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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Prof. Marco Aurélio Peixoto Ponto 4 RECURSOS EXCEPCIONAIS PARA O STJ E O STF Admissibilidade. Requisitos Específicos. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário. Julgamento por amostragem. Agravo em Recurso Extraordinário e Especial. Embargos de Divergência. 1. Admissibilidade e requisitos Dentre as funções atribuídas aos tribunais superiores por meio do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial, podemos destacar: a) conferir unidade e coerência ao Direito; b) interpretar a CF e a legislação infraconstitucional; c) formar precedentes, isto é, resolver o caso também em busca da definição de uma justificação normativa que tenha a pretensão de universalidade (aplicável aos casos sucessivos semelhantes). O prazo para a interposição de ambos os recursos é de 15 dias, contados em dias úteis. Há a necessidade do prévio esgotamento das instâncias ordinárias. O prequestionamento sofreu algumas inovações, dentre as quais: a) o voto vencido é parte integrante do acórdão; b) os embargos declaratórios para fins de prequestionamento, ainda que inadmitidos ou rejeitados, consideram-se incluídos no acórdão os elementos que embargante pleiteou, se o tribunal superior considerar existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade. Continua vedado o reexame de provas, ou seja, o recorrente tem que partir da narrativa fática estabelecida pela decisão recorrida. O cabimento tem que ser demonstrado em preliminar. Há uma novidade, qual seja, o cabimento de recurso extraordinário contra decisão de mérito dos tribunais referente ao IRDR, nos termos do art. 987. Não são mais cabíveis RE e REsp retidos. Continua sendo cabível RE e REsp adesivos, sem mudanças. 2 Quando houver dissídio jurisprudencial, que autoriza a interposição do recurso especial com base no art. 105, III, “c”, deve haver a exposição analítica da divergência, identificando-se semelhanças e diferenças. Inovação importante do CPC2015, é a questão da desconsideração e da correção de vício formal. Aplica-se, a princípio, a regra geral do art. 932, parágrafo único. Ademais, é de se considerar o art. 1.029, §3º, que cuida da colaboração e primazia do mérito recursal: vício formal (não grave) de recurso tempestivo. Quanto ao juízo de admissibilidade, o CPC/2015 havia previsto, em sua redação original, que este, a exemplo da apelação, dar-se-ia somente no juízo ad quem, mas a Lei n.º 13.256/2016, editada pouco antes do início da vigência do CPC/2015, restabeleceu a admissibilidade na origem. Assim, como prevê o art. 1030, recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, intimação do recorrido para contrarrazões (15 dias). Far-se- á então conclusão ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: I – negar seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral; b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repetitivos; II - encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos; III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional; IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036; V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos; b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. Da decisão 3 proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021. Quanto aos efeitos, a regra é o recebimento tão somente no efeito devolutivo. Excepcionalmente, pode-se atribuir efeito suspensivo, mas não se ingressando com ação cautelar, como se fazia na vigência do CPC anterior. O pedido, portanto, deve se dar da seguinte forma, conforme prevê o art. 1029, §5º: I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo; II - ao relator, se já distribuído o recurso; III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. Se houver interposição conjunta, remessa ao STJ em primeiro lugar; concluído o julgamento, remessa ao STF, se RE não estiver prejudicado. Caso o relator do REsp considere o RE prejudicial, sobrestará julgamento e remete ao STF, em decisão irrecorrível. O relator do RE pode rejeitar a prejudicialidade e devolver ao STJ, também em decisão irrecorrível e sem conflito de competência. O CPC/2015 estabeleceu ainda um livre trânsito entre o STF e o STJ, nos arts. 1032 e 1033. Assim, se o REsp versar sobre questão constitucional, o Relator do RESP concede 15 dias para que recorrente demonstre repercussão geral e se manifeste sobre a questão, advertindo que a não adequação levará ao não conhecimento. Remetidos os autos ao STF, o relator pode, na admissibilidade, devolver ao STJ. No caso do RE, processo é remetido ao STJ, se considerar com reflexa ofensa à CF, sendo que STJ não pode devolver ao STF, embora possa inadmitir por falta de cabimento Admitido o recurso por um fundamento, devolve-se ao tribunal superior o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado. 2. Repercussão geral no Recurso Extraordinário O requisito da repercussão geral foi introduzido na Constituição Federal de 1988 desde a Emenda 45/2004. Deve-se demonstrar a existência ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo. 4 Haverá presunção de repercussão geral no acórdão: que contrariar súmula ou jurisprudência dominante do STF; que tenha reconhecido inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal. Há ainda presunção de repercussão geral da questão constitucional discutida no julgamento do IRDR (art. 987, §1º) Há a possibilidade de intervenção do amicus curiae e a sustentação oral na análise da repercussão geral. A competência para a verificação ou não da repercussão geral é do STF. Excepcionalmente, a partir do julgamento que decida pela inexistência da repercussão geral em RE repetitivo, o tribunal de origem pode declaração inadmissível o recurso. O quórum é de 2/3 para inadmitir o recurso por ausência de repercussão geral. Havendo 4 votos, há repercussãogeral e aprecia-se o mérito. Não atingido esse quórum, plenário tem de se manifestar. Reconhecida a repercussão geral, suspendem-se todos os processos pendentes que versem sobre a questão e tramitem no território nacional. Caso haja um recurso inutilmente sobrestado, o interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o RE interposto intempestivamente. O indeferimento comporta agravo interno. A decisão que nega gera eficácia para todos os recursos que versem sobre a questão; presidência do STF pode não conhecer liminarmente o recurso, indeferindo-o; se o presidente não fizer, o relator pode fazer. Cabe agravo. Sendo reconhecida a repercussão geral, o recurso deve ser julgado em 1 ano e terá preferência sobre os demais feitos (exceto réu preso e HC). 3. Julgamento por amostragem – RE e RESP repetitivos O requisito é que haja uma multiplicidade de RE ou REsp com fundamento em idêntica questão de direito. A escolha dos recursos representativos cabe ao presidente ou o vice do tribunal de origem, que selecionará 2 ou mais recursos e encaminhará ao STF ou STJ para fins de afetação, determinando a suspensão de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região. 5 A escolha não vincula o relator no tribunal superior. O próprio Relator pode selecionar os recursos, independentemente da iniciativa do tribunal de origem A escolha deve ser qualitativa, isto é, deve ser feita uma seleção de recursos admissíveis que contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão. Caso haja um recurso inutilmente sobrestado, aplica-se a mesma regra da repercussão geral, ou seja, o interessado pode requerer exclusão de recurso intempestivo. Dessa decisão cabe agravo interno. A decisão de afetação do relator no tribunal superior deve promover uma precisa identificação da questão a ser submetida a julgamento. Havendo a afetação, tem-se a suspensão dos processos pendentes que tramitem no território nacional. Caso não se dê a afetação, comunica-se ao tribunal de origem para revogação da suspensão. Afetado o recurso, tem-se um ano para o julgamento. A parte pode buscar demonstrar a distinção, a fim de que não se aplique o precedente a ser formado. Demonstrando distinção, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu processo, dirigido: ao juiz - processo sobrestado em primeiro grau; ao relator - processo sobrestado no tribunal de origem; ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado RE ou REsp no tribunal de origem; ao relator, no tribunal superior, de RE ou Resp cujo processamento houver sido sobrestado. A parte contrária deve ser ouvida em 5 dias. Da decisão que indeferir o requerimento caberá agravo de instrumento ou agravo interno. No julgamento de RE e RESP repetitivos, há a possibilidade de intervenção do amicus curiae, de realização de audiências públicas e de requisitar informações aos tribunais de origem sobre a controvérsia. Há também a intervenção do MP. O conteúdo do acórdão deve abranger análise dos fundamentos relevantes da tese jurídica discutida. Decididos os recursos afetados, órgãos colegiados declaram prejudicados os demais recursos ou os decidirão aplicando a tese firmada. Negada a repercussão geral no RE afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os RE sobrestados. Publicado o acórdão paradigma, o presidente ou vice do tribunal de origem nega seguimento aos RE e Resp sobrestados, se o acórdão recorrido 6 coincidir com a orientação do tribunal superior; o órgão que proferiu o acórdão recorrido reexaminará o processo ou recurso, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do tribunal superior; os processos suspensos retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior; se os recursos versarem sobre questão relativa a prestação de serviço público objeto de concessão, permissão ou autorização, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada. O CPC possibilita a desistência da ação no primeiro grau, antes de proferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso repetitivo. Caso a desistência se dê antes da contestação, haverá isenção de custas e honorários. Dita desistência independe de consentimento do réu, ainda que apresentada contestação. Mantido o acórdão divergente, o RE e Resp será remetido ao tribunal superior. Feita a retratação, com alteração do acórdão divergente, o tribunal de origem decidirá as demais questões ainda não decididas. 4. Agravo em Recurso Extraordinário e em Recurso Especial Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos. A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais, aplicando-se a ela o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação. As contrarrazões deverão ser apresentadas em 15 dias. Não havendo retratação, dá-se a remessa ao tribunal superior. O agravo pode ser julgado junto com o RE ou Resp, com sustentação oral. Se tiver havido a interposição conjunta, os agravos deverão ser individuais. Assim, remete-se primeiro ao STJ. Após o julgamento do agravo e do Resp, remete-se ao STF. 5. Embargos de Divergência 7 Os embargos de divergência constituem recurso que tem por objetivo a uniformização da jurisprudência interna do STF ou do STJ, eliminando assim aquilo que se chama de divergência intramuros. Cabe contra decisão de órgão fracionário que: a) em RE ou RESP, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos de mérito; b) em RE ou RESP, divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia. Cabem ainda que o acórdão paradigma seja da mesma turma que proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha se alterado em mais da metade. O prazo de interposição é de quinze dias, assim como o prazo para o oferecimento das contrarrazões. Observa-se o regimento interno do STJ e STF.
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