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MMaarrkkeettiinngg SSoocciiaall Módulo II Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente Equipe Cursos 24 Horas Sumário Unidade 3 - Estruturando o Plano de Marketing Social..................................................3 3.1 - A evolução no conceito da marca ......................................................................4 3.2 - Requisitos para implantar o plano de Marketing Social ................................... 10 3.3 - Desenvolvendo Estratégias de Marketing Social.............................................. 20 3.4 – Implementação da Campanha de Marketing Social ......................................... 33 Unidade 4 – Administrando Programas de Marketing Social....................................... 44 4.1 - Administração da prestação de serviços e a satisfação do público alvo ............ 45 4.2 – Controle do programa..................................................................................... 51 4.3 – Avaliação do programa................................................................................... 57 Encerramento.............................................................................................................. 65 Bibliografia................................................................................................................. 66 3 Unidade 3 - Estruturando o Plano de Marketing Social Olá, Nesta unidade você verá como montar e implementar um plano de Marketing Social de sucesso. Primeiramente, veremos como se deu a evolução no conceito da marca de um produto a partir dos anos 40 iniciada nos Estados Unidos, estudando alguns exemplos de cada momento histórico. Em seguida, veremos como é feito um plano de Marketing Social e quais são as ferramentas que podem ajudar a estruturá-lo da melhor maneira possível, a fim de alcançar os objetivos desejados. Também estudaremos como são as estratégias que auxiliam na estruturação de uma campanha de Marketing Social. Bons estudos! 4 3.1 - A evolução no conceito da marca Segundo Pringle e Thompson, a evolução da construção da imagem da marca através do Marketing Social se dá em três ondas principais, que descrevem o desenvolvimento da marca perante o consumidor no último século. A Primeira Onda: Racional Tendo a análise partindo desde o período pós-guerra, juntamente com o surgimento da televisão comercial, teve início a primeira onda, que é aquela baseada na racionalidade. Dois de seus principais expoentes foram os publicitários Claude Hopkins e David Ogilvy. Nesta fase, a propaganda era realizada praticamente como uma ciência: realizavam-se testes incansáveis para medir o quão eficaz eram as propagandas, o que possibilitou aos profissionais conhecerem melhor as respostas dos consumidores, assim como o que eles esperavam do produto e, finalmente, que tipo de propaganda os impactava mais, o que fazia com que a informação ficasse gravada na memória do consumidor. A propaganda racional, que era vinculada principalmente na televisão e nos meios impressos, era muito direta e objetiva, e descrevia minuciosamente todas as características do seu produto a fim de convencer o consumidor (no caso de propagandas através de impressos), mas dependia de se ter uma mensagem muito honesta a se comunicar. A eficácia deste tipo de propaganda aumenta diretamente quando o consumidor está disposto a comparar e buscar as informações práticas que a propaganda exibe sobre o produto. Hoje em dia ainda é usada a propaganda baseada na racionalidade, e muitos profissionais aprovam apenas este tipo de propaganda. Mas atualmente o foco da propaganda é mais voltado para o apelo emocional e psicológico atribuído a relação entre produto e consumidor. 5 Abaixo mostramos uma propaganda com apelo racional, uma vez que ela faz a descrição das qualidades da lava-louças, mas também podemos identificar algumas características da propaganda emocional, como o humor para chamar atenção à propaganda, que veremos adiante. A Segunda Onda: Emocional É difícil datar precisamente o início da onda do marketing que começou a se focar em uma abordagem baseada na emoção, mas podemos dizer que o desenvolvimento desta técnica se iniciou na década de 1960, com o envolvimento de psicólogos comportamentais no setor de marketing e publicidade, e com o lançamento do livro Understanding Media, de Marshall McLuhan em 1964. 6 A principal característica deste tipo de propaganda era, sem dúvida, a utilização do humor para anunciar o produto. Este uso distanciou o foco da propaganda no lado esquerdo do cérebro, ou seja, no uso da racionalidade que focava em aspectos determinados dos produtos, na busca pela exploração do lado direito do cérebro, o lado emocional, vinculando o produto a uma emoção específica. Esta seria uma forma mais branda de abordagem, e revolucionou totalmente o modo como os produtos passaram a ser vendidos. Na propaganda, o foco agora era a imagem emocional transmitida, assim como os benefícios na adoção de um novo estilo de vida associado ao produto ou serviço comercializado. No meio profissional da propaganda, começou-se a se falar nos benefícios finais subliminares ao invés dos benefícios finais concretos, vinculados pelo marketing baseado na racionalidade. Ou seja, ao invés da satisfação física racional na compra de um produto, o consumidor passa a ter uma satisfação em termos emocionais. As pesquisas de satisfação passaram a ser realizadas com critérios mais subjetivos do que com a racionalidade objetiva da fase anterior: psicólogos e até mesmo sociólogos passaram a se envolver no processo de pesquisa, a fim de entender as motivações e impulsos inconscientes presentes no comportamento dos consumidores. Os profissionais de marketing perceberam que, diferente do que acreditava a escola racional, a mensagem passada pela propaganda não é a mesma que é recebida pelo consumidor, pois a informação passa por uma espécie de filtro baseado na percepção individual de cada um. Isso resultou no desenvolvimento de um modelo muito mais complexo de comunicação entre empresa e o cliente. Em geral, os comerciais baseados no apelo emocional apresentam um estilo de vida que o consumidor gostaria de ter, que é apresentado de forma exagerada ou idealizada e que implica em uma “atitude de marca”, ou seja, a condução de um tipo 7 específico de vida baseado na compra de um bem. Assim, o consumidor é seduzido a adquirir o bem. A próxima imagem, de uma famosa campanha norte-americana na Segunda Guerra Mundial, convocava as mulheres a trabalharem na indústria armamentista, incentivando-as a entrarem no mercado de trabalho, uma vez que a maioria dos homens havia ido para guerra. Essa propaganda mostra o apelo ao emocional, uma vez que mostra uma mulher forte dizendo “Nós podemos fazê-lo!”, o que significava, no contexto da época, que mulheres eram tão capazes quanto os homens de trabalhar na indústria, além de continuarem responsáveis pelas atribuições domésticas. A Terceira Onda: Espiritual Na década de 1990 o contexto mundial de consumismo sem limites começou a mudar. Isso é espelhado pela recessão no mundo todo no final dos anos 80, pela perda de espaço de políticosconservadores em todo mundo e pela conquista progressiva de território pela esquerda, que tinha um apelo mais humanitário. Como exemplo, podemos citar a derrota de Helmut Kohl, na Alemanha, para Gerhard Schroder em 1998, simbolizando a vitória da esquerda progressista contra a direita conservadora. 8 O clima, em todo mundo, inspirava uma mudança na perspectiva de um consumo exagerado para uma ação mais voltada para o bem comum. E é neste momento em que o Marketing Social ganha toda a sua força, que continua presente até os dias atuais. É neste ambiente de mudança de valores em escala mundial que se dá a terceira onda, que se baseia na propaganda do produto em uma dimensão espiritual da marca. O produto passa a ser apresentado com uma personalidade, com a qual o consumidor se identifica: agora que ele superou as necessidades básicas de subsistência, passaram a exigir mais de seus produtos, ou seja, passaram a demandar bens e serviços que refletissem, de alguma forma, uma sensação de autoestima e autorrealização. Neste contexto, temos o exemplo de um banco europeu que, no início dos anos de 1990, tinha sua imagem associada a uma instituição antiquada e que não atendia mais a demanda de seus clientes. Assim, a empresa vinha, ao longo dos anos, perdendo espaço no mercado, pois tinha deixado de ser competitiva. Após uma revisão estratégica, este banco resolveu que mudaria o padrão de seus investimentos, a fim de conduzir seus negócios com mais ética perante seus clientes. Por dois anos, empenhou-se em um trabalho de revisão da sua carteira de investimento, a fim de deixar de investir em países que tivessem regimes opressivos ao redor do mundo. Ao final do processo, a instituição vinculou uma propaganda esclarecendo ao público que seu diferencial era que, quando um cliente investia seu dinheiro neste banco, ele não estava contribuindo para o sustento de uma situação com a qual discordava moralmente. Desta forma, este banco virou uma história de sucesso, pois seus lucros cresceram acima da média do mercado, o índice de abertura de contas aumentou e isso foi associado à postura ética adotada pela instituição. Da mesma forma como seus clientes passaram a se sentir orgulhosos de pertencerem a este banco, os funcionários também passaram a se declarar orgulhosos de trabalhar para uma instituição que trabalhasse com fins éticos que superassem os fins financeiros. Este exemplo apenas nos mostra como os interesses éticos, tanto de clientes, quanto de funcionários quanto dos dirigentes da empresa podem ser agregados aos interesses econômicos de uma instituição. 9 Abaixo, na figura 11, mostramos um exemplo de propaganda com fins espirituais. Esta é uma imagem que integra a campanha “Os bons são a maioria”, e que também conta com um comercial da marca de refrigerantes que vem sendo veiculada na internet com as seguintes informações escritas ao longo de um vídeo que retrata várias partes do mundo, e situações de acordo com o desenvolvimento texto: Para cada tanque de guerra fabricado no mundo, se fabricam 131 mil bichos de pelúcia. Para cada queda na bolsa de valores, há dez versões da música “What a wonderful world”. Para cada pessoa corrupta, há oito mil doando sangue. Para cada muro que existe, se colocam 200 mil tapetes de “bem vindo”. Enquanto um cientista projeta novas armas, existem um milhão de mães fazendo bolos de chocolate. No mundo se imprime mais dinheiro do jogo “Banco Imobiliário” do que dólares de verdade. Há mais vídeos divertidos na internet do que más notícias em todo o mundo. Na internet AMOR tem mais resultados do que MEDO. Para cada pessoa que diz que tudo vai piorar, 10 há 100 casais que planejam ter filhos. Enquanto o meio ambiente ainda sofre, 98% das latinhas de alumínio são recicladas no Brasil. Para cada arma que se vende no mundo, 20 mil pessoas compartilham uma Coca-cola. Existem razões para acreditar. Os bons são maioria... Observando atentamente a propaganda, podemos perceber que o apelo emocional está no fato de que o objeto que se quer mostrar, primeiramente, não é tanto a marca Coca-cola, mas sim, uma mensagem positiva para as pessoas, criando uma sensação de bem-estar que será associada à marca que veicula a propaganda. 3.2 - Requisitos para implantar um plano de Marketing Social 11 Embora os especialistas em Marketing Social trabalhem para conseguir a mudança de um comportamento e uma consequente mudança social de seu público alvo, seus programas estão sujeitos às forças de mudanças surgidas no meio ambiente. Para serem eficazes, os profissionais da área precisam entender o meio ambiente em que a campanha ocorrerá, as mudanças pelas quais ele está passando, o impacto dessas mudanças sobre as capacidades de suas organizações e sobre seu público alvo, assim como as adaptações a serem feitas no programa em decorrência dessas mudanças. O meio ambiente do Marketing Social é o conjunto de forças externas à campanha de mudança social e que influencia sua capacidade de desenvolver e manter uma boa influência sobre seus adotantes escolhidos como alvos. São seis variáveis que podem influenciar no ambiente social: - Demográficas – são as dimensões estatísticas de distribuição da população, assim como suas características (perfil, nível de renda, escolaridade etc.) - Econômicas – variações na economia do país, setores da economia que estão em maior ou menor crescimento, ambiente de recessão ou de aquecimento econômico - Físicas – características do território onde habita o público alvo - Tecnológicas – desenvolvimento tecnológico da sociedade, novas ferramentas que podem auxiliar na campanha (tanto na publicidade quanto nos bens ou serviços distribuídos) - Políticas – variações na orientação política dos governantes, orientação política do público alvo (se há apenas uma orientação compartilhada por todos, ou se existem orientações divergentes) 12 - Socioculturais – características relacionadas com a sociedade em que está imerso o público alvo, assim como seus hábitos, costumes, tradições etc. Os especialistas em Marketing Social precisam de um esquema de mapeamento do meio ambiente para que possam entender as forças a serem mapeadas e como ler os resultados. O mapeamento é voltado tanto para o quadro atual como para perspectivas futuras. É certo que o meio ambiente vai mudar, e o mapeamento do meio atual revela problemas e oportunidades do momento, ao passo que o mapeamento das prováveis mudanças futuras pode revelar como os programas de Marketing Social devem ser modificados para que sejam eficazes ao longo do tempo. Para o mapeamento das mudanças futuras, é preciso considerar quatro variáveis: 1) Grau de controle – existe algum aspecto de uma mudança ocorrida, ou que está para acontecer, que pode ser influenciado pelo especialista em Marketing Social? 2) Probabilidade da ocorrência – qual a probabilidade de que a mudança vá ocorrer, e quando isso acontecerá? 3) Lugar, intensidade e magnitude do impacto – em que sentido, e até a que ponto, a mudança afetará também outras forças ambientais relativas ao Marketing Social, o público alvo, o produto social, a base do produto físico e a capacidade de distribuição da campanha? 4) Prioridade – quais são as mudanças às quais o profissional de Marketing Social deve dar maior importância? Tendo examinado os meios a serem mapeados, a tarefa agora é fazer o mapeamento. Esse consiste na determinação das fontes de informação e na análise das informações recebidas. Para isso existem quatrométodos de pesquisa para obtenção de dados ambientais: 13 1. Levantamento de líderes de opinião. Este tipo de pesquisa recolhe dados úteis a respeito de estimativas, expectativas e precisões de mudanças ambientais, sua possibilidade de controle, sua probabilidade de ocorrência, seus efeitos e suas prioridades. 2. Análise do conteúdo da mídia. Trata-se na análise do conteúdo de novos tópicos que aparecem na mídia de massa. Assuntos que aparecem muito indicam temas que farão parte do debate político e social nos anos futuros. 3. Levantamento da opinião pública. Podem-se medir mudanças e tendências na opinião pública e na opinião dos consumidores por meio de pesquisas de opinião pública. Algumas organizações brasileiras especializadas em pesquisa de opinião são o Instituto IBOPE e Instituto Datafolha. 4. Análise das tendências do governo. Neste caso os dados são obtidos através de um processo de levantamento que trabalha com políticos e figuras públicas. Esse método ajuda a determinar a disposição de políticos a votarem segundo determinada orientação em questões do Legislativo, ou a indicação de elaborar políticas por parte do Executivo. Após o mapeamento dos dados, é preciso que o especialista em Marketing Social analise os mesmos. Para isso, existem três métodos de análise mais usados: método da construção de cenários, método de análise “força, fraqueza, oportunidade, ameaça” (SWOT), e o método de identificação e análise de tópicos. Técnicas de análise de dados Construção de Cenários 14 Este é um método que requer a construção de muitos cenários, ou seja, de teses sobre as possibilidades que poderão acontecer e como isso se dará, a partir dos dados levantados. Os procedimentos mais aceitos entre os pesquisadores levam em consideração, para a construção de cenários plausíveis, as seguintes questões: - Quais são algumas condições futuras plausíveis ou possíveis que podem ser identificadas e definidas por questões ou fatores críticos na mudança do ambiente? - Qual sequência de eventos, condições ou mudanças podem descrever o desenvolvimento da situação futura de maneira plausível? - Qual a probabilidade de ocorrência de cada cenário futuro? Qual a oportunidade ou nível de ameaça de cada caso? Qual a principal fonte de cada situação (por exemplo, influenciada pela tecnologia, economicamente restrita, questões políticas, etc.) Análise “Força, fraqueza, oportunidade, ameaça” ou SWOT A sigla “SWOT” é a abreviação de Strenghts, Weaknesses, Opportunities, Threats, ou seja, força, fraqueza, oportunidade, ameaça, e é um método que visa aproveitar as oportunidades de uma organização, empregando suas forças e ao mesmo tempo afastando ameaças, evitando, corrigindo ou compensando suas fraquezas. As perguntas chave desta técnica são: - Que tendências, mudanças ou necessidades desprezadas do meio ambiente do Marketing Social de um programa oferecem uma chance dele atingir os objetivos propostos de maneira mais eficiente? - Quais são as situações, impedimentos ou restrições do meio ambiente e quais mudanças neste meio são potencialmente prejudiciais ou problemáticas para o programa de Marketing Social atingir seus objetivos? 15 - Que tipo de recursos ou capacidades, no programa, podem fazer proveito das oportunidades identificadas ao longo da pesquisa, e ser aproveitados de forma eficaz para atingir os fins propostos pela campanha? - Que aspectos de um programa de Marketing Social ou que tipo de fraquezas de uma organização a tornam vulnerável às ameaças ambientais identificadas no levantamento? Identificação e análise de tópicos O método da identificação e análise de tópicos requer que sejam identificadas as tendências que vêm antes dos temas que serão abordados na pesquisa de Marketing Social. Análise da Difusão do Produto Social O objetivo de uma campanha de Marketing Social é a adoção de um novo comportamento de um determinado público alvo. Vamos estudar agora a análise de como acontece a difusão de uma ideia ou prática social entre os indivíduos, olhando em particular para o comportamento coletivo ou de massa. Como exemplo, podemos citar, que uma série de adotantes ou de mensagens na mídia de massa pode persuadir outras pessoas a adotar um determinado comportamento, ou ambas as coisas podem ser feitas ao mesmo tempo. A habilidade do especialista em Marketing Social de planejar e administrar a difusão de adoções pelo maior número de pessoas dentre o público alvo pressupõe um entendimento tanto do comportamento individual quanto dos mecanismos pelos quais novas ideias e práticas se difundem entre as pessoas. 16 Os estudiosos do Marketing Social criaram modelos a partir dos quais é possível elaborar uma previsão a respeito da difusão da adoção de uma prática entre um determinado público alvo. Segundo Kotler, podemos classificar o modelo em três categorias distintas: difusão por penetração rápida, difusão por penetração gradual e difusão por contágio. Difusão por Penetração Rápida O modelo de difusão por penetração rápida pode ser ilustrado pelo Gráfico 1, que expressa a rapidez com que se propaga a adoção de um comportamento de acordo com o tempo. 17 Gráfico 1 Kotler (1992), “Marketing Social: estratégias para alterar o comportamento público” Para utilizar este modelo, o especialista em Marketing Social precisa definir duas variáveis: a primeira delas é o número total ou a porcentagem de pessoas que potencialmente adotarão o comportamento desejado, e o ritmo constante em que se conseguir uma adesão junto aos demais adotantes potenciais escolhidos como público alvo. De acordo com o Gráfico 1, a proporção de pessoas que potencialmente adotarão o comportamento objetivado pela campanha é de 40% da população total. A determinação do ritmo constante de penetração, ou seja, em que as pessoas adotam o comportamento social, é a definição de quantos adotantes potenciais estão aderindo ao produto social em um determinado período – por exemplo, se a taxa é de 30%, significa que em determinado período de tempo, 30% dos demais adotantes em potencial serão convertidos, ou seja, assimilarão o produto social. 18 Esse modelo permite estimativas precisas desde que não sejam modificadas as características próprias do programa de difusão do produto social, nem que surjam novas alternativas a este produto. Difusão por Penetração Gradual O modelo de difusão por penetração gradual, como o próprio nome diz, visa descrever uma adesão progressiva do público alvo, descrita por um modelo de curva em S, conforme o Gráfico 2. A difusão do produto social começa devagar, se acelera num ritmo crescente, continua acelerando até chegar num patamar. Gráfico 2 Kotler (1992), “Marketing Social: estratégias para alterar o comportamento público” Os analistas de Marketing Social elaboram esta curva analítica a partir de um teste piloto do programa de difusão, a fim de estimar as iniciais aproximadamente ao que acontecerá na implementação de fato da campanha. Se o produto social for lançado de modo diferente em várias regiões, o analista terá que fazer uma estimativa dos critérios que terão que ser utilizados em cada uma destas áreas separadamente, e escolher o projeto de difusão que for melhor para cada uma delas. 19 Difusão por Contágio O modelo de difusão por contágio se parece com a disseminação de uma doença contagiosa, (daí a denominação): seu padrão é semelhante ao do Gráfico 3. Na aplicação, o uso do modelo por contágio precisaque as estimativas do número total do público alvo em potencial, qual é o ritmo padrão em que estes influenciam os que não adotaram a prática do programa social e até que ponto a mídia pessoal influencia o público adotante em potencial. Gráfico 3 Kotler (1992), “Marketing Social: estratégias para alterar o comportamento público” Dentre os modelos apresentados, como escolher o que é melhor para o seu produto social? Cada modelo apresenta vantagens em relação a produtos sociais específicos, cada um deles possui um conjunto de fatores que se encaixa melhor, dependendo do tipo do produto. O modelo de penetração rápida é o melhor para a previsão de produtos sociais que devem ter um nível de adesão em apenas parte do público alvo, a fim de ter adesão mais rápida destes e para ter uma penetração constante naqueles que não aderiram. 20 O modelo de penetração gradual é o mais indicado para os produtos sociais que tem as seguintes expectativas de adoção: - adoção imediata, que atinja a uma pequena parte do público alvo, conhecido como os inovadores ou a vanguarda do grupo; - maior número de adesões por parte de outro número relativamente pequeno de pessoas do público alvo, que são os adotantes iniciais, que influenciarão um grupo maior de pessoas no sentido de influenciar a mudança em seu comportamento; - maior número de adeptos após a fase inicial da campanha; - número maior de adeptos por retardatários, que são convertidos a adoção posteriormente. O modelo de difusão por contágio deve ser utilizado para prever a difusão do produto social no caso das seguintes condições serem satisfeitas: - há a expectativa de que a adoção atinja toda a população escolhida como alvo, conforme determinado pelas características de preço, múltiplos usos do produto e persuasão do programa de Marketing Social; - espera-se que haja penetração do produto em dois ritmos: aquele que é resultado da influencia exercida pelos adotantes escolhidos como público alvo sobre os que ainda não adotaram o comportamento, e pelo grau de influencia da mídia comercial sobre os não adotantes. 3.3 - Desenvolvendo Estratégias de Marketing Social 21 Após a análise do meio ambiente, o especialista de marketing está preparado para definir o ajuste entre o produto e o mercado e fazer o projeto do produto social, estruturando a campanha de marketing. O projeto do produto social é a base sobre a qual se constroem todos os elementos do complexo de marketing. O projeto e a criação de um produto social implicam na identificação das necessidades do público alvo. O profissional em Marketing Social está interessado em criar novos produtos sociais capazes de satisfazer às necessidades dos adotantes em potencial, que sejam melhores do que os produtos sociais já existentes, ou que melhor atendam as necessidades dos adotantes. O trabalho é realizado através da identificação das necessidades diferenciadas do público alvo que poderão ser satisfeitas, e também pela apresentação e posicionamento eficaz da campanha e do programa de Marketing Social. Projeto do Produto Social Como dissemos, o projeto do produto social é a base sobre a qual se constroem todos os elementos do complexo de marketing: o projeto e a criação de um produto social implicam, essencialmente, na identificação das necessidades do público alvo. O objetivo de um profissional de Marketing Social é criar um novo produto social que satisfaça a necessidade dos adotantes da melhor maneira possível, de forma mais vantajosa do que as que já existem e, no caso de não existirem, na adaptação dos produtos sociais de maneira que melhor atendam às necessidades dos adotantes. O trabalho ocorre de em duas etapas: na identificação das necessidades do público alvo que poderão ser satisfeitas por um produto específico e na determinação da maneira de apresentar esse produto. A segunda parte envolve o posicionamento do produto, sua apresentação e o posicionamento eficaz da campanha e do programa de Marketing Social. 22 O que é produto social? As campanhas de mudança social visam comercializar ideias como direitos humanos, alfabetização, saúde, respeito ao meio ambiente, entre outras, e muitas vezes torna-se difícil apresentar estes produtos. A tendência é identificar as características do produto, ou seja, o que pode ser percebido com os sentidos, como o cheiro, o toque, a imagem etc. Mas essas características não proporcionam o que o público alvo realmente procura. Por exemplo, se o especialista em marketing trabalha em uma campanha de planejamento familiar e considera que seu produto é o preservativo, ele está entendendo mal o mercado. Mesmo os que dizem que o produto é o planejamento familiar podem estar entendo de forma equivocada do que realmente se trata a campanha, pois o objetivo dos adotantes é o controle da natalidade e o planejamento familiar. Existem três tipos de produto social: o tipo 1 é aquele que satisfaça uma necessidade que nenhum outro produto social esteja satisfazendo; o tipo 2 trata do produto social que atenda melhor às necessidades do público alvo; o tipo 3 é aquele que atende a uma necessidade real das pessoas que não está sendo percebida. Em termos de comportamento dos adotantes escolhidos como alvo, os três tipos de produto social representam níveis crescentes de dificuldade de adoção e penetração no mercado. O tipo 1 é o menos difícil, enquanto o produto social do tipo 3 é o que apresenta o nível mais difícil de penetração no público alvo. No trabalho com um produto social, o profissional de Marketing Social deve conhecer a natureza de 23 seu produto: se ela é palpável, ou tangível, como no caso de uma campanha contra o abuso de drogas ou do uso de anticoncepcionais para o planejamento familiar, ou se a natureza de seu produto é intangível, abstrata, como no caso de campanhas para alfabetização de adultos, em promoção dos direitos humanos ou para parar de fumar. Também é possível diferenciar os produtos sociais de acordo com o objetivo final da adoção: os produtos sociais que são uma ideia (crença, atitude ou valor), e aqueles que são uma prática (que requer um único ato ou que requer um comportamento constante composto de atos repetidos), conforme vimos anteriormente no curso. Na tabela a seguir, detalhamos os tipos de produto social, sendo que cada um corresponde a uma necessidade específica ou demanda do público alvo que, por sua vez, se traduz em uma determinada tarefa para o Marketing Social. Tipo de Produto Condições de Demanda Tarefa do Marketing Social Por dificuldade de penetração no público alvo Novo produto de Marketing Social Demanda latente Criação da demanda Produto de Marketing Social superior Demanda insuficientemente atendida Atender uma demanda que não está sendo satisfeita Produto substituto de Marketing Social Demanda prejudicial Destruir a demanda Por complicação da 24 tarefa de Marketing Social Com uma base de produto tangível Demanda dupla Satisfazer ambas as demandas Sem uma base de produto tangível Demanda única Satisfazer a única demanda Pelo objeto da adoção Ideia Demanda abstrata Evidência da demanda: marketing comprobatório, que seja capaz de comprovar aquilo que está sendo vendido Prática: ação única Demanda irregular Sincronizar a demanda Prática: ação contínua Demanda vacilante Revigorar a demanda Legenda: - Demanda latente: é a descoberta de uma necessidade que cria uma oportunidade de lançamento de um novo produto social. Uma demandalatente é quando grande número de pessoas possui uma mesma necessidade forte de um produto ou serviço social que ainda não existe, como em iniciativas de controle da poluição, controle das doenças cardíacas, por exemplo. A determinação de qual é a demanda latente do público alvo é muito difícil, pois muitas vezes este próprio público pode não saber identificar quais são suas necessidades. Para a identificação delas, o melhor método é a entrevista com alguns membros do grupo e, através das respostas, identificar a demanda latente. - Demanda insuficientemente atendida: os produtos ou serviços existentes para satisfazer às necessidades do público alvo não lhes atende plenamente ou não atendem à demanda existente. É preciso preencher a lacuna na percepção ou na sensação da satisfação com o produto social. Os especialistas em Marketing Social devem, então, 25 criar um novo produto social, ou melhorar um que já existe, a fim de preencher esta lacuna. Na tentativa de satisfazer uma necessidade que é insuficientemente atendida, estes especialistas precisam realizar uma diferenciação entre: uma lacuna do nível de satisfação do público alvo e qual é sua percepção do que seria um produto social que lhe satisfizesse plenamente, ou seja, das características qualitativas que estão faltando no produto atualmente. - Demanda prejudicial: trata-se de ideias ou crenças que são prejudiciais à sociedade, como ideias/crenças de superioridade racial, violência, uso de drogas ou abuso de bebida alcoólica. A constatação da existência desta demanda requer que ela seja destruída pela campanha de Marketing Social. Para atingir este objetivo, o profissional de Marketing Social precisa oferecer um substituto capaz de ocupar o lugar da ideia prejudicial, com uma ideia ou uma prática. Um erro estratégico cometido por muitos especialistas em Marketing Social é tentar realizar esta substituição com um conceito totalmente oposto ao da demanda prejudicial, que nem sempre é valido para os potenciais adotantes do comportamento. Por exemplo, no caso de uma campanha que incentive o planejamento familiar, existe a ideia que, para contrapor o ideal de “família numerosa”, deve-se valorizar o ideal de “família pequena”, mas nem todas as famílias participantes do público alvo podem considerar o segundo ideal como um substituto ao primeiro, e não teriam a motivação necessária para aderir à campanha. - Demanda dupla e única: uma demanda dupla é quando, para a implementação de uma campanha social, é preciso que o público alvo seja preparado para assimilar dois 26 conceitos relacionados ao produto, como em uma campanha de planejamento familiar, por exemplo, que as pessoas devem perceber a necessidade de realizar o controle da natalidade e também de usar métodos anticoncepcionais. - Demanda abstrata: é uma necessidade que não é palpável, ou seja, necessita da adoção de uma ideia para ser concretizada. - Demanda irregular: a comercialização de alguns tipos de produto social envolvem a satisfação de demandas irregulares, como na comercialização de uma campanha para doação de sangue, que requer atos únicos dos adotantes que, em geral, realizam a ação de forma irregular. - Demanda vacilante: uma vez que um produto social tenha sido colocado com sucesso no mercado, tendo atingido toda a população de adotantes pretendida, o profissional de Marketing Social pode se deparar com uma demanda vacilante. Se a demanda de um produto social começar a enfraquecer, pode ser necessário considerar um meio de “recomercializar” o produto social, como através de um novo programa de marketing que tenha um nível desejável de demanda. - Sincronizar a demanda: é a combinação da importância da necessidade do produto social entre todos os possíveis adotantes do comportamento. - Revigorar a demanda: dar nova força ou fortalecer a necessidade da adoção da prática. Plano e Pesquisa de Marketing Social Para elaborar um plano de Marketing Social, é preciso implementar uma boa pesquisa, pois ela é a base da campanha. É ela que diferencia a abordagem do marketing da mudança 27 social do marketing tradicional, baseado em esforços para impressionar o público alvo. Só pesquisando e compreendendo as necessidades, os desejos, as crenças e as atitudes específicas do público alvo e as características específicas do produto social que está sendo apresentado é que o especialista em Marketing Social pode executar uma campanha de sucesso. Na elaboração de um plano de Marketing Social, o planejador toma decisões que visam influenciar o comportamento do público alvo, que são tomadas como base na lógica e na intuição pessoais, na experiência pessoal e nas informações que são passadas por esse público durante as pesquisas. O projeto da pesquisa e a coleta de dados representam a abordagem científica que baseia toda campanha de Marketing Social. Veremos a seguir quais são as técnicas que podem ser utilizadas durante uma campanha. Técnicas de Pesquisa do Marketing Social O especialista em Marketing Social pode usar variadas técnicas a fim de aplicar sua pesquisa. Em um produto tangível, ou seja, um produto palpável, como por exemplo, anticoncepcionais, as descobertas deste programa podem ser utilizadas em outros produtos sociais, como por exemplo, educação, saúde ou proteção ambiental. Na tabela abaixo apresentamos uma correlação entre as decisões do Marketing Social, a reação do público alvo e a técnica apropriada para lidar com isso. Estas características são de duas campanhas de Marketing Social: uso de preservativos e de combate à desidratação infantil através de soro caseiro, feito a base de sal e açúcar. Decisões do Marketing Social Reação do Público Alvo Técnica a ser utilizada Escolha do público alvo Características sóciodemográficas, psicológicas e Pesquisa com o público alvo 28 comportamentais dos adotantes Posicionamento do produto social Percepção da superioridade ou das características particulares àquele produto social Pesquisa de posicionamento do público alvo Características do produto tangível Percepção da superioridade ou igualdade do produto Teste do produto com o público alvo Seleção da marca Reconhecimento ou impressão de um significado Teste da marca com o público alvo Embalagem do produto Reconhecimento ou impressão de um significado a respeito da embalagem escolhida Teste da embalagem Imagem da agência da campanha Percepção da superioridade ou do reconhecimento da diferenciação Pré-teste do material de propaganda Mensagem a ser transmitida no material publicitário e execução Percepção, imagem e motivação para o público alvo Pré-teste do material de comunicação Manutenção da campanha de comunicação de massa Consciência, lembrança, imagem e motivação da campanha Pesquisa de eficiência após a veiculação do material publicitário Preço de base do produto palpável Aceitabilidade do preço a ser estipulado Pesquisa da sensibilidade do publico alvo ao preço Campanhas de promoção da adoção e início da implementação Comportamento e difusão da adoção Teste de marketing Apresentação e prestação do serviço, ou entrega do produto, dependendo das Comportamento e satisfação da adoção do comportamento desejado Teste de marketing 29 características do produto social Campanha de comunicação direta Comportamento e satisfação da adoção do comportamento desejado Teste de marketing Canais de distribuição Entrega do produtoao publico alvo Pesquisa de canais de distribuição Durante a pesquisa, são mobilizados diversos profissionais, entre eles o pessoal da pesquisa e desenvolvimento da campanha, os especialistas em Marketing Social e os especialistas em comunicação. Após a aprovação do plano de Marketing Social, os planejadores sociais pesquisam as atitudes, os comportamentos e as necessidades, e formulam conceitos que podem ser traduzidos em uma base grosseira do produto. Se este passar pelo teste do produto, os profissionais de Marketing Social trabalharão em contato direto com os especialistas em comunicação, a fim de criar marcas, embalagens e o material de propaganda mais eficiente. Este material é testado juntamente com o público alvo antes da campanha se iniciar de fato. Estudo de caso Com o objetivo de exemplificar melhor para o aluno como se dão estas etapas, faremos um estudo de caso sobre o programa de hidratação oral infantil através de soro caseiro, feito à base de sal e açúcar, implementado nas Filipinas. A necessidade do programa se deu, pois, até o ano de 1987, a segunda maior causa de mortalidade infantil no país era a diarreia, e isso poderia ser contornado facilmente através de um programa de hidratação oral, que é muito mais eficiente do que a intervenção médica através de antibióticos, por exemplo, além de ser mais barata e eficaz para moradores de áreas 30 rurais. Na terapia de hidratação oral, a mãe dissolve um pacote que contém sal e açúcar em um litro de água, e administra a solução para o filho doente. A equipe de Marketing Social promoveu discussões com um grupo de mães para levantar quais tinham informações a respeito da diarreia infantil e da desidratação, o que elas pensavam e como agiam no caso de seus filhos apresentarem tais problemas. As discussões foram realizadas com mães de quatro regiões diferentes do país. A partir das discussões, os pesquisadores puderam concluir duas informações: - Algumas mães rurais declararam que não era prático misturar uma solução de um litro, uma vez que crianças pequenas não conseguiriam consumir esta quantidade de soro por dia. Além disso, muitas mães não tinham um recipiente de um litro em casa para preparar a solução. - Algumas mães que tinham usado pacotes de hidratação oral disseram que só dissolveriam o sal, a fim de guardar o açúcar para servir a visitas juntamente com o café, pois o açúcar era de muita boa qualidade. Outras declararam que tinham experimentado o soro e acharam este muito salgado, e adicionaram açúcar comum para a criança aceitar tomar a solução. Baseados nestas informações, os pesquisadores, juntamente com os especialistas de Marketing Social, decidiram que era necessário quantificar as seguintes perguntas em uma pesquisa com as mães: 1. Quantas mães rurais sabem a diferença entre diarreia e desidratação? 2. Quantas delas tentam fazer alguma coisa diante de cada situação, e o que fazem? 3. Quantas recorrem a remédios, e quais são usados? São os remédios mais indicados? Onde são comprados? 31 4. Quantas mães percebem o verdadeiro risco apresentado por um quadro de diarreia e/ou de desidratação? Como obtiveram essa informação? 5. Que espécie de expectativas elas teriam em relação a uma solução de água e açúcar caseira? 6. Quantas saberiam utilizar a solução corretamente, ou seja, quantas misturariam de forma correta o sal e o açúcar na quantidade certa de água? 7. Quais são as preferências das mães em relação ao tamanho do pacote, a mistura do sal e do açúcar, quanto a forma do pacote e por quê? A partir destes dados, a equipe passou para a fase de teste do produto. O pessoal de pesquisa e desenvolvimento teria que criar um ou mais produtos para serem testados com as mães, a partir das necessidades percebidas. Dependendo da reação das mães, o produto seria aprovado ou refeito, até que estas dessem sua aprovação final. No preparo dos produtos para teste, o especialista em Marketing Social tem o objetivo de conseguir uma superioridade física ou sensorial do produto social, ou ao menos uma igualdade com outros produtos disponíveis. Para o produto em questão, os atributos físicos e sensoriais eram sabor, sensação, aparência e odor. Para testar o produto, é escolhido um teste diretamente com o público alvo, ou seja, o entrevistado experimenta o produto no momento da pesquisa, ou é escolhido um teste em que o produto fica com o entrevistado para que ele relate suas impressões posteriormente. Geralmente o segundo modelo revela mais informações úteis para pesquisas de Marketing Social do que o primeiro. No caso estudado, o teste revelou que as mães não eram capazes de seguir as instruções para a mistura de um litro de água 32 com o sal e o açúcar, assim como desconheciam do que se tratava a mistura de pós, dada a elas. A partir destas constatações, é feito um ajustamento do produto a partir da pesquisa sobre as necessidades e o posicionamento do público alvo. Na campanha do tratamento de hidratação oral, o produto foi posicionado como a maneira mais rápida e mais eficaz de se ajudar crianças com diarreia. Como existem muitos posicionamentos possíveis para os produtos sociais, o papel da pesquisa é sugerir o teste de diferentes posicionamentos, a fim de identificar qual é o mais aceito pelo público alvo e, consequentemente, o mais eficaz em termos de convencimento destas pessoas. Na etapa seguinte, é realizado o teste da marca e da embalagem. Nesta fase do plano de Marketing Social, a equipe conhece o grupo de adotantes escolhidos, suas necessidades e desejos, o ajuste do produto de acordo com as necessidades do público alvo e se o produto apresenta características superiores ou semelhantes aos outros produtos sociais disponíveis. A função de dar nome a uma embalagem é tornar o produto palpável facilmente identificável e reconhecível, transmitir uma imagem que reforce seu posicionamento, e ganhar a aceitação do grupo escolhido como alvo. A tarefa de escolher um nome envolve um conjunto de alternativas e o teste das possíveis reações do público alvo no que se refere às imagens, a facilidade de lembrar- se do produto e a impressão da qualidade do produto. A embalagem requer muitas decisões a respeito de variáveis como forma, cor, peso, tamanho, material, rótulo e texto. Diversos testes podem ser empregados na pesquisa de marcas e de tipos de embalagem. 33 A partir deste momento o planejador irá preparar o material de comunicação, a fim de informar e persuadir o público alvo a experimentar o produto. É muito importante que o produto seja testado antes de ser distribuído, pois o pré-teste identifica potenciais erros de comunicação, além de esclarecer melhores meios de difundir a mensagem. Depois que o material é aprovado pelo público que irá adotar o comportamento objetivado pela campanha de Marketing Social, a equipe prepara os demais componentes do programa, como o preço que será colocado no produto, define como será prestado o serviço, onde será disponibilizado o produto social e como será feita a entrega do mesmo. Tudo isso é feito com base no teste de marketing, que visa responder a duas perguntas: - Qual é a eficácia de complexos de marketing alternativos? - O que pode sair errado com um complexo de marketing escolhido, quando for implementada a campanha de Marketing Social? Para aplicação das técnicas de marketing, é preciso responder a cinco perguntas básicas: - quem deve ser pesquisado? - quantas pessoas? - como serão selecionadas? - como as respostas devem ser coletadas? - como será feita a interpretação das mesmas?3.4 – Implementação da Campanha de Marketing Social Um plano de Marketing Social, por mais bem elaborado que possa ser, não consegue ter sucesso se não for bem 34 implantado. Por em prática um plano significa duas coisas: estruturar bem a organização e implantar os programas. A estruturação da organização se dá em três dimensões: na sede, no local das operações de campo e no apoio ao programa, ou seja, na coordenação entre os departamentos. Sob o ponto de vista da organização do programa de Marketing Social, é possível que o profissional de marketing se faça três perguntas pertinentes: - Quem, na organização, ficará direta ou indiretamente envolvido na implantação? - Que responsabilidades específicas de trabalho terá cada um? - Como essas diversas responsabilidades estarão relacionadas umas com as outras? Para elucidar tais questões, vamos apresentar como se dá a organização de uma campanha nos níveis da sede, do local de operações e no do apoio ao programa. Implementação da Campanha a) SEDE A administração do programa no nível da sede envolve a execução de um conjunto de tarefas específicas. Cria-se uma equipe administrativa. Suas tarefas precisam ser especificadas detalhadamente, além de se escolher os membros certos para as equipes, e há também a necessidade de se realizar uma avaliação para que as tarefas estejam relacionadas umas com as outras. O detalhamento das tarefas e sua coordenação podem ser feitos através da 35 montagem de uma estrutura organizacional. Existem várias maneiras de organizar esta estrutura, mas as duas mais utilizadas no caso do Marketing Social são: segundo as funções do Marketing Social ou por segmentos de adotantes escolhidos como alvo. Vamos ver mais detalhadamente cada uma dessas opções. a) Esquema de organização funcional Em uma campanha que envolva um produto social relativamente simples, que será adotado apenas por um único segmento de adotantes escolhidos como alvo ou por vários segmentos pequenos de adotantes, é preciso utilizar o esquema de organização funcional. Um produto social relativamente simples é um produto que possui um objetivo, uma estratégia e tarefas de Marketing Social claramente definidos. Os componentes da organização segundo as funções do Marketing Social estão detalhados na figura abaixo. b) Esquema de gerência de produto Quando os especialistas em Marketing Social têm que administrar muitos produtos sociais diferentes e números demais para uma organização funcional, eles se organizam por produto social. A figura abaixo ilustra esta estrutura, mostrando que o esquema não dispensa a administração funcional, mas acrescenta um nível a ela. Os 36 escolhidos como gerentes de produto ficam encarregados das funções de Marketing Social. A definição de gerente de produto, em uma grande companhia alimentícia britânica é a seguinte: “Os gerentes de produto atuavam como gerentes de marketing e gerentes comerciais de suas marcas. Do lado do marketing, eles tinham a missão de planejar e executar todas as estratégias de publicidade, promoção, preços e comercialização de suas marcas. De um modo mais geral, tinham que competir pelos recursos funcionais de sua divisão para suas respectivas marcas e coordena- los, ai se incluindo elementos técnicos, pesquisa de marketing, programas de pessoal de vendas, processamento e embalagem. Do lado operacional, eram responsáveis pela contribuição financeira de suas marcas, através da realização de volume de vendas, gastos com marketing e decisões de preços. Do lado do planejamento, trabalhavam com a direção no estabelecimento dos objetivos discais atuais e das expectativas de mais longo prazo (planos estratégicos quinquenais)” (Kotler 1992, “Marketing Social: estratégias para alterar o comportamento público) Os gerentes de um produto social também têm responsabilidades tanto de planejamento quanto de operação. São gerentes intermediários que devem exercer o papel de superiores, iguais e subordinados ao mesmo tempo. Enquanto gerentes intermediários, sua função é tanto delegar obrigações quanto executar funções, são estrategistas. 37 b) OPERAÇÕES DE CAMPO O nível de operações de campo de uma campanha ou programa social está em contato mais próximo com o público alvo. Desta forma, a boa implantação de uma campanha ou de um programa depende do desempenho do pessoal que está trabalhando no campo, junto com as pessoas que serão os adotantes da campanha. Este pessoal pode ser composto por ativistas, por voluntários, por médicos, ou seja, são todas as pessoas que trabalham em contato direto com o público alvo. 38 É preciso realizar um projeto das operações de campo, que leve em conta a natureza dos segmentos de adotantes escolhidos como público alvo, assim como os objetivos da campanha para cada um dos segmentos. Neste plano, o Marketing Social tem seis tarefas básicas: 1. Identificação de potenciais adotantes a serem selecionados como público alvo. 2. Informação e persuasão destes adotantes potenciais com relação ao produto social, através da comunicação direta. 3. Realizar o desencadeamento da adoção do público selecionado, fazendo com que os adotantes coloquem em prática as intenções propostas pela campanha. 4. Prestar os serviços aos adotantes. 5. Realizar a pesquisa de campo e o trabalho de investigação. 6. Avaliar a importância relativa de cada grupo potencial de adotantes escolhidos como público alvo e distribuir os recursos da campanha de acordo com esta importância. A operação de campo é diretamente influenciada pela organização em nível de sede. A estrutura da operação de campo é relativamente simples, no caso de ser utilizado um esquema de organização funcional. Na utilização deste, as operações de campo seguirão uma estrutura territorial e cada empregado dessas operações será indicado para um território definido pela unidade que administra aquele local de atuação. O empregado das operações de campo é o representante do programa no território indicado. No caso da estrutura da sede ser organizada de acordo com a gerência de produto, as operações de campo são organizadas de acordo com o produto social que está sendo implementado. Se for adotada uma estrutura segmentada na sede, as operações de 39 campo serão estruturadas de acordo com os vários segmentos de adotantes escolhidos como alvo. c) APOIO AO PROGRAMA A execução de um plano de Marketing Social envolve a coordenação de diversas tarefas e departamentos na organização de uma campanha. O apoio do pessoal engloba o financiamento, o treinamento, pesquisas, materiais necessários para condução da campanha, imóveis, transportes, entre outros. Como o pessoal de apoio opera no mesmo nível, a regra é a cooperação, em vez da autoridade hierárquica. O pessoal de apoio tem que convencer seus colegas de trabalho dentro de uma relação de igualdade, onde a capacidade de relacionamento é muito valorizada. É muito comum, não apenas no Marketing Social, mas em todas as situações que demandam a cooperação entre diversos departamentos, que surjam conflitos entre as diferentes áreas. Para solucionar estas questões, é necessário que o profissional de Marketing Social seja um bom negociador, sabendo demonstrar o porquê de suas solicitações e a importância delas. Abaixo realizamos um resumo de diferentes pontos de vista contrastantes do Marketing Social e de outros departamentos de uma organização. 40 Outros departamentos Ênfase de cadadepartamento Ênfase do Marketing Social Operações Serviço padronizado Controle médio de qualidade Linha limitada de serviços Não interferência do público alvo durante o trabalho Serviço feito sob encomenda Controle rígido da qualidade Linha ampla de serviços Participação do público alvo Pesquisas Grande prazo para o projeto e para execução Projeto científico com maior ênfase na estética Análise Prazo curto para ambos Projeto utilitário, ou seja, feito de acordo com a necessidade do público alvo Recursos Humanos Documentação e formulários completos antes do início da campanha Preparo e treinamento demorados Avaliação sistemática por escrito do desempenho do trabalho Início imediato, independente da documentação e dos formulários Treinamento durante o período de trabalho, na prática Avaliação subjetiva no local das operações Compras Suprimentos e materiais padronizados Preocupação com o preço Lotes em tamanho o mais econômico possível Suprimentos e materiais não padronizados, de acordo com a demanda Preocupação com a qualidade Lotes grandes para evitar a falta de estoque e prejudicar a continuidade da campanha Finanças Orçamentos restritos e limitados Orçamentos flexíveis para atender as mudanças de 41 Relatórios a respeito da organização como um todo Controle de despesas necessidades, de acordo com a demanda Relatórios específicos sobre um projeto ou segmento do público alvo Liberação de despesas Jurídico Documentação Restrições/limitações Ação Possibilidades/providencias possíveis IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE MARKETING SOCIAL Após a análise de como os especialistas de Marketing Social montam a estrutura organizacional para implementação de um plano, vamos estudar como implementar de fato o plano do produto social. A implementação de uma campanha de Marketing Social tem duas dimensões: enquanto um processo e enquanto uma capacidade. a) A implementação enquanto um processo O processo de implementação consiste em uma série de etapas, que podem ser identificadas por quatro fases: 1. Especificar objetivos funcionais ou tarefas. O termo funcional ou tarefa é uma maneira de esclarecer o nível particular em uma campanha onde será dado um determinado passo. Os objetivos são os resultados onde as unidades funcionais e técnicas que compõe a campanha devem estar em um determinado momento no futuro. Também são os padrões de avaliação do desempenho de cada departamento envolvido na campanha social. Isso significa a atribuição de tarefas para as unidades de trabalho, determinando quem deverá realizar cada uma e quais são suas funções. 2. Estabelecer políticas funcionais e normas padronizadas. Os profissionais de Marketing Social deverão estabelecer políticas funcionais claras e normas padronizadas, a fim de que não haja espaço para outras interpretações dessas regras que poderão 42 prejudicar a implementação do projeto. As políticas funcionais informam aos planejadores como decidir quanto aos meios para a execução dos objetivos funcionais. As normas dizem aos planejadores como agir em relação àquelas decisões. As políticas e as normas também auxiliam o especialista em Marketing Social a administrar os esforços das operações de campo juntamente com os outros departamentos envolvidos na campanha. 3. Elaborar programas funcionais e seus planos de orçamento. Esta é a etapa em que o profissional de Marketing Social descreve minuciosamente as atividades específicas que as unidades de Marketing Social e os departamentos deverão executar, a fim de atingir os objetivos funcionais de acordo com as políticas e normas estabelecidas. Esse conjunto de atividades são os diferentes programas funcionais que deverão ser adotados. Dessa forma, o especialista em Marketing Social pode passar a especificação e a distribuição dos recursos necessários para boa execução do programa, sendo que a especificação se refere ao plano orçamentário de cada unidade funcional. 4. Tomar providências imediatas e apropriadas para iniciar e prosseguir com o programa rumo aos objetivos funcionais especificados. A última fase do processo de implantação enquanto um processo não é exatamente uma etapa, mas constitui uma cadeia contínua de ações. Ela se compõe da ação inicial apropriada, seguida de ações que reforcem e sustentem a campanha. É o passo que de fato implementa o programa, que deve ser acompanha sequentemente de ações que permitam que a campanha se perpetue. 43 b) A implementação enquanto uma capacidade Além da dimensão organizacional de implantação de uma campanha de Marketing Social, existe o aspecto que depende da capacidade de liderança do especialista em Marketing Social. Para isso, este deverá apresentar quatro capacidades fundamentais para a implementação do programa. 1. Qualificações de distribuição de recursos. Saber onde ou para qual atividade, função ou recurso deverá ser destinado o dinheiro, o tempo e o pessoal. 2. Qualificações de acompanhamento. Saber as maneiras de se conseguir informações a respeito dos resultados do Marketing Social e como proceder baseado nos dados. 3. Qualificações de organização. Trata-se da capacidade de decidir o que deverá ser feito, quem deverá realizar determinada tarefa e como essas diferentes responsabilidades se relacionam umas com as outras para a execução dos objetivos do programa. 4. Qualificações de relacionamento. Capacidade de negociação, de apresentar seus pontos e fazer com que eles prevaleçam em um conflito de interesses com outros departamentos, capacidade de se relacionar com todos os membros da equipe e de resolução de conflitos. Os especialistas em Marketing Social podem facilmente ter a impressão de que o papel de administrador requer uma capacidade sobre humana, ou seja, que é impossível conseguir conciliar tantas variáveis em uma só pessoa. Mas segundo os estudiosos do Marketing Social essas capacidades são os resultados da experiência de trabalho, aprendizado interessado no tema e de grande determinação por parte destes indivíduos. 44 Unidade 4 - Administrando Programas de Marketing Social Olá, 45 Nesta unidade você estudará como é feita a administração da prestação de serviços e como garantir a satisfação do público alvo, além de saber qual é o papel do especialista de Marketing Social para garantir tais resultados. Em seguida, veremos quais são as ferramentas para realizar o controle do programa de Marketing Social, assim como para fazer a análise dos resultados obtidos por ele. Bons estudos! 4.1 - Administração da prestação de serviços e a satisfação do público alvo 46 O público alvo fica satisfeito quando suas demandas são supridas: quando uma família é capaz de realizar o controle de natalidade, quando um fumante consegue deixar de fumar, quando um dependente de drogas consegue parar de usá-las. Mas como fazer com que o público alvo se satisfaça? Vimos como o programa do Marketing Social é realizado e como implementar este programa. Mas apenas estas variáveis são o suficiente para que as pessoas que aderem ao programa tenham suas demandas plenamente atendidas? Veremos neste capítulo que, além de um bom programa e uma implantação eficiente, o profissionalde Marketing Social precisa criar mecanismos para garantir a qualidade e a continuidade da prestação de serviços ao público alvo. Isso significa criar uma rede de apoio que permita ao adotante do comportamento a adesão à proposta do programa. A satisfação dos adotantes escolhidos como alvo é resultante de três forças: necessidades, expectativas do público alvo e o desempenho da campanha social. Por sua vez, para que uma campanha social seja bem sucedida, ela depende da qualidade do pessoal envolvido, do lugar onde acontecerá e na sequência das atividades envolvidas no processo de adesão a um produto social. Os estudiosos do Marketing Social definiram algumas expectativas que as pessoas escolhidas como público alvo possuem que são decisivas no seu processo de adesão, divididas de acordo com o pessoal, o local e o processo envolvidos na campanha de um produto social. Existem cinco expectativas quanto ao pessoal, ilustradas abaixo. 47 1. Solicitude. “As pessoas devem estar dispostas a nos atender e preparadas para isso” ou “Quando disserem que vão fazer alguma coisa, deverão fazê-lo rapidamente.” 2. Competência. “As pessoas devem conhecer seu trabalho e saber como fazê-lo” ou “Seus comportamentos devem refletir muita experiência no que estiverem fazendo” 3. Cortesia. “As pessoas devem ser educadas, respeitosas e amigáveis.” 4. Credibilidade. “As pessoas devem ser dignas de confiança, honestas e quererem o melhor para mim.” 5. Sensibilidade. “Quero que eles façam força para entender o que eu preciso” ou “Gosto de ter atenção de maneira individual” ou “Ao invés de me tratarem como qualquer um, quero ser tratado de acordo com minhas necessidades e preferências.” Em relação às expectativas a respeito da localização, são apresentadas as três mais decisivas, do ponto de vista do público alvo: 1. Disponibilidade. “Uma campanha e seus escritórios devem funcionar em um horário que seja conveniente para mim” ou “Eu não devo esperar em uma fila por muito tempo” ou “Os funcionários devem sempre estar prontos para me atender” 2. Segurança. “Desejo um lugar em que eu me sinta seguro” 3. Aparência. “O local deve ser esteticamente bonito, ou pelo menos não desagradável.” A respeito das preferências sobre o processo, existem duas mais importantes para os adotantes escolhidos como alvo: 1. Confiabilidade. “Se vou colocar um DIU (Dispositivo Intra Uterino), quero fazê-lo em um local em que eu confie na habilidade do médico e na higiene do hospital ou clínica.” 48 2. Comunicação. “Acho bom quando tenho explicações a respeito das atividades que as pessoas estão realizando” ou “Se houver riscos ou efeitos colaterais na adoção do produto social, devo ser avisado.” Administração do Pessoal de Serviços Conforme vimos, os adotantes escolhidos como alvo possuem expectativas em relação às pessoas que lidarão com eles durante a implantação ou durante a manutenção do programa de Marketing Social. Se uma campanha de planejamento familiar é apresentada a uma comunidade, e a esposa vai até o médico perguntar a respeito de maiores detalhes sobre anticoncepcionais, por exemplo, e ele for descortês ou não se mostrar interessado em informá-la, é muito mais provável que esta mulher não aceite participar do programa do que seria no caso dela ter sido atendida com mais atenção ou mais disponibilidade. Desta forma, podemos perceber que é essencial, para a efetividade de uma campanha de Marketing Social, que os profissionais que trabalham nesta campanha sejam amistosos e calorosos, pois, caso contrário, por melhor estruturada que for a campanha, ela estará fadada ao fracasso. Para isso, o profissional de Marketing Social responsável por coordenar a campanha, tem a responsabilidade de recrutar o pessoal, treiná-lo, supervisioná-lo e, por fim, realizar uma avaliação. a) Recrutamento pessoal 49 Os grupos que trabalham em uma campanha de Marketing Social podem ser divididos em quatro grupos: 1. Os que têm contato direto com o público alvo e muita visibilidade, como enfermeiras que realizam testes de HIV, por exemplo. 2. Aqueles que têm muito contato com o público alvo e pouca visibilidade, como por exemplo, uma atendente de telefone que recebe chamadas em um centro de recuperação para dependentes químicos. 3. Pessoas que têm pouco ou nenhum contato com o público alvo, mas são muito visíveis, como palestrantes em uma campanha de prevenção do HIV. 4. Aqueles que têm pouco ou nenhum contato com o público alvo e são poucos visíveis para ele, como os técnicos em laboratório para análise de testes de HIV. Para pessoas do primeiro grupo, a capacidade de relacionamento é fundamental. Os funcionários deste grupo devem ser selecionados cuidadosamente, de acordo com suas qualidades pessoais, como calor humano e solicitude. Mas é preciso que todas as pessoas envolvidas na execução de uma campanha de Marketing Social sejam devidamente treinadas, a fim de atender bem o público alvo. Como deverá ser realizado este treinamento? b) Treinamento pessoal Existem muitos métodos que podem ser empregados no treinamento do pessoal que trabalha dentro de uma campanha de Marketing Social. O tipo de 50 treinamento dependerá das funções que o grupo irá exercer dentro da campanha. Um tipo de treinamento é aquele dado diretamente durante o trabalho, quando a pessoa aprende o que deve fazer e como deve fazer durante a realização da tarefa, o que é bom do ponto de vista da produtividade. A técnica mais conhecida é a que transmite as informações necessárias para execução do trabalho na realização do mesmo. O profissional que já conhece os procedimentos instrui o treinando com uma demonstração passo a passo das funções do trabalho. Em seguida, o treinando mostra a outras pessoas o que aprendeu realizando uma tarefa específica. O processo continua até o momento em que aquele que está treinando reconhece que o aprendiz já é capaz de executar todas as tarefas sem supervisão constante. Outra técnica é colocar quem está sendo treinado junto com um supervisor júnior, fazendo com que ele observe como se dá o trabalho, o processo de tomada de decisões e as rotinas específicas daquela função. Uma terceira maneira de aplicar o treinamento é a rotatividade de trabalho, na qual o treinando passa por diferentes unidades de trabalho para observar como são as rotinas em cada um deles. A rotatividade permite que essa pessoa observe o serviço de diversos pontos de vista dentro da campanha, e avalie suas aptidões para execução de diferentes funções dentro da organização. Outro conjunto de técnicas de treinamento consiste no treinamento fora do ambiente de trabalho, na qual o treinando é orientado, a partir de palestras e discussões em grupo. As pesquisas demonstram que as organizações têm comparado a sua eficácia na formação e no aperfeiçoamento das qualidades do pessoal a partir deste método e afirmam que ele é a melhor estratégia para a formação e para o desenvolvimento das qualificações. Os especialistas em Marketing Social podem otimizar o desempenho do pessoal combinando as técnicas de treinamento no trabalho e fora dele. c) Supervisão de pessoal 51 Além de um bom treinamento, os funcionários devem passar por supervisão constante, a fim de constatar se suas funções estão sendo executadas dentro do esperado. Para assegurar um trabalho de alta qualidade, os especialistas de Marketing Social precisam supervisionar o desempenho dos funcionários desde os primeiros estágios da campanha, para identificar os problemas rapidamente e, emseguida, realizar as mudanças necessárias, antes que estas falhas prejudiquem toda execução da campanha. d) Avaliação de pessoal Para a avaliação do pessoal, um especialista em Marketing Social pode empregar vários métodos, e entre eles é possível distinguir os quatro mais eficientes: - Método baseado nas operações. É um método que emprega técnicas como as do gráfico de processo, fluxograma de trabalho, gráficos de atividades, gráficos de homem- máquina e gráfico de operações, a fim de gerar os dados de avaliação necessários. - Solicitação de reclamações. Este método implica no pedido de informações ao público alvo a respeito dos pontos fracos do serviço e sugestões para seu aperfeiçoamento. - Utilização de uma caixa de sugestões. - Pesquisas junto ao público alvo. 4.2 - Controle do programa Os especialistas em Marketing Social não conseguem executar seus planos de forma eficaz se lhes faltarem um sistema apropriado de controle do programa. Na 52 implantação de uma campanha de Marketing Social, os especialistas deverão trabalhar nas tarefas e atividades diárias, mas muitas coisas podem desviá-los dos seus objetivos causados por desvios do plano de trabalho original. Se tais desvios ocorrerem, a campanha pode enfrentar problemas sérios para conquistar seus objetivos. A ideia básica do controle no Marketing Social é manter os desvios causados pelas atividades e pelas pessoas dentro de uma margem tolerável, a fim de que a campanha como um todo tenha uma grande probabilidade de atingir os objetivos propostos. O controle do Marketing Social possui dois aspectos que se relacionam: o controle de atividades ou do desempenho das tarefas, chamado de controle do desempenho, e o controle do desempenho pessoal na execução das atividades e das tarefas, chamado de controle dos executantes. O controle é entendido como um processo de motivação e inspiração das pessoas para que executem tarefas na organização a fim de promover os objetivos da instituição. Também é um processo de identificação e correção de erros involuntários de desempenho e de irregularidades intencionais. Pensar no controle como um processo torna sua realização mais fácil. Na figura abaixo, ilustramos um controle do desempenho (das atividades, das tarefas, dos programas etc.) e dos executantes (pessoal) enquanto um processo. 53 Se o desempenho do executante estiver abaixo do esperado 1. Qual é o objetivo da campanha? 2. Como está o desempenho do executante – acima, dentro, ou abaixo do padrão? 3. Por quê? 4. O que devemos fazer em relação a isso? A origem do desvio não é um padrão fora da realidade. A origem do desvio é um padrão fora da realidade. Segundo este modelo, os especialistas em Marketing Social devem começar estabelecendo padrões específicos e mensuráveis de desempenho e de executantes. Se os padrões não puderem ser medidos, ou se forem inaceitáveis para o pessoal envolvido, não haverá meios para um controle eficaz. A segunda etapa do processo de controle é medir e comparar o desempenho com um padrão estabelecido previamente, que servirá como referência do padrão de qualidade desejado. Depois disso, vem a terceira fase, que é o diagnóstico do porquê os resultados da avaliação estão sofrendo os desvios verificados. Os especialistas em Marketing Social devem sempre diagnosticar os resultados, mesmo que eles estejam de acordo com os padrões ou acima destes. O diagnóstico permite que o profissional de Marketing Social saiba se deve atribuir os resultados aos executantes ou a fatores externos, e quais são estes fatores. A última etapa do processo de controle se refere às medidas corretivas, planejadas a partir do diagnóstico realizado. 54 Mas como realizar o controle do desempenho e o controle dos executantes? Instrumentos de Controle do Desempenho Para controlar se a execução de uma atividade está dentro dos padrões estabelecidos e se ela está atingindo os objetivos propostos, o especialista em Marketing Social pode utilizar vários instrumentos. Existem dois métodos que podem ser utilizados: a medição do desempenho em relação aos padrões e objetivos estabelecidos ou em relação aos recursos utilizados. Os estudiosos dos mecanismos de controle de desempenho elaboraram uma teoria em que este controle é resultado da relação entre a eficácia e a eficiência ao mesmo tempo. A análise da eficácia compara o desempenho do programa com dois padrões: o objetivo relevante do programa e a necessidade que o público alvo tem em relação ao produto social. O primeiro padrão produz o índice de controle da eficácia das metas do programa, e o segundo padrão produz o índice de controle da eficácia da potência do programa. Já a análise da eficiência mede e compara o desempenho do programa em relação a outros dois padrões: os recursos totais usados pelo programa para gerar um resultado e a capacidade estimada do programa necessária para gerar o resultado. A primeira comparação tem como resultado o índice de controle da eficiência alcançada pelo programa até aquele momento, e a segunda comparação resulta no índice de controle da eficiência da capacidade do programa em ter novos adeptos. Instrumentos de Controle dos Executantes Para ter bons funcionários envolvidos em uma campanha de Marketing Social, não basta apenas realizar uma boa seleção e um bom treinamento: é preciso que o 55 profissional de Marketing Social responsável pela campanha aplique os instrumentos de controle dos executantes a fim de garantir o sucesso do programa. Estes instrumentos são, portanto, um sistema poderoso para o controle de uma campanha de Marketing Social. Recompensas e punições são instrumentos que visam a motivação daqueles que trabalham no projeto, e os valores e os tabus são instrumentos da liderança que visam controlar os executantes. Os executantes podem ser motivados de duas maneiras: através da modificação do comportamento, que depende mais do executante do que da liderança, e através do estabelecimento de metas, que depende mais dos controles externos que influenciam a execução de seu trabalho. A modificação do comportamento do funcionário pode ser realizada através de reforços positivos, pois eles são reforços melhores do que os negativos, ainda que estes possam ser usados pontualmente para cortar comportamentos indesejáveis. O estabelecimento de metas define um objetivo que o indivíduo deve alcançar, e a meta deve ser clara e objetiva, pois metas abstratas são difíceis de serem compreendidas e mais difíceis de serem alcançadas. Um grupo que compreende com clareza e sente-se desafiado pelos objetivos do programa social ficara mais motivado e será mais produtivo. A liderança é um elemento chave para o sucesso do programa social, pois é ela quem garante a continuidade da realização das tarefas administrativas que sustentam o programa. Especialistas em Marketing Social devem ter um perfil de liderança, e saber agir de acordo com as situações. 56 Para ser um bom líder, é preciso que o profissional incorpore as seguintes práticas em seu cotidiano: - Uma liderança efetiva está baseada em objetivos e tarefas específicos. Quanto mais rotineiras forem as tarefas do subordinado, maior será a necessidade do líder exercer um controle rígido e ser claro em relação às exigências do trabalho. Se o trabalho for desgastante, o líder deverá demonstrar interesse e compreensão em relação às tarefas executadas pelo seu funcionário.
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