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2 2016.1 DPP II Questões prejudiciais (1)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL II
1º Semestre de 2016
Prof: Wanderson Gome de Oliveira
Turmas: Dependência.
Disponibilizado aos alunos: 
Das Questões de Procedimentos Incidentes.
1. Conceito de questões incidentes: São questões que devem ser avaliadas pelo juiz, com valoração penal ou extra penal e devem ser decididas antes do mérito da ação principal. É, portanto, o fato que pode acontecer durante o processo e que deve ser decidido pelo juiz antes de adentrar no mérito da causa principal. É a controvérsia e discussão (questão) daquilo que é acessório (incidente).
Obs: Mirabete divide os Incidentes em: Questões Prejudiciais e Processos Incidentes.
- Questões prejudiciais: são as que devem ser resolvidas antes da solução da causa principal, pois se ligam ao mérito da questão principal. Existe uma dependência lógica entre as duas questões.
- Processos incidentes: dizem respeito ao processo podendo ser resolvidos pelo próprio juiz criminal. 
Obs: São questões incidentes: as questões prejudiciais, as exceções, as incompatibilidades, os impedimentos, a restituição de coisas apreendidas as medidas assecuratórias, o incidente de falsidade documental e o incidente de insanidade mental (art. 92 a 154, CPP).
Ex: Crime de Bigamia (art. 235) e Ação anulatória de casamento.
Ex: Esbulho possessório (art. 161, § 1º, II, CP) onde se discute a legítima posse (pode estar em discussão na esfera cível). O juiz criminal deve aguardar o deslinde da ação cível para julgar o mérito.
Falaremos primeiramente das questões prejudiciais.
QUESTÕES PREJUDICIAIS – ARTS. 92 A 94:
NATUREZA JURÍDICA DA QUESTÃO PREJUDICIAL:
Maioria da doutrina entende ser questão de mérito funcionando a questão prejudicial como elementar da infração penal.
Ex: art. 235 – Bigamia (se o primeiro casamento for anulado não se fala em crime de bigamia). É uma elementar do tipo penal.
Para Antônio Scarance Fernandes “a questão prejudicial se caracteriza por ser um antecedente lógico e necessário da prejudicada, cuja solução condiciona o teor do julgamento desta, trazendo ainda consigo a possibilidade de se constituir em objeto de processo autônomo”.
- Diferença entre elementar e circunstância:
Elementares: são dados essenciais da figura típica de forma que sua ausência produz uma atipicidade absoluta (não é crime) ou relativa (Desclassificação).
Circunstâncias: são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica. Podem aumentar ou diminuir a pena, mas não interferem no crime. Não são fundamentais para a existência do crime, mas agregado a ele geram influência na pena. (Agravante, Atenuante, Causas de aumento e diminuição da pena, Qualificadora).
Ex: art. 155 – Furto: “Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel” – Elementar.
§ 1º - “A pena aumento em 1/3 se o crime é praticado durante o repouso noturno”. – Circunstância.
Obs: Art. 30 CP – “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”.
Aqui observamos, por exemplo, que o fato de um dos concorrentes do crime ser reincidente não prejudica os demais que são primários, ou se um dos participantes do crime for menor somente ele será beneficiado não se comunicando com os demais maiores de 18 anos.
Ex: Funcionário Público... Crime de peculato (art. 312) se os coautores e participes sabiam desta condição podem responder pelo delito mesmo não ostentando o título de funcionário público.
Ex: Mãe sob influência do estado puerperal...
2. CARACTERÍSTICAS OU ELEMENTOS ESSENCIAIS DA PREJUDICIALIDADE. 
a) Anterioridade: Questão prejudicial tem que ser analisada antes.
b) Essencialidade / Interdependência: O mérito da ação principal depende da resolução da questão prejudicial. Ex: Crime de Bigamia
c) Autonomia: possibilidade da questão prejudicial ser objeto de uma ação autônoma.
3. QUESTÃO PREJUDICIAL E QUESTÃO PRELIMINAR
	Questões Prejudiciais
	Questões preliminares
	Versam sobre direito material.
	Versam sobre questões relativas ao direito processual. É o fato processual que impede que o juiz analise a questão principal
	Relacionadas ao mérito.
	Funcionam como pressupostos processuais (de existência ou validade da relação constituída).
	Autônomas (Independente da questão principal com possibilidade de ser objeto de processo distinto Ex: furto em relação ao crime de receptação).
	Vinculadas (sempre atreladas a um processo específico).
	Podem ser enfrentadas tanto pelo juízo penal quanto pelo juízo extrapenal. 
	Só podem ser discutidas no âmbito do juízo penal.
Obs: Questão preliminar: é o fato processual ou de mérito que impede que o juiz aprecie a questão principal, ou seja, a infração penal, não sendo autônoma dependendo da existência da questão principal sendo decidida sempre no mesmo processo ou procedimento onde é julgada a questão principal. Ex: Exceção de Coisa Julgada, Exceção de Litispendência, Prescrição, Decadência, suspeição do juiz... .
4. SISTEMAS DE SOLUÇÃO
a) Sistema da cognição incidental / predomínio da jurisdição penal.
O juiz penal é sempre competente para conhecer da questão prejudicial, mesmo sendo ela heterogênea (outro ramo do direito).
Vantagem: Celeridade e economia processual.
Problema: violação ao princípio do juiz natural.
b) Sistema da prejudicialidade obrigatória / Separação jurisdicional absoluta.
O juízo penal nunca é competente para decidir a prejudicial heterogênea, nem mesmo de maneira incidental.
Prejuízo: a celeridade
Vantagem: respeito ao princípio do juiz natural.
c) Sistema da prejudicialidade facultativa.
O juiz penal tem a faculdade de decidir ou não as questões prejudiciais heterogêneas.
d) Sistema Eclético ou misto (adotado no Brasil).
Junta os dois sistemas anteriores.
Quanto às questões prejudiciais relativas, p. ex. ao Estado Civil das pessoas, vigora o sistema da prejudicialidade obrigatória. (art. 92 CPP).
Quanto às demais questões prejudiciais heterogêneas vigora o Sistema da prejudicialidade facultativa. (art. 93 CPP).
5. CLASSIFICAÇÃO DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS.
5.1. Quanto à natureza: (se pertencem ou não ao mesmo ramo do direito)
Homogênea/comum/imperfeita.
A Questão prejudicial pertence ao mesmo ramo da questão prejudicada e, portanto, podem ser resolvidas na mesma jurisdição, ou no mesmo ramo do Direito.
Ex: Receptação e o delito de furto. (É preciso demonstrar que aquele objeto é produto de furto). As duas matérias pertencem ao Direito Penal.
Ex: a exceção da verdade no crime de calúnia (CP, art. 138, §3º). O processo crime por calúnia dependerá da resolução da exceção da verdade, que é prejudicial homogênea em relação àquele.
Obs: As questões prejudiciais homogêneas são resolvidas por meio da conexão probatória ou instrumental. Art. 76, III CPP. Receptação julgada em Santos e Roubo sendo julgado em SP. Reúne os processos.
b) Heterogênea/perfeita/jurisdicional
A questão prejudicial pertence a ramo diverso da questão prejudicada. Vão produzir efeitos em outras esferas do Direito.
Ex: Anulação de casamento e Crime de Bigamia.
Ex: Paternidade e Abandono.
Ex: decisão sobre a posse antes de tratar do esbulho.
5.2. Quanto à competência: (juízo competente para resolver a questão prejudicial – Princípio da Suficiência).
Obs: Como regra e pelo princípio da suficiência a ação penal é apta para prestar tutela jurisdicional, não sendo necessária a propositura de outras demandas para se resolver as questões prejudiciais.
Agora temos as exceções em que a ação penal deve ser suspensa até resolução da questão prejudicial na esfera cível (questão prejudicial Heterogênea).
 a) Questão prejudicial não devolutiva.
Sempre analisada pelo juiz penal. É o caso de uma questão prejudicial homogênea. São solucionadas no mesmo ramo do Direito que trata a questão principal.
b) Questão prejudicial devolutiva.
O juiz devolve ao órgão jurisdicional natural. São enviadas para conhecimento e solução em outra esfera jurídica, outro ramo do Direito.
Espécies:b.1) Absoluta:
Nunca pode ser enfrentada pelo juiz penal (Questões prejudiciais heterogêneas). É aquela relativa ao Estado Civil das pessoas (nulidade de casamento, nulidade de filiação, casado, solteiro, morto...); quando constituir elementar do fato imputado; que a controvérsia seja séria, fundada e relevante.
Obs: art. 116 CP – Suspende a prescrição.
b.2) Relativa:
Pode eventualmente ser analisada pelo juiz penal. Da mesma forma diz respeito a questões prejudiciais heterogêneas exceto aquelas mencionadas anteriormente (b.1). Questões que não versarem sobre estado civil; que seja da competência do juízo cível; que seja de difícil solução; não sofra restrição da lei civil quanto a sua prova; já existir ação cível em andamento.
Ex: Alegação do acusado de um Crime de furto, de ser o proprietário da coisa furtada. 
5.3. Quanto aos efeitos
a) Obrigatória/ necessária em sentido estrito.
O juiz criminal não tem competência para apreciá-la. Sempre suspende o processo. 
É uma questão prejudicial devolutiva absoluta.
b) Facultativa /prejudiciais em sentido amplo.
Nem sempre suspendem o processo (São as questões prejudiciais devolutivas relativas). 
Ex: discussão sobre a propriedade do bem e processo por crime de furto 
6. PROCESSAMENTO DA PREJUDICIAL OBRIGATÓRIA E DA FACULTATIVA
6.1 - Prejudicial Obrigatória: O juiz suspende o processo criminal e o curso do prazo prescricional (art. 116, I, CP) até decisão no cível. Poderá realizar providências urgentes e não precisa ter havido início de ação cível para suspender o processo criminal. Se for crime de Ação Penal Pública o MP intervirá na Ação Cível para dar celeridade (se já tiver iniciada) ou irá propô-la caso não esteja em trâmite.
6.2 – Prejudicial Facultativa: Só poderá ser suscitada se já tiver ação cível em andamento. O Juiz criminal poderá suspender (matéria de difícil solução) estabelecendo prazo em que aguardará (prudência do juiz). Tal prazo pode ser prorrogado ou o juiz poderá dar andamento ao processo criminal decidindo toda a matéria. Corre se um risco com a futura decisão cível.
Aqui não fala na possibilidade do MP propor ação já que a mesma já deverá estar tramitando.
Importante:
- A prejudicial pode ser de ofício ou a requerimento das partes (art. 94, CPP);
- Não cabe prejudicial no Inquérito Policial;
- O Juiz Criminal fica vinculado à decisão na esfera cível (obrigatória ou Facultativa).
Exemplo abordado por Rogério Greco: A suspensão da prescrição da pretensão punitiva com base no art. 116, I, CP, com o crime de bigamia: se a validade do casamento anterior estiver sendo discutida no juízo cível, o curso da ação penal ficará suspenso, suspendendo-se da mesma forma o prazo prescricional. Quando decidida a questão prejudicial o processo retoma seu curso normal, ou seja, reinicia o lapso prescricional, ficando o juiz criminal neste caso específico de prejudicialidade vinculado à decisão proferida pelo juízo cível.
Material utilizado:
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19 ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 10 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de processo penal. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal. 5 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 18 ed., São Paulo: Atlas, 2014. 
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 20 ed., São Paulo: Atlas, 2012.
TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7 ed., Salvador: Jus Podivm, 2012.
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