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Texto 7 Pesquisando o Lazer de um grupo de idosos no Brasil

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31/03/2016 Pesquisando o lazer de um grupo de idosos no Brasil
http://www.efdeportes.com/efd106/pesquisando­o­lazer­de­um­grupo­de­idosos­no­brasil.htm 1/3
Pesquisando o lazer de um
grupo de idosos no Brasil
 
 
*Professora Doutora da Universidade Federal de Minas Gerais
**Acadêmica da UFMG, Bolsista CNPq 
 
Centro de Estudos de Lazer e Recreação ­ CELAR
(Brasil) 
 
 
Christianne Luce Gomes* 
chris@eef.ufmg.br  
Gabriela Baranowski Pinto** 
gabrielabaranowski@gmail.com 
 
 
 
 
 
Resumo
    Esta pesquisa exploratória objetivou identificar e analisar o que os idosos que participam de um Projeto de Extensão Universitária entendem por lazer, através de
quais atividades o vivenciam e alguns fatores que interferem na efetivação de suas experiências. Constatou­se que o lazer assume funções de descanso e diversão,
sendo o aspecto sociabilização fundamental para a escolha das atividades. As vivências pertencem a todos os campos de interesses do lazer, ocorrem principalmente
durante a semana e são na maioria gratuitas, apesar de haver certas práticas pagas muito adotadas pelos idosos do grupo. 
    Unitermos: Lazer. Idosos. Extensão universitária. 
 
Abstract 
    The purpose of this research was to analyze what the elderly people understand by leisure, through what activities they live the leisure and what factors interfere in
this kind of experience. The bibliography research was combined with an exploratory study and together with the elderly people of a university project, and the data
were  collected  by  the  application  of  questionnaires.  The  investigated  group  has  similar  characteristics  to  the  brazilian  profile  and  worldwide  elderly,  especially
considering aspects  like gender and economic condition. The understanding of  leisure contemplates basically  the aspects of  rest and entertainment;  the activities
happen more during the week and belong to different fields of interests. The sociability was the key factor to choose the leisure experiences of the investigated group. 
    Keywords: Leisure. Elderly people. University project. 
 
 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital ­ Buenos Aires ­ Año 11 ­ N° 106 ­ Marzo de 2007
1 / 1 
Introdução: a pesquisa realizada
    Ao contrário dos países desenvolvidos que constituíram uma cultura de apoio e valorização ao idoso, principalmente
por estar enfrentando este processo há mais tempo, nações em desenvolvimento, como o Brasil, carecem de estudos
e pesquisas que permitam conhecer melhor este segmento social. Essa medida é imprescindível para uma intervenção
mais consistente junto a essa população, tendo em vista a promoção de uma vida com mais qualidade na velhice.
      Assim, foi realizado um estudo exploratório baseado na  interação qualitativo/quantitativo, caracterizando­se pela
combinação da pesquisa bibliográfica com um trabalho de campo junto aos participantes de um Projeto de Extensão
Universitária  que  atende,  aproximadamente,  200  idosos.  As  atividades  do  projeto  enfatizam  a  melhoria  das
capacidades físicas para a manutenção da autonomia e independência do idoso, além de procurar ampliar a interação
social dos envolvidos ­ seja nos momentos das aulas de ginástica, esporte, dança, alongamento e relaxamento, ou nos
momentos de lazer organizados para o grupo, tais como passeios, excursões e festas.
    A amostra foi constituída por 151 pessoas idosas voluntárias, pertencentes a ambos os sexos, com faixa etária em
torno  de  60  anos,  sem  restrição  de  etnia,  classe  ou  grupo  social.  Os  dados  foram  coletados  a  partir  de  um
questionário contendo questões abertas e fechadas. Devido às dificuldades com a leitura, escrita e compreensão das
questões,  todos  os  idosos  foram  auxiliados  para  respondê­las.  Para  realizar  a  tabulação  dos  dados  foi  utilizado  o
Pacote Estatístico SPSS 11.5 e o Programa Excel.
Alguns resultados
    A análise do significado de lazer para os sujeitos investigados revelou aspectos interessantes. Na coleta de dados,
observou­se que muitas  vezes os  idosos elaboraram  respostas  vagas e de difícil  construção, o que de  certo modo
demonstra a dificuldade do grupo de formular conceitos sobre um tema ­ lazer ­ que, provavelmente, nunca havia sido
traduzido  em  palavras.  A  falta  de  prática  dos  idosos  do  grupo  em  responder  questionários  e,  principalmente,  em
refletir sobre a realidade como um todo, problematizando o cotidiano, o  lazer e a vida, pode ter contribuído para o
surgimento desta dificuldade.
    Constatamos que o entendimento de lazer dos voluntários é algo bastante variado, mas, que acaba assumindo as
mesmas  funções  de  descanso  e  divertimento  discutidas  na  literatura  (Dumazedier,  1976).  O  aspecto  de
desenvolvimento que o lazer proporciona, contudo, foi lembrado por poucos idosos, que traduziram essa possibilidade
como "aprender, produzir e criar".
        Isso  porque  o  idoso  tem  direito  a  um  lazer  que  o  constitua,  a  atividades  que  o  divirta  e  o  enriqueça,  e  que
oportunizem a organização da experiência cultural de seu tempo ­ entendido aqui como um período que vai além da
31/03/2016 Pesquisando o lazer de um grupo de idosos no Brasil
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vida adulta e abarca o seu "hoje" onde um futuro é gerado, como o passado o gerou (Barreto, 1997). Como salienta a
autora, compreender o lazer na vida do idoso é fundamental para possibilitar que ele ocupe um lugar de sujeito, e não
de simples objeto que "sorri, pula e dança".
       A sociabilização foi um sinônimo de  lazer para os  idosos e constituiu um dos principais motivos que os  levam a
vivenciá­lo, o que indica a necessidade de ampliação ou resgate das relações interpessoais na velhice (Silva, 2003).
Assim, através de programas como a extensão universitária, os idosos pesquisados têm mais disposição para realizar
as atividades de vida diária, têm suas dores pré­existentes atenuadas ou afastadas, ampliação dos laços de amizade,
redescoberta do sentido e do prazer de continuar vivendo, além de possibilitar o encontro de novos parceiros. Esses
benefícios também foram colocados como motivos para integração no projeto de extensão ao qual são vinculados, que
foi considerado por 100% dos entrevistados como uma experiência de lazer.
        Considerando­se  os  interesses  do  campo  do  lazer  (físicos,  artísticos,  manuais,  intelectuais  e  sociais),  idéia
formulada  por  Dumazedier  (1976)  e  complementada  pelos  interesses  turísticos  propostos  por  Camargo  (1980),
constatou­se que o envelhecimento,  ao  contrário do que  se pensa, não  restringe a  vivência de variados  conteúdos
culturais, uma vez que os idosos pesquisados citaram atividades que podem ser relacionadas com todos eles. Apesar
disso, sabemos que uma adaptação das atividades às condições  individuais de quem as pratica é fundamental para
que a vivência continue a ser desempenhada sem perder o caráter de lazer.
    Das atividades de lazer vivenciadas pelos idosos, 55% são praticadas predominantemente durante a semana, 40%
durante o fim de semana e 5% em ambos os períodos. Estes dados nos permitem compreender que o idoso procura
no  lazer  alguma  forma  de  recuperar  o  seu  lugar  no  processo  de  construção  social, muitas  vezes  perdido  quando
ocorre o afastamento do trabalho, ou das obrigações familiares ­ consideradas cumpridas (Iwanowicz, 2000). Assim,
o  idoso pesquisado traz a vivência de  lazer para o seu cotidiano e não a encara mais como um momento à parte,
excluído de tudo o que compõe a sua rotina, fazendo com este momento seja para hoje, e não para amanhã.
        Essa  informação  é  importante  porque  o  lazer  da maioria  das  pessoas  é  concentrado  nos  finais  de  semana  e
períodos  de  férias,  de  modo  que  determinadosespaços  e  empreendimentos  ­  como  os  hotéis  de  lazer  ­  ficam
subutilizados durante os dias "úteis" e períodos de baixa  temporada. Se  fossem oferecidas condições especiais que
possibilitassem o acesso de idosos a esses empreendimentos em períodos de reduzida utilização, além de movimentar
a engrenagem econômica, haveria uma grande contribuição para o exercício da cidadania e a promoção de uma vida
mais significativa para esses sujeitos.
        Os motivos  alegados  para  não  praticarem  algumas  atividades  que  apreciavam  foram  diversos,  sendo  os mais
comuns: problemas de  saúde que  impedem ou atrapalham a vivência,  falta de  companhia durante a  realização da
atividade,  falta de dinheiro para custeá­la,  falta de mobilização pessoal e motivação para mudar a  rotina, violência
urbana e crença de que algumas experiências de lazer são "inadequadas" à idade avançada.
        Alguns  autores  que  reafirmam  a  carência  de  atividades  de  lazer  para  o  público  idoso  atribuem  como  causas
determinantes  do  acesso  ao  lazer  fatores  como  a  dificuldade  de  locomoção,  falta  de  equipamentos  apropriados,
ausência  de  uma  política  de  animação  efetiva  e  o  apego  a  situações  reducionistas  de  entretenimento  como  as
provocadas  pela  mídia  de  massa  difundida  pelo  rádio  e  TV.  Os  últimos  fatores,  discutidos  por  Uvinha  (1998),
aparecem entre as dez atividades mais praticadas pelos idosos investigados.
    Quanto à renda, percebemos que os idosos que não possuem rendimento próprio, geralmente, não têm gastos com
as suas atividades de  lazer. Em contrapartida, os que possuem renda  têm maior  incidência de gastos, mas que se
restringem a algumas poucas atividades, significando que o idoso não só pode vivenciar o lazer sem necessariamente
efetuar gastos substanciais, como o faz predominantemente dessa forma.
        Apesar  de  certas  vivências  de  lazer  dificilmente  serem  concretizadas  sem  gasto  financeiro  ­  como  viajar,  por
exemplo ­, o grupo investigado não as deixa de praticar por este motivo. Nesse sentido, é necessário compreender
que há uma construção cultural do  idoso que atribui um valor a essa vivência que as outras, mesmo gratuitas, não
conseguem suprir.
    Mesmo os entrevistados que alegaram não ter renda própria, apresentaram gastos com as atividades de lazer, o
que  indica  que  há  alguém  a  quem  eles  recorrem  e  que  supre  as  suas  necessidades  financeiras,  permitindo  a
realização da vivência desejada. Provavelmente, essas pessoas entendem que o idoso necessita daquela oportunidade
para  concretizar  o  lazer  na  sua  vida,  revelando  o  seu  valor  para  a  conquista  de  uma  vida  mais  prazerosa  e
significativa.
Considerações finais
        Os  idosos  participantes  do  Projeto  de  Extensão  pesquisado  consideram  o  lazer  detentor  de  funções  principais
ressaltadas na literatura, ­ descansar e divertir. Além disso, os interesses de lazer deste grupo, como um todo, são
diversificados e contemplam atividades físico­esportivas, artísticas, sociais, manuais, intelectuais e turísticas.
    A sociabilização, considerada um aspecto que ocupa um papel crucial na manutenção da qualidade de vida destas
pessoas, foi considerada importante, pois o lazer constitui­se uma forma de os voluntários da pesquisa recuperarem o
seu lugar no processo de construção social, já que à medida que envelhecem, diminuem os seus vínculos sociais e as
relações com o meio ambiente social e material.
       Certamente, a  importância do  lazer foi reconhecida pelos  idosos pesquisados. Mesmo com todas as dificuldades
com as quais se deparam diariamente, não abrem mão de certas vivências. Percebemos que aumentar a participação
31/03/2016 Pesquisando o lazer de um grupo de idosos no Brasil
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dos  idosos  pesquisados  em  atividades  de  lazer  exige  esforços mútuos  da  sociedade.  Assim,  por  um  lado,  ainda  é
necessária uma conscientização dos idosos para que se informem sobre as opções de lazer que acontecem na cidade
e se mobilizem para vivenciá­las. Por outro lado, os responsáveis pela promoção destas experiências precisam ampliar
a divulgação dos eventos e propostas socioculturais que possibilitem a participação do público idoso, proporcionando­
lhe maior acesso e diversificação das suas vivências de lazer.
        A  responsabilidade  pela  implementação  de  políticas  públicas  de  lazer  precisa  ser  devidamente  assumida  pelo
Estado, superando­se a orientação compensatória que ainda predomina em nossa realidade (Amaral, 2004). Contudo,
essa responsabilidade pode e deve ser compartilhada com a sociedade e a iniciativa privada, tomando­se o cuidado
para que o lazer não seja visto apenas como mercadoria de consumo e meio alienante de entretenimento.
        Finalmente,  é  interessante  que  haja  uma  contínua  busca  pelo  que  é  idealizado  até  agora  como  realmente
significativo  para  a  vida  do  idoso,  a  fim  de  colaborar  para  a  evolução  deste  grupo  social  em  todos  os  campos
possíveis, inclusive no campo do lazer.
Referências
AMARAL, S. C. (2004). "Políticas Públicas". In: GOMES, C. L. (org.). Dicionário Critico do Lazer. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, p.181­185.
BARRETO,  M.  L.  F.  (1997).  "Lazer  e  cultura  na  velhice".  Encontro  Nacional  de  Recreação  e  Lazer,  9,  Belo
Horizonte. Coletânea... Belo Horizonte, PBH/CELAR, pp. 130­136.
CAMARGO, L. O. L. (1980). O que é lazer. São Paulo: Perspectiva.
DUMAZEDIER, J. (1976). Lazer e cultura popular. São Paulo: perspectiva.
IWANOWICZ, J. B. (2000). "O lazer do idoso e o desenvolvimento prossocial". In: BRUHNS, H.T. (Org.). Temas
sobre Lazer. Campinas, Autores associados, p.101­127.
SILVA, A. C.  (2003).  "Lazer e  idosos: uma reflexão sobre os programas de  lazer "exclusivos" para o público
idoso  no  Rio  de  Janeiro".  Seminário  "O  Lazer  em  Debate",  4,  Belo  Horizonte.  Coletânea...  Belo  Horizonte,
UFMG, DEF, CELAR, p. 400­401.
UVINHA, R.  R.  (1999).  "Lazer  e Qualidade  de  vida:  um enfoque  na  Faculdade  da  Terceira  Idade­  FEFISA."
Revista Licere. Belo Horizonte, CELAR, v. 2, n. 1, p.153­163.
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