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1 MACROECONOMIA II AULA 4 – MODELO “KEYNESIANO” SIMPLES P/ ECONOMIAS ABERTAS 1. Introdução Contexto histórico: até a Grande Depressão dos anos 30, a combinação de livre comércio com padrão-ouro era prescrita pela teoria neoclássica como o sistema ideal para obter a máxima eficiência com o equilíbrio do balanço de pagamentos (embora na prática não houvesse livre comércio); Acreditava-se que a prática de protecionismo e de mudanças na taxa de câmbio não afetava os níveis de produção, renda real e emprego; Tais conclusões dependiam crucialmente da validade, mesmo no curto prazo, das hi- póteses de: Plena flexibilidade de preços e salários → pleno emprego; Teoria quantitativa da moeda: quantidade de moeda só afeta o nível de preços e outras variáveis nominais, mas não a produção, renda real, emprego e outras variá- veis reais; Arbitragem perfeita no comércio internacional → hipótese de paridade de poder de compra (PPC). Crise de 30 → alto desemprego por longo período; regime de padrão-ouro limita muito a possibilidade de usar as políticas expansionistas para recuperar o nível de emprego (vere- mos depois este ponto quando tratarmos da operação do regime de câmbio fixo no próxi- mo tópico); Vários países colocam em prática “políticas que prejudicam o vizinho” (beggar-thy- neighbour); Abandono do padrão-ouro por vários países e “desvalorizações competitivas”; Protecionismo generalizado; fechamento abrupto das economias nacionais; apro- fundamento da depressão. Síntese neoclássico-keynesiana: Substitui hipótese de plena flexibilidade de preços e salários pela hipótese de rigidez de preços (fixprice) e/ou salários enquanto houver desemprego e/ou capacidade ociosa (curto prazo); Versão para economias abertas com câmbio fixo. Com preços (internos e externos) exógenos e câmbio fixo, a taxa de câmbio real mantém-se constante a menos que o governo altere a taxa de câmbio nominal; o governo portanto controla a taxa de câmbio real através do controle da taxa de câmbio nominal. O modelo a seguir NÃO SE APLICA ao regime de câmbio flutuante. Admite-se que o país sob análise é “pequeno”, ou seja, que a produção nacional é pequena em relação ao resto do mundo, de modo que variações de oferta e deman- da dentro do país não afetam os preços internacionais dos produtos. 2. Função Consumo 2.1. Em Economias Fechadas Lembrando que função consumo estabelece relação entre a demanda por bens finais de consumo e o nível de renda real Q; Consumo demanda; Consumo (consumo de) insumos; Consumo de bens finais é feito pelas famílias, não pelas empresas. 2 Depende de muitos fatoresprincipal: renda pessoal disponível real (RPD) Lembre-se que RPD = Q – T + R , onde Q é a renda (= produção = PIB) real, T é a arrecadação real de impostos e R são as trans- ferências reais do governo para o setor privado. Obs.: com preços fixos, mudanças nas variáveis nominais mudanças nas variáveis reais. Quanto maior a RPD, maior o consumo; quanto menor a RPD, menor o consumo; Relação linear: C = cRPDC = C +c(Q-T+ R ), onde: C = consumo agregado real; C é o chamado consumo autônomo (em relação a RPD) real; capta todos os fatores que afetam o consumo fora a RPD (por exemplo, otimismo do consumidor; variações na riqueza, no valor das ações, etc.); variável exógena; cRPD = c(Q-T+ R ) é a parcela induzida (pela renda) no consumo; “c” = propensão (marginal) a consumir; mede a parcela da renda destinada ao consu- mo; por exemplo, se c = 0,8, a sociedade destina 80% de sua RPD ao consumo; defi- nida para valores entre zero e um (1>c>0); Obs1: C/Q = propensão média a consumir; Obs2: Taxa de juros: dubiedade aumenta ou reduz o consumo? Até agora, vimos que o consumo depende: Diretamente de: Consumo autônomo C ; Propensão marginal a consumir c; PIB / Produção / Renda real Q; Transferências do governo para o setor privado R; Inversamente, da arrecadação líquida de impostos T; Para avançar mais entender os determinantes da arrecadação de impostos pelo governo (T): Ideia básica: depende essencialmente do nível de renda (Q) T = f(Q); Justificativa: renda maior maior nível de produção, empregos e lucros maior a base tributária; dada a alíquota tributária marginal (t) fixada pelo governo (variá- vel de política fiscal), maior a arrecadação. Matematicamente: T = T + tQ, tQ = arrecadação induzida depende da produção/renda interna; • exemplo: grande maioria dos impostos e taxas; • “t” = alíquota tributária marginal % média dos impostos cobrados → outra variável exógena de política fiscal controlada pelo governo 0 < t < 1; T = “arrecadação autônoma” geração de receitas que não depende da renda interna do país; por exemplo: multas do Detran, preços da Petrobrás, política de dividendos do BB, etc.; 3 Utilizaremos a hipótese simplificadora T =0 T = tQ; alíquota tributária margi- nal = média = T/Q; Então, a arrecadação governamental líquida T depende diretamente: Da alíquota tributária marginal t; Do nível de renda / produção / PIB real Q; Portanto, o consumo depende: Diretamente de: • Consumo autônomo C ; • Propensão marginal a consumir c; • PIB / Produção / Renda real Q; • Transferências do governo para o setor privado R; Inversamente, da alíquota tributária marginal t; Assim: Aumentam o consumo: ↑ C ; ↑c; ↑ R ;↓t;↑Q; Reduzem-no: ↓ C ; ↓c;↓ R ;↑t;↓Q. Obs: diferentemente de Macro 1, a função consumo utilizada não diferencia o con- sumo entre trabalhadores e capitalistas não permite estudar o impacto de mu- danças na distribuição de renda entre eles sobre a demanda agregada. Matematicamente: RPD = Q – T + R = Q – tQ + R = (1-t)Q + R C = C +c[(1-t)Q+ R ] = C + c(1-t)Q + c R ; Graficamente: função consumo em relação ao PIB ou renda real (Q): 2.1. Em Economias Abertas Vimos que em economias fechadas o principal determinante do consumo real agregado C é a renda pessoal disponível real (RPD): C = C + cRPD, C = consumo autônomo (todos os outros fatores); c = propensão marginal a consumir (0 < c < 1); C +c R Q C C= C +c R +c(1-t)Q 4 O mesmo continua a ser verdade em economias abertas. Como vimos, porém, em econo- mias abertas, RPD = Q – T + R - RLE, Q = produção = PIB real = renda real; T = arrecadação real de impostos; R são as transferências reais do governo para o setor privado (aposentadorias do INSS, bolsa-família, bolsa-escola, montante de juros da dívida pública, etc.); RLE é a renda líquida enviada ao exterior (juros da dívida externa, dividendos pagos pelas multinacionais, etc.). A única diferença em relação ao caso da economia fechada é que, agora, a RLE afeta a RPD e, portanto, o consumo C: Se ↑RLE→↓RPD→↓C; Se ↓RLE→↑RPD→↑C. Matematicamente, substituindo: C = C +cRPD = C +c(Q-T+ R - RLE) Lembrando que T = tQ, resulta: C = C +c[Q(1-t)+ R - RLE] = C +cQ(1-t)+c( R - RLE) 3. Função Investimento Privado Agregado Lembrando: investimento = compra de bens de capital (máquinas, equipamentos, constru- ções) realizado pelas empresas, não pelas famílias. Modelo muito simplificado hipóteses simples; Matematicamente: I = I (investimento autônomo). Investimento = variávelexógena ou independente preocupação com as consequências de sua variação, não com as causas. Para termos uma ideia das causas, porém, podemos considerar, por enquanto, que a variá- vel fundamental para explicar variações do investimento é a expectativa (exógena) de lon- go prazo acerca da rentabilidade futura dos bens de capital adquiridos. Assim: Se as expectativas de longo prazo acerca da rentabilidade futura dos bens de capital se tornam mais pessimistas → ↓ I ; Se as expectativas de longo prazo acerca da rentabilidade futura dos bens de capital se tornam mais otimistas → ↑ I . Tais expectativas de longo prazo acerca da rentabilidade futura dos bens de capital são ex- tremamente voláteis (variáveis); podem ser alteradas por um enorme montante de elemen- tos, inclusive elementos não estritamente econômicos: políticos, psicológicos, sociais, etc. Keynes considerava que era esta elevada volatilidade das expectativas de longo prazo a principal causa das variações dos níveis de demanda agregada, produção e emprego no capitalismo. O investimento depende também da taxa de juros; como porém esta última é mantida por hipótese constante, tal efeito será examinado apenas no modelo IS-LM. Observação importante: decisões de investir 2 impactos na economia: 5 Sobre a demanda de máquinas, equipamentos e construções afeta demanda agrega- da; tratado por este modelo; Sobre a oferta: aumenta a quantidade de máquinas, equipamentos, fábricas, etc. (esto- que de capital) aumenta capacidade de produção (capacidade instalada) no futuro; NÃO é tratado por este modelo → LP marshalliano teoria do crescimento. 4. Função Gasto Governamental Gasto governamental (G) = consumo governamental (Cg) + investimento governamental (Ig); não inclui todas as despesas do setor público; as demais despesas (transferências para o setor privado), como vimos, estão incluídas em R. G = G = variável de política fiscal controlada pelo governo (exógena).
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