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REVISÃO AV1 PENAL I 2017.2

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DIREITO PENAL – REVISÃO AV1 
 
 CARACTERISTICAS DO DIREITO PENAL 
O Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de 
selecionar condutas atentatórias aos mais importantes bens 
jurídicos — justamente aqueles considerados essenciais para a 
vida em sociedade —, sancionando-as com uma pena criminal ou 
medida de segurança. Tem por função primordial servir como 
modelo orientador de condutas adequadas, promovendo o 
normal funcionamento da vida em sociedade. Possui regras e 
princípios especiais, devendo ser utilizado apenas como ultima 
ratio, ou seja, para os casos de ofensas graves aos bens jurídicos 
fundamentais, os mais sensíveis à sociedade. 
 
 PRINCIPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL 
(PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS) 
 
Os princípios constitucionais possuem a função de orientar, 
organizar e estruturar o ordenamento jurídico, especialmente quanto 
à aplicação do direito e interpretação da norma jurídica. 
Diversos são os princípios de Direito Penal que estão assegurados 
na Constituição: 
 
 
I) DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
Princípio da dignidade da pessoa humana. Trata-se do mais 
importante dos princípios penais e constitui um dos fundamentos da 
República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III). Proíbe a 
incriminação de comportamentos socialmente inofensivos, isto é, 
que não provoquem dano efetivo ou lesão ao corpo social. Impede, 
ademais, que a aplicação das normas penais ocorra de maneira 
totalmente divorciada da realidade. 
 
II) HUMANIDADE DAS PENAS 
Princípio segundo o qual o objetivo da pena não é o sofrimento 
ou a degradação do apenado. O Estado não pode aplicar 
sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que 
lesionem a constituição físico-psíquica do condenado. Art. 5º 
XLVIII (―Não haverá penas: de morte, salvo em casos de guerra 
declarada, de caráter perpetuo, de trabalhos forçados, cruéis‖). 
 
III) LEGALIDADE PENAL 
Não há crime sem lei anterior que o defina (latim nullum crimen 
nulla poena sine lege), nem pena sem prévia cominação legal 
(CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º). Também de acordo com 
o Princípio da Legalidade ninguém está obrigado a fazer ou 
deixar de fazer algo, a menos que seja previsto em lei. 
 
IV) INTERVENÇÃO PENAL MINIMA 
Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em 
situações extremas, como a última saída (ultima ratio). O Direito 
Penal só deve preocupar-se com os bens mais importantes e 
necessários à vida em sociedade. 
 
V) LESIVIDADE ou OFENSIVIDADE 
 Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico 
tutelado — nullum crimen sine injuria. 
 
VI) FRAGMENTARIEDADE PENAL 
Trata-se, na verdade, de uma característica do direito penal, 
mencionada por alguns autores também sob a forma de princípio, 
estabelecendo que as normas penais somente se devem ocupar de 
punir uma pequena parcela, um pequeno fragmente dos atos ilícitos, 
justamente aquelas condutas que violem de forma mais grave os 
bens jurídicos mais importantes. 
 
 
VII) SUBSIDIARIEDADE PENAL 
É um princípio legal que determina caber ao direito penal ou ao 
estado resolver um conflito apenas se nenhum outro meio civil for 
capaz de resolvê-lo. 
 
VIII) ADEQUAÇÃO SOCIAL 
O fato deixará de ser típico quando aceito socialmente. 
Convence que a adequação social supera contravenção 
denunciada. Em vez de punir um fato por ser típico, devemos 
adequá-lo à realidade vigente, aos costumes sociais, enfim, à 
consciência coletiva. A lei deveria ser interpretada pro societate, e, 
ao que tudo indica a coletividade não se interessa pela punição, 
como por exemplo, dos ―bicheiros‖. 
 
IX) INSIGNIFICANCIA / BAGATELA PENAL 
Foi desenvolvido por Claus Roxin. Para o autor, a finalidade do 
Direito Penal consiste na proteção subsidiária de bens jurídicos. 
Logo, comportamentos que produzam lesões insignificantes aos 
objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser 
considerados penalmente irrelevantes. A aplicação do princípio 
produz fatos penalmente atípicos. Na atualidade, a aceitação deste 
princípio é praticamente unânime. A divergência consiste, no mais 
das vezes, em definir, no caso concreto se a lesão ao bem jurídico 
foi diminuta (e, portanto, penalmente relevante ou insignificante, 
logo, atípica). O Supremo Tribunal Federal vem adotando 
critérios que nos parecem ajustados para a verificação, em cada 
caso, sobre a possibilidade de aplicar o princípio. São eles: 1) a 
mínima ofensividade da conduta do agente, 2) a nenhuma 
periculosidade social da ação, 3) o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento e 4) a inexpressividade da 
lesão jurídica provocada. 
 
X) PROPORCIONALIDADE 
―Quando a criação do tipo penal não se revelar proveitosa para 
a sociedade, estará ferido o princípio da proporcionalidade, 
devendo a descrição legal ser expurgada de nosso ordenamento 
jurídico por vício de inconstitucionalidade. Além disso, a pena, isto 
é, a resposta punitiva estatal ao crime, deve guardar proporção 
com o mal infligido ao corpo social”. 
 
XI) CULPABILIDADE 
Como decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana 
(CF, art. 1º, III) e da presunção de não culpabilidade (CF, art. 5º, 
LVII), exsurge esse princípio, segundo o qual: a) não se admite 
responsabilidade penal objetiva, ou seja, desprovida de ou culpa 
(v. art. 19 do CP) ou carente de culpabilidade (v. arts. 21 a 28 do 
CP); b) a pena há de ser dosada segundo o grau de 
reprovabilidade da conduta do agente. 
 
XII) INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS / DOSIMETRIA 
É o princípio que garante que as penas dos infratores não sejam 
igualadas, mesmo que tenham praticado crimes idênticos. Isto 
porque, independente da prática de mesma conduta, cada indivíduo 
possui um histórico pessoal, devendo cada qual receber apenas a 
punição que lhe é devida. (Art. 5º, XLVI da CF, Arts. 5º, 8º, 41, XII 
e 92, parágrafo único, II, da LEP e Art. 34 do CP). 
 
XIII) NON BIS IN IDEM 
Ninguém pode ser condenado pelo mesmo fato mais de uma vez; 
além disso, uma única e determinada circunstância fática não 
pode ser utilizada mais de uma vez, seja para agravar, seja para 
beneficiar o agente. 
 
XIV) PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA 
Garantia processual atribuída ao acusado pela prática de uma 
infração penal, oferecendo-lhe a prerrogativa de não ser considerado 
culpado por um ato delituoso até que a sentença penal condenatória 
transite em julgado. “Ninguém será considerado culpado até o 
trânsito em julgado de sentença penal condenatória (CF, art. 5º, 
LVII).” 
 
XV) IN DUBIO PRO REO 
É uma expressão latina que significa literalmente na dúvida, a 
favor do réu. Ela expressa o princípio jurídico da presunção da 
inocência, que diz que em casos de dúvidas (por exemplo, 
insuficiência de provas) se favorecerá o réu. ―Na duvida é melhor 
razoável deixar um culpado solto do que um inocente preso.‖ 
 
XVI) PRINCIPIO DA TAXATIVIDADE 
Este princípio se encontra ligado à técnica redacional legislativa. 
Não basta existir uma lei que defina uma conduta como crime. A 
norma incriminadora legal deve ser clara, compreensível, 
permitindo ao cidadão a real consciência acerca da conduta 
punível pelo Estado. O princípio da taxatividade, ou da 
determinação, não está expresso em nenhuma norma legal. Trata-se 
de uma construção doutrinária, fundamentada no princípio da 
legalidade e nas bases do Estado Democrático de Direito. 
 
 
 LEGALIDADE PENAL / RESERVA LEGAL 
A regra da lei penal é que sua aplicação seja feita durante seu 
período de vigência. A exceção da regra penal é a extra-
atividade, sendo que esta, por sua vez, regula dois tempos,o 
passado e o futuro. A regulação do tempo futuro tem o nome de 
ultra-atividade, que é a possibilidade dos efeitos de uma lei se 
prolongarem no tempo e ter sua aplicação aos fatos cometidos 
durante sua validade mesmo após cessado seu período de vigência. 
O outro modo é a retroatividade, que visa possibilitar a lei mais 
benéfica retroagir aos fatos acontecidos antes de sua entrada em 
vigor para favorecer o réu com uma pena mais benéfica, se 
assim a trouxer expressamente. 
 
1) Irretroatividade da norma penal (CF art. 5º XXXIX) 
―Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem previa 
cominação legal.‖ 
 
2) Retroatividade da norma benéfica (CF Art 5º XL) 
―A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu‖. 
 
3) Ultra Atividade Gravosa 
Diz-se que uma lei é ultrativa quando é aplicada posteriormente 
ao fim de sua vigência (vide revogação). No Direito Penal, quando 
uma lei posterior pune mais gravemente ou severamente um fato 
criminoso (lex gravior ou lex severior), revogando de forma 
expressa a lei anterior que o punia mais brandamente (lex mitior), 
prevalecerá a lei mais benéfica. Deste modo diz-se que a lei anterior 
é ultrativa, mas somente para os fatos ocorridos durante sua 
vigência. Do contrário, se a lei anterior for a mais gravosa, ela não 
será ultrativa, ao contrário, a lei posterior é que retroagirá. Da 
mesma forma, as leis temporárias e as excepcionais são 
ultrativas, pois se aplicam aos fatos ocorridos durante a sua 
vigência, mesmo após auto revogadas. Na lei penal em branco, se 
a norma complementar (ato normativo, instrução normativa, 
decreto, regulamento etc, que complementa a lei a penal) for 
revogada, o crime não desaparece, pois a lei penal ainda existe, 
embora falte-lhe um complemento. 
4) Novatio Legis 
a) INCRIMINADORA: É a hipótese da lei nova que vem a 
tornar fato anteriormente não incriminado pelo direito 
penal como fato incriminado, como fato típico. A lei 
nova que incrimine o praticante de fato que ao tempo da 
prática não era típico, não poderá ser aplicada, pois é 
irretroativa. Ao tempo da prática, determinado fato não 
era considerado crime pelo Direito. Concluímos que a 
conduta não era socialmente nem legalmente reprovável. 
Isso premia o princípio da segurança nas relações 
jurídicas a nosso ver. 
b) IN PEJUS: O fenômeno jurídico da novatio legis in 
pejus refere-se à lei nova mais severa do que a anterior. 
Ante o princípio da retroatividade da lei penal benigna, a 
novatio legis in pejus não tem aplicação na esfera penal 
brasileira. Não pode retroagir 
c) IN MELLIUS: É a lei nova mais favorável que a 
anterior. Essa tem plena aplicação no Direito Penal 
Brasileiro, prevista pelo Código Penal, em seu artigo 2º, 
parágrafo único e pela Magna Carta, em seu artigo 5º, 
XL. Vale dizer que, não importa o modo pelo qual a lei 
nova favoreça o agente, ela será aplicada a fatos 
pretéritos a sua entrada em vigor. É a lex mitior. Deverá 
ser aplicada tanto ao réu em sentido estrito (aquele que 
está sendo acusado em processo penal) quanto ao réu em 
sentido lato (sujeito passivo na ação penal, aqueles 
submetidos à execução de pena e/ou medidas de 
segurança). Retroage 
d) ABOLICIO CRIMINIS: Ocorre o fenômeno da abolitio 
criminis sempre que uma lei nova deixa de incriminar 
fato anteriormente considerado um ilícito penal. É 
agraciado pelo artigo 2º, ―caput’ do CP. A abolitio 
criminis retroage, alcançando o autor de determinado 
fato, anteriormente tido como típico. Esse deverá ser 
posto em liberdade (se preso) e sua folha de 
antecedentes criminais liberta do fato não mais 
considerado delituoso. O delito desaparece, juntamente 
com todos os seus reflexos penais (persistem os cíveis). 
 
 TEORIA DA NORMA PENAL 
1) Incriminadora: 
a) PROIBITIVAS: Nos crimes comissivos, a lei penal descreve e 
pune uma ação esperando que todos se abstenham de praticá-
la; trata-se de uma norma proibitiva (ou seja, a ação prevista 
em lei é proibida, sob ameaça de pena). 
 
b) MANDAMENTAIS: Nos crimes omissivos, a lei penal descreve 
uma omissão (um não fazer), porque espera de todos, naquela 
determinada situação, um comportamento ativo; trata-se de 
uma norma mandamental (ex.: a lei penal manda agir, sob 
pena de, omitindo-se, receber uma pena). 
 
2) Não Incriminadora: 
 
a) PERMISSIVAS: Opõem-se ao preceito primário da norma 
penal incriminadora autorizando a realização de uma conduta 
proibida (excludentes da antijuridicidade). Quando aumenta 
o âmbito Direito Penal de licitude da conduta (e, a 
contrario sensu, restringe o direito de punir do Estado). 
 
b) COMPLEMENTARES/EXPLICATIVAS: Esclarecem, 
limitam ou complementam as normas penais 
incriminadoras dispostas na Parte Especial, dessa forma, 
podem determinar a infração penal, esclarecendo ou 
complementando o preceito primário, bem como determinar a 
consequência jurídica esclarecendo, limitando ou 
complementando o preceito secundário. 
 
 NORMA PENAL EM BRANCO/ DO MANDATO EM 
BRANCO 
Trata-se da lei cujo preceito primário é incompleto, embora o 
preceito secundário seja determinado. Tal lei tem de ser 
completada por outra, já existente ou futura, da mesma 
hierarquia ou de hierarquia inferior. Exemplo: os tipos penais da 
Lei n. 11.343/2006 são leis penais em branco, uma vez que punem 
condutas relacionadas com drogas ilícitas sem descrever quais 
seriam essas substâncias (tal informação se encontra em ato 
administrativo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária — 
ANVISA); 
 
É possível classificar a norma penal em branco em sentido lato ou 
homogênea e em sentido estrito ou heterogênea. 
 
1) HOMOGÊNIA: Entende-se por lei penal em branco 
homogênea aquela cujo complemento se encontra descrito 
numa fonte formal da mesma hierarquia da norma 
incriminadora, ou seja, quando o complemento também 
está previsto numa lei ordinária (ou outra espécie 
normativa equivalente). Exemplo: art. 237 do CP (―Contrair 
casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe 
cause a nulidade absoluta‖), cujo complemento se encontra no 
Código Civil, o qual enumera as causas de nulidade do 
matrimônio nos Arts. 1.521, 1.517, 1.523 e 1.550. 
 
2) HETEROGÊNIA: Em sentido estrito ou heterogênea é 
aquela cujo complemento está descrito em fonte formal 
distinta daquela do tipo penal incriminador. Exemplo: Lei 
n. 11.343/2006, art. 33 (tráfico ilícito de drogas), que não 
indica quais são as ―drogas ilícitas‖, delegando tal função a 
normas administrativas (portarias da ANVISA); com efeito, o 
art. 1º, parágrafo único, desta Lei dispõe que: ―... consideram-
se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de 
causar dependência, assim especificados em lei ou 
relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder 
Executivo da União‖. 
 
 
 INTERPRETAÇÃO DA NORMA 
 
1) LITERAL: Pode-se dizer que o primeiro passa para a 
interpretação será recorrer ao texto da lei, o sentido 
literal das palavras. 
 
2) TELEOLÓGICA: Consiste, de acordo com Damásio de 
Jesus na ‖indagação da vontade ou intenção objetivada 
na lei‖, ou seja, consiste em saber a vontade da lei. O 
intérprete deve usar do elemento lógico, ou teleológico, 
que é o estudo das finalidades. Caso ocorra contradição 
entre a interpretação gramatical e lógica, deverá 
prevalecer esta última, uma vez que atende as 
finalidades do ―bem comum‖ que a lei se destina. 
 
3) EXTENSIVA: Ao contrário da restritiva, a extensiva 
estende a lei para que possa encontrar sua vontade real, 
e possa assim proteger os bens jurídicos. 
 
4) ANALOGICA: Interpretação analógica é um recurso 
utilizadoquando existe uma norma legal que não 
esclarece todas as situações (norma fechada com 
clausula aberta) que estão abrangidas na tipificação, 
sendo permitida toda vez que após uma sequencia 
casuística segue-se uma fórmula genérica, que deve ser 
interpretada de acordo com os casos anteriormente 
elencados. Ex Art 146 (Constrangimento Ilegal) –
 caput (―qualquer outro meio‖) e Art 171 (Estelionato) –
 caput (―qualquer outro meio fraudulento‖) 
 
 CONCURSO APARENTE ENTRE NORMAS PENAIS 
 Um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos 
penais, sob pena de afronta ao princípio do non bis in idem (ou ne 
bis in idem). Portanto, se aparentemente ocorrer à incidência de 
mais de um tipo penal a um mesmo fato, caberá ao intérprete, 
socorrendo-se dos princípios da especialidade, consunção, 
subsidiariedade ou alternatividade, resolver o conflito, 
apontando o correto enquadramento. Muito embora não exista 
dispositivo legal tratando do tema ou consenso doutrinário acerca 
do assunto (salvo no tocante ao princípio da especialidade), 
admitem-se comumente os princípios acima mencionados. 
Importante acentuar que só haverá conflito aparente de normas 
se houver um só fato ao qual aparentemente se apliquem várias 
normas penais incriminadoras (todas vigentes). Na hipótese de 
serem vários os fatos, ter-se-á concurso de crimes (arts. 69 a 71 do 
CP). Além disso, todos os dispositivos penais aparentemente 
aplicáveis devem estar simultaneamente em vigor, caso contrário 
surgirá um conflito de leis penais no tempo. 
 
1) PRINCIPIO DA ESPECIALIDADE (lex specialis derogat 
generalis) 
Dá-se quando existir, entre as duas normas aparentemente 
incidentes sobre o mesmo fato, uma relação de gênero e espécie. 
Será especial e, portanto, prevalecerá a norma que contiver 
todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns, de 
natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes. 
“Toda a ação que realiza o tipo do delito especial realiza também 
necessariamente, e ao mesmo tempo, o tipo do geral, enquanto que 
o inverso não é verdadeiro”. Assim, se a mãe mata o filho durante o 
parto, sob a influência do estado puerperal, incorre, aparentemente, 
nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio). No primeiro, porque 
matou uma pessoa; no segundo, porque essa pessoa era seu filho e a 
morte se deu no momento do parto, influenciada pelo estado 
puerperal. O infanticídio contém todas as elementares do homicídio 
(―matar‖ + ―alguém‖), além de outras especializantes (―o próprio fi 
lho‖ + ―durante o parto ou logo após‖ + ―sob a influência do estado 
puerperal‖), o que o torna especial em relação a esse. Percebe-se, 
então, que toda ação que realiza o tipo do infanticídio realiza o do 
homicídio, mas nem toda ação que se subsume ao homicídio tem 
enquadramento no tipo do infanticídio. Note que esse conflito se 
resolve abstratamente, isto é, basta à comparação entre as duas 
normas, em tese, para saber qual delas é a especial e, por via de 
consequência, a aplicável. Também é interessante notar que na 
relação de especialidade é indiferente se a norma especial é mais 
ou menos grave. (REGRA GERAL SEMPRE CEDERÁ A 
REGRA ESPECIAL) 
 
2) PRINCIPIO DA SUBSIDIARIEDADE (lex primaria derogat 
legi subsidiariae) 
A relação de subsidiariedade pressupõe que haja entre as 
normas aparentemente aplicáveis uma relação de conteúdo a 
continente. Há uma norma mais ampla (norma primária), 
porque descreve um grau maior de violação ao bem jurídico, e 
uma norma menos ampla (norma subsidiária), pois descreve um 
grau inferior de violação a esse mesmo bem. ―A diferença que 
existe entre especialidade e subsidiariedade é que, nesta, ao 
contrário do que ocorre naquela, os fatos previstos em uma e outra 
norma não estão em relação de espécie e gênero, e se a pena do tipo 
principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída 
por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode apresentar-se 
como ‗soldado de reserva‘ e aplicar-se pelo residuum‖. A norma 
aplicável será sempre a que previr o maior grau de violação (lei 
primária). Assim, por exemplo, o crime de estupro (art. 213 do CP) 
contém o de constrangimento ilegal (art. 146 do CP). Se alguém 
constrange mulher à conjunção carnal, haverá estupro. 
Há duas espécies de subsidiariedade: 
 
a) EXPRESSA: Se a norma expressamente declarar que só terá 
aplicação ―se o fato não constituir crime mais grave‖ (a 
norma se autoproclama “soldado de reserva”) — ex.: art. 
132 do CP; 
 
b) TÁCITA: Verifica-se quando o crime definido por uma 
norma é elemento ou circunstância legal de outro crime — 
ex.: art. 304 do CTB (omissão de socorro em acidente de 
trânsito) em relação ao homicídio culposo na direção de 
veículo automotor, qualificado pela omissão de socorro (art. 
302 c/c o art. 303, parágrafo único, do CTB). 
 
 
 
 
3) PRINCIPIO DA CONSUNÇÃO / ABSORÇÃO (lex 
consumens derogat legi consumptae). 
“Ocorre a relação consuntiva, ou de absorção, quando um fato 
definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou 
normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem 
como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, 
cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele 
crime” (A FINALIDADE ABSORVE O MEIO). 
 
4) PRINCIPIO DA ALTERNATIVIDADE 
Este princípio tem lugar nas infrações penais de ação múltipla ou 
conteúdo variado, que são aqueles tipos penais que possuem 
diversos núcleos (verbos), separados pela conjunção alternativa 
―ou‖. Quando alguém pratica mais de um verbo do mesmo tipo 
penal, num mesmo contexto fático, só responde por um crime (e 
não pelo mesmo crime mais de uma vez). Exemplos: a) aquele 
que expõe à venda e, em seguida, vende substância entorpecente 
pratica um só crime de tráfico ilícito de entorpecentes (Lei n. 
11.343/2006, art. 33); b) quem induz e instiga outrem a se suicidar, 
vindo a vítima a falecer, incorre uma só vez no delito de auxílio ao 
suicídio (art. 122 do CP). Anote-se, entretanto, que em tais casos o 
juiz deve considerar a incursão em mais de uma ação nuclear na 
dosagem da pena, de modo a exacerbar a sanção imposta ao agente. 
 
 TEMPO DO CRIME (Art. 4º do CP) 
Dentre as três teorias possíveis na matéria: teoria da atividade, 
teoria do resultado e teoria da ubiquidade (ou mista), o CP adotou a 
primeira, conforme podemos observar no artigo 4º do Código Penal. 
Assim sendo, considera-se praticado o crime ao tempo da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o do resultado. (O TEMPO DO CRIME É 
O TEMPO DA AÇÃO) 
 
 
1) DELIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE PENAL 
Com base na regra do art. 4º do CP torna-se possível delimitar o 
exato momento em que o agente passará a responder criminalmente 
por seus atos — isso se dará somente se a ação ou omissão 
houver sido praticada quando ele já tiver completado 18 anos 
de idade (o que ocorre no primeiro minuto de seu 18º aniversário). 
 
2) DELIMITAÇÃO DA LEI PENAL APLICAVÉL 
Delimitação da lei penal aplicável: nos crimes materiais ou de 
resultado, a conduta pode ocorrer num momento, e o resultado, 
depois. Exemplo: o agente, pretendendo matar seu desafeto, 
arquiteta uma emboscada e, colhendo-o de surpresa, descarrega os 
projéteis do tambor do revolver, atingindo gravemente a vítima, a 
qual passa dois meses internada em hospital, vindo a falecer 
(consumando o crime de homicídio qualificado). Imagine que o 
ofendido tenha sido hospitalizado durante a entrada em vigor da Lei 
n. 8.930/94 (que transformou o crime de homicídio qualificado em 
hediondo). Seria, então, de perguntar: o agente responderá pelo 
homicídio qualificado como crime hediondo ou não? Observeque 
no momento da ação (disparos) o delito não era hediondo, mas ao 
tempo do resultado (morte), sim. Qual a solução? Por força do art. 
4º do CP, deve-se considerar o momento da conduta; logo, o agente 
não terá de sofrer os efeitos penais gravosos da Lei n. 8.072/90 com 
a alteração da Lei n. 8.930/94 (crimes hediondos). 
 
 APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO (Art. 5º ao 9º 
do CP) 
 
O CP definiu no art. 6º o lugar do crime, adotando a teoria da 
ubiquidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado 
tanto no lugar da conduta quanto naquele em que se produziu ou 
deveria produzir- se o resultado. A preocupação do legislador foi 
estabelecer quais crimes podem ser considerados como ocorridos no 
Brasil e, por via de consequência, a quais delitos se aplicam a lei 
penal brasileira. A regra em estudo só terá relevância nos chamados 
crimes a distância ou de espaço, que são aqueles cuja execução se 
inicia no território de um país e a consumação se dá ou deveria dar-
se em outro. 
 
1) TERRITORIALIDADE (Art. 5º do CP) 
Dá-se o fenômeno da territorialidade quando a lei penal se aplica ao 
fato cometido dentro do território nacional. Conforme dispõe o art. 
5º do CP, a lei penal brasileira aplica-se em todo o território 
nacional, ressalvado o disposto em tratados, convenções ou regras 
de direito internacional. 
Por território, no sentido jurídico, deve-se compreender todo o 
espaço em que o Brasil exerce sua soberania, que abrange: 
a) Os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais; 
 
b) O mar territorial brasileiro (faixa que compreende o 
espaço de 12 milhas contadas da faixa litorânea média). 
 
c) Todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e 
ao mar territorial nacional. 
 
d) As aeronaves e embarcações: 
— brasileiras privadas, em qualquer lugar que se encontrem, salvo 
em mar territorial estrangeiro ou sobrevoando território estrangeiro; 
— brasileiras públicas, onde quer que se encontrem; 
— estrangeiras privadas, no mar territorial brasileiro. 
Note-se que a embaixada de um país no Brasil não é considerada 
território estrangeiro, de modo que, se um crime ali for praticado, a 
ele será aplicável a nossa lei, a não ser que ocorra um caso de 
imunidade diplomática. 
 
2) EXTRATERRITORIALIDADE (Art. 7º do CP) 
Extraterritorialidade é o fenômeno pelo qual a lei penal brasileira se 
aplica a fatos ocorridos fora do território nacional. Subdivide-se em 
extraterritorialidade condicionada ou incondicionada. 
 
A. CONDICIONADA (Art. 7 II, a) b) c) §1,§2 e §3) 
Nesta, a lei brasileira aplicar-se-á ao crime praticado no exterior, 
independentemente do preenchimento de qualquer requisito ou 
condição (art. 7º, I e § 1º). Ocorre em relação às seguintes infrações: 
 I) crimes previstos em tratado ou convenção internacional que 
o 
Brasil se obrigou a reprimir; 
 
II) crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro, fora do 
nosso território (se não foi pedida ou se foi negada a extradição e 
se houve requisição do Ministro da Justiça); 
 
III) crimes praticados por brasileiro; 
 
IV) crimes praticados a bordo de navio ou aeronave brasileiros 
privados, quando praticados no exterior e ali não forem 
julgados. 
 
A doutrina costuma apontar uma série de princípios que 
inspiraram o legislador a eleger os casos em que a lei de um país 
deve ser aplicada a fatos que se deram no estrangeiro: 
 
a) Princípio da justiça penal universal ou cosmopolita: refere-
se a hipóteses em que a gravidade do crime ou a importância 
do bem jurídico violado justificam a punição do fato, 
independentemente do local em que praticado e da 
nacionalidade do agente. Foi adotado nas letras d da 
extraterritorialidade incondicionada e a, da condicionada. 
 
b) Princípio real, da proteção ou da defesa: justifica a 
aplicação da lei penal brasileira sempre que no exterior se der 
a ofensa a um bem jurídico nacional de origem pública. Foi 
adotado nas letras a até c da extraterritorialidade 
incondicionada. 
 
c) Princípio da personalidade ou nacionalidade ativa: como 
cada país tem interesse em punir seus nacionais, a lei pátria se 
aplica aos brasileiros, em qualquer lugar que o crime tenha 
sido praticado. Foi adotado na letra b da extraterritorialidade 
condicionada. 
 
d) Princípio da personalidade ou nacionalidade passiva: se a 
vítima for brasileira, nosso país terá interesse em punir o autor 
do crime. Foi adotado na letra b da extraterritorialidade 
condicionada (v. CP, art. 7º). Obs.: ao contrário do que 
sustentam alguns autores, esse princípio não se confunde com 
o princípio da proteção, que se refere a bens públicos, o que 
não ocorre aqui. 
 
e) Princípio da representação ou da bandeira: a lei brasileira 
se aplica às embarcações ou aeronaves que carreguem nossa 
bandeira. Foi adotado na letra d da extraterritorialidade 
condicionada. 
 
B. INCONCICIONADA (Art. 7, I) 
Fala-se em extraterritorialidade incondicionada nas seguintes 
hipóteses: 
 
I) Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da 
República; 
 
II) Crime contra o patrimônio ou contra a fé pública da 
União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios 
ou dos Territórios, ou suas autarquias, das empresas 
públicas, das sociedades de economia mista ou das 
fundações instituídas pelo Poder Público; 
 
 
III) Crime contra a administração pública brasileira por 
quem está a seu serviço; 
 
IV) Crime de genocídio, se o agente for brasileiro ou 
domiciliado no Brasil. 
 
 TEORIA DO DELITO 
 
SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO: 
 
1) Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na norma 
penal incriminadora. Só o homem possui capacidade para 
delinquir. São reminiscências as práticas de processos contra 
animais ou coisas por cometimento de supostas infrações. 
Obs: O CP e o CPP empregam várias denominações para expressar 
o sujeito ativo do delito. 
a) No direito material usa o legislador a expressão ―agente‖ 
b) Na fase do inquérito policial recebe o sujeito ativo a 
denominação de ―indiciado‖. 
c) Durante o processo recebe o nome de acusado, denunciado ou 
réu. 
d) O que já sofreu sentença condenatória é chamado sentenciado, 
preso, condenado, recluso ou detento. 
e) Sob o ponto de vista biopsíquico, recebe o nome de criminoso 
ou delinquente. 
 
2) Sujeito passivo é o titular do interesse cuja ofensa constitui 
a essência do crime. Para que seja encontrado é preciso 
indagar qual o interesse tutelado pela lei penal 
incriminadora. No crime de homicídio, p. ex., o bem 
protegido pela norma é o direito à vida, e o homem é o seu 
titular. Dessa forma, o homem é o seu sujeito passivo. Há duas 
espécies de sujeito passivo. 
a) Sujeito passivo constante ou formal; 
b) Sujeito passivo eventual ou material 
....... 
 
DELITOS: COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA. 
1) COMUM: É o que pode ser praticado por qualquer pessoa, 
não exigindo nenhuma qualidade especial do sujeito ativo 
(lesão corporal, estelionato, furto). Nessa categoria, 
enquadra-se a maioria das infrações penais. 
2) PRÓPRIOS: Delito próprio ou especial é aquele que exige 
determinada qualidade ou condição especial do agente, 
motivo por que somente determinadas pessoas podem 
cometê-los. É o caso do autoaborto ou aborto consentido 
(CP, art. 124), o qual só pode ser praticado pela gestante. 
Cite-se, ainda, o peculato (CP, art. 312), em que só o 
funcionário público (CP, art. 327) pode figurar como autor. 
Em se tratando de crimes próprios, admite-se a participação de 
um terceiro, que não ostente a qualidade ou condição especial 
exigida no tipo. 
3) DE MÃO PROPRIA: É aquele que só pode serpraticado 
pelo agente pessoalmente. Com relação ao concurso de 
pessoas, somente admite a participação, sendo impossível a 
coautoria. É o caso do crime de falso testemunho ou falsa 
perícia (CP, art. 342). A distinção entre crime próprio e de 
mão própria, segundo Damásio1, consiste no fato de que, ―nos 
crimes próprios, o sujeito ativo pode determinar a outrem a 
sua execução (autor), embora possam ser cometidos apenas 
por um número limitado de pessoas; nos crimes de mão 
própria, embora possa ser praticado por qualquer pessoa, 
ninguém os comete por intermédio de outrem‖. 
 
 CRIME DE DANO E CRIME DE PERIGO 
 
1) Crime de Perigo são aqueles que se consumam com a mera 
situação de risco a que fica exposto o objeto material do crime - 
ex.: ―periclitação de vida e da saúde‖, ―rixa‖. 
 
a) Perigo Presumido ou Abstrato: 
- é o perigo já considerado pela lei (de maneira presumida) pela 
simples prática da conduta típica; 
- o tipo penal se limita a descrever a conduta, sem qualquer 
referência a resultado naturalístico. Justamente por isso foram 
batizados pela doutrina (em geral) como ―crimes de mera conduta‖; 
 
- Trata-se de presunção legal absoluta (―juris et de jure‖) de perigo. 
Independe de prova. 
 
Ex.: crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP)/ tráfico de drogas 
(Lei n. 11.343/06): perigo para a saúde pública / porte de arma 
(art. 14 da Lei n. 10.826/03). 
 
b) Perigo Concreto: 
- é o perigo que necessita de efetiva comprovação no caso concreto 
mediante atividade probatória regular; 
- Não há qualquer presunção legal; 
- A configuração do crime depende da prova concreta do risco de 
lesão ao bem jurídico protegido. Ex.: crime de perigo para a vida ou 
a saúde de outrem (art. 132 do CP): prova do perigo direto e 
iminente (perigo real) / crime de explosão (art. 251 do CP): prova 
do risco de ofensa ao bem jurídico vida ou integridade física ou 
patrimônio de outrem. 
c) Perigo individual – são os que expõem a risco o 
interesse de uma só pessoa ou de grupo limitado de pessoas - 
exs.: Arts. 130 a 136. 
Ex.: perigo de contágio venéreo (art. 130 do CP). 
d) Perigo Comum ou Coletivo: 
- a exposição a perigo de lesão se dirige ao bem ou ao interesse 
de toda a coletividade ou a número indeterminado de pessoas 
(risco de dano a bem jurídico coletivo ou plural ilimitado); 
- alcança o todo ou grupo ilimitado; 
- previstos no Capítulo I do Título VIII do CP: Dos Crimes de 
Perigo Comum (arts. 250 a 259); 
- Ex.: incêndio (art. 250 do CP). 
 
2) CRIME DE DANO: Distingue-se, assim, dos crimes de dano, 
nos quais se pressupõe uma efetiva lesão ao bem jurídico 
tutelado - ex.: ―homicídio‖, ―furto‖. 
 
 CRIMES COMISSIVOS E OMISSIVOS 
 
Crimes comissivos são os praticados mediante ação; omissivos, 
mediante inação. Nos primeiros, o sujeito faz alguma coisa; nos 
segundos, deixa de fazê-la. O critério divisor se baseia no 
comportamento do sujeito. A mata B ministrando veneno em sua 
alimentação. Temos um crime comissivo, pois o meio de execução 
se constituiu de ação, de um comportamento positivo. A deixa de 
prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a 
criança abandonada. Comete o crime de omissão de socorro (art. 
135). É um crime omissivo. A mãe pode suprimir a vida do filho 
com instrumento ou mediante privação de alimentos. No primeiro 
caso há um crime comissivo; no segundo, comissivo por 
omissão. 
 
Daí os crimes, sob o aspecto da ação, dividirem-se em: 
a) comissivos propriamente ditos; 
b) comissivos por omissão. 
 
Os crimes omissivos possuem as seguintes categorias: 
a) crimes omissivos próprios; 
b) crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão; 
c) crimes de conduta mista. 
 
 
 
 
1) COMISSIVOS PROPRIAMENTE DITOS: 
São os que se perfazem com a simples abstenção da realização 
de um ato, independentemente de um resultado posterior; 
2) COMISSIVOS POR OMISSÃO (OMISSIVO 
IMPRÓPRIO ―impuro‖) 
(é visto como se tivesse praticado o ato) 
O crime omissivo impróprio também chamado de comissivo por 
omissão traduz no seu cerne a não execução de uma atividade 
predeterminada juridicamente exigida do agente. São crimes de 
evento, isto porque o sujeito que deveria evitar o injusto é punido 
com o tipo penal correspondente ao resultado. Todavia o que faz de 
um delito omissivo, comissivo por omissão é a posição de garantia 
do agente. Assim, o salva-vidas que assiste inerte, ao afogamento 
de um banhista incorre na prática do delito de homicídio 
(comissão) por omissão. 
 
3) OMISSIVO PRÓPRIO ―PURO‖ (a omissão é vista como a 
causa do dano) 
Crimes omissivos próprios ou de pura omissão se denominam os 
que se perfazem com a simples abstenção da realização de um 
ato, independentemente de um resultado posterior. O resultado é 
imputado ao sujeito pela simples omissão normativa. Ex.: omissão 
de socorro (art. 135), que se consuma com a abstenção de prestação 
de assistência ao necessitado, não se condicionando a forma simples 
a qualquer evento posterior. 
 
4) OMISSIVO IMPRÓPRIO “IMPURO” = COMISSIVO POR 
OMISSÃO. (é visto como se tivesse praticado o ato) 
Crimes omissivos impróprios (ou comissivos por omissão) são 
aqueles em que o sujeito, mediante omissão, permite a produção 
de um resultado posterior, que os condiciona. Nesses crimes, em 
regra, a simples omissão não constitui crime. É o exemplo da mãe 
que deixa de alimentar o filho, causando-lhe a morte. 
 
5) DE CONDUTA MISTA (Comissão inicial com uma omissão 
final) 
Por último, denominam-se crimes de conduta mista os omissivos 
próprios que possuem fase inicial positiva. Há uma ação inicial e 
uma omissão final. Ex.: apropriação indébita de coisa achada — 
art. 169, parágrafo único, III: ―Na mesma pena incorre quem acha 
coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, 
deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor, ou de 
entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze 
dias‖. Pode ter uma conduta inicial positiva (invenção e 
apossamento da res desperdita), atingindo o momento consumativo 
quando o sujeito deixa (omissão) de restituir a coisa alheia. 
 
 CONCEITO DE CRIME 
Nossa legislação não apresenta, atualmente, um conceito de crime, 
como ocorria nos Códigos anteriores (1830 e 1890). Há tempos o 
legislador se deu conta de que a tarefa de definir esse importante 
instituto jurídico cabe à doutrina. Por esta, ―dar-se como CRIME 
TODO ATENTATO A UM BEM JURÍDICO TUTELADO, QUE 
SEJA FATO TIPICO, ILICITO E CULPAVÉL”. 
 
ATO INFRACIONAL: Trata-se da conduta descrita como crime 
ou contravenção penal cometida por criança ou adolescente. A 
imputabilidade penal tem início aos 18 anos de idade. Ao ato 
infracional praticado por criança corresponderão às medidas de 
proteção previstas no artigo 101; ao adolescente infrator aplicam-se 
as medidas socioeducativas previstas no artigo 112 do ECA. 
 
CONTRAVENÇÃO PENAL: Infração de menor potencial 
ofensivo. A contravenção é uma infração considerada de menor 
gravidade que o crime. Esse julgamento pode variar ao longo do 
tempo pelo legislador, consoante a evolução da sociedade. Por 
exemplo: no Brasil, o porte ilegal de armas já foi considerado 
contravenção penal: com o advento do Estatuto do Desarmamento, 
em 2003, passou a ser considerado crime. 
 
Os penalistas, então, na tentativa de cumprir essa árdua missão, 
apresentam uma série de conceitos, ora enfatizando o aspecto 
puramente legislativo (conceitos formais), ora procurando investigar 
a essência do instituto (conceitos materiais), ora verificando os 
elementos constitutivos do crime (conceitosanalíticos). 
Tradicionalmente, os conceitos analíticos têm sido o foco central da 
preocupação dos juristas brasileiros. 
 
1) CONCEITO MATERIAL E FORMAL 
Do ponto de vista material, crime pode ser definido como toda 
ação ou omissão consciente, voluntária e dirigida a uma 
finalidade, que cria um risco juridicamente proibido e relevante 
a bens considerados essenciais para a paz e o convívio em 
sociedade. Formalmente, crime é a conduta proibida por lei, com 
ameaça de pena criminal (prisão, pena alternativa ou multa). 
 
2) CONCEITO ANALÍTICO 
Como se antecipou acima, boa parte de nossa doutrina tem 
sublinhado a importância do conceito analítico. Sob o pretexto de 
investigar quais os elementos constitutivos do crime, duas grandes 
teorias despontam no Brasil, a primeira (PENSAMENTO 
MAJORITÁRIO) defendendo que crime é o fato típico, 
antijurídico (ou ilícito) e culpável (teoria tripartida); a outra 
(PENSAMENTO MINORITÁTRIO) sustentando ser tal ilícito o fato 
típico e antijurídico (ou ilícito) (teoria bipartida). 
 
a) FATO TIPICO 
Para a integração do fato típico concorre, primeiramente, uma ação 
ou omissão, uma vez que, consistindo na violação de um preceito 
legal, supõe um comportamento humano. 
 
ELEMENTOS DO FATO TIPICO: 
 
CONDUTA/ AÇÃO HUMANA: ―Movimento corporal voluntario 
que modifica o mundo exterior, dirigido a uma finalidade‖ – (Ilícita 
ou licita). A ação humana, porém, não é suficiente para compor o 
primeiro requisito do crime. É necessário um resultado, que é o 
efeito do comportamento (nos crimes materiais). 
 
TIPICIDADE PENAL: A conduta deve ser considerada proibida, 
para qual se estabelece uma sanção. 
 
RESULTADO/NEXO DE CAUSALIDADE: Entre a conduta e o 
resultado se exige uma relação de causalidade objetiva. A desfere 
facadas em B, que, transportado para um hospital, vem a falecer. 
Surge, dessa maneira, outro elemento do fato típico: a relação de 
causalidade ou nexo causal. ―A CAUSA pela qual se obteve a 
finalidade‖ Art.13, CP “considera-se causa a ação ou a omissão 
sem a qual o resultado não teria ocorrido”. 
 
 FATOS TIPICOS, ILICITOS NÃO CULPAVEIS: 
 
1) COAÇÃO MORAL IRRESISTIVEL (Art. 22 do CP). 
(coato, coator e vitima). 
 Na Coação Moral Irresistível a vontade do agente não é 
eliminada, mas viciada. Nesse caso, o agente foi 
moralmente constrangido na prática da infração. 
A teoria da coação moral irresistível, elencada no Artigo 22 do 
Código Penal. Coação moral é uso de grave ameaça para que 
alguém faça ou deixe de fazer alguma coisa contrária a lei. A 
coação atua na vontade do sujeito. Quando alguém comete o 
fato típico e antijurídico sob coação moral irresistível, não há o 
terceiro elemento do crime, que é a culpabilidade, em face da 
inexigibilidade de conduta diversa (que é o caso onde não 
se pode exigir conduta diferente). Neste caso, a culpabilidade 
desloca-se da figura do coato para a do coator, deixando de 
existir o crime, em face da ausência do terceiro elemento, qual 
seja, a culpabilidade. Em fim, para a caracterização da coação 
moral irresistível, são necessários os seguintes elementos: A 
existência de um coator, que responderá pelo crime; a 
irresistência do coato e a proporcionalidade entre os bens 
jurídicos. A coação moral mantém a conduta, mas afasta a 
liberdade na tomada da decisão do agente. Se irresistível, é tão 
grande a influência na referida liberdade que a atitude passa a 
não ser passível de censura de reprovabilidade. É o caso do 
gerente de banco que é sequestrado e é coagido pelos 
sequestradores para abrir o cofre, sob a ameaçada de que se não 
praticar essa conduta, sua família morrerá. Note que neste caso, o 
gerente não tinha a livre vontade de praticar o fato típico de roubar 
o banco, mas praticou. O ato de roubar é descrito na lei como crime 
(Artigo 157 do CP), ou seja, é antijurídico, mas o terceiro elemento 
não se caracteriza, pois não teve culpa, já que foi coagido. Por outro 
lado, se o autor do fato puder resistir, caracterizará a coação 
moral resistível e neste caso o crime estará consumado, não 
havendo que se falar em exclusão da culpabilidade e incidirá em 
seu favor, a atenuante prevista no Artigo 65, Inciso III, alínea 
“c”, primeira parte do mesmo dispositivo legal. 
2) COAÇÃO FISÍCA IRRESISTIVEL (vis absoluta) 
Na Coação física existe uma total exclusão da vontade do agente, 
ou seja, este é forçado a praticar um ato contra a sua vontade, 
por meio de uma violência a sua integridade física. A sua 
responsabilidade penal será excluída e não haverá Tipicidade, pois 
como vimos a sua vontade foi totalmente eliminada não 
respondendo assim pelo ato praticado. Um exemplo clássico é o do 
gerente bancário, que acaba por colocar suas digitais do cofre da 
agência, pois está sendo coagido fisicamente pelo assaltante. 
 
 RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ (Art. 225 §3 da CF, 
Art 3º e Art 21 a 24 da Lei 9.605/98). (É possível responsabilizar 
criminalmente uma PJ em si, já que não possui consciência, logo 
não possui vontade finalista?!). (Exceção RE 548.181 STF) 
Define-se conduta como a ação ou omissão humana 
consciente e dirigida a uma determinada finalidade, 
segundo autores como Damásio E. De Jesus. É a partir da 
conduta humana que se inicia o conceito analítico de crime. 
No Brasil, a conduta precisa ser praticada por pessoa 
física uma vez que pessoa jurídica não pode ser sujeito 
ativo de crime, salvo em delitos ambientais. 
 
 EXCLUDENTES DE ILICITUDE PENAL (Art. 23 do CP) 
Há tipos denominados justificantes, que exigem do magistrado 
uma apreciação da situação justificadora, assim como dos bens 
jurídicos em conflito. O Código Penal, em sua parte geral, 
menciona os tipos permissivos, que constituem excludentes de 
licitude. São elas: legítima defesa, estado de necessidade, 
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de 
direito. Assim, embora a conduta seja formalmente típica, essas 
excludentes garantem uma justificativa capaz de remover o 
aspecto ilícito da ação. 
 IMPUTABILIDADE PENAL (Art. 26 a 28 do CP) (Contrario 
sensu) 
INIPUTAVEIS: No nosso ordenamento jurídico haverá exclusão 
da imputabilidade penal nas seguintes hipóteses: a) doença 
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado 
(CP, art. 26); b) embriaguez completa e involuntária — 
decorrente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1º) 
―Há três estágios de embriaguez: 1º) excitação; 2º) depressão; 3º) sono (letargia). 
Considera-se completa a embriaguez nas duas últimas fases, pois ela retira por 
completo a capacidade de discernimento do agente‖; c) dependência a 
substância entorpecente (Lei n. 11.343/2006, art. 45, caput); d) 
intoxicação involuntária por substância entorpecente (Lei n. 
11.343/2006, art. 45, caput); e) menoridade (CP, art. 27, e CF, 
art. 228). 
Imputar é atribuir a alguém a responsabilidade de alguma coisa. 
Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que 
dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada 
a prática de um fato punível. O conceito de sujeito imputável é 
encontrado, a contrario sensu, no art. 26, caput, que trata da 
inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado: ―É isento de pena o agente que, por 
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, 
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento”. Inimputável é, então, o agente que, por 
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado, não possui, ao tempo da prática do fato, capacidadede entender o seu caráter ilícito ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. Imputável é o sujeito mentalmente são e 
desenvolvido, capaz de entender o caráter ilícito do fato e de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
O art. 27 afirma que os menores de 18 anos de idade são 
“penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial” (Estatuto da Criança e do 
Adolescente e leis complementares). A menoridade penal também 
constitui causa de exclusão da imputabilidade, encontrando- se 
abrangida pela expressão ―desenvolvimento mental incompleto‖ 
(art. 26, caput). 
 
 SISTEMAS PENAIS E OS ELEMENTOS 
CONSTITUTIVOS DO CRIME: 
A expressão ―sistemas penais‖ é pouco utilizada pela doutrina 
brasileira. Muitos preferem referir-se a ―teorias penais‖. Sistema 
penal, portanto, indica um conjunto de teorias intrinsecamente 
relacionadas, desenvolvidas durante determinado período da 
evolução da dogmática penal. 
Atualmente, apontam-se os seguintes sistemas penais: 
a) sistema clássico (ou sistema ―Liszt/Beling/Radbruch‖), que 
remonta ao início do século XX; 
 
b) sistema neoclássico (conhecido também como normativista. 
 Corresponde ao anterior, acrescido da teoria de Reinhard Frank), 
surgido em 1907; 
 
c) sistema/teoria finalista (ôntico-fenomenológico), difundido 
a partir da década de 1930; 
 
d) sistema funcionalista (teleológico-racional), que se divide em: 
funcionalismo sistêmico (Jakobs) e teleológico (Roxin), 
dentro dos quais se desenvolveu a (moderna) teoria da 
imputação objetiva. 
 
 TEORIA/SISTEMA FINALISTA 
Em 1931, em sua obra Causalidade e Omissão, Welzel rompe 
definitivamente com os sistemas anteriores. Partindo de uma 
premissa ex50 traída de lições da psicologia, Welzel percebe que a 
finalidade constitui a espinha dorsal da conduta humana. A teoria 
finalista de Welzer “retira” dolo e culpa da culpabilidade e a 
torna componente do fato típico. Ninguém age sem ter, por 
detrás, alguma intenção, por mais singela que seja. Sendo assim, 
não se concebe como a conduta humana penalmente relevante 
possa ser analisada sem a intenção que a moveu (esse o 
fundamento da teoria finalista da ação). Os clássicos incorriam 
nesse equívoco quando reservavam o exame do dolo para a 
culpabilidade, e foi justamente isso que Welzel corrigiu. O dolo, 
elemento indicativo da intenção perseguida pelo agente, não pode 
ser analisado somente no âmbito da culpabilidade, de modo 
destacado da ação ou omissão a que se vinculou. Se a finalidade é a 
alma da conduta humana, ele deve ser analisado em conjunto na 
teoria do crime. Como consequência, o penalista mencionado 
passou a sustentar que o dolo e a culpa deveriam fazer parte do fato 
típico, e não da culpabilidade. 
Assim, graficamente: 
 
 
Hans Welzel notou, também, que o dolo deve possuir apenas dois 
elementos: consciência e vontade (“dolo natural” ou “dolo 
neutro”). A consciência da ilicitude deve ser retirada do dolo e 
mantida na culpabilidade, mas não como consciência atual 
(individual), e sim como consciência potencial da ilicitude, como se 
explicará mais adiante. Dolo e culpa, como se observa, 
deslocaram-se para o fato típico, o que motivou o surgimento de 
um fato típico de crime doloso e outro de crime culposo. 
Interessante notar que o próprio Welzel afirmava não ter trazido 
nenhum elemento novo à estrutura do crime, apenas os teria 
distribuído corretamente. (A MAIORIA DOS BENS JURIDICOS SÓ 
SÃO TUTELADOS EM INFRAÇÕES QUE HAJA DOLO) 
 
1) TEORIA FINALISTA DA AÇÃO (FATO TIPICO, ILICITO 
E CULPOSO). 
Sustenta que a ação não é meramente um acontecer causal, mas 
sim um acontecer final. A finalidade está sempre presente 
porque o homem, graças ao seu saber causal (conhecedor das 
leis da causa e efeito), pode direcionar sua ação para a produção 
de um resultado querido. Ação e finalidade são inseparáveis. A 
teoria causal, ao separar o dolo da ação, separa juridicamente o 
que é inseparável no mundo real. Acompanhe o exemplo a seguir, 
confirmando que o dolo está na ação e não na culpabilidade. O 
art. 124 do CP tipifica o crime de autoaborto. Trata-se de delito 
punido apenas na forma dolosa. Logo, se uma gestante ingere, 
acidentalmente, um comprimido, desconhecendo seu efeito 
abortivo, não responderá pelo crime. Pergunta-se, então, por quê? E 
a resposta evidente é: porque o fato é atípico (a lei não pune o 
aborto culposo). Adotando-se o sistema clássico, entretanto, 
teríamos um fato típico e antijurídico, pois a falta de dolo, nesse 
sistema, não conduz à atipicidade do comportamento, mas leva à 
exclusão da culpabilidade. Na prática, significa que o Ministério 
Público, por esse sistema, mesmo após constatar com absoluta 
segurança que a mãe não agiu dolosamente, deveria denunciá-la 
pelo crime do art. 124 do CP, cabendo ao juiz (com base no art. 415 
do CPP) ou ao Júri absolvê-la. Com o sistema finalista, entretanto, 
tal absurdo pode ser evitado. Quando o membro do MP conclui 
categoricamente que não houve dolo, tem diante de si um fato 
atípico, com base em que pode validamente postular o 
arquivamento do inquérito policial. 
 
 TEORIAS DO DOLO 
 
Há três teorias a respeito do dolo: 
 
 
1) Teoria da vontade 
A teoria da vontade foi exposta de forma orgânica na obra de 
Carrara: “Dolo é a intenção mais ou menos perfeita de praticar 
um fato que se conhece contrário à lei”. Para os partidários dessa 
teoria, o dolo exige os seguintes requisitos: 
a) Quem realiza o fato deve conhecer os atos e sua significação; 
 
b) O autor deve estar disposto a produzir o resultado. 
Assim, para a teoria da vontade, é preciso que o agente tenha a 
representação do fato (consciência do fato) e a vontade de causar o 
resultado. 
 
2) Teoria da representação 
Para a teoria da representação, dolo é a previsão do resultado. É 
suficiente que o resultado seja previsto pelo sujeito. 
 
3) Teoria do assentimento 
Requer a previsão ou representação do resultado como certo, 
provável ou possível, não exigindo que o sujeito queira produzi-lo. 
É suficiente seu assentimento. 
 
É aceita a teoria da vontade. Dolo não é simples representação do 
resultado, o que constitui um simples acontecimento psicológico. 
Exige representação e vontade, sendo que esta pressupõe 
aquela, pois o querer não se movimenta sem a representação do 
que se deseja. O CP brasileiro adotou a teoria da vontade, pois o 
art. 18, I, determina: “Diz-se o crime doloso, quando o agente quis 
o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Assim, não basta a 
representação do resultado; exige vontade de realizar a conduta e de 
produzir o resultado (ou assumir o risco de produzi-lo). 
 
 ELEMENTOS DO DOLO 
Presentes os requisitos da consciência e da vontade, o dolo possui 
os seguintes elementos: 
a) consciência da conduta e do resultado; 
b) consciência da relação causal objetiva entre a conduta e o 
resultado; 
c) vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. 
É necessário que o agente tenha consciência do comportamento 
positivo ou negativo que está realizando e do resultado típico. 
Em segundo lugar, é preciso que sua mente perceba que da 
conduta pode derivar o resultado, que há ligação de causa e 
efeito entre eles. Por último, o dolo requer vontade de 
concretizar o comportamento e causar o resultado. Isso nos 
crimes materiais e formais. Nos de mera conduta é suficiente 
que o sujeito tenha a representação e a vontade de realizá-la. 
 
 
 TEORIA DO CRIME CULPOSO (TIPO, ILICITUDE E 
CULPABILIDADE. 
 
A) TIPO 
Vimos que a culpa, na doutrina finalista da ação, constitui elemento 
do tipo.Quando se diz que a culpa é elemento do tipo, faz-se 
referência à inobservância do dever de diligência. Explicando. A 
todos, no convívio social, é determinada a obrigação de realizar 
condutas de forma a não produzir danos a terceiros. É o 
denominado cuidado objetivo. A conduta torna-se típica “a partir 
do instante em que não se tenha manifestado o cuidado 
necessário nas relações com outrem, ou seja, a partir do instante 
em que não corresponda ao comportamento que teria adotado 
uma pessoa dotada de discernimento e prudência, colocada nas 
mesmas circunstâncias que o agente’’. A inobservância do 
cuidado necessário objetivo é elemento do tipo. 
 
B) ILICITUDE: 
Há, assim, na culpa, um primeiro momento em que se verifica a 
tipicidade da conduta: é típica toda conduta que infringe o 
“cuidado necessário objetivo”. Nessa operação, ensina Welzel, a 
ação real do autor deve ser compara da com o conteúdo do cuidado 
necessário no tráfico; toda ação que não observa esse dever de 
diligência é típica. Ao contrário do que ocorre em relação aos 
crimes dolosos, em que é suficiente o processo de adequação típica 
para ser resolvido o problema da tipicidade do fato, nos crimes 
culposos o tipo é aberto (Welzel). Veja-se o delito de homicídio 
culposo: ―se o crime (de homicídio) é culposo‖ (CP, art 121, § 3.º). 
Para resolver a questão da tipicidade do fato, não é suficiente o 
processo de adequação típica, uma vez que o tipo culposo não é 
precisamente definido em face da diversidade imensa das 
formas de conduta. O juiz, então, tem de estabelecer um critério 
para considerar típica a conduta: “toda ação que, com um 
resultado suscetível de constituir o fato delituoso, não apresenta 
características do “cuidado a observar-se nas relações com os 
demais’, é ação típica do crime culposo”. Para saber se o sujeito 
deixou de observar o cuidado objetivo necessário é preciso 
comparar a sua conduta com o comportamento que teria “uma 
pessoa dotada de discernimento e de prudência colocada na 
mesma situação do agente”. O cuidado objetivo será a conduta que 
teria essa pessoa-modelo nas circunstâncias em que se viu o sujeito. 
Há, então, duas condutas comparadas: a conduta concreta do sujeito 
e a conduta que teria a pessoa-modelo. Diante da situação, qual 
seria o cuidado exigível de um homem dotado de discernimento e 
prudência? Surge, então, o que se denomina previsibilidade 
objetiva: é de se exigir a diligência necessária objetiva quando o 
resultado produzido era previsível para um homem comum, nas 
circunstâncias em que o sujeito realizou a conduta5. A 
previsibilidade objetiva, no dizer de Welzel, é um elemento do tipo 
de conduta que não corresponde ao cuidado devido6. O cuidado 
necessário deve ser objetivamente previsível. É típica a conduta que 
deixou de observar o cuidado necessário objetivamente previsível. 
A imprevisibilidade objetiva exclui a tipicidade, o que está de 
acordo com a teoria da imputação objetiva. 
 
C) CULPABILIDADE 
A culpabilidade no delito culposo decorre da previsibilidade 
subjetiva. Enquanto na previsibilidade objetiva é questionada a 
possibilidade de antevisão do resultado por uma pessoa 
prudente e de discernimento, na previsibilidade subjetiva é 
questionada a possibilidade de o sujeito, “segundo suas aptidões 
pessoais e na medida de seu poder individual, prever o 
resultado”. 
Quando o resultado era previsível para o sujeito, temos a 
reprovabilidade da conduta, a culpabilidade. Como diz Welzel, a 
previsibilidade subjetiva é um elemento fundamentador da 
reprovabilidade daquela falta de observância do cuidado exigido. 
 
 ELEMENTOS DO FATO TÍPICO CULPOSO 
São elementos do fato típico culposo: 
1) Conduta humana voluntária, de fazer ou não fazer; 
2) Inobservância do cuidado objetivo (imputação objetiva) 
manifestada na imprudência, negligência ou imperícia; 
3) Previsibilidade objetiva; 
4) Ausência de previsão; 
5) Resultado involuntário; 
6) Nexo de causalidade; 
7) Imputação objetiva; e 
8) Tipicidade. 
 
 IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA. 
São formas de manifestação da inobservância do cuidado 
necessário. 
 
A) Imprudência é a prática de um fato perigoso. Ex.: dirigir 
veículo em rua movimentada com excesso de velocidade. 
 
B) A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em 
relação ao ato realizado. Ex.: deixar arma de fogo ao alcance 
de uma criança. Enquanto na negligência o sujeito deixa de 
fazer alguma coisa que a prudência impõe, na imprudência ele 
realiza uma conduta que a cautela indica que não deve ser 
realizada. A doutrina ensina que a imprudência é positiva 
(o sujeito realiza uma conduta) e a negligência, negativa (o 
sujeito deixa de fazer algo imposto pela ordem jurídica). 
Nem sempre, porém, é fácil fazer a distinção. Pelo fato de o 
agente deixar arma ao alcance de uma criança, não se pode 
dizer que não agiu. Na conduta de quem dirige veículo em 
más condições de funcionamento, em que a negligência 
residiria na inobservância do dever de consertá-lo antes, 
também está presente a imprudência de dirigi-lo naquelas 
circunstâncias. 
 
C) Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou 
profissão. O químico, o eletricista, o motorista, o médico, o 
engenheiro, o farmacêutico etc. necessitam de aptidão teórica 
e prática para o exercício de suas atividades. É possível que, 
em face de ausência de conhecimento técnico ou de prática, 
essas pessoas, no desempenho de suas atividades, venham a 
causar dano a interesses jurídicos de terceiros. Fala-se, então, 
em imperícia. 
 
 
REVISAR CASOS CONCRETOS 1, 2, 3, 4, 5 E 6.

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