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Direito Empresarial - Conceitos iniciais


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Evolução história do direito Comercial
O comércio existe desde a Idade Antiga, porém não se pode ainda falar na existência de um direito comercial, como um regime jurídico sistematizado com regras e princípios próprios. 
Durante a Idade Médica é possível apontar o surgimento do direito comercial, considerando assim, a primeira fase desse ramo do direito. Não havia um poder político central, capaz de impor regras gerais e aplicá-las a todos, assim surgiu uma série de “direitos locais” que passaram a ser aplicados em diversos conflitos que apareciam na atividade mercantil. Assim, surgiu as Corporações de Ofício, cada corporação tinha seus próprios usos e costumes e os aplicava. Nesse período começou a surgir os primeiros institutos jurídicos, como os títulos de crédito, as sociedades, os contratos. Caracterizado essa fase como um direito subjetivista, um direito dos comerciantes, para os comerciantes. 
Aos poucos o direito comercial foi evoluindo e a competência dos tribunais foi sendo ampliada, assim, as corporações vão perdendo o monopólio de jurisdição e os diversos tribunais de comercio existentes tornam-se atribuições do poder estatal. Dessa forma, inaugura-se a segunda fase, sendo possível falar em um sistema jurídico estatal. Era necessário nesta época que se criasse um critério que delimitasse o âmbito de incidência do direito comercial, criando-se assim a teoria dos atos de comércio, que tinha como uma de suas funções atribuir, a quem praticasse os determinados atos de comércio, a qualidade de comerciante. A definição de atos de comércio era tarefa atribuída ao legislador, o qual optava ou por descrever as suas características básicas ou por enumerar um rol de condutas típicas, que os atos seriam considerados de mercancia. A doutrina criticava o sistema dos atos de comercio, pois nunca se conseguiu definir de forma satisfatória o que eram e a produção legislativa não conseguia acompanhar o ritmo rápido do desenvolvimento social e econômico. 
Assim, com a insuficiência dos atos de comércio, houve o surgimento de outro critério delimitador, a teoria da empresa. Assim, o direito comercial deixou de ser como tradicionalmente foi, o direito do comerciante e passou a ser o direito da empresa. A empresa então é considerada uma atividade econômica organizada.
No Brasil, ao disciplinar o direito de empresa, ultrapassa a teoria dos atos de comércio e incorpora a teoria da empresa. Fala-se agora em empresário, sendo este o que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços”. Dessa forma, o Código civil não definiu diretamente o que vem a ser empresa, mas estabeleceu o conceito de empresário (artigo 966) e deste conceito, pode-se estabelecer o de empresa, sendo uma atividade econômica organizada com a finalidade de fazer circular ou produzir bens ou serviços. Empresa é assim, uma atividade, algo abstrato. Enquanto quem exerce esta é o empresário. Assim, empresa não é sujeito de direito, quem é sujeito de direitos é o titular da empresa. 
	1ª fase
	Corporações de Ofício – Idade Média 
	2ª fase
	Teoria dos atos de comercio – Idade Moderna
	3ª fase
	Teoria da empresa - Código Civil Italiano 1942 
Fontes do direito empresarial
Entende-se por fontes do direito comercial/empresarial o modo pelo qual surgem as normas jurídicas dessa natureza. Assim, a mais importante fonte do direito empresarial, como não poderia deixar de ser, são as normas empresariais, ou seja, as regras jurídicas especiais que se destinam à regulação das atividades econômicas. Como por exemplo, o código comercial de 1850 para situações que dizem respeito ao comércio marítimo; o código civil de 2002 nas matérias nucleares ao direito empresarial e a legislação esparsa que trata de matérias especificas. Além das normas positivadas, merece destaque os usos e costumes mercantis, uma vez que como visto anteriormente o direito empresarial surgiu tendo como base as corporações de oficio que eram tidas tendo em vista o costume da época; as jurisprudências, analogias e princípios gerais do direito.
Conceito de empresa e empresário
O Código civil de 2002 adota a teoria da empresa e dessa forma, utilizam-se muito as expressões empresa e empresário. Dessa forma, considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, os principais elementos indispensáveis à caracterização são:
 a) profissionalmente – Só será empresário aquele que exercer profissionalmente, ou seja, que fizer do exercício daquela atividade a sua profissão habitual. 
b) atividade econômica – A atividade exercida com intuito lucrativo, além de quem é o empresário que assume os riscos técnicos e econômicos de sua atividade.
c) organizada – Empresário como aquele que articula os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia).
d) produção ou circulação de bens ou serviços – Deixa claro que não há atividade econômica excluída, a priori. Além de que permite caracterizar empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destina-se ao mercado e não ao consumo próprio. 
4. Agentes econômicos
O conceito de empresário (previsto no artigo 966), que em principio, parece englobar toda e qualquer pessoa que exerça atividade econômica organizada, não abrange assim. Pois há agentes econômicos que não são considerados empresários pelo legislador e que, por consequência, não realizam atividades que configuram empresa. Esses são os considerados agentes econômicos e são basicamente o profissional intelectual, a sociedade simples, o praticante de atividade rural e a sociedade cooperativa. 
4.1 Profissionais intelectuais:
Artigo. 966, parágrafo único: “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza cientifica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”.
Assim, enquanto o profissional intelectual apenas exerce a sua atividade intelectual (em fase embrionária de atuação), ele não é considerado empresário, não se submetendo, pois, ao regime jurídico empresarial. Porém, a partir do momento em que o profissional intelectual dá uma forma empresarial ao exercício de suas atividades, será considerado empresário e passará a ser regido pelas normas do direito empresarial. É importante estabelecer critérios mínimos para aferir se o exercício de profissão intelectual configura-se como empresa, como por exemplo, se há mais de um ramo de atividade sendo exercido ou se há contratação de terceiros para o desempenho da atividade-fim.
Como em regra, os profissionais intelectuais não são considerados empresários, eles não precisam se registrar na Junta Comercial para que possa exercer sua atividade. No entanto muitas profissões são regulamentadas nos órgãos competentes, como por exemplo os advogados na Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB), os médicos no Conselho Federal de Medicina, etc.
4.2 Trabalhadores rurais:
Todo empresário antes de iniciar o exercício da atividade empresaria, tem que se registrar na Junta Comercial, mas para aqueles que exercem atividade econômica rural, o Código concedeu a faculdade de se registrar ou não perante a Junta Comercial, regra esta presente no artigo 917 do código civil. Concluindo assim que para o trabalhador rural a atividade econômica rural, o registro na Junta Comercial tem natureza constitutiva e não meramente declaratória. 
Empresário individual
O empresário individual é a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços (Artigo. 966 do código civil). Possui pouca representação econômica no mercado e não possui a separação patrimonial, assim responde com todos os seus bens, inclusive os pessoais, pelo risco do empreendimento, tendo responsabilidade direta e ilimitada. 
EIRELI – Empresa individual de responsabilidade limitada
Lei nº 12.441/11
A EIRELI veio ao ordenamentojurídico como uma tentativa de preenchimento de lacuna, possibilitando a existência de uma forma que permita ao empresário, individualmente, explorar atividades economias sem colocar em risco os bens de família e de forma que fique clara a garantia oferecida. 
É constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no País. Só podendo também uma pessoa se utilizar de uma EIRELI. 
A EIRELI só pode ser constituída por pessoa natural e não se considera sociedade e sim um novo ente jurídico personificado. O patrimônio desta responderá pelas dividas da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da pessoa natural que a constituiu, sem prejuízo assim da aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica. Porém por se tratar de pessoa jurídica, responderá ilimitadamente por suas obrigações, sendo limitada a responsabilidade de seu titular, que dependendo da situação poderá ter seu patrimônio pessoal atingido, em razão da aplicação da teoria da desconsideração ou do superamento da personalidade jurídica, uma vez que no que cabe, aplica-se as leis da sociedade limitada.
Sobre a exigência de capital mínimo, uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da EIRELI não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo.
Natureza jurídica da EIRELI: A EIRELI não é um empresário individual e nem uma sociedade unipessoal, trata-se de uma nova espécie de pessoa jurídica de direito privado. Porém há autores que consideram que o fato da EIRELI estar prevista em novo inciso do artigo 44, não é o suficiente para caracterizá-la como nova espécie de pessoa jurídica, assim, ela seria uma subespécie da sociedade. 
Em questão de nome empresarial, deve-se incluir EIRELI após a firma ou denominação social, e o registro varia de acordo com a atividade, o registro público de empresa mercantil ou o registro civil das pessoas jurídicas. E aplica-se a EIRELI, no que couber, as regras para a sociedade limitada.
Novo parágrafo único do artigo 1.033 do CC – A unipessoalidade poderá obstar a responsabilização ilimitada do sócio remanescente de uma sociedade, caso ele opte pela regra contida neste parágrafo único, que diz que o sócio remanescente pode solicitar a alteração da sociedade para empresário individual ou EIRELI.
Capacidade e impedimentos 
Impedidos de exercer a atividade empresarial:
Pessoas capazes, que por algumas características são impedidas de exercer a atividade empresarial.
Não há dispositivo normativo que arrola os impedidos de forma legal a exercerem atividade empresária, entretanto estes estão espalhados pela legislação e doutrina jurídica. Apesar de haver proibição para o exercício de empresa, não é vedado que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresarias. Assim, os impedimentos se dirigem aos empresários individuais e não aos sócios de sociedades empresárias. 
Porém a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou administração. 
Quando uma pessoa impedida pratica algum ato empresário, ele não é nulo nem anulável, o ato é válido e pode ser exigido. A pessoa que o praticou vai sofrer uma sanção de acordo com a legislação específica de cada profissão.
Exemplos de impedidos:
Funcionários públicos
Militares ativos
Magistrados
Falidos enquanto não reabilitados
Empresários que desrespeitarem normais contidas na Lei Orgânica da Seguridade Social
Membros do Ministério Público
Incapazes de exercer a atividade empresarial:
Os incapazes, em princípio, não podem comerciar; não podem exercer atividade empresária. E incapazes são os menores de dezoito anos e os interditos.
Menor Empresário
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais.
a.1) Menores emancipados
Há quem diga que os menores emancipados não podem ser empresários, com base no argumento que, mesmo emancipados para os atos da vida civil os menores não teriam capacidade penal e por isso não poderiam exercer atividade empresária. Entretanto, essa posição não se sustenta, tendo em vista que a possibilidade de um menor não ser punido por um crime não o impede de praticá-lo, e o fato dele não ter capacidade penal não influencia na possibilidade de ser empresário ou não. Portanto, o menor emancipado pode, sim, ser empresário.
a.2) Menor que herda uma atividade empresária
Art. 974, CC : Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor da herança
Esse artigo trata dos incapazes em geral, e não somente dos menores. No caso dos menores, eles poderão exercer a atividade empresarial, por meio de representante ou devidamente assistidos, e desde que autorizado judicialmente, dando continuidade à empresa individual antes exercida por seus pais ou por quem a tenha deixado (autor da herança) para eles.
a.3) Menor como sócio de sociedade
1-Sociedade de responsabilidade ilimitada (Sociedade em nome coletivo/Sociedade em comum)
Regra: Para ser sócio de uma sociedade ilimitada, de uma sociedade mista ou de uma sociedade simples, o menor deverá ter dezesseis anos completos e ser emancipado. Antes dos dezesseis anos, se casado ou tiver colado grau em curso de ensino superior.
2-Sociedade de responsabilidade limitada ( SA E Ltda.)
O menor poderá ser sócio, independente da idade, desde que representado ou assistido por seu representante legal. O menor só pode ser sócio, e nunca administrador.
Sociedades anônimas: As ações do menor tem que ser totalmente integralizadas (pagas) no ato de sua entrada.
Sociedades limitadas: Todo o capital da sociedade, e não apenas a parcela do menor, tem que estar totalmente integralizado no ato de entrada
3-Sociedades de responsabilidade mista ( Sociedade em comandita simples/ em comandita por ações/ em conta de participação)
O menor deverá ter dezesseis anos completos e ser emancipado. Antes dos dezesseis anos, se casado ou tiver colado grau em curso de ensino superior.
Em resumo: Só é possível ter menor incapaz nas sociedades de responsabilidade limitada.
Interdito
Interditos: Pessoa maior de 18 anos que perdeu a capacidade civil por meio de uma interdição
Nenhum deles pode, em princípio, exercer o comércio, ou seja, não podem ser empresários, de responsabilidade ilimitada ou limitada. E o curador não pode fazê-lo em nome deles.
Interdição superveniente
Interdição depois de já se ter adquirido a qualidade de comerciante/empresário.
Regra: Art.974 : Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor da herança
Então, poderá, o interdito, dar continuidade à empresa que ele já tinha, desde que devidamente representado ou assistido.
O seu representante ou assistente não adquire a qualidade ou condição de empresário. Empresário é o interdito.
c) Estrangeiros
Para um estrangeiro se tornar empresário no Brasil, é necessário que se obedeça às formalidades previstas em lei e é obrigatória a expedição de uma autorização pelo Governo Federal, que para exploração de atividades no território nacional, a sociedade estrangeira, tem duas opções: A submeter ao processo de pedido de autorização e a segunda que é constituir uma sociedade anônima e tornar-se acionista.
Se o estrangeiro residir no Brasil com visto permanente, não terá quase nenhum tipo de impedimento. Ele só não poderá exercer as atividades restritas aos brasileiros natos e naturalizados, como por exemplo a restrição prevista no artigo 222 da constituição federal:
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados hámais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
Já os estrangeiros que não residem no Brasil com visto permanente, só podem ser sócios de uma sociedade.
Registro de empresa
O registro é uma obrigação legal imposta a todo e qualquer empresário de se inscrever na Junta Comercial antes de iniciar a atividade, sob pena de começar a exercer a empresa irregularmente. Trata-se de obrigação prevista no artigo 967. A inscrição do empresário se faz mediante requerimento e deve conter:
Seu nome, nacionalidade, domicilio, estado civil (e casado, o regime de bens); a firma; o capital e o objeto sede da empresa e se tratar de sociedade empresária, deve-se levar a registro o ato constitutivo (contrato social) que conterá todas as obrigações necessárias. 
O registro na Junta Comercial, embora seja uma formalidade legal, não é requisito para a caracterização de empresário e sua consequente submissão ao regime jurídico empresarial, o não registro antes do início de suas atividades, não é fato que implicará a sua exclusão do regime jurídico empresarial e nem fará com que ele não seja considerado empresário ou sociedade empresaria. Conforme enunciado 199 do CJF: “A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização”.
Assim, será considerado empresário e se submeterá às regras do regime jurídico empresarial, embora esteja irregular, sofrendo assim algumas consequências. 
A única exceção é referente aos exercentes de atividade econômica rural, os quais possuem a simples faculdade de registrar-se na Junta Comercial. 
8.1 Lei de registro público de empresas mercantis – Lei 8.934/94
O registro de empresários no Brasil, está disciplinado em legislação especial, trata-se da Lei 8.934/94. As finalidades do registro são a) dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos b) cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento c) proceder a matricula dos agentes auxiliares do comércio.
SINREM
A lei cria o SINREM, o sistema nacional de registro de empresas mercantis, sistema que regula o registro de empresa no Brasil e é composto por dois órgãos, o DNRC e as Juntas Comerciais. 
O DNRC é o órgão central, com função supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, com âmbito federal. As juntas comerciais, como órgãos locais, com funções executora e administradora dos serviços de registro, com âmbito estadual. 
8.2 Atos de registro
As juntas comerciais executam os atos de registro dos empresários, das sociedades empresárias e dos seus auxiliares. O ato sujeito a registro não pode ser oposto a terceiros antes do cumprimento das formalidades exigidas. São atos de registro:
a) Matrícula: Ato de registro praticado pela Junta que se refere a alguns profissionais específicos, os chamados auxiliares do comércio. Assim, a junta funciona como órgão regulador da profissão.
b) Arquivamento: Ato de registro constitutivo da sociedade empresária ou do empresário individual. Como os documentos relativos a constituição, alteração, dissolução e extinção; dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade; dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras e declarações de microempresas. 
c) Autenticação: Ato de registro que se refere aos instrumentos de escrituração contábil do empresário (livros empresariais). 
8.2 Inatividade – Cancelamento do registro
 A firma individual ou a sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no período de dez anos consecutivos, deverá comunicar à Junta Comercial que desejar manter-se em funcionamento. Na ausência dessa comunicação, será considerada inativa com perda automática da proteção ao nome empresarial.
Livros do Empresário
A escrituração é obrigação legal também imposta a todo empresário, devem eles manter um sistema de escrituração contábil periódico, além de levantar, todo ano, dois balanços financeiros: o patrimonial e o de resultado econômico. 
A escrituração do empresário é tarefa que a lei incumbe a profissional específico: O contabilista – Legalmente habilitado. 
Atualmente, o único livro obrigatório como a todo e qualquer empresário é o Diário. Sendo facultativo os livros Caixa, Estoque, Conta corrente, etc. 
Há alguns livros específicos que são exigidos a certos empresários, como por exemplo o registro de duplicadas para os que trabalham com emissão de duplicatas mercantis. Além desses, pode o empresário escriturar outros, a seu critério. 
9.1 Sigilo empresarial
Os livros empresariais são protegidos pelo sigilo e ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade observa ou não, em seus livros as formalidades prescritas em lei. 
O dispositivo ressalva, de forma clara, os casos previstos em lei, assim, poderá prever situações excepcionais em que o sigilo empresarial que protege os livros do empresário não seja oponível, a exibição deles pode ser parcial ou integral e o sigilo pode ser “quebrado” por ordem judicial. 
O juiz poderá exigir os livros de forma parcial, se determinado de oficio ou a requerimento da parte interessada, sendo cabível em qualquer ação judicial. Já de forma integral só pode ser determinada a juiz a requerimento da parte interessada em ações relativas a por exemplo comunhão ou sociedade, liquidação de sociedade, falência, ou quando e como determinar a lei. 
9.2 Eficácia probatória dos livros
Os livros empresariais são documentos que possuem força probante, sendo muitas vezes fundamentais para a resolução de um determinado litígio. A eficácia probatória dos livros empresariais contra o empresário opera-se independentemente de os mesmos estarem corretamente escriturados; porém para que os livros façam prova a favor do empresário é preciso que eles estejam regularmente escriturados.
Nome empresarial
Nome empresarial é a expressão que os identifica nas relações jurídicas que formalizam em decorrência do exercício da atividade empresaria. Dessa forma, o nome empresarial possui duas funções relevantes, a subjetiva de individualizar e identificar o sujeito de direito exercente da atividade empresarial e a objetiva, de garantir fama, renome e reputação. 
 O direito ao nome empresarial é um direito personalíssimo e devido sua importância como identificador em suas relações jurídicas, decidiu o STJ que havendo mudança de nome empresarial, deverá haver a outorga de nova procuração aos mandatários da sociedade empresaria.
O nome empresarial não pode ser confundido com outros elementos de identificação, como marca ou nome fantasia. Marca é um sinal distintivo que identifica produtos ou serviços do empresário enquanto nome fantasia é a expressão que identifica o título do estabelecimento, nome fantasia está para o nome empresarial assim como o nome artístico está para o ator, como o Jô Soares – O ordenamento jurídico empresarial não reserva proteção especifica ao nome fantasia. Muitas vezes os consumidores conhecem a empresa através de seu nome fantasia, pois em grande parte o nome empresarial não se torna chamativo o suficiente.
Toda alteração no nome empresarial dependerá do registro junto à Junta Comercial do Estado e sua proteção se dá com o registro, então para proteção de nome em determinado estado, deverá ser feito o registro neste e para proteção em outros estados, deverá ser feito o registro nos estados correspondentes. A ausência de registro confere a perda do direito ao nome empresarial.
10.1 Espécies de nome empresarial:
Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação.
a) FIRMA: Pode ser o individual ou social, é a espécie de nome empresarial formada por um nome civil, podendo ser indicado o ramo de atividade. Por exemplo: Natália Terra ou N. Terra ou N. Terra cursos jurídicos ou Natália Terra cursos jurídicos. 
b) DENOMINAÇÃO: Só pode ser social (o empresário individual atua apenas sob firma), podendo ser formada por qualquer expressão linguística e a indicação doramo social de atividade, sendo esta obrigatória.
Assim, a firma é privativa de empresários individuais e sociedade de pessoas, enquanto a denominação é privativa de sociedades de capital.
Nome empresarial
FIRMA
DENOMINAÇÃO
Nome civil do empresário ou dos sócios e pode conter ramo da atividade 
Deve designar objeto da empresa e pode adotar nome civil ou qualquer outra expressão
Sociedade limitada
Sociedade em comandita por ações
EIRELI
Empresário Individual
Sociedade em nome coletivo
Sociedade em comandita simples
Sociedade anônima
10.2 Nome empresarial das sociedades
O nome empresarial usado varia conforme a espécie e até mesmo conforme a estrutura da sociedade. 
a) Sociedade limitada: Pode adotar firma ou denominação, integrada pela palavra “LIMITADA” ou “LTDA”. Se optar por firma, deverá ser composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas. Se optar por denominação, deverá designar o objeto da sociedade, sendo permitido o nome de um ou mais sócios ou constar apenas uma expressão linguística qualquer.
b) Sociedades em nome coletivo (em que há sócios de responsabilidade ilimitada), operarão sob firma, somente o nome daqueles poderão figurar e conter a expressão “e companhia” ou sua abreviatura.
c) Sociedade anônima: Opera sob denominação, designando o objeto social, integrada pelas expressões “sociedade anônima ou “companhia”. (Belo Horizonte Alimentos S/A ou Belo Horizonte Companhia de Alimentos)
d) Sociedade comandita por ações: Pode adotar firma ou denominação designativa do objeto social, aditada da expressão “comandita por ações” enquanto a sociedade em conta de participação não pode ter filma ou denominação, por não possuir personalidade jurídica própria.
10.3 Princípios do nome empresarial
a) Princípio da veracidade: O nome empresarial não poderá conter nenhuma informação falsa, uma vez que a expressão identifica o empresário em suas relações como tal, sendo imprescindível que o nome empresarial só forneça dados verdadeiros àquele que negocia com o empresário.
b) Princípio da novidade: Se entende a proibição de se registrar um nome empresarial igual ou muito parecido com outro já registrado. A proteção ao nome empresarial quanto o princípio da novidade, se inicia a partir do registro e é restrita ao território do Estado da Junta Comercial em que o empresário se registrou.
* O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.
11. Estabelecimento
É o complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o instrumento utilizado pelo empresário para a exploração de determinada atividade empresária, ou seja, todo o conjunto de bens, materiais ou imateriais, que o empresário utiliza no exercício da sua atividade. 
Assim, entre os bens que compõe o estabelecimento, temos o local em que o empresário exerce suas atividades, o ponto comercial, os equipamentos, a marca, patente de invenção, a clientela, o aviamento, etc.
Os bens materiais são representados pelos bens tangíveis, tais como o estoque, os mobiliários, os utensílios, veículos, maquinaria e todas as demais coisas utilizadas na atividade empresária (COELHO, 2009). Por outro lado, os bens imateriais, conforme Marcelo M. Bertoldi (2003), consistem “naqueles bens de propriedade do empresário que não são suscetíveis de apropriação física e que são fruto da inteligência ou do conhecimento humano, como é o caso dos bens integrantes da propriedade industrial (patente de invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e a marca), o segredo industrial, o nome empresarial e o ponto (local onde o empresário está localizado).”
Não se deve confundir o estabelecimento com patrimônio do empresário, nem todos os bens que compõem o patrimônio são, necessariamente, componentes também do estabelecimento empresarial, uma vez que, será imprescindível que o bem tenha uma ligação com o exercício da atividade-fim do empresário e nem todos os bens que compõe o estabelecimento, é do patrimônio do empresário, uma vez que podem ser de terceiros ou cedidos de forma estratégica. 
O ponto empresarial encontra-se nesse complexo de bens, como um bem incorpóreo e é conceituado como o local em que está situado o estabelecimento comercial, podendo ter existência física ou virtual (como por exemplo, um site), assim o ponto não se trata apenas de uma realidade física, uma vez que os pontos online também são considerados. 
A lei nº 8.245/91 dispõe que para que o empresário tenha direito à renovação compulsória do contrato de locação do ponto comercial, será necessário o cumprimento de três requisitos.
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Assim, para que possa realizar uma renovação, o locatário deve ser empresário, com finalidade lucrativa, tendo contrato escrito e estabelecer um prazo determinado de no mínimo cinco anos e que o locatário exerça sua atividade por no mínimo três anos ininterruptos, na data em que propor a ação para renovação. Tendo o locatário preenchido esses requisitos e ajuizando a demanda no prazo decadencial de um ano a seis meses antes de terminar o contrato, haverá a possibilidade de ter o contrato renovado, salvo se o locador tiver uma justa causa que impossibilite a renovação daquele.
Com a evolução da internet e dos meios de comunicação, inaugurou-se o estabelecimento virtual, tendo sua configuração exclusivamente imaterial. Não há ponto comercial fixo e sim um grande ponto de clientes com proporções muito maiores do que centros de metrópoles. Assim, com a existência do estabelecimento comercial digital, este passa a se dividir em dois, o originário e o derivado. Os originários são aqueles que passaram a existir exclusivamente no mundo digital, enquanto o derivado são os que já existiam no mundo físico e passaram a existir também no mundo online. As empresas online devem prestar atenção em situações como dinamicidade, customização, navegabilidade, acessibilidade, conectividade e escalabilidade de seus e-commerces, uma vez que são características quase que exclusivas desse ramo online, porém é preciso destacar que o estabelecimento primário necessita de uma localização física para fins de registro perante a Junta Comercial, porém por mais que o estabelecimento virtual, por exemplo, seja o principal, há de se ter registro de uma sede física perante o órgão de registro.
11.1 Natureza jurídica do estabelecimento empresarial
Há doutrinadores que consideram o estabelecimento empresarial uma universalidade de direito, que seria a reunião de bens que a compõe é determinada pela lei, como um espólio. Já existem outros que consideram como uma universalidade de fato, a reunião de bens que a compõe é determinada por um ato de vontade, como uma biblioteca.
A doutrina majoritária considera universalidade de fato pois os elementos que compõe formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da destinação que o empresário lhe dá e não em virtude de disposição legal. 
11.2 Trespasse
Embora o estabelecimento empresarial não compreenda as relações obrigacionais e somente o complexo de bens, o CC se preocupou com os efeitos obrigacionais decorrentes das negociações que envolvam o estabelecimento. Uma vez que se refere a possibilidade de o estabelecimento ser negociado como uma universalidade de fato, considera-se que este pode ser objeto de negociações singulares, e assim, a negociação do estabelecimento de forma unitária chama-se trespasse, ou seja, é o contrato oneroso de transferência do estabelecimento empresarial. Este contrato tem como condição de eficácia perante terceiros, o registro do contrato de trespasse na Junta Comercial e a posteriorpublicação deste.
Dispõe o artigo 1.145 que se o empresário deseja vender o estabelecimento empresarial, deverá ter uma cautela importante: ou conserva bens suficientes para quitar todas as dívidas perante seus credores ou deverá obter o consentimento destes, que poderá ser expresso ou tácito. Assim, se não houve a guarda de patrimônio suficiente, deverá o empresário notificar seus credores para que manifestem em 30 dias, acerca da sua intenção de alienar o estabelecimento, se transcorrido o prazo sem manifestação, o consentimento será tácito e a venda poderá ser realizada. O trespasse irregular pode ensejar o pedido e a decretação de falência. 
O artigo 1.146 trata-se da sucessão empresarial, diz que o adquirente do estabelecimento empresarial responde pelas dívidas existentes – contraídas pelo alienante – desde que regularmente contabilizadas, pois foram as dívidas que o adquirente teve conhecimento quando efetivou o negócio. 
Porém, embora o adquirente assuma essas dívidas, o alienante fica solidariamente responsável por elas durante o prazo de um ano. Todavia, tratando-se de dívida já vencida, o prazo é contado a partir da publicação do contrato de trespasse; se dívida vincenda, o prazo é contado do dia do seu vencimento. A regra do artigo citado só se aplica quando “o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial”, uma vez que a natureza jurídica da universalidade de fato apresenta dificuldade a identificar quando realmente ocorre o trespasse. A alienação de estabelecimento feita em processo de falência ou recuperação judicial, não acarreta, para o adquirente do estabelecimento, nenhum ônus. 
O artigo 1.147 diz respeito a cláusula de não concorrência ou não restabelecimento e mesmo na ausência de cláusula contratual expressa, firmou-se o entendimento que o alienante tem a obrigação contratual implícita de não fazer concorrência ao adquirente o estabelecimento empresarial no prazo de cinco anos a partir da transferência – a fim de evitar o desvio de clientela, sendo isto uma decorrência lógica da aplicação do princípio da boa-fé objetiva as relações contratuais. 
Nada impede que as partes façam alterações na cláusula, como que o alienante pode se restabelecer a qualquer momento ou estipular um prazo diverso, uma vez que não se deve interpretar o artigo como uma proibição de reestabelecimento simples e puro, o dispositivo visa coibir a concorrência desleal (desvio de clientela), porém deve ser analisado caso a caso, pois por exemplo, o âmbito territorial, o limite geográfico, etc., são fatores que devem ser averiguados. Assim, se for considerado que não haverá o desvio de clientela, não incidirá a proibição. 
11.3 Aviamento e clientela
 Aviamento é a aptidão de um determinado estabelecimento que possui para gerar lucros ao exercente da empresa e não se confunde com a clientela que é o conjunto de pessoas que mantém com o empresário ou sociedade empresária relações jurídicas constantes.
É em função do aviamento que se calcula o valor de um estabelecimento empresarial, assim o STJ decidiu que mesmo uma empresa temporariamente inativa, deve ser avaliada levando-se em consideração o seu potencial aviamento. Enquanto a clientela é uma manifestação externa do aviamento.