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1 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre O CORPUS JURIS CIVILIS (DIREITO ROMANO) É CASUÍSTICO, OU SEJA, ELE É PROBLEMATIZADO EM TORNO DE QUESTÕES E NÃO EM LEIS, COMO O DIREITO MODERNO DE HOJE. O CÓDEX É O CONJUNTO DE TODAS AS LEIS ROMANAS (SENADO E IMPERADORES). AS NOVELAS SÃO AS NOVAS LEIS, APENAS CRIADAS POR JUSTINIANO. OS INGÊNUOS SEMPRE FORAM LIVRES, NASCERAM LIVRES. JÁ OS LIBERTOS NASCERAM LIVRES, MAS DURANTE O NASCIMENTO OU EM ALGUM MOMENTO SE TORNARAM ESCRAVOS, DEPOIS ADQUIRINDO A LIBERDADE. Direito Brasileiro no Período Joanino. Antes do Período Joanino, não existia uma diferença substancial entre Brasil e Portugal. O Brasil, enquanto território, não existia formalmente, fazia parte de Portugal e os seus habitantes eram portugueses. O Direito aplicado em Portugal era o mesmo direito aplicado no Brasil. Mas também existia um corpo de regras especialmente voltadas para o território brasileiro chamadas de Pacto Colonial. Eram regras que limitavam as pessoas que estavam no Brasil, não os “brasileiros”, aqueles que nasceram no Brasil, eram geograficamente incidentes, não demograficamente incidentes. Essas regras jurídicas estabeleciam limitações às liberdades: Intelectuais: se davam de várias formas. Por exemplo, a impossibilidade de criar instituições de ensino superior no brasil. Portugal optou pelo modelo centralizador de universidade, então só existia para todo o império português a universidade de Coimbra. A criação da primeira universidade do Brasil foi em 1827, muitos anos depois, então como as pessoas não eram letradas, isso atrapalhava o desenvolvimento da colônia. Outro exemplo era o index dos livros proibidos: Portugal criou uma lista que proibia livros de filósofos e pensadores iluministas que passavam ideias de liberdade e poderiam incitar ideias sediciosas (de cessação, separação). Porém, quando alguns brasileiros iam à Coimbra serem bacharéis, eles traziam esses livros na mala, pois esses livros estavam sendo lidos na Universidade de Coimbra, influenciando nas agitações políticas que geraram as Revoltas Coloniais no Brasil. Para publicar livros no Brasil colonial, era necessário 3 licenças: duas delas eram o Santo Ofício e a Coroa. Industriais: se referiam a proibição de qualquer atividade econômica na colônia que não fosse extrativista mineral, vegetal ou animal. Comerciais: proibição de livre comércio. Isso significa que havia um regime de monopólio de ambos os lados. Apenas quem poderia importar os produtos do Brasil eram os portugueses, e o Brasil apenas poderia importar produtos portugueses. Exceções: com permissão do capitão donatário ou do governador-geral, é possível comerciar com outra área. Primeiramente, o Brasil nunca foi idealizado como um local de civilização, foi apenas colonizado com o objetivo de se tornar uma “empresa” para Portugal. No entanto, com as questões políticas da época, a Coroa foi obrigada a se mudar para a sua colônia. Após a chegada da família Real Portuguesa no Brasil, a mudança mais drástica é a civilização histórica. No entanto, a Coroa não gastava com essas reformas civilizatórias, os colonos as providenciavam e a Coroa apenas as permitia em seu benefício próprio. Um exemplo disso é a iluminação, que era feita com o óleo de baleia e foi substituída por um gás, pois as baleias 2 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre estavam escasseando e o seu óleo também era usado em construções (cal). Outro exemplo é a iniciação de saneamento básico, principalmente no Rio de Janeiro. Restrições às Liberdades no Período Colonial e a Constituição de 1824. Com o auxílio de pessoa de sua confiança, D. Pedro I elabora uma versão de constituição, que posteriormente, vai outorgar para o Brasil. Então, essa constituição não tem participação popular na sua criação. Ele vai encaminhar essa constituição para as Câmaras Municipais para que elas se manifestassem e dessem apoio, mas muitas se recusaram a apoiar o projeto. No entanto, ele dá a entender que as câmaras e o povo participaram ativamente dessa criação e aprovação, que ela existe por uma motivação popular, mas isso não é verdade. O Art. 1 foi concebido para diminuir a preocupação de que o Brasil perdesse a sua Independência, porque havia o receio muito grande que como D. Pedro era, simultaneamente, o Imperador do Brasil e o príncipe herdeiro de Portugal, na hipótese do falecimento de D. João VI, ele assumisse o trono português e adotasse uma medida para unificar e criar um Reino Unido de Brasil e Portugal, o que poderia causar um prejuízo para o Brasil. Então, o Art. 1 não admite que haja nenhum tipo de laço ou união, vindo para consolidar a situação do Brasil. No Art. 3 existe a indicação da fórmula de governo desse Império brasileiro em si, ele indica que o governo é monárquico, hereditário e constitucional (o que significa que, ao contrário de uma monarquia absolutista, o Rei tinha que obedecer a limites e poderes impostos, que estão delimitados justamente na Constituição. Além disso, é considerada representativa, pois o povo possui uma certa participação, não há apenas a figura do Rei participando nas escolhas políticas. É com a Constituição de 1824 que vão surgir as Câmaras de Deputados e o Senado, que são justamente a representação do povo e são escolhidos por um processo eleitoral. O Art. 4 indica em qual família essa hereditariedade será preservada (família de D. Pedro I). O Art. 5 é importantíssimo para a Constituição, a qual é, muitas vezes, contraditória, apesar de trazer muitas inovações e modernidades. Ele traz uma observação importante, que é a questão da liberdade religiosa, a qual manteve uma religião oficial para o Brasil, a religião Católica. Apesar dessa existência, esse artigo deixa claro que é permitido o culto de outras religiões, desde que não acontecesse abertamente, apenas nos espaços privados, além de, mesmo privadamente, não conter símbolos para caracterizar aquele local como espaço daquele culto. O Art. 6 também é muito importante, porque ele criou a naturalidade brasileira, pois antes aqueles que nasciam no Brasil, eram portugueses. A Constituição adotou dois métodos para essa naturalização: a sanguínea e a territorial. Ou seja, quem nasce no Brasil é brasileiro, independente da nacionalidade dos pais e, também, aqueles que são filhos de brasileiros, também são brasileiros, mesmo que nascidos em outro país. Além disso, aqueles que estivessem em território brasileiro no momento da Independência, mesmo que fossem de origens completamente diferentes, também podiam naturalizar-se brasileiros, desde que não tenham 3 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre lutado contra a sua Independência. Os únicos que não são considerados cidadãos são os escravos, estão em uma zona entre objetos e pessoas. Art. 10 enumera os chamados poderes políticos do Brasil, inclusive a existência do Poder Moderador. Esse poder, de certa forma, não tinha tanta importância. O Poder Legislativo era organizado de forma bicameral, havia uma Câmara dos Deputados e um Senado, que formavam juntos a Assembleia Geral, o órgão de cúpula de poder legislativo. Os senadores formavam uma câmara permanente, pois os membros tinham um cargo vitalício, por outro lado, os deputados eram temporários, pois tinham mandato fixo de 4 anos. Havia um conflito frequente entre esses dois toda vez que acontecia uma discussão política, pois enquanto os deputados tinham pressa em discutir, criar leis e etc., os senadores eram mais cautelosos e comedidos, porque tinham mais tempo. Art. 15 diz que é atribuição da Assembleia Geral fazer leis e interpretá-las, suspendê-las e revogá-las. Pela primeira vez, o poder de legislar não estánas mãos dos soberanos, o poder de legislar agora é exercido pelo povo, que por meio dos seus representantes políticos, tem a prerrogativa de criar as leis. De acordo com o Art. 90, o povo participava das eleições primárias, e essas eleições escolhiam os chamados eleitores de província, e eram esses que, por sua vez, escolhiam os deputados e senadores (eleição indireta). Desse processo de participação política, eram excluídos vários grupos de pessoas, significa que o sistema eleitoral estava vinculado a vários critérios de exclusão política. AS ASSEMBLEIAS PAROQUIAIS E ELEIÇÕES PRIMÁRIAS SÃO A MESMA COISA, E ELAS TEM ESSE NOME PORQUE ESSAS ASSEMBLEIAS DEPENDIAM DOS REGISTROS DE NASCIMENTO DAS PESSOAS, QUE ESTAVAM GUARDADOS NA PARÓQUIA. Nessas eleições primárias, por exemplo, o Art. 92 indica quem não pode participar: quem tem menos de 25 anos (a exceção daqueles que são casados, um oficial militar maior de 21 anos, um bacharel formado ou um clérigo). No inciso 2, também não podem votar aqueles são filhos- família (mulheres em geral e filhos dependentes do pater-família). Além disso, é necessário ter 100 mil réis em renda. O Art. 94 fala sobre quem pode ser um eleitor de província, ou seja, todos aqueles que podem votar na eleição paroquial, com exceção de quem não tem renda de 200 mil réis e aqueles que são libertos; além dos criminosos, seja por querela ou devassa. No Art. 95, todos aqueles que podem ser eleitores são hábeis para se tornarem deputados, com exceção de quem não tiver 400 mil reis, os estrangeiros e os que não professarem a religião do Estado. No Art. 45, para ser Senador, requer-se ser brasileiro com direitos políticos; ter mais de 40 anos; que seja pessoa de saber, capacidade e virtudes, com preferência os que tiverem feito serviços à pátria e que tenha rendimento anual de 800 mil réis. 4 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre O poder Moderador no Brasil e a Constituição de 1824. A existência de um quarto poder não foi uma novidade de D. Pedro quando ele criou a Constituição, na verdade, ela pode ser atribuída a Benjamin Constant, que concebeu um poder que orginalmente era chamado de poder real: a sua função seria equilibrar os demais três poderes, porque, para ele, a existência dos outros três poderes implicaria uma disputa entre eles, o que causaria problemas para o país, a exemplo de um desequilíbrio constitucional no Brasil. O Art. 98 parece adotar essa ideia de Benjamin, “o poder moderador é a chave de toda a organização política”. Já o Art. 99 é uma reminiscência do absolutismo, então deve ser desconsiderado: não tem nenhuma utilidade prática, pois o Rei não era absolutista. É apenas uma continuidade da ideia de que o rei não erra, apesar de, obviamente, o rei estar sujeito a cometer erros. O Art. 101 traz os nove casos/incisos em que o poder moderador pode ser usado, sendo que ele sempre está interferindo nos outros três poderes: Para um Senador ser nomeado, não bastava ser votado. Era necessário que o Imperador o nomeasse. PODER LEGISLATIVO O Imperador poderá convocar a Assembleia Geral. PODER LEGISLATIVO Sancionando os decretos e as resoluções da Assembleia Geral, sancionando os modelos de lei para que tenham força. PODER LEGISLATIVO Aprovando e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos Provinciais: Art. 86 e 87. PODER LEGISLATIVO Prorrogando, ou adiando a Assembleia Geral, e dissolvendo a Câmara dos Deputados, nos casos, em que o exigir a salvação do Estado; convocando imediatamente outra, que a substitua. PODER LEGISLATIVO Nomeando e demitindo livremente os Ministros de Estado. PODER EXECUTIVO Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154. PODER JUDICIÁRIO Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réus condenados por Sentença. PODER JUDICIÁRIO Concedendo Anistia em caso urgente, e que assim aconselhem a humanidade, e bem do Estado. PODER JUDICIÁRIO A função de nomear e demitir livremente os ministros é uma função Executiva e deveria estar no artigo, porém tornou-se parte do poder Moderador. O principal motivo para o Parlamentarismo às revessas, em função dos artigos 101 e 106, o Parlamentarismo clássico apenas ocorreria se o Ministro tivesse autonomia de poder escolher, porém não era isso que ocorria. No Art. 102, logo no inciso 2, é função do imperador nomear bispos e prover os benefícios eclesiásticos. Nessa época, as paróquias e os bispos tem funções importantes, inclusive estatais: 5 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre tem os registros de nascimento e óbito, realizam casamentos e batismos, então, de certa forma, acaba havendo uma confusão. Era normal que o poder executivo escolhesse os cargos, pois não haviam concursos públicos. Com a Constituição de 1824, vai mudar a lógica que existia no antigo regime e no período medieval sobre a posse dos cargos públicos. No Antigo Regime, o cargo era uma propriedade, um objeto (a exemplo, podia se tornar uma posse hereditária), havendo a possibilidade de tornar esse cargo em uma enfeudação, criando uma vassalagem do mesmo. Agora com a Constituição de 1824 essa ideia vai mudar e o cargo vai ser de ocupação, de posse. Posse: quem o direito de o possuir, quem o utiliza. Propriedade: a quem o objeto pertence, dono. No inciso 14, há a autorização dada pelo imperador para que as regras do Direito Canônico entrassem em vigor no Brasil. No Art. 151, sobre o Poder Judiciário: a novidade está logo no início, pois agora efetivamente há um poder judiciário independente, o que não havia antes, apenas uma justiça régia que era subserviente ao rei e que podia ser afetada pelos seus poderes absolutos. Na verdade, no antigo regime e no período medieval, todo poder jurisdicional vinha do Rei (Coroa), o que fazia com que ele tivesse um altíssimo poder de interferência nas decisões judiciais, mudando-as. O poder moderador não autoriza mais o imperador a alterar a decisão do juiz ou julgar casos, dando mais independência ao Poder Judiciário. Outra mudança do mesmo artigo é a criação do júri. Apesar do artigo mencionar que ele se implanta nos processos civis e nos processos criminais, ele só foi implantado nos processos criminais. O júri surge no Reino Unido, no período medieval quando havia um conflito entre os barões ingleses e a Coroa. Como ambos tinham poderes políticos, eles conseguiam meios de que a justiça fosse parcial, beneficiando um dos lados, e o meio dos barões foi a criação do júri, um corpo de barões que fossem acompanhar o julgamento como jurados e decidir sobre os fatos, enquanto os juízes aplicariam o Direito a esses fatos. De acordo com o Art. 163, deve existir nas capitais e províncias um tribunal com denominação de Supremo Tribunal da Justiça, que será o tribunal que estará acima das relações (que decidem a última instância). Mas o motivo disso acontecer é que o supremo tribunal de justiça não era um tribunal de vértice, que são tribunais que decidem a última instância dos casos, ele era um tribunal de cassação (que manda para ser julgado novamente). O Art. 179 tem uma peculiaridade na qual ele vai trazer um extenso rol de direitos individuais, fazendo os historiadores compararem esse artigo a um “Bill of Rights” brasileiro e teve muita influência do pensamento jurídico francês e inglês (como por exemplo, a ideia do habeas corpus e muitas referências do direito constitucional, além da ideia do Parlamentarismo). Esses direitos individuais nunca foram restringidos nas constituições seguintes, apenas ampliados, então esse foi o começo do surgimento de um conjunto de direitos individuais para os cidadãos brasileiros. Esses direitos eram garantidosde forma equânime para os cidadãos livres, sejam ingênuos ou libertos (o que não ocorria anteriormente), apesar da exclusão dos escravos. A existência do princípio da legalidade, localizada no inciso 1 do artigo, é a primeira menção à ideia de lei como única fonte do Direito. Na verdade, as reformas pombalinas foram um passo adiante ao legalismo, mas ainda não tinha chegado lá. Porém, na prática, alguns meios como o Direito Romano e a doutrina ainda acabavam sendo usados. 6 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre Com a chegada de D. João VI, uma das principais novidades era a revogação de publicação de livros no Brasil. No entanto, apesar de ser possível publicar livros e escritos sem censura, de acordo com o inciso 4, as pessoas eram obrigadas a responderem pelos abusos ocorridos na sua liberdade de expressão (como a falsa acusação de um crime; calúnia). O inciso 5 desse artigo casa com o Art. 5 da Constituição, pois ele assegura que ninguém será perseguido por sua religião, desde que respeite a religião do Estado e não ofenda a moral pública. No entanto, o candomblé era considerado contrário aos bons costumes, o que legitimava a perseguição. O inciso 7 traz uma regra muito interessante que causa confusão até hoje com a sua permanência: ninguém pode entrar na propriedade privada do outro (casa = asilo inviolável), salvo se houver uma ordem judicial para tal durante apenas o dia, for um convidado ou numa situação emergencial (Ex.: incêndio). Os incisos 9, 10 e 11 trazem direitos penais como: direito à fiança, não ser preso a não ser por processo judicial ou em caso de flagrante. O inciso 12 mostra a independência do poder judicial e o 14, o direito de todos os cidadãos a serem admitidos aos cargos públicos: civis, políticos ou militares. O inciso 15 garante que o fórum privilegiado seja criado na república, como herança medieval. O inciso 18 pede-se que se organize os Códigos Civil e Penal: o código civil nunca chegou a ser feito no império, apenas na república, o que finalmente fez com que as ordenações Filipinas fossem revogadas, pois elas se mantinham até então. O inciso 19 garante a abolição de penas cruéis (os escravos continuam sofrendo-as). O inciso 20 diz que nenhuma pessoa passará do criminoso para outras pessoas, como seus parentes ou pessoa que mantenha contato. No inciso 21, é garantido que as cadeias sejam limpas e bem organizadas (não funciona na prática). No inciso 22, há uma referência à o direito de propriedade dos cidadãos: esse direito vem com uma ressalva, sobre a possibilidade o estado desapropriar (ato estatal de se apossar, tomar a propriedade privada de alguém e ficar para ele) os bens das pessoas, pois se há um bem final, o Estado tem permissão de atuar dessa forma. O inciso 22 foi o que gerou mais debate da Constituição. Conselho do Estado e Mudanças que ocorreram no direito criminal do império. Não era requerido dos membros do Conselho do Estado que eles fossem bacharéis em direito, apenas que tivessem conhecimentos políticos. O conselho de estado tinha 3 atribuições: aconselhamento ao imperador de assuntos graves da administração, que diziam respeito a política interna e externa, conselhos relacionados a matéria econômica e o conselho de estado também era responsável por formular os pareceres opinativos em todas as ocasiões que o poder moderador quisesse utilizar um dos seus poderes previstos na Constituição (como dissolver a câmara dos deputados, suspender um juiz ou mudar um parecer do mesmo), o imperador não era obrigado a acatar essas opiniões, mas era obrigado a procurar uma manifestação. 7 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre A Constituição atribuía a tarefa de interpretar as leis ao poder legislativo (Assembleia Geral), mas apesar disso a assembleia geral não exercia essa função, pois achavam que essa tarefa não estava à sua altura. Então, o poder executivo iniciou essa função. Com o tempo, surgiu o procedimento pelo qual os consulentes (aqueles que formulam consultas, tem dúvidas) encaminham suas dúvidas para ao Ministério da Justiça, pertencente ao Poder Executivo. O conselho tinha a tarefa, então, de formular pareceres, que na verdade eram propostas de interpretação da lei, que eram encaminhados para o imperador e ele iria aprovar ou não esses pareceres. Se ele não aprovasse, era devolvido para que outro parecer fosse formulado, mas se fosse, ele era devolvido para o Ministério, o qual devolvia para o consulente com um aviso que informava o consulente pela resolução da sua dúvida e o obrigava a utilizar a interpretação realizada pelo conselho de estado e aprovada pelo imperador. Com o tempo, eles perceberam que muitas dúvidas eram repetidas, pois a resposta à dúvida desses consulentes não era pública, era encaminhada por meio de carta privada àquele que formulou a consulta, sendo necessária a publicização desses serviços. Havia um conjunto de leis que era publicada anualmente com leis que foram aprovadas naquele período, então o Ministério da justiça passou a publicar em anexo a essas leis, os avisos destinados aos consulentes. Dessa forma, os cidadãos não podiam alegar o desconhecimento desse parecer oficial, pois elas estavam sendo publicadas na Coleção de Leis do Império. O código criminal significou um grande número de mudanças, relacionando-se ao direito penal proveniente das Ordenações Filipinas, o qual tratava as pessoas de acordo com as suas qualidades e não de forma igualitária. A partir desse código penal, a pena torna-se a mesma para todos os indivíduos (entre os livres e os libertos, o tratamento é o mesmo; os únicos discriminados são os escravos). A linguagem é bastante objetiva e racional, semelhante à das nossas leis modernas e diferente das Ordenações Filipinas, rebuscada e narrativa. Há o fim das penas cruéis para os homens livres e a pena de morte será limitada à forca; ainda permitia que os senhores aplicassem as punições aos escravos na intenção de disciplinar (de forma paternalista, pais educando seus filhos). Por fim, uma última novidade desse código é o surgimento da divisão dentro o código entre a parte geral e a parte especial: Parte especial: onde ficavam indicados os crimes, como homicídio, insurreição, furto, roubo moeda falsa, etc. e as suas penas. Parte geral: disciplinar regras que iam tratar do modo de aplicação das regras da parte especial, permitindo a adequação da norma que tipifica o crime a casos concretos. Por exemplo, quando um crime não é cometido, mas há tentativa, há uma punição, apesar de mais branda; ou quando há arrependimento eficaz, ou seja, um furto que foi realizado, porém o bem foi devolvido. Além do código criminal de 1830, houve o código do processo criminal de 1832. A segunda novidade trazida pelo código de processo criminal foi o habeas corpus, além do processo acusatório, que é um processo criminal em que se existe a separação nítida daquele que acusa e aquele que julga, pois antes era um processo inquisitorial: a mesma pessoa que acusava era a que julgava. O Habeas Corpus também veio do direito inglês, assim como o júri, e ele veio com a intenção de democratizar o acesso à justiça penal. É uma ferramenta muito importante do nosso código penal atual, pois ele permite que qualquer pessoa provoque o juiz a se manifestar sobre a sua 8 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre liberdade de forma oral ou escrita, não sendo necessário um advogado; é regido pelo princípio da informalidade. Por fim, uma última novidade foi a modernização das regras processualistas penais. As ordenações Filipinas instituíam dois tipos de crimes: a querela (crimes menores, afetam uma única pessoa) e a devassa (crimesmaiores, afetam várias pessoas). O código comercial de 1850 e Ato Adicional de 1834 Foi uma das leis mais importantes surgidas no século 19 no Brasil. Ele tratou de dois temas muito importantes pro direito brasileiro que foram: Atos de Comércio (hoje chamados de direito empresarial) e o Direito Marítimo (o navio ainda era o melhor, mais rápido e eficiente método de transporte; permitia as viagens internacionais), então era necessária a regulação dessas situações. É a lei mais antiga que ainda está em vigor no Brasil. A importância desse código para o desenvolvimento do Brasil é porque permitiu a modernização das regras jurídicas que permitiam os comerciantes a celebrarem os seus negócios, gerando um ambiente comercial mais sofisticado e seguro. A quantidade de bancos também aumenta, nacionais e estrangeiros, aumentando a parcela de capital disponível para empréstimos e criando vias de crédito disponíveis para investimento. Uma outra lei muito importante foi o regulamento 737, de 1850. Ele criou o processo comercial - pois na época só haviam os processos Civil e Criminal - e foi criado para tutelar as disputas entre negociantes em conflitos comerciais, desenvolvido através de tribunais de comércio, que foram criados nas principais praças comerciais do país. Esse processo comercial foi uma grande novidade, porque diferente do Direito Processual civil, esse processo era bem moderno e inspirado em países estrangeiros. Esses processos comerciais foram motivados porque cada vez mais pessoas percebiam que o comércio a melhor forma de gerar riquezas para o país, apesar de ainda haver um grande número de pessoas que acreditava que a melhor forma de obter riqueza era por meio da terra, ficando muito presas a ela. Por isso, o Brasil também queria modernizar as suas leis fundiárias, agrárias e foi também promulgada a lei de terras. A primeira consequência disso foi abolir finalmente o antigo regime das sesmarias que ainda estava em vigor no Brasil e, além das terras, ainda mandou registrar todas as sesmarias que não tinham sido registradas; ainda ordenou que todas as terras que não estivessem ocupadas ou tinham sesmeiros que tinham abandonado essas sesmarias iriam retornar para o Estado, tornando-se as chamadas terras devolutas. Para finalizar, é necessário falar sobre o Ato adicional de 1834. O ato foi um evento bastante singular na história do direito brasileiro em razão de algumas peculiaridades da constituição de 1824. Normalmente as constituições escritas são rígidas, ou seja, as regras não podem ser alteradas, é necessário um procedimento que depende da participação de mais indivíduos para um Ato Adicional Constitucional. A Constituição era muito rígida, pois não tem emendas. No entanto, havia uma regra que dizia o seguinte: apesar de a Constituição tratar de vários assuntos, na verdade, somente alguns é que seriam assuntos constitucionais, outros seriam legais, podendo ser mudados por lei, mesmo estando na 9 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre Constituição. Apesar dela não haver possibilidade de emendas, permitia que a lei alterasse alguns temas tratados na Constituição, mas apenas os que não eram considerados temas constitucionais. O ato adicional foi uma lei que foi passada pela assembleia e que mudou algumas coisas na Constituição, dentre os temas não-constitucionais. Ele ocorre num ambiente de grande conflito político entre liberais e conservadores e as agendas políticas dos dois grupos não estava convergindo, o que criava dificuldades para o governo, então esse ato foi fruto de acordão político. Eles negociaram alguns assuntos, agradando a ambos os grupos, o que deu mais governabilidade. Um exemplo de demanda política conservadora atendida foi conversão da regência Trina para uma regência Una, pois eles entendiam que a regência de três pessoas diferentes apenas atrapalhava, pois poderia haver a sobreposição e a divergência de opiniões. Em contrapartida, a exigência atendida dos liberais foi a descentralização do governo, que era um estado unitário e governado centralizadamente; mas não se tornou uma federação. Transição para a República Uma figura importante nesse momento é Ruy Barbosa, o qual era republicano e, em conjunto com muitos outros, se inspirava no Direito Estadunidense. Por isso, após a proclamação da república, o nome oficial do Brasil é “Estados Unidos do Brasil”. Algumas mudanças ocorridas nessa transição foram: 1. Supremacia da Constituição: as ideias constitucionais são hierarquicamente superiores às outras normas, então ela sempre prevalecerá. 2. Controle de constitucionalidade da leis: o poder que os juízes vão ter, a partir da república, de avaliar se a lei, que teoricamente deveria incidir no caso concreto, em razão das peculiaridades do caso, ofende a Constituição e, consequentemente, pode afastar a lei em razão das sua inconstitucionalidade. Ela pode ofender em abstrato (independente de casos; geral) ou no caso concreto. 3. Interpretação das leis pelo judiciário: a tarefa de interpretar as leis, que era exercida durante o império pelo Conselho de Estado com o aval do imperador, que deveria ser exercida pela Assembleia Geral, passou a ser feita pelos juízes na república. Os entendimentos dos tribunais superiores, a eles será dada uma importância muito grande. Naturalmente, a opinião do STF ao interpretar a lei acabava tendo uma influência grande sobre os juízes de instâncias menores. 4. Federalismo: o Federalismo brasileiro aconteceria mais cedo ou mais tarde, pois era grande demais e seria inviável não fazer essa alteração. O ideal era copiar o modelo de Federalismo americano, o qual não pôde ser copiado em razão de algumas peculiaridades históricas do Brasil que impediam isso. 5. Separação Igreja x Estado: vai implicar na laicização de vários atos formais que eram atrelados aos ritos católicos. Essa laicização não impediu que houvessem acordos que pudessem beneficiá-los, desde que a colaboração do Estado tivesse o objetivo de alcançar finalidade púbicas; estatais. 10 História do Direito Brasileiro – 2º bimestre 6. Criação da Justiça Federal: a justiça federal foi criada no brasil inspirado na justiça federal dos estados unidos, para que houvesse bipartição do poder, na qual o poder judiciário agora teria dois níveis de funcionamento, um nível de justiça estadual e outro nível de justiça federal. Elas ficaram separadas exclusivamente para que houvesse uma justiça especializada para a união e os órgãos do governo federal. Os conflitos entre as pessoas e as empresas sempre seriam resolvidos na justiça estadual. A federal só serviria para julgar conflitos havidos com a união. 7. Inafastabilidade da Jurisdição: durante o Império, o poder judiciário não podia julgar qualquer tipo de crime, apenas conflitos envolvendo interesses privados, chamando isso de justiça comutativa. Quando havia um conflito entre o cidadão e o estado, esse conflito não podia ser resolvido na justiça, então ele era resolvido perante o conselho de estado, o qual tinha essa atribuição. A essa característica do conselho de estado, nós chamamos de contencioso administrativo, e essa expressão quer dizer litigio; disputa, é o oposto daquilo que é conciliatório. Na República, por influência do direito americano, o brasil adotou o modelo da inafastabilidade, o que significa que nenhum assunto ou tema poderá ser afastado do poder judiciário, ele poderá examinar e julgar qualquer tipo de conflito, inclusive entre pessoas e o poder público. 8. Substituição do STJ para o STF: o STF foi criado imediatamente após a transição para a República, e é um tribunal diferente, pois é um tribunal, efetivamente, de vérticeou de cúpula, o que significa que ele tem a responsabilidade de julgar em última instância os casos apresentados pela justiça brasileira. Ao invés do recurso de revista (o qual pedia a revisão), há o recurso extraordinário (que pedia a cassação). 9. Presidencialismo: A república brasileira era presidencialista: o papel exercido pelo presidente era simultaneamente de chefe do governo e chefe de estado. 10. Freios e contrapesos: no Império, o equilíbrio era mantido pelo Poder moderador. Na república, ele foi extinguido, então os outros três poderes precisaram limitar-se e interferir uns nos outros como forma de moderar e equilibrar.
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