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2 2016.2 DPP II Exceções Procedimentos Incidentes. (1)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL II
1º Semestre de 2016.
Prof: Wanderson Gome de Oliveira
Turmas: Dependência
Disponibilizado aos alunos:.
PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS
Várias exceções. São cinco ao todo.
EXCEÇÕES.
- Conceito
“Exceções são procedimentos incidentais em que se alegam determinados fatos processuais referentes a pressupostos processuais ou a condições da ação, objetivando a extinção do processo ou sua simples dilação.”
Seu objetivo é buscar: ou a extinção do processo ou a sua dilação.
– Exceção vs. Objeção
“Exceção em sentido estrito é a defesa que só pode ser conhecida pelo juiz se alegada pela parte”.
Ex: No processo civil, grosso modo, a incompetência relativa seria exceção porque só pode ser conhecida se arguida pela parte. Lá no processo civil. 
“Objeção é a matéria de defesa que pode ser conhecida de ofício pelo juiz”.
Mesmo que não haja pedido, o juiz pode apreciar a objeção. 
Art. 95 - Poderão ser opostas as exceções de: 
I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.
Perg: Todas as matérias elencadas podem ser conhecidas de ofício pelo juiz? Ou será que ele precisa ser provocado?
“O CPP usa a expressão exceção de maneira equivocada, pois todas as ‘exceções’ podem ser conhecidas de ofício pelo juiz.”
Tecnicamente, a utilização da palavra exceção aí estaria equivocada, porque, na medida em que podem ser conhecidas de ofício pelo juiz, o ideal seria usar a expressão ‘objeção’. 
1.3 – Modalidades de Exceções
- Exceções dilatórias
- Exceções peremptórias
1.3.1 – Exceções Dilatórias
Dilatória é aquela exceção que busca a simples procrastinação do processo, ou seja, vai enrolar o processo, vai ganhar um tempo no processo. 
Perg: O tempo no processo penal é bom ou ruim para aquele que está sendo processado? Depende, o acusado está preso ou está solto? Quando você está solto, o tempo é o seu maior aliado porque favorece a prescrição. Mas, para quem está preso, o tempo é inimigo. 
Quais são, então, as exceções que provocam a procrastinação do processo? 
Exceção de suspeição:Sempre que se fala da suspeição, vamos trabalhar junto com a exceção de impedimento e também com a exceção de incompatibilidade. Leia-se, reconhecida a suspeição do juiz, vamos remeter os autos ao substituto legal. 
Exceção de incompetência do juízo: A partir do momento que for reconhecida a incompetência do juízo, os autos serão remetidos ao substituto legal. 
Ilegitimidade da parte: Há discussão na doutrina. Alguns doutrinadores entendem que a exceção de ilegitimidade seria dilatória, outros entendem que seria peremptória. LFG, Pacelli, Nestor Távora vão colocar a exceção de ilegitimidade como dilatória.
1.3.2 - Exceções Peremptórias
As exceções peremptórias vão provocar a extinção do processo. Por isso, são mais raras. 
Exceção de litispendência:Reconhecida a litispendência, o processo instaurado em segundo lugar será extinto.
Exceção de coisa julgada: Reconhecida a coisa julgada, o processo será extinto.
Exceção de ilegitimidade de parte- Segundo alguns doutrinadores (Mirabete e de Fernando Capez) seria peremptória.
Ex: MP oferece denúncia em um crime de ação penal privada. O juiz, reconhecendo a sua ilegitimidade, vai gerar a procrastinação do processo ou sua extinção? Para os autores ocorrerá a extinção, a não ser que você obrigue o ofendido a ingressar em juízo, o que fere o princípio da oportunidade.
1.4 - Algumas regras referentes às Exceções: 
a) As exceções são processadas em autos apartados;
b) As exceções não são dotadas de efeito suspensivo;
c) A exceção é decidida por um juiz de primeira instância.
Comentários:
Se a parte não entrar com a exceção e abordar o assunto dentro das alegações finais ou dentro da resposta à acusação. Impede que o juiz aprecie o pedido? 
Cuidado! Usar a exceção é mera formalidade. Se o juiz pode conhecer de ofício, tanto faz se você colocou numa exceção ou se colocou numa preliminar. Isso é simples formalidade que não deve, de forma alguma, prejudicar o conhecimento do que foi alegado. Basta lembrar doprincípio da instrumentalidade das formas. O importante é o juiz tomar conhecimento!
Em regra, as exceções não são dotadas de efeito suspensivo.
Cuidado! Tem uma que tem efeito suspensivo, desde que a parte contrária reconheça, que é a exceção de suspeição. Devido aos efeitos produzidos caso seja julgada procedente, é dotada de efeito suspensivo. 
Art. 111 - As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da ação penal.
Art. 102 - Quando a parte contrária reconhecer a procedência da arguição, poderá ser sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da suspeição.
Quem decide, geralmente, são os juízes de primeira instância.
Cuidado! No caso da exceção de suspeição, quem vai decidir é o tribunal. A não ser que ele reconheça. Mas se não concordar, ele é obrigado a remeter ao tribunal para que dê a palavra final.
2 - EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO
Obs: Em regra, as hipóteses de suspeição referem-se a uma relação externa ao processo.
Art. 254 - O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
Perg: Um juiz suspeito praticou um ato decisório e depois foi declarada a suspeição dele. Qual é a consequência do reconhecimento da suspeição?
Sem dúvida alguma, é uma nulidade absoluta. Exceção de suspeição julgada procedente resultará no reconhecimento de uma nulidade absoluta. 
Art. 564 - A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: 
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
- IMPEDIMENTO
Em regra, as hipóteses de impedimento referem-se a uma relação interna com o processo.
Art. 252 - O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Perg: Qual a consequência de uma decisão proferida por juiz impedido? Aqui, há divergência. A doutrina entende que o vício é tão grave que geraria a inexistência do ato processual. Um ato inexistente. Para a jurisprudência, também nas hipóteses de impedimento haveria a nulidade absoluta. 
2.1 – Procedimento: 
2.1.1 - Reconhecimento de ofício pelo juiz:
É o ideal. Os autos serão remetidos ao substituto legal e, além disso, contra essa decisão, não cabe recurso. 
Perg: O que acontece se o juiz se declara suspeito por razões de foro íntimo? O que o substituto legal pode fazer? 
Não tem recurso previsto em lei para você questionar isso, mas pode“solicitar ao juiz a remessa da decisão à corregedoria, ao Conselho Superior da Magistratura e ao Conselho Nacional de Justiça”.
RESOLUÇÃO Nº 82 CNJ, de 09 de junho de 2009 - Regulamenta as declarações de suspeição por foro íntimo.
Art. 1º. No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de primeiro grau fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado,imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria local ou a órgão diverso designado pelo seu Tribunal.
Art. 2º. No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de segundo grau fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado, imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria Nacional de Justiça.
Art. 3º. O órgão destinatário das informações manterá as razões em pasta própria, de forma a que o sigilo seja preservado, sem prejuízo do acesso às afirmações para fins correcionais.
Art. 4º. Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação. Ministro GILMAR MENDES
2.1.2 - Exceção arguida pela parte.
A exceção de suspeição, impedimento ou incompatibilidade sempre deve ser feita por escrito. (está imputando ao juiz uma conduta muito grave).
Obs:As demais exceções podem ser feitas de forma oral ou por escrito.A única que só pode ser feita por escrito é a exceção de suspeição. Além disso, essa petição deve ser assinada pela parte ou deve ser assinada por advogado com procuração com poderes especiais (art. 98 do CPP). 
Art. 98.  Quando qualquer das partes pretender recusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada por ela própria ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas
O procedimento é o seguinte:
 Encaminhada a petição ao juiz, verificamos duas possibilidades:
- O juiz acolhe a exceção de suspeição – imediatamente os autos serão remetidos ao juiz substituto. Contra essa decisão que acolhe a exceção de suspeição, não há previsão legal de recurso. (art. 99 CPP).
Art. 99.  Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto.
- O juiz não acolhe a exceção de suspeição – se o juiz não acolhe, ele vai apresentar uma resposta, juntando documentos, se possível, e os autos serão remetidos ao tribunal, a quem cabe decidir a exceção de suspeição.
Art. 100 - Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará sua resposta dentro em 3 (três) dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em 24 (vinte e quatro) horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.
§ 1º - Reconhecida, preliminarmente, a relevância da arguição, o juiz ou tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais alegações.
§ 2º - Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou relator a rejeitará liminarmente(se você vir que não há nada de plausível, já pode rejeitar liminarmente a suspeição).
2.2 - Momento para a arguição:
Deve se dar na primeira oportunidade que a parte tiver de se manifestar no processo.
Acusação: apresentada junto com a inicial acusatória (denúncia ou com a queixa).
Defesa: É no momento da resposta à acusação (art. 396-A). A resposta à acusação é apresentada depois da citação.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
§ 1ºA exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.
§ 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.
Perg: A arguição não é feita nesse momento. Pode ser feita depois? 
Tratando-se de exceção de suspeição, caso não seja oferecida no momento oportuno, presume-se que teria havido uma aceitação do juiz, impedindo posterior arguição.
Cuidado! Importante que seja arguida de forma oportuna. Mas, a depender do caso concreto, não tem como negar que essa suspeição acaba prejudicando. Então, por mais que a doutrina diga que a suspeição deva ser arguida de maneira oportuna, sob pena de preclusão, você vai suscitar a garantia do devido processo legal e a garantia da imparcialidade do juiz. 
Então a melhor resposta seria: Mesmo que não arguida no momento oportuno, a suspeição do magistrado está ligada ao devido processo legal e à garantia da imparcialidade do juiz. Se o devido processo legal foi violado, eu posso questionar isso até quando? Até o trânsito em julgado. Ou seja, você pode arguir isso posteriormente, mesmo que você não tenha feito no momento oportuno. 
Obs:Excepto: pessoa em face de quem se alega uma exceção.
Excipiente: Quem alega a exceção.
Podem ser exceptos: os magistrados (art. 98); os membros do MP (art. 104), os peritos intérpretes, funcionários da justiça e serventuários (art. 105) e os jurados (art. 448 e 449).
O delegado nunca assume a condição de excepto (art. 107). Caso o delegado não se afaste pode o indiciado utilizar do art. 5º, §2º CPP, por analogia (recurso ao chefe de polícia).
Art. 107.  Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal
3 - EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
Também é conhecida como declinatoriafori.
Primeiramente iremos tratar da competência absoluta e a competência relativa:
3.1 - A competência absoluta é sempre hipótese de competência fixada com base no interesse público, então, não admite modificações (competência improrrogável).
3.2 - A competência relativa (territorial) é sempre fixada com base no interesse das partes. É prorrogável, leia-se o juiz que, em tese não seria competente pode acabar se tornando competente.
Os critérios para identificar o Juiz Natural (fixar competência) estão no art. 69 do CPP:
Art. 69.  Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
        II - o domicílio ou residência do réu;
        III - a natureza da infração;
        IV - a distribuição;
        V - a conexão ou continência;
        VI - a prevenção;
        VII - a prerrogativa de função.
Três Critérios são preponderantes e podemos elencar em ordem de preferência: 
- Prerrogativa de função ou “ratione personae” (competência em decorrência do cargo ou função exercida pelo agente);
- Natureza da infração ou “ratione materiae” (competência em decorrência da natureza do crime praticado);
- Lugar da infração ou “ratione loci” (competência em decorrência do local onde o crime foi praticado).
Obs: Os demais critérios (o domicílio ou residência do réu; a distribuição; a conexão ou continência e a prevenção) são auxiliares ou subsidiários.
Obs2: Dos critérios preponderantes o único critério prorrogável é a competência em razão do lugar gerando, portanto, nulidade relativa.
Questionário
Perg: A conexão e a continência são capazes de alterar qual das competências? Exemplo: crime de roubo praticado em SP e a receptação em Santos. Por força da conexão probatória eu reúno os dois processos num único juízo. No caso, como o roubo é mais grave, eu reúno em SP. Se a absoluta não admite modificação, é óbvio que só vão incidir na incompetência relativa. 
Ex: um crime militar conexo a um crime eleitoral, por mais que haja conexão, eu não posso reunir porque as duas competências são absolutas (em razão da matéria).
Perg:Violada uma regra de competência absoluta, qual a consequência? 
Ex: Eu fui condenado por um juiz absolutamente incompetente. Dez anos de prisão. Condenou, transitou em julgado, ele vai expedir um mandado de prisão. Esse mandado de prisão expedido por juiz absolutamente incompetente vai ser cumprido? 
Cuidado! A nulidade, enquanto não for reconhecida, o ato produz seus efeitos. Enquanto nenhum tribunal cassar a decisão desse juiz, a decisão é válida, o mandado de prisão vai ser cumprido, o ato processual é apto a produzir seus efeitos regulares.Trata-se do princípio da eficácia dos atos processuais.
Perg: No caso de uma nulidade absoluta, seráque eu posso ser processado novamente? Uma sentença absolutória ou extintiva da punibilidade proferida por um juiz absolutamente incompetente. Vai produzir efeitos? Será que eu posso ser processado novamente perante o juízo competente? 
A sentença absolutória, declaratória extintiva da punibilidade, ainda que proferida com vício de incompetência é capaz de transitar em julgado e produzir seus efeitos, impedindo que o acusado seja novamente processado pela mesma imputação perante a justiça competente. Estamos diante do princípio do ne bis in idem.
Obs: Convenção Americana de Direitos Humanos, se você já foi processado foi absolvido, acabou o assunto! Pouco interessa que tenha sido por um juiz incompetente em razão da matéria. Não existe revisão criminal em favor da sociedade. 
Quanto a uma sentença condenatória verificamos que oprejuízo é presumido, pois estamos diante da violação de uma regra constitucional (princípio do juiz natural). A violação de uma regra constitucional não é mera irregularidade. No caso de incompetência absoluta, pode ser arguida a qualquer momento, mesmo após o trânsito em julgado. 
O acusado vai ter dois instrumentos:
- Revisão Criminal
- Habeas Corpus (pressupõe algum risco à liberdade de locomoção. Se ele já tiver cumprido pena e quiser uma indenização, aí não teria por quê).
Perg: Esse habeas corpuspleiteando o reconhecimento de incompetência absoluta pode ser impetrado pelo Ministério Público?
O Ministério Público é defensor do regime democrático, da ordem jurídica dos interesses individuais indisponíveis, então, fui condenado e estou preso por ordem de um juiz absolutamente incompetente, o MP pode impetrar um HC em meu benefício.
Perg: O acusado encontra-se solto e está sendo processado na Justiça Estadual por um crime Federal. O MP pode impetrar o HC?
Cuidado! Legitimidade o MP tem, mas até que ponto esse HC atende aos interesses do acusado? Tal incompetência pode ser arguida a qualquer momento de forma que o acusado não gostaria que essa incompetência fosse apreciada nesse momento. O acusado, nesse caso, não tem pressa na análise dessa incompetência porque quanto mais o tempo passa para ele na justiça incompetente, melhor porque ele sabe que amanhã ele consegue anular por revisão criminal, por HC. 
Para a resposta verificamos duas correntes:
1ª Corrente:	Como o MP é o defensor da ordem jurídica e dos interesses individuais indisponíveis pode, sim, impetrar habeas corpus.STF – HC 90.305.
Aqui não se discute que o MP tem legitimidade para impetrar HC. É óbvio que pode. Se discute é se pode impetrar HC pleiteando a incompetência absoluta e aí nos parece correta a segunda corrente.
2ª Corrente:	Não se nega que o MP tenha legitimidade, porém, deve ser analisada a presença de interesse de agir em favor da liberdade de locomoção do acusado. STF – HC 91.510.
Incompetência relativa, saiba que isso é passível de produzir, no máximo, uma nulidade relativa. E quanto à nulidade relativa, o prejuízo deve ser comprovado. 
	Além do prejuízo precisar ser comprovado, você tem que se lembrar que a nulidade relativa deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão. E, lembrando, no caso da incompetência relativa, qual seria o momento para a sua arguição? É o momento da resposta à acusação, como já falamos. Isso no art. 396-A. 
Perg:Sobre essa incompetência absoluta e relativa: qual delas pode ser declarada de ofício pelo juiz? Até qual momento? Qual a consequência do reconhecimento de uma nulidade absoluta e de nulidade relativa em caso de incompetência? 
A incompetência absoluta, bem como, a relativa podem ser declaradas de ofício pelo juiz. Cuidado porque sempre prevaleceu o entendimento de que a incompetência relativa poderia ser declarada até o momento da sentença. Acabou sofrendo uma alteração a partir da inserção de um princípio no processo penal, que é o princípio da identidade física do juiz e que diz que o juiz que presidiu a instrução é que deve sentenciar. Ou seja, se esse juiz deixar para declarar sua incompetência somente no momento da sentença, ou seja, após realizar a instrução e remeter os autos para o outro juiz, esse juiz é obrigado a renovar a instrução. Por isso, alguns doutrinadores já estão dizendo que, de ofício, é até que momento? Apenas até o início da instrução processual. Esse entendimento foi alterado por conta da inserção desse princípio. Então, hoje, a incompetência relativa deve ser declarada até o início da instrução do processo.
	A incompetência absoluta, não há a menor dúvida, pode ser declarada até o momento da sentença. 
Perg: E em grau recursal, a incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício? 
Lembrar da súmula 160, do STF. 
STF Súmula nº 160 - 13/12/1963 - É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
	Mesmo nas hipóteses de incompetência absoluta, ela não pode ser conhecida de ofício pelo tribunal, a não ser nas hipóteses de recurso de ofício. Então:
	“Caso haja recurso de ofício, podem ser conhecidas pelo tribunal. Porém, se não houver recurso de ofício, não é dado ao tribunal reconhecer de ofício incompetência absoluta nem relativa (STF: HC 80.263).”
	No tribunal, em grau de apelação, já entra a questão do efeito devolutivo. Se esse conhecimento não foi devolvido, o tribunal não pode adentrar. E isso está ligado ao princípio da non reformatio in pejus. Esse princípio consiste basicamente no seguinte: “em recurso exclusivo da defesa, não se admite o agravamento da situação do acusado.” 
O tribunal não pode ampliar o seu conhecimento sob pena de violar o efeito devolutivo e esse princípio. Se somente o acusado apela, o tribunal não pode piorar a situação do mesmo. Ou melhora ou deixa na mesma. A não ser que a acusação apele ou haja recurso de ofício. 
Perg: O que eu faço com o processo no caso de uma incompetência absoluta e no caso de uma incompetência relativa?
Art. 567 - A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Perg: Uma vez reconhecida a incompetência absoluta, o que vai ser anulado? Uma vez reconhecida a incompetência relativa, o que vai ser anulado?
- Para a Doutrina:
Incompetência absoluta - produz a nulidade dos atos decisórios e também dos atos instrutórios.
Incompetência relativa (art. 567) vai anular somente os atos decisórios. 
Obs: modificação por conta doprincípio da identidade física do juiz. Se o juiz que sentencia é aquele que deve ter acompanhado os atos da instrução, como é que ele pode aproveitar atos praticados por um juiz incompetente? Então, eu tenho que entender que a partir desse princípio, os atos instrutórios também deverão ser anulados.
- Jurisprudência – “Sempre entendeu que somente os atos decisórios seriam anulados. Porém, a partir do HC 83.006, o Supremo passou a admitir a possibilidade de ratificação pelo juízo competente, inclusive quanto aos atos decisórios.”
3.3 - Recebimento da denúncia ou queixa por juízo incompetente
Perg:	Qual a consequência? Será considerado válido o recebimento da denúncia por juiz incompetente? Qual a grande relevância que o recebimento da denúncia tem? Interrupção da prescrição. Recebimento da denúncia por juiz incompetente interrompe a prescrição? 
Cuidado com isso! O Supremo entende que o recebimento da denúncia pode ser ratificado pelo juízo competente. O Supremo tem entendido que os atos decisórios podem ser ratificados pelo juízo competente. Mas quando é que a prescrição vai ser interrompida? Por mais que o ato do recebimento possa ser ratificado, eu não posso emprestar validade a essa decisão dada por juiz incompetente. A interrupção da prescrição só vai se dar no momento da ratificação.
Causas interruptivas da prescrição (CP)
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: 
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; 
Perg: E no caso de uma queixa oferecida perante juiz incompetente? Como é que fica a decadência?Sabemos que a queixa tem prazo decadencial (6 meses). Com 5 meses e 29 dias apresento minha queixa perante o juiz incompetente. Chega para o outro juiz com sete meses. Ocorreu a decadência ou não? Cuidado para não confundir com recebimento! A decadência é a perda de um direito que não foi exercido. Por mais que eu tenha apresentado perante um juiz incompetente, eu exerci meu direito de queixa, não havendo que se falar em decadência.
	Então, ainda que oferecida a queixa-crime perante juízo incompetente, estará superada a decadência.
	Uma coisa é a prescrição, outra é a decadência. Ou seja, se eu ofereci a queixa, meu direito foi exercido.
Perg:Ângelo, MP estadual, ofereceu denúncia. O juiz estadual entende que o crime é de competência da Justiça Federal. O juiz remete os autos à Justiça Federal. Essa denúncia feita pelo Ângelo pode ser aproveitada na Justiça Federal? A pergunta é simples. O MPF é obrigado a oferecer uma nova denúncia? 
Quanto à denúncia, duas possibilidades: oferecimento de nova peça acusatória (isso é óbvio) e, o detalhe, é válida a ratificação da peça acusatória oferecida pelo outro órgão do MP.
	O Procurador da República que receber esses autos, pode oferecer nova denúncia ou pode ratificar. Mas, cuidado. É indispensável um dos dois. Sem nova denúncia e sem ratificação, aí não tem denúncia.
Obs: Em se tratando de órgãos pertencentes ao mesmo Ministério Público e de mesmo grau funcional, para a jurisprudência, a ratificação da peça acusatória não seria obrigatória, em virtude do princípio da unidade e da indivisibilidade. É um julgado do Supremo: STF: HC-85.137.
4 - EXCEÇÃO DE ILEGITIMIDADE
	Podemos abordar, tanto a ilegitimidade ad causam como também podemos abordar a ilegitimidade ad processum. 
	A ilegitimidade ad causam é uma condição da ação penal. Ex: MP oferecendo denúncia em um crime de ação penal privada. 
Perg: Qual é a consequência dessa ilegitimidade ad causam? Sem dúvida alguma, teremos aqui uma nulidade absoluta (art. 564, II do CPP). 
A ilegitimidade ad processum. Aqui, nos referimos a um pressuposto processual de existência da relação processual. Ex: Um menor de 18 anos oferecendo uma queixa-crime.
Apesar da gravidade desse vício, você tem aqui uma nulidade meramente relativa porque, na verdade, essa queixa oferecida pelo menor de 18 anos pode ser ratificada pelo seu representante legal. (art. 568 CPP).
O incidente processual é autuado em apartado e o juiz decide após a oitiva da parte contrária e do MP (art. 110 do CPP).
5 - EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA
“Litispendência é a situação de o acusado estar respondendo a dois processos penais condenatórios distintos pelo mesmo fato delituoso, independentemente da classificação que lhe seja atribuída.”
Veja bem o próprio nome ‘litispendência’ vem de lide, a pendência de duas lides. 
Perg: É correto usarmos a expressão lide no processo penal?” 
“Lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.”
Evite a utilização da expressão “lide” no processo penal. Prefira usar pretensão punitiva, pretensão acusatória. Por qual motivo?
“Porque não haveria um conflito de interesses no processo penal.”
	Ao MP não interessa, de modo algum, a condenação de um inocente. Então, não haveria propriamente conflito de interesses.
“No processo penal sempre deve ocorrer resistência por parte da defesa, mesmo que somente pelo advogado.”
Mesmo que o acusado confesse, aceite formalmente a imputação, ele ainda precisa ser defendido.
A exceção de litispendência está ligada ao princípio do “ne bis in idem”. Aqui no processo penal, o que nos diz o princípio do nebis in idem?“De acordo com o princípio do ne bis in idem, ninguém pode responder duas vezes pelo mesmo fato delituoso.” 
Obs: Esse princípio não consta expressamente da Constituição, do Código de Processo Penal, mas consta da Convenção Americana de Direitos Humanos (Decreto 678/92) no seu art. 8º:
Artigo 8º - Garantias judiciais
[...]
4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
	Esse princípio do nebis in idem está ligado à imputação. Então, se determinada conduta já foi imputada a mim no processo, ela não pode ser imputada novamente em outro processo. A classificação pouco nos interessa. Se, por exemplo, numa denúncia, um promotor de justiça classificou minha conduta como furto e na outra denúncia outro promotor classificou como apropriação indébita, não tem problema algum. Se você perceber que a conduta que me está sendo imputada nos dois processos é idêntica, nebis in idem, você vai trancar o segundo processo.
5.1 - Identidade de ações no processo penal?
Perg: Quando haverá Identidade de ações no processo penal?
Olhando para o Código de Processo Civil e, obviamente, de maneira simplificada, ele vai dizer:
- Mesmo pedido
- Mesmas partes
- Mesma causa de pedir
	No processo penal, verificamos que esses três elementos não são necessários.
- Pedido:“Quanto ao pedido, no processo penal, será sempre um pedido genérico de condenação”.
Ex: Promotor pede aplicação da pena de morte. O que o juiz faz? Ele vai rejeitar a peça acusatória? Não vai rejeitar. O pedido no processo penal é de todo irrelevante. O juiz não fica vinculado ao que foi imputado. Então, a preocupação são os fatos e não o pedido. Então, se o pedido no processo penal é sempre um pedido genérico de condenação, é fácil concluir que o pedido não se presta como elementos para identificar dois processos.
- Partes:“Quanto à identidade de partes no processo penal, esse critério não se presta para identificar dois processos”.
Ex:Ação penal privada subsidiária da pública. Vem o MP e oferece a denúncia. Imagine outro caso, ali relacionado, com mesmo fato delituoso, com a mesma imputação, tramitando em outra vara, por conta de um outro inquérito e neste caso o ofendido, diante da inércia do MP, oferece uma queixa subsidiária.Então, de um lado, você tem o MP como parte ocupando o polo ativo e no outro processo você tem o ofendido ali com a queixa subsidiária. As partes são diferentes. Haveria litispendência? É óbvio que sim, se o fato delituoso imputado for o mesmo. Então, partes não são elementos úteis para identificar duas ações. 
- Imputação:“Imputar significa atribuir a alguém a prática de determinado fato delituoso”.
Ao invés de usarmos causa de pedir, prevalece o termo ‘mesma imputação’.
Ex: cidadão tenta matar a sua esposa, que fica em estado vegetativo e é processado pelo crime de tentativa de homicídio. Processado pela tentativa, ele acaba sendo absolvido. Por conta dessa absolvição, ele fica tranquilo, vai lá e desliga os aparelhos, produzindo a morte da esposa entendendo que como já foi processado não se pode falar em novo processo. Veja, a partir do momento em que ele vai lá e desliga os aparelhos, ele pratica uma nova conduta. Então, num eventual segundo processo, será essa conduta que vai ser atribuída a ele. Então, num exemplo desse, não se pode falar em litispendência e não se pode falar, também, em coisa julgada. Agora, vejam, se ele tivesse sido absolvido pela tentativa de homicídio e alguns anos depois essa mulher viesse a óbito sem que ele praticasse nova conduta, aí não teria jeito. Ele não poderia ser processado de novo. 
Perg: A partir de qual momento se pode falar em litispendência? 
Não há litispendência entre o inquérito policial e o processo penal. Eu só posso falar em litispendência a partir do momento em que há citação válida no segundo processo.
6 - EXCEÇÃO DE COISA JULGADA
Coisa julgada é a decisão jurisdicional da qual não cabe mais recurso, tornando-se imutável.
Perg: Quando vamos ter coisa julgada?
Ou porque você deixou de recorrer. Muitas vezes, o acusado não tem interesse em recorrer e aí entra aquela discussão sobre qual a vontade prevalece. Se do acusado, que não quer recorrer ou a vontade do defensor que quer recorrer? Hoje, é quase que tranquilo esse raciocínio: como no processo penal vigora o princípio da não reformatio in pejusa vontade que deve prevaleceré a de quem tem interesse em recorrer. Então, havendo divergência entre o advogado e seu cliente, a vontade de quem quiser recorrer, prevalece. Por isso é que aqui no processo penal pode ter casos em que o acusado renuncie ao interesse, mas mesmo assim, o advogado vai recorrer.
Perg: Então, quando teremos coisa julgada? Das duas uma:
- A parte não recorreu.
- Os recursos foram esgotados.
Perg: A coisa julgada está ligada ao princípio básico da segurança jurídica. Será que essa proteção da coisa julgada teria caráter absoluto ou teria caráter relativo no processo penal? 
A imutabilidade da sentença condenatória e absolutória imprópria não é absoluta, na medida em que se admite a revisão criminal e o habeas corpus, mesmo após o trânsito em julgado. Diante desses dois instrumentos, a coisa julgada acaba tendo um caráter relativo. 
Perg: Diante de qual sentença a coisa julgada terá caráter relativo? 
Tem que ser uma sentença condenatória ou absolutória imprópria. Se você falar de uma sentença absolutória, aí o caráter é absoluto porque não há como o acusado ser processado novamente.
6.1 - Coisa julgada formal vs. coisa julgada material
- Coisa julgada formal:“Coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão no processo em que foi proferida”.
Ex: O arquivamento por falta de provas. Ou seja, mantido o quadro probatório, aquela decisão será mantida. Alterado o contexto probatório, você pode oferecer denúncia, pode fazer o desarquivamento. Se hoje eu não tenho elementos, mas amanhã eles surgirem, ofereço a denúncia. Outro exemplo de coisa julgada formal seria o caso da impronúncia (art. 414, do CPP):
Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.
Claramente, o § único está nos dizendo que a decisão de impronúncia só faz coisa julgada formal.
 - Coisa julgada material: A coisa julgada material pressupõe a coisa julgada formal. “A imutabilidade da decisão projeta-se para fora do processo.” 
Essa coisa julgada o acusado jamais voltará a ser processado, dentro ou fora desse processo. Exemplo de decisão que vai fazer coisa julgada formal e material é o caso da absolvição sumária (hipóteses de absolvição sumária no art. 397 do CPP):
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Alterado pela L-011.719-2008)
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Acrescentado pela L-011.719-2008)
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente.
Nessas quatro hipóteses, fará coisa julgada formal e material o que justifica o motivo do juiz não usar muito essa absolvição.
6.2 - Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada
Limites Objetivos:“Os limites objetivos da coisa julgada dizem respeito ao fato natural imputado ao acusado, pouco importando a qualificação que lhe seja atribuída”.
Perg: Ângelo foi processado como autor de um homicídio e foi absolvido. Pode ser processado pela participação nesse mesmo crime? 
Se pensarmos no resultado chegaríamos a conclusão que Ângelo estaria protegido pela coisa julgada, já que é o mesmo homicídio, a mesma pessoa que morreu, o mesmo resultado e se ele já foi processado e absolvido, estaria protegido pela coisa julgada. Porém, não podemos noaspreocupar com o resultado. Devemos nos preocupar com a conduta que está sendo atribuída ao acusado, ou seja, uma coisa é ser processado pela autoria de um delito e outra coisa é ser processado pela participação. Então, se ao final do processo, o juiz percebe que Ângelo não foi o autor dos disparosirá absolve-lo. Por outro lado, apesar de não ter sido Ângelo o autor dos disparos, pode ser que amanhã se descubra que ele emprestou a arma, que ele comprou o veneno, que ele contratou o executor para que efetuasse os disparos. Nesse caso, a conduta vai ser diferente e, portanto, pode ser atribuída a ele, não havendo que se falar em coisa julgada.
Limites Subjetivos:Os limites subjetivos da coisa julgada dizem respeito ao imputado ou imputados.
Obs: Analisando o tribunal do júri o ideal é que você julgue todos os acusados num julgamento único? Exatamente por isso: para que não haja decisões contraditórias. Antes da reforma, era razoavelmente fácil conseguir a separação dos julgamentos. Se você tivesse 3 advogados, se entrassem num acordo, fatalmente conseguiriam separar os julgamentos. Essa separação de processos, na prática, era extremamente complicada. Como você vai ter julgamentos com jurados totalmente diferentes (porque o jurado que participou no outro, não pode participar no seguinte), você pode acabar tendo decisões contraditórias. E foi o que aconteceu, por exemplo, no caso da Dorothy Stang, em que você tem a situação em que existe um executor, mas o mandante foi absolvido (primeiro júri). Então, para evitar essas situações é que o Código restringiu essa separação. 
Perg: Um acusado foi absolvido num outro processo. Essa decisão no outro processo pode lhe beneficiar? 
“A decisão absolutória em relação a um dos autores do crime não faz coisa julgada em relação aos demais, salvo se fundada em razões de natureza objetiva.”
Ou seja, teoricamente, se houve a separação e um acusado foi absolvido, aquela absolvição, de modo algum, vai beneficiar ou prejudicar o outro acusado. Agora cuidado quando essa decisão se baseia em critérios objetivos. Então, por exemplo, duas pessoas estão sendo acusadas, um deles entra com HC perante o tribunal dizendo que a conduta é insignificante, porque o furto foi de uma lata de leite, e o tribunal manda trancar. Como essa decisão se baseou em critério de natureza objetiva, essa decisão vai beneficiar o coacusado. O CPP contempla essa possibilidade de extensão dos efeitos no seu art. 580:
Art. 580 - No caso de concurso de agentes (Código Penal, Art. 29 - reforma penal 1984), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.
Obs: Concurso formal.
Perg: Acidente de trânsito. Fulano perde o controle e causa uma lesão corporal e um homicídio. Vai responder pelos dois crimes em concurso formal e foi processado por apenas um dos crimes. Essa decisão que vai ser dada faz coisa julgada em relação ao outro crime? Dependendo da decisão, imaginemos que o juiz prolate uma decisão absolutória reconhecendo a inexistência da ação como é que eu poderia ser processado amanhã? 
Veja que se amanhã eu sou processado, você seria obrigado a reconhecer que aquela ação não existiu, então não poderia ser processado de novo. Então, no concurso formal (art 70 - mediante uma única ação ou omissão, o agente pratica dois ou mais crimes), a decisão a respeito de um dos fatos delituosos, não faz coisa julgada em relação aos demais, salvo na hipótese de sentença absolutória que reconheça a inexistência da ação ou da omissão.
Obs 2: Crime Continuado
Perg: Fulano está sendo processado em 5 crimes de furto em continuidade delitiva. Os policiais se vestiram de mendigos e ficaram durante um tempo de vigilantes. Filmaram tudo e terminaram com uma megaoperação. Depois que fulano é processado, descobre-se que alguns crimes ficaram faltando nessa série. Novas vítimas acabam aparecendo depois. Será que a pessoa pode ser processada de novo? 
Sim. A pessoa pode ser processada de novo pelos novos crimes nessa série de continuidade. Lembre-se que, neste caso, de crime continuado, vai ser dar a unificação das penas pelo juiz da execução. Então, caso a primeira série de continuidade delitiva já tenha sido julgada, nada impede que o acusado seja novamente processado por outra série, com posteriorunificação de penas pelo juízo da execução (estelionato contra a previdência social).
Obs 3: Crime Habitual e Crime Permanente
Perg: Marcola, Chefe do PCC, está preso. Ele já deve ter sido processado por várias imputações e, dentre elas, pelo crime de quadrilha. Posso processá-lo, de novo, pelo crime de quadrilha? 
Se a coisa julgada está limitada àquilo que foi imputado a você, se depois do oferecimento da denúncia você mantém a prática daquele crime permanente ou daquele crime habitual, pode ser novamente processado sem problema algum porque, nessa segunda imputação, ela será diferente. Então, a coisa julgada refere-se apenas aos fatos ocorridos até o oferecimento da peça acusatória, pois é neste momento que a imputação é delimitada; portanto, os fatos posteriores podem ser objeto de um novo processo.
Material utilizado:
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19 ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 10 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de processo penal. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal. 5 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 18 ed., São Paulo: Atlas, 2014. 
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 20 ed., São Paulo: Atlas, 2012.
TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7 ed., Salvador: Jus Podivm, 2012.

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