Buscar

TCC em Letras - Conteúdo Online

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TCC EM LETRAS (LÍNGUA PORTUGUESA)
AULA 1 – PRIMEIROS PASSOS
Introdução ao Trabalho de Conclusão de Curso
Considerações Iniciais
A elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso é um requisito importante para que os estudantes universitários obtenham seu grau, concluam com pleno aproveitamento o seu curso. Por este motivo, dedicamos especial atenção ao esforço de orientar todos para que cumpram esta etapa de sua formação com êxito. Ao longo de nossas aulas, veremos, passo a passo, as etapas necessárias para que o trabalho de cada um seja feito.
Por meio da realização de seu TCC, o aluno revela sua capacidade de pesquisador, uma habilidade das mais importantes na vida acadêmica. No futuro, caso venham a fazer uma pós-graduação, já se encontrarão mais bem preparados. Além disso, em outras tarefas profissionais, como a elaboração de aulas ou o planejamento de atividades docentes, terão maior facilidade caso já dominem habilidades ligadas à busca de informações e à reflexão crítica sobre tais informações.
Neste momento de sua vida acadêmica, o estudante mobiliza aspectos vários da bagagem adquirida no curso. Neste momento, antes de mais nada, é importante destacar a importância ao que foi estudado nos dois períodos em que se trabalhou com a disciplina de Produção Textual, uma vez que o nosso objetivo principal é conduzir os estudantes a construir uma reflexão e escrever um texto dissertativo observando os critérios básicos de clareza, coesão e coerência textuais, qualidades que se requer de qualquer texto acadêmico.
Além disso, é preciso ressaltar que a ocasião pede uma atenção especial à variante padrão da língua, ou seja, um cuidado especial com a correção do texto, obedecendo às regras básicas no que diz respeito à gramática e ortografia.  Para tanto, o estudante deve desenvolver uma sistemática de trabalho que passe pela elaboração de rascunho, pela submissão deste a quantas revisões forem necessárias, para que o resultado final esteja a contento.
Há ferramentas tecnológicas que nos ajudam neste processo, os corretores automáticos, a começar pelo próprio corretor do Word, mas é preciso ter cuidado e não confiar por completo nestes recursos, em particular no que diz respeito à revisão sintática, que o sistema oferece por meio de uma linha verde abaixo dos supostos erros cometidos. A solução para um bom aproveitamento da revisão é incorporar o processo de revisão como uma constante inseparável do cotidiano do estudante.
Ao realizar a pesquisa e elaborar o texto final do seu trabalho, todos devem ter em mente que sua produção poderá vir a ser objeto de análise e estudo por outros estudantes. O texto sempre deve pressupor um público em potencial. Não se deve imaginar que um texto como este virá a ficar guardado numa gaveta para sempre. O estudante não escreve apenas para ser avaliado.
Os ensaios produzidos pela turma podem vir a ser disponibilizados em biblioteca para enriquecer a vida acadêmica de futuros estudantes/pesquisadores. Por este motivo, a atenção aos requisitos básicos de apresentação do texto é absolutamente essencial.
A seguir, antes de darmos início ao processo de elaboração do trabalho propriamente dito, vamos levantar alguns questionamentos da maior importância. Convido todos a ler com atenção e considerar com muito cuidado o que adiante se expõe. Mais do que mera introdução ao nosso curso, estamos propondo toda uma reflexão voltada para a percepção de como é importante que um estudante universitário se mostre capaz de pesquisar antes de ser considerado apto a ingressar no mercado de trabalho. 
A Universidade e Seus Propósitos
O primeiro passo a ser dado é conceituar “pesquisa”. Para tanto, é importante colocar em debate a universidade, enquanto instituição. Estamos acostumados a pensar a universidade como instituição de ensino, cujo propósito central seria a transmissão do conhecimento. Não há como negar que ela existe para atender a esta finalidade. Porém, não se esgota aí.
Não somos como aquelas bibliotecas antigas, em que todo o saber acumulado de uma civilização fica guardado, pronto e imutável. Pelo contrário, somos uma instituição dinâmica, que está aberta a um processo contínuo de avanço em novas descobertas, bem como a uma constante reavaliação do conhecimento já produzido. Para que isto tudo se realize, é preciso que a universidade não funcione apenas como instituição de ensino, mas também de pesquisa.
Isso ainda não é tudo. Está previsto na legislação em vigor que a universidade também esteja aberta ao mundo, devendo abrir-se para a realização de atividades que tenham importância para o conjunto da sociedade. Para dar conta desta tarefa, desenvolvem-se as atividades de extensão.
Podem ser cursos de capacitação, abertos à comunidade próxima do campus, campanhas de esclarecimento sobre questões diversas, aulas de reforço para estudantes do ciclo básico, atendimento gratuito em áreas que podem ir desde o direito trabalhista à enfermagem etc. 
O que importa é que a universidade não seja fechada, o que ainda é mais importante se considerarmos o fato de que vivemos numa sociedade carente nos mais diferentes aspectos.
Veja então que a universidade é uma instituição que precisa estar em constante diálogo com o resto da sociedade, assim como é importante que as diferentes universidades estejam em diálogo entre si. Elas formam profissionais para atender às necessidades desta sociedade, então não pode estar alheia às carências desta sociedade. Não podem agir como se fossem mundos à parte, mantendo-se fechadas em altos muros, como eram as antigas universidades europeias na Idade Média.
Tanto o ensino, como a pesquisa e a extensão – as três finalidades básicas das instituições universitárias – precisam estar interligadas e atender às demandas sociais, ou seja, precisam ser capazes de fornecer à sociedade justamente aquilo que ela precisa: profissionais formados com competência para atuar nos mais diversos campos do conhecimento humano e ajudar a população em suas necessidades básicas.
Bem, mas nosso Trabalho de Conclusão de Curso não precisa, obrigatoriamente, estar ligado a uma atividade de extensão. O que vamos comentar agora diz respeito à pesquisa, mesmo. Quando você entrou na faculdade, não estava somente começando a adquirir conhecimentos ligados à sua área de saber, o universo da linguagem e suas múltiplas manifestações.
Também estava sendo treinado para se tornar um pesquisador nesta área. Tendo adquirido uma postura voltada para a pesquisa, você passa, também, a contribuir para a aventura da construção do conhecimento.  
Talvez nem tenha percebido isto, mas o fato é que, desde o primeiro período, já vinha recebendo tarefas que estimulavam uma atitude de pesquisa, a procura pelas informações, como também a prática de submeter estas informações a uma reflexão.  
Pesquisar é buscar informações, mas também ir além da simples busca: é a capacidade de selecionar as informações realmente importantes e submetê-las a um processo constante de reflexão crítica. A rigor, todo saber universitário é fruto de pesquisa.  
Os conhecimentos que nos são transmitidos nas aulas das demais disciplinas foram, todos eles, resultado de um esforço constante de busca, seleção e reflexão.
Ou seja, tudo que hoje em dia é matéria de ensino foi um dia tópico de pesquisa. Disso resulta que não é possível pensar o ensino e a pesquisa como elementos separados dentro de uma universidade.
Será algum exagero dizer agora que o trabalho de ensinar pressupõe uma atitude constante de pesquisa?
Será algum destempero propor um conceito de ensino que inclua a prática constante da pesquisa? Então, o professor deve se habituar a manter uma atitude de dinâmica busca do conhecimento, de atualização.
Por isso, estamos aqui. Por isso, a produção de um ensaio crítico, atividade que pressupõe um trabalho sistemático de pesquisa, é tão importante na vida acadêmica de cada formando em Letras. Não somente para os que têm em mente uma carreira na pós-graduação.
Poderíamos mesmo dizer, como algumas teoriaspedagógicas, que o professor não é propriamente um “profissional do ensino”, mas sim um “profissional da aprendizagem”. Ou seja, alguém que faz da disposição em aprender uma profissão, tornando-se, por isso mesmo, alguém habilitado para guiar seus alunos nas aventuras do conhecimento.
Com efeito, fica difícil conceber o ensino e a pesquisa como atividades apartadas uma da outra, visto que sempre se alimentam de modo dinâmico. Desta forma, podemos propor que a finalidade fundamental das instituições universitárias é tornar os estudantes capazes de buscar as informações, onde quer que seja, processar estas informações, dialogar com elas, enfim, produzir conhecimento.
Sim, porque o que já vimos que é válido para nós, adquire importância em qualquer outra área. Os melhores profissionais são os que estão mais bem preparados para a busca constante de novos conhecimentos, para se confrontar sempre com o novo, estar preparado para atuar num mundo em transformação constante.
Entendo aqui pesquisa como uma atitude de constante diálogo crítico com a realidade. Esta é a tarefa a que nos propomos a partir de agora. Para tanto, um percurso será construído e espero que cada estudante possa dar o melhor de si para obter um resultado favorável. Isso leva o conceito para muito além da mera coleta de informações. De nada adianta ter nas mãos a informação se não soubermos o que fazer com ela, se não estivermos preparados para trabalhar a partir dela.
Modalidades de Trabalho Acadêmico
Outro tópico a exigir atenção nesta fase inicial é sobre o que será concretamente feito pelo estudante ao longo deste semestre. Ou seja, em que consistirá seu Trabalho de Conclusão de Curso. Em linhas gerais, podemos defini-lo como um ensaio crítico. Mas para uma explicação clara acerca do que vem a ser isso, será preciso comentar sobre as várias modalidades de trabalho acadêmico, correspondentes a cada etapa da vida acadêmica de um estudante.
Podemos começar pelas resenhas críticas, que são trabalhos em que o estudante deve resumir e comentar uma obra estudada em alguma disciplina do curso. Neste tipo de trabalho, as apreciações de teor crítico já começam a revelar a capacidade do estudante em perceber e avaliar a importância e o valor de uma obra, seguindo critérios que se baseiam no conteúdo estudado por ele ao longo do curso.
Assim, ao fazer uma resenha, o estudante revela um grau de maturidade proporcional ao nível de maturidade alcançada por ele no período em que se encontra.
Presume-se que um aluno que esteja por concluir seu curso de graduação está muito mais apto para elaborar boas resenhas do que um calouro. Mas vale ressaltar que na resenha o estudante apresenta comentários breves, o suficiente para demonstrar capacidade de aprofundamento na leitura do texto analisado.
Antes de prosseguir, é preciso deixar bem claro que o conceito de “crítica”1 com que se trabalha aqui não tem relação direta com a necessidade de apresentar uma avaliação negativa sobre o tema estudado. Um cuidado especial é preciso aqui, uma vez que podemos ser contaminados pela visão que o senso comum tem desta palavra.
1 Entendemos a crítica como a capacidade de submeter um tema, qualquer que seja ele, a uma apreciação racional, a um exame analítico, uma reflexão. Portanto, sua atividade de crítica pode chegar a resultados variados, inclusive a observações elogiosas sobre o texto ou a temática que foi alvo da análise.
Outra modalidade são os artigos científicos1, que não tem como objetivo avaliar uma obra, como as resenhas, mas expor um ponto de vista sobre um tema específico. Este também é um tipo de trabalho que o estudante de graduação pode vir a ser chamado a realizar.
1 O artigo se caracteriza por suas dimensões modestas, não precisando ter mais do que algumas laudas, cinco por exemplo. Por este motivo, deve ter em questão um tema bem específico, dissertar acerca de um único assunto. Esta modalidade também é conhecida no meio científico como paper, vocábulo tomado de empréstimo do inglês.
Chamamos o artigo científico por razões de ordem metodológica, conforme será explicado em aulas posteriores. Mas para adiantar alguns aspectos, o texto deve ser elaborado segundo as regras gerais observadas para a elaboração de qualquer trabalho científico. Deve seguir uma sistemática, resultar de um planejamento.
Uma explicação mais precisa a este respeito virá em nossas próximas aulas. Vale dizer que o mais importante de tudo é que o pesquisador tenha capacidade de análise e reflexão crítica. Ou seja, demonstre que é capaz de submeter o tema escolhido a um exame racional.
Contudo, nosso TCC não será um mero artigo. Será um texto que vai se oferecer como um espaço de reflexão mais extenso, no qual o estudante poderá demonstrar com mais liberdade a sua capacidade de análise.
O trabalho de conclusão de curso, seguindo os critérios que explicaremos mais adiante, deve ter um mínimo de quinze laudas de texto. Consideramos tal quantidade o mínimo suficiente para que o estudante demonstre ser capaz de seguir sua vida acadêmica, de modo a enfrentar qualquer outro desafio.
Por Onde Começar? A Delimitação do Tema
No decorrer do curso, no contato com todas as outras matérias que compõem a grade curricular, o estudante teve a oportunidade de tomar contato com uma gama extraordinária de informações. A busca do conhecimento foi sendo alimentada por vários semestres. Vários exercícios propostos nos fóruns, como oportunidades para enriquecer a vivência crítica e a reflexão sobre os mais variados temas da área de Letras.  
Vários tópicos apresentados como oportunidade para aprimorar a capacidade de reflexão crítica. Agora, quando chega o momento de elaborar o seu TCC, o aluno terá a oportunidade de demonstrar sua capacidade no mister de elaborar um ensaio. 
Conforme dito acima, o TCC é um trabalho de cunho monográfico, o que implica em dizer que será um texto escrito (grafado) que versa sobre um único (mono) tema. Um questionamento inicial se impõe: sobre qual tema trabalhar?
Foram tantas as opções apresentadas que é absolutamente normal que, num primeiro momento, o estudante fique indeciso. Mas a escolha não pode demorar, uma vez que há muito que fazer e não há tempo a perder. Proponho dois critérios básicos, para começo de conversa:
Dentre os muitos assuntos estudados ao longo do curso, escolha um que mais lhe motiva e agrada. Jamais faça um trabalho sobre algo que não lhe interessa muito, desperdiçando a oportunidade de pesquisar sobre algo que vai realmente dar a necessária motivação para que o trabalho tenha um rendimento favorável.
Tenha uma atenção especial para a questão do acesso ao material de pesquisa sobre o tema escolhido. Assim, algo que muito lhe interessa pode ser de difícil articulação, no plano do levantamento bibliográfico. Neste caso, pode se tratar de uma escolha que lhe trará problemas.
Tendo em mente estes dois critérios essenciais, as opções são muitas. Em caso de dúvida, sempre existe a possibilidade de definir, como estratégia, que um tema será trabalhado agora, enquanto os outros ficarão guardados para mais adiante, como na pós-graduação, ou em algum artigo escrito para ser publicado numa revista especializada. Afinal, nosso curso lida com a linguagem, considerada em seus mais diversos aspectos, tais como:
o nosso idioma, propriamente dito, que pode ser estudado de maneiras variadas, com ênfase em tópicos como a semântica, a sintaxe, a morfologia, a fonética e a fonologia etc.;
um estudo mais teórico de aspectos gerais da linguística, as diferentes teorias do discurso, que podem ser pensadas em sua relação com a prática cotidiana dos atos de fala;
as diferentes literaturas no idioma de Camões, campo vastíssimo e inesgotável, que abarca a produção de todos os autores relevantes do Brasil, de Portugal e da África lusófona;
as múltiplas opções oferecidas pelo vasto campo da Literatura Comparada, que nos permite ir além das fronteiras de nosso idioma, buscando o diálogo com outros povos e sua produção literária...
sem falarnas questões ligadas ao ensino de Língua e Literatura, a problemática da competência leitora, a produção textual, entre outras possibilidades.
Enfim, são tantas opções que o grande problema, para o estudante, passa a ser não ficar muito perdido na escolha. De qualquer forma, em caso de dúvida, sempre existe a possibilidade de definir, como estratégia, que um tema será trabalhado agora, enquanto os outros ficarão guardados para mais adiante, como na pós-graduação, ou em algum artigo escrito para ser publicado numa revista especializada.
Mas é importante ater-se aos conteúdos das disciplinas específicas de Letras. As matérias pedagógicas podem dar suporte a uma escolha de tema, mas tome cuidado para não escolher um tema que tenha a ver apenas com pedagogia. Um exemplo pode vir do caso da disciplina Educação Especial. Uma coisa é estudar as dificuldades de aprendizado dos portadores de certa deficiência, outra é estudar a dificuldade desses indivíduos na aquisição da linguagem. Somente neste último caso, estamos diante de uma escolha pertinente.
Outro campo de pesquisa que muito interessa aos alunos, mas encerra seus perigos, é o preconceito linguístico. Em primeiro lugar, a delimitação nos impõe a necessidade de escolher certo tipo de uso da língua, ou uma determinada época e lugar.
Algo como “o preconceito linguístico sofrido pelos imigrantes nordestinos na capital paulista nos dias atuais”, um tema, aliás, bastante instigante e que tem gerado bons trabalhos de alunos. Veja como na delimitação foi observada a escolha de uma época e de um lugar, o que já facilita muito o trabalho.
Porém há outra questão séria provocada por uma escolha deste tipo: a tendência de o aluno vir a dar total atenção aos exemplos concretos, negligenciando a teoria, ou seja, deixando meio de lado o próprio estudo da linguística. Neste caso, ele deve atentar que um bom trabalho de conclusão de curso sempre prima por buscar um equilíbrio entre teoria e prática.
O risco que se corre aqui é ficar expondo exemplos e mais exemplos, sem considerá-los à luz de uma adequada avaliação crítica. Neste caso, o erro não terá sido a falha na delimitação, mas a inconsistência metodológica.
Para evitar situações assim, será preciso levar em conta tudo o que vamos desenvolver no conteúdo das próximas aulas. Neste momento, o importante é cada estudante encontrar o seu caminho. Isso impõe a necessidade de cada um não se atrasar muito no processo de delimitação. Por isso, consideramos importantíssimo tratar disso logo na primeira aula. Bom será que, na semana que vem, todos já tenhamos uma ideia clara sobre o que pretendemos pesquisar.
AULA 2 – COMO ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA
Sempre que o ser humano se defronta com atividades que não estejam automatizadas, ou seja, que não façam parte de sua rotina diária, corre o risco de se defrontar com o questionamento básico “e agora, como fazer?”
Não temos a pretensão de possuir nenhuma receita infalível, mas consideramos de grande utilidade colocar por escrito todos os grandes desafios da vida, de modo a dialogar com eles com mais facilidade. No começo, podemos fazer uma simples anotação de uma linha. Com o tempo, ela vai crescer e ganhar corpo. Transforma-se num plano a ser posto em prática, com vistas a realizar a tarefa.
Diante do desafio de dar conta de uma pesquisa não é diferente. Podemos dizer que toda boa pesquisa começa pela etapa do planejamento. Pois bem, o objetivo principal da presente aula é destacar a importância de um bom planejamento, a fim de que o trabalho de pesquisa chegue a resultados satisfatórios. Isso se realiza, normalmente, por meio de um instrumento, que é o projeto de pesquisa.
Infelizmente temos visto, muitas vezes, esta etapa ser encarada pelo aluno como mera formalidade. De tal modo que suas etapas, que detalharemos a partir desta aula, são vistas como tarefas mecânicas e sem vida. Isso é um engano muito grande. Um bom projeto funciona como um mapa, capaz de guiar o estudioso em sua trajetória de realização da pesquisa. Aponta caminhos, indica as diretrizes, contém os indícios.
É bem verdade que o projeto não deve servir como um roteiro obrigatório. Muito pelo contrário, é frequente que venha a ser superado, tão logo a pesquisa começa a ganhar corpo. Contudo, mesmo que, mais tarde, no decorrer do processo de elaboração do trabalho, o planejamento inicial se revele insatisfatório, incompleto, assim mesmo terá cumprido seu papel fundamental de nortear nossos primeiros passos.
Sim, nortear os primeiros passos. Eis a ideia-chave. Experimente, por exemplo, colocar para funcionar um aparelho eletrônico novo sem jamais abrir o manual de instruções. O resultado será bem mais custoso do que se você o fizer depois de ter manejado o texto que acompanha o produto. Assim ocorre com quem tenta ensaiar seus primeiros passos numa pesquisa sem o suporte de um bom plano. A grande diferença é que você mesmo, caro estudante, será o autor de seu manual de instruções. Mas tal aspecto não tira nem um pouco a importância deste instrumento. Ele é muito valioso, como teremos oportunidade de verificar ao longo do curso.
O projeto de pesquisa funciona como um plano piloto para a realização do trabalho. A seguir, vamos nos ocupar de alguns aspectos fundamentais da elaboração de um projeto consistente, deixando outros para a próxima aula. Antes, porém, apresentaremos um panorama geral da estrutura de um projeto de pesquisa.
Estrutura de Um Projeto de Pesquisa
Em primeiro lugar, é preciso levar em conta a finalidade de nossa pesquisa. Temos em vista a elaboração de uma pesquisa que resultará na elaboração de um ensaio crítico, a ser apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Letras. Este ponto de partida é da maior importância para se pensar o alcance de cada etapa elencada em nosso projeto. Assim, por exemplo, o tempo de realização da pesquisa, por exemplo, se limita a quatro meses, no máximo, tendo em vista que o ensaio deve estar pronto ao final do semestre letivo.
Basicamente, todo projeto de pesquisa se compõe de:
Elementos pré-textuais, que antecedem ao texto, propriamente dito;
Elementos textuais, o corpo de texto do projeto, em si, dos quais destacaremos alguns dos principais elementos para comentar agora, deixando outros para mais tarde;
Elementos pós-textuais, que são anexos de diferentes tipos, como fotos, gráficos e outros documentos, nenhum deles de caráter obrigatório.  
Chamamos de pré-textuais todos os elementos que vêm na frente, serão os primeiros a serem manuseados por nossos futuros leitores. Portanto, não se deve descuidar deles. Ao contrário, é interessante pensar em estratégias que os deixem bem convidativos. Dentre os elementos pré-textuais, há os que são obrigatórios, como a capa e a folha de rosto, ao passo que outros são facultativos, como a dedicatória e os agradecimentos.
Mas, em aula posterior, teremos oportunidade de nos ocupar com mais detalhes dos aspectos ligados à apresentação final do projeto. Vale destacar que as partes pré-textuais de seu projeto já podem ficar guardadas a fim de ser usadas, mais tarde, na versão final do ensaio, momento em que cumprirão o mesmo papel: abrir o texto e atrair o leitor para ocupar seu tempo com o fruto de nosso trabalho.
No momento, nosso foco central de atenção são os elementos propriamente textuais. Vamos a eles, então:
�
Título do projeto de pesquisa
Identificação
Apresentação e justificativa
Objetivos
Problema, ou questão norteadora
Sumário
Proposição de hipóteses
Metodologia
Levantamento bibliográfico
Resultados esperados
Cronograma
�
Estes dois últimos itens dizem respeito a projetos que obtêm financiamento de alguma agência do governo ou entidade de fomento à pesquisa. Não precisamos nos deter neles por ora. Quanto aos demais, serão objeto de nossa atenção na presente aula e também na próxima. Mãos à obra...
Título do Projeto 
A rigor, o título cumpre duas finalidades: conter alguma informação acerca do que é o trabalho e despertaro interesse dos leitores. Vale destacar que o título não pode ser confundido com o tema do trabalho, mas precisa trazer nítidos esclarecimentos a respeito. Mas, além de ser informativo, ele deve cumprir a contento a segunda finalidade, convidar os possíveis interessados a ler o conteúdo do texto.
Um exemplo tornará tudo mais claro. Se o seu projeto, por exemplo, traz como tema o levantamento e análise de usos peculiares de formas verbais na população de uma favela carioca, como a Rocinha, você tem nisto um tema, mas será difícil fazer funcionar toda esta frase como título. Títulos excessivamente grandes devem ser evitados, ainda que isso não seja regra obrigatória.
Bem, agora você já pode começar a pensar em que título vai dar ao seu trabalho. Mas não se esqueça do que já dissemos: esta etapa não precisa, necessariamente, ser a primeira. Portanto, nada de se estressar por conta disso. Também é válido ir em frente e esperar um pouco. De posse do tema, dê tempo ao tempo, para ver se uma ideia mais sólida ganha corpo em sua mente.
Identificação 
Mais do que mera formalidade, esta etapa é indispensável. O que está em jogo é a criação de um desses hábitos que, de tão rotineiros, nem percebemos o quanto são importantes. O estudante que se inicia nas aventuras da pesquisa deve se habituar a autenticar cada passo da trajetória com sua assinatura. 
Nesta parte do projeto, devem ser destacadas algumas informações básicas, tais como o nome do aluno/pesquisador, sua matrícula, o local onde será desenvolvido o trabalho, o tipo de público que poderia vir a se interessar pela pesquisa. 
Apresentação e Justificativa 
Nesta parte do trabalho, começa propriamente a parte discursiva, que deve se caracterizar pelo domínio de técnicas de dissertação expositiva. Ou seja, deve colocar com clareza e concisão as informações iniciais, das quais derivam tudo o mais no projeto. Não há necessidade, nesta etapa, de se propor e defender argumentos. Estes serão apresentados, mais tarde, sob a forma de hipóteses.
Muitos estudantes se deparam com a questão básica de “como começar” e nisso perdem um tempo precioso. 
A seguir, ainda nesta etapa do projeto, vem a parte em que a relevância social da pesquisa é destacada. Ou seja, vamos expor o que a sociedade em geral tem a ganhar com a nossa pesquisa. Tendo em vista as sérias deficiências que o país enfrenta no que diz respeito ao ensino de Língua Materna e Literaturas, não é nada complicado desenvolver este tópico.
Vale dizer que o avanço do conhecimento científico, em qualquer área, sempre tem como propósito maior a melhoria da qualidade de vida da população, o bem-estar comum. No terreno da Literatura, por exemplo, submeter a obra de qualquer autor a uma análise sob novos parâmetros é contribuição valiosa para que as novas gerações tenham oportunidade de conhecer mais a fundo a obra deste autor, ou seja, é contribuição de caráter geral para o desenvolvimento cultural dos cidadãos como um todo, e das crianças em idade escolar, de forma mais específica.
Mas a relevância social não esgota o tópico da justificativa do trabalho. Também se podem expor os motivos pessoais que levaram o pesquisador a escolher este tema. Sempre com o cuidado de não imprimir ao texto um tom pessoal demais. Isso pode ser resolvido por meio de estratégias de impessoalização do texto, que visam a tornar a exposição de ideias mais fria, menos comprometida com a presença do sujeito falante.
A Formulação dos Objetivos  
Aqui, o que temos a fazer é colocar no papel o que nos propomos alcançar com a realização da pesquisa. Esta etapa do trabalho possui ritos bem específicos, ligados à técnica de apresentação de cada objetivo por meio de uma frase clara e concisa, que se inicia por um verbo no infinitivo. Isso se justifica por se tratar de um procedimento de bons resultados quando se trata de buscar uma fórmula de expressar um pensamento.
Portanto, já se coloca aqui outra questão: quando você expuser cada um de seus objetivos numa frase realmente curta e direta, tome cuidado para não se perder em detalhes. Estes poderão muito bem vir expressos em outras etapas de seu trabalho, como a apresentação e a justificativa, por exemplo. Entretanto, por mais que estes detalhes mereçam atenção por parte dos estudantes, o mais importante é que os textos destas frases apontem para metas reais da pesquisa.
Tanto que um dos critérios para se avaliar a qualidade de um projeto de pesquisa é verificar em que medida o que se propõe nos objetivos se verifica presente em outras etapas do texto. Ou seja, se há uma real coerência entre o que é expresso nos objetivos e as etapas seguintes do trabalho.
Mas não estamos aqui falando em rito por acaso. Se você fizer uma pesquisa na Internet, verá que há sites que fornecem a qualquer estudante uma lista de verbos que podem ser utilizados na elaboração de objetivos. Isso funciona como um suporte que pode até ser útil, desde que usado com parcimônia e equilíbrio. Afinal, a presença de um verbo no infinitivo não é o suficiente para garantir, em si mesmo, a qualidade da frase que contém o objetivo.
O próprio recurso a sites “especializados” em listas de verbos nos adverte para o risco de que este exercício possa se tornar mecânico e vazio. Outros aspectos devem ser observados para que o objetivo esteja bem elaborado. Conforme já dissemos, se o restante da frase não estiver de acordo com o que se pretende alcançar com o trabalho, então, nada feito. 
Além disso, é evidente que o objetivo também pode ser expresso de maneira diversa, sem apresentar a estrutura mais tradicional. Contudo o emprego da frase curta, iniciada por verbo no infinitivo, apresenta a vantagem de garantir uma apresentação bem clara e direta para o objetivo.
A Técnica da Problematização 
Nossa aula anterior terminou com algumas orientações para facilitar a escolha do tema e sua delimitação. Bem sei que isso nem sempre é tarefa fácil. A dúvida entre um leque variado de opções pode ficar atormentando o estudante, como também a dificuldade em estabelecer parâmetros para fazer um recorte temático que possa ser explorado num ensaio de TCC. Como vimos, temas excessivamente vastos não cabem, pois desde o início já sabemos que não vamos dar conta de tudo.
Uma pesquisa sobre o Romantismo Brasileiro, por exemplo, é algo que não se concebe aqui, tendo em vista a quantidade de autores e obras que teriam que ser analisados, com um mínimo de qualidade e atenção. Nem mesmo escolhendo a obra de um só autor teremos resolvido o problema. José de Alencar, por exemplo. Estamos falando de um autor que escreveu mais de vinte romances, sem falar de sua contribuição para o teatro e para os jornais de seu tempo. Impossível tornar o conjunto de sua obra tema de TCC.
As demais etapas da elaboração do projeto serão estudadas em nossa terceira aula. O que propomos agora é que você dirija questionamentos ao seu tema, esteja ele em que ponto estiver em seu processo de delimitação. Não passe para a próxima aula sem cumprir esta tarefa. Tal procedimento é muito importante para o andamento do trabalho. E alguns desses questionamentos, os que vierem a se mostrar os mais fecundos, devem ser destacados em seu projeto de pesquisa.
AULA 3 – COMO ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA (PARTE II)
Na aula passada, demos os passos iniciais para a elaboração de nosso Projeto de Pesquisa, discorrendo sobre a elaboração de suas etapas iniciais: apresentação, justificativa e objetivos. Depois disso, tivemos oportunidade de verificar as utilidades que se obtém da técnica da problematização. Vimos que, logo de saída, uma elas é aproveitar os questionamentos elaborados para aprimorar a delimitação do tema, submetendo à prova a escolha que fizemos. Como resultado, somos convidados a uma reflexão que tornará mais firme e consciente nossa escolha.
Agora, antes de seguir em frente, o estudante deve permanecer atento para a necessidade de que as diferentes etapas de seu projeto mantenham coerência, uma relação de complementaridade. Cada um precisatomar muito cuidado para não se perder em considerações paralelas que podem afastar o pesquisador do seu foco. Além disso, esteja sempre em alerta para os problemas que possam comprometer a clareza do texto, tais como aspectos ligados à coesão textual, a uma pontuação inadequada, entre outras questões.
Na condução de seu discurso acadêmico, os novatos em pesquisa devem evitar vícios de obscuridade. Para prevenir isso, opte sempre por uma apresentação clara e simples dos rumos do seu raciocínio. Isso não impede que você demonstre controle sobre o assunto e conhecimento de causa suficiente para defender suas posições.
Mas, de todas as precauções contra as quais o estudante precisa se proteger, nesse começo de percurso, a mais séria é a tentação de trocar de tema. Se você chegou até aqui, nossa terceira aula, já deve ter passado um bom tempo acalentando uma ideia, inclusive levantando interessantes questionamentos a respeito dela. Um bom conselho: siga nessa estrada, não mude de assunto.
Pode parecer um conselho fora de propósito a esta altura, mas não é. Temos bastante experiência no assunto. E nada perturba mais o pesquisador iniciante do que a indecisão. Sei que muitos de vocês têm mais de uma boa ideia na cabeça. Mas, por razões de ordem prática, guardem aquelas que não foram selecionadas para este trabalho. Depois, podem surgir oportunidades de retomá-las. Quem sabe numa pós-graduação?
Do Problema à Hipótese: A Dúvida Alimenta o Conhecimento
Com o que vimos até aqui, ficou claro que problematizar ajuda a repensar etapas do trabalho já realizado. Por isso, a formulação do problema ficaria destacada como providência de importância central para que nosso trabalho alcance pleno êxito. Mas não pense que esta é a única finalidade das perguntas que você propôs. Estamos longe de esgotar o assunto.
A partir de agora, vamos mostrar que a problematização tem várias outras utilidades, de tal forma que ela acaba se afirmando como uma peça-chave de todo o Projeto de Pesquisa. Na verdade, o que explica a exigência de que o problema venha expresso com clareza no texto final do projeto é justamente sua grande importância para o trabalho como um todo.
Não há nenhuma etapa do projeto que não tenha utilidade no processo de planejamento de sua pesquisa. Teremos oportunidade de mostrar, ao longo de nossas aulas, como cada linha de seu projeto será reaproveitada no momento da redação de seu Ensaio Crítico. Mas, em se tratando da problematização, estamos lidando com algo básico, um tijolo fundamental de nossa construção.
Com efeito, caros alunos, os questionamentos levantados como problemas ficam sempre a exigir respostas. Ninguém faz perguntas para que elas fiquem lançadas ao vento. Claro que sempre queremos que nossas dúvidas venham a ser resolvidas e essa expectativa é muito natural. Entretanto, como ainda estamos no começo de nossa investigação, nas etapas iniciais do trabalho, só poderemos oferecer respostas provisórias, a que daremos o nome de hipóteses. Nas palavras de Antônio Carlos Gil (2002):
Por hipótese, entende-se uma suposição ou explicação provisória do problema. Essa hipótese, que em sua forma mais simples consiste na expressão verbal que pode ser definida como verdadeira ou falsa, deve ser submetida a teste. Se em decorrência do teste for reconhecida como verdadeira, passa a ser reconhecida como verdadeira. (GIL, Antônio Carlos. Como construir hipóteses? Como elaborar projetos de pesquisa. cap. 3. São Paulo: Atlas, 2002.)
Dessa forma, cogitar da possibilidade de respostas provisórias aos problemas levantados é um passo importante na condução de uma pesquisa. Mais tarde, com o desdobramento da pesquisa, estas hipóteses serão objeto de verificação e/ou de exame mais acurado, levando ao desenvolvimento de argumentos. Bem, mas aí já não estaremos mais na etapa da preparação do projeto.
Os argumentos virão a ser, mais tarde, o nervo central do desenvolvimento do próprio ensaio crítico. Disso resulta, como fica claro, que os questionamentos oferecidos à verificação, ou seja, os problemas, funcionam como molas propulsoras de importância fundamental para o processo de gestação do ensaio.
Podemos, então, resumir o que foi posto acima no gráfico seguinte:
Problema → Hipótese → Argumento
Dos elementos dispostos no gráfico, somente os dois primeiros nos interessam neste momento. Decerto que, mais para diante, vamos nos ocupar de construir argumentos que sustentem nossos pontos de vista, mas vamos por partes. Nesta aula, vamos nos ocupar mais particularmente das hipóteses, de como devemos proceder para se chegar até elas, bem como de sua importância como etapa da reflexão crítica que leva o pesquisador a alcançar os propósitos de sua pesquisa.
Além disso, também vamos chamar a atenção para os riscos de hipóteses formuladas de modo precipitado e propor um modelo de hipótese que será de grande utilidade para a condução do trabalho.
Portanto, neste momento, não se preocupe ainda com os argumentos. O momento para pensar neles será adiante, quando estivermos cuidando da elaboração do desenvolvimento do texto de seu Ensaio, mas não precisam constar em seu projeto. Já as hipóteses devem vir expressas com muita clareza no projeto. Elas são os embriões dos argumentos, da mesma forma como o projeto, como um todo, é um embrião do ensaio, texto que trará o resultado final de nossas pesquisas.
Existem vários modos de construir hipóteses. Vamos propor um método específico que tem como finalidade já deixar o caminho preparado para que as hipóteses venham mais tarde a ser desenvolvidas, dando origem a argumentos. Nossa finalidade principal é oferecer um caminho que permita a cada estudante elaborar suas próprias hipóteses.
Formular Hipótese Requer Cuidado Redobrado
Todo trabalho de investigação tem na dúvida um de seus fundamentos básicos. Isso se verifica, por exemplo, no trabalho de um detetive, que formula várias possíveis soluções para o crime que estiver investigando. Como experimentado profissional, ele sabe que a dúvida será um aliado, caso queira chegar a bom termo. Suspeitar de possíveis caminhos é a própria essência de seu trabalho. O que temos a dizer é que a condução de uma pesquisa acadêmica também não escapa a isso. Temos, em nosso trabalho, a necessidade de um pouco deste “faro” de investigação que possui um detetive.
Já vimos que uma hipótese não passa de uma suposição, uma possibilidade latente, uma resposta provisória para as dúvidas levantadas. Por isso mesmo, será preciso muito cuidado por parte do pesquisador para que não se precipite, tratando suas hipóteses como fatos estabelecidos. Há etapas importantes da pesquisa a serem cumpridas, antes que se possa considerar que uma hipótese tem força suficiente para se afirmar como uma resposta efetiva ao problema antes. A isso chegaremos em seu devido tempo.
Pode parecer óbvio, mas é necessário o alerta, na medida em que certas hipóteses surgirem com tanta força e aparente evidência que ficamos tentados a achar que o problema já está resolvido, sem submeter a hipótese a um trabalho adequado. Muitas vezes, o pesquisador pode se encantar com uma hipótese que venha a formular. Isso pode acabar se revelando prejudicial à pesquisa.
Para deixar claro como a pesquisa científica pode induzir os homens a erros, começaremos com um exemplo em que hipóteses equivocadas vieram a ser acalentadas como respostas definitivas a um questionamento. Isso ocorreu no caso de pesquisas que eram feitas um século atrás, ou mesmo ainda no século XIX, por cientistas norte-americanos, comparando o desempenho escolar de crianças brancas e negras.
Vivia-se então tempos de forte racismo. A sociedade tomava como evidente o fato de que os brancos eram melhores, superiores. Sendo assim os resultados das pesquisas, que realmente mostraram o desempenho mais fraco das crianças negras, caíam como uma luva para efeitos de comprovar o que os segmentos dominantes da sociedade, ou seja, os brancos, queriam impor como verdade.
Considerações Sobre o “Enigma de Capitu”
A seguir, outroexemplo, este vindo dos estudos de Literatura Brasileira. Sabemos que o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, durante muito tempo foi lido e debatido sem que as pessoas levassem muito em conta o fato de que a narrativa é toda em primeira pessoa, o que faz com que o ponto de vista do personagem-narrador se sobressaia, de tal modo que a bem poucos ocorria duvidar da possibilidade de Capitu ser adúltera. Mesmo quem se colocasse “a favor de Capitu” não era capaz de se afastar de uma leitura que colocava o suposto adultério no centro das atenções.
Isso era tão forte para a sociedade brasileira, nas primeiras décadas do século XX, que chegou a ser um hábito relativamente comum que as escolas, com o objetivo de dinamizar as aulas, organizassem tribunais simulados para julgar os atos da personagem. Não duvido de que muitas vezes ela tenha sido condenada, sem que fosse levado em conta o fato de que, nas páginas do romance, nem mesmo o acusador demonstra tanta certeza, mantendo um discurso coerente o tempo todo. Suas contradições são evidentes e muito claras.
Capitu passou, então, a se impregnar no imaginário do brasileiro como protótipo de mulher provocadora, traiçoeira, ou, no mínimo, enigmática. Aliás, este é o foco de uma obra interessante sobre o assunto que resume um pouco dos debates travados por décadas a fio sobre a principal personagem feminina do romance Dom Casmurro. O volume, assinado por Eugênio Gomes tem exatamente o título de “O enigma de Capitu”.
Neste livro, o crítico se revela capaz de explorar aspectos da ambiguidade do romance, reconhece que a obra não apresenta elementos conclusivos, porém ainda trabalha com o pressuposto de que o adultério é o tema central do romance de Machado.
Com efeito, nas últimas décadas, nosso país tem experimentado grande avanço da presença feminina em vários aspectos da vida, que antes eram quase total exclusividade masculina. Desde o ofício de soldado até o de presidente, os exemplos se sucedem. A questão é verificar se isso é razão suficiente para que o romance tenha passado a ser alvo de outro tipo de leitura. Que ficção e realidade se encontram em constante diálogo, todos sabem.
Ainda assim, a associação desta “libertação de Capitu”, ou seja, o triunfo da percepção de que o problema central da obra não implica nas atitudes dela, mas sim nos conflitos íntimos de Bentinho, o que isso teria a ver diretamente com a nova realidade do lugar da mulher na sociedade real, pelo menos a princípio, não passa de uma hipótese. Parece tentadora, mas ainda fica por merecer novas pesquisas, antes que se possa afirmá-la como uma resposta consistente ao problema proposto.
Estrutura Fundamental das Hipóteses
A seguir, apresentamos um método interessante para a formulação das hipóteses, ainda que não seja o único possível. Ele toma por base alguns aspectos de lógica formal. Tal método se constitui no princípio de se partir de premissas para se chegar a conclusões, por meio de inferências, num processo a que também se pode dar o nome de silogismo.
Mas não entraremos em pormenores acerca das diferentes modalidades de raciocínio lógico. Não, agora. Nem mesmo estaremos preocupados com os modelos consagrados que a lógica formal desenvolve no âmbito dos estudos de Filosofia. Mais tarde, o processo de transformação das hipóteses em argumentos exigirá de nós um compromisso mais estrito com este rico ramo da filosofia que também possui importantes implicações no campo da produção textual.
Vamos a nossas técnicas para a formulação de hipóteses. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que, em qualquer hipótese, temos um ponto do qual partimos para elaborar uma conclusão provisória. Então, a hipótese sempre expressa a relação entre duas afirmações. Diria, antes, entre pelo menos duas afirmações, já que podemos construir hipóteses mais complexas, que relacionem maior número de assertivas. Chegaremos também a elas. Antes, é preciso tomar como ponto de partida o modelo mais simples, no qual lidamos com apenas duas assertivas.
A título de exemplos, vamos continuar trabalhando com os temas do subtítulo anterior: o caso que trata da diferença de rendimento entre crianças negras e brancas e o suposto “enigma de Capitu”.
O primeiro passo é dispor os aspectos em que se desdobra o tema em debate em assertivas, como as seguintes:
O desempenho escolar de crianças brancas era melhor do que o de negras nas escolas norte-americanas de cem anos atrás.
Indivíduos de raça branca são superiores.
Bem, acreditamos que, com os exemplos apresentados, já foi possível mostrar um caminho que levará o aluno a construir suas próprias hipóteses. A partir de agora, portanto, você já pode retomar o caso específico de seu tema, sua problematização e dar mais este passo na direção de construir seu Projeto de Pesquisa.
AULA 4 – COMO ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA (ETAPAS FINAIS)
Na verdade, tudo o que fizemos até aqui, desde nossa primeira aula, foi trabalhar com método. Num sentido mais geral, essa palavra diz respeito a qualquer caminho ou processo racional que venha a ser utilizado para se chegar a resultados satisfatórios. Agir com método significa planejar, e isso é o que temos feito desde o começo. Indica, basicamente, a necessidade de pensarmos antes nos rumos para depois iniciar a caminhada.
Podemos até considerar a busca pelo conhecimento como uma aventura, mas sempre é melhor mapear a estrada antes de seguir a jornada. Qualquer estratégia definida como necessária ou útil para se chegar a algum objetivo pode ser qualificada como um “método”.
João Álvaro Ruiz (1985), em seu trabalho Metodologia científica: Guia para eficiência nos estudos, afirma que o método é “o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos ou na procura da verdade”. Assim, o simples sequenciamento do trabalho a ser feito em etapas é parte do método, como também o é a realização de cada uma das tarefas necessárias para cumprir as diferentes etapas. Isso implica em considerar que todo o trabalho a ser feito exige um método. 
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: Guia para eficiência nos estudos. 13. ed. São Paulo: Atlas, 1985, p.131.
Porém, o que chamaremos, de “metodologia”, neste momento, tem um sentido mais específico, designará a etapa do projeto de pesquisa em que se fará uma previsão de quais escolhas metodológicas estamos prevendo que serão utilizadas no momento em que formos realizar efetivamente a pesquisa, ou seja, quando passarmos do projeto para a elaboração do ensaio crítico.
E quanto à bibliografia, pode ser incluída em um tópico mais amplo, que é o da coleta de informações acerca do tema em estudo. Não será apenas em livros que será baseado tal trabalho. Em nossa cultura audiovisual, as informações facilmente podem estar presentes nas mais diversas mídias. Sem contar que também pode ser incluído até o depoimento pessoal de pessoas de destacado conhecimento acerca do assunto, o que se pode obter, por exemplo, assistindo a uma palestra.
Na verdade, as duas etapas aqui estudadas estão em estreita relação. Dependemos de leituras para dar maior embasamento teórico à nossa reflexão sobre o tema em estudo. Isso trará consequências diretas sobre o método. Portanto, não há como redigir cada uma dessas partes em separado. O que for dito acerca de uma delas poderá ter um efeito muito imediato sobre a outra.
A metodologia científica moderna nasceu do trabalho dos pioneiros das ciências modernas, como Copérnico e Galileu, que estiveram entre os primeiros europeus a submeter os conhecimentos a um exame pautado pela análise racional, mas foi pela primeira vez sistematizada pelo matemático francês René Descartes (1596 – 1650), em um ensaio intitulado Discurso sobre o método.
Dentre os princípios propostos em sua obra, destacamos dois, para exame. São, por assim dizer, os dois fundamentos de sua contribuição para os estudiosos de todas as épocas:
Chegar à verdade através da dúvida;
Decompor o problema em pequenas partes, com o intuito de examinar maisde perto cada um de seus aspectos.
Bem, sobre o primeiro tópico, a utilidade da dúvida para o desenvolvimento de uma pesquisa, já comentamos na aula passada. Pode-se, então, dizer que já estivemos a nos ocupar de procedimentos metodológicos, mesmo sem dar esse nome ao fato, na ocasião. Sem dúvida, o método cartesiano, ou seja, o que nasce das propostas de Descartes, tem nas hipóteses um de seus principais fundamentos.
Agora, quanto ao segundo tópico, a utilidade da subdivisão do problema em pequenas partes, trata-se de algo que pode ser adotado ou não, dependendo do tipo de trabalho que temos em vista. Nesse aspecto, temos que levar em conta a complexidade do problema para avaliar se valerá a pena seguir à risca o processo de subdivisão. Tendo em vista que nosso objetivo básico é a elaboração de um ensaio crítico no nível de graduação, o empenho do estudante nessa subdivisão nem sempre é tão necessário.
Além disso, é importante ter em mente que seguir uma metodologia científica é muito importante, mas tendo sempre em vista os nossos próprios objetivos. Assim como Descartes, vários de outros importantes pioneiros das ciências vieram do campo das exatas. Não pensaram critérios específicos para se lidar com as questões que envolviam o ser humano, a sociedade, a linguagem.
Quanto a nós, especialistas em Letras, estamos comprometidos com esses três níveis de entendimento: fazemos ciência humana, social e ainda temos a linguagem como objeto de estudo. Por esse motivo, toda a tradicional metodologia científica só será útil se for adaptada às nossas próprias finalidades.
A Ação Pedagógica e Seu Caráter Social e Político
Uma das consequências disso é que alguns procedimentos típicos de outras ciências se tornam inviáveis. É o caso de submeter o tema em estudo a um olhar externo, totalmente livre de subjetividade. Não se pode pensar em se lidar com procedimentos puramente objetivos pelo simples fato de que somos seres humanos e vivemos, quase sempre, nas sociedades em que se verifica a presença de nosso objeto de estudo, ou seja, estamos incluídos no grupo sobre o qual se estuda. Estamos nos submetendo à análise de grupos sociais dos quais fazemos parte.
Por esse motivo é que certos procedimentos desenvolvidos por cientistas eminentes do passado não se enquadram no que procuramos. O fato de usarmos uma metodologia científica não nos compromete com todas as etapas observadas para pesquisas em outras disciplinas.
Feitas essas observações, podemos seguir adiante. Existem dois tipos de pesquisa, ou antes, duas abordagens de pesquisa, que podem ser conduzidas juntas ou separadas:
Qualitativa: encara o objeto de pesquisa sem a preocupação de enumerar ou medir os dados coletados. Antes disso, o pesquisador dá preferência a compreender e, a partir daí, elabora a sua interpretação dos fenômenos estudados.
Quantitativa: conduzida com o propósito deliberado para medir ou quantificar dados coletados. Faz uso de técnicas estatísticas, trabalhando com a dimensão mensurável da realidade.
Precisamos deixar claro que os dois processos podem ser verificados em uma mesma pesquisa. O melhor seria dizer qualquer pesquisa na área de Letras sempre será qualitativa, já que o pesquisador tomará contato com o material a fim de tirar conclusões que o levarão a algum tipo de análise. O aspecto quantitativo não é indispensável a todas as pesquisas.
Mas, em alguns casos, o volume de dados coletados pode fazer diferença, como ocorre em uma pesquisa na qual se proponha a trabalhar com pelo menos um dos temas citados em exemplos anteriores: o preconceito linguístico.
Então, caro estudante, nesta parte do seu projeto é importante destacar se sua pesquisa terá ou não uma dimensão quantitativa. Se a resposta a essa pergunta é “sim”, você deve especificar de onde está se propondo a retirar os dados, de que fonte. Afinal, em nenhum trabalho científico se dá uma informação nova sem citar a fonte.
A seguir, você deve também especificar outro tipo de informação, ainda mais relevante: o que diz respeito aos métodos de abordagem e aos métodos de procedimento.
No primeiro caso, deve-se esclarecer que tipo de abordagem será feita na pesquisa, se a análise de um romance terá um viés estruturalista, por exemplo, ou psicanalítica, histórico-sociológica, entre outras. Aqui, caberá também destacar quais serão os principais autores a sedimentar teoricamente a pesquisa.
Não é necessário, ainda, tecer considerações de longa extensão sobre a visão de cada autor destacado. Guarde isso para quando estiver redigindo o ensaio crítico. Indicar que os autores são importantes em sua fundamentação teórica é indispensável no projeto de pesquisa.
Quanto ao procedimento, o estudante deve dizer como o trabalho será conduzido. Assim, se você indicou o estruturalismo como método de abordagem para a análise de um texto literário, quando chegar a hora de indicar o procedimento, está claro que dirá que o texto será objeto de análise por suas características intrínsecas, ou seja, os aspectos propriamente textuais serão destacados.
Neste ponto, recordamos que dos estudos de Teoria da Literatura, os estruturalistas propunham que cada texto fosse considerado como um sistema fechado, de modo que seus múltiplos aspectos fossem analisados por partes.
Mas tudo isso deveria ser feito sem que aspectos de ordem contextual fossem levados em conta. Caso seja escolhida a uma análise com viés histórico-sociológico, será importante destacar os dados contextuais, tais como as implicações ideológicas e políticas que estariam ligadas à leitura do texto selecionado para análise.
Alguns Cuidados no Levantamento Bibliográfico
Partindo do pressuposto de que você delimitou seu tema, tendo em vista que já possui algum conhecimento prévio sobre o tema escolhido, não terá muitas dificuldades em lidar com o material bibliográfico relevante para sua pesquisa. Nas páginas que se seguem, daremos algumas orientações iniciais sobre como lidar com a bibliografia. Em aula posterior, quando já estivermos redigindo o Ensaio, retornaremos ao assunto a fim de desdobrar alguns de seus aspectos importantes.
Em toda pesquisa na área de Letras, será necessário lidar com grande quantidade de material escrito. O levantamento de material bibliográfico acompanha cada etapa da pesquisa. Às vezes, ele começa antes mesmo da delimitação do tema. Chega a haver situações em que o estudante/pesquisador muda seu tema, diante da dificuldade de encontrar material de pesquisa sobre algum tema em particular.
Bem, a primeira observação que faremos visa chamar a atenção para o fato de como lidar com material que não é de origem gráfica, ou seja, que não é impresso. Muitas vezes, lidamos com informação que não é escrita. É o que acontece com o material de origem fonográfica, videográfica ou até mesmo anotações de aula, por exemplo. Agora, dependendo de que tipo de pesquisa você escolheu fazer, vai depender mais ainda de material não escrito.
Modos de Ler e Selecionar Informações
Sabemos que não é tudo o que se diz sobre um assunto que merece crédito. Ainda mais tendo em vista as advertências feitas no subtítulo anterior, o estudante precisa se manter alerta ao que diz respeito a buscar a informação realmente importante, que vai acrescentar fundamento ao seu trabalho. Grande parte do tempo da pesquisa, qualquer uma delas, é gasto com esse processo de separar o joio do trigo.
Neste ponto, o estudante precisa ter uma atitude desapaixonada, ou seja, ser criterioso no exame do material que se apresenta útil para a pesquisa. Toda e qualquer informação é passível de ser submetida ao crivo de um juízo crítico equilibrado.
Portanto, não considere que está “perdendo tempo” nos momentos dedicados ao trabalho de levantamento de informações sobre o seu tema de pesquisa. Ao contrário, está treinando sua capacidade de escolher o que vale a pena, dentre tudo o que vier a ter em suas mãos, ou seja, estará se aprimorando numa habilidade que é básica para qualquer pesquisador, o exercício da capacidade seletiva, norteadapela reflexão crítica.
Para a condução desse processo, será muito importante levar em consideração seu conhecimento prévio sobre o tema. Uma boa sugestão para um ponto de partida é retomar o material didático da disciplina estudada ao longo do curso que tenha mais relação com o tema escolhido. Talvez você já tenha feito isso, ou pelo menos começado. Mas nunca é demais relembrar que o TCC é o momento em que o estudante produz um texto de sua própria autoria, que seja fruto de um trabalho de pesquisa sobre um tema relacionado a alguma das disciplinas do curso.
Portanto, procure na lista bibliográfica das obras usadas nas aulas, pois certamente encontrará boas indicações de novas leituras. Também é válido buscar indicações junto a professores que sejam especialistas no tema escolhido, bem como a alunos que tenham já passado pela experiência de desenvolver projetos e ensaios sobre o tema.
Outra vantagem das anotações é o fato de facilitarem o confronto de dados colhidos em fontes diversas, o que é prática comum em pesquisas acadêmicas. Uma vez feitas as leituras que resultam na elaboração das notas de leitura, o estudante não precisa retornar ao texto que foi lido toda vez que as informações ali contidas estiverem sendo retomadas por outro texto. Desta forma, as anotações garantem um aproveitamento mais eficaz do tempo destinado à pesquisa.
AULA 5 – A FORMATAÇÃO DO PROJETO, SEGUINDO AS REGRAS DA ABNT
Estamos chegando a uma etapa mais adiantada da preparação do projeto de pesquisa, quando a redação e a formatação do texto serão adequadas aos parâmetros da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Tal providência é necessária para que o trabalho atenda a princípios observados por pesquisadores de todo o país. Essas regras foram criadas justamente para proporcionar a todos os estudiosos um denominador comum, de modo que a troca de informações se tornasse mais fácil.
Uma excessiva disparidade nos modos de apresentação dos trabalhos poderia gerar certa confusão entre os estudiosos. Outro prejuízo seria dificultar a divulgação da obra de nossos pesquisadores no exterior, tendo em vista que as regras que veremos estão adaptadas a procedimentos observados em trabalhos acadêmicos produzidos nas Universidades de todo o mundo, facilitando assim o diálogo intercultural, a troca de informações e experiências, para além de fronteiras.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas existe desde 1940 e suas atividades vão muito além de nossa área de atuação. Abrangem grande variedade de produtos e serviços que circulam em território nacional ou são exportados. É uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo como único Foro Nacional de Normalização, através da Resolução n. 07 do Conmetro, de 24.08.1992.
Sua principal finalidade é a formalização de princípios que sejam usados por todos os praticantes de uma mesma atividade profissional, por todos os produtores de um mesmo artigo, de tal forma que não haja disparidades que perturbem ou criem confusão entre os usuários e consumidores.
Dentro desse contexto mais amplo, os trabalhos acadêmicos são encarados como um serviço que as universidades proporcionam ao conjunto da sociedade. O propósito de toda pesquisa é ter alguma utilidade para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, portanto há razões de sobra para que também as pesquisas acadêmicas se submetam às regras de normatização da ABNT.
Por falar em utilidade, aqui lembramos de que cada estudante foi convidado a destacar, na etapa de justificativa de seu projeto, a utilidade de sua pesquisa. Não é tão difícil.
Quando se discute, por exemplo, modos diferentes de se compreender um romance de Machado de Assis ou José de Alencar, prestamos um serviço à sociedade, na medida em que proporcionamos a leigos e estudiosos a chance de uma reflexão mais profunda a respeito da mensagem de grandes clássicos de nossa literatura, de importantes patrimônios de nossa cultura. Melhorar a qualidade da recepção dos clássicos, ou seja, facilitar a sua compreensão pelas gerações mais jovens é um grande serviço que se presta à cultura pátria.
Se, por outro lado, colocamos em debate o preconceito linguístico, não é difícil perceber que a pesquisa tem por horizonte o combate a esta e qualquer outra forma de discriminação, pautada no princípio de que todos os brasileiros têm direitos iguais. Conhecemos bem os problemas gerados por essa modalidade de discriminação. O alto índice de evasão e de repetência nas escolas é apenas parte da questão.
A seguir, veja recomendações gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos, seguidos de cuidados específicos a serem observados na preparação de um projeto de pesquisa. Não estão incluídos neste capítulo partes que dizem mais respeito ao processo de elaboração do ensaio crítico, pois estas serão objeto de atenção em aula posterior.
É o caso das partes pós-textuais, como anexos, tabelas, fotos e gravuras, que não fazem muito sentido por enquanto, mas são um dos elementos que podem compor a arquitetura final do ensaio.
Regras Gerais Para os Trabalhos Acadêmicos
Pode ser que você já conheça algumas dessas regras, tendo em vista que elas costumam ser usadas também para a digitação de trabalhos acadêmicos, em geral. É o que se verifica, por exemplo, nos relatórios de estágio. Mas nunca é demais frisar alguns dos princípios gerais que devem nortear a formatação dos trabalhos.
Regras Específicas Para os Projetos de Pesquisa
É muito comum acontecer de os manuais de produção acadêmica, tanto livros como conteúdos na Internet, fornecerem orientações gerais a serem seguidas em qualquer tipo de trabalho. Porém, o projeto de pesquisa apresenta aspectos bem peculiares que precisam ser observados. A começar pelo fato de ser um roteiro de pesquisa, e não a pesquisa em si mesma. Isso faz com que não tenha sentido a cobrança de uma estrutura dissertativa tradicional ao longo de todo o corpo do trabalho, de toda a sua parte textual.
Esta parte não virá dividida sequencialmente em “introdução”, “desenvolvimento” e “conclusão”.  Em vez disso, seguirá o ordenamento que já apresentamos em nossa aula 2.
Desta forma, enquanto no item “apresentação” existe ocasião para se desenvolver um texto dissertativo, o mesmo não acontece em “objetivos” que, como vimos, devem vir expressos de modo bem sucinto em frases padronizadas no formato de orações reduzidas de infinitivo.
Um dos elementos sobre o qual não falamos anteriormente é o sumário. Para localização desta seção dentro do conjunto do trabalho, veja a lista que apresentamos em nossa aula 2. O sumário nada mais é que uma enumeração de todas as etapas de seu trabalho, com as respectivas páginas, à maneira de um índice. Na medida do possível, deve ocupar somente uma página. Somente em trabalhos mais extensos se verifica a presença de sumários de dimensão mais dilatada. 
As etapas do trabalho todas são numeradas e uma delas, se subdivide. Neste caso, cada uma de suas seções virá com o número acrescido de ponto e um número específico. Tal procedimento é recomendado pelas normas técnicas, ainda que nem todos os pesquisadores lancem mão dele.  No canto direito da folha virá o número da página em que se encontra cada parte do trabalho, precedido de um pontilhado, que é indispensável para facilitar o trabalho do leitor na localização da página referente a cada fase do projeto.
Apresentação dos Elementos Pré-textuais
Recebem esta denominação todas as etapas do trabalho acadêmico que devem vir apresentadas antes do texto, propriamente dito. Isso não significa que você tenha que produzi-las antes.
Algumas dessas etapas são obrigatórias, como a capa, a folha de rosto e o sumário; outras são opcionais, obedecendo a critérios pessoais, como a epígrafe, a dedicatória e os agradecimentos.
Conforme vimos, somente a capa não conta como uma das páginas do trabalho. Porém os números das páginas não devem vir impressos em nenhuma dessas etapas. Somente na parte textual do trabalho é que devem ser inseridos. 
A seguir, apresentamos algunsmodelos de como deve ser a apresentação da capa e da folha de rosto do trabalho. É preciso ter um certo cuidado para não confundir as duas coisas.
O nome da instituição de ensino, acima, em letras maiúsculas, mas sem o destaque em negrito;
A seguir, logo abaixo, o nome completo do autor do trabalho, ou seja, o seu nome, também em maiúsculas, mas em negrito.
Mais abaixo, procurando centralizar na página, vêm o título e o subtítulo do trabalho, obedecendo a critérios já observados acima: ambos em negrito, mas somente o título em letras maiúsculas.  
Por fim, abaixo, o nome da cidade e o ano, ambos em negrito,  e devem vir apenas com iniciais maiúsculas. Caso em sua cidade haja mais de um campus de nossa instituição, tome cuidado, pois sempre é o nome da cidade e nunca o do campus que vem na capa do seu trabalho. Quanto à informação da data, não ponha outra informação além do ano. Sabemos que os períodos acadêmicos nas Universidades são sequenciados por semestre, mas as normas da ABNT não contemplam essa informação.
Embora muitos recomendem que se use nesta apresentação o mesmo tamanho de letra que no restante do trabalho, ou seja, o 12, nada impede que se utilize um maior, tendo em vista um destaque maior para as letras no espaço branco da página. Neste caso, o nome da instituição e o seu nome, por estarem juntos, devem vir obrigatoriamente no mesmo tamanho, que pode ser, digamos, o 14.
Há nítidas diferenças entre a folha de rosto e a capa. A começar pelo fato de não haver mais a necessidade de se destacar o nome da instituição de ensino. Temos, acima, apenas o nome do autor do trabalho, ou seja, o seu nome. A seguir, o título e o subtítulo (se houver) devem vir com o mesmo tipo de apresentação que tiveram na capa. Mais a seguir, a novidade: um pequeno box onde se informa o que é o trabalho. Para tanto, você pode seguir um modelo assim:
Projeto de pesquisa elaborado junto ao Curso de Letras da Universidade Estácio de Sá, em cumprimento às tarefas da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Licenciado em Língua Portuguesa.  
Orientador: Prof. Dr. João da Silva.
Considera-se como orientador de sua pesquisa, obviamente, o seu professor de TCC, mesmo que para a realização do trabalho você tenha contado com o suporte de algum outro professor da instituição. A este você reservará um lugar em seus agradecimentos. A informação acerca da titulação de seu orientador deve estar atualizada. A respeito deste box, uma última informação relevante: trata-se da única parte da sua folha de rosto que deve vir, obrigatoriamente, digitada com a mesma fonte que o corpo do seu trabalho.
Finalmente, na parte de baixo da folha de rosto, repetem-se as informações, já presentes na capa do trabalho, referentes à cidade e ao ano de realização do trabalho.
Procedimentos Para Citações  
Ao longo do seu trabalho haverá várias oportunidades em que você dirá coisas que têm embasamento em pesquisas e em argumentos de outras pessoas, tanto teóricos altamente valorizados naquela disciplina específica, como também professores, entre outros. Bem, neste momento, tocamos em um ponto delicado: como lidar com as palavras que não são de nossa própria autoria. Aqui temos problemas de ordem ética que precisam ser levados em conta.
Na verdade, é impossível escrever sobre um tema, qualquer que seja, partindo da estaca zero, como se ninguém antes tivesse tratado dele. O melhor a ser feito é justamente reconhecer que outros passaram antes de você por aquele caminho e há maneiras diferentes de fazer isso. 
Em primeiro lugar, trataremos da paráfrase, que consiste em retomar o que outrem disse, mas não com as mesmas palavras do autor.
Procedimentos Para as Referências Bibliográficas
A seguir, delineamos alguns procedimentos para a confecção de sua lista de referências bibliográficas, a figurar no final da parte textual do seu projeto. Como sua pesquisa ainda se encontra em curso, não haverá problema de se tratar de uma lista provisória, a ser revista e enriquecida de mais títulos, quando da elaboração da versão final de seu ensaio crítico. Contudo, a maneira de organizar os títulos de sua lista bibliográfica é rigorosamente a mesma, nas duas etapas do processo. Portanto, é preciso observas as normas técnicas que dizem respeito a isso desde já.
Em primeiro lugar, cumpre destacar que há informações indispensáveis, obrigatórias, e outras que são adicionais. O nome do autor vem sempre destacado em primeiro lugar, a começar pelo último sobrenome, em letras maiúsculas. Tal providência não se verifica apenas em casos de textos sem registro de autoria, como se poderá ver nos exemplos elencados, o que é relativamente comum em se tratando de material informativo colhido na imprensa, mas é uma situação muito rara em relação a livros.
Outra confusão muito frequente é sobre o que diz respeito a material oriundo da Internet. Em situação alguma colocar apenas o link é considerado informação suficiente. Portanto, tome cuidado. Para tanto, vale considerar regras similares às que são usadas nas demais publicações. O endereço eletrônico não deve, de modo algum, substituir o nome do autor, mas sim a referência à editora. Veja a seguir o exemplo.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Disponível em: http://www3.uma.pt/dmfe/DONDIS_Sintaxe_da_Linguagem_Visual.pdf. Acesso em 5 jan. 2013.
Note que em lugar de colocarmos a data de publicação, a informação necessária é a data em que tivemos acesso ao conteúdo. Tal informação é indispensável, tendo em vista que o material disponível na rede pode ser constantemente modificado, ou mesmo retirado dela, obedecendo a vários imperativos.
Isso é o que ocorre, muito frequentemente, quando um ensaio se vê incluído em uma coletânea impressa, ou é publicado sozinho, em livro. Neste caso, é do interesse dos editores e do autor que o texto seja adquirido em sua versão física, o que motivará a retirada da web de sua versão virtual. Caso o texto, em vez de retirado, tiver sido modificado, o aluno se resguarda quanto ao desencontro de informações na medida em que marcou com clareza a data na qual consultou o texto.
Dentre as informações estratégicas de uma referência de livro, a única que não encontra correspondente nesta modalidade é o local da publicação. Isso ocorre devido à tendência à desterritorialização, que vem a ser uma das principais características da Internet, ou seja, o local de onde provém a informação deixa de importar tanto, já que no universo da web as informações estão em processo de circulação constante.
AULA 6 – AMPLIANDO OS CONCEITOS DE LEITURA E DE ESCRITA
Agora, que já cuidamos da elaboração do Projeto de Pesquisa, podemos passar à etapa seguinte de nosso trabalho, que diz respeito ao Ensaio Crítico.
Conforme sabemos, o Projeto é uma preparação para a elaboração do Ensaio e, portanto, tudo o que consta do primeiro pode e deve ser aproveitado no segundo. É o que faremos nas aulas que nos restam.
Todavia, o Projeto e o Ensaio, em termos de estrutura, são dois documentos bem diferentes.
Projeto de pesquisa: a partir de agora, o trabalho a ser feito é de outra natureza. Se antes, estávamos preparando o terreno para uma pesquisa, anotando tópicos de um planejamento, o que faremos agora consistirá em colocar em prática tal plano, realizar efetivamente a pesquisa.
Ensaio crítico: nossa tarefa, de agora em diante, consistirá em dar forma a esta mutação, o que vem a ser um trabalho de construção de um novo texto, mas tendo como pontos de partida as fundações já preparadas antes. Podemos, aqui, nos valer da linguagem figurada e dizer que o que vínhamos fazendo até o momento era moldar os tijolos e que, agora, chegou o momento de pôr de pé o edifício.
A presente aula tem seu foco em considerações de base para um bom rendimento na elaboração do ensaio. Portanto, este é um momento decisivo. Nosso conselho, aqui, é para que todos vocês parem um pouco mais para refletir sobre o seu trabalho. Em seguida, anotem algumasrecomendações que serão de grande importância para que as aulas seguintes tenham um bom proveito. Nelas, serão examinadas as diferentes etapas da elaboração deste trabalho, com destaque para a produção de sua parte textual, ou seja, sua introdução, seu desenvolvimento e sua conclusão.
O primeiro aspecto a ser salientado é justamente que não desperdiçaremos nada do que foi feito até agora. Nós, caros alunos, aproveitaremos do Projeto quase tudo em nosso Ensaio Crítico.
Tecendo uma comparação com algo bem cotidiano, podemos dizer que o Projeto é como a lista de compras que fazemos antes de entrar no supermercado. Pois bem, cada item anotado na lista se converte num item em nosso carrinho. Da mesma forma, cada etapa do Projeto de Pesquisa se converterá em uma parcela de nosso Ensaio.
Esta advertência parece tocar num ponto óbvio, mas infelizmente temos visto estudantes de graduação que cometem o erro de encarar o Projeto de Pesquisa como nada além de uma obrigação tediosa, de que é preciso se livrar assim que o trabalho fica pronto. Um engano, por isso mesmo algo a ser combatido. Como planejar mundos e fundos para, em seguida, jogar o resultado numa lixeira da mente.
Porém, a natureza do que temos a fazer a partir de agora pede que o esforço de leitura das obras de referência, do material de consulta, seja mais aprofundado e que o processo de produção de texto resulte numa dissertação mais longa e consistente. Daí, a necessidade de parar um pouco para dar alguns conselhos preciosos para que a elaboração de Ensaio resulte num trabalho proveitoso.
Será muito útil para o pesquisador ter em vista que as atividades de leitura e de produção de textos caminham juntas. Principalmente para um pesquisador da área de Letras. Não há como separá-las em dois momentos estanques. Portanto, sempre que começamos a escrever qualquer trabalho, tal empreendimento já pressupõe que se tenha feito algumas leituras preliminares.
Porém, somente se a tarefa for muito breve e simples nos contentaremos com tão pouco. Na maioria das situações, o que fazemos exige que continuemos nossa busca por mais fontes de informação, por novos autores, com pontos de vista diferentes, que possam vir a enriquecer nossa reflexão sobre o tema em questão.
Portanto, a cada leitura, você pode fazer anotações sem copiar exatamente como está no original, para que tais notas possam vir a ser úteis como embriões de parágrafos em seu texto. Esta é uma forma de encadear a leitura com a produção de texto de modo bem dinâmico, fundado no princípio da paráfrase.
Claro que há um limite para o quanto de leitura será feito e por quanto tempo. Afinal, temos um prazo para a entrega do trabalho. Aconselhamos a que o estudante continue atento a novas fontes até o momento em que for iniciar a redação final de seu trabalho, ou seja, até o momento em que for passar a limpo seu texto, fazê-lo ultrapassar a fase inicial das anotações. Mas, a respeito desta etapa, nos ocuparemos a partir da próxima aula. Então, ainda é tempo.
Agora, isso é uma observação que se faz para o esforço de levantar novos dados, ou buscar novos autores, com diferentes pontos de vista. A maneira de tratar o material bibliográfico que já temos a nosso dispor é diferente. Nada impede que este seja alvo de novas leituras e de sucessivas revisões, que podem levar os alunos/pesquisadores a encontrar novas soluções para impasses que possam surgir no processo de elaboração do texto final.
Já dissemos o quanto é importante passar a limpo o texto, quantas vezes forem necessárias. Ao longo deste processo, não se submente o texto apenas a um processo de correção contínua, de análise textual, como também pode se manter uma prática de enriquecê-lo com mais detalhes, informações, o acréscimo do ponto de vista de mais um especialista no assunto etc. Passemos, agora, a examinar com mais detalhes alguns dos conceitos que permeiam a nossa prática de pesquisadores, produtores de conhecimento.
Por um Conceito mais Ampliado de Leitura e de Produção Escrita
Em épocas passadas, ler era um privilégio restrito a uma pequena minoria da população, um privilégio mantido por elites que cercavam tal atividade de mistério. Uma das principais mudanças vindas com a modernidade foi ter permitido uma ampla democratização da leitura. Hoje em dia, os indivíduos que frequentam escolas e se alfabetizam já são ampla maioria.
Bem, pelo menos é isso o que dizem as estatísticas. Podemos agora nos permitir um questionamento importante: até que ponto isto corresponde à realidade? Todos estão lendo mais, mesmo? Indo um pouco além na reflexão, será que basta ler mais ou não seria o caso de pensarmos em que medida nossas crianças e jovens estão realmente lendo melhor do que as gerações passadas?
Nesse caso, surgem então informações muito complexas. Qualquer euforia que se possa experimentar, por ver que hoje há mais crianças nas escolas, seria em vão.
Entretanto, nem tudo está perdido. Não podemos nos entregar facilmente diante da solução fácil de admitir a derrota e dizer que no Brasil de hoje predomina o analfabetismo funcional1. Ou, senão, uma parcela considerável da população apresenta um nível de aproveitamento baixo, ainda que não seja nulo neste quesito.
1 Analfabetismo funcional, ou seja, tendo em vista que quase todos já passaram pelas classes de alfabetização, mas poucos possuem um hábito frequente de leitura, de modo que jamais passaram da etapa de soletração ou decodificação, sendo incapazes de interpretar textos.
Tais problemas existem e um profissional do ensino de Língua Portuguesa, mais do que qualquer outra pessoa, tem que estar atento a ele. Em vez de entregar os pontos, convidamos todos vocês a pensar no problema com mais profundidade e se engajarem de vez na tarefa de dar combate ao problema.
Se existe um jogo, ainda estamos longe de ter perdido. Para reconsiderar a questão da leitura, hoje, consideramos de fundamental importância despir este conceito de toda e qualquer aura mágica. Ler não é habilidade extraordinária, de tal forma que não existe ninguém incapaz de dar conta da tarefa.
Lancemos um novo olhar sobre o problema, a partir de considerações do Prof. Paulo Freire. Coube a ele, em sua obra A importância do ato de ler, propor o conceito de “leitura de mundo”, como algo a ser levado em conta tanto por alfabetizadores como por professores de Língua Portuguesa de turmas mais avançadas. Segundo ele, desde quando a criança começa a interagir com o mundo a seu redor, já começa seu aprendizado. De tal forma que dominar os códigos da escrita é uma conquista a mais, e não a entrada num mundo inteiramente novo.
Em suas palavras: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por uma leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto”. (FREIRE, 1989).*
*FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez Editora, 1989.
Lemos o mundo sempre que reagimos aos estímulos do cotidiano, interpretando as mensagens que nos cercam, sejam elas escritas ou não. Estes estímulos estão ao nosso redor desde muito antes de começarmos a ler a palavra escrita. De tal modo que, ao chegar à escola, qualquer criança já tem sua bagagem, em termos de leitura do mundo. Para os educadores é fundamental não perder de vista este fato, não fazer pouco caso dela. É fato reconhecido, nos dias de hoje, que muitos casos de fracasso escolar derivam disso, dessa modalidade peculiar de exclusão.
Importante ressaltar que para Paulo Freire, a leitura de mundo antecede a leitura da palavra escrita, mas não se opõe a ela. Pelo contrário, existe mais uma relação de complementaridade, como ele deixa bem explícito em seu ensaio. Basta que olhemos ao nosso redor, caminhando um pouco pelas ruas, para perceber que, na época em que vivemos, o texto escrito está em toda parte: bancas de jornal, placas de trânsito e mensagens publicitárias.

Outros materiais