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TIPOS DE RACIOCÍNIO JURÍDICO

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TIPOS DE RACIOCÍNIO JURÍDICO
Existem praticamente dois tipos de raciocínios no Direito: os raciocínios lógico-dedutivos ou lógico-formais, que se apresentam como raciocínios não especificamente jurídicos, mas como procedimentos intelectivos de ordem geral que também podem ser encontrados na teoria e na vida jurídica; e propriamente, os raciocínios jurídicos, que Perelman qualifica como dialéticos - que tratam, enfim, da argumentação jurídica.
Nestes procedimentos discursivos, enquanto os raciocínios lógico-formais produzidos no Direito seguem os postulados de inferência dedutiva ou indutiva inerentes ao esquema da Lógica Formal, os raciocínios jurídicos típicos buscam se legitimar mediante a aceitação pelos receptores, do discurso argumentativo. Os raciocínios jurídicos são caracterizados pela controvérsia, pelo desacordo, isto é, são dialéticos, logo a contraditoriedade é característica inerente à sua própria natureza.
Raciocínios por inferência
Partindo de duas ou mais verdades podemos concluir ou inferir outra verdade delas decorrente. O ato de tirar de mais de uma verdade uma terceira é o que denominamos inferência mediata, pelo fato de o raciocínio, para concluir, necessitar passar por um intermediário, por um mediador que possibilite a conclusão. As inferências mediatas processam-se por: indução, dedução e analogia. 
INDUÇÃO: quando parte do particular para o geral
	A indução é a operação mental que vai dos fatos, de um certo número de observações ou experiências, a uma proposição geral, à lei. A indução é a forma básica de raciocínio que permite obter conhecimentos do que é desconhecido por intermédio do conhecido.
	
Exemplificando
	“(...) observo que o ferro, a prata, o cobre, o zinco, o chumbo [...] são bons condutores de eletricidade”; ora “o ferro, a prata, o cobre, o zinco, o chumbo [...] representam suficientemente o metal”, logo, “o metal é bom condutor de eletricidade” (PERELMAN)
	Partimos do conhecido pela experiência, daquilo que é contingente e particular, para uma proposição geral, para a lei, que exprime uma relação universal e necessária, para todos os tempos e lugares. Pressupomos que o que vale para a parte empiricamente observada, vale também para o todo idealmente concebido.
	DEDUÇÃO (silogismo): vai do geral para o particular
	Dedução é a operação lógica (inferência) que consiste em concluir uma terceira proposição de duas outras dadas, indo dos princípios para uma conseqüência 
logicamente necessária.
Exemplificando
	Todo o homem sábio é virtuoso; ora Sócrates é homem sábio; logo Sócrates é virtuoso.
	Na dedução, tem-se a certeza lógica da conclusão, visto que se tem a segurança de que, observadas as regras da lógica dedutiva, partindo-se de premissas verdadeiras, a conclusão não pode deixar de ser verdadeira, pois ela, de certo modo, já está presente nas premissas.
Lacuna jurídica
 As lacunas podem aparecer em todos os ramos do Direito. Não só o juiz, mas também o funcionário administrativo, pode sentir-se desorientado por causa delas.
 As lacunas são deficiências do Direito positivo apreensíveis como faltas ou falhas de conteúdo de regulamentação jurídica para determinadas situações de fato em que é de esperar essa regulamentação e em que tais falhas postulam e admitem a sua remoção através de uma decisão judicial jurídico-integradora.
 As lacunas aparecem, portanto, quando a lei não nos dá uma resposta imediata a uma questão jurídica. Conforme já assinalado por vários juristas, a lei fornece uma resposta quando esta dela é retirada por interpretação, mesmo que seja uma interpretação extensiva.
 Sendo assim, na medida em que a interpretação seja suficiente para responder às questões jurídicas, o Direito não será, pois, lacunoso. Pelo contrário, a analogia possui já uma função integradora. Ela não exclui as lacunas, mas fecha-as ou colmata-as.
 Por outro lado, o jurista não se deve ater apenas a vontade do legislador histórico, pois as mudanças das concepções de vida pode fazer surgir lacunas que anteriormente não haviam sido notadas e que temos de considerar como lacunas do Direito vigente
 As regulamentações jurídicas não raro se tornam posteriormente lacunosas pelo fato de , em razão de fenômenos econômicos inteiramente novos ou de progressos técnicos surgirem questões jurídicas às quais a regulamentação anterior não dá qualquer resposta satisfatória.
 Diante disso, podemos asseverar que o mais conhecido método de pensamento jurídico é o argumento de analogia.
 
Analogia
 Analogia é a operação mental que consiste em estabelecer uma relação entre coisas em virtude de haver uma relação de semelhança entre elas.
A lógica formal, de certa forma, desconsidera a diferença, porque esta prenuncia a contradição, a experiência do diverso, o tempo, a mudança, a história, pois ela reduz o universo ao conjunto de entes idênticos, atemporais, imutáveis. Por isso, a analogia é mais própria da Teoria da argumentação, onde se admite o diverso, o provável, o circunstancial e ter em Direito um papel extremamente significativo, já que a realidade social nunca se apresenta com a exatidão e a uniformidade das ciências exatas. Razão por que faremos um estudo mais minucioso sobre analogia. 
 Uma analogia é uma forma de lógica pela qual se conclui que, sendo dois elementos iguais pelo menos sob um aspecto, deverão sê-lo em pelo menos mais outro aspecto. Na análise jurídica, a finalidade da analogia é determinar se, no segundo caso, a pessoa possui o mesmo direito, ou obrigação que existia no primeiro.
Raciocinando por analogia, o advogado identifica ao menos um caso anterior – ou seja, um precedente – que pareça conter fatos em comum com a situação de seu cliente. O advogado analisa então o caso a fim de identificar as consequências jurídicas daquele fato.
Se o advogado achar que os fatos da situação do cliente são análogos aos do precedente – isto é, se achar que os fatos do caso do cliente são parecidos com os do precedente -, ele conclui que o precedente deveria ser seguido. Em outras palavras, a situação do cliente deve gerar a mesma consequência jurídica que os fatos do precedente.
Se, porém, o advogado achar que os fatos da situação atual são diferentes dos contidos no precedente, a conclusão será que este não deve ser seguido, quer dizer, o precedente não é tratado como caso semelhante e portanto não precisa ser seguido.
A analogia envolve, como a dedução, três etapas. Em primeiro lugar, o advogado identifica uma norma ou considerando anunciado num caso anterior. A norma ou considerando tem a mesma função da premissa maior no silogismo: é a declaração do direito a ser seguida potencialmente. Em segundo, o advogado determina se os fatos da situação atual são parecidos com os do caso anterior. Caracterizar os fatos como semelhantes ou não aos do precedente lembra a caracterização dos fatos na premissa menor do silogismo. Finalmente, a caracterização dos fatos como semelhantes ou não aos do precedente traz a conclusão de que a situação atual deve ou não deve ter a mesma consequência jurídica dos fatos do precedente.
Contudo, a analogia difere de dedução porque o advogado quando recorre ao raciocínio analógico, se vale de um caso específico para decidir outro caso específico. Ao contrário, o advogado que recorre no raciocínio jurídico em sua forma dedutiva se vale de uma norma geral para decidir um caso específico.
I) ARGUMENTAÇÃO INDUTIVA POR ANALOGIA
A argumentação indutiva por analogia é aquela em que a conclusão aceita uma asserção, pela mesma razão que justificou a aceitação da asserção semelhante no antecedente. Logo, o argumento por analogia estende-se a outras situações, para o alcance de uma decisão.
Ex.: Se uma lei promulga certas disposições relativas aos filhos herdeiros, por analogia tais disposições serão estendidas também às filhas (semelhança / inclusão).
A argumentação indutiva por analogia exprime-se conformeo seguinte princípio: causas semelhantes produzem efeitos semelhantes e divide-se em argumentação “a pari” (símile), argumentação “a fortiori” e argumentação “a contrario”.
Argumento a pari ou a símile 
A expressão jurídica refere-se ao argumento que relaciona dois casos entre si, considerados semelhantes, concluindo que, se, para ambos, vale a mesma hipótese, devem valer também as mesmas consequências. Ambos, modernamente, são considerados como a assimilação de duas espécies ao mesmo gênero, daí estarem esses argumentos na base da analogia, não havendo mais diferença entre eles (FERRAZ: 2000 : 337)
Na esteira do exemplo dado, pelo argumento a pari tenta-se estender os mesmos direitos às filhas, precisamente porque a interpretação de filhos diz que a palavra não se refere, neste caso, somente aos indivíduos do sexo masculino, mas que o sentido deve ser considerado genérico e, por isso, inclui os indivíduos de ambos os sexos, o que quer dizer que a interpretação produziu uma relação de inclusão.
O argumento por analogia é bastante útil, e se revela com maior intensidade no texto jurídico pela cópia das decisões jurisprudenciais. Assim, o argumento por analogia deve prevalecer por uma identidade de fatos e fundamentos que devem aparecer no texto daquele que pretende persuadir e aplicar decisões idênticas para casos concretos semelhantes.
Argumento “a fortiori” 
É aquele em que a conclusão aceita uma asserção, com mais razão do que a que justificou a aceitação da asserção semelhante no antecedente. Ou seja, se uma norma jurídica impõe uma conduta a alguém, com ainda mais razão impõe uma conduta ao mesmo sentido, mas com maior intensidade.
O argumento a fortiori (= com maior razão) divide-se em dois tipos distintos: o argumento a minori ad maius e o maiori ad minus.
O argumento a minori ad maius aplica-se no caso de prescrição negativa.
Ex.: Se uma lei prescreve que não se pode trafegar de noite com os faróis do veículo apagados, a fortiori deve-se entender que é proibido trafegar de noite com um veículo sem faróis. (Se a lei proíbe o menor, evidentemente deve proibir o maior).
O argumento a maiori ad minus é bem enunciado na expressão: “Quem pode o mais pode o menos”. Seu raciocínio é análogo ao tipo exposto acima, mas com aplicação para normas permissivas em vez de proibitivas: se a lei concede certo benefício a alguém, com certeza concede um benefício menor, que está contido nele.
Ex.: Se a lei permite que quem é condenado a quatro anos de reclusão cumpra sua pena em regime especial aberto, certamente deverá permitir que o condenado a dois anos de reclusão cumpra sua reprimenda nas mesmas condições.
Quando o advogado deparar-se com argumento a fortiori articulado pela parte contrária, é válido prender-se à interpretação mais restrita da lei, pois tanto o argumento a maiori ad minus como o a minori ad maius pretendem, cada um a seu modo, ampliar a interpretação da norma jurídica.
Por outro lado, argumentar a fortiori não significa apenas estender o sentido de norma jurídica, mas sim estendê-lo com maior razão. Entretanto, essa “maior razão”, como assinalamos, pode ser contestada apenas recorrendo-se ao sentido literal da lei, sua interpretação no sentido mais restrito.
Ex.: A contravenção prevista no art. 21 da Lei das Contravenções Penais (vias de fato), embora configure perigo de lesão ao bem jurídico integridade física, continua, no nosso modo de entender, sendo de ação pessoal pública incondicionada.
Aqui não prevalece a regra, incontestável do ponto de vista lógico, de que, se a lei exige representação para o mais (lesão corporal), também se faz necessária para o menos (vias de fato).
O raciocínio não é válido tendo em vista o disposto no artigo 100, §1º , do CP, que diz “A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça”
Nesse exemplo, os autores não necessitavam recorrer ao artigo 100 do Código Penal para desconstituir o raciocínio a fortiori, pois lhes bastava o princípio da legalidade. O que é importante no exemplo acima é a forma de se desconstituir tal tipo de argumento, pois quando o operador de direito deparar-se com o argumento a fortiori, articulado pela parte contrária, é válido prender-se à interpretação da lei no sentido mais restrito (sentido literal da lei), pois o argumento a fortiori amplia a interpretação da norma jurídica.
Por outro lado, ressaltamos que o argumento a fortiori não é, por si só, jurídico. Quando, no Sermão da Montanha, Jesus lembra aos discípulos que Deus, que não deixa os pássaros morrerem de fome, tampouco se desinteressará da sorte dos homens, ele utiliza o argumento a fortiori, do qual se vê claramente que não é um raciocínio puramente formal, pois pressupõe que os homens merecem maior interesse que os pássaros.
O raciocínio, não tendo tomado como ponto de partida uma decisão de justiça, pertence não ao âmbito da lógica jurídica, mas ao da argumentação. Quando se insere argumento a fortiori em uma ordem jurídica, ele permite guiar o juiz e justificar-lhe a decisão.
C) Argumento a contrario sensu (restrição/ exclusão)
O argumento a contrario sensu é tipicamente jurídico e tem estrita relação com o princípio da legalidade, inscrito no inciso II do artigo 5º da atual Constituição Federal, que dispõe que: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Sua origem fundamenta-se na observação de que, se uma norma jurídica prescreve uma conduta e a ela, uma sanção, a um sujeito, deve-se excluir de seus efeitos todos os sujeitos que não tenham sido alvo do texto literal da lei (Rodríguez, Víctor Gabriel de Oliveira, 2000 : 236-238).
Ex.: Se uma lei promulga certas disposições relativas aos filhos herdeiros, tais disposições não se aplicam ao do sexo feminino.
O argumento a contrario delimita o alcance de uma decisão, pois exclui a aplicação da regra de justiça aos casos distintos.
Ex.: Se um homem é condenado à morte por ter assassinado premeditadamente um inocente, será necessário aplicar a mesma pena a um menino de nove anos que matou o irmãozinho?
O argumento a contrario sensu, ou seja, de interpretação inversa, é utilizado pelo argumentante não apenas ao interpretar os dispositivos legais, dentro do princípio da legalidade. Ele é também articulado para trabalhar, a favor do argumentante, jurisprudências e doutrinas, transformando-lhes o sentido, de maneira lógica, para adequar-se a uma tese qualquer pela interpretação por via inversa. (Cf. Rodríguez, 2000 : 230). Doutrinas e jurisprudências, muitas vezes, como já assinalamos, revelam a mesma tese que se quer defender, mas sob o prisma inverso, por exemplo: aceita-se a incidência de uma norma jurídica porque está presente um requisito, enquanto se quer defender, no caso concreto, a não incidência dessa mesma norma jurídica, por causa da ausência desse requisito. Nesses casos, é lícito ao advogado a construção do raciocínio a contrario sensu, que não é nada raro no cotidiano forense.
Ex.: Sujeito passivo, que se diz ofendido em entrevista jornalística publicada em periódico, não fez prova de que o profissional da imprensa tenha reproduzido fielmente as declarações do denunciado. Este está diante, então, de um processo crime por um fato que pode haver sido cometido por outra pessoa, ou seja, o jornalista, que redigira o texto publicado em jornal, pode haver criado algumas das afirmações que o passivo reputa ofensivas.
A lei de imprensa, entretanto, assegura ao entrevistado a possibilidade de somente vir a ser partícipe do polo passivo de uma demanda criminal quando existir prova de reprodução fiel, no texto publicado, de suas declarações proferidas ao entrevistador.
Ora, se o sujeito passivo pode oferecer queixa-crime quando faz a prova da autorização do entrevistado para publicação dos ditos ofensivos, depreende-se, a contrario sensu, que não o pode fazer se não realizar, anteriormente, essa mesma prova.Pelo argumento a contrario pode-se contestar uma inclusão ou igualdade, a depender da interpretação da lei, e que permitirá, então, construir uma relação de exclusão.
Entretanto, essa argumentação deve ser construída com muita atenção para que o argumento a contrario sensu seja persuasivo, por isso o advogado deve perceber se o raciocínio contrário é possível na argumentação que pretende desenvolver.
Ex.: O artigo 27 do Código Penal dispõe que os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis. Assim, a contrario sensu, os maiores de dezoito anos são criminalmente responsáveis.
Sabemos, pois, que nem todos os maiores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, pois os doentes mentais inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito de seus atos, ainda sendo maiores de dezoito anos, também são agraciados pela inimputabilidade.
Ex.: (Art. 312 CP) “O funcionário público que se apropria de bens, móveis ou imóveis, comete crimes” Portanto, aquele que se apropria de bens alheios, não sendo funcionário público, não comete crime.
É de clareza solar que somente o funcionário público, na definição criminal do termo, comete o crime de peculato, o que não significa que a atitude de apropriar-se indevidamente de bens alheios somente seja conduta criminosa para o agente funcionário público.
Assim, para se combater um argumento a contrario sensu, deve-se checar se realmente não é equivocada a inversão do raciocínio de que o argumento exsurge. Caso essa inversão não seja possível, deve-se demonstrar tal impossibilidade, o que desconstitui o raciocínio a contrario sensu.
Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu por um princípio de equidade. Há, no caso, a chamada “analogia in bonam partem”, que não contraria o princípio da reserva legal. (MIRABETE, 2001, p. 47)
O argumento a contrario é legítimo exatamente para os casos em que o argumento por analogia é vedado, Por exemplo, à medida que se proíbe a analogia do Direito Penal, admite-se o argumento a contrario. 
 Como é sabido, tem-se utilizado o fato de o jurista frequentemente se encontrar perante a alternativa: argumento de analogia ou argumento a contrario, e de se debater com a dúvida sobre a qual desses argumentos deve dar preferência.
 Entretanto, a escolha entre o argumento de analogia e o argumento a contrario não pode de fato fazer-se no plano da pura lógica. O processo formal de concludência, que, é claro, tem de ser logicamente correto, praticamente só funciona em ligação com determinados conhecimentos materiais que têm de ser adquiridos através de uma metódica especificamente jurídica.
 Podemos, inclusive, assegurar que o argumento jurídico por analogia não se nutre apenas da sua segurança lógica e da sua aplicabilidade jurídico-prática baseada na semelhança jurídica, mas mergulha as suas raízes mais profundamente no chão do Direito ao pressupor que, para aplicação deste, os preceitos legais podem e devem ser frutuosos não só direta como ainda indiretamente.
 Há limites para a analogia. Daí a famosa máxima: singularia non sunt extendenda, isto é, os preceitos excepcionais não podem ser estendidos – nem mesmo através da analogia. 
 Se uma disposição é editada para um determinado caso excepcional ou para um grupo de tais casos, não pode, é evidente, ser analogicamente aplicada a casos nos quais se não verifique esta situação excepcional.
 Quando, por exemplo, os parágrafos 844 e 845 do Código Civil reconhecem excepcionalmente a certos grupos de pessoas imediatamente prejudicadas por atos ilícitos um direito à indenização, conferindo aos membros da família com direito a alimentos e prejudicados pela morte culposa do chefe de família, um direito a pensão alimentar, esses preceitos não podem ser aplicados em benefício de outras pessoas indiretamente prejudicadas, não podem ser aplicados, em geral, em benefício de pessoas que poderiam ser contempladas com liberalidades ou beneficências espontâneas por parte do falecido.
 Aqui há lugar para o argumento a contrario: na falta dos pressupostos particulares, a consequência jurídica específica tem de ser denegada 
Observação:
	Não se deve confundir a interpretação analógica da lei, que é a busca da vontade da norma por meio da semelhança com fórmulas usadas pelo legislador, com a analogia, que é a forma de autointegração da lei com a aplicação a um fato não regulado por esta de uma norma que disciplina ocorrência semelhante, ou seja, na lacuna da lei, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. 
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Alaôr Café . Lógica . Pensamento formal e argumentação. Elementos para o discurso jurídico. Bauru, SP: EDIPRO, 2000
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 2001.
 FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Direito, retórica e comunicação. São Paulo: Saraiva,1997.
PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica. Tradução de Vergínia K. Pupi. São Paulo : Martins Fontes, 1998.
PERELMAN, Chaïm et OLBRECHTS – TYTECA, Lucie –.Tratado de argumentação - A nova retórica. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
 RODRÍGUES, Víctor Gabriel de Oliveira . Manual de redação forense. Campinas: São Paulo: Editora jurídica Mizuno, 2000.
VOESE, Ingo. Argumentação Jurídica – Teoria – Técnicas – Estratégias. Curitiba: Juruá, 2001.

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