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Papers de Direito Penal 1

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1 CONCEITO DE DIREITO PENAL
2.1 Noções fundamentais
	Para que seja possível a convivência harmônica em sociedade, é necessário um complexo de normas disciplinadoras que devem ser obedecidas por todos os indivíduos, estabelecendo-se o que é permitido e o que é proibido. O conjunto dessas normas jurídicas, vigentes em determinado momento histórico-social, é chamado de ordenamento jurídico, que é um sistema normativo composto por diversos setores (Direito Penal, Direito Civil, Direito Administrativo etc.), que interagem entre si, regulando a vida em sociedade. 
	
O Direito Penal é a parte, a parcela, o setor do ordenamento jurídico que tem a tarefa específica de proteger os bens mais essenciais à vida em sociedade. Note-se que outros ramos do Direito também protegem bens. O Direito Penal, entretanto, além de somente poder incidir para a tutela dos bens mais relevantes, o faz mediante o estabelecimento de mandatos e proibições, prevendo como consequências, para o caso de violação de seus mandamentos, penas e medidas de segurança, que cerceiam a liberdade das pessoas.
2.2 Denominação
	Direito Penal x Direito Criminal
	Direito Penal objetivo x Direito Penal subjetivo
2.3 Definição
	Conceitos:
“É o conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas medidas de segurança” (BASILEU GARCIA)
“É o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do direito de punir do Estado” (JOSÉ FREDERICO MARQUES)
2.4 Caracteres
Normativo – Público – Cultural – Valorativo - Finalista
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL
Tempos primitivos 
Os grupos sociais eram envoltos em ambiente mágico e religioso. Os fenômenos naturais eram tidos como resultantes das forças divinas (“totem”). Para aplacar a ira dos deuses, criaram-se uma séria de proibições (religiosas, sociais e políticas), conhecidas por “tabu”, que, não obedecidas, acarretavam castigo (sacrifício da vida ou de bens). A pena, desproporcionada com a ofensa, era aplicada sem preocupação de justiça.
 
Fases da vingança penal: 
a) vingança privada: origem + remota, vingança pessoal, instinto de preservação (lei do mais forte, exercida livremente pelo ofendido). Observa-se, no entanto, em grupos primitivos, uma espécie de vingança coletiva, como a perda da paz (expulsão do agressor do grupo) e a vingança do sangue (lesão retributiva entre tribos rivais, qdo um membro de uma fosse ofendido pelo de outra).
	Com a evolução social surgimento do talião (de talis = tal) – “sangue por sangue, olho por olho, dente por dente”. Importância = limitação da reação ao mal praticado (avanço no Direito Penal). Adotado pelo Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo (povo hebraico) e na Lei das XII Tábuas (Roma). 
	Posteriormente => surgimento da composição. O infrator livrava-se do castigo com a compra da liberdade (pagamento em moeda, gado, armas etc.).
b) da vingança divina: homem primitivo = seres sobrenaturais, premiavam ou castigavam a sociedade de acordo com seu comportamento. Adoravam e cultuavam objetos (totens). A função da pena era reparatória, retratação perante a divindade, restauração da integridade coletiva diante da divindade cultuada. As penas possuíam, portanto, um caráter essencialmente sacral. Eram cruéis, desumanas e intimidativas. Adotada no Código de Manu, Livros das Cinco Penas (China), Avesta (Pérsia) e no Pentateuco (Israel).
c) da vingança pública: no sentido de dar maior estabilidade ao Estado e proteger-se os soberanos, a aplicação das penas, ainda severas e cruéis, passou a ser responsabilidade estatal.
2.1 Direito penal romano
Evolução das fases de vingança pela adoção do talião e da composição. Separação de direito e religião. Separação dos delitos em crimina publica (mais graves) e delicta privata (menos graves, reprimidas por particulares). Finalmente, a pena tornou-se, em regra, pública. As sanções foram mitigadas e foi praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela deportação. O Direito Romano contribuiu para a evolução do Direito Penal, com a criação de princípios penais sobre o erro, a culpa, o dolo, a legítima defesa, etc.
2.2 Direito penal germânico
Não era composto de leis escritas, apenas pelo costume. Caracterizado pela vingança privada (reação indiscriminada). Mais tarde, por influência do Direito Romano e do cristianismo, foi aplicado o talião. Não havia a distinção entre dolo, culpa e caso fortuito. A punição não dependia do caráter subjetivo do ato. No processo, havia as “ordálias” ou “juízos de Deus” (prova de água fervente, de ferro em brasa etc.) e também os duelos judiciários.
2.3 Direito penal canônico
Direito Penal da Igreja. Assimilando princípios do Direito Romano, contribuiu decisivamente para a humanização do Direito Penal. Proclamou-se a igualdade entre os homens, a importância do aspecto subjetivo do crime e tentou-se abolir as ordálias e os duelos judiciários. As penas foram mitigadas e passaram a ter como fim não somente a expiação, mas também a regeneração. Entretanto, não se pode esquecer os excessos da Inquisição. A pena de morte era aplicada constantemente. 
2.4 Direito penal medieval
Influência recíproca dos direitos romano, canônico e bárbaro. O Direito Penal era pródigo na aplicação da pena de morte, executada das formas mais cruéis (fogueira, afogamento, soterramento, enforcamento etc.). As sanções eram desiguais e dependiam da situação econômica dos réus. Eram comuns o confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as penas infamantes. O caráter público do DP tornou-se exclusivo, sendo exercido em defesa do Estado e da religião. Arbítrio judiciário: atmosfera de incerteza, insegurança e terror.
2.5 Período humanitário
	
Inicia-se no decorrer do Iluminismo. Passa-se a questionar sobre o fundamento do direito de punir e da legitimidade das penas. Problema penal = filosófico e jurídico. Influência de pensadores (Rousseou, Montesquieu, Beccaria). Recomenda-se a leitura de: BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2006. 
2.6 História do Direito Penal brasileiro
2.6.1 Período colonial
As ideias de Direito penal que podem ser atribuídas aos indígenas estavam ligadas ao direito costumeiro (vingança privada, vingança divina e o talião).
	Estavam em vigor as Ordenações Afonsinas (até 1512) e Manuelinas (até 1569). Posteriormente, vieram as Ordenações Filipinas (Direito Penal dos tempos medievais). O crime era confundido com o pecado e a ofensa moral, punindo-se severamente os hereges, feiticeiros e benzedores. Eram crimes a blasfêmia, a bênção de cães, a relação sexual de cristão com infiel. Larga cominação da pena de morte, da tortura, das penas infamantes, do confisco e das galés. Vide: PIERANGELLI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil. Evolução histórica. 2. ed. São Paulo: RT, 2001.
2.6.2 Código criminal do império
	Sancionado em 16/12/1830, fixava um esboço da individualização da pena, previa a existência de atenuantes e agravantes e estabelecia um julgamento especial para menores de 14 anos. A pena de morte pela forca visa a cobrir a prática de crimes pelos escravos.
2.6.3 Período republicano
	Em 11/10/1890, foi editado um diploma com a denominação de Código Penal. Aboliu-se a pena de morte. Em 1º/1/1942, entrou em vigor o atual Código Penal.
2.6.4 Reformas contemporâneas
Lei 7.209/84, com diversas inovações no Código de 1942.
Após a reforma de 1984, 9 leis modificaram a Parte Geral e 41 leis a Parte Especial. Ex.: alterações dos últimos 2 anos: crimes contra a dignidade sexual, sequestro relâmpago, porte ou uso de celular em presídios, entre outras)
3 ESCOLAS PENAIS
No século XIX, surgiram diversas correntes de pensamento sobre o Direito Penal, especialmente sobre o direito de punir, a natureza do delito e a finalidade dassanções penais. Veremos, abaixo, as principais características delas.
3.1 Escola clássica
O Direito tem natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural. É congênito ao homem, inerente a ele, foi dado por Deus à humanidade no momento da criação.
O delito é um ente jurídico, pois constitui a violação de um direito, uma infração à lei.
A responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral e no livre arbítrio humano.
A pena é um meio de proteção jurídica e uma retribuição da culpa moral 
O criminoso é, em regra, um homem normal que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último. O crime é impelido pela força física e pela força moral, esta constituída pela vontade livre e consciente do criminoso, que tem live arbítrio para fazê-lo. 
Principal representante: Francesco Carrara (Programa del corso di diritto criminalle (1859). Para esse autor, o delito é um ente jurídico. O crime era definido por ele como “a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso”. Diz o autor “promulgada” porque reforça a ideia de que se refere apenas à regra legal e não às normas morais ou religiosas.
3.2 Escola positiva
Desponta com o desenvolvimento dos estudos sociológicos e biológicos. O movimento naturalista pregava a supremacia da investigação experimental em oposição à indagação puramente racional. Predomínio do pensamento positivista no campo da filosofia (Augusto Comte) e das teorias evolucionistas de Darwin e Lamarck.
Fases: a) fase antropológica (Cesare Lombroso, 1876); b) fase sociológica (Enrico Ferri, 1892); c) fase jurídica (Rafael Garófalo, 1885).
As principais idéias de Lombroso (O homem delinquente), são:
o crime é um fenômeno biológico, não um ente jurídico
o criminoso é um ser atávico e representa a regressão do homem ao primitivismo. É um selvagem e nasce delinquente como outros nascem sábios ou doentios (degeneração)
o criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa etc.
o criminoso nato é insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro, moralmente insensível, impulsivo, vaidoso e preguiçoso
a causa da degeneração que conduz ao nascimento do criminoso é a eplepsia, que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões atávicas
o criminoso é, em resumo, um ser atávico, com fundo epiléptico e semelhante ao louco moral, doente antes que culpado e que deve ser tratado e não punido
Ferri (Sociologia Criminal) foi o maior expoente da Escola Positiva. Segundo ele, o crime tem um trinômio causal: os fatores antropológicos, sociais e físicos. As principais idéias da Escola Positiva:
o crime é um fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigndo o estudo pelo método experimental
é negado o livre-arbítrio (determinismo biológico-social). As ações humanas são produto do organismo fisiológico do homem e da atmosfera física e social onde nasceu e na qual vive (fatores antropológicos, psíquicos, físicos e sociais). “O homem age como sente e não como pensa”. O homem é um produto social. O meio é importante fator criminógeno.
os criminosos podem ser classificados em natos, loucos, ocasionais, habituais e passionais
a responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o criminoso em sociedade, e tem por base a sua periculosidade
a pena é medida de defesa social, visando à recuperação do criminoso ou sua neutralização
o criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente
Por sua vez, Garófalo realizou a sistematização jurídica da Escola. Estabeleceu, entre outras coisas:
a periculosidade como base da responsabilidade
a prevenção especial como fim da pena
a divisão dos delinquentes em assassinos, violentos, ímprobos e cínicos
3.3 Escolas intermediárias ou ecléticas
Consistiram em uma síntese das principais ideias da Escola Clássica e da Escola Positiva. Citam-se a Escola Moderna Alemã e a Terceira Escola.
Separaram o Direito Penal das demais ciências penais, contribuindo para sua evolução
Referiam-se à causalidade do crime e não à sua fatalidade, excluindo, portanto, o tipo criminal antropológico
Pregavam a reforma social como dever do Estado no combate ao crime
Influenciaram na criação de diversos institutos, como as medidas de segurança, o livramento condicional, o sursis etc.
Maior preocupação com a pessoa do condenado (perspectiva humanista) – doutrina da Nova Defesa Social (a sociedade apenas é defendida à medida que se proporciona a adaptação do condenado à vida social)
4. Fontes do Direito Penal
4.1 Conceito
	Fonte: origem, princípio, causa. Fonte: de onde brota, nasce, provém o Direito Penal. As fontes podem ser materiais (ou substanciais ou de produção), que informam a gênese, do ponto de vista da produção, ou formais, que dizem respeito ao modo pelo qual se exterioriza o direito.
4.2 Fonte material
Estado = fonte exclusiva de produção da lei penal. Compete à União legislar privativamente sobre direito penal (CF, art. 22, I).
4.3 Fontes formais
Exteriorizam o direito, lhe dão forma e o revelam. Dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas).
4.2.1 Fonte direta
A única fonte direta do Direito Penal é a lei. Princípio da reserva legal. No Direito brasileiro, de origem romanística, vigora o princípio da lei escrita. A lei penal, elaborada pelo Congresso Nacional, tem primazia sobre qualquer outra fonte do Direito, por força do princípio da reserva legal (nullun crimen nula poena sine lege). (CF, art. 5º, XXIX; CP, art. 1º, caput).
4.2.2 Fontes indiretas: costume, princípios gerais de direito, jurisprudência, doutrina, e analogia. 
Costume: regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de obrigatoriedade. Não cria o Direito Penal, não revoga a lei penal, mas tem influência na interpretação e aplicação da lei penal. A modificação dos costumes com a evolução da sociedade pode acarretar a descriminalização, pelo legislador, de determinadas condutas. Exemplos: adultério e sedução.
Princípios gerais de Direito: premissas éticas, universais, estabelecidas pela consciência do povo e vigentes em determinados momentos históricos-sociais.
Obs.: os costumes e os princípios gerais de direito somente podem servir como base para normas penais permissivas, ou como importante recurso interpretativo, jamais como fundamento de criação ou agravamento de normas penais incriminadoras (princípio da legalidade). Ex1: trotes acadêmicos, prática costumeira em que se pratica injúria e constrangimento ilegal contra o calouro, são consideradas permitidas (CP, art. 23, III), como exercício regular de direito. Ex2.: autorização de aborto de feto anencefálico (princípio da dignidade da pessoa humana, em relação à gestante).
Jurisprudência: decisões reiteradas dos tribunais, aplicadas em casos concretos, que interpretam e aplicam o Direito Penal na solução dos conflitos. Em geral, servem apenas como orientação para os julgadores, não tendo caráter obrigatório e vinculante. Também não criam o Direito Penal. Salienta-se, todavia, o recente artigo 103-A da Constituição, que instituiu a denominada “Súmula Vinculante”. O Supremo Tribunal Federal poderá, mediante decisão de 2 terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre o mesmo tema, aprovar súmula que deverá ser obedecida pelos demais órgãos do Poder Judiciário. 
Doutrina: resultado da atividade científica dos juristas. Além do papel da cognição jurídica, importante para a interpretação e aplicação da lei penal, pode contribuir para a alteração do Direito, como um guia para o legislador. 
Analogia: forma de autointegração da lei penal. A analogia in bonam partem é permitida (LICC, art. 4º).Ex.: exclusão de pena no caso de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela prática do ato delituoso (art. 128, II) (antes da Lei 12.015) (será analisada mais adiante, em tópico separado)
5. Analogia
5.1 Noções fundamentais
	O ordenamento jurídico (conjunto de normas que compõe a ordem jurídica), por melhor que seja, não é capaz de prever todas as hipóteses de situações que podem ocorrer na vida em sociedade. Ou seja, sempre haverá lacunas na legislação. Agora, nenhum juiz pode deixar de julgar, alegando que não existe lei para resolver este ou aquele caso. Sempre que não houver norma reguladora para certa situação, o julgador deve solucionar o caso legalmente omisso mediante o emprego: a) da analogia; b) dos costumes; c) dos princípios gerais de direito, conforme dispõe o artigo 4º da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil).
	A analogia é uma forma de auto-integração da lei penal. Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante. Exemplo: existe uma lei X que se aplica ao fato Y. Se ocorrer um fato Z, o que fazer para resolvê-lo, se não estiver previsto em lei mas for semelhante ao fato Y? Resposta: aplica-se a lei X ao fato Y.
	Qual o fundamento para esse procedimento? Porque é permitido proceder-se assim, aplicando a analogia? Cuida-se da aplicação do princípio de que “onde existe a mesma razão de decidir, é de aplicar-se o mesmo dispositivo de lei” (ubi eadem legis ratio, ibi eadem legis dispositio). Ou seja, essa solução nasce da necessidade de igualdade jurídica, em face da qual idênticas (semelhantes) situações de fato devem receber a mesma solução jurídica.
	Pergunta para reflexão: na analogia temos interpretação ou aplicação da lei?
5.2 Emprego da analogia no direito penal
	
	No Direito Penal prevalece o princípio da legalidade dos delitos e das penas. A ninguém pode ser imputado crime ou aplicada pena por conduta não descrita em lei como crime. É inadmissível, portanto, o emprego de analogia para criar ilícitos penais. A aplicação da analogia é possível, entretanto, quando se trate de normas não incriminadoras, quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer o réu por um princípio de equidade (igualdade). 
	Portanto:
a) a analogia in bonam partem é permitida (LICC, art. 4º). Ex.: exclusão de pena no caso de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela prática do ato delituoso (art. 128, II).
b) a analogia in malam partem é proibida, por violar o princípio da reserva legal.
	
5.3 Diferença entre analogia, interpretação extensiva e analógica
	Analogia x interpretação extensiva: na interpretação extensiva, amplia-se o texto da norma, enquanto na analogia isso não ocorre. Na analogia, que é forma de auto-integração da lei penal, o intérprete parte da própria lei para elaborar a regra concernente ao caso não previsto pela legislação. Aplica-se a analogia quando há lacuna. Na interpretação extensiva não há lacuna. Apenas à primeira vista, aparentemente, é que parece haver lacuna, mas não há. Na interpretação extensiva, o intérprete apenas estende o sentido da lei que já existe, para abranger o caso examinado. Na interpretação extensiva há vontade de a lei prever o caso, mas o seu texto diz menos do que o desejado – estende-se, portanto, seu sentido até o fato. Já na analogia, não há vontade de a lei regular o caso, justamente porque não existe previsão legal para aquele caso. Será, na analogia, aplicada outra norma, que regula fato semelhante. 
	Analogia x intepretação analógica: analogia é a auto-integração da lei. Omissa, parte-se da solução nela prevista para caso semelhante não previsto. Interpretação analógica é uma espécie de interpretação extensiva. Nela, a própria lei dirige o intérprete para a extensão. É o próprio dispositivo que determina que seja aplicado analogicamente certo preceito. Na analogia, não é a vontade da lei que determina a aplicação ao caso concreto. A norma não existe, na verdade, pois há um vácuo, uma lacuna legislativa nesse ponto. Não poderia, pois, determinar a aplicação a casos semelhantes. Já na interpretação analógica, a própria lei, após definir a fórmula casuística, menciona os casos que devem ser compreendidos por semelhança (Ex. art. 121, par. 2º, art. 171, caput).
Jurisprudência
Vedação da analogia “in malam partem”
	HC 56529 / RJ
HABEAS CORPUS
2006/0061656-4 
	Relator(a)
	Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) 
	Órgão Julgador
	T6 - SEXTA TURMA
	Data do Julgamento
	05/03/2009
	Data da Publicação/Fonte
	DJe 23/03/2009
	Ementa 
	HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. 1. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. CÁLCULO. CRIME CONSIDERADO NÃO HEDIONDO. AGRAVO EM EXECUÇÃO. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DO CÁLCULO CASSADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. CRIME NÃO HEDIONDO. LISTAGEM TAXATIVA DOS CRIMES COM
TAL NATUREZA. ANALOGIA. IMPOSSIBILIDADE. 2. ORDEM CONCEDIDA. 1. O crime de associação para o tráfico não integra a listagem legal de crimes considerados hediondos. Impossível analogia in malam partem com o fito de considerá-lo crime dessa natureza. 2. Ordem concedida para, em confirmação à liminar já deferida,
cassar a decisão proferida no acórdão impugnado, para que seja restabelecido o cálculo efetuado pelo juízo da execução criminal, que considerou o crime previsto no artigo 14 da Lei 6.368/76 como não hediondo.
	HC 23419 / PB
HABEAS CORPUS
2002/0082891-0 
	Relator(a)
	Ministro FERNANDO GONÇALVES (1107) 
	Relator(a) p/ Acórdão
	Ministro PAULO MEDINA (1121)
	Órgão Julgador
	T6 - SEXTA TURMA
	Data do Julgamento
	28/09/2004
	Data da Publicação/Fonte
	DJ 21/03/2005 p. 443
	Ementa 
	HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. PRONÚNCIA. LIBELO. QUALIFICADORA. AGRAVANTE. DESCONFORMIDADE. TRÉPLICA. CONTRADITA. NULIDADE. Não se decreta nulidade de ato processual que não causa prejuízo às partes (artigo 563, do CPP). A qualificadora inserta no libelo, em desacordo com a pronúncia (motivo fútil), não foi submetida ao Conselho de Sentença e, portanto, nenhuma influência teve na quantificação da pena. Incabível a agravante genérica prevista no artigo 61, inciso II, alínea “e”, do Código Penal, pois há nos autos prova pré-constituída de que a vítima não era esposa do paciente, porquanto casados apenas em cerimônia religiosa. A norma penal refere unicamente o cônjuge, sendo vedado, no Direito
Penal, ampliar tal conceito restritivo, com o emprego de analogia in malam partem. Ordem parcialmente concedida, apenas para afastar a agravante e reduzir a pena para 15 (quinze) anos de reclusão, mantidas as demais
condições da sentença.
B) Aborto de feto anencefálico
	Processo – STJ
	HC 56572 / SP
HABEAS CORPUS
2006/0062671-4 
	Relator(a)
	Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128) 
	Órgão Julgador
	T5 - QUINTA TURMA
	Data do Julgamento
	25/04/2006
	Data da Publicação/Fonte
	DJ 15/05/2006 p. 273 
	Ementa 
	PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INDEFERIMENTO DE LIMINAR NO WRIT ORIGINÁRIO. MANIFESTA ILEGALIDADE. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PERANTE O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ. PATOLOGIA CONSIDERADA INCOMPATÍVEL COM A VIDA EXTRA-UTERINA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. GESTAÇÃO NO TERMO FINAL PARA A REALIZAÇÃO DO PARTO. ORDEM PREJUDICADA.
1. A via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de gravidez fora das hipóteses previstas no Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de constrição à liberdade ambulatorial, caso a gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial. 
2. Consoante entendimento desta Corte, é admitida a impetração de habeas corpus contra decisão denegatória de liminar em outro writ quando presente flagrante ilegalidade.
3. Não há como desconsiderar a preocupação do legislador ordinário com a proteção e a preservação da vida e da saúde psicológica da mulher ao tratardo aborto no Código Penal, mesmo que em detrimento da vida de um feto saudável, potencialmente capaz de transformar-se numa pessoa (CP, art. 128, incs. I e II), o que impõe reflexões com os olhos voltados para a Constituição Federal, em especial ao princípio da dignidade da pessoa humana.
4. Havendo diagnóstico médico definitivo atestando a inviabilidade de vida após o período normal de gestação, a indução antecipada do parto não tipifica o crime de aborto, uma vez que a morte do feto é inevitável, em decorrência da própria patologia.
5. Contudo, considerando que a gestação da paciente se encontra em estágio avançado, tendo atingido o termo final para a realização do parto, deve ser reconhecida a perda de objeto da presente impetração.
6. Ordem prejudicada.
	Processo - STJ
	HC 32159 / RJ
HABEAS CORPUS
2003/0219840-5 
	Relator(a)
	Ministra LAURITA VAZ (1120) 
	Órgão Julgador
	T5 - QUINTA TURMA
	Data do Julgamento
	17/02/2004
	Data da Publicação/Fonte
	DJ 22/03/2004 p. 339
RMP vol. 25 p. 400
RSTJ vol. 190 p. 447 
	Ementa 
	HABEAS CORPUS. PENAL. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A PRÁTICA DE ABORTO. NASCITURO ACOMETIDO DE ANENCEFALIA. INDEFERIMENTO. APELAÇÃO. DECISÃO LIMINAR DA RELATORA RATIFICADA PELO COLEGIADO DEFERINDO O PEDIDO. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. IDONEIDADE DO WRIT PARA A DEFESA DO NASCITURO.
1. A eventual ocorrência de abortamento fora das hipóteses previstas no Código Penal acarreta a aplicação de pena corpórea máxima, irreparável, razão pela qual não há se falar em impropriedade da via eleita, já que, como é cediço, o writ se presta justamente a
defender o direito de ir e vir, o que, evidentemente, inclui o direito à preservação da vida do nascituro. 
2. Mesmo tendo a instância de origem se manifestado, formalmente, apenas acerca da decisão liminar, na realidade, tendo em conta o caráter inteiramente satisfativo da decisão, sem qualquer possibilidade de retrocessão de seus efeitos, o que se tem é um exaurimento definitivo do mérito. Afinal, a sentença de morte ao nascituro, caso fosse levada a cabo, não deixaria nada mais a ser analisado por aquele ou este Tribunal.
3. A legislação penal e a própria Constituição Federal, como é sabido e consabido, tutelam a vida como bem maior a ser preservado. As hipóteses em que se admite atentar contra ela estão elencadas de modo restrito, inadmitindo-se interpretação extensiva, tampouco analogia in malam partem. Há de prevalecer, nesse casos, o princípio da reserva legal.
4. O Legislador eximiu-se de incluir no rol das hipóteses autorizativas do aborto, previstas no art. 128 do Código Penal, o caso descrito nos presentes autos. O máximo que podem fazer os defensores da conduta proposta é lamentar a omissão, mas nunca exigir do Magistrado, intérprete da Lei, que se lhe acrescente mais uma hipótese que fora excluída de forma propositada pelo Legislador.
5. Ordem concedida para reformar a decisão proferida pelo Tribunal a quo, desautorizando o aborto; outrossim, pelas peculiaridades do caso, para considerar prejudicada a apelação interposta, porquanto houve, efetivamente, manifestação exaustiva e definitiva da Corte
Estadual acerca do mérito por ocasião do julgamento do agravo regimental.
C) LEI MARIA DA PENHA
Decisão judicial, juiz Mário Roberto Kono de Oliveira, Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabá.
Decisão interlocutória própria padronizável proferida fora de audiência. Autos de 1074 /2008 Vistos, etc. Trata-se de pedido de medidas protetivas de urgência formulada por CELSO BORDEGATTO, contra MÁRCIA CRISTINA FERREIRA DIAS, em autos de crime de ameaça, onde o requerente figura como vítima e a requerida como autora do fato. 
O pedido tem por fundamento fático, as varias agressões físicas, psicológicas e financeiras perpetradas pela autora dos fatos e sofridas pela vítima e, para tanto instrui o pedido com vários documentos como: registro de ocorrência, pedido de exame de corpo de delito, nota fiscal de conserto de veículo avariado pela vítima, e inúmeros e-mails difamatórios e intimidatórios enviados pela autora dos fatos à vítima. Por fundamento de direito requer a aplicação da Lei de nº 11.340, denominada “Lei Maria da Penha”, por analogia, já que inexiste lei similar a ser aplicada quando o homem é vítima de violência doméstica. Resumidamente, é o relatório. 
DECIDO: A inovadora Lei 11.340 veio por uma necessidade premente e incontestável que consiste em trazer uma segurança à mulher vítima de violência doméstica e familiar, já que por séculos era subjugada pelo homem que, devido a sua maior compleição física e cultura machista, compelia a “fêmea” a seus caprichos, à sua vilania e tirania. 
Houve por bem a lei, atendendo a súplica mundial, consignada em tratados internacionais e firmados pelo Brasil, trazer um pouco de igualdade e proteção à mulher, sob o manto da Justiça. Esta lei que já mostrou o seu valor e sua eficácia, trouxeram inovações que visam assegurar a proteção da mulher, criando normas impeditivas aos agressores de manterem a vítima sob seu julgo enquanto a morosa justiça não prolatasse a decisão final, confirmada pelo seu trânsito em julgado. Entre elas a proteção à vida, a incolumidade física, ao patrimônio, etc. 
Embora em número consideravelmente menor, existem casos em que o homem é quem vem a ser vítima da mulher tomada por sentimentos de posse e de fúria que levam a todos os tipos de violência, diga-se: física, psicológica, moral e financeira. No entanto, como bem destacado pelo douto causídico, para estes casos não existe previsão legal de prevenção à violência, pelo que requer a aplicação da lei em comento por analogia. Tal aplicação é possível? 
A resposta me parece positiva. Vejamos: É certo que não podemos aplicar a lei penal por analogia quando se trata de norma incriminadora, porquanto fere o princípio da reserva legal, firmemente encabeçando os artigos de nosso Código Penal 
Se não podemos aplicar a analogia in malam partem, não quer dizer que não podemos aplicá-la in bonam partem, ou seja, em favor do réu quando não se trata de norma incriminadora, como prega a boa doutrina: “Entre nós, são favoráveis ao emprego da analogia in bonam partem: José Frederico Marques, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno, Basileu Garcia, Costa e Silva, Oscar Stevenson e Narcélio de Queiróz” (DAMÁSIO DE JESUS – Direito Penal - Parte Geral – 10ª Ed. pag. 48) Ora, se podemos aplicar a analogia para favorecer o réu, é óbvio que tal aplicação é perfeitamente válida quando o favorecido é a própria vítima de um crime. Por algumas vezes me deparei com casos em que o homem era vítima do descontrole emocional de uma mulher que não media esforços em praticar todo o tipo de agressão possível contra o homem. Já fui obrigado a decretar a custódia preventiva de mulheres “à beira de um ataque de nervos”, que chegaram a tentar contra a vida de seu ex-consorte, por pura e simplesmente não concordar com o fim de um relacionamento amoroso. 
Não é vergonha nenhuma o homem se socorrer ao Pode Judiciário para fazer cessar as agressões da qual vem sendo vítima. Também não é ato de covardia. È sim, ato de sensatez, já que não procura o homem/vítima se utilizar de atos também violentos como demonstração de força ou de vingança. E compete à Justiça fazer o seu papel de envidar todos os esforços em busca de uma solução de conflitos, em busca de uma paz social. 
No presente caso, há elementos probantes mais do que suficientes para demonstrar a necessidade de se deferir a medidas protetivas de urgência requeridas, pelo que defiro o pedido e determino à autora do fato o seguinte: 1. que se abstenha de se aproximar da vítima, a uma distância inferior a 500 metros, incluindo sua moradia e local de trabalho; 2. que se abstenha de manter qualquer contato com a vítima, seja por telefonema, e-mail, ou qualquer outro meio direto ou indireto. Expeça-se o competente mandado e consigne-se no mesmo a advertência de que o descumprimento desta decisão poderá importar em crime de desobediência e até em prisão.I.C.
6. Lei penal
6.1 Introdução
Lei = fonte formal imediata (direta) do Direito Penal
Estrutura lógica – preceitos primário (conduta) e secundário (pena) – descrição do comportamento criminoso com imposição de pena (consequência jurídica) caso ele seja praticado
Tipo = modelo de conduta proibida
Norma jurídico-penal – característica de proposição imperativa endereçada a todos os cidadãos genericamente considerados, por meio de mandamentos ou proibições
Tipo penal = modelo de conduta proibida
6.2 Características
Exclusividade – só a lei pode criar delitos e penas (reserva legal)
Imperatividade – é obrigatório o cumprimento e seu descumprimento acarreta a imposição de sanção penal 
Generalidade – dirige-se a todos
Impessoalidade – atinge qualquer pessoa
6.3 Classificação
Incriminadoras (criam crimes e cominam penas)
Não incriminadoras (não criam crimes nem penas, mas permitem, exculpam ou interpretam). Normas penais permissivas autorizam a prática de condutas típicas (Ex. CP, art. 23). Normas penais exculpantes estabelecem a não culpabilidade (Ex.: art. 26). Normas penais interpretativas esclarecem o conteúdo ou o significado de outras normas penais (Ex.: art. 327).
Principiológicas (estabelecem os princípios. Ex.: art. 1º).
Completas (não necessitam de complementação, contém todos os elementos)
Incompletas (necessitam de complementação para serem aplicadas. Ex.: normas penais em branco).
6.4 Lei penal em branco
Em determinadas situações, o Direito Penal deixa de definir, exaustivamente, os tipos penais e utiliza as chamadas normas penais em branco, cujas hipóteses legais têm um vazio normativo que deve ser preenchido por normas alheias a seu conteúdo descritivo. Essas normas podem ser conceituadas como aquelas “em que a descrição da conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando de outro dispositivo para sua integração ou complementação” (Regis Prado). É formulada de maneira genérica ou indeterminada, devendo ser colmatada/determinada por ato normativo (legislativo ou administrativo), que fica pertencendo, para todos os efeitos, ao respectivo tipo penal completado. Essa técnica é muito utilizada quando é absolutamente inviável a descrição completa e exaustiva pelo próprio tipo penal de determinadas condutas, cuja dinamicidade e condicionamento a fatores mutáveis no tempo e no espaço tornam essa tarefa impossível (por ex. economia popular, meio ambiente, relações de consumo, saúde pública, ordem tributária). 
Exemplo: aplicação nos delitos de pesca, pois os tipos legais dependem de complementação obtida principalmente de normas administrativas emanadas do órgão ambiental. 
“Corpos errantes sem em busca de alma” (Von Liszt).
7. Interpretação das leis penais
7.1 Noções fundamentais
Interpretação e aplicação da lei penal
Interpretar a lei significa compreendê-la, esclarecê-la, captar seu sentido e alcance. Ou seja, é procedimento pelo qual se descobre o conteúdo de uma norma (qual seu significado) e a que casos ela se aplica (para saber se é aplicável ao caso concreto). 
Aplicar a lei significa fazê-la atuar no caso concreto, adaptando-a a determinada situação ocorrida no mundo real, para solucionar a questão posta em exame. 
Primeiro se interpreta uma lei para depois aplicá-la. Ou seja, a interpretação precede à aplicação. 
7.2 Interpretação quanto ao sujeito: autêntica, doutrinária e judicial
Interpretação autêntica: também chamada de legislativa, é aquela feita pela própria lei (CP, art. 327).
Interpretação doutrinária: feita pelos estudiosos do Direito
Interpretação judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais
7.3 Interpretação quanto aos métodos: gramatical e lógica
Interpretação gramatical:
Interpretação lógica: 
7.4 Interpretação quanto ao resultado: declarativa, restritiva e extensiva
Em relação ao resultado obtido com a interpretação, ela é classificada em: a) interpretação declarativa; b) interpretação restritiva; c) interpretação extensiva.
Interpretação declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem reduzido, encontrando-se o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei. Ex.: art. 338 (“reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso”). Ex.: art. 288 (“associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes”).
Interpretação restritiva: o alcance da lei é reduzido, para que se consiga traduzir seu real significado. Ou seja, quando elaborou a lei, o legislador disse mais do que pretendia, cabendo ao intérprete corrigir a fórmula legal para evitar contradições, incongruências e violação a princípios. Ex.: artigo 181, I e II (isenção de pena por escusa absolutória). Ex. art. 28, I e II (“não excluem a imputabilidade a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou culposa”): deve ser interpretado restritivamente, no sentido de serem considerados esses estados quando não patológicos, isto é, quando não ocasionarem doença mental, pois, de outra forma, haveria contradição como artigo 26, caput. Nesses casos (em que a emoção, a paixão ou a embriaguez causam doença mental), deve-se aplicar o artigo 26, caput.
Interpretação extensiva: realizada quando necessário corrigir uma expressão legal por demais estreita. Por outras palavras, deve ser ampliado o alcance das palavras da lei para que a letra corresponda à vontade do texto. Ou seja, o sentido deve abranger mais que a expressão literal. Ex. art. 130: incrimina não só a situação de perigo, como também a situação de dano efetivo. Quer dizer, é crime não só a exposição a perigo, como também o contágio. Ex.: o crime de bigamia abrange a poligamia. 
 Em matéria de interpretação, se a vontade da lei não for nítida, se não chegar o juiz a saber se a lei quis isso ou aquilo, ou se nem ao menos consegue determinar o que ela pretendeu, deverá seguir a interpretação mais favorável ao réu, em face do princípio do in dubio pro reo. Em razão deste princípio, se não for possível descobrir a voluntas legis, deve guiar-se o intérprete pela máxima: favorablia sunt amplianda, odiosa sunt restringenda. Ou seja, a lei penal deve ser interpretada restritivamente quando prejudicial ao réu, e extensivamente no caso contrário. Obs.: isso deve ser feito somente quando resulta inútil qualquer processo de interpretação do texto legal.
7.5 Interpretação progressiva
É a que se faz adaptando a lei às necessidades e concepções do presente. Ex.: art. 26, caput (“doença mental”). Ex. art. 155 (“coisa alheia móvel”).
7.6 Interpretação analógica
É a permitida quando, depois de uma cláusula casuística, específica, vem uma cláusula genérica. Ex. homicídio qualificado (art. 121, par. 2º).
Cuida-se de hipótese de interpretação extensiva, em que a própria lei manda que se estenda seu conteúdo a casos semelhantes aos mencionados na fórmula casuística. 
7.7 Analogia x interpretação extensiva x interpretação analógica
Analogia x interpretação extensiva: na interpretação extensiva, amplia-se o texto da norma, enquanto na analogia isso não ocorre. Na analogia, que é forma de auto-integração da lei penal, o intérprete parte da própria lei para elaborar a regra concernente ao caso não previsto pela legislação. Aplica-se a analogia quando há lacuna. Na interpretação extensiva não há lacuna. Apenas à primeira vista, aparentemente, é que parece haver lacuna, mas não há. Na interpretação extensiva, o intérprete apenas estende o sentido da lei que já existe, para abranger o caso examinado. Na interpretação extensiva há vontade de a lei prever o caso, mas o seu texto diz menos do que o desejado – estende-se, portanto, seu sentido até o fato. Já na analogia, não há vontade de a lei regular o caso, justamente porque não existe previsão legal para aquele caso. Será, na analogia, aplicada outra norma, que regula fato semelhante. 
Analogia x intepretação analógica: analogia é a auto-integração da lei. Omissa, parte-se da solução nela prevista para caso semelhante nãoprevisto. Interpretação analógica é uma espécie de interpretação extensiva. Nela, a própria lei dirige o intérprete para a extensão. É o próprio dispositivo que determina que seja aplicado analogicamente certo preceito. Na analogia, não é a vontade da lei que determina a aplicação ao caso concreto. A norma não existe, na verdade, pois há um vácuo, uma lacuna legislativa nesse ponto. Não poderia, pois, determinar a aplicação a casos semelhantes. Já na interpretação analógica, a própria lei, após definir a fórmula casuística, menciona os casos que devem ser compreendidos por semelhança (Ex. art. 121, par. 2º, art. 171, caput).
8. Aplicação da lei penal
Noções iniciais
8.1 Princípios garantistas do direito penal
8.1.1 Princípio da legalidade
CP, art. 1º, e CF, art. 5o, XXXIX: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Feuerbach: nullum crimen nulla poena sine lege
Origens: a) na Carta Magna de João Sem Terra (“nenhum homem pode ser punido senão pela lei da terra” (garantia mais de índole processual); b) no Iluminismo (Montesquieu, Rousseau, Beccaria). Foi formulado em termos precisos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): “ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabe3lecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada”.
No Brasil: adotado expressamente desde a Constituição de 1824
Fundamento político: função de garantia da liberdade do cidadão diante da intervenção arbitrária do Estado (garantia fundamental da liberdade civil)
Desdobramentos:
Não há crime nem pena sem lei em sentido estrito, elaborada na forma constitucionalmente prevista, pelo Congresso Nacional. A reserva legal é absoluta, diante do que é impedida a delegação. Só o Poder Legislativo Federal pode legislar sobre essa matéria, num Estado Democrático de Direito (princípio da legitimação democrática => representatividade popular => exercício não arbitrário). 
Princípio da anterioridade: não há crime sem lei “anterior” que o defina, nem pena sem “prévia” cominação legal
Irretroatividade da lei penal mais severa. CP, art. 2º, CF, art. 5o, XL: “A lei penal não retroagirá, salvo quando para beneficiar o réu”. Cuida-se de restringir o arbítrio legislativo e judicial na elaboração ou aplicação retroativa de lei prejudicial.
Princípio da taxatividade (nullum crimen sine lege scripta et stricta). As leis penais devem ser claras, precisas, não podem ser indeterminadas, vagas, muito genéricas etc. Além de se permitir ao destinatário o conhecimento do conteúdo da lei, cuida-se de uma garantia essencial, pois limita os poderes do juiz.[1: Código Penal da Alemanha, no tempo de Hitler: “Será punido quem cometer um crime declarado punível pela lei, ou que mereça uma sanção segundo a idéia fundamental da lei penal e o são sentimento do povo”. ]
Em resumo: “nullum crimen nulla poena sine lege praevia, scripta et stricta”
8.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana
	O homem é um ser possuidor de direitos fundamentais, de dignidade, vale como pessoa, tem o direito ao desenvolvimento livre e pleno de sua personalidade. Dignidade é valor inerente ao homem e vincula o legislador. É um postulado fundamental, que serve de alicerce aos demais princípios fundamentais.
8.1.3 Princípio da culpabilidade
	Nulla poena sine culpa (não há pena sem culpabilidade). A culpabilidade é fundamento e limite de toda pena. Em sentido amplo, inclui-se a exigência de responsabilidade subjetiva (não se pode responsabilizar criminalmente por uma ação ou omissão quem tenha atuado sem dolo ou culpa). Em nosso Direito Penal, afasta-se responsabilidade objetiva ou pelo resultado fortuito decorrente de atividade do agente. Obs: no direito medieval, quem praticava um ato ilícito, respondia por todas a suas consequências, independentemente de serem queridas, previstas ou fortuitas. 
8.1.4 Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos
Num Estado social e democrático de direito, em que se garantem com veemência máxima a liberdade e a dignidade da pessoa humana, o direito penal - porque justamente coarcta a liberdade e atinge a dignidade - só pode ser chamado a intervir em situações excepcionais, limitadamente, quando se fizer realmente imprescindível para o bem estar social. Essas situações correspondem aos fatos lesivos aos interesses essenciais mais relevantes, ou seja, aos bens jurídicos, que se transmudam em bens jurídico-penais quando passa a incidir a proteção da norma penal. Nem todo bem jurídico digno de proteção penal deve ser necessariamente protegido pelo direito penal, ou seja, os bens com dignidade penal só podem ser protegidos quando houver real carência de proteção, o que somente se verifica nas hipóteses em que estiverem sob lesão ou perigo de lesão de magnitudes consideráveis. Com efeito, somente bens de elevada preciosidade para o convívio social, que detenham o que a doutrina denomina de dignidade do bem jurídico, devem ser tutelados pelo direito penal, haja vista que o cerceamento à liberdade individual somente se justifica em face ao grau de importância do bem tutelado para a sociedade (princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos). [2: Günter Stratenwert questiona, por exemplo, se é compatível com os princípios fundamentais, especialmente com o de igualdade, uma regulação jurídico-penal que teve vigência até 1994 na Alemanha, depreciando a conduta homossexual frente a heterossexual (Derecho penal. Parte general I. El hecho punible. 4a ed. Trad. CANCIO MELIÁ, Manuel; SANCINETTI, Marcelo. Buenos Aires: Hammurabi, 2005, p.71]
8.1.5 Princípios da intervenção mínima e da fragmentariedade
	Princípio da intervenção mínima (ou da subsidiariedade): o Direito Penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa. O direito penal se assenta num paradoxo: para cumprir sua missão essencial de proteção de bens jurídicos, cerceia bens jurídicos. Porém, a ingerência estatal na esfera de liberdade do homem só se legitima na medida em que é concretizada quando estritamente necessária. Com efeito, se constitui premissa inarredável a garantia, pelo próprio Estado, da liberdade e da dignidade humanas, a proteção de bens jurídicos só se justifica quando restrita a lindes mínimos e precisos, diante dos ataques mais significativos, sob pena de incidir o arbítrio estatal inaceitável. Portanto, a intervenção da lei penal só poderá ocorrer quando for absolutamente necessária para a sobrevivência da comunidade (ultima ratio).
Princípio da fragmentariedade (corolário da intervenção mínima). O Direito Penal deve ser “um arquipélago de pequenas ilhas no mar do penalmente indiferente” (Regis Prado). Ou seja, o Direito Penal é uma pequena parte do ordenamento jurídico, é um fragmento. Só pode agir contra formas intoleráveis de agressão a bens jurídicos.
8.1.6 Princípio da insignificância
O Direito Penal somente deve atuar naqueles casos em que, além de o bem jurídico protegido ser considerado essencial, deve estar sob lesão ou ameaça de lesão que apresentem certa gravidade. Onde a proteção de outros ramos do direito possa estar ausente, falhar ou revelar-se insuficiente, se a lesão ou exposição a perigo do bem jurídico tutelado, apresentar certa gravidade, aí deve estender-se o manto da proteção penal, como ultima ratio regum. Não além disso. O Direito Penal é limitado do direito penal, sob duplo aspecto: primeiro, o da subsidiariedade de sua proteção a bens jurídicos essenciais; segundo, o dever estar condicionada sua intervenção à importância ou gravidade da lesão, real ou potencial. Portanto, “segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas” (Francisco de Assis Toledo). Enfim, as lesões realmente mínimas ao bem jurídicoprotegido não preenchem, materialmente, o tipo de uma norma penal. A conduta, embora formalmente típica, é materialmente atípica, não se devendo movimentar a máquina penal para punir alguém em razão dessas condutas que não colocam em risco a vida social. Ex.: furto de bens de pequeno valor.
8.1.7 Princípio da adequação social 
Apesar de uma conduta se subsumir formalmente ao tipo legal, não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada (Welzel). Ou seja, mesmo que certas condutas não sejam exemplares, desde que aceitas, toleradas socialmente, não são materialmente típicas, pois se mantém dentro dos limites da liberdade de atuação social. Ex.: lesões esportivas.
8.1.8 Princípio do ne bis in idem 
	Trata-se da proibição de dupla imputação de pena ou de aumento de pena em razão do mesmo fato. Ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo fato. 
8.2 Lei penal no tempo
LEGISLAÇÃO
 Anterioridade da Lei 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Lei excepcional ou temporária 
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
8.2.1 Noções fundamentais
Lei: sanção > promulgação > publicação > vacatio legis > vigência
Tempus regit actum: a lei rege, como regra geral, os fatos praticados durante sua vigência
Retroatividade: aplicação da lei a fato ocorrido antes de sua vigência
Ultratividade: aplicação da lei a fato ocorrido após sua revogação
Revogação: derrogação x ab-rogação
8.2.2 Princípios
Anterioridade da lei penal: CP, art. 1º
Irretroatividade da lei penal mais severa (CP, arts. 1º e 2º, caput)
Retroatividade da lei penal mais benigna (CP, art. 2º, par. único).
8.2.3 Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo
Novatio legis incriminadora: lei nova que cria o delito (torna típico fato anteriormente não incriminado) é irretroativa, não pode ser aplicada a fatos passados, diante do princípio da anterioridade. 
Abolitio criminis: situação em que a nova lei descriminaliza, ou seja, deixa de considerar delito (injusto penal) fato que antes era assim considerado aplica-se o princípio da retroatividade da lei penal mais benigna. Desaparece o delito e todos os efeitos penais (motivo: falta de interesse do Estado/sociedade em punir determinada conduta). Ex.: delito de adultério, sedução. 
Novatio legis in pejus: hipótese em que a lei nova é “pior”, ou seja, é mais severa que a lei anterior não pode ser aplicada a fato ocorrido anteriormente à sua vigência (princípio da irretroatividade da lei penal mais severa). Ex.: leis posteriores que cominam penas mas graves, tornam delitos hediondos, acrescentam qualificadoras aos delitos, eliminam atenuantes etc. Portanto, continua sendo aplicada a lei anterior.
Novatio legis in mellius: lei nova mais favorável que a anterior aplica-se aos fatos pretéritos (princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica) – art. 2º. Ex.: ao artigo 2º da Lei 8072/90 foi dada nova redação pela Lei 11.464/07. Agora, é legalmente admitida a progressão de regime prisional quando se tratar de condenação por crime hediondo e seus equiparados (tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo), uma vez que o novo §1º, do art. 2º da Lei dos Crimes Hediondos, diz que a pena, por tais crimes será cumprida inicialmente em regime fechado. O §2º, do mencionado artigo, estabelece a quantidade que deve ser cumprida da pena, para que seja possível a progressão do regime (ou seja, 2/5 para apenados primários, e 3/5 para reincidentes).
8.2.4 Leis temporárias ou excepcionais
Leis temporárias (que possuem vigência previamente fixada pelo legislador) e leis excepcionais (que vigem durante situações de emergência, como, por ex., calamidade, estado de sítio etc) têm ultratividade, ou seja, aplicam-se ao fato cometido sob seu império, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional. Fundamento: a conduta é praticada durante o prazo de tempo em que a conduta é exigida e a norma necessária à salvaguarda dos bens jurídicos expostos na ocasião especial. Não se trata da superveniência de lei mais perfeita ou de desinteresse estatal pela punição do agente, e sim da desnecessidade de vigência da lei após aquela situação excepcional ser superada. 
Dispositivo legal: CP, art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
8.2.5 Tempo do crime
Tempo do crime: ocasião, momento, data em que se considera praticado o delito
Importância: exemplos: determinar qual lei será aplicada, saber se na data do crime o agente era imputável ou não, quando que se inicia a contagem da prescrição etc.
Existem 3 teorias:
Teoria da atividade: o crime é considerado praticado no momento em que ocorre a conduta (ação ou omissão)
Teoria do resultado: o crime é considerado praticado no momento em que ocorre o resultado
Teoria da ubiquidade (ou mista): o crime é considerado praticado tanto no momento da conduta como no do resultado.
Qual é a teoria adotada pelo CP brasileiro?
Observação: crimes permanentes (ex.: extorsão mediante sequestro): tanto a ação como a consumação se prolongam no tempo. Diante disso, pergunta-se: sobrevindo lei nova mais severa durante o tempo da privação da liberdade, qual lei será aplicada, a mais grave ou a mais benéfica?
8.3 Lei penal no espaço
LEGISLAÇÃO
Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
Lugar do crime 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Extraterritorialidade 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
Pena cumprida no estrangeiro
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
8.3.1 Noções gerais
		A lei penal é feita para viger dentro dos limites em que o Estado exerce sua soberania. Como cada Estado possui sua soberania, surge o problema da delimitação espacial do âmbito de eficácia da legislação penal. (Direito Penal internacional x Direito Penal interno)
8.3.2 Princípios
Princípio da territorialidade: aplica-se a lei nacional ao fato cometido no território do respectivo país (decorrente da soberania dos Estados). O monopólio do direito de punir, que pertence ao Estado nos limites de seu território, exclui a interferência de outro (soberania).
Princípio da nacionalidade (ou de personalidade): aplicação da lei do país de origem do agente, pouco importando o local onde o crime foi cometido. Ex.: se um brasileiro praticar um crime no Chile, responderá segundo a lei brasileira. A norma punitiva é pessoal e se aplica ao nacional. Nacionalidade ativa: não leva em conta a nacionalidade da vítima, apenas do autor do crime. Nacionalidade passiva: exige que tanto o autor do crime como a vítima (ou o bem jurídico) sejam nacionais.
Princípio da proteção (real ou de defesa): aplica-se a lei do país ao fato que atinge bem jurídico nacional, independentemente do local onde foi praticado o crime ou da nacionalidade do agente (defesa dos bens jurídicos fundamentais de cada Estado). Por esse princípio, seria aplicada a lei brasileira a fato criminoso ocorrido no estrangeiro, desde que lese bem jurídico brasileiro.
Princípio da competência universal (justiça penal univsersal): o criminoso deve ser julgado e punido onde for detido, segundo as leis desse país, não se levando em conta sua nacionalidade, o lugar do crime ou o bem lesado. Para impor-se a pena em certo país, basta o criminoso ingressar no território deste.
Princípio da representação: determina a aplicação da lei do país quando, por deficiência legislativa ou desinteresse de outro que deveria reprimir o crime, este não o faz (ex.: delitos cometidos a bordo de aeronaves e embarcações, quando no estrangeiro e aí não venham a ser julgados);
As legislações adotam o princípio da territorialidade, complementado pelos demais. Nosso Código Penal: 
Territorialidade: art. 5º (regra) 
Real ou de proteção: art, 7º, I e §3º 
Justiça universal: art. 7º, II, a
Nacionalidade ativa: art. 7º, II, b
Representação: art. 7º, II, c
8.3.3 Territorialidade
Adotado no artigo 5º do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”.
Não é adotado de forma absoluta, mas temperada (princípio da territorialidade temperada)
Território: conceito jurídico: todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania. Compõe-se do solo ocupado, de regiões separadas do solo principal; de rios, lagos e mares interiores; de golfos, baías e portos; de parte sobre os mares, lagos e rios contíguos (segundo as regras de Direito Internacional); mar territorial; espaço aéreo; navios e aeronaves.
Com relação a navios e aeronaves, o CP dispõe no art. 5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
Navios públicos (ex., militares, polícia marítima, alfândega, postos a serviço do Governo): quer se encontrem em mar territorial nacional ou estrangeiro, ou quer estejam em alto-mar, sáo considerados parte do território nacional.
Navios privados (ex., navios de cruzeiros): quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam; quando em portos estrangeiros ou mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do país em que se encontram.
Navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras: se públicos, seguem a lei do país de origem (bandeira que ostentam); se privados, aplica-se nossa lei penal (art. 5º, par. 2º). 
Aeronaves: mesmos princípios dos navios.
8.3.4 Lugar do crime
Existem 3 teorias:
Teoria da atividade: o crime é considerado praticado no lugar em que ocorre a conduta (ação ou omissão)
Teoria do resultado: o crime é considerado praticado no lugar em que ocorre o resultado
Teoria da ubiquidade (ou mista): o crime é considerado praticado tanto no momento da conduta como no do resultado. Lugar do crime é aquele em que se realizou qualquer dos atos executórios ou a consumação. CP, art. 6º: “ Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.
para que um crime seja considerado praticado no Brasil, basta que “tenha tocado o território nacional” (NELSON HUNGRIA)
Ex1.: se alguém, em território paraguaio, atirar em alguém que se encontra no Brasil, é considerado praticado no Brasil. 
Ex.1: um estrangeiro remete a pessoa que se encontra no Brasil uma carta-bomba. É considerado o crime como se praticado no Brasil. 
Ex.3: um brasileiro esfaqueia um argentino em Porto Alegre e ele foge para seu país, onde acaba morrendo.
8.3.5 Extraterritorialidade
Situação excepcional em que a lei penal brasileira tem aplicação a delitos praticados no estrangeiro. A extraterritorialidade pode ser: condicionada (com condições, com requisitos) ou incondicionada (sem condições, sem requisitos).
Extraterritorialidade condicionada: 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da justiça penal universal). Ex.: tráfico internacional de mulheres; tráfico internacional de entorpecentes)
b) praticados por brasileiro; (princípio da personalidade ativa)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (princípio da representação). Ex.: crime praticado em aeronave brasileira, em vôo sobre território estrangeiro, sem escalas, sendo estrangeiros os sujeitos ativo e passivo)
Art. 7º, §3º: A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior. (princípio de proteção ou real)
Requisitos: 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
Extraterritorialidade incondicionada (ofensa a bens jurídicos de grande importância)
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (princípio real ou de proteção)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (princípio real ou de proteção)
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (princípio real ou de proteção)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (princípio da justiça universal).
8.3.6 Regra non bis in idem
Pena cumprida no estrangeiro
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Ex.1.: Alguém, na Espanha, pratica um crime de falsificação de passaporte brasileiro (contra a fé pública da União), incidindo a extraterritorialidade incondicionada (art. 7º, I, b). É condenado nos dois países: multa na Espanha e reclusão no Brasil. Uma vez paga a multa no estrangeiro, fica atenuada a pena imposta no Brasil. (diversidade qualitativa)
Ex.2: No caso anterior, se a pena aplicada na Espanha for de dois anos e no Brasil de cinco, uma vez cumprida a pena naquele país, o condenado terá, ainda, que cumprir três anos no Brasil. (diversidade quantitativa)
8.4 Lei em relação a pessoas que exercem determinadas funções
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
		Lei penal brasileira = princípio da territorialidade temperada (Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional). V. Convenção de Viena, no caso das imunidades diplomáticas.
		Por exceção ao princípio da territorialidade, não se aplica a lei brasileira ao crme praticado no Brasil, em razão das funções internacionais exercidas pelo autor do ato ilícito (imunidades diplomáticas). 
Cuida-se de exceção ao princípio da igualdade? Não, porque os privilégios não são pessoais, mas existem em razão da função exercida por certas pessoas. São funcionais. 
Aplicação: a qualquer delito e se estendem a todos os agentes diplomáticos (embaixador, secretários de embaixada, pessoal técnico e adminstrativos das representações), aos compomentes da família deles e aos funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc.) quando em serviço. Engloba o chefe de Estado estrangeido que visita o país, bem como os membros de sua comitiva.
Estão excluídos: os empregados particulares dos agentes diplomáticos, ainda que da mesma nacionalidade deles. Cônsules: função meramente administrativa (não têm imunidade)
Sedes diplomáticas: não constituem extensão do território estrangeiro, embora sejam invioláveis (Convenção de Viena)
Delitos cometidos nas representações diplomáticas por pessoas que não tem imunidade: aplica-se a lei brasileira
8.4.1 Imunidades parlamentares
		Constituem prerrogativas dos membos do Congresso Nacional. Classificam-se em:
Imunidade material ou inviolabilidade (absoluta) CF, art. 53, caput: “Os deputados e senadores são invioláveis civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Conferida em razão da necessidade de ser preservar a autonomia e independência do Poder Legislativo, assegurando aos membros ampla liberdade de ação no exercício do mandato. É causa pessoal de isenção de pena. É absoluta, porque o parlamentar não pode ser responsabilizado por suas opiniões, palavras e votos, mesmo quando cessar o mandato, com o término da legislatura. 
OBS>: é indispensável a existência de conexão entre as condutas praticadas pelo parlamentar e o exercício do mandato, ou seja, as palavras, votos e opiniões devem decorrer do desempenho das funções parlamentares e versar sobre matéria parlamentar. 
Imunidade formal ou processual (relativa): constitui-se em garantias procedimentais, relativas à instauração de ação penal, prisão, processo, prerrogativa de foro etc. Tem eficácia temporal limitada, quer dizer, protege os parlamentares somente durante o exercício do mandato. A imunidade formal visa assegurar o livre exercício das funções públicas dos deputados e senadores, mas não deve conceder aos representantes do povo uma impunidade assegurada por seus pares. Extinto o mandato do autor do crime comum, recomeça a correr o prazo prescricional, não mais necessitando-se de manifestação do Legislativo para o prosseguimento do processo.
Vide os parágrafos do artigo 53 da Constituição Federal: 
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)
Deputados estaduais
CF, Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
- prerrogativa de foro: Tribunal de Justiça/Tribunal Regional Federal
Vereadores
CF, Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, como interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda Constitucional nº 1, de 1992)
- só detém imunidade material e apenas por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato (discursos, pareceres, relatórios, comunicações etc.) e na circunscrição do Município. Nas afirmações como cidadão não tem imunidade. Não estarão protegidos se praticarem o crime fora da circunscrição do município.
8.4.2 Extradição
	Ato pelo qual uma nação entrega a outra um autor de crime, para se julgado e/ou punido. Assenta-se em regras e convenções internacionais (Código de Bustamante, instituído na Convenção de Havana, de 1928). No Brasil, vide a Lei 6.815/80, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil. 
	Quanto ao brasileiro, vide a CF, art. 5º, LI: “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”.
Supremo Tribunal Federal: pronunciamento sobe a legalidade e procedência da extradição (Lei 6815/80, Art. 83 (“Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão”).
	Condições para extradição (arts. 77 e 78 da Lei 6815/80): 
Art. 77. Não se concederá a extradição quando: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
        I - se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalidade verificar-se após o fato que motivar o pedido;
        II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;
        III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;
        IV - a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 1 (um) ano;
        V - o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
        VI - estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;
        VII - o fato constituir crime político; e
        VIII - o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de exceção.
        § 1° A exceção do item VII não impedirá a extradição quando o fato constituir, principalmente, infração da lei penal comum, ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal.
        § 2º Caberá, exclusivamente, ao Supremo Tribunal Federal, a apreciação do caráter da infração.
        § 3° O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crimes políticos os atentados contra Chefes de Estado ou quaisquer autoridades, bem assim os atos de anarquismo, terrorismo, sabotagem, seqüestro de pessoa, ou que importem propaganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social.
        Art. 78. São condições para concessão da extradição: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
        I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e
        II - existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada por Juiz, Tribunal ou autoridade competente do Estado requerente, salvo o disposto no artigo 82.
8.4.3 Contagem de prazo
	Importante para regular o tempo de cumprimento de pena, a extinção da punibilidade (decadência, prescrição), lapso temporal do sursis, da suspensão condicional do processo, do livramento condicional, das medidas de segurança etc.
	Prazo e termos inicial e final. Regras (em benefício do réu)
Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. 
Frações não computáveis da pena
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro
Calendário comum = gregoriano. O mês é contado não pelo número real de dias (28, 29, 30 ou 31), mas sim de determinado dia à véspera do mesmo dia do mês subsequente. Igualmente, um ano é contado de certo dia do mês à véspera do dia idêntico daquele mês no ano seguinte, não importando se o ano é bissexto
7. Conceito de crime
7.1 Conceito formal, conceito material e conceito analítico
7.1.1 Conceito formal
		O delito é definido do ponto de vista da lei, como relação de contrariedade entre o fato e a norma penal. Exemplos: “crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani); “crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena” (Manoel Pedro Pimentel). Esse tipo de conceito se refere apenas ao aspecto da contradição entre o fato e a lei, não mergulhando, entretanto, no conteúdo do delito. 
7.1.2 Conceito material
		Diz respeito ao conteúdo do ilícito penal, ao caráter danoso da ação. Constitui o delito, nesse aspecto, lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente protegido. 
7.1.3 Conceito analítico
		Decompõe-se o delito em suas partes constitutivas – estruturadas axiologicamente em uma relação lógica (análise lógico-abstrata), tornando a subsunção mais racional e segura (Regis Prado, Cerezo Mir). Assim concebido, o delito é toda ação típica, antijurídica e culpável. Os elementos estão em uma sequência lógica necessária.
7.2 Crimes, delitos e contravenções
		Sistema brasileiro: bipartido: crimes ou delitos (punidos com penas privativas de liberdade, restritivas de direito e multa) x contravenções (sancionadas com prisão simples e multa). Infrações: termo genérico, serve para designar tanto delitos como contravenções.
7.3 Elementos e circunstâncias do crime
		Elementos ou elementares: componentes essenciais, que integram a descrição em abstrato (tipos penais) dos crimes. A ausência de elementar produz: a) atipicidade absoluta; b) atipicidade relativa.
		Circunstâncias: dados que não fazem parte do núcleo do tipo, mas que estão ao seu redor (circum stare) e tem a função de aumentar ou diminuir a pena.
10. Fato típico
10.1 Noções gerais
	* estrutura do injusto penal culpável: concepção quadripartida de delito
Delito = ação ou omissão + tipicidade + ilicitude (ou antijuridicidade) + culpabilidade
Fato típico = conduta (ação ou omissão) + resultado + relação de causalidade + tipicidade
(regra geral, para delitos de resultado)
Fato típico = conduta (ação ou omissão) + tipicidade
(estrutura para delitos de mera atividade)
Fato típico = omissão + dever de agir + capacidade de ação + tipicidade
(delitos omissivos puros)
10.2 Ação e omissão
10.2.1 Ação
	Teorias:
a) teoria causal-naturalística: ação é o movimento corporal voluntário que causa uma modificação no mundo exterior. Compõe-se de: vontade, movimento corporal e resultado. É um processo mecânico, muscular e voluntário. Ação é mera causação de evento, provocada pela vontade ou voluntariedade (impulso mecânico/enervação muscular), mas não por esta conduzida. O conteúdo da vontade (sua direção final) não importa, pois é deslocado para a culpabilidade. Ponto central: a causalidade (puramente objetiva). Segundo essa teoria, dolo e culpa são formas de culpabilidade.
b) teoria social: ação é a manifestação externa da vontade com relevância social, ou, por outras palavras, “o comportamento humano socialmente relevante” (significação social da conduta humana do ponto de vista da sociedade). Excessivamente abstrata, vaga, imprecisa. Afinal, o que é “relevância social da conduta”? 
c) teoria finalista: a ação humana consiste no exercício de uma atividade

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