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MpMagEst Direito Civil Francisco Loureiro Data: 03/05/2013 Aula 07 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Invalidade dos negócios jurídicos. 2. Ação pauliana. 3. Modalidades (ou elementos acidentais) 1. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 1.1. Fraude contra credores (art. 158 a 165) – continuação. “Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.” É comum que o devedor para prejudicar seus credores pratica “simulação fraudulenta”: simula a venda de um bem para um terceiro com a promessa desse bem retornar ao patrimônio do devedor tão logo as dívidas desapareçam. Nesse caso o ato é nulo e, portanto a declaração de nulidade pode ser pleiteada a qualquer tempo. Trata-se de uma simulação Requisitos: a) Eventus damni: requisito objetivo; é o prejuízo que sofre o credor decorrente da diminuição patrimonial. b) Consilium fraudis: requisito subjetivo; é o propósito malicioso de evitar a cobrança dos credores. Obs.: esse requisito é irrelevante nos atos gratuitos, mas apenas nos negócios onerosos. Situações que configuram fraude contra credores: a) Transmissões gratuitas e remissões de dívidas. (obs.: remição é resgate de uma dívida e remissão é perdão). b) Atos de transmissão onerosa de bens (art. 159) – devem estar previstos os dois requisitos: eventus damni e consilium fraudis. Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.” 2 de 6 Obs.: basta a culpa do adquirente, não se exige o dolo do adquirente. A doutrina exemplifica algumas hipóteses que transmite indícios de fraude contra credores: existência de outras ações ajuizadas, parentesco ou afinidade como vendedor, protestos, ações judiciais distribuídas, etc. Se o adquirente não saldou o resto da dívida, poderá depositar o remanescente em juízo e chamar os credores para se habilitarem no crédito com o objetivo de salvar o negócio (art. 160): “Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.” c) Pagamento antecipado da dívida, o que prejudica os outros credores. d) Garantia outorgada em favor exclusivo de um dos credores – presume-se a fraude e não se exige o consilium fraudis. 2. AÇÃO PAULIANA Também denominada ação revocatória, contudo, tal expressão é mais utilizada para ações falimentares. “Súmula 195 do STJ – Em embargos de terceiro, não se anula ato jurídico por fraude contra credores.” 2.1. Requisitos da ação pauliana: (i) Credor quirografário (porque não tem garantia real). Em princípio o credor com garantia real (hipotecário, pignoratício) não pode ajuizar ação pauliana. O credor com garantia real só pode ajuizar ação pauliana se seu crédito for maior do que a garantia. Logo, nessa hipótese, parte de seu crédito é quirografário e parte é pignoratício; (ii) O crédito do credor deve ser constituído antes da fraude; O STJ admitiu, por absoluta exceção, situações de fraudes contra créditos futuros ex.: o devedor já programando a fraude, se desfaz dos seus bens de forma muito próxima ao ato; Obs.: fiador no contrato de locação antecipando que será obrigado a pagar a dívida do locatário se desfaz de todos os seus bens para evitar o pagamento. (iii) Réus na ação pauliana: devedor insolvente, os terceiros que com ele celebraram a obrigação fraudulenta (litisconsórcio necessário). O verbo poderá do artigo 161, deve ser lido como: “deverá”: “Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele 3 de 6 celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.” Os terceiros adquirente de má-fé, são os sub-adquirentes (exige-se sempre o consilium fraudis) ex.: são os adquirentes que adquirem o bem daquele que adquiriu do devedor. (iv) Consilium fraudis: nos casos de atos onerosos é exigido o propósito malicioso do devedor. (v) Insolvência do devedor: essa prova deverá ser realizada pelo devedor. É ele que deverá provar em juízo que o que sobrou de seu patrimônio, a capacidade de pagar suas dívidas. Obs.: o STJ entende que se houver intenção de alienar o bem impenhorável com o objetivo de fraudar os credores, mesmo que aquele bem não fosse atingido pelo crédito, o negócio é desfeito com o objetivo punitivo. (vi) Prazo decadencial de 04 anos para seu ajuizamento (não suspende e não é interrompido). O entendimento do STJ é pacífico no sentido de que o ato de disposição de bens imóveis não conta da data da celebração do negócio, mas sim da data do registro. REsp 710810 2.2. Efeitos da fraude contra credores. O entendimento é pacífico que embora o esteja escrito anulado, trata-se de eficácia, o bem não volta para o patrimônio do devedor, o bem continua com o adquirente, contudo somente aquele credor que ajuizou a ação poderá penhorar o bem e leva-lo a hasta pública. Obs.: o registro não é cancelado, a venda é ineficaz somente em face daquele credor. REsp 506312 “Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.” 2.3. Distinção da fraude contra credores e fraude da execução: Ambas geram ineficácia relativa (apenas contra aquele credor) do negócio jurídico. Na fraude a execução existe um crédito que, quando ao tempo de alienação existia uma ação judicial capaz de levar o devedor a insolvência. A ação fica tecnicamente pendente no ato da citação, quando é completado o ciclo processual. Na fraude a execução não se exige a necessidade de uma ação pauliana. “Súmula 375 do STJ – o reconhecimento da fraude a execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro adquirente”. Após a averbação da penhora (averbação é o termo técnico correto) não necessita da comprovação da má-fé. Trata-se da boa-fé subjetiva ética, ex.: o adquirente não poderia saber das hipóteses daquele crédito. 4 de 6 Certidão comprobatória do ajuizamento da execução levada a registro impede alegação de adquirente de boa-fé (615-A do CPC) 3. MODALIDADE (art. 121 a 137) São chamados também de elementos acidentais do negócio jurídico, porque são circunstancias que as partes criam para modular a eficácia do negócio jurídico, alterando os seus efeitos. São elementos acidentais: (i) Condição (ii) Termo (iii) Encargo ou modo As modalidades dos negócios jurídicos não são acessórias porque não podem ser separadas dos negócios jurídicos, pois, uma vez criadas, aderem aos negócios jurídicos e acompanham o negócio com os efeitos que vierem a produzir. Nada impede que as partes, com base na autonomia da vontade,estabeleçam outras convenções. Negócio jurídico puro ou simples é aquele que não tem termo, encargo ou condição. Há, porém, alguns negócios jurídicos que não admitem modalidades (condição, termo e encargo) ex.: renuncia a herança, casamento, reconhecimento de filhos, atos relacionados a direitos personalíssimos, etc. 3.1. Condição (art. 121 a 130) É uma cláusula convencional (derivada exclusivamente da vontade das partes) que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. “Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.” 3.1.1. Requisitos: a) Voluntariedade – deve nascer da vontade das partes b) Futuro – toda condição pressupõe incerteza, logo se o evento é passado ele é certo. c) Incerto – se é evento futuro, mas certo, não se trata de condição, mas sim de termo. Deve ser uma incerteza objetiva (ninguém deve saber da incerteza, se o evento é certo, mas o contratante desconhece, não é suficiente para caracterizar condição). Obs.: sempre que condição decorrer da lei, será uma condição imprópria, não é propriamente uma condição. 3.1.2. Espécies de condição: “Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.” 5 de 6 a) Condições casuais – o acontecimento futuro e incerto está sujeito ao acaso ou a vontade de terceiros, logo esse evento é estranho à vontade das partes. Ex.: só realizo uma doação se determinado time de futebol for campeão; só vendo determinado bem caso chova. b) Condições puramente potestativas: são aquelas que o evento futuro e certo estiverem condicionadas as vontades de uma das partes – é uma vontade unilateral. Tais condições são ilícitas porque na verdade não há condição expressa. Ex.: vou doar o veículo se eu quiser. c) Condições relativamente potestativas: o evento futuro e incerto depende do comportamento de uma das partes, mas não só dele. Seu comportamento influi, mas não é determinante ex.: contrato de jogador de futebol que estipula um prêmio em caso de marcar certo número de gols. d) Condições mistas: são aquelas que mesclam o comportamento das partes com acontecimento completamente estranho às suas vontades. Ex.: darei o veículo à você, caso cante no espetáculo durante a chuva. e) Condições possíveis e impossíveis: (i) Fisicamente impossível: obstáculo natural que é intransponível para todas as pessoas, contudo, a doutrina mais moderna entende que basta que tal impossibilidade se restrinja às partes contratantes. A impossibilidade deve ser concomitante ao nascimento do contrato (ii) Juridicamente impossíveis: não se concretizam porque encontra um obstáculo na lei ex.: doação de certo bem se a pessoa casar após os 70 anos pelo regime da comunhão universal de bens, ou faço uma doação se alguém se emancipar antes dos 16 anos. Obs.: se as condições forem impossíveis (física ou juridicamente) o próprio negócio jurídico é invalidado (Art. 123, I): “Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;” Só a suspensiva invalidada o negócio jurídico, sendo resolutiva, invalidam a própria condição e o negócio se torna puro e simples. f) Condições lícitas e ilícitas: “Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.” (i) Ilícitas não atinge a lei, mas aquelas que violam as regras e princípios cogentes do negócio civil. As condições ilícitas não valem e contaminam todo negócio A condição ilícita é mais grave do que a juridicamente impossível, ex.: faço a doação do imóvel se você matar alguém. 6 de 6 Obs.: a esposa só receberá a herança se não casar após a morte do marido são consideradas condições ilícitas. Contudo, a condição de não casar com certa pessoa são lícitas ex.: casar com o inimigo do marido após sua morte. (ii) Condições perplexas e incompreensíveis são ilícitas e contaminam todo o negócio jurídico. São condições que privam de todo efeito do negócio jurídico g) Condições suspensiva e resolutivas (i) Condições suspensivas (art. 125): Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.” O negócio existe e é válido, mas a eficácia do negócio jurídico está suspensa até o momento em que a condição é verificada e implementada. Quando do nascimento do negócio há mera expectativa do negócio. Obs.: essa expectativa é possível ser cedida.
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