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A individualização da criança

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Neyre Correia da Silva
A INDIVIDUALIZAÇÃO DA CRIANÇA 
J. Gélis
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UM CORPO PRÓPRIO, UM CORPO DOS OUTROS
Durante séculos – predomínio de uma consciência “naturalista” da vida e da passagem do tempo. 
Sociedade rural até o século XIX – mãe-terra.
Adultos em idade de procriar – elo entre passado e futuro.
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UM CORPO PRÓPRIO, UM CORPO DOS OUTROS
Mulher: depositária da família e da espécie.
Cada indivíduo descrevia um arco de vida: saía da terra e ela voltava. 
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Estrutura circular de um ciclo vital original – grande família (vivos e mortos), sempre igual em números.
Imagem do corpo ambivalente – seu próprio corpo mas também era um pouco “os outros”, os da grande família. 
Prioridade ao corpo da linhagem – o indivíduo possuía o próprio corpo na medida em que não contrariasse os interesses da família. 
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Criança – rebento do corpo comunitário, parte do grande corpo coletivo – pertencia à linhagem e aos pais. “Criança pública”.
No início – relação privilegiada com a mãe, em função da sua incompletude.
Após o nascimento “público” e “privado” se interpenetravam: nascimento privado e público, primeiros passos em local público (início de uma relativa autonomia da criança); batismo, momento de assegurar-se da qualidade dos sentidos do bebê.
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A primeira infância – período das aprendizagens. Pais tinham papel importante na educação dos filhos.
Aprendizagens da infância e da adolescência – além de fortalecer o corpo, aguçar sentidos, habilitar o indivíduo a superar revezes, transmitia a vida, a fim de assegurar a continuidade da família. Educação em comum, que fazia de cada ser um produto da coletividade e preparava cada indivíduo para o papel que dele se esperava. Existência de pouca intimidade.
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Séc. XIV (1.500), aumento no século XVII (1800) – sinais de uma nova relação com a criança nos meios abastados das cidades (ex. Scevole) – vontade de preservar a vida da criança.
Antes a consciência da vida, do ciclo vital, era diferente.
John Locke – Da educação das crianças (1693), pais devem prevenir para não ficar sujeito à medicina.
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MEU CORPO, MEU FILHO
Difícil conciliar as exigências da linhagem e o crescente desejo do indivíduo de viver plenamente a própria vida e dela dispor com liberdade – para resolver essa contradição os comportamentos familiares começam a modificar-se: pautados em acordos sucessivos (a exemplo do campo do comércio). 
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MEU CORPO, MEU FILHO
Nova imagem do corpo – “meu corpo é meu”, corte em relação ao corpo coletivo – compreensão do porquê da criança começar a ocupar um lugar tão importante entre as preocupações dos pais: é uma criança que amam por ela mesma e que constitui sua alegria de cada dia. 
Consciência mais linear de vida – 1º nas classes mais abastadas, depois nas mais desfavorecidas, 1º nas grandes cidades, depois nos burgos, e no campo.
O indivíduo tem sua própria personalidade – que não se apaga a sombra do grupo familiar.
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UM NOVO SENTIMENTO DA INFÂNCIA
Mudança de atitude com relação à criança – ocorre ao longo de um período extenso. 
Séc XV – na cidade emerge a “família moderna” (casal e filhos): espaço doméstico mais íntimo. Na cidade, a relação com a mãe-terra tende a desaparecer.
Emerge gradativamente um novo sentimento de infância – séc. XVI, discurso literário e médico começa a condenar práticas: uso de faixas, gorros e toucas, aleitamento confiado a ama estranha à família. 
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UM NOVO SENTIMENTO DA INFÂNCIA
Se os pais ignoram as críticas é por conta de valores diferentes do mundo urbano: separação entre a fecundidade e a criação do filho – papel diferente da mulher no ciclo vital: papel de simples reprodutora. 
Alguns pais se separam dos filhos e outros encontram alegria na sua companhia – agora é possível escolher. 
Não é fácil conciliar os interesses do filho e da mãe – respostas variadas.
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AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO
As novas relações dos “novos pais” influenciam os filhos – “nova criança”, mais esperta, mais madura. 
Os moralistas condenam o excesso de indulgência dos pais para com os filhos, inspirados no amor (por ex. Locke).
Séc. XVII – Atitude repressiva com relação a uma educação privada (muito espaço à afetividade) – Igreja e Estado retomam o encargo do sistema educativo – coincide com a vontade do poder público e religioso de controlar o conjunto da sociedade.
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AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO
Pais aderem aos colégios – tirar o filho da natureza e moldar a as mentes segundo as exigências de um individualismo crescente: “abrir a criança a conhecimentos que seus pais não poderiam dar”.
Dupla passagem: da família-tronco à família nuclear; da educação pública comunitária e aberta para uma educação pública de tipo escolar.
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DOS MODELOS PÚBLICOS AO USO PRIVADO
A modificação da criança não tem a ver só com as modificações da família, mas também do Estado e da Igreja.
Sentimento de infância (1550) – disposições legais, início de uma política de proteção à infância. 
Difusão de modelos ideológicos – privatização da imagem da criança: emergência da criança como indivíduo na sociedade ocidental.
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Criança mística: santidade infantil, imagem do homem-santo excepcional = do menino-santo excepcional. Corpo místico (celibato) rompe com a o corpo solidário.
Criança-Cristo: devoção à infância de Cristo. 
Criança prodígio 
Criança da realeza: pública (mas não conhecia seus súditos, sua imagem era cultivada nas moedas).
Atitudes de interesse e de indiferença coexistem no seio de uma mesma sociedade, uma prevalecendo sobre a outra. 
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Sentimento de Infância (séc. XVIII) – modificação de crenças e da estrutura de pensamento, e indício de uma mudança na atitude ocidental com relação à vida e ao corpo.
 
Linhagem e comunidade – família nuclear
“Público” e “privado”- ampliação dos direitos da mãe e os do pai sobre o filho. 
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Clima de individualismo, encorajado pela Igreja e Estado, o casal delega parte de seus poderes e de suas responsabilidades ao educador. 
Modelo rural – modelo urbano
Desejo de ter filhos para assegurar a continuidade do ciclos – passa a vontade de tê-los para amá-los e ser amado por eles.

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