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1 ESTACIO/FIB - DIREITO PROCESSUAL PENAL II PROFESSOR RENÉ ALMEIDA APOSTILA DE TRIBUNAL DO JURI PROCEDIMENTO NOS CRIMES DE COMPETÊNCIA DO JURI A Constituição Federal reconheceu a instituição do júri como garantia individual (art. 5°, XXXVIII, CF), atribuindo-lhe a competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (homicídio, aborto, infanticídio, induzimento, auxilio ou instigação ao suicídio, em suas formas consumadas e tentadas – art. 74, § 1° CPP). Como direito e garantia individual, não pode ser suprimida do ordenamento pátrio nem mesmo por emenda constitucional, pois se cuida de cláusula pétrea (art. 60, § 4°, IV, da CF). Observação: as infrações que apresentam o resultado morte a título doloso, mas que não se incluem nas citadas espécies de crimes, não são de competência do tribunal do júri. Ex. latrocínio, que é julgado pelo juiz singular, ainda que a morte praticada durante o roubo tenha sido intencional. Súmula n. 603 do STF: “A competência para processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri”. A regra de competência em questão, como as demais normas constitucionais, não é absoluta, deve-se harmonizar-se com outras disposições do próprio texto constitucional, razão pela qual prevalecerão, sobre a competência do júri, as previsões de foro por prerrogativa de função. Se um prefeito, membro do MP ou um juiz de direito for acusado de homicídio, será julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado-membro em que exerce sua função e, não, pelo júri. Súmula n. 721 do STF: “a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual”. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS AO JÚRI A Constituição Federal, no art. 5°, XXXVIII, tratou de enumerar os princípios fundamentais que informam a instituição do júri. 2 1) PLENITUDE DE DEFESA Compreende o pleno exercício da defesa técnica, por parte do profissional habilitado, e da defesa pessoal. Sempre que houver divergências entre teses técnica e pessoal, ambas devem ser submetidas à apreciação dos jurados. A possibilidade de o acusado participar da escolha dos jurados que irão compor o Conselho de Sentença. Outra manifestação da plenitude de defesa estaria no poder conferido ao juiz presidente de, considerando o réu indefeso, dissolver o Conselho de Sentença, nomeando-lhe outro defensor e marcando novo julgamento (art. 497, V, CPP). STF, HC 85.969, o acusado teve seu defensor nomeado 2 dias antes do Plenário do Júri. E, além disso, o advogado se limitou a dizer que seu cliente era inocente. Então, o Júri foi anulado. 2) O SIGILO DAS VOTAÇÕES O segredo das votações é postulado que se origina da necessidade de manter os jurados a salvo de qualquer fonte de coação, embaraço ou constrangimento, por meio da garantia de inviolabilidade do teor de seu voto e do recolhimento a recinto não aberto ao público (sala secreta - art. 485, caput, CPP) para o processo de votação, donde receberá cada jurado pequenas cédulas feitas de papel opaco, contendo umas palavras sim e outras não, a fim de, secretamente, serem recolhidos os votos (art. 486, CPP). 3) A SOBERANIA DOS VEREDICTOS Diz respeito somente aos fatos reconhecidos pelo Conselho de Sentença (não pelo juiz-presidente, que pode ter sua decisão revista pelo Tribunal de Justiça). “Assim, o julgamento proferido pelos jurados não pode ser modificado pelo juiz togado ou pelo Tribunal que venha apreciar um recurso” (TÁVORA, ALENCAR, 2009, p. 676). Não impede, porém, que o tribunal, julgando a decisão manifestamente contrária à prova dos autos, determine seja o réu submetido a novo júri. Tampouco obsta a possibilidade de revisão criminal. (CPP, art. 593, III, “d”, § 3º). 4) A COMPETÊNCIA MINIMA PARA O JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA Não impede que o legislador ordinário alargue essa competência incluindo outras figuras criminais, desde que haja conexão e continência com algum crime doloso contra a vida. CARACTERES DO TRIBUNAL DO JÚRI 3 a) Temporariedade - o tribunal do júri é órgão jurisdicional de caráter não permanente, é constituído em determinadas épocas do ano e dissolvido depois de cumprir a tarefa. b) Órgão colegiado – é integrado por vários membros. c) Heterogeneidade – composto por 01 juiz profissional (juiz- presidente) e 25 juízes leigos (jurados), dos quais 07 são sorteados, a cada julgamento. d) Decisão por maioria – as decisões do júri são por maioria simples de votos. PROVIDÊNCIAS PARA A CONSTITUIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI De acordo com o art. 425, caput, CPP, todo ano o juiz-presidente organizará a lista geral dos jurados, que é de 800 a 1.500 jurados nas comarcas de mais de 1 milhão de habitantes, de 300 a 700 nas comarcas de mais de 100mil habitantes e de 80 a 400 nas comarcas de menor população. O juiz-presidente, requisitará indicação de pessoas para serem jurados às autoridade locais, às associações de classe e de bairro, às entidades associativas, às instituições de ensino, às universidades, aos sindicatos, às repartições públicas e a outros núcleos comunitários (art. 425, § 2° CPP). A lista geral dos jurados, será publicada em duas oportunidades, por via da imprensa e de editais afixados à porta da sede do Tribunal do Júri: a 1ª lista, que poderá ser alterada de oficio ou por força de reclamação de qualquer do povo até a publicação da lista definitiva, no dia 10 de outubro, a 2ª lista no dia 10 de novembro. Da inclusão ou exclusão de jurados na lista definitiva cabe recurso em sentido estrito, no prazo de 20 dias, para o Presidente do Tribunal de Justiça ou para o Presidente do Tribunal Regional Federal (arts. 581, XIV, e 586 parágrafo único). Observação: o art. 426, § 4°, procurou evitar que uma pessoa fique servindo por vários anos ao tribunal do júri, dispondo que será excluído da lista geral o jurado que tiver integrado o conselho de sentença nos 12 meses que antecederem a publicação, ou seja, o jurado que tiver efetivamente participado de algum julgamento. Composta a lista definitiva, os nomes e endereços dos jurados serão inscritos em cartões, que serão depositados em uma urna geral, e a chave ficará em poder do juiz (art. 426, § 3°, CPP). Da urna geral é que serão sorteados os jurados que servirão em cada reunião periódica. Entre o 15° e o 10° dias que antecederem cada reunião periódica será realizado um sorteio, pelo juiz, de 25 jurados. Será feito em sessão pública e com prévia intimação do MP, da OAB e da Defensoria Pública (art. 432 e 433, CPP). 4 Observação: os 25 jurados são sorteados para participarem de todos os julgamentos que ocorrerem em uma mesma reunião periódica do tribunal do júri, independente do número de sessões (julgamentos) previstas para realizarem-se. No início de cada sessão de julgamento 7 jurados serão sorteados, dentre os 25, para integrarem o conselho de sentença. CAPACIDADE GERAL PARA O SERVIÇO DO JÚRI Para que possa ser jurado, a pessoa deve atender aos seguintes requisitos: I) Nacionalidade brasileira – somente os brasileiros, natos ou naturalizados podem ser jurados; II) Cidadania (art. 436, caput, CPP) – a capacidade eleitoral ativa, que a pessoa está no gozo dos direitos políticos adquire com o alistamento eleitoral. III) Ser maior de 18 anos (art. 436, caput, CPP); IV) Notória idoneidade (art. 436, caput, CPP) – não poderão pessoas com reprovável conduta social, aquelas que ostentam antecedentes criminais, ébrios, drogados etc. V) Alfabetização – não está na lei de forma expressa,mas o jurado tem que emitir seu voto por escrito, e ler cópia do relatório de processo e da decisão de pronúncia (art. 472, § único, CPP), e os autos do processo (art. 480, § 3°, CPP); VI) Gozo das faculdades mentais. Observação: o STJ entende que não precisa residir na comarca (STJ – RHC 8.577/PE). PESSOAS ISENTAS DO SERVIÇO DO JÚRI De acordo com o art. 437 do CPP, estão isentos do serviço do júri: I) O Presidente da República e os Ministro de Estado; II) Os Governadores e seus Secretários; III) Membros do Poder Legislativo Federal, Estadual, Distrital ou Municipal; IV) Os Prefeitos Municipais; V) Os Magistrados e membros do MP e as Defensoria Pública; VI) Os servidores do Poder Judiciário, do MP e da Defensoria Pública; VII) As autoridades e os servidores da polícia e da segurança púbica; VIII) Os militares em serviço ativo 5 IX) Os militares em serviço ativo; os cidadãos maiores de 70 anos que queiram dispensa; X) Aqueles que, demostrando impedimento por meio de requerimento (arts. 443 e 444, do CPP). DIREITOS E VANTAGENS DOS JURADOS O desempenho da função de jurado e, não, a mera figuração na lista, garante as seguintes vantagens: I) Presunção de idoneidade (art. 439, CPP); (sem antecedentes criminais, bom cidadão); II) Preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas, bem como no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública e, ainda, nos casos de promoção funcional ou remoção voluntaria (art. 440, CPP); III) Garantia da inocorrência de descontos nos vencimentos quando de seu comparecimento a sessão de julgamento (art. 441, CPP); IV) Prisão processual especial, já que, muito embora a Lei n. 12.403/2011 tenha suprimido essa prerrogativa da redação do art. 439, CPP, subsiste previsão da regalia no art. 295, X, CPP. PROIBIÇÃO DE CRITÉRIOS DISCRIMINATÓRIOS A lei proíbe que se exclua dos trabalhos do júri ou que se deixe de alistar cidadão em razão de cor ou etnia, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução (art. 436, § 1° CPP). Observação: o analfabeto não pode compor o Tribunal Popular. Não se trata de excluí-lo por conta de seu grau de instrução, mas por não ostentar aptidão mínima para atuar no julgamento. (Art. 472, § único e 480, caput, CPP). OBRIGATORIEDADE DO SERVIÇO DO JÚRI É obrigatório o serviço do júri (art. 436, caput, CPP), já que se trata de dever a todos imposto e, não, de mero direito ou faculdade, razão pela qual a recusa injustificada sujeita o recalcitrante ao pagamento de multa de 01 (um) a 10 (dez) salário mínimos, de acordo com a condição econômica do jurado (art. 436, § 2°, CPP). ESCUSA DE CONSCIÊNCIA Consiste na recusa do cidadão em submeter-se a obrigação legal a todos imposta, por motivo de crença religiosa ou convicção filosófica e política. Sujeita ao autor da recusa ao cumprimento de prestação alternativa que vier a ser prevista em lei, e, no caso da recusa também se estende a esta prestação, haverá a perda dos direitos políticos. (art. 5°, VIII, CF) e (art. 438, § 2°, CPP). 6 RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS JURADOS Os jurados são considerados funcionários públicos para fins penais (art. 327, caput, CP), motivo pelo qual são responsáveis, no exercício da função ou a pretexto de exerce-la, nos termos em que o são os juízes togados (art. 445, CPP). Ex. se solicitar dinheiro de uma das partes para proferir decisão a ela favorável, incorrerá em crime de corrupção passiva. Por outro lado, o jurado que sem motivo legitimo não comparecer à sessão, ou, ainda, que se retirar antes de ser dispensado pelo juiz presidente, será sancionado administrativamente com multa de 01 (um) a 10 (dez) salários mínimos, fixada pelo magistrado de acordo com sua condição econômica (art. 442, CPP). IMPEDIMENTOS, SUSPEIÇÃO E INCOMPATIBILIDADE Dos jurados são as mesmas dos magistrados togados (art. 252, 253 e 254, CPP). Há ainda os impedimentos previstos no art. 448, I a VI, CPP. Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho: I – marido e mulher; II – ascendente e descendente; III – sogro e genro ou nora; IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; V – tio e sobrinho; VI – padrasto, madrasta ou enteado. § 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar. § 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. PRIMEIRA FASE – SUMÁRIO DA CULPA (“JUDICIUM ACCUSATIONIS”) Esta primeira fase do procedimento de apuração dos crimes dolosos contra a vida está disciplinada nos arts. 406 a 421, CPP, constituindo-se dos seguintes atos processuais: (início com recebimento da denúncia vai até a pronúncia) 1) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime – obediente aos requisitos do art. 41, CPP. 7 Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá- lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Quanto ao número de testemunhas a serem arroladas, dispõe o art. 406, § 2°, que não poderá ser superior a 08 (oito). 2) Rejeição liminar ou recebimento da inicial – art. 395 do CPP. Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. O juiz poderá rejeitar liminarmente a denúncia ou a queixa. Não sendo este o caso, procederá ao seu recebimento, ordenando a citação do acusado para resposta. 3) Citação do acusado – como regra, deverá ele ser citado pessoalmente. Não localizado, será cabível a sua citação por edital (art. 361 e 363, § 1°, CPP). Verificando o oficial de justiça que o réu está se ocultando para evitar a citação, esta poderá ser feita por hora certa (art. 362, CPP). 4) Resposta do acusado – o acusado terá o prazo de 10 (dez) dias para responder à acusação, que será contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso da citação invalida ou por edital (art. 406, § 2°). Decorrido o prazo e não apresentada a resposta, deverá o juiz nomear um defensor dativo para oferecer no prazo de 10 (dez) dias (art. 408, CPP). 5) Oitiva da acusação – apresentada a defesa, o juiz deverá notificar o MP ou querelante para se manifestarem sobre eventuais preliminares arguidas na resposta do réu ou sobre documentos que, com ela tenham sido acostados, no prazo de 05 (cinco) dias art. 409, CPP. 6) Aprazamento de audiência de instrução, interrogatório, debates e decisão – recebida a resposta do réu, o juiz tem 10 (dez) dias para marcar audiência de inquirição das testemunhas arroladas no processo e realização das diligências requeridas pelas partes (art. 410, CPP), esclarecimentos de peritos, acareações e reconhecimentos (art. 411, CPP). Observação: as provas (orais) serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz, inclusive, indeferir aquelas que considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (art. 411, § 2°, CPP), bem como ordenar a condução coercitiva à audiência de quem, regularmente notificado, a ela deva comparecer (art. 411, § 7°). 8 Em audiência, a prova oral será produzida na seguinte ordem: 1°) declarações do ofendido, se possível; 2°) declarações das testemunhas de acusação e defesa, nesta ordem; 3°) interrogatório do acusado;4°) esclarecimentos dos peritos, acareações e reconhecimento de pessoas ou coisas. Esgotado a instrução probatória e não sendo o caso de aplicação da regra pertinente à mutatio libelli, art. 384, CPP (art. 411, § 3°, CPP), passa-se a fase de debates orais, primeiro acusação e, depois, à defesa, pelo prazo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10 minutos (art. 411, § 4°, CPP). Havendo assistente de acusação habilitado nos autos, será facultado 10 minutos, logo após o MP, que também será acrescido a defesa (art. 411, § 6°, CPP). Observação: Não se contempla, aqui, a possibilidade de serem os debates orais substituídos por memoriais escritos. Encerrados os debates orais, o juiz, proferirá sua decisão em 10 (dez) dias (art. 411, § 9°, CPP). Neste momento, faculta-se ao juiz pronunciar o réu, impronunciá-lo, absolvê-lo sumariamente ou desclassificar a infração penal. 7) Prazo para conclusão do sumário da culpa – art. 412, CPP, a primeira fase do procedimento do júri deverá ser concluída no prazo máximo de 90 dias. ETAPA DECISÓRIA DO SUMÁRIO DA CULPA (FASE DA PRONÚNCIA) Alcançada essa etapa, o juiz pode encerrar a fase de formação da culpa com uma das quatro espécies de decisão: ■ Decisão interlocutória de Pronúncia – art. 413 do CPP; ■ Decisão interlocutória de Impronúncia – art. 414 do CPP; 9 ■ Sentença de Absolvição sumária – art. 415 do CPP; ■ Decisão interlocutória de Desclassificação – art. 419 do CPP. PRONÚNCIA É a decisão por meio da qual o juiz, convencido da existência material do fato criminoso e de haver indícios suficientes de que o acusado foi seu autor ou participe, admite que ele seja submetido a julgamento pelo tribunal do júri. Natureza da decisão de pronúncia Possui conteúdo eminentemente declaratório (art. 413, caput e § 1°, CPP). Em termos processuais, classifica-se como decisão interlocutória mista não terminativa, pois encerra uma fase do procedimento sem pôr fim ao processo. Na pronúncia deverão constar as elementares do tipo, as circunstancias qualificadoras e as causas de aumento de pena. Deverá o juiz, também, mencionar se o crime foi consumado ou tentado. Não caberá a menção às causas de diminuição de pena, bem como às circunstâncias agravantes e atenuantes. Também não poderá o juiz fazer referência ao concurso de crimes. Ao pronunciar o réu, o magistrado decidirá, fundamentadamente, a respeito da necessidade ou não de manutenção, revogação, substituição ou decretação de prisão cautelar, bem como sobre medida restritiva de liberdade anteriormente decretada. Em sendo afiançável o delito, deverá o juiz arbitrar, desde logo, o valor da fiança. Se dos autos constatarem indícios de autoria ou de participação de outros indivíduos não compreendidos na denúncia ou queixa, o juiz, ao preferir a decisão de pronúncia ou impronúncia, ordenará que os autos voltem ao MP, por 15 dias, aplicando-se, no que couber. Assim, o MP aditará a inicial ou requererá a separação de processos, com o oferecimento de denúncia contra o coautor ou participe. A decisão de pronúncia deve se pautar apenas em juízo de probabilidade, não de certeza, o juiz não deve demostrar claramente seu convencimento acerca do mérito da causa evitando-se o chamado excesso de linguagem (STF – informativo nº 597), o que prejudicaria a sua parcialidade e poderia interferir no convencimento dos jurados (STF – informativo nº 613). De acordo com a posição majoritária do STJ (AgRg no Resp 1167720/DF), vale o princípio do in dubio pro societate e não in dubio pro réu: na dúvida deve o juiz pronunciar o réu para que ele seja esclarecido pelos jurados, verdadeiros juízes da causa Intimação da pronúncia 10 I) O acusado será intimado, em regra, pessoalmente (art. 420, I, CPP), mas, se estiver solto e não for localizado, será intimado por edital (art. 420, § único, CPP), com prazo de 15 dias (art. 370 e 361, CPP), sem qualquer prejuízo para o prosseguimento do feito; II) O defensor dativo será intimado pessoalmente (art. 420, I, CPP); III) O defensor constituído, o querelante e o assistente serão intimados pela impressa; IV) O órgão do MP será sempre intimado pessoalmente. Recurso Contra decisão de pronúncia é cabível Recurso em Sentido Estrito - RESE (art. 581, IV, CPP). IMPRONÚNCIA Se o juiz não se convencer da existência do crime ou se, apesar de convencido, não considerar demostrada a possibilidade de o acusado ser autor ou participe, deve proferir decisão de impronúncia. Trata-se de decisão de caráter terminativo, por meio da qual o juiz declara não existir justa causa para submeter o acusado a julgamento popular. Observação: uma vez prolatada a decisão de impronúncia, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova (art. 414, § único, CPP), desde que não tenha operado causa extintiva da punibilidade (prescrição, morte do réu). Recurso Da decisão que impronuncia o réu cabe recurso de apelação (art. 416, CPP). DESCLASSIFICAÇÃO (art. 419, CPP) 11 Se o juiz se convencer, em discordância com a denúncia ou queixa, da existência exclusiva de crime que não seja da competência do júri, fará a desclassificação do crime, remetendo os autos ao juízo competente (art. 419, CPP). É conhecida como desclassificação própria. Ex. desclassificação de homicídio para lesões corporais seguidas de morte; de tentativa de homicídio para lesões corporais; de infanticídio para abandono de recém-nascido. Desclassificação Imprópria, quando o crime imputado na denúncia e também o crime desclassificado são dolosos contra a vida. Ex. Desclassificação do crime de homicídio para de infanticídio. Recurso Da decisão de desclassificação cabe recurso em sentido estrito (art. 581, II, CPP). ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Prevista no art. 415 do CPP trata da absolvição sumária, cabível quanto, de forma inequívoca, constatar o juiz, a partir da prova angariada na fase instrutória nas seguintes situações: I) Estar provada a inexistência do fato – art. 415, I, CPP; II) Estar provado que o réu não concorreu para o crime como autor ou participe – art. 415, II, CPP. III) Não constituir o fato infração penal – art. 415, III, CPP; (art. 21, CP erro de proibição, art. 22, CP coação irresistível ou obediência hierárquica etc). IV) Causa de isenção de pena consubstanciada na inimputabilidade por doença mental, quando esta se tratar da única tese defensiva – art. 415, IV, 1ª parte e § único, CPP. V) Existir circunstancias que exclua o crime – art. 415, IV, 2ª parte (excludente de ilicitude) Recurso Da decisão que absolver o réu sumariamente, cabe apelação, conforme art. 416, CPP. SEGUNDA FASE “JUDICIUM CAUSAE” Nos termos do art. 421, CPP, uma vez preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz-presidente do Tribunal do Júri com vistas à preparação do processo para o julgamento perante o Conselho de Sentença, seguindo-se, o disposto nos arts. 422 a 424, CPP. 12 Ao receber os autos do processo, o juiz determinará a notificação do MP ou do querelante (no caso de ação penal privada subsidiaria), e do advogado do réu, no prazo de 05 (cinco) dias, apresentarem, querendo, o rol de testemunhas (no máximo 05) que deverão prestar depoimento em plenário, bem como juntar documentos e requerer diligências (art. 422, CPP). Após, deliberar sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas em plenário de julgamento, e depois de realizadas as diligencias eventualmente deferidas, o juiz ordenará as providências necessárias para sanar eventuais nulidades ou esclarecer fato que interesse ao julgamento dacausa. Em seguida, fará relatório do processo e marcando data para sessão (art. 423, I, II, CPP). Observação: vale ressaltar a supressão do libelo crime acusatório (peça inaugural que consistia em uma exposição escrita do fato criminoso, contendo o nome do réu as circunstancias agravantes e todas as demais que influenciava na fixação da pena) e da contrariedade ao libelo crime acusatório. Atenção: dispõe o art. 479, CPP, eventuais documentos que desejem as partes ler em plenário, ou objetos que pretendam exibir, deverão ser acostados aos autos com antecedência mínima de 03 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. Depreende o § único do art. 479, CPP, inserem-se na exigência legal jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. DESAFORAMENTO Consiste no deslocamento do julgamento pelo júri para Comarca distinta daquela onde tramitou o processo criminal, podendo ser determinado pelo Tribunal competente a partir de requerimento de qualquer das partes (MP, querelante, assistente de acusação ou defesa) e inclusive pelo juiz, mediante representação àquele colegiado. Poderá haver desaforamento de acordo com os arts. 427 e 428, CPP: I) Interesse da ordem pública – é a intranquilidade social e os distúrbios locais que poderão ocorrer com a realização do julgamento na Comarca onde o processo tramitou. II) Dúvida sobre a imparcialidade dos jurados – hipótese na qual a comoção existente na Comarca, pela gravidade do crime ou sua autoria, poderá levar os jurados absolver ou condenar o réu, independente do que vier a ser debatido no plenário do júri. III) Dúvida sobre a segurança pessoal do réu – realizado no foro do processo, haverá riscos a integridade física do acusado, sem que haja, de 13 parte do Estado, por meio dos efetivos policiais existentes, a garantia no sentido de que será possível evitar atentados à sua pessoa. IV) Não realização do julgamento, no prazo de até seis meses contados do trânsito em julgado da pronúncia, quando comprovado o excesso de serviço (art. 428, CPP). Trata-se do atraso na designação de data para a realização do julgamento popular justificado no excesso de serviço. (Destinada a fazer valer a garantia constitucional de duração razoável do processo (art. 5°, LXXVIII da CF). Somente após a decisão de pronúncia, ou seja, quando o processo estiver pronto para julgamento, é que se pode cogitar do desaforamento. Observação: se o desaforamento não for proposto pela defesa, será obrigatória a manifestação desta, pois, de acordo com a Súmula n. 712 do STF, “é nula a decisão que determina o desaforamento de processo da competência do Júri sem audiência da defesa”. ORGANIZAÇÃO DA PAUTA Salvo motivo de interesse público, na ordem de julgamento dos processos terão preferência (art. 429, CPP): I) Os réus presos; II) Dentre os presos, os mais antigos na prisão; III) Em igualdade de condições, os que tiverem sido pronunciados há mais tempo. Determina a lei que, antes da data designada para o primeiro julgamento da reunião periódica, deve ser afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri lista dos processos a serem julgados. O juiz-presidente deverá reservar datas na mesma reunião periódica para inclusão de eventuais processos que venham a ter os julgamentos adiados (art. 429, § 2°, CPP). HABILITAÇÃO DO ASSISTENTE O assistente que ainda não tiver sido admitido nos autos poderá requerer sua habilitação até 05 dias antes da data do julgamento no qual pretenda atuar (art. 430, CPP), mas, uma vez desatendido o prazo para ingresso no processo, não participará da sessão de julgamento. INTIMAÇÕES 14 Os 25 jurados sorteados para a reunião periódica serão convocados, pelo correio ou por qualquer outro meio hábil, para comparecimento nas datas dos julgamentos designados, sob as penas da lei (art. 434, caput, CPP). Estando o processo em ordem, serão realizadas as intimações para sessão de julgamento, de acordo com as seguintes regras: a) Intimação pessoal do acusado, do MP e do defensor, se nomeado, bem como do ofendido, testemunhas e peritos. Se o réu, todavia, não for encontrado para intimação pessoal, será intimado por edital. b) Intimação pela imprensa do defensor constituído, do querelante e do assistente do MP. JULGAMENTO EM PLENÁRIO Iniciados os trabalhos, porém antes de instalada a sessão de julgamento, o juiz verificará se o MP (e o querelante), o defensor, o acusado, o ofendido e as testemunhas estão presentes observando as seguintes diretrizes (art. 454 a 462, CPP): Se ausente o MP, o julgamento será adiado para o primeiro dia útil desimpedido (art. 455, caput, CPP) e, se a ausência for injustificada, deverá o juiz expedir oficio ao PGJ, para as medidas administrativas cabíveis, se entender nomeará outro promotor para participar da futura sessão. O defensor até o momento do início dos trabalhos, da existência de justo motivo para o não comparecimento enseja o adiamento do julgamento. Se faltar sem justo motivo, o julgamento será adiado uma única vez, devendo comunicar a Defensoria Pública ou nomear dativo para a próxima data, observando o prazo de 10 dias (art. 456, CPP). Se o réu estiver preso, deverá ser conduzido à sessão. Na hipótese de não apresentação, o julgamento deve ser adiado para ocasião desimpedida. A ausência do acusado solto, desde que devidamente intimado, não interfere nos trabalhos, já que a lei passou a admitir o julgamento à revelia (art. 457, caput, CPP). Também não é imprescindível à realização do julgamento a presença do assistente e do advogado do querelante, (ação penal privada subsidiaria da pública) desde que intimado, a ausência não implicará o adiamento, pois, o MP reassume a titularidade da acusação e o julgamento ocorrerá. A ausência de testemunha não deve ensejar o adiamento do julgamento, salvo se tiver sido arrolada, tempestivamente, em caráter de imprescindibilidade, com indicação, pela parte interessada, do local em que pode ser localizada. Mesmo nessa situação deve o juiz suspender a sessão e autorizar a condução coercitiva da testemunha, adiando o julgamento para o primeiro dia desimpedido. Se a testemunha não for encontrada no local 15 indicado, o julgamento será realizado mesmo sem a sua presença, desde que seja certificada pelo oficial de justiça (art. 461, § 2°, CPP). A testemunha faltosa, mesmo que não arrolada em caráter de imprescindibilidade, fica sujeita a multa no valor de 1 a 10 salários mínimos, de acordo com sua situação econômica, além do crime desobediência, ressalvada a comprovação da justa causa (art. 458, CPP). A testemunha que residir fora do local em que o juiz exerce a jurisdição, será ouvido em carta precatória, uma vez devolvida, será juntada aos autos e seu teor utilizado em plenário. INCOMUNICABILIDADE DAS TESTEMUNHAS Antes de constituído o conselho de sentença, o juiz providenciará o recolhimento das testemunhas a recintos nos quais umas não possam ouvir o depoimento das outras (art. 460, CPP), de modo a garantir que o depoimento de cada uma delas não seja influenciado pelo das demais e, assim, preservar a neutralidade da narrativa. VERIFICAÇÃO DA URNA E DO NÚMERO DE JURADOS Depois de superadas as questões relativas à presença das partes e testemunhas, bem assim após a apreciação de eventuais pedidos de adiamento, o juiz verificará, se a urna contém cédulas com os nomes dos 25 juradossorteados, determinando, em seguida, que o escrivão proceda à chamada deles (art. 462, CPP). A defesa e, depois dela o MP poderão recusar os jurados sorteados, até 03 (três) cada parte, sem motivar a recusa (recusas peremptórias). Poderão as partes recusar outros jurados qualquer que seja a quantidade com justo motivo nos casos de suspeição, impedimento, incompatibilidade. Observação: se forem mais réus, as recusas poderão ser feitas por um só defensor (art. 469, caput, CPP), desde que com isso concordem os acusados. Em seguida, o juiz reintroduzirá na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, dela excluindo aquelas que exibirem o nome dos jurados que não tiverem comparecido. Havendo o número mínimo de 15 jurados, o juiz-presidente declarará instalada a sessão (art. 463, CPP). Computa-se, para esse cálculo, os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade (art. 463, § 2°, CPP). Observação: não havendo o quórum necessário, a sessão não será instalada, pois, constitui nulidade, quando não presentes os 15 jurados (art. 564, III, i, CPP). O juiz então realizará o sorteio de jurados suplentes e designará nova data de julgamento. 16 PREGÃO Havendo o número mínimo de jurados, o oficial de justiça, anunciará em voz alta que o julgamento terá início, chamando o representante do MP (e do querelante), o acusado e seu defensor, bem assim o assistente que tenha sido admitido no processo e, ainda, as vítimas e as testemunhas (art. 463, § 1°, CPP). Observação: nos termos do art. 571, V, CPP, as nulidades que tenham ocorridos após a pronúncia só poderão ser arguida até o momento que se segue ao pregão, sob pena de preclusão. PROVIDÊNCIAS PRÉVIAS À COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA Antes do sorteio dos 7 jurados que comporão o conselho de sentença (art. 466, caput, CPP) o juiz os advertirá das incompatibilidades previstas no art. 448, CPP. Ex. mulher e marido; ascendente e descendente; sogro e genro ou nora; irmãos e cunhado; tio e sobrinho; padrasto, madrasta ou enteado. Também estendem-se as pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar (art. 448, § 1°, CPP). Os jurados também serão advertido nas hipóteses de suspeição, em razão de parentesco com o juiz, com o promotor, com o advogado, com o réu ou com a vitima. Deve-se atentar, ainda, para as seguintes causas de impedimento (art. 449, CPP), que impedem de servir como jurado. Art. 449. Não poderá servir o jurado que: I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior; II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado; III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado. INCOMUNICABILIDADE DOS JURADOS O juiz-presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão e multa de 1 a 10 salários mínimos (art. 466, § 1°, CPP). É vedada qualquer forma de comunicação, seja oral, escrita ou por meio de gestos, tanto durante o julgamento como nas pausas e nos intervalos. 17 A lei determina que o oficial de justiça elabore certidão a respeito da preservação da incomunicabilidade (art. 466, § 2°, CPP). COMPROMISSO E RECEBIMENTO DE CÓPIA DE PEÇAS DOS AUTOS Composto o conselho de sentença, os jurados prestarão o compromisso solene de examinar a causa com imparcialidade e de proferir a decisão de acordo com a consciência e os ditames da justiça (art. 472, caput, CPP). Em seguida os jurados receberão cópias da pronúncia e de eventuais decisões posteriores que tenham admitido alteração da acusação, bem como do relatório do processo (art. 472, § único do CPP). USO DE ALGEMAS E RETIRADAS DO ACUSADO DO RECINTO A possibilidade do uso de algema ocorre nas hipóteses de absoluta necessidade para a ordem dos trabalhos, para a segurança das testemunhas ou para garantia da integridade física dos presentes (art. 474, § 3°, CPP). Será registrado em ata e se não for um desses casos e o réu permanecer algemado durante o julgamento importará nulidade, nos termos da Súmula Vinculante n. 11. É assegurado ao réu o direito de presença no julgamento, pode ser restringida se o acusado dificultar a realização do julgamento, caso em que o juiz mandará retirá-lo da sala e continuará o trabalho (art. 497, VI, CPP). Poderá ainda ocorrer momentaneamente a retirada do réu se o mesmo causar humilhação à testemunha ou ao ofendido (art. 217, CPP) durante o depoimento. ATOS DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA Iniciada o julgamento, o ofendido e, em seguida, as testemunhas de acusação serão inquiridos sucessivamente pelo juiz, MP, assistente, querelante e defensor e por fim, pelos jurados que desejarem, os quais arguirão por intermédio do juiz (art. 473, CPP). Em seguida passa-se a inquirição das testemunhas arroladas pelo acusado, às quais o defensor perguntará logo após o juiz-presidente, mantendo-se, no mais a ordem legal. No julgamento em plenário, é o juiz quem dá início à inquirição das testemunhas (art. 473, caput, CPP), atividade na qual é sucedida pelas partes. Diferente do que ocorre no art. 212, CPP. 18 Observação: as perguntas serão feitas pelas partes diretamente às testemunhas e ao ofendido sem interferência do juiz. Já no tocante as perguntas dos jurados será feita para o juiz e o mesmo passará ao ofendido que responde ao juiz e o mesmo passa para os jurados, é o chamado sistema presidencialista de colheita de provas. Antes da realização do interrogatório, as partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimentos dos peritos. Poderão, ainda, requerer leitura de peças relativas, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetitiveis (art. 473, § 3°, CPP). A instrução em plenário encerra-se com a realização do interrogatório do acusado, se tiver presente para exercer o direito de defesa. As perguntas serão feitas diretamente pelas partes, após as perguntas do juiz, iniciando-se pelo MP. Observação: Os depoimentos e interrogatório deverão ser registrados por meio de gravação magnética ou eletrônica (art. 475, CPP), para obter maior fidelidade as provas. PROVAS NOVAS O art. 479, CPP estabelece exceção à regra de que a prova documental pode ser introduzida a qualquer tempo, pois proíbe que durante o julgamento seja lido documento ou exibido objeto (jornal ou qualquer escrito, vídeos, gravações, fotografias laudos, quadros, croqui, armas ou instrumentos relacionados à infração, vestes etc), que não tenha sido juntado aos autos com antecedência mínima de 03 dias, dando ciência à outra parte. A arguição de documentos em desacordo com essa norma caracteriza nulidade de natureza relativa, cujo reconhecimento pressupõe a demonstração do prejuízo e imediata arguição (art. 571, VIII, CPP). DEBATES Terminada a colheita das provas, o MP disporá de 1h30min (uma hora e meia) para produzir a acusação, que deverá restringir-se aos termos da pronúncia ou de decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, falando o assistente logo após. O MP, não está vinculado à imputação, podendo postular a desclassificação do delito e até mesmo a absolvição. A defesa terá 1h30min (uma hora e meia) para o seu pronunciamento, ocasião em que deve oferecer resistência à pretensão punitiva, sem que possa concordar com a acusação em todos os termos.Ademais, percebendo a total insuficiência do desempenho do defensor acarretará que o réu está indefeso, o que ocorrerá a dissolução do conselho de sentença e designação de outra data para realização do julgamento, onde participará outro defensor. 19 RÉPLICA E TRÉPLICA Terminada a exposição da defesa, a acusação pode exercer a faculdade da réplica pelo prazo de 01 hora. Acaso haja assistente de acusação, esse poderá fazer uso da réplica mesmo que o acusador principal não pretenda usar dessa faculdade. A defesa só poderá fazer uso da tréplica, pelo período de 1 hora, se tiver havido réplica, já que se trata de uma faculdade. APARTES São as intervenções que uma parte faz durante a exposição do oponente. Durante o julgamento são permitidos os apartes, que devem ser solicitados pelo interessado à parte que está fazendo uso da palavra e, em caso de resistência, ao juiz. FORMULAÇÃO DOS QUESITOS Os jurados decidem respondendo a perguntas formuladas pelo juiz, às quais o CPP denomina quesitos. Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. Os quesitos devem ser formulados na ordem do art. 483, CPP. Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato; Ex. no dia 12 de outubro de 2013, por volta das 11 horas, na avenida paralela, neste município foram disparados projéteis de arma de fogo em direção a Juninho, provocando-lhe as lesões corporais descritas no laudo necroscópico, as quais, por sua vez, foram causa da morte do ofendido? II – a autoria ou participação; (esse quesito será formulado se o júri responder afirmativamente ao quesito anterior, pois, na hipótese contrária, o acusado já estará absolvido). Ex. Esses disparo foram realizados pelo acusado? III – se o acusado deve ser absolvido; (trata-se de quesito obrigatório, que só deve ser formulado se os jurados tiverem respondido afirmativamente aos dois quesitos anteriores, hipótese em que sua supressão acarreta a nulidade do 20 julgamento (Súmula 156 do STF: “É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obrigatório”). Ex. O jurado absolve o acusado? IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; Ex. O réu agiu sob o domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima? V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. Ex. o réu praticou o crime com emprego de veneno? A vítima era menor de 14 anos (art. 121, § 4°, CP). LEITURA, IMPUGNAÇÃO E EXPLICAÇÃO DOS QUESITOS O juiz-presidente lerá os quesitos em público e indagará às partes se têm alguma reclamação a eles. A ausência de impugnação gera a preclusão da faculdade de arguir deficiência dos quesitos. Caso ocorra alguma impugnação, o juiz decidirá de imediato se efetua ou não as alterações, devendo tudo constar em ata (art. 484, caput, CPP). Antes dos jurados serem encaminhados a sala secreta o juiz explicará o significado de cada quesito e se eles tem alguma dúvida que possa ser esclarecida (art. 484, § único, CPP). SALA SECRETA O juiz, os jurados, o representante do MP, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça passarão à sala especial (sala secreta), onde, sem a presença do réu, será realizada a votação (art. 485, caput, CPP). Na falta da sala especial, o réu e o público em geral serão retirados do plenário, assim também outros servidores e policiais (art. 485, § 1°, CPP). As partes serão advertidas pelo juiz-presidente, de que qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação dos jurados será expulso da sala (art. 485, § 2°). VOTAÇÃO O juiz mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 07 delas palavras “sim” e outras 07 a palavra “não”, afim de, secretamente, serem recolhidos os votos (art. 486, CPP). 21 Terá início, então, a votação, que ensejará a decisão por maioria de votos, ocasião em que o juiz lerá o quesito e convidará os jurados a depositarem seus votos em uma urna e a descartarem a cédula não utilizada em outra. O juiz interrompe a abertura das cédulas com votos dos jurados sempre que constatar a existência de quatro votos favoráveis a determinada tese. O STJ, já proclamou que o escrutínio de cada quesito deve ser interrompido quando já alcançado o resultado pela maioria de votos. (STJ – Resp 957.993/RN -2009). SENTENÇA Da sentença, que deve espelhar a decisão do júri, não haverá fundamentação quanto ao mérito, basta fazer menção ao resultado da votação e declarar o réu condenado ou absolvido Já em relação à aplicação da pena ou da medida de segurança, no entanto, há necessidade de fundamentação, como ocorre em relação às sentenças proferidas pelo juízo singular. CONDENAÇÃO Em caso de condenação, incumbirá ao juiz aplicar a pena e decidir pela existência ou inexistência das circunstancias agravantes ou atenuantes genéricas alegadas nos debates (art. 492, I, b, CPP) sem que haja necessidade, portanto, de inclui-las no questionário dirigido aos jurados. As agravantes e atenuantes genéricas são previstas nos arts. 61, 62, 65 e 66 do CP. Deve também o juiz analisar a manutenção do réu no cárcere ou a decretação da sua prisão. ABSOLVIÇÃO Na hipótese de sentença absolutória, o juiz mandará colocar o réu em liberdade, se por outro motivo não estiver preso, e revogará eventuais medidas cautelares que tenha decretado. DESCLASSIFICAÇÃO É possível que o júri não condene o réu pela pratica de crime doloso contra a vida e também não absolva dessa imputação, desclassificando a 22 infração para outra de competência do juízo singular, hipótese em que o juiz- presidente suspenderá a votação e proferirá sentença na mesma sessão (art. 492, § 1°, CPP). Ex. desclassificação de tentativa de homicídio para lesão corporal grave. PUBLICAÇÃO Proferida a sentença, será publicada em plenário, mediante leitura na presença do réu e dos circunstantes, e, após, o juiz declarará encerrada a sessão. ATA DA SESSÃO DE JULGAMENTO Em cada julgamento o escrivão lavrará ata, que levará a assinatura do juiz e das partes, na qual estarão registrados, obrigatoriamente, todos os acontecimentos da sessão (art. 495, CPP). PROTESTO POR NOVO JÚRI Foi suprimido pela Lei n. 11.689/2008, que era exclusivo da defesa.
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