Buscar

Resenha Rostow

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

A decolagem para o crescimento autossustentado (W. W. Rostow)
Logo de saída, o autor apresenta sua hipótese de forma clara e objetiva. Trata-se da argumentação a favor de que o processo de crescimento de um país, possui três etapas distintas e, dentre elas, há uma etapa especial, denominada “decolagem” e definida como “o intervalo durante o qual a taxa de investimento cresce de tal modo que aumenta o produto ‘per capita’, proporcionando esse aumento inicial transformações radicais nas técnicas de produção e na disposição dos fluxos de renda que perpetuam a nova escala de investimento e, assim, perpetuam também a tendência crescente do produto ‘per capita’” (p. 181).
Para que essa etapa aconteça é imprescindível que exista um algum grupo dentro da sociedade dotado de condições e do interesse para que haja a decolagem, pois será necessário que este grupo: i) instaure novas técnicas de produção; e ii) consiga ampliar sua influência na sociedade, de modo que as reformas institucionais sejam efetuadas para que essas transformações continuem também em um segundo momento, e não seja apenas uma tentativa de voo infrutífera.
Segundo o autor, é possível dividir as nações em dois grandes grupos quanto às dificuldades que elas tiveram que superar para que a decolagem acontecesse. O primeiro grupo, mais comum e mais intuitivo, é formado pelos países que tiveram que superar resistências políticas, sociais e culturais, isto é, alterações na configuração da sociedade precederam a decolagem, como por exemplo, os casos da Grã-Bretanha, França, Bélgica, Alemanha, Japão. Já o segundo grupo é formado por países que tiveram seu processo de decolagem de certo modo atrasado pelo alto nível de bem-estar que a sociedade até então vivenciava, como por exemplo o norte dos Estados Unidos e a Austrália. Se considerarmos, todavia, uma análise de desenvolvimento, a qual parte da premissa que a evolução do conhecimento provém do centro para a periferia, e que este centro controla todo o fluxo de informação; que os países industriais europeus se beneficiaram muito do comércio com os territórios coloniais; e de que as distâncias à época da industrialização eram um fator retardador do fluxo de informação, fica muito difícil argumentar que o processo de decolagem dos dois países citados, como representantes do segundo grupo, teria acontecido em um período anterior ao que aconteceu. Para o caso dos Estados Unidos, em especial, é ainda mais difícil de afirmar que seu processo teria acontecido em período anterior, pois o processo estadunidense está somente 60 anos “atrasado” em relação ao processo da Grã-Bretanha, ou seja, supondo que não houvesse esse alto nível de bem-estar, seria os EUA a primeira nação industrializada do planeta? Mais improvável do que provável.
Como apresentado pelo autor, o processo de crescimento possui três etapas distintas e aplicáveis a praticamente toda nação. Nesse sentido, é importante apresentar tais etapas, analisa-las, verificando a aplicabilidade da teoria do autor a realidade.
1ª Etapa: Estabelecimento das condições para a decolagem
Período longo, em torno de um século, de gestação da decolagem, isto é, fase em que os países se deparam com uma produção essencialmente centrada na agricultura, intensiva em trabalho e repleta de métodos arcaicos, o que proporciona uma baixa produção e pouco ou quase nenhum excedente.
Nessa etapa surgem as pré-condições à decolagem, tais como, condições físicas, com a formação de uma rede de transporte que faça a ligação da produção ao mercado; sociais, com a emersão de um grupo social dinâmico e empreendedor, o qual à margem da sociedade das camadas mais altas da sociedade está também livre de pré-conceitos e não comprometidas com o status quo; culturais com a divisão e especialização no trabalho, o que aumenta o excedente de produção e o comércio; e políticas, em geral com a centralização do poder político nos Estados ou nas regiões autônomas, com interesses que se diferem aos interessas das sociedades agrárias descentralizadas, no caso europeu, aos feudos.
2ª Etapa: A decolagem propriamente dita
Período em que vários projetos empresariais acontecem em um ambiente de lucratividade extremamente favorável, em resposta a um forte estímulo político, tecnológico ou comercial. Nessa etapa, há um grande crescimento da taxa de investimento, novas técnicas são incorporadas ao processo produtivo constantemente e grande parcela do lucro é reinvestida no mesmo ambiente, fazendo com que os reflexos sejam sentidos em toda a economia. É um verdadeiro céu de brigadeiro para a produção industrial e para os empreendedores. Segundo o autor, três são as condições intrínsecas à definição de decolagem:
“ 
Um Aumento na taxa de investimento produtivo de (digamos) 5% ou menos até mais de 10% da renda nacional (ou do PNL);
O desenvolvimento de um ou mais setores manufatureiros importantes, com elevada taxa de crescimento;
A existência ou o surgimento rápido de uma estrutura política, social e institucional que explore os impulsos da expansão do setor moderno e os possíveis efeitos das economias externas da decolagem e que conceda ao crescimento um caráter de processo contínuo.
“ (p. 188)
Muito bem observado por Rostow o fato de que os fortes estímulos referidos não serem essenciais para o “boom” do desenvolvimento econômico e sim “o fato de que o desenvolvimento anterior da sociedade, assim como sua economia, permite uma resposta positiva, sustentada e autorreforçada ao estímulo” (p. 186). Não há exemplo melhor para ratificar a visão do autor o que o caso brasileiro. Inúmeras foram às vezes em que os “fortes estímulos” foram presentes, todavia, como as condições da primeira fase não haviam sido completadas, em função da nossa sociedade extremamente rígida e tradicional, nossa decolagem foi adiada em diversos momentos, deixando apenas as características desenvolvimentistas do que chamamos de “surtos”, em especial pela contemporaneidade, é possível inserir os empreendimentos do Barão de Mauá, que tentou decolar em uma sociedade ainda presa ao chão. Não é difícil de entender por que, após sua primeira longa viagem para o Reino Unido, voltara o Barão tão entusiasmado com o que vira por lá. Certamente que ele conhecera uma sociedade repleta de empresários como ele, porém estes homens de negócios estavam em um ambiente que fomentara o desenvolvimento e não o retardara como aqui no Brasil.
3ª Etapa: A pós-decolagem e seus desafios
Segundo o autor, trata-se de um período de crescimento “normal e automático”, no qual toda a economia se torna cada vez mais madura e inovadora. O dinamismo dos primeiros setores industriais é transferido para os demais setores da economia, em função dos rendimentos decrescentes observados naqueles empreendimentos e em função do investimento em inovação, que assume grande peso. Além disso, a sociedade se torna mais urbana e globalizada, tendo uma preocupação com a produção cada vez maior de excedentes, pois o mercado se torna muito maior com a entrada de outros países e a população se torna mais moderna, com acesso a serviços de melhor qualidade.
Nesse sentido, o autor afirma que o maior esforço da teoria econômica atual é direcionado para o entendimento desta terceira etapa, em função de suas “flutuações cíclicas, bem como a ameaça de desemprego crônico” (p. 188) e que uma boa teoria do desenvolvimento e dos efeitos pós-decolagem devem ser entendidos em sua complexidade, com suas raízes nas duas primeiras etapas, em especial, na segunda, normalmente desprezadas pelos economistas. Dessa forma, o trabalho de Rostow contribui, sem dúvida, para o entendimento dos fenômenos industriais cíclicos contemporâneos, ao propor e atribuir grande peso ao estudo das condições pré-industriais e ao processo industrial em si, o que acrescenta variáveis históricas à análise econômica que parece deixar de lado esse componente, preconizando cada vez mais pelos fundamentos matemáticos e estatísticos.

Continue navegando