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ESCOLA PÚBLICA: MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA 
E O DIREITO À EDUCAÇÃO 
 
LUCIANA CAMURRA1 
TERESA KAZUKO TERUYA2 
 
RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada ao final da 
disciplina “Escola Pública e Pensamento Educacional na Contemporaneidade”, 
oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Educação - Linha de Pesquisa “Ensino, 
Aprendizagem e Formação de Professores”, na Universidade Estadual de Maringá. 
Nossa intenção é apresentar a relevância e atualidade das propostas contidas no 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932 e oferecer uma 
contribuição ao debate sobre o direito à educação garantida pelo Estado. Para isso, 
realizamos uma breve análise do Manifesto de 1932, focando suas propostas acerca do 
direito de todo indivíduo, à educação de qualidade O interesse e a relevância do 
aprofundamento dessa temática expressam não apenas um movimento de retorno às 
fontes, de refinamento da reflexão e da problematização em torno de um importante 
momento na história da educação brasileira, mas, sobretudo, revelam a riqueza desse 
legado. Os resultados nos mostram que as questões apontadas no manifesto, referentes 
ao direito de todos à educação de qualidade, continuam atuais, já que pouco do que é 
proposto, se efetuou até os dias de hoje. Entendemos que a reconstrução educacional 
proposta pelo manifesto somente será viável quando houver a implantação de um 
regime verdadeiramente democrático. 
 
Palavras-chaves: Escola Pública, Educação de qualidade e Manifesto de 1932. 
 
 
1
 Universidade Estadual de Maringá. Graduada em Psicologia e Pós-Graduanda em Educação (Stricto 
Sensu). E-mail: lcamurra@yahoo.com.br 
 
2
 Universidade Estadual de Maringá. Professora do Departamento de Teoria e Pratica da Educação e do 
Programa de Mestrado e Doutorado em Educação. E-mail: tkteruya@gmail.com 
 
 
Lançado em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação nova tem sido fonte 
de estudos historiográficos sobre educação, por ser de grande importância no âmbito de 
discussões acerca da escola pública no Brasil. Trata-se de um documento escrito por 26 
educadores, com o título “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova - A reconstrução 
educacional no Brasil: ao povo e ao governo”. Circulou em âmbito nacional com a 
finalidade de oferecer diretrizes para uma política de educação e representou 
simultaneamente, um plano de ação nacional em busca da estruturação de um sistema 
educacional e um documento de discussão e reflexão sobre o ambiente político e social 
dos anos de 1920 e 1930. 
Os objetivos do Manifesto eram traçar diretrizes de uma nova política nacional de 
educação e ensino em todos os níveis, aspectos e modalidades. O Manifesto representa 
uma síntese e uma tentativa de avanço sobre propostas novas de educação. A 
preocupação primordial girava em torno da concepção de vida e do ideal que se 
desejava alcançar, considerando, também, a clientela de educandos. 
Este documento vem sendo apontado, como um marco na história da educação 
brasileira. Consagrou a defesa formal da escola para todos e conferiu visibilidade às 
contradições do nosso processo de escolarização, estimulando o debate em torno da 
democratização do acesso à educação. 
 
O manifesto apresenta-se, pois, como um instrumento político [...]. Expressa 
a posição do grupo de educadores que se aglutinou na década de 20 e que 
vislumbrou na Revolução de 1930 a oportunidade de vir a exercer o controle 
da educação no país. O ensejo para isso se manifestou por ocasião da IV 
Conferência Nacional de Educação realizada em dezembro de 1931, quando 
Getúlio Vargas, chefe do governo provisório, presente na abertura dos 
trabalhos ao lado de Francisco Campos, que se encontrava à testa do recém-
criado Ministério da Educação e Saúde Pública, solicitou aos presentes que 
colaborassem na definição da política educacional do novo governo 
(SAVIANI, 2004, p. 34). 
 
Nota-se, nas palavras de Saviani, que a origem e destino do Manifesto dos 
Pioneiros foram de alcance nacional. Para o autor, “pode, pois, ser considerado um 
importante legado que nos é deixado pelo século XX” (SAVIANI, 2004, p. 35). O 
Manifesto é visto, até mesmo, como um “divisor de águas” na história da educação 
brasileira, na compreensão de Xavier (2002), já que “interferiu na periodização de nossa 
história educacional, estabelecendo novos marcos e fornecendo novas valorações a 
determinados princípios e idéias, e a certas realizações no campo educacional” 
(XAVIER, 2002, p. 71). 
 
O manifesto defende o Rompimento com a velha estrutura do serviço educacional, 
desprendendo-se dos interesses de classes, deixando de constituir privilégio 
determinado pela condição econômica e social do sujeito para se organizar para a 
coletividade. 
 A educação nova tem sua finalidade alargada para além dos limites das classes, 
assumindo feição mais humana, assumindo sua função social, no intuito de formar a 
“hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades” com oportunidades iguais 
de educação, com objetivo de organizar, desenvolver meios de ações com o fim de 
dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma de suas etapas 
de crescimento. 
Os pioneiros eram favoráveis a uma educação pública, gratuita, obrigatória, laica 
e mista. Isto quer dizer que o Estado deveria se responsabilizar pelo dever de educar o 
povo, responsabilidade esta que era, a princípio, atribuída à família. 
Conforme as palavras de Vale (2002, p. 24), o Manifesto dos Pioneiros é “rico 
em sugestões, firme em relação à necessidade de o país construir um ‘sistema unificado’ 
de ensino público capaz de oferecer ensino de qualidade a todos e de garantir aos 
educandos a possibilidade de ascensão a qualquer de seus níveis conforme a capacidade, 
aptidão e aspiração de cada um, independentemente da situação econômica do aluno. 
Neste sentido, podemos entender o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova como 
um proposta de “reconstrução social pela reconstrução educacional” (SAVIANI, 2004, 
p.33). 
A proposta central apresentada pelo Manifesto é a “construção de um amplo e 
abrangente sistema nacional de educação pública” (SAVIANI, 2004, p. 33), Pois os 
pioneiros afirmam que: 
 
[...] dissociadas sempre as reformas econômicas e educacionais, que era 
indispensável entrelaçar e encadear, dirigindo-as no mesmo sentido, todos os 
nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não 
lograram ainda criar um sistema de organização escolar, à altura das 
necessidades modernas e das necessidades do país. Tudo fragmentário e 
desarticulado (MANIFESTO, 1932, p.33). 
 
O Manifesto expressa uma visão moderna da educação, pela valorização da 
individualidade e da personalidade, buscando naturalizar um modelo de cidadão 
moderno, com uma personalidade individual e livre, reservando para a escola uma 
posição de neutralidade, frente às diferenças sociais 
 
Os Pioneiros alegam que os fins da educação deveriam ser definidos em função 
das mudanças econômicas e sociais. Assim, criticando a “educação tradicional” como 
verbalista e dirigida a uma classe social economicamente privilegiada, portanto presa 
aos interesses de classe, o Manifesto em contrapartida diz que: 
 
Desprendendo-se dos interesses de classes, a que ela tem servido, a 
educação [...] deixa de constituir um privilégio determinado pela condição 
econômica e social do indivíduo, para assumir um ‘caráter biológico’, com 
que ela se organiza para a coletividade em geral, reconhecendo a todo o 
indivíduo o direito a ser educado até onde o permitam as suas aptidões 
naturais, independente de razões de ordem econômica e social 
(MANIFESTO, 1932, p. 42). 
 
 
Muitos são os aspectos refletidos no Manifesto, os quais, ao todo, compõemum 
conjunto bastante coerente. Citamos aqui, e discutimos posteriormente, apenas àqueles 
de maior proximidade com as questões relacionadas ao direito de todo indivíduo, à 
educação, os quais são: o direito de cada indivíduo à educação integral, o princípio da 
escola para todos (escola comum ou única), o caráter biológico da educação, a 
gratuidade e obrigatoriedade que devem ser garantidas pelo estado e a unidade versus 
uniformidade educativa. 
 
O MANIFESTO DOS PIONEIROS E A ESCOLA PARA TODOS 
O fato de a sociedade brasileira ser organizada e estruturada por um modelo 
econômico capitalista, extremamente excludente, caracterizado por grande concentração 
de renda - aliás, uma das maiores do mundo -, constitui um dos principais fatores da 
desigualdade social, da discriminação e da exclusão social. A fragilidade do regime 
democrático decorrente da precariedade das condições sociais, econômicas e culturais 
da maioria da população, tem como conseqüência a exclusão social e a mutilação da 
cidadania. 
 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, ao compreender a escola como 
espaço institucional que deve oferecer educação popular igualitária para todos, com 
qualidade, gratuita e de obrigação do Estado, pensa na formação das habilidades 
necessárias para uma participação efetiva e influente na sociedade, que não seja 
simplesmente saber ler, escrever e contar, mas habilidades como pessoas críticas e 
capazes de refletir sobre os problemas e efetivar ações na sociedade. 
 
A educação nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das 
classes, assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função 
social, preparando-se para formar "a hierarquia democrática" pela 
 
"hierarquia das capacidades", recrutadas em todos os grupos sociais, a que 
se abrem as mesmas oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, 
organizar e desenvolver os meios de ação durável, com o fim de "dirigir o 
desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas 
de seu crescimento", de acordo com uma certa concepção do mundo 
(MANIFESTO, 1932, p. 42), 
 
Assim, a educação nova, proposta pelos pioneiros, propõe o atendimento aos 
interesses do indivíduo e não aos interesses de classes. Alegam que “A escola 
tradicional, instalada para uma concepção burguesa, vinha mantendo o indivíduo na sua 
autonomia isolada e estéril, resultante da doutrina do individualismo libertário [...]” 
(MANIFESTO, 1932, p. 43). 
A principal crítica a respeito da educação brasileira daquele momento era de que 
se compunha de um ensino fragmentado, sem articulação entre os diversos 
ensinamentos e deles com o mundo. O Manifesto alega que toda a Educação deve ser 
vista como um organismo, em profunda relação com a vida prática e motivadora do 
progresso. Deveria receber prioridade nos planos do Estado, principalmente seus 
primeiros anos, que representam o início da formação dos indivíduos. 
Essa nova doutrina considera a função educacional como complexa e de ações e 
reações em que o espírito cresce de dentro para fora, substitui o mecanismo do modelo 
da escola tradicional pela vida - atividade funcional, e transfere para a criança e para o 
respeito de sua individualidade, o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da 
educação. Considerando os processos mentais com funções vitais e não como processos 
em si mesmos, ela os subordina à vida, como meio de utilizá-la e de satisfazer suas 
múltiplas necessidades materiais e espirituais. 
O documento elaborado pelos Pioneiros da Educação Nova ofereceu direção às 
idéias de renovação que já vinham sendo debatidas há vários anos, buscando 
organização e reconstrução da educação nacional. 
Nesse contexto, uma das propostas apresentadas trata do direito de cada 
indivíduo à sua educação integral, sendo esta, uma função social a ser realizada pelo 
Estado com a cooperação de todas as instituições sociais. 
 
Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decorre 
logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de 
considerar a educação, na variedade de seus graus e manifestações, como 
uma função social e eminentemente pública que ele é chamado a realizar, 
com a cooperação de todas as instituições sociais (MANIFESTO, 1932, p. 
45 ). 
 
 
O Manifesto apresenta uma concepção de educação natural e integral do 
indivíduo, que respeite à personalidade de cada um. Seria, assim, uma educação acima 
das classes, que não se destinaria a servir a nenhum grupo particular, mas aos interesses 
do indivíduo e da sociedade, e que aconteceria através de um plano geral de educação 
que torne a escola acessível a todos. 
Portanto, cabe ao Estado proporcionar as condições para que escola torne-se 
acessível aos cidadãos, principalmente os de condições de inferioridade econômica, para 
que assim, possam obter o máximo de desenvolvimento de acordo com as suas aptidões 
vitais. 
A escola era vista como desarticulada da sociedade e ligada a instituições que 
representavam resistências às mudanças de caráter modernizante, tal qual a Igreja 
Católica. Só participava da escola a elite que podia pagar por ela. Porém, os 
reformadores viam a necessidade de uma visão global do problema educacional: a 
escola não podia ser isolada da sociedade, era necessária uma determinação dos fins da 
educação em especial, os educadores precisavam de uma cultura ampla e diversificada 
para poder transmitir aos alunos. Este quadro só mudaria se a educação fosse vista com 
base numa teoria que definisse seus objetivos. Assim, seria possível abrir os horizontes 
para se enxergar além e, conseqüentemente, buscar soluções para tudo o que estava 
ultrapassado. Acima de tudo, era necessário integrar escola e sociedade. 
O propósito do manifesto era uma reconstrução educacional voltada ao 
desenvolvimento integral do indivíduo, baseada numa educação dinâmica, não estática, 
a partir da qual o aluno não seria um mero repetidor daquilo que o professor transmitia, 
mas sim, um agente transformador do conhecimento. A concepção educacional do 
manifesto ia além da idéia de transmissão de conteúdos. Havia uma incessante 
preocupação em transmitir valores e formar cidadãos instruídos para a vida, que 
tivessem consciência de seu papel na sociedade, 
 
Na luta pela garantia do direito à educação, surge a necessidade de escola para 
todos - comum e única, tarefa que também deve ser de responsabilidade do Estado. 
 
Chega-se, por esta forma, ao princípio da escola para todos, "escola comum 
ou única", que, tomado a rigor, só não ficará na contingência de sofrer 
quaisquer restrições, em países em que as reformas pedagógicas estão 
intimamente ligadas com a reconstrução fundamental das relações sociais. 
Em nosso regime político, o Estado não poderá, de certo, impedir que, 
graças à organização de escolas privadas de tipos diferentes, as classes mais 
privilegiadas assegurem a seus filhos uma educação de classe determinada; 
 
mas está no dever indeclinável de não admitir, dentro do sistema escolar do 
Estado, quaisquer classes ou escolas, a que só tenha acesso uma minoria, por 
um privilégio exclusivamente econômico (MANIFESTO, 1932, p. 47). 
 
Neste caso, manter-se-iam as instituições privadas idôneas e a escola única se 
estenderia como escola oficial, única, em que todas as crianças de 7 a 15 anos teriam 
uma educação comum, igual para todos. 
 
a "escola única" se entenderá, entre nós, não como "uma conscrição 
precoce", arrolando, da escola infantil à universidade, todos os brasileiros, e 
submetendo-os durante o maior tempo possível a uma formação idêntica, 
para ramificações posteriores em vista de destinos diversos, mas antes como 
a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15 anos, todas ao 
menos que, nessa idade, sejam confiadas pelos pais à escola pública, tenham 
uma educação comum, igualpara todos (MANIFESTO, 1932, p. 47 - 48). 
 
Escola igual para todos é o princípio comum e único onde as reformas 
pedagógicas estão intimamente ligadas com a reconstrução fundamental das 
relações sociais. Assim, a escola pública seria a escola comum ou única, isto é, 
aberta a todos sem distinção de sexo, cor ou posição social. 
Com relação ao Caráter Biológico da Educação, trata-se do reconhecimento de 
que todo indivíduo tem o direito a ser educado “até onde o permitam as suas aptidões 
naturais, sem determinação das razões de ordem econômica e social. Por compreender a 
educação tradicional como “um privilégio determinado pela condição econômica e 
social do indivíduo” (MANIFESTO, 1932, p. 42), o Manifesto luta pelo direito de 
todos, reconhecendo a todo o indivíduo o direito a ser educado até onde o permitam as 
suas aptidões naturais. Direito este que, mais do que adquirido socialmente, é concedido 
biologicamente, um direito natural. 
É a partir do reconhecimento do direito biológico à Educação, que pode-se 
pensar na questão da escola única, comum para todos. 
Essas idéias que consideram a aptidão natural, defendem um maior 
conhecimento sobre as características da inteligência e da personalidade humana, 
influenciando o sistema educacional, através de uma visão psicobiológica do 
desenvolvimento educacional. 
A nova educação fundava-se no princípio da articulação da escola com a 
sociedade e a defesa dos interesses do educando tomando-o como centro da ação 
pedagógica. Desse modo, confrontava-se com a escola tradicional que, naquele 
momento, já era considerada, em termos pedagógicos, um sistema de ensino retrógrado, 
 
sem perspectivas de mudanças significativas. O manifesto busca superar todos esses 
problemas com a participação ativa do educando no processo de ensino. 
Quanto à gratuidade e obrigatoriedade que devem ser garantidas pelo Estado, 
representam o reconhecimento do direito biológico que cada ser humano tem à 
educação. Esta deve ser um direito de todos, de acordo com suas necessidades, aptidões 
e aspirações, dentro do princípio democrático da igualdade de oportunidades para todos. 
Assim sendo, deve caber ao Estado assegurar esse direito, tornando a educação uma 
função essencialmente pública, com garantia de gratuidade e caráter obrigatório, pelo 
menos até certa idade dos cidadãos. 
 
A gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um 
princípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus, 
acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os 
cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o 
Estado não pode tornar o ensino obrigatório, sem torná-lo gratuito 
(MANIFESTO, 1932, p. 48). 
 
Neste caso, podemos pensar no quanto se torna contraditório, um país que em 
pleno século XXI, muitas crianças e jovens, perdem o direito à educação, na medida em 
que estes são obrigados a trabalhar desde muito pequenos para garantir “o pão de cada 
dia”. O Estado, ao invés de oferecer as condições para que estes possam tornar-se 
efetivamente, cidadãos, desenvolve programas que não passam de medidas paliativas, 
como bolsa-escola, bolsa-família, por meio das quais, tenta obrigá-los a freqüentarem as 
instituições escolares. 
Outro ponto tocado pelo Manifesto de 1932, liga-se à questão da unidade 
versus uniformidade da educação nacional. A exigência de um sistema de organização 
educacional deveria gerar a unidade, porém não a uniformidade educativa. Muito pelo 
contrário, a unidade educativa deveria contar com a multiplicidade presente quando se 
comparam vários estados brasileiros, afim de que a educação se tornasse mais relevante 
e proveitosa para todos. 
 
A organização da educação brasileira unitária sobre a base e os princípios do 
Estado, no espírito da verdadeira comunidade popular e no cuidado da 
unidade nacional, não implica um centralismo estéril e odioso, ao qual se 
opõem as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação 
crescente da escola aos interesses e às exigências regionais. Unidade não 
significa uniformidade. A unidade pressupõe multiplicidade (MANIFESTO, 
1932, p. 51). 
 
O Estado deveria proporcionar uma escola de qualidade e gratuita, possibilitando 
assim a concretização do direito biológico dos indivíduos à educação e, tendo em vista 
 
os interesses dos indivíduos em formação e a necessidade de progresso, consideram que 
esta educação deva ter caráter obrigatório. 
Estas são algumas das questões apontadas pelo Manifesto, que estão relacionadas com 
as propostas do direito à educação, garantido a todos os cidadãos. Sem dúvida alguma, todas 
elas são pertinentes ainda hoje, pois poucas são as transformações que ocorreram desde a 
década de 30, no intuito de garantir a educação integral de pessoas menos favorecidas 
economicamente. Há muito ainda a fazer para que o direito a igualdade de oportunidades, dentre 
elas, a de uma educação de qualidade, seja garantido. 
 
 
ÚLTIMAS PALAVRAS 
 
 
O Manifesto documenta um importante movimento de renovação nacional, 
voltado para o estudo dos problemas educacionais brasileiros. Representa um momento 
expressivo da luta pele implantação da escola pública e gratuita, e também defende 
explicitamente o reconhecimento da Educação como problema urgente e de 
responsabilidade do Estado. Se, de fato, o século XX representa uma época de 
indiscutível avanço tecnológico e econômico, o mesmo não se pode concluir acerca da 
educação pensada pelos educadores do Manifesto. 
A educação, representando o processo dinâmico de aprimoramento do ser 
humano, não avançou muito, com relação às questões discutidas neste trabalho, 
comparativamente a década de 30, quando foi escrito o Manifesto dos Pioneiros da 
Educação Nova. A escola pública está como sempre esteve em crise e falhando na sua 
promessa de corrigir as assimetrias e diferenças sociais que atravessam o país. 
As propostas do Manifesto de 1932 foram para o futuro, o futuro chegou e as 
inúmeras propostas do Manifesto de 1932 ainda não se concretizaram. Houve sim, 
algumas mudanças, mas de forma isolada e não como propunha o Manifesto. Muitas das 
idéias defendidas pelos Pioneiros da Educação Nova continua tendo validade, seja como 
como afirmação de valores e objetivos a serem alcançados ou como orientações para a 
realização da pesquisa educacional. 
A educação não deve continuar sendo um privilégio, mas sim, um direito social 
ao ensino de qualidade. Sem os direitos dos indivíduos protegidos e reconhecidos, não 
há democracia; sem democracia torna-se impossível garantir a todos, 
independentemente de suas condições econômicas e sociais, o direito a educação de 
qualidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In: 
SAVIANI, Dermeval (et. al.). O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, 
SP: Autores Associados, 2004. 
 
XAVIER, Libânia Nacif. Para além do campo educacional: um estudo sobre o 
Manifesto dos pioneiros da Escola Nova. Bragança Paulista: Edusf, 2002. 
 
VALE, José Misael Ferreira. Escola pública e o processo humano de emancipação. 
In: VALE, José Misael Ferreira (et. al.). Escola pública e sociedade. São Paulo: 
Saraiva/Atual, 2002. 
 
MANIFESTO dos Pioneiros da Educação Nova. A Reconstrução Educacional do 
Brasil. Ao Povo e ao Governo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1932.

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