que tinha como princípio o homem 
como chefe da família, responsável por preservar a linhagem e a honra, exercendo autoridade 
sobre os demais componentes dessa família. 
 No começo do século XX ocorre a inserção feminina no mercado fabril e burocrático, 
devido a demanda e oferta, assim elas passam a exercer funções remuneradas mais o trabalho 
doméstico que já era de sua responsabilidade, historicamente. Todas as mulheres, casadas ou 
solteiras, passam a contribuir para a renda familiar. 
Antes de sua inserção e até mesmo durante, as mulheres sempre ficaram muito 
confinadas ao ambiente doméstico, responsáveis pelo cuidado dos filhos e da casa, enquanto o 
marido corria atrás dosustento da família. "Desta forma, a realização da mulher se dava 
através do marido e filhos: seu "status" social era o do marido e suas qualidades pessoais 
valorizadas pela sua capacidade de gerenciar o lar e formar os filhos para se tornarem 
cidadãos honestos e honrados para servir a sociedade." (ALVES, 2009, p.9) 
É visto que, com as mudanças sociais, onde no mundo rural ainda prevalecia 
fortemente a família patriarcal “fechada em si mesma, para uma sociedade de bases 
industriais, mesmo que incipientes, com as suas implicações de mobilidade social, geográfica 
e cultural, acarretou transformações igualmente marcantes na estrutura do modelo tradicional 
de família”. (ALVES, 2009, p.10) 
10 
 
Novos papéis para o gênero masculino têm sido designados, principalmente a partir 
dos anos 60. Ao longo da história, como pudemos ver anteriormente, o papel e 
comportamento patriarcal do homem tem sido inquestionável, sem possibilidades de gerar 
grandes conflitos ou mesmo dúvidas, podemos observar agora o papel de um novo homem, 
que tem ganhado cada vez mais espaço, não só em meios acadêmicos, mas também 
socialmente. Podemos observar essa expansão através do cotidiano, principalmente através da 
mídia e da literatura. (ALMEIDA e JABLONSKI, 2011, p.29). 
Mas apesar de todo o avanço e mudanças, ainda existe um jeito patriarcal de se pensar, 
mesmo quando apontamos lutas e conquistas, como a dos momentos feministas, ainda sim 
estão pautadas nesse tipo de sociedade. Saffioti (2004) comenta 
 
“Quanto mais avançar a teoria feminista, maiores serão as probabilidades de que suas 
formuladoras se libertem das categorias patriarcais de pensamento. Ou melhor, quanto 
mais as (os) feministas se distanciarem do esquema patriarcal de pensamento, 
melhores serão suas teorias” (p. 56). 
 
 Isto é, mostra sim que estamos pensando diferente, mas que ainda estamos muito 
presos ao modo patriarcal, isso refletido através dos tantos materiais e livros que comentam a 
identidade social dos sexos, mas ainda “a liberdade civil depende do direito patriarcal”, pois 
essa tem sido uma sociedade onde o “contrato original [...] foi um contrato entre homens, cujo 
o objeto são as mulheres”. Logo isso permeia os pensamentos de homens e mulheres, não 
sendo diferente para os autores de violência e agressão. 
 
2.2. O NOVO (VELHO) HOMEM
1
 
 
Com as mudanças que ocorreram em nossa sociedade últimos sessenta anos, 
relacionadas ao movimento feminista, houve também grandes modificações, redefinições 
naquilo que se estabelece como os papéis de homem e mulher. Passamos por um período de 
transição, portanto, um momento de crise de identidade (social), “o que se observa hoje em 
 
1
termo retirado da pesquisa de ALMEIDA, Sônia e JABLONSKI, Bernardo. O novo (velho) homem: o 
masculino nos livros de autoajuda. 2011. 
11 
 
dia são pessoas confusas e inseguras frente às variadas configurações de relacionamentos 
homem-mulher” (ALMEIDA; JABLONSKI, 2011, p.30). 
Temos então crenças sociais de que os meninos nascem, e, portanto, são assim, e vice-
versa no que diz respeito as garotas. “Por esse princípio, a cultura de cada sociedade dita aos 
meninos (e meninas), desde cedo, um amplo leque de comportamentos a serem copiados e 
apropriados como genuinamente seus” (ALMEIDA; JABLONSKI, 2011, p.30). Porém, já 
temos pesquisas que informam que tais comportamentos ditos como biológicos, na verdade 
são (muitos deles) apreendidos e repassados pela cultura. Almeida (2011, p.30) também 
comenta que tais comportamentos são imposições culturais em que aos meninos, por 
exemplo, devem se apropriar “em sua conduta de agressividade para enfrentar fatos 
cotidianos, alem de iniciativa, e em investimentos rotineiros no sexo oposto, seguindo trilhas 
que sejam condizentes com estilos de pessoas vencedoras e fortes”. 
Isso é definido como gênero, que se trata de um constructo social, e não biológico, 
“indicando que os desejos, as emoções e os comportamentos são produções de um contexto 
social, e histórico determinado” (ALMEIDA; JABLONSKI, 2011, p.30) Gomes (2002 apud 
GOMES, 2007, p.505) também nos informa que “os papéis de gênero nos são ensinados como 
próprios da condição de ser homem ou mulher, configurando-se enquanto uma imagem 
idealizada do masculino e do feminino, de modo que não percebemos sua produção e 
reprodução social”. 
 Olhando então nessa perspectiva, temos vários constructos, pertinentes de nossa 
sociedade patriarcal, que “definem” o comportamento masculino, tais como: força virilidade, 
onde o poder se encontra nas mãos do homem. Sendo ele, no modelo de família que ainda é 
estabelecido atualmente, valorizado “em detrimento da mulher legitimando, por um lado, a 
dominação do homem e por outro, a inferioridade da mulher” (GOMES, 2007, p.505). 
Esse papel solidificado e atribuído historicamente, em nossa cultura ocidental, ao 
homem, tem sido rompido, tendo seu início nos movimentos feministas em 1960-70, as 
mulheres passam, então, “a questionar os papéis que lhes são atribuídos pela condição de 
serem mulheres, na sua maioria desqualificados, opressivos, sem status e responsáveis pelo 
seu enclausuramento no âmbito doméstico”. (GOMES, 2007, p. 506) tal questionamento e 
apropriação de papéis, que antes só eram dedicado aos homens, traz aos mesmos uma 
modificação que vai permear em todos os âmbitos de seus papéis sociais, culminando em um 
questionamento “mas, afinal, o que é ser homem?” (NOLASCO, 1997 apud ALMEIDA; 
JABLONSKI, 2011, p. 31). 
12 
 
 Encontra-se em formação uma nova masculinidade, que tem como referência as 
atribuições da cultura patriarcal, porém em choque com os apontamentos feitos pela sociedade 
pós-revolução feminina. Almeida diz que “as transformações dos papéis femininos vêm 
provocando um sentimento de perplexidade e confusão na maioria dos homens, e 
consequentemente, uma oportunidade para que seus papéis sejam repensados – reafirmados 
ou reformulados” (ALMEIDA; JABLONSKI, 2007, p.31). 
Por um lado a pressão por assumir o poder, que sempre foi atribuído a esse gênero, do 
outro, vivencia um momento de radicais transformações sociais, que inferem numa 
modificação de comportamento, devido a ocupação da mulher em papéis antes dados somente 
ao masculino. Isto é, “a identidade masculina está em crise” (SOUZA, 2004, p. 60). Souza 
(2004, p. 60) também comenta, que tal “crise de identidade masculina, [...] estaria 
transformando as formas dos homens se situarem e se comportarem no mundo”. 
Tal “discussão de gênero, introduzida por estudos realizados pelas feministas 
possibilitou dar visibilidade à violência doméstica enquanto um fenômeno multifacetado, 
exigindo respostas políticas para a problemática” (GOMES, 2007, p.506). Pois até então por 
prevalecer um “modelo hegemônico de masculinidade construído a partir de valores 
patriarcais e machistas [...], ainda prepondera a noção de que existe associação entre essa 
masculinidade viril, competição e violência” (SOUSA, 2004, p. 60), o que para Greig (2001 
apud SOUZA, 2004, p.61) necessitaria de serem “feitas conexões entre homens, gênero e 
violência, a fim de articular mais claramente o papel e a responsabilidade dos homens no fim 
da violência baseada no gênero”. 
 
2.3. LEI MARIA DA PENHA 
 
Anteriormente a Lei Maria da Penha, o réu condenado, apenas pagava multas e cestas 
básicas, com a vinda desta, essas medidas foram cessadas e se substituiu pelas medidas 
protetivas, a Lei nº 11.340/06 prevê a saída do agressor de casa, a proteção dos filhos e o 
direito da mulher reaver seus bens e cancelar procurações feitas em nome do agressor, a 
mesma também promoveu a criaçãodos “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra 
a Mulher, e a violência psicológica passou a ser caracterizada também como violência 
doméstica” (RODRIGUES; MENDES, 2013, p.5). 
13 
 
A Lei Maria da Penha, no Art. 5º, considera a violência doméstica e familiar contra a 
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, 
compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo 
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; no âmbito da família, compreendida como a 
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade ou por vontade expressa; em qualquer relação íntima de afeto, na qual 
o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
(BRASIL, 2006). 
Andrade e Barbosa (2008, p.1) comentam que esta lei é “resultado da desconstrução e 
da resignificação das representações sociais da violência contra as mulheres, a qual deixa de 
ser um ato infracional e passa a ser tratada como um crime contra a vida e os direitos 
humanos das mulheres” tal violência vem como “expressão do modelo patriarcal incorporado 
nas sociedades [...] que privilegia o gênero masculino” (ANDRADE; BARBOSA, 2008, p.2). 
Ocorre então uma despenalização do crime, sendo que “despenalizar, significa adotar 
processos ou medidas substitutivas ou alternativas, de natureza penal ou processual, que 
visam, sem rejeitar o caráter ilícito da conduta, dificultar, evitar ou restringir a aplicação da 
pena de prisão ou sua execução ou, ainda, pelo menos, sua redução” (GOMES, 2000:72 apud 
RODRIGUES; MENDES, 2013, p.6). Ou seja, a despenalização está ligada a ideia de 
diminuir a pena de um delito sem descriminalizá-lo, se tratando nesse contexto da 
participação dos homens autores de violência doméstica contra a mulher nos grupos, 
equivalendo à medida protetiva, caso esta seja a medida concedida pelo juiz. 
 
2.4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
A violência doméstica vem sendo tratada de forma intensa por movimentos feministas, 
e pelo poder judiciário; encontra-se, de forma geral, sendo estudada pela perspectiva das 
vítimas (mulheres e crianças) e suas repercussões. Por isso faz-se importante entender a 
violência em uma nova perspectiva, a do homem autor de violência contra a mulher. Tal 
termo se constitui porque nenhuma 
14 
 
 
“pessoa é agressiva 24 horas por dia. Temos que reconhecer que a agressão é 
desencadeada por diversos estímulos e que, na sua maioria, não determina a 
identidade de uma pessoa. Logo, a pecha de agressor rotula e estigmatiza. [...]. Há de 
se pensar que o homem incorreu em um ato agressivo, foi autor de uma agressão, mas 
esses eventos não devem configurar a marca, o rótulo de agressor como identidade.” 
(ANDRADE; BARBOSA, 2008, p.2) 
 
 
Mas para alinhar-se a uma definição Gomes (2007, p.505) define violência como 
aquela 
“visa o outro para destruí-lo, mas atinge a humanidade como um todo [...], 
historicamente, atinge a todas as classes sociais, culturas e sociedades e, portanto, um 
fenômeno intrínseco ao processo civilizatório, constituindo-se enquanto elemento 
estrutural que participa da própria organização das sociedades, manifestando-se de 
diversas formas”. 
 
Durante a ditadura militar as mulheres começaram a desempenhar novos papéis 
sociopolíticos, a partir de 1964 e passaram, também a denunciar e expor a violência contra a 
mulher. Depois de décadas de tentativas e lutas, mulheres e feministas passaram a sensibilizar 
o governo e criaram-se assim as delegacias especializadas para a defesa da mulher, em 1985. 
(BLAY, 2014, p.15) 
A violência direcionada à mulher consiste em todo ato de violência de gênero que 
resulte em uma das atitudes descritas na Lei Maria da Penha. Dentre as formas de violência 
contra a mulher, encontra-se a violência doméstica. Já a violência doméstica constitui na 
violência acometida “contra a mulher qualquer ação, ou omissão baseada no gênero que lhe 
cause [...] lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no 
âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de 
pessoas” (BRASIL, 2006, art.5º, parágrafo I). 
Como foi visto, diversos autores fazem uma correlação entre a violência acometida 
contra a mulher e o modelo social dominante (patriarcal). Gebara (2000 apud GOMES, 2007, 
p.505) também traz que “é importante a compreensão que a construção da violência no âmbito 
doméstico não tem relação com as diferenças biológicas entre homens e mulheres. Esses 
papéis sociais são, na realidade, reforçados por culturas patriarcais reproduzidas na família”. 
15 
 
Isto é, tais reforçamentos feitos por uma sociedade violenta e patriarcal, reforçam a 
continuação de um ciclo vicioso, no qual homens aprendem a serem violentos com seus pais, 
e reproduzem isso na sua família, iniciando e continuando esse ciclo, tal “vivência de 
violência familiar interfere na construção da identidade masculina, haja vista que os homens 
tendem a reproduzi-la nas relações sociais, em especial nas relações com suas companheiras e 
filhos.” (GOMES NP, Freire NM, 2005 apud GOMES, 2007, p.505). Porém, “Se a condição 
de gênero tem base nas tradições históricas, os valores e comportamentos são construídos e, 
portanto, podem ser modificados” (BLAY, 2014, p.16). 
Outra perspectiva sobre a violência contra a mulher foi tirada do livro de Acosta, Filho 
e Bronz (2004, p.14), que consideram o uso da violência com a mulher como 
 
“[...] uma prática que alguns homens tem empregado nas relações intimas quando 
“percebem” seu poder e seu controle ameaçados. Nesses momentos, a própria 
identidade masculina vivenciada como vulnerável por estar associada a sentimentos de 
medo, confusão, vergonha, frustração, impotência, insatisfação e ciúme. A negação 
desses sentimentos, que demonstram a fragilidade masculina, favorece a acumulação 
de estados afetivos que, por não serem expressos, podem culminar em explosões de 
violência, caracterizando-se, desta forma, como um dos fatores associados a violência 
de gênero. Os grupos possibilitam a continência desses estados afetivos e a promoção 
de diálogos, tanto internos quanto externos, favorecendo a compreensão de como as 
situações de violência são constituídas nas relações interpessoais e reforçadas no 
cotidiano pela cultura em que vivemos.” 
 
Além dessa perspectiva, há também que se pensar que tal manifestação violenta, 
indica também um possível reforço para que o homem estabeleça seu lugar de poder na sua 
casa, como diz Andrade (2008, p.2) em que “as ações violentas dos homens eram, e ainda o 
são, interpretadas como parte dos recursos para manutenção do lugar e da ordem sócio-
econômica, familiar e afetiva na relação homem-mulher”. Manita (2008, p.23) traz que tais 
ações violentas, também se dão pela “discrepância de poder entre homens e mulheres, que 
ainda existem na estrutura patriarcal da sociedade, como um dos fatores mais importantes que 
explicam a violência doméstica”. A violência contra as mulheres, simplesmente pelo fato de 
serem mulheres, fundamenta-se, como já dissemos anteriormente, em valores patriarcais e isto 
torna-se a base para manutenção do exercício de poder. Desta forma, alguns homens são 
educados e socializados, e não só os homens como algumas mulheres também, acreditando 
que as mulheres são suas propriedades, para aspectos positivos, mas também negativos. 
(BLAY, 2014, p. 16) 
16 
 
 A conquista de novos valores contrários a masculinidade vem sendo procurada, tanto 
por homens como por mulheres,o homem tem passado por crises sobre o valor e o peso de 
ser homem, de ser viril e aceitar essa mudança é a parte mais difícil, é necessário que haja 
uma reorganização social, de valores e financeira e é necessário que ambos os sexos 
participem e apoiem. Homens de formação conservadora podem ver seus papéis sociais 
abalados, por “perderem” ou dividirem os graus de hierarquia e estrutura social com mulheres 
e, muitas vezes, rejeitar vínculos afetivos e isso pode se tornar argumento para alguns tipos 
de agressão. Novos caminhos são criados em meio a situações de violência, como os grupos 
de reflexão. (BLAY, 2014, p. 22 – 26) 
 
2.5. GRUPOS REFLEXIVOS DE GÊNERO 
 
Viu-se então a necessidade de criar grupos, como medida protetiva onde os homens, 
por ordem judicial se encontrariam periodicamente, tais “grupos oferecidos pela entidade 
teriam papel educativo, reflexivo e preventivo, com objetivo de questionar as mentalidades, os 
estereótipos e os valores tradicionais de gênero que reforçam e legitimam a violência” 
(PRATES; ANDRADE, 2013, p.7). Manita (2008) também comenta que a intervenção a 
agressores visa proteger a vítima e prevenir a reincidência em crimes de violência conjugal. 
Uma das condições básicas das intervenções é responsabilizá--los pelos seus atos e as 
consequências. Como Paula Licurso Prates e Augusta Alvarenga descrevem no capítulo 
“grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher: a experiência da cidade 
de São Paulo”, trata-se de uma “punição” que substitui a prisão. (BLAY, 2014, p. 26) 
 
“Os grupos reflexivos de gênero vem se configurando como uma forma específica de 
se trabalhar com homens e mulheres, especialmente no que diz respeito à questão da 
violência intrafamiliar e de gênero. Sua metodologia permite que possam ser 
desenvolvidos por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, tais como 
educação, saúde e ciências humanas. [...] podemos dizer que os grupos reflexivos de 
gênero são uma alternativa à violência. [...]” (ACOSTA, FILHO; BRONZ, 2004, p. 
22). 
 
17 
 
Cada grupo formado tem critérios e regras que diferem muito pouco, em sua maioria 
são grupos reflexivos de gênero masculino, que partem de um universo hegemônico para 
questionar os padrões de masculinidades e relações de gênero e as masculinidades 
alternativas, como dizem Acosta, Filho e Bronz (2004, p.12). 
Além de trabalharem com homens, Acosta, Filho e Bronz ainda dizem que o trabalho 
também é fruto do processo de aprendizagem afetiva com mulheres, da experiência de 
paternar, de construir e reconstruir as masculinidades com os homens a sua volta. É também 
resultado de processos de superação da escassez de programas políticos, projetos e ações de 
gênero com homens do Brasil. Normalmente os homens participantes de grupos reflexivos 
são de diversos contextos, faixas etárias, etnias, religiões e camadas sociais de populações de 
diferentes cidades brasileiras. 
As equipes podem ter composição mista, como no caso do grupo carioca, liderado por 
Acosta, Filho e Bronz, mas alguns profissionais preferem trabalhar apenas com homens em 
sua equipe. 
Os resultados encontrados, dos profissionais que atuaram em tais grupos, parece 
sempre encontrar uma perspectiva positiva, como visto pelas assistentes sociais do projeto 
ANDROS, “o dado quantitativo de que 84% dos homens que passaram pelo Projeto não 
tiveram reentrada no sistema de justiça é relevante”, (RODRIGUES; MENDES, 2013, p.13) 
mas também informam, que “é preciso também avaliar a mudança qualitativa, subjetiva e 
social que o Projeto [...] ANDROS, contribuiu de fato na redução da violência doméstica”. 
(RODRIGUES; MENDES, 2013, p.13). Ou então, como visto por Blay (2014, p. 27), que diz 
que os homens tendem a mudar seus comportamentos e suas reações imediatistas são 
transformadas em momentos de reflexão. Ela também diz que a resposta é positiva quando se 
trata da possibilidade de criação de novos padrões de masculinidade que alterem 
comportamentos e valores que legitimam a violência contra a mulher. 
Prates e Andrade (2013, p.9), abrange mais no contato com essa população, 
informando que inicialmente a certa resistência dos homens nos aspectos que condizem tanto 
de como são levados até, até aquilo que trazem: 
 
“os resultados apontam que homens que participaram do grupo reflexivo, 
inicialmente, sentem-se vitimizados e injustiçados diante da medida judicial de 
18 
 
participação no grupo, não se identificam como autores de violência, apresentam 
concepções tradicionais do padrão de masculinidade hegemônica. No decorrer do 
processo, com o acolhimento e a vinculação do grupo, bem como as intervenções, 
permitem que suas visões de mundo sejam ampliadas, principalmente nas questões 
relacionadas à violência, gênero, masculinidades e direitos.” 
 
Mas importante reforçar que para que o grupo seja efetivo, para que resultados como 
os colocados acima aconteçam deve existir, em ambas as partes “o desejo de mudar. É por 
esta razão que não se acredita numa mudança radical de uma relação violenta, quando se 
trabalha exclusivamente com a vítima, [...] enquanto a outra parte permanece sempre o que foi 
[...]. As duas partes precisam de auxílio para promover uma verdadeira transformação da 
relação violenta.” (SAFFIOTI, 2004, p.68 apud PRATES; ANDRADE, 2013, p.2). 
Podemos então correlacionar que aquilo que Manita propõe como foco e objetivo da 
intervenção de fato ocorre, haja em vista os dados trazidos acima: “intervenção tem como 
objetivo a interrupção da violência, proteção das vítimas, redução da violência conjugal e das 
elevadas taxas de reincidência neste tipo de crime” (MANITA, 2008, p.23). 
Busca-se compreender, porquê historicamente a violência tem se manifestado 
principalmente da parte dos homens para com as mulheres, e as motivações da mesma ainda 
se repetir nos dias atuais. 
Os grupos tem por objetivo serem interventivos e provocarem a “desconstrução e a 
mudança dos padrões naturalizados de gênero, violência de gênero e masculinidade” 
(ANDRADE et al, 2010 apud PRATES; ANDRADE, 2013, p.7). Através da reflexão, 
discussão, e apresentação de maneiras diferentes a se lidar com as mesmas coisas, procura-se 
fazer uma desconstrução dos valores machistas, que remetem a ações violentas, a “perspectiva 
é a de se discutir a violência contextualizada sócio historicamente, em interação e em 
determinadas circunstancias”, (ANDRADE; BARBOSA, 2008, p. 3) possibilitando assim 
“apresentar e possibilitar a construção, individual e coletiva, de processos de socialização que 
tem como referência a equidade de gênero e a formação de novas masculinidades” 
(ANDRADE et al, 2010 apud PRATES; ANDRADE, 2013, p.8). 
 A proposta dos grupos em atendimento, devem ser exclusivamente de homens, aberto, 
com no máximo quinze participantes, como propõe Andrade et al (2010 apud PRATES; 
ANDRADE, 2013, p.6) “onde cada homem participa de, no mínimo, 16 encontros; entre estes 
19 
 
homens, dois são referências na organização e coordenação e promotores da formação de 
vínculos, de mecanismos de identificação e da capacitação dos homens participantes em 
multiplicadores”. Já os atendimentos aos homens 
 
“Não deve ser responsabilidade dos serviços que atendem mulheres violentadas sexualmente e 
das equipes de referência para atendimento de mulheres vitimadas pela violência. Porém, essas 
equipes devem atuar junto aos setores competentes e junto aos grupos sociais organizados” 
(ANDRADE; BARBOSA, 2008, p.4). 
 
O mesmo traz que qualquer pessoa pode trabalhar com homens autores de violência 
contra mulher, “porém é essencial que essa pessoa esteja motivada e capacitada para 
desenvolver o trabalho proposto [...],a condução deve ser dada para homens com experiência 
na discussão de violência de gênero e em processo grupal” (ANDRADE; BARBOSA, 2008, 
p.4) e contar com facilitador (es) para contribuir na condução e administração das atividades. 
Andrade e Barbosa (2008, p. 4) também traz que existem temas fundamentais a se trabalhar 
nesses grupos “relações de gênero; direitos humanos; direitos sexuais e reprodutivos; gênero, 
dinâmicas de grupo; noções de relações família e de casal e noções de psicopatologia”. 
É importante ressaltar, assim como foi ressaltado por Beiras e Canteira, que a 
promoção da intervenção deve ser feita não só a nível micro, mas a macro também, 
intervenções ecológicas direcionadas a mudança social, relacional e política e não tão somente 
ao indivíduo ou a atos especificamente cometidos. (BLAY, 2014, p.40) 
Existem também desafios nos grupos, como explorar, questionar e transformar, 
descontruir bases que sustentam e reproduzem a violência de gênero a construção de 
masculinidades que legitimam violências. 
 
 
 
 
 
20 
 
III) MÉTODO 
 
3.1. PARTIPICANTES 
 
Foram entrevistados 2 profissionais atuantes, há no mínimo cinco anos, no tema de 
violência doméstica com homens autores de violência contra a mulher. 
Também foi realizada observação em quatro encontros, nos grupos de reflexão com 
homens que tenham cometido algum tipo de violência doméstica. Grupo coordenado por 
profissionais de ONGs que realizam atendimentos aos homens envolvidos com violência 
doméstica. O pesquisador, do sexo masculino, foi observador do grupo, porém também 
participou do mesmo, fazendo intervenções diretas, conforme o próprio grupo solicitava a 
opinião do mesmo. 
 
3.2. PROCEDIMENTO 
 
1. Aguardar parecer da comissão de ética. 
2. Contatar profissionais da área de violência doméstica que trabalhem com homens 
autores de violência doméstica. 
3. Apresentar, pesquisar e obter TCLE assinado 
4. Realizar a entrevista com os profissionais, e, se for possível, a observação nos grupos 
de reflexão. 
Foram realizadas transcrições de entrevistas e das reações grupais. A análise dos dados foi 
feita por meio da análise de conteúdo. Estes grupos são coordenados por profissionais 
especialistas na área. 
 
3.3. INSTRUMENTO 
21 
 
 
Roteiro elaborado pelos estagiários de caráter semiestruturado, com 14 questões. 
(ANEXO I) 
 
3.4 POSSÍVEIS BENEFÍCIOS 
 
Esta pesquisa pode trazer benefícios para construção de conhecimento, sobre a 
compreensão da violência doméstica na perspectiva dos homens autores de violência 
doméstica, podendo também gerar aprofundamento sobre grupos de reflexão com homens 
autores de violência doméstica. 
 
3.5 POSSÍVEIS RISCOS 
 
 Essa pesquisa ofereceu riscos mínimos aos participantes. Caso houvesse desconforto a 
entrevista seria interrompida imediatamente, assim a pesquisadora ficou atenta às reações dos 
colaboradores no ato da pesquisa, porém não houve nenhum desconforto. 
Na observação, houve intervenções diretas com os homens autores de violência 
doméstica, porém como esse era o modo de funcionamento do grupo não houve resistência, 
nem mal-estar do grupo com a presença do pesquisador. 
3.6 CRONOGRAMA 
 
 Fevereiro: revisão da bibliografia 
 Março: coleta de dados – entrevistas com os profissionais e observações nos grupos. 
 Abril: análise dos dados 
 Maio: resultados e conclusão 
 Junho: apresentação na Mostra de TCC 
 
22 
 
IV) RESULTADOS 
 
4.1. Entrevista 1: Profissional 1 
 
Profissional 1 é psicólogo, dá aulas em universidade e é um dos coordenadores do 
grupo de reflexão para homens que cometeram algum tipo de violência doméstica na ONG 
Coletivo Feminista, além de ter estudado por muitos anos este tema. Atua há mais de 20 anos 
na área, começando com prostituição e prevenção de AIDs ainda na faculdade, com isso 
percebeu que havia o abuso incestuoso, então começou com abuso de mulheres dentro de 
delegacias específicas para conhecer o trabalho das delegadas. Percebeu que o maior 
problema enfrentado por prostitutas era a violência, vinda de clientes e da polícia e a partir 
deste ponto começou a trabalhar com os homens. 
Após a aprovação da Lei Maria da Penha, Profissional 1 participou do primeiro grupo 
a trabalhar com o foco no homem, em 2005 e até hoje dá continuidade a este trabalho. 
Ele falou sobre feminismo e a existência de diferentes grupos, as que aceitam o grupo 
como uma medida válida e as que não aceitam, pois acham que está acobertando estes 
homens pelos atos que cometeram. Para muitas, a mulher sempre será vítima do machismo e o 
homem sempre será o vilão, mas o foco do grupo não é punir os homens e sim educá-los, 
como disse Profissional 1 durante a entrevista “Você pode punir, mas tem que ter uma parte 
educativa, eles saem de lá pior sem essa outra parte, saem vingativos, com raiva, no grupo 
discutimos que isso não vale a pena. Por isso tem que ser educativo, para ele não reproduzir 
com outra.” 
O Profissional 1 entende a violência como toda forma de imposição, na realidade 
parte de um pressuposto que é dentro dos modelos familiares que existe a lógica da 
hierarquia, que só por ser hierarquia já é violência, pois é submissão. Para ele, a violência é a 
manutenção de uma lógica de dominação e controle e pode ser da mulher com o homem, é 
uma tentativa de mostrar quem manda, o que leva a violência doméstica. 
Não existe nenhum grupo para mulheres na posição de agressoras, para ele a mulher 
está lutando para ter o espaço, mas não aceitam, então ela acaba impondo, acontece uma 
inversão de papéis, o que muda a hierarquia. A mulher sofreu muito com os homens, mas 
quando tem espaço não consegue trabalhar com a ideia de igualdade. Há uma inversão. 
23 
 
Por causa desta inversão e quebra do modelo machista há a dificuldade de exposição 
de sentimentos por parte dos homens e Profissional 1 aponta que o nó está nesta questão, pois 
a ideia de modelo masculino é negar o sofrimento, já a mulher tem um poder com isso, 
socialmente é permitido que ela lide com esses sentimentos. Nos grupos com os homens, já 
aconteceu de homens chegarem chorando, pois este é o local proporcionado para que isso 
aconteça, apesar de ser difícil de acontecer. 
A mulher continuará crescendo e o homem não vai desconstruir a imagem machista, e 
por isso, para o Profissional 1, o objetivo é trabalhar junto do autor de violência. Para ele, 
trabalhar com homens é instigante e desafiador. Historicamente vivemos um momento de 
muita desigualdade e a violência está aumentando, pois a mulher desenvolveu a consciência 
de seus direitos e os homens não perceberam isso, desejam uma mulher idealizada, que não 
existe, a passiva e submissa. 
Um grupo de reflexão é a possibilidade de os homens reconhecerem a reconstrução 
social e de sua masculinidade e poder rever para poder abrir novas possibilidades de 
convivência social com eles mesmos e com as mulheres. Por fim, Profissional 1 conta que só 
continua trabalhando com isso pois vê resultados todos os dias. 
 
4.2. Entrevista 2: Profissional 2 
 
Profissional 2 é psicóloga e diretora da ONG Coletivo Feminista e atua na área de 
violência desde que se formou. Seu primeiro trabalho foi como técnica em um abrigo de 
mulheres que sofreram com violência em 1999, fez pós graduação, trabalhou na defensoria 
com mediação de conflito, trabalhou na coordenadoria da mulher, também como técnica e 
depois foi para a ONG. Durante a entrevista contou que passou muitos anos trabalhando com 
a mulher e chegou à conclusão de que se não fizesse algo com os homens não resolveria o 
problema da violência doméstica. Com a lei Maria da Penha, fezum projeto piloto e foi para o 
coletivo. 
Violência doméstica, para Profissional 2, é uma tentativa mal sucedida de resolver um 
conflito e é domestica quando ocorre nesse espaço dentro de casa, entram relações de gênero 
e poder, a hierarquia. O objetivo de intervir junto ao autor de violência doméstica é a 
responsabilização pela educação, passar informações para que eles possam desconstruir, entre 
24 
 
homens e em conjunto, o machismo, o gênero, o uso da violência como parte da identidade 
masculina. Acha importante levantar esses questionamentos no grupo, o que considera como 
quase preventivo, pois os participantes aprendem o machismo culturalmente e o aplicam em 
suas relações e o grupo faz com que eles possam pensar questões de gênero, violência, 
controle e os coordenadores funcionam como modelos. Há necessidade de mostrar que a 
violência não pode ser a primeira forma de resolver os conflitos, os homens podem pensar em 
outras formas. 
A psicóloga nunca participou dos grupos e diz ser por uma questão biológica, é algo 
que estão amadurecendo, mas não faz questão de participar, pois esta é a criação de um 'entre 
homens' e é raro de existir. Para ela, o grupo de reflexão é um encontro que promove a 
reflexão e apesar de promover da quebra do machismo, percebe que eles não mudam, mas que 
é plantada uma sementinha que vai se desenvolvendo com o tempo e que se tornam 
multiplicadores. Acha que tem resultados, mas não sabe se em definitivo, acredita que 
aumentam o repertório, pois conhecem outras opções de masculinidade e são incentivados a 
abertura de homens com outros homens e com outras pessoas. 
 
4.3. Grupo com homens: 1° encontro 
 
O primeiro encontro serviu para que o estagiário se adaptasse ao ambiente e aos 
participantes, já que nunca havia participado de nada parecido. Apenas um dos estagiários 
pode participar dos encontros propostos, por ser homem. 
As temáticas abordadas neste encontro foram sobre conscientização da Lei Maria da 
Penha, sua história, movimentos feministas e a opressão que as mulheres sofreram durante 
séculos. 
O participante Padre conduziu a conversa com a proposta de falar sobre a história da 
opressão da mulher, do quanto elas sofreram na sociedade (patriarcal) em diferentes culturas, 
eram tratadas como objeto, por vezes apenas com o propósito da procriação, não tinham 
direitos políticos, morais ou sexuais, enquanto o homem reinava absoluto como dono do 
poder. Com a vinda do capitalismo e, mais tarde, as grandes guerras que diminuíram 
consideravelmente o número de homens no trabalho, as empresas viram as mulheres como 
mão de obra necessária para o momento e as colocaram para trabalhar, o que foi satisfatório, 
25 
 
pois a produção ocorria normalmente e pagavam menos pelo serviço. Com a volta dos 
homens da guerra, esses viram “seus postos” ameaçados, as mulheres tinham seu salário e 
certa independência e não tinham porque largar seus trabalhos. Estabeleceu-se assim um 
“conflito pelo poder”, que desencadeou em diversos movimentos feministas, lutando por 
direito iguais da mulher em relação ao homem, para pensar a sociedade e política e então a 
criação da Lei Maria da Penha. Segundo a discussão do grupo e intervenções do Coordenador 
1 chegou-se a conclusão de que “numa sociedade desigual, onde o ser homem te dá 
privilégios, precisa-se de uma lei desigual, para que os direitos então delas sejam 
equilibrados”. 
A forma injusta como a Lei é levada foi a pauta principal, disseram ser muito parcial 
em seu julgamento, uma opinião quase que unanime, porém o Coordenador 1 era enfático 
quando dizia que uma lei assim deveria existir, mas em contrapartida pontos nessa lei 
deveriam ser revisados. Surgiu a ideia de que deveria ser criada uma lei que protegesse o 
homem contra a violência doméstica, a “Lei João da Lapa” e classificaram as mulheres 
violentas como “Matcholinas”, aquelas mulheres que batem, enfrentam, encaram os homens e 
que em contrapartida também estariam mais suscetíveis a sofrer alguma violência. Foi 
perceptível uma grande insatisfação do grupo em relação a Lei, criticavam e diziam que tinha 
que ser revista, melhorada, porém não falaram sobre a abolição dela, apenas concordavam 
unânimes sobre sua revisão. 
 O grupo pareceu bem acolhedor e falante. As temáticas giraram em torno dos 
sentimentos de injustiça perante a sociedade e a lei, sobre as mudanças nos tempos atuais e as 
mudanças em si, causadas pelo contato reflexivo que aquele grupo proporcionava aos 
homens, um espaço para liberar as emoções que antes se manifestavam apenas por meios 
violentos. 
 
4.4. Grupo com homens: 2o encontro 
 
No segundo encontro, a Lei Maria da Penha voltou à discussão. O Coordenador 2 
começou dizendo que há uma tendência dos homens a se distanciarem da lei e que há um 
estigma criado sobre ela, pensa-se que é para homens que espancam a mulher, que quase 
matam ela, mas não é necessariamente assim. Todos passam pelo grupo, pois cometeram 
26 
 
algum ato relacionado a violência, não necessariamente física e pode ser um ato pontual e não 
incidente. 
Falador, um dos participantes, questionou sobre a denúncia por parte de homens que 
sofrem violência da mulher e que na maioria das vezes não denunciam, pois acham 
vergonhoso, acham que se chegarem à delegacia e falarem para policiais que apanharam de 
suas esposas vão rir de suas caras e os outros participantes do grupo concordaram. 
Coordenador 1 explicou que muitos dos casos de lá não tem a ver com nenhuma agressão, 
mas que é um jeito de aprender que as situações das relações hoje estão mudando. Com 
alguns nada aconteceu, mesmo assim respondem judicialmente, mas não quer dizer que o ato 
não seja levado em conta. Para a lei hoje em dia qualquer ato que caracterize violência vai ser 
avaliado. 
Amor e casamento são assuntos trazidos pelo Coordenador 1, que diz que amor acima 
de tudo acabou e que o casamento é uma sociedade, um negócio. Pontua que é importante 
perceber as mudanças históricas que também acontecem dentro do casamento, hoje é 
diferente, a mulher trabalha e o homem também. Trouxeram a separação de bens dentro do 
casamento e que muitas vezes a mulher se “apossa” dos bens materiais do homem e se surge 
uma oportunidade de o homem fazer isso fica com receio, não quer “ir pra cima” do que é da 
mulher. Muitos concordaram que a separação de bens é o modelo mais adequado, pois cada 
um fica com o que é seu por direito. 
Um vídeo sobre o papel masculino na sociedade foi passado pelos coordenadores, que 
falava sobre um engenheiro, que estava desempregado e mudando de apartamento. Sua 
mulher trabalhava fora fazia cinco meses e estava sustentando a casa e o engenheiro começa a 
questionar: “qual é o papel do homem? Será que só servimos comparecer com pinto e 
dinheiro?”. Após o vídeo o Coordenador apenas fez um resumo sobre o histórico da sociedade 
e do filme (pra que serve o homem, o que sobra pra gente, lugar da mulher e do homem). 
Português questionou sobre a relação de dinheiro e casamento e então Falador disse 
que hoje o homem passou a ser um bicho extinto, porque antigamente ele servia pra alguma 
coisa em relação a mulher, ele que era o provedor, hoje o homem já não é mais o provedor da 
família, um processo de mudança para o qual o homem não estava preparado, mas aconteceu 
e continua a acontecer. 
27 
 
Ainda na discussão sobre o filme, Falador falou sobre o modo como homens e 
mulheres são criados “no ocidente e no oriente tem isso aí, você tem dez, doze, oito anos de 
idade você tem o seu pai, e seu pai já começa a conversar com você, olha você tem que ter um 
bom um emprego, uma boa escola, o pai vai te dar uma força, pra você quando seformar pra 
quando você ter sua família, a sua família não passar necessidade, porque você vai ter que 
sustentar sua família. Eu fui criado assim, e acho que nós quatro, pessoal da nossa geração foi 
criado assim. Já a menina, foi criada assim olha filha, você não vai casar com um pé de 
chinelo, você tem que casar com um menino que seja formado, que o pai dele tenha posse, 
condições, que ele seja trabalhador, pra ele te dar uma boa condição de vida, você não vai 
casar com um “Zé Ruela”, você não vai casar com um menino do campo, com o filho do 
capataz no mínimo, ou com o filho do fazendeiro que tem boas terras, então tanto a menina 
quanto o menino já foram criados assim.” Então Coordenador 1 opinou dizendo que acha que 
isso já mudou e comentou sobre a independência que as mulheres conquistaram ao longo do 
tempo. 
 
4.5. Grupo com homens: 3o encontro 
 
Neste encontro participaram dois psiquiatras de Barcelona, sendo um deles Alemão. 
Coordenador 1 explicou que contariam um pouco como o grupo funciona e as impressões que 
já causou até agora. Cada um dos participantes se apresentou e contou o que os levou a 
participar do grupo. Padre começou falando de sua experiência: “aqui eu encontrei um espaço 
livre, aberto, sem preconceito pra que as pessoas que por ventura passaram por um problema 
que envolveu um evento que gerou um caso policial ligado com a lei Maria da penha, que é a 
lei que protege as mulheres. Então aqui é um espaço livre para que as pessoas possam refletir, 
falar ouvir, expor o seu caso, seja com verdade, ou seja, enfim, às vezes... A pessoa tem a 
liberdade pra expor e ao mesmo tempo houve as exposições que os outros também fazem. 
Então isso acaba amenizando, ameniza o sentimento de que você é, está sozinho, naquela 
situação né, eu pelo menos me sinto assim. Quando você se depara com aquela situação, você 
se sente arrasado, acabado, e você encontra aqui um espaço onde as pessoas estão disponíveis 
pra te ouvir, e você também estimula as pessoas a também terem forças pra superar, pra 
superar. Então independente do... Se isso vai contribuir ou não pra amenizar a lei, isso vai 
amenizar o sentimento. Então se eu pudesse resumir, eu resumiria assim, porque é assim que 
28 
 
eu me sinto. Me sinto melhor agora do que quando eu cheguei aqui da primeira vez. Eu sei 
que eu posso vir aqui e falar livremente, e expor questões que são antigas e que na verdade 
estão na raiz de um comportamento e você passa a entender melhor que esse comportamento 
não é seu, é aleatoriamente, é um comportamento que vem de muito tempo, de uma vida, que 
não é só a sua vida, mas é dos seus antecessores, e ai você entendendo melhor isso você 
reconhece pelo menos eu consigo reconhecer o meu. Eu me conheço, e entendo 
racionalmente, eu sou muito racional.” 
Em certo momento, o participante Alemão comparou as leis do Brasil e da Espanha, 
contou que a lei da Espanha serviu de modelo para a Maria da Penha, mas não serve para 
todas as mulheres, como filha, irmã, serve apenas para cônjuge. 
Cada um falou de seus casos e porque estava ali, muitos falaram de seus filhos e 
alguns concordaram que se tivessem a experiência que tem hoje, não teriam casado. O 
coordenador 2 perguntou o por que de não casar, então Falador disse que a mulher é 
totalmente independente comparando com três ou quatro décadas atrás e que foram criados de 
uma forma totalmente diferente, para casar com uma mulher que cozinha, passa e cria os 
filhos, ficando em casa o dia todo e hoje muitas mulheres não cozinham, não passam e não 
dependem financeiramente do homem. Falador fala que isso tudo indica que o homem não 
evoluiu, apenas a mulher. Coordenador 2 coloca que se a mulher mudou e o homem não 
muda, o casamento não dará certo. 
Falador trouxe que a questão não é a mudança da mulher ou do homem e sim a 
mudança da mente e então o Coordenador 1 emenda que muda a mente porque as relações 
mudam, o jeito de viver. Todos falaram de seus filhos e como o modo de cria-los mudou e 
como a violência também influencia na educação ao longo dessas décadas de mudança. 
Ao final os observadores passaram suas impressões ao grupo, o Espanhol disse que 
sentiu liberdade, que tem a sensação de que os participantes falam absolutamente livres e que 
não há julgamento. O Alemão disse que teve a mesma sensação e disse que muitas histórias se 
parecem com as dos grupos em Barcelona, que eles lutam contra os mesmos problemas. O 
Coordenador 1 perguntou aos participantes se eles falam abertamente como falam no grupo 
sobre os assuntos comentados e eles disseram que não, pois é vergonhoso, apenas o Padre diz 
que é natural. Alemão explicou a diferença deste e do grupo que coordena em Barcelona, disse 
que lá não entram outras pessoas, começam com algumas pessoas e seguem, que isso é muito 
diferente, a principio custa muito mais falar, e à medida que se cria confiança nos grupos, 
29 
 
cria-se o ambiente para expressar-se, a medida que vai avançando o grupo falamos mais. O 
Coordenador 1 então comenta que já fez grupos deste tipo, mas que estes demoram mais. 
 
4.6. Grupo com homens: 4o encontro 
 
O encontro começou com o Coordenador 1 falando que os visitantes de Barcelona que tinham 
vindo na semana anterior tinham gostado muito do grupo e acharam legal vir conhecer a proposta 
saíram impressionados com o trabalho. Como tinha gente nova, ele pediu para que todos se 
apresentassem rapidamente e havia também um participante antigo que parou de frequentar o grupo e 
estava retornando. O Coordenador perguntou o que tinham falado para o participante novo sobre o 
grupo e ele disse que falaram que seria algo tranquilo, uma conversa, algo como um acompanhamento 
psicológico, então foi esclarecido pelo Coordenador que “ pode se considerar um acompanhamento 
psicológico também. Aqui a ideia é assim: todo mundo tem uma história ou não, ligado a isso, mas a 
ideia é agente poder falar o que aconteceu e ouvir as histórias, porque eu acho que ouvindo as histórias 
a gente também aprende, compara o que aconteceu com a gente e previne – vamos chamar assim, para 
prevenir que aconteça de novo outras coisas.” 
A Lei Maria da Penha mais uma vez voltou a discussão, o participante Padre comentou que a 
lei faz com que as mulheres tornem-se “matcholinas”, podem provocar o homem, agredi-los 
fisicamente e mesmo assim ficarão impunes. 
A maioria da discussão deste encontro girou em torno da história do participante novo e do 
que retornou ao grupo, falaram muito sobre o casamento, partilha dos bens materiais, filhos, divórcio e 
sobre as leis, que na opinião deles sempre protege as mulheres e eles sempre se dão mal, mesmo 
muitas vezes não tendo agido como as mulheres descrevem. 
Este foi o último grupo do qual o estagiário participou. 
 
 
 
 
30 
 
V) ANÁLISE 
 
Utilizamos da análise de conteúdo que procura trazer ao mundo da pesquisa científica 
um concreto e operacional método de investigação (BARDIN, 2009). Assim definido, 
buscamos compreender o sentido das informações recolhidas em entrevistas ou inquéritos de 
opinião, uma vez tendo em mãos um grande volume de dados textuais. 
 
5.1. VIOLÊNCIA 
 
A violência é pouco comentada em primeira pessoa. É recorrente nas conversas entre 
homens, do que aconteceu com o outro, amigo, noticiário, mas quando a questão se dirige 
para o próprio interlocutor, geralmente é dita apenas em algumas poucas palavras, e a 
conversa logo se desvia para outro assunto. 
Interessante pensar que apesar desse ser o tema central desse trabalho, e do trabalho 
feito com os homens nos grupos, a violência foi o assunto menos comentado pelos homens. E, 
quando comentada aparece de forma dúbia, é assumida, masvista como algo moralmente 
errada, embora, no caso do grupo, cometida por todos, sempre com alguma justificativa do 
ato. “Porque mesmo o motivo seja plausível eu não devia ter partido pra agressão, então meu 
erro foi esse, mesmo eu sendo muito racional, eu agi emocionalmente” (Padre). 
Importante ressaltar que a violência não se encontra apenas na periferia, ou é cometida 
apenas por um gênero, pelo contrário, quatro de cinco homens presentes no grupo falaram a 
respeito de terem cometido o ato de violência após sucessivas investidas violentas por parte 
da mulher: 
“Tinha um dos homens aqui, [...] o cara era professor de muay thay e era mecânico, o 
cara era um monstro (de forte), [...] E ele nem bateu na mulher, ele disse que a mulher foi pra 
cima dele com um pedaço de um objeto de uma coisa pesado, e bateu com aquilo, ele ficou 
parado deixando ela bater, imagina um cara quase uma porta, quase dois metros, uma mulher 
pequeninha... chegou uma hora, que ele tava machucado, ele pegou e jogou ela assim, ela caiu 
machucou a perna (Coordenador 1)” Gebara (2000 apud GOMES, 2007) comenta que a 
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violência no âmbito doméstico não está diretamente relacionada a diferenças biológica, mas 
papeis sociais reforçados pela cultura patriarcal. Acrescento ainda que não somente a cultura 
patriarcal, que, portanto levaria aos homens serem mais violentos, mas também uma cultura 
Maria da Penha, que hoje dá certo suporte para a violência feminina sem ser punida por isso. 
Violência é quando há uma imposição da força sobre alguém, isso independe de ser 
homem ou mulher, ou de status social (Profissional 1), causando lesão, sofrimento físico, 
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, a violência, não é apenas quando ocorre 
um ataque físico, mas se inicia bem antes do tal ato acontecer. Na maior parte das falas o ato 
ocorreu depois de sucessivas “violências verbais”, e muitas vezes físicas por parte da mulher, 
que depois em um momento, ou vários, ocorreu por parte do homem. Isto é, houve diversos 
momentos, no qual pontos de insegurança foram tocados, há de se pensar na própria 
identidade masculina querendo afirmar-se como diz Andrade (2008, p.2), e por má 
administração dessas emoções elas eclodem de maneira violenta. 
Como um participante coloca em sua definição pessoal: violência é “uma dificuldade 
de administração das emoções [...] quando eu não controlo minhas emoções, creio que estou 
tocando num ponto em mim de insegurança, um ponto de insegurança minha, quando eu estou 
inseguro, eu tenho a provocar o outro” (Espanhol, participante europeu psiquiatra que estava 
visitando o grupo). Acosta, Filho e Bronz (2004, p.14), comentam exatamente que tal 
violência pode estar relacionada a essa má administração emocional masculina, quando define 
que violência é 
 
“[...] uma prática que alguns homens têm empregado nas relações íntimas quando 
‘percebem’ seu poder e seu controle ameaçados [...], a própria identidade masculina 
vivenciada como vulnerável por estar associada a sentimentos de medo, confusão, 
vergonha, frustração, impotência, insatisfação e ciúme. A negação desses sentimentos, 
que demonstram a fragilidade masculina, favorece a acumulação de estados afetivos 
que, por não serem expressos, podem culminar em explosões de violência, 
caracterizando-se, desta forma, como um dos fatores associados à violência de gênero. 
 
 A violência doméstica então de fato ocorre, e de fato ocorreu em todas as situações 
vividas e ditas pelos homens, ora com o filho que agrediu a mãe, irmão com a irmã, marido e 
esposa, e seus correspondentes, a lei trata violência doméstica (contra a mulher) como 
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, 
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: no âmbito da unidade doméstica, 
32 
 
compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo 
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; no âmbito da família, compreendida como a 
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade ou por vontade expressa; em qualquer relação íntima de afeto, na qual 
o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
(BRASIL, 2006) “[...] não foi só esse motivo, foram vários e vários motivos que me levaram 
naquele dia a perder a cabeça, mas eu diria que foi bom, porque a partir daquele evento foi a 
oportunidade de resolver o problema” (Padre), comunicando ao grupo que a situação de 
violência já ocorria há muito tempo, mas o ato violento, e depois com as medidas tomadas, foi 
o que proporcionou reestruturação ao modo de relacionar-se em casa, nesse caso, com sua 
filha. 
Novamente, a constatação de que a violência ocorre em diversos momentos, e nem 
sempre é levada a delegacia, importante frisar que gênero masculino também sofre com a 
violência: 
“Na noite antes, o que quê aconteceu, eu falei: ‘eu quero sim, ter relação com você’, ai entrou como 
estupro, porque a própria assistência social falou, que se você convida e a pessoa fala não [...] e você 
fala [...] vai sim, isso já ta configurado como estupro [...]. Então assim ela falou pra mim isso que é 
melhor engolir um sapo do que engolir uma lagoa porque [...], quando eu sai de casa eu fui morar dentro 
da igreja e fora isso, depois de tudo isso daí ela pegou e falou pra mim que, eu falei pra ela aliás olha eu 
não sou nenhum bandido porque tudo você chama a policia, tudo você fala que eu te agredido, mas você 
não tem nenhuma comprovação que eu te bati [...] como eu sempre fui assim meio família, meio não, 
sempre fui família, eu chorando bastante, ligando pra ela, falei: ‘para com isso, eu só tenho vocês, 
minhas filhas e tal [...] eu só não sei se vale a pena estar sofrendo da forma com que eu estou sofrendo 
hoje, a solidão, longe das minhas filhas, ou se quando eu estava com ela, eu não sei qual é o melhor.’” 
(Pastor). 
 
O sofrimento não vem somente pelas consequências da lei, mas por sofrê-la de fato no 
âmbito doméstico ao ser sucessivamente inferiorizado pela mulher, e deslocado do âmbito 
familiar, interessante notar que ao pensarmos na configuração atual de masculinidade e 
compararmos ao passado, tal colocação seria motivo de “chacota” e hoje é expressado pelos 
homens como um contraponto, como justificativa para ter cometido um ato violento, mas 
mesmo assim ela é colocada, quando verbalizada, com unanimidade de modo totalmente 
negativo, exatamente por ser tão concreta, e por isso também é tão difícil de ser falada. 
 
 
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5.2. LEI MARIA DA PENHA 
 
 Os participantes, principalmente aqueles que estão em seus primeiros encontros, 
possuem uma grande aversão a essa lei, debatendo veemente a sua existência, pois essa abre 
espaço para que falas como essa apareçam: “não é que eu to contra lei, não é isso, mas é uma 
lei que beneficia a mulher” (Falador) de fato a “Lei Maria da Penha, no Art. 5º, considera a 
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero 
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar”, isto é, uma série de comportamentos e 
atitudes que os homens possam ter pode estar inserido nos âmbitos dessa lei. “Lei Maria da 
Penha é única, o que é? Você não pode fazer nada! Brigar, discutir, ameaçar, quando a mulher 
vem pra cima...” (Português), comenta um dos participantes a respeito da sua perspectiva em 
relação à lei e à realidade apresentada. 
Esse tipo de relato é feito de diversas maneiras diferentespelo grupo, pois há 
entendimento geral que as leis foram mexidas, e criadas, em favor única e exclusivamente da 
mulher, e que hoje as mesmas tomando conhecimento de tal, usam isso como forma de poder 
contra os homens, colocando-os como vítimas da justiça. Aparece a ideia dessa lei como 
injusta, unilateral, só há ganhos de uma das partes, uma ditadura da Maria da Penha. De fato 
as leis foram feitas por diversos movimentos de mulheres, mas isso porque elas ganharam 
espaço para falar a respeito da violência que sofriam, principalmente, no ambiente doméstico, 
e o poder exercido fortemente pelo patriarcado que favorece o gênero masculino, ou seja, tal 
lei vem como uma tentativa de equilibrar tais poderes, que eram totalmente desiguais. Porém 
há casos onde alguns juízes que tem usado a Lei Maria da Penha, para colocar a favor dos 
homens que sofrem violência doméstica, da maneira entendida pela lei. 
As questões levantadas pelos homens, parecem se aprofundar ainda mais, quando 
comentam a respeito dessa “preferência” não estar apenas nas leis, mas na funcionalidade dos 
boletins de ocorrência, quando policiais menosprezam as queixas dos mesmos, e, portanto a 
vergonha de ir até lá: “a mulher te da um tapa, você não vai pra delegacia, porque você tem 
vergonha de ir lá, se você da um tapa nela, ce ta no pau, ta ferrado”. (Velho), mas como o 
Coordenador 1 coloca “mexeram nas leis, que precisava mesmo [...], então a gente também 
tem que correr atrás do que é direito nosso, então isso de fazer a documentação certa, [...] eu 
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não tenho o menor problema, e se eu chegar na delegacia e o delegado falar pra mim... eu vou 
na corregedoria...”. De fato ocorre uma dificuldade ainda, do homem procurar a delegacia, a 
justiça, os órgãos responsáveis para também se resguardar, acontecendo que o porque o 
mesmo deixa de fazê-lo culpa a Justiça de ser unilateral, dando maior valor as mulheres. Mas 
esse é um contraponto sempre feito pelos coordenadores, quando esse assunto é colocado em 
pauta, de que: 
“A gente discute aqui, que essa situação que você ta contando aqui, [...] que nem de outros, não 
é incomum, [...] mas é um jeito da gente aprende, que as situações das relações hoje, tão 
mudando, [...] pra lei hoje em dia qualquer coisa vai ser tratado, qualquer coisa não, mas o que 
caracteriza como violência vai ser observado, avaliado... e aí, mas o que a gente faz com isso? 
[...] mesmo que seja uma coisa mentirosa, a gente aprende, por exemplo, que hoje na relação 
com as mulheres ta mudando, e a gente tem que ficar esperto, tem que ficar atento pra isso, 
porque uma coisa que parece que não é nada, pra elas ou pra gente, pode virar uma denúncia.” 
 
 Tal lei, por fim, proporciona direitos às mulheres, negados em séculos de história, da 
um poder maior a “elas”, numa sociedade onde o poder sempre foi maior para “eles”, mas 
cabe, portanto, dizer, que apesar de ser uma lei em evidência não é a única, e que o direito de 
ambos se encontra preservado, deve sim ser discutida, questionada, mas do descontentamento 
deve-se partir para planejamento de ações, e estruturações melhores, para uma sociedade que 
não cabe embate de poderes de gêneros, e sim, igualdade com pessoa humana, independente 
do gênero. 
Reformulações precisam ser pensadas perante a aplicação da Lei Maria da Penha, 
porém é cabível a uma discussão sobre direitos, pelo discurso dos homens, de forma a 
entender os seus posicionamentos perante a Lei, esse ainda não parece ser o momento de 
revê-la, mas de começar a refletir a respeito dos ajustes a serem feitos no seu cotidiano, para 
que então uma igualdade ocorra perante a lei, no que diz respeito aos gêneros. Cabe colocar, 
que o surgimento da Lei Maria da Penha trouxe a muitas mulheres maior liberdade para seu 
sofrimento, no que tange a violência, simultaneamente irrompeu um medo e paralisação nos 
homens, que tinham seu “reinado absoluto”, e agora tem que lidar com um poder mais 
“absoluto” que o seu, isto é, uma nova configuração social que tem formado novos modos de 
relação. 
 
 
35 
 
5.3. SOCIEDADE PATRIARCAL / PODER MASCULINO / MACHISMO 
 
Logo no primeiro encontro surgiu, por parte de um participante, o Padre que conduziu 
a conversa, a proposta falando sobre a história da opressão da mulher, o quanto elas sofreram 
na mão da sociedade (patriarcal), em muitas culturas diferentes, tanto ocidentais quanto 
orientais, mulheres eram tratadas como objeto, por vezes, com apenas o propósito da 
procriação, não tinham direitos políticos, morais, sexuais, tudo isso por décadas séculos, 
sendo negado a elas, enquanto o homem reinava absoluto, dono do poder, podendo deixar 
uma mulher com os filhos largada a esmo simplesmente por ele não querer mais ela, em anos 
de história dessa maneira, houve por diversos motivos, uma luta no “conflito pelo poder”, 
tanto advindos das conquistas, no mercado de trabalho, direitos, quanto nos maus-tratos e 
abusos sofridos ao longo de décadas, e que uma situação já insatisfatória, ganhou espaço para 
sua expressão, isto é, As mulheres então passaram “a questionar os papéis que lhes são 
atribuídos pela condição de serem mulheres, na sua maioria desqualificados, opressivos, sem 
status e responsáveis pelo seu enclausuramento no âmbito doméstico”. (GOMES, 2007), o 
que desencadeou em diversos movimentos feministas, lutando por direito iguais da mulher em 
relação ao homem perante a sociedade, culminando em grupos de mulheres de conversa, para 
pensar a sociedade e política, que resultou em movimentos ainda mais acirrados, nesse meio 
tempo, ganharam direito de voto, uma porcentagem dentro da política, mais tarde a delegacia 
da mulher, e por fim a Lei Maria da Penha, uma lei que dá diversos direitos a elas. 
Segundo a própria discussão do grupo, e intervenções do Coordenador 1: “numa 
sociedade desigual, onde o ser homem te dá privilégios, precisa-se de uma lei desigual, para 
que os direitos então delas sejam equilibrados”. No segundo encontro o assunto voltou, o 
Coordenador 1 trouxe que houve mudança ao decorrer do tempo, com ajuda de leis também, 
como a Maria da Penha. 
Podemos observar a formação de uma nova masculinidade, que tem como referência 
as atribuições da cultura patriarcal, porém em choque com os apontamentos feitos pela 
sociedade pós-revolução feminina. Almeida diz que “as transformações dos papéis femininos 
vêm provocando um sentimento de perplexidade e confusão na maioria dos homens, e 
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consequentemente, uma oportunidade para que seus papéis sejam repensados – reafirmados 
ou reformulados” (ALMEIDA; JABLONSKI, 2007, p.31). 
Quando um dos participantes traz a seguinte reflexão: “Hoje ela escolhe, impõe e 
determina o que ela quer, antigamente, não ela era submissa, então você chegava em casa, por 
exemplo, você pagava a água, a luz, a calcinha dela, o mods, a comida que você colocava 
dentro da geladeira, você chegava e hoje não... hoje não vou te comer, a mulher ela foi usada 
por muitos anos, simplesmente como objeto sexual, ele chegava em casa se relacionava e 
cabo, ele tinha.... ela lavava a roupa dele, tinha que lavar muito bem, fazia a comida, ele 
chegava cansado, ela ainda fazia massagem no pé dele, essa é a mulher dos anos sessenta, 
setenta, quarenta, só que aí depois houve uma revolução, uma revolução.... nós já estamos 
sofrendo isso já tem algum tempo, é que nós não tínhamos percebido e não tava tão 
descaradamente.” (Falador); é exatamente a perplexidade aparente que Almeida colocou, 
principalmente quando se tem um momento de reflexão a respeito, os homens percebem, o 
quanto a sociedade mudou. 
Os participantes trouxeram então que muitas vezes eles agem assim, pois foi como 
eles foram criados e a mesma

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