Buscar

3a aula FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Prévia do material em texto

CURSO DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Prof. Marcílio Florêncio Mota
profmarciliomota@hotmail.com.br
Tema da aula: FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
1. Definição de fontes:
	Fonte na linguagem comum significa o lugar das emanações, das origens das coisas. Em Direito tem a conotação de “lugar da origem das regras do Direito”. Apresentar definições da Introdução (Reale, Maria Helena, Tércio, etc.) e discutir quanto às fontes nos processualistas do trabalho.
2. Distinção entre fontes formais e materiais:
	O Direito distingue fontes formais de fontes materiais. As fontes materiais são os fatos sociais, naquilo que eles possuem de prática reiterada e valorada socialmente. 
No campo do processo é possível reconhecer a produção doutrinária e da jurisprudência como fontes materiais de Direito Processual, inclusive em matéria de Processo do Trabalho. As fontes formais, por sua vez, são aquelas expressões normativas que o Estado reconhece como aptas para a produção de efeitos jurídicos na sociedade. Em termos de processo, por conta do devido processo, as fontes formais são as de exclusiva incidência.
	A doutrina possui, no nosso entender, relevante papel na produção do direito positivo, inclusive no que respeita ao Processo do Trabalho. Veja-se, por exemplo, que a Exceção de Pré-executividade não é prevista na legislação e é amplamente praticada a partir da criação da doutrina e da aceitação da jurisprudência. Os casos de alteração legislativa ou mesmo de inovação em matéria processual são muitos e expressivos, o que demonstra a força da produção literária no que tange à influência do legislador.
	A jurisprudência, por sua vez, também tem importante destaque na influência do legislador. Muitas regras de Direito Material e de Direito Processual têm origem nas decisões reiteradas dos Tribunais. O legislador, então, pela força ideológica das decisões, sobretudo quando sumuladas, acaba por editando diploma legislativo que incorpora a interpretação dos Tribunais ao ordenamento jurídico.
3. As fontes formais de DPT:
a) A CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
	A CF é fonte do processo do trabalho na parte que dispõe sobre a estrutura, a organização e sobre a competência da Justiça do Trabalho – arts. 111 a 116 da CF. 
É de se destacar, contudo, a importância dos princípios processuais constitucionais, previstos no art. 5º da CF, e que são praticados em todos os processos: civil, penal e trabalhista. Podemos destacar, entre eles, o princípio do devido processo legal, o princípio do juiz natural, o princípio da ampla defesa e do contraditório, o princípio da publicidade dos atos processuais, o princípio da necessidade de fundamentação das decisões, o princípio do acesso à Justiça e o princípio da entrega jurisdicional num prazo razoável.
b) A CLT: 
	As regras sobre processo na CLT estão previstas entre os arts. 643 e 901. Ali temos inúmeras regras que versam sobre a competência das Varas do Trabalho e Tribunais, sobre atos, forma e prazos processuais, relativamente às partes e representantes, sobre as postulações (petição inicial e defesa), em torno das provas, relativamente à sentença trabalhista, sobre o sistema recursal e quanto à execução das decisões.
A CLT se ressente, todavia, de uma sistematização razoável e reconhece a possibilidade de omissões na regulação da tramitação dos processos, no que remete os aplicadores do direito ao uso supletivo do processo comum – arts. 769 e 889 da CLT. De fato, a CLT em matéria de processo é com sistema defeituoso, sem racionalidade e com omissões significativas. Quanto a este último aspecto, destacamos, por exemplo, que a CLT não contempla regras sobre a intervenção de terceiros e sobre medidas cautelares.
c) A Lei n. 5.584/70:
	Dispõe sobre um rito procedimental especial aplicável às ações de até 02 salários mínimos. Há quem interprete, contudo, que o referido rito procedimental não exista mais porque ele teria sido incorporado pelo rito sumaríssimo. Subsiste, no entanto, a constatação de que esta lei regula a assistência judiciária por sindicatos no processo do trabalho, a restrição do recurso contra a sentença, uma disciplina mínima da prova pericial e uma forma mais simples de registrar os fatos que forem trazidos ao processo pelas partes e pelas testemunhas.
d) O Direito Processual Comum:
Por força do que estabelecem os arts. 769 e 889 da CLT, o direito processual comum é fonte formal do processo do trabalho. De destacar, quanto ao processo comum os seguintes diplomas de aplicação ao processo do trabalho: CPC, CDC, ECA, Lei da Ação Popular, Lei da Ação Civil Pública e o Decreto-lei n. 779/69.
Não podemos perder de vista, no entanto, que temos duas condições à aplicação das regras do processo comum no processo do trabalho. Essas condições são: a omissão da CLT e a compatibilidade da norma que se pretende aplicar.
Como dissemos noutra oportunidade, um dos problemas mais instigantes da atualidade do processo do trabalho é o relativo à aplicação supletiva das regras do processo comum. É que a aplicação supletiva de outras regras processuais que não a CLT deve se amparar em lacuna do diploma celetista e em compatibilidade do dispositivo a ser aplicado com os princípios do processo especial, conforme a já mencionada regra de contenção que consta no art. 769 da CLT.
Corrente de interpretação que tem ganhado força assevera que a lacuna que autoriza a aplicação supletiva do processo comum não é apenas a lacuna normativa, mas também as chamadas lacunas ontológicas e axiológicas. A lacuna ontológica é aquela configurada pela falta de contemporaneidade da norma existente. Há uma norma regulando a questão na CLT, mas ela não é adequada em vista dos avanços históricos. Exemplo desse tipo de lacuna nós encontrávamos no art. 830, alterado recentemente, que desconsiderava a existência dos modernos meios de reprodução de documentos, xerox e fax. 
A lacuna axiológica considera o valor da regra existente em confronto com a regra a ser utilizada em substituição. A regra pode ser aplicada em substituição da existente se ela contiver um valor social que se sobreponha ao valor da regra específica, segundo essa interpretação. É o caso, por exemplo, da previsão de julgamento da exceção de suspeição ou de impedimento pelo próprio órgão cuja imparcialidade a parte suscita. Nesse caso, é evidente que a regra da CLT deve ser substituída pelas regras do CPC, que se sobrepõem do ponto de vista ético. No caso retratado também consideramos a existência de uma lacuna ontológica, já que as regras da CLT sobre as exceções em questão são do tempo em que a composição dos juízos de primeiro grau era paritária. 
Relativamente à questão da compatibilidade, observamos que não se trata de critério objetivo. A essência do que é ou não compatível é juízo subjetivo, variável e, destarte, controverso. Interpretamos, de qualquer modo, que a compatibilidade da regra do processo comum a ser deve ser aferida à luz dos princípios do Processo do Trabalho. Assim, uma norma do processo comum pode ser aplicada no Processo do Trabalho se for compatível com os princípios desse processo, em especial com o princípio da sumariedade dos ritos, da proteção etc. 
e) Lei n. 6.830/80:
Na execução - art. 889 da CLT. Essa lei regula a Execução Fiscal, ou seja, a execução promovida pela Fazenda Pública contra o contribuinte. Ela trata de forma extremamente favorável a Fazenda Pública e pode ser aplicada na execução trabalhista. Destarte, a execução trabalhista é regida primeiramente pela CLT e em seguida pela Lei de Execução Fiscal. Se ainda assim não houver a regra necessária, o aplicador vai buscar supressão da falta no processo comum (CPC e outros diplomas).
Outrossim, com a previsão de que a Justiça do Trabalho tem competência para a execução de multas aplicadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a Lei n. 6.830 é a que rege esse procedimento executório ou executivo e, nesse caso, a Lei n. 6.830/80 deixa de ser fonte subsidiária e passa a serfonte principal.
f) Lei n. 7.701/88:
Esse diploma estabelece normas sobre a organização e especialização dos Tribunais do Trabalho. Dispõe sobre a estrutura do TST e a competência de seus órgãos e estatui situações nas quais os Regionais devam especializar seus órgãos.
g) Lei complementar 75/93:
A lei complementar em comento nos interessa na parte que regulamentou o MPT. Ela traça as atribuições desse órgão que é relevante instrumento de efetivação do Direito do Trabalho que é o Ministério Público do Trabalho. Na lei encontramos os instrumentos que se reconhece ao MPT para o desempenho de suas relevantes atividades, quais sejam: o inquérito civil; a ação civil pública e o termo de ajustamento de conduta.
h) As Súmulas vinculantes do STF:
	Após a emenda 45 o STF passou a ter o poder de editar súmulas vinculantes. Essas súmulas são de observação obrigatória e, eventualmente, podem dispor sobre forma de procedimentalização. É possível, então, que venhamos a ter alguma regra processual prevista em súmula vinculante. Vejamos as súmulas vinculantes que nos interessam no processo do trabalho:
Súmula Vinculante 4 
Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. 
Súmula Vinculante 22 
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional no 45/04. 
Súmula Vinculante 23 
A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada. 
Súmula Vinculante 25 
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
4. O Processo do Trabalho, as Súmulas do TST e as Orientações Jurisprudenciais:
	As Súmulas e as Orientações Jurisprudenciais (OJ,s) do TST são extremamente importantes no que respeita ao Direito Material e ao Direito Processual do Trabalho. Podemos até dizer que quem não conhece as súmulas e as OJ,s do TST não conhece o Direito ou o Processo do Trabalho. As Súmulas e as OJ,s diferem entre si a partir do órgão jurisdicional que as aprovam, sendo que as OJ,s tendem, a se tornar súmulas. 
Acontece, porém, que as súmulas e as OJ,s não são de incidência obrigatória. Elas são observadas, no mais das vezes, mas não podem ser invocadas como se leis fossem. Enfim, elas são importantes diretrizes de interpretação, porém não obrigam os juízes e as partes. É oportuno destacar, no entanto, que as Súmulas podem impedir ou justificar recursos, o que pode ser compreendido, nesse caso, com uma função de fonte de Direito processual do Trabalho.
Prof. MARCÍLIO FLORENCIO MOTA

Continue navegando