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INTRODUÇÃO
A morte é, sem dúvida, uma das coisas que mais inquieta os homens, desde tempos remotos. E sempre nos vem o questionamento filosófico: “Para onde vamos?”, “O que vem depois desta vida?” 
Estamos nesta vida aqui na Terra de passagem, e a morte para nós cristãos é uma porta para outra vida, uma vida em plena comunhão com Cristo. “Agora vemos como um espelho e de maneira confusa, mas depois veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido”. (1 Cor 13,12).
São Paulo nos fala da morte na carta aos filipenses,�que diz: “Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”. Ele nos fala do seu anseio para estar junto de Deus, mas se lembra da sua missão aqui na Terra de levar Cristo para os outros irmãos e, por isso, o dilema: querer estar junto de Deus plenamente no céu ou levar Cristo aos irmãos aqui na Terra. Vejamos agora os pontos que iremos abordar sobre este assunto.
No primeiro capítulo, dissertarei sobre a morte nos aspectos antropológico, filosófico e psicológico, falando sobre o homem em seu possível destino, dando também as teorias clássicas a respeito do homem. Abordarei a morte nos dois aspectos antagônicos: o pessimismo e o otimismo; veremos também o conceito cristão da morte, que é iluminado à luz da Revelação de Deus.
No segundo capítulo, falarei sobre os novíssimos – as coisas últimas que irão acontecer conosco: julgamento particular, julgamento final, paraíso e inferno – algo que faz parte do tratado de Escatologia. Dissertarei sobre para onde vamos depois da morte. E isto depende de cada um de nós, do que fazemos aqui na Terra. Seremos julgados de acordo com as nossas obras no momento após em que morremos. 
No terceiro capítulo, discorrerei a respeito do suicídio e qual a visão da Igreja a respeito desta temática. 
Teremos um apêndice a respeito da morte fazendo seu próprio questionamento, de autoria do nosso cartunista brasileiro Maurício de Souza (que muito me estimulou à leitura na infância) com o personagem da Dona Morta da Turma da Mônica.
Sabemos que a morte entrou no mundo por causa do pecado, através da desobediência dos nossos primeiros pais (cf. Gn 3), mas Deus, que é pura sabedoria, aproveita um mal para fazer um bem maior ainda, utilizando a morte para nos ensinar a viver melhor a vida, pois não sabemos o dia de nossa morte e, por isso, devemos estar na presença do Senhor sempre, orando e vigiando ( cf. 1 Pd 5,8) a cada momento.
	
CAPÍTULO I: O HOMEM E SEU POSSÍVEL DESTINO
Antes de se abordar o estudo dos diversos aspectos da consumação do homem, faz-se mister fixar algumas noções de psicologia e antropologia especulativas que tal tema pressupõe. O fenômeno de que hoje em dia pululam teorias a respeito da sorte póstuma do homem deve-se, em grande parte, ao fato de que se têm conceitos insuficientes ou errôneos a propósito do que é o homem em si mesmo. Faltando à inteligência claras noções de antropologia filosófica, qualquer teoria do além-túmulo parece verídica na medida em que impressiona “bem” a fantasia; esta, destituída de luz superior, divaga então com facilidade extraordinária pelo mundo futuro. Torna-se, pois, para nós, indispensável, neste primeiro capítulo, esboçar alguns princípios que nos habilitem a discernir quais possa ser o destino do homem.
O que é o homem?
Deixando de lado as correntes extremistas, as quais queriam definir o homem como um espírito que o corpo encarcera, Pitagorismo, Platonismo, de certo modo prolongados no Espiritismo moderno, ou qual mera matéria, Estoicismo, Epicurismo, continuados pelo Existencialismo e pelo Materialismo recentes, a Filosofia aristotélica (ARISTÓTELES. Acerca del Alma, 1994, p. 55) ensina que o homem é um animal racional. Isto quer dizer: o homem consta, essencialmente, de alma intelectiva (racional) e de corpo, os quais se unem entre si como forma e matéria, constituindo uma substância.
Segundo Aristóteles, a matéria é pura potência, carece de qualquer nota, quer específica, quer individuante; é de forma que ela recebe toda a sua atualidade e seus característicos. Unindo-se, porém à matéria, a forma (no caso que nos interessa: a forma humana, ou a alma) não apenas dá; ela também recebe. 
Com efeito, por sua natureza a alma se destina a “informar” um corpo e viver num corpo, sem o qual deve ser dita “substância incompleta”. É somente mediante o corpo que ela preenche todas as suas funções e adquire perfeição. Mesmo as suas duas faculdades típicas, a inteligência e a vontade, a alma não as desenvolve normalmente senão em união com o corpo.
A alma e o corpo, portanto, são duas substâncias incompletas, correlativas entre si, destinadas a se prestar complemento mútuo e a construir o homem. Este só se define pela união de ambos. Do fato de que a alma e corpo são correlativos um ao outro, seguem-se três verdades importantes, a saber:
a) tal alma é criada em vista de tal corpo e vice-versa; em outros termos: cada alma, desde a sua origem, é destinada a informar “este” corpo, e não outro.
b) a alma é criada no instante de conceição da prole, no momento em que a matéria que ela deve informar se acha em condições de recebê-la; exclui-se a existência pré-cósmica das almas, ou seja, anterior à união com o corpo neste mundo.
c) exclui-se igualmente o que se chama “reencarnação”, ou seja, a tese segundo a qual as almas, após se terem separado, pela morte, do corpo em que ora acham, voltam a este mundo a fim de se unir a outros corpos, sejam humanos, sejam de animais irracionais ou de vegetais. 
Segundo dom Estevão Bettencourt, a única possibilidade de “reencarnação” após a morte é a volta da alma ao mesmo corpo de que se separou e em vista do qual foi criada; esta volta, embora esteja bem na linha das aspirações naturais da alma, não pode ser obtida pela própria alma; ao contrário, a natureza de todo ser composto de matéria, no nosso caso – a natureza do homem – tende a se decompor e permanecer em estado decomposto; todo vivente corpóreo tende a morrer e a ficar na morte, sem se poder ressuscitar por si. Eis, porém, que a volta da alma ao corpo respectivo, Deus a quer conceder gratuita e soberanamente na ressurreição da carne, que os cristãos professam. É esta, repita-se, a única “reencarnação” admissível.
Ainda segundo o pensamento de Estevão Bittencourt:
	
É menos condizente com a natureza de a alma estar separada do corpo que a ele permanecer unida: ‘Suposta paridade de outras circunstâncias, é mais perfeito o estado da alma unida ao corpo do que separada deste, pois a alma é parte integrante de um todo, e a parte é feita para o todo.�
Embora o homem, enquanto homem, ou ser composto de matéria e forma, não se possa preservar da morte, a alma humana, sendo espiritual, é imortal. Com efeito, ela não consta de matéria, que se vá gastando e encaminhando o composto para a dissolução. Além disso, a alma conhece, por sua inteligência, o que é a vida sem fim, aspira a esta espontaneamente; é, pois, harmonioso que Deus corresponda a tal anelo, conservando para sempre a criatura espiritual na existência que lhe concedeu, embora possa, sem dúvida, reduzir as almas ao nada de que as tirou. É claro que, asseverada a imortalidade da alma humana, se afirma igualmente que não terá fim a sorte, feliz ou infeliz, que a ela toque quando termina o seu currículo de vida na Terra.
1.2. O Pessimismo e o Otimismo diante da Morte
No decorrer da história, o espírito humano assumiu as duas atitudes antagônicas possíveis diante do fenômeno “morte”: o pessimismo e o otimismo. A morte não pode deixar de aparecer como um mal, e sob este aspecto óbvio foi considerada desde antigos tempos.
Segundo Bittencourt (1963), a morte projeta seu aspecto sobre toda a vida do homem, e desta faz algo de ilusório como um sonho, como uma comédia ou uma tragédia. A prova de que a morte é um mal é o fato de ela não afetar os deuses.� Alguns pensadores gregos, julgando que a morte colocao homem numa região de sombras e incertezas, denominada Hades�, deploravam-na. 
O pessimismo, em relação à morte, tornou-se a forma mais atraente do estoicismo greco-romano. Os estoicos queriam ver na morte algo de indiferente ao homem, já que só reconheciam a virtude e o vício. Segundo eles, a educação para a morte exige que o homem se convença de que morrer é um acontecimento natural e indiferente. 
Tal esforço educativo era acompanhado e facilitado pelo menosprezo do corpo e dos valores desta vida. Em consequência, o suicídio, desde que “razoavelmente justificado”, se afigurava plenamente lícito ao estoico. Autores, como A. J. Festugiére, consideram que o estoicismo, querendo negar o caráter doloroso da morte, acabam por evidenciar um sentimento de desespero extremamente agudo.� 
O pessimismo diante da morte chegou a sua expressão mais veemente no moderno existencialismo�. Para esse, a angústia é a nota dominante da vida humana. O homem passa do nada para o nada e a vida presente carece de sentido; donde se origina, no baixo existencialismo, a tendência a gozar desenfreadamente dos bens deste mundo. 
O existencialismo, portanto, contradiz o ideal que norteava o pensamento grego sobre a morte. De fato, entre os gregos sustentava-se a ideia da nobreza de entregar a vida, não ao gozo desenfreado dos bens deste mundo, mas de ser capaz de morrer em prol de uma causa heroica, principalmente a polis.
Tal atitude é considerada uma vitória, uma glória que o homem associa ao seu nome, granjeia o louvor dos pósteros, junto aos quais, continua a viver imortalizado. Acreditavam ser possível os defuntos ouvirem algo dos seus louvores na Terra. Morrer “belamente” era o ideal do herói grego.� Na literatura grega ocorre, outrossim, a ideia de que os defuntos continuam a viver, não só pela fama, mas, ainda, por seus filhos.
Também os dualistas fizeram da morte algo de positivo; ela seria a libertação da alma encarcerada no corpo e por ele impossibilitada de expandir plenamente sua vitalidade. Assim pensavam na Antiguidade os órficos, pitagóricos, Platão, os neoplatônicos e, principalmente, os gnósticos. Para estes últimos, a existência do corpo é, ao mesmo tempo, morte, e a morte é o início da verdadeira vida.�
Na filosofia contemporânea, alguns esperam, após a morte, nova vida semelhante à presente. Nietzsche preconiza um eterno retorno, interminável renascer, do homem, querendo dissipar o temor que as ideias de morte e de um Juiz Supremo lhe suscitavam. O eterno retorno, segundo ele, possibilita a formação do super-homem, o homem dotado de poder soberano, que dita as normas do universo inteiro.�
1.3. O Conceito Cristão de Morte
O problema da morte, tão discutida pelos filósofos, sem, contudo, chegar a uma explicação satisfatória pode encontrar alguma perspectiva elucidativa para seu existir e finalidade, através da Revelação Cristã, que propõe uma visão muito otimista, digna, realmente, de um Deus sábio e bom. 
De fato, para o cristão, a morte não deixa de ser um fenômeno natural. Todo ser tirado do nada e composto, todo ser cuja essência não é a própria existência, fato que só é realidade em Deus, é, por sua própria constituição, sujeito a decompor-se, voltar ao nada. E essa possibilidade, nos viventes corpóreos, cedo ou tarde acontece naturalmente, acarretando destruição e morte.
Todavia, ao criar o homem, Deus, em sua bondade, lhe quis conferir o dom preternatural, que ultrapassa as exigências de determinada natureza da imortalidade. Adão e Eva, em inocência, possuíam a faculdade de não morrer; esta era a expressão da grande proximidade de Deus em que se encontravam os nossos pais.� 
O Criador, porém, pediu-lhes que, por um ato de obediência, se tornassem dignos desse privilégio e, assim, ser confirmados, por Deus, na imortalidade. Ora, os primeiros pais frustraram a sua missão, desobedecendo. Com isso, tornaram-se habitualmente avessos ao Criador, foram expulsos do paraíso e condenados à morte. Diz a Escritura:
Deus não fez a morte, nem experimenta alegria quando perecem os vivos. Criou todas as coisas para que tenham existência.(...) Deus criou o homem para a vida eterna, e o fez ‘a imagem da sua própria natureza. Foi pela inveja do demônio que a morte se introduziu no mundo. (Sb 1, 13-14.2, 23-24).
O texto do livro da Sabedoria deixa claro que o Criador não quis deixar o homem entregue à triste sorte de condenado. Por esta razão, em tempo oportuno, o próprio Deus, descendo à carne humana, tomou sobre Si a morte com todas as suas angústias precursoras. Fazendo isto, Cristo venceu a morte e dela nos libertou. 
De fato, não pode ficar detida nas garras da morte a natureza humana de Jesus, que estava unida à divindade. A mesma carne que conhecera a morte reapareceu gloriosa, imortal em Cristo. Sendo este, homem verdadeiro não foi isento da morte, mas, provando-a, fê-la passagem para vida nova, mais pujante.�
Tal vitória, Cristo a obteve em nome e em favor do gênero humano a fim de que cada indivíduo, após a Redenção, saiba que, embora deva morrer em consequência da culpa original, a morte não é para ele mera sanção, mas, em seu sentido mais profundo, é o trânsito para a vida eterna, título de glória, como indica o autor da Carta aos Hebreus:
 ...pois que seus filhos participam da carne e do sangue, também ele quis ter parte na carne e no sangue, a fim de, por sua morte, reduzir à impotência o que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar os que, por temor da morte, estavam sujeitos à escravidão durante toda a sua vida. (cf. Hb 2, 14-15).
A sua vida se comunica a todos, através dos séculos, mediante o Batismo. Por ele, o cristão é incorporado a Cristo, cabeça de um corpo (cf. 1 Cor 12,12), enxertado no Senhor Jesus, verdadeira videira (cf. Jo 15, 1-5). A vida de Cristo, por ser eterna, se expande nele; esta vida é verdade, lhe vem confiada sob a forma de germe latente na alma, ainda não transparente no corpo. O germe, porém, tende a penetrar, cada vez mais, as faculdades e atividades da alma e a transfigurar, também, o corpo no dia em que este ressuscitar.
Não há, para o cristão, definhar ou morrer. Embora ele sofra as misérias e a morte como os demais homens, as suas misérias e a sua morte são as de um membro de Cristo; o que quer dizer que elas levam à verdadeira vida, à glória eterna. Sofrer e morrer significa, para um membro de Cristo, estender à sua carne os sofrimentos e a morte vitoriosos de Cristo. 
São Paulo, ao abordar o tema da morte, ensina que sofrer e morrer significa, para um membro de Cristo, estender a sua carne os sofrimentos e a morte vitoriosos de Cristo. Por isso, ainda o Apóstolo das Gentes afirma: “Enquanto o nosso homem exterior vai definhando, o nosso homem interior se vai renovando de dia a dia.” (cf. 2 Cor 4,16).
Os antigos cristãos chamavam o dia de sua morte de seu natalício, pois a morte é a consumação do Batismo, a etapa derradeira da regeneração iniciada outrora e desdobrada lentamente nesta existência terrestre. O cristão só é perfeito na medida em que é filho da luz, da vida eterna (cf. 1 Tes 5,6-10). É da eternidade que vive, trazendo-a arraigada em seu íntimo. Em tal quadro, a morte se torna meta ardentemente almejada.
1.4. A Morte como Pedagoga 
Há, ainda, dois modos de se considerar a morte. Há o modo sapiencial que encontramos na Bíblia, na Filosofia, nas religiões, na poesia; e o modo mistérico, ou pascal, que encontramos no cristianismo. No primeiro caso, temos a morte como pedagoga, ou seja, como aquela que nos conduz à sabedoria, ao conhecimento; no segundo, a morte como mistagoga, em outros termos, como aquela que nos introduz no mistério, sendo ela mesma parte do mistério cristão.�
Como a graça pressupõe a natureza e a transcende, sem a negar, também a consideração mistérica ou pascal da morte supera a sua consideração natural ou pedagógica, sem, porém, a tornar inútil. Ambas as perspectivas se relacionam como o Antigo e o Novo Testamento. O Antigo Testamento oferece-nos uma visão sapiencial da morte;o novo, uma visão mistérica, cristológica e pascal. Contudo aqui nos deteremos em considerar a morte enquanto pedagoga.
É fato que a morte é um abismo indecifrável, impossível de domesticar. É o fim de toda a erudição. Ela nos surpreende quando menos a esperamos; interessa-nos ter a sabedoria do coração para sermos sábios e conscientes, preparando-nos e tornando-nos senhores de nossa morte, rompendo a conspiração de silêncio que a cerca. 
No Antigo Testamento se fala diretamente da morte apenas nos livros sapienciais: Jó, Salmos, Eclesiastes, Sabedoria etc. Esses livros dão muita atenção ao tema da morte. No livro de Eclesiastes o autor pede a Deus que o ensine a contar os nossos dias e chegaremos à sabedoria do coração. Ao abordar o mistério da morte, o autor inicia de forma categórica: “Há um tempo para nascer e um tempo para morrer” (cf. Ecl 3,2), e termina dizendo: “Tudo veio do pó, e ao pó tudo volta.” (cf. Ecl 3,20). 
A velhice é sugerida pelos seus efeitos degenerativos: o homem que morre é comparado a uma lâmpada que quebra e se apaga, a uma ânfora que se rompe na borda da fonte, à roldana que se quebra deixando o balde cair no poço (cf. Ecl 12, 1-18). Por que nascemos? Por que morremos? Para onde vamos depois da morte? São perguntas que, para o sábio do Antigo Testamento, tinham apenas esta resposta: Deus assim o quer e, depois de tudo, haverá o julgamento.� As suas últimas palavras são: “Ilusão, pura ilusão! Tudo é ilusão.” (cf. Ecl 12,8). 
O Sirácida inicia seu tratado sobre a morte com as palavras: “Ó morte, quão amarga é tua lembrança!” (cf. Eclo 41,1); e procura consolo dizendo que a morte é o destino de todos; que é decreto do Senhor; que viver dez, cem ou mil anos não muda nada, pois, no fim, será preciso morrer (cf. Eclo 41,1-2).
A Bíblia lembra-nos opiniões ainda mais inquietantes, que, de certa forma, se aproximam daquelas propostas pelos incrédulos do nosso tempo: “Curta e triste é a nossa vida e não há remédio quando chega o fim do homem, e não se conhece ninguém que tenha voltado da morada dos mortos. Pois, por acaso nascemos e depois seremos como se não tivéssemos existido.” (cf. Sb 2,1s).
Somente nesse livro da Sabedoria, que é o mais recente do Antigo Testamento, a morte começa a ser iluminada pela ideia de uma retribuição ultraterrena. Como se pensa, as almas dos justos estão nas mãos de Deus, ainda que não se saiba o que isso exatamente possa significar (cf. Sb 2, 23).
CAPÍTULO II: PARA ONDE VAMOS DEPOIS DA MORTE?
Esta é uma das perguntas que todo ser humano pergunta desde toda a criação. Mas, o lugar para onde ir, depende das suas ações, do que fez o homem nesta sua vida, na Terra. Vejamos os lugares para os quais o homem pode ir após a morte.
2.1. O Juízo Particular e o Juízo Final
O juízo não será apenas universal, mas, também, individual; o que quer dizer: os homens serão examinados não apenas enquanto membros de uma sociedade ou de uma coletividade, mas cada qual, em particular, deverá prestar contas do seu talento. (cf. Mt 25, 14-30). 
O fato de que a morte coloca o homem em um estado definitivo implica seja proferida sobre o indivíduo, logo após a separação da alma e do corpo, a sentença que assinale a respectiva sorte. É o que realmente se dá no chamado juízo particular.� Conforme alguns teólogos, a solidariedade dos justos, aqui expressa, deve abranger todos os homens simplesmente, desde a primeira geração da história até a última.
A tese de que as sanções são diferidas até a ressurreição dos corpos parece ter afetado, em vários dos seus fatores, a crença no juízo particular. Alguns, tendo a atenção fortemente voltada para o juízo universal, não pensavam em juízo particular; outros chegavam positivamente a considerá-lo supérfluo.� Apesar das hesitações registradas ao longo da história, a existência de um juízo particular é doutrina comum da Igreja.
A Sagrada Escritura, embora ao falar de juízo geralmente se refira ao juízo universal, em algumas passagens dá a entender que, logo após a morte, há determinação da sorte de cada alma. Na parábola do mau rico e do mendigo, somos levados a concluir que, ao deixar este mundo, cada alma recebe a devida sanção; Lázaro é levado ao seio de Abraão, ao passo que o avarento sofre o castigo (cf. Mt 25, 14-30). 
Isto pressupõe uma sentença de Deus sucessiva à morte. Sentença definitiva, pois, conforme a parábola, o mau não pode passar para o lugar justo, nem vice-versa; sentença anterior ao juízo final. Outro exemplo são as palavras do Senhor ao bom ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (cf. Lc 23, 43), as quais, insinuam que, logo após a morte, o pecador, julgado e agraciado, goza da bem-aventurança destinada aos justos. 
Particularmente expressivo é o ensinamento paulino que assevera que: “Bem sabemos que residir neste corpo é viver em exílio longe do Senhor, pois é a fé que guia nossa caminhada e não a visão clara. Por isso, enchemo-nos de coragem e preferimos exilar-nos do corpo para residir junto ao Senhor.” (cf. 2 Cor 5,6). 
Aqui, o apóstolo associa, de um lado, residir no corpo com o estar em exílio longe do Senhor e um caminhar na fé; de outro lado, o exilar-se do corpo, ou seja, morrer, para residir junto ao Senhor e caminhar na visão de Deus. Donde se depreende que, logo após a morte, antes mesmo da ressurreição dos corpos, os justos gozam do prêmio definitivo, da visão de Deus, o que não se deve dar sem um julgamento prévio. Da mesma forma se deve entender a passagem em que o apóstolo identifica morrer a estar com Cristo. (cf. Fl 1,23).
Com a volta do Senhor Jesus e a ressurreição dos mortos, a Revelação cristã associa outro acontecimento, que porá o arremate à história do mundo presente: o Juízo Universal. No tocante a ele, a Escritura e a Tradição apresentam, entre vários pontos de interpretação, duas verdades que são consideradas estritamente dogmáticas, a saber: que no fim dos tempos, após a ressurreição da carne, todos os homens serão publicamente julgados e que o autor do juízo será o Cristo Jesus.�
Jesus predisse repetidas vezes que ele mesmo haveria de ser o árbitro do mundo por ocasião de sua segunda vinda. A este respeito, é particularmente grandiosa e significativa a cena descrita em Mt 25, 31-46. Em mais de uma ocasião, embora por sua aparência externa fosse impotente e sujeito ao múltiplo juízo dos homens, o Senhor se apresentou, como que paradoxalmente, qual juiz dos destinos humanos. Notem-se principalmente as proclamações de bem-aventurança e de desgraça no sermão da montanha. (cf. Lc 6, 20).
Considerando-se o Evangelho, nota-se que Jesus reivindicava a autoridade para julgar os homens, senão por ser o “Filho do Homem”; era em e por sua natureza humana que Jesus se constituía árbitro dos demais homens. Este ponto é importante para entender o plano de julgar simplesmente devido à sua divindade. 
Todavia, assim opinando, não perceberíamos plenamente o mistério de Cristo. Foi em sua natureza humana que ele foi obediente ao Pai até o extremo, desempenhando fielmente o papel que o primeiro Adão se recusara a preencher. Assim, foi a título de segundo Adão que o Senhor Jesus angariou a dignidade de nova cabeça, Rei, Juiz de todos os homens. Além disto, o Pai deu-lhe o poder de julgar, pois é o Filho do homem, precisamente, é o novo Adão. 
Diante de Cristo glorioso comparecerão todos os homens para serem julgados em público. É o que se percebe das predições do Senhor, que se referem ao mundo inteiro e a todas as fases da história: ante o tribunal de Cristo reunir-se-ão todas as nações (cf. Mt 25, 32), os habitantes da Terra inteira (cf. Lc 21, 35). Contudo, não se sabe nem o dia nem a hora desse juízo.
2.2. A Bem-Aventurança Celeste
O destino normal de toda alma que, após a morte, compareça diante de Deus é entrar no gozo do seu Senhor, na felicidade própria de Deus mesmo (cf. Mt 25, 23). Dado que, por parte da criatura, nenhuma impureza a isso se oponha, a alma, logo depois do juízo particular, entra num estado de suma bem-aventurança, a que é chamado,a vida eterna, “aquilo que o olho jamais viu o ouvido jamais ouviu, o coração humano jamais perscrutou.” (cf. I Cor 2,9).
A promessa de uma vida futura e bem-aventurada ocorre, de maneira geral, em todos os livros do Novo Testamento. Nos Evangelhos, Jesus frequentemente apresenta a felicidade eterna sob a figura da grande ceia, que um homem poderoso prepara para ricos e pobres, felizes e desgraçados (cf. Lc 14, 16-24), ceia que o patrão serve aos próprios servos fiéis (cf Lc 12, 37), banquete nupcial (cf. Mt 25, 1-12), um festim ao qual acorrerão todos os povos da Terra (cf. Lc 13,29). 
Seguindo, portanto, as imagens propostas pelos evangelistas, podemos perceber que o ensinamento de Jesus tem como escopo mostrar ao homem que a vida eterna será comunhão íntima dos justos, não somente entre si, mas também com o Senhor, que nas parábolas é apresentado ora como o Rei, ora como o esposo, que prepara a ceia. 
Sendo assim, detecta-se, através dos textos sagrados, que o próprio Cristo nutrirá o homem sem intermediário, sem véu, e o nutrirá não com alimento perecível, mas com a sua própria Verdade e Beleza e, como em todo convívio, também no encontro da vida eterna haverá, sem dúvida, um colóquio face a face entre o Criador e a criatura. Disto não poderá deixar de vir alegria e bem-estar imensos para o homem.
São Paulo costuma propor a meta final dos justos como sendo a vida simplesmente dita, a vida eterna (cf. Rm 2,7; 6,23; 8,13), o que facilmente se entende, já que será a mais íntima participação do homem na Vida de Deus. O apóstolo assim caracteriza essa vida:
A caridade jamais sucumbirá. Ao contrário, as profecias terão fim; as línguas cessarão; a ciência será abolida. Pois é em parte apenas que conhecemos e em parte apenas que profetizamos. Quando, porém, chegar o que é perfeito, terá fim o que é parcial. (...) Atualmente, vemos, como que em um espelho, de modo confuso; havemos de ver, porém, face-a-face. Agora conhecemos em parte; hei de conhecer, porém, do mesmo modo como sou conhecido. (cf. I Cor 13,8-12).
No céu, os justos têm a intuição direta� do Senhor. É isso que constrói a essência da bem-aventurança celeste. Todavia, por contemplarem a Deus, não são privados da felicidade que lhes possa advir de fontes acessórias, ou seja, da visão imediata de criaturas ou da posse de outros bens, que a Igreja só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cf. At 3,21) e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cf. Ef 1,10; Cl 1,20; 2 Pd 3,10-13).
2.3. O Purgatório
A Revelação escrita é bastante sóbria no que se refere ao purgatório. Do Antigo Testamento, o trecho mais significativo é o do segundo livro dos Macabeus e aborda uma matéria delicada, pois, no dia seguinte ao da vitória sobre o general pagão Górgias, Judas Macabeus (160 a.C.) descobriu, debaixo das túnicas de seus soldados mortos, pequenos ídolos, de que se haviam apoderado no saque de Jânia; eram objetos impuros, que a Lei proibia aos israelitas guardar consigo. (cf. 2 Mc 12,39-46).
Em ênfase dessa atitude de infidelidade à Lei, os soldados haviam morrido em estado de culpa, poderia ser grave ou não. Esse estado de culpabilidade depois da morte os vinculava a certa aderência ao mal, das quais deviam ser libertados para poderem conseguir a bela recompensa. 
Judas Macabeus julgava que, à vista desse estado de infidelidade à Lei no momento da morte, poderiam ser úteis os sufrágios dos vivos, razão pela qual mandou oferecer um sacrifício expiatório em Jerusalém. Em suma, esse texto pressupõe e insinua a realidade que, à luz do cristianismo, se chama purgatório. 
No Novo Testamento, o texto de Mt 5,25s apresenta o conselho de Jesus durante o Sermão da Montanha sobre as contendas interpessoais: “Põe-te de acordo com teu adversário o mais cedo possível, enquanto estás em caminho com ele, afim de que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao carcereiro e sejas atirado ao cárcere. Em verdade, digo-te: deste não sairás antes de ter pago o último centavo.”
O Senhor dirige-se, portanto, aos seus ouvintes usando a figura do cárcere como possibilidade. Para evitar que tal privação da liberdade ocorra, recomenda que ainda em via, na peregrinação desta vida, seja estabelecida a concórdia e recomenda-lhes caminhar em paz com os semelhantes ou, de maneira mais geral, com Deus. 
Em outro texto neotestamentário, encontramos são Paulo que assim ensinava aos cidadãos de Corinto:
Conforme a graça de Deus que me foi dada, como sábio arquiteto, coloquei o fundamento e outro constrói por cima. Cada qual, porém, veja como constrói por cima. Pois ninguém pode colocar outro fundamento senão o que está colocado, a saber, Jesus Cristo. Se alguém constrói sobre esse fundamento servindo-se de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno palha, a obra de cada um aparecerá claramente; com efeito, o dia do Senhor a dará a conhecer, pois se revelará no fogo, e o fogo provará a qualidade da obra de cada um. Se a obra construída subsistir, o operário receberá uma recompensa; se, porém, a obra de alguém for consumida, o operário perderá sua recompensa; ele, contudo, será salvo, mas como que através do fogo. (cf. 1 Cor 3,10-15).
O edifício que os apóstolos constroem é a evangelização de Corinto. Paulo lançou o fundamento anunciando Jesus, pela primeira vez aos coríntios. Depois dele, outros prosseguiram a obra com muito zelo, empregando ouro, prata e pedras preciosas; outros com muita negligência, usando madeira, feno e palha, material muito débil. O dia do Senhor revelará o afinco de cada qual dos operários: esse dia do Senhor significa o dia do 
juízo universal. (cf. I Cor 1,8; 5,2). O fogo é uma metáfora para designar o julgamento de Deus (cf. Is 13,9; 66,15s); com efeito, é um fogo que provará as doutrinas e obras dos homens, manifestando o contraste entre o que é precioso e duradouro, a saber, a pregação construtiva e o trabalho zeloso daquilo que é corruptível, como o ensinamento frívolo, misturado à sabedoria mundana, zelo diminuído. O fogo pode ainda indicar o perscrutar das consciências e o infligir o castigo merecido aos construtores relaxados.
Esses construtores relaxados serão purificados como que através do fogo (cf. 66,15). De fato, o julgamento final de Deus é comparado ao fogo que se lança repentinamente a um edifício em construção, destruindo todo o material combustível, de tal modo, porém, que o operário ainda consegue escapar, desnudado ou sem grandes méritos, depois de experimentar dores e angústias por não ter construído com material mais apto.
Após serem julgados por Deus, alguns cristãos negligentes se salvarão, não, porém, sem experimentar suas penas. Ora, o julgamento que decreta a sorte definitiva de cada indivíduo é, primeiramente, o juízo particular, que pode acarretar, para os tíbios, penas após as quais os mesmos indivíduos gozarão da salvação eterna. Ora, é justamente nesses termos que se formula o dogma católico do purgatório. Na base desses textos e de outros documentos bíblicos, a crença do purgatório foi se tornando cada vez mais explícita entre os católicos.
2.4. O Inferno
Caso o juízo particular comprove o absoluto alheamento de uma alma frente a Deus, ou seja, a existência em voluntária contradição ao Bem, não resta a essa criatura senão assumir as últimas consequências de tal atitude: padecer o definitivo afastamento do Bem. É o que se dá no inferno. � 
A noção de inferno suscita a muitos homens dúvidas e revoltas. Pergunta-se como se pode conciliá-la com o conceito de um Deus misericordioso ao extremo. O problema do inferno em muitos espíritos se deve à insuficiente compreensão da verdade.
O termo inferno designa a punição atribuída às criaturas que, ao terminarem o currículo desta vida, se encontrem em pecado mortal ou grave revolta contra Deus. A punição não conhece fim nem mitigação.
No AntigoTestamento, a primeira insinuação do inferno encontra-se em Isaías. O profeta, para predizer os castigos que afetarão os idólatras quando o senhor Deus vier a julgar a Terra, recorre aos seguintes termos: “Os peregrinos que vierem a Jerusalém verão os cadáveres dos homens que se revoltaram contra mim; o seu verme não morrerá, o seu fogo não se extinguirá; serão para todos um espetáculo de horror.” (cf. Is 66,24) Isaías utiliza no texto figuras de linguagem, com o intuito de apresentar uma punição tremenda e inextinguível, reservada para os inimigos de Deus após esta vida.
Fogo e vermes, cuja ação não se extinguirá, eis dois elementos que se tornaram frequentes no Antigo Testamento para designar o castigo dos pecadores, como podemos ver em Judite�; no Sirácida�; e em Daniel, que fala da ressurreição dos pecadores destinados a receber o justo castigo: “Muitos dos que dormem na poeira da terra despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a confusão e o opróbrio eterno.” (cf. Dn 12,2).
No Novo Testamento, a revelação dos novíssimos fez-se mais explicita. Jesus, por meio de suas parábolas, dava a entender que, após a vida terrestre, duas são as formas de vida possíveis para o homem: uma bem-aventurada; outra, atroz e infeliz. Como se depreende através das narrativas do joio e do trigo (cf. Mt 13, 24-30), da rede do pescador (cf. Mt 13,47-50), dos convidados à ceia (cf. Lc 14,16-24), das dez virgens (cf. Mt 25,1-12). 
Na história do mau rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16,19-31), o contraste é inculcado com a máxima veemência: na vida póstuma se poderão mesmo inverter os papéis que atualmente cabem aos indivíduos. As duas sortes são também apresentadas com muita ênfase no quadro do juízo universal (cf. Mt 25,33-46). 
Em outros textos poderemos ainda observar o ensinamento do Senhor quando diz: “Em verdade vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos homens, mesmo as blasfêmias que tiverem proferido. Mas aquele que tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais obterá perdão; é réu de pecado eterno” (cf. Mc 3,28).
O pecado contra o Espírito Santo é o endurecimento, a obstinação do homem que, após uma falta grave, reluta contra o chamado de Deus ao arrependimento. Ele se fecha à graça, pois recusa a penitência e o perdão, logo não pode ser agraciado. Deus não lhe força a vontade. É este o único caso de pecado imperdoável, dito contra o Espírito Santo, pois a Ele são atribuídas as inspirações da graça. 
A Tradição cristã foi unânime em atestar a existência do inferno; apenas lhe ficavam algumas dúvidas a respeito da índole das penas. De resto, o dogma da existência do inferno fora estudada, sistematizada, por muitos antigos cristãos e por precedentes da literatura pagã, que, do seu modo, professavam um castigo póstumo dos malvados em lugares subterrâneos e mediante o fogo. 
Um sínodo de Constantinopla (543 d.C.), aprovado pelo papa Virgílio, condenou a doutrina de Orígenes que afirmava a restituição ( apokastástasis) de todas as criaturas à felicidade primordial; segundo tal doutrina, a condenação dos demônios e dos réprobos não seria definitiva. 
Portanto, vemos que o inferno, sua existência e as condições para nele ingressar, é um mistério; mistério na medida em que o pecado constitui o que o apóstolo são Paulo chamava de “o mistério da iniquidade” (cf. 1 Ts 2,7), pois, na verdade, o inferno, suas penas e sua dor não são, senão, consequência do pecado.
CAPÍTULO III: O SUICÍDIO
O suicídio: ato de tirar a própria vida. É uma das 10 principais causas de morte nos EUA e a segunda principal causa de morte entre homens jovens. A magnitude do problema é em realidade muito maior do que as estatísticas sugerem, pois muitos suicídios são disfarçados como acidentes e, portanto, não são reconhecidos. Há também os gestos de suicídio, nos quais indivíduos se engajam em comportamento suicida óbvio, mas na realidade não desejam se matar, mas são pedidos de ajuda. Em outros casos, são uma tentativa de manipular ou controlar os outros.� 
3.1 O suicídio – itinerário teológico 
Antigamente acreditava-se que a alma do suicida iria direto para o inferno. Hoje, com a ajuda da psicologia e psiquiatria, sabemos que a culpa do suicida pode ser muito diminuída devido a seu estado de alma. Pois para ocorrer o pecado grave, deve haver três pontos: a- matéria grave; b- liberdade; c- consciência. Por esta razão, diante da liberdade fragilizada por diversas circunstâncias ou por problemas psíquicos, Deus vem com sua misericórdia.
Evidentemente o suicídio é, objetivamente falando, um pecado muito grave, pois atenta contra a vida, o maior dom de Deus para nós. Infelizmente há países que chegam a facilitar e até mesmo a estimular essa prática para pacientes que sofrem ou para doentes mentais. 
Na Suíça, por exemplo, uma decisão da Suprema Corte abriu o caminho para a legalização da assistência ao suicídio de pacientes mentalmente doentes. O país já permite legalmente o suicídio assistido para outros tipos de pacientes com uma ampla faixa de doenças e incapacidades físicas. É o império da “cultura da morte” por meio da eutanásia.�
O Catecismo da Igreja Católica ensina que:
Cada um é responsável por sua vida diante de Deus que lha deu e que dela é sempre o único e soberano Senhor. Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la para sua honra e a salvação de nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela.
O suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. Ofende igualmente o amor do próximo porque rompe injustamente os vínculos de solidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana, às quais nos ligam muitas obrigações. O suicídio é contrário ao amor do Deus vivo. (Catecismo da Igreja Católica, 2280-2281).
Mas o Catecismo lembra também que a culpa da pessoa suicida pode ser muito diminuída:
Se for cometido com a intenção de servir de exemplo, principalmente para os jovens, o suicídio adquire ainda a gravidade de um escândalo. A cooperação voluntária ao suicídio é contrário à lei moral. Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida. (Catecismo da Igreja Católica, 2282).
Portanto, ninguém deve pensar que a pessoa que se suicidou esteja condenada por Deus; os caminhos de Sua misericórdia são desconhecidos de nós. O Catecismo manda rezar por aqueles que se suicidaram:
Não se deve desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida. (Catecismo da Igreja Católica, 2283).
Certa vez, são João Maria Vianney, também conhecido como “Cura D’Ars”, ao celebrar a Santa Missa notou que uma mulher vestida de luto estava no final da igreja chorando; seu marido havia se suicidado na véspera, saltando da ponte de um rio. O santo foi até ela no final da Celebração Eucarística e lhe disse: “Pode parar de chorar, seu marido foi salvo, está no Purgatório; reze por sua alma”. E explicou à pobre viúva: “Por causa daquelas vezes que ele rezou o terço com você, no mês de maio, Nossa Senhora obteve de Deus para ele a graça do arrependimento antes de morrer”. Não devemos duvidar dessas palavras. 
3.2 o suicídio e a moralidade do ato
Contudo, diante do suicídio, não há uma mudança diante dos dados da revelação, mas um maior discernimento dos dados revelados. Na moral, existem dois âmbitos: geral ou universal, mas, também, o singular, de particularidades que devemos observar com maior cuidado, para não entrar no discurso moralista.
Uma reflexão: cada pecado que praticamos, é de fato, um suicídio que realizamos em nossa vida, na graça e no amor a Deus, sendo que Jesus vem ao nosso encontro com o dom da Ressurreição, através do sacramento da Reconciliação. É Jesus que se oferece comopreço do nosso resgate. É Jesus que se imola pela nossa salvação. É Jesus que é morto na cruz, para que toda a humanidade alcance o dom da redenção. 
Vemos em Jesus Crucificado a imagem viva da divina misericórdia do Pai. É a misericórdia que leva Jesus a imolar-se na Cruz por nós. É a misericórdia que faz cair sobre o seu Corpo divino todos os golpes, os insultos e os ultrajes de toda a humanidade, inclusive os que tiram a própria vida.
Coloquemo-nos na misericórdia de Deus...
CONCLUSÃO
Vimos no primeiro capítulo, que a morte não é tão feia assim. Seja no aspecto antropológico, como no psicológico e no cristão, a morte tem algo a nos dizer. No segundo capítulo, vimos os possíveis destinos do homem após sua morte. Juízo individual e universal, céu, purgatório e inferno são as realidades com as quais o homem se deparará ao fim dos seus dias. Essas realidades são chamadas de novíssimos, por serem os últimos acontecimentos da pessoa humana.
O homem é composto de corpo e alma. Na morte a alma humana, que é espiritual e imortal, se separa do corpo e somente no dia da ressurreição da carne ela irá se unir ao corpo novamente. A morte nos educa para uma vida melhor, uma vida na presença de Deus mais intensa, enquanto vivemos nesta vida aqui na Terra. A morte é nossa “irmã mais velha”, pois ela nos ensina a viver melhor a vida, sendo uma ótima educadora para isto. Quando alguém morre, sentimo-nos comovidos por tal situação e nos perguntamos: “Será que estou preparado para morrer?” E começamos a fazer um exame de consciência de nossa vida, procurando ver se estamos ou não fazendo a vontade de Deus.
Após a morte, o nosso destino depende do que cada um de nós, no que fez em sua vida e do que não fez, aqui na Terra. Se vivemos realmente no amor de Deus ou não. Após nossa morte, seremos julgados. Teremos um juízo particular e no fim dos tempos, teremos um juízo universal. 
Se nós fizermos coisas boas, vivendo na presença do Senhor, noite e dia, e se morrermos na graça e na amizade de Deus, sem nenhuma mancha de pecado, vamos para a glória celeste (Catecismo da Igreja Católica, 1023). Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham a garantia da salvação eterna, passam, após a morte por uma purificação (Catecismo da Igreja Católica, 1030). E para aqueles que morrem em pecado mortal, sem ter se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus, ficarão eternamente no inferno, sem a comunhão com Deus e sem a comunhão com os bem-aventurados (Catecismo da Igreja Católica, 1033).
Portanto, vamos pedir a Deus que através, do estudo sobre a morte, possamos viver uma vida na sua presença, encarando a morte como uma grande pedagoga da vida, que nos ensina sempre a viver a vida. Não fujamos dela, pois um dia chegará para nós. Estejamos preparados para recebê-la. 
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APÊNDICE
Este apêndice mostra o nosso cartunista brasileiro Maurício de Souza falando sobre o seu personagem: a Dona Morte da Turma da Mônica. O personagem acorda com uma missão: levar uma pessoa que marcou a história em nosso mundo. Alguém que foi símbolo do amor incondicional ao ser humano e que acreditou até o fim na bondade que existe em todos nós e que fez a diferença no mundo e será lembrado para sempre. A Dona Morte faz todo um questionamento acerca de seu trabalho, faz um questionamento acerca de si mesma. Vejamos o quadrinho!
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BIBLIOGRAFIA
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TANQUEREY, A. A Vida Espiritual: Explicada e Comentada. Niterói: Permanência, 2007.
� Fl 1,21.
� BETTENCOURT, E. A vida que começa com a morte. Rio de Janeiro: Agir, 1963, p.20.
� Cf. Ibidem, p. 30.
� Lugar inferior onde habita, segundo a mitologia grega, o deus dos infernos, dos subterrâneos e dos mortos. Cf. FANTONI, B.A. Magia e Parapsicologia. São Paulo: Loyola, 1977, p.87.
� Cf. FESTUGIÉRE, A. J. L’ideal religieux des Grecs et l’Evangile. Paris: Argos , 1932, p. 69. 
� As invenções acerca de semelhante evolução, pelas quais se rechaça tudo o que é absoluto, firme e imutável, abriram o caminho a uma moderna pseudofilosofia que, em concorrência com o “idealismo”, o “imanentismo” e o “pragmatismo”, foi denominada “existencialismo”, porque nega as essências imutáveis das coisas e não se preocupa senão com a “existência” de cada um. (cf. DENZINGER, H. Compêndio dos Simbólos, definições e declarações de fé e moral. 40ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 856.
� Cf. Loco citato.
� Cf. REALE, G – ANTISERI, D. História da Filosofia – Filosofia pagã antiga. São Paulo: Ecclesiae, 2003, p. 22.
� NIETZSCHE, F. O Super Homem. Floresta: L&P, 2003, p. 10
� Os dons preternaturais conferidos a Adão. O dom de integridade aperfeiçoa a natureza do homem sem a elevar até à ordem divina: é seguramente um dom gratuito, preternatural, que transcende as suas exigências e forças; não é, porém, ainda o sobrenatural por essência. Compreende três grandes privilégios que, sem mudarem a natureza humana substancialmente, lhe conferem uma perfeição, à qual ela não tinha o mínimo direito: a ciência infusa, o domínio das paixões ou a isenção da concupiscência, a imortalidade do corpo (cf. TANQUEREY, A. A Vida Espiritual: Explicada e Comentada. Niterói: Permanência, 2007, p.78). 
� Cf. SILVA, B. S. A Igreja no evangelho de João, in Atualização 233 (1991) 389.
� Cf. CANTALAMESSA, R. Morte, minha irmã. Rio de Janeiro: Paulus, 2003, p. 15.
� Cf. FEUILLET, A – GRELOT, P. Palavra de Deus, in LÉON-DUFOUR, X. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis, 1987, col. 705.
� Cf. BETTENCOURT, E. A Vida que começa com a morte. Rio de Janeiro: Agir, 1963, p. 49.
� Cf. Ibid, p. 50.	
� Ibid, p. 245.
� Deus fala ao homem. E isto se dá por meio da contemplação que tem três tipos: contemplação adquirida ou ativa (fruto de nossa atividade intelectiva e afetiva auxiliada pela graça); contemplação infusa ou passiva, é essencialmente gratuita, e não podemos alcançá-la pelos nossos próprios esforços, auxiliados pela graça ordinária (dado na terra e principalmente no Céu); e contemplação mista que é alternativamente ativa e passiva. (cf TANQUEREY, A. A Vida Espiritual: Explicada e Comentada. Niterói: Permanência, 2007, p.668).
� Cf. BETTENCOURT, E. A. Vida que começa com a morte. Rio de Janeiro: Agir, 1963, p.105.	
� Cf. Jt 16, 20s. 	
� Cf. Eclo 7, 17.
� Cf. HOLMES, D. S. Psicopatologia dos Transtornos Mentais. 4ª ed. São Paulo:Artmed, 1990, p. 199.
� � HYPERLINK "http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/" \t "_blank" �Blog do Professor Felipe� Aquino. Site do autor: www.cleofas.com.br.
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