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O abuso sexual de crianças e adolescentes

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Casa grande senzala
O livro tem inicialmente a apresentação de características geral da colonização portuguesa cujas características principais são escravocratas e de uma economia totalmente agrária.
Gilberto Freyre realiza uma análise dos fatores que contribuíram para a fixação e colonização portuguesa no Brasil. Em sua obra, o autor busca a compreensão da sociedade brasileira atual a partir da utilização de dois métodos científicos: o método histórico, recriando todo o período colonial com suas características e singularidades bem como o período anterior que equivale a toda experiência cultural vivida por Portugal no século XV e nas três primeiras décadas do século XVI; e o método comparativo, pois em todo o capítulo ele o utiliza, seja para comparar a colonização portuguesa com a inglesa ou a espanhola; entre Portugal e outros países europeus; entre as capitanias hereditárias do nordeste com as do sudeste e outras várias comparações feitas.
As principais ideias contidas neste trabalho são as características do português que possibilitaram a colonização do Brasil: É a partir deste ponto que o autor começa a desenvolver sua obra expondo que os contatos (tanto: culturais e até mesmo sexuais) entre os portugueses com os mouros durante a Idade Média foram fundamentais para que o português pudesse realizar bem a empreitada da colonização. Pois através de vários séculos de lutas contra os mouros, os portugueses assimilaram algumas de suas características culturais, como se observa nas palavras de Freyre (2006, p. 66) ''A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. ''O Clima, a Terra e a Gente que o Português encontrou: O português diferentemente de outros povos europeus, especialmente os de origem nórdica, teve uma grande facilidade em se adaptar em terras de clima tropical, isso se deve pois o clima de Portugal era equivalente ao clima africano, que por sua vez tinha suas semelhanças com o Brasil colônia. '' Em compensação, os portugueses teriam dificuldades em relação à terra devido a irregularidade dos rios, as pragas que atingiam as plantações, etc. Como nos mostra Freyre (2006, p. 77), ''Tudo era desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova terra (...). Enchentes mortíferas e secas esterilizantes – tal o regime das águas. E pelas terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas – viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem.'' Já em relação aos índios, os portugueses formaram um forte hibridismo. Logo ao chegarem ao Brasil os portugueses se surpreenderam com o que viram inúmeras mulheres e todas elas nuas alisando seus negros cabelos. Aquela cena remetia ao português a uma grande excitação sexual, isso ocorre pelo fato de que as índias eram muito parecidas com a ''moura encantada'' que como Freyre (2006, p.71) expõe, era um '' tipo de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios. '' Tal idealização se dá pela influência moura o que favoreceu para nascer uma nova geração formada por mestiços, favorecendo assim a ocupação do Brasil tendo em vista que Portugal não possuía um grande contingente populacional para ocupar o Brasil de forma rápida e, além disso, havia outras colônias na África e na Ásia que também necessitavam serem ocupadas.
Freyre demonstra que através do levantamento histórico e cultural do Brasil durante o período colonial é possível compreender a construção do Brasil enquanto nação, e que esta construção se deu por bases de antagonismos, como bem expressa Basile (2006), ''que a formação brasileira tem sido um processo de equilíbrio de antagonismos. Para compreendermos o hoje é necessário entendermos o ontem''.
O livro é um clássico da literatura brasileira. Para compreender ”Casa grande & Senzala” é importante levar em consideração algumas situações.
A primeira delas é a conjuntura mundial do momento em que Freyre viveu e pesquisou: No início do século XX o objetivo principal das pesquisas de todas as ciências é evidenciar a hierarquia racial, partindo da supremacia ariana até a marginalidade das raças negras. É no momento que Freyre escreve este livro que os discursos de Hitler atraem mais e mais ouvintes. Lembre-se então que Freyre (e nem Monteiro Lobato) não é preconceituoso no sentido que a palavra possui hoje. Na época em que viveram, estava em sintonia com os grandes pensadores do mundo todo.
A segunda conjuntura é a nacional: Vargas assume a presidência do Brasil e começa a incentivar que se criem sólidas bases nacionalistas. Para que haja nacionalismo, é pressuposto que haja identificação com a nação. Vargas inicia o árduo trabalho de inserção da cultura negra como parte da cultura nacional (o que era até então negado), o Brasil deixa de ser do Índio e do Português apenas para o ser também do Negro. O samba passa a ser exemplo da cultura nacional, a feijoada passa a ser prato típico, a mulata passa a ser símbolo de beleza e a capoeira passa a ser o orgulho nacional. Esta obra é parte deste processo.
Capítulo 1 - Características Gerais da colonização portuguesa no Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida.
Freyre inicia o capítulo fundamentando, com base nas teorias raciais predominantes de seu período, o sucesso da colonização do Brasil, de clima tropical, pelo português. O autor defende ser o português, de toda a Europa, o único povo capaz de se adaptar ao clima tropical sem "degeneração da raça", diferentemente do ariano.
O autor trata também da sensualidade portuguesa, do fetiche em relação à mulher bronzeada, como a muçulmana que ocupou durante tantos anos Portugal o que levou o português a sentir a mesma atração pela índia brasileira e logo iniciar a mistura de raças. Freyre defende que o português, diferentemente da maior parte dos povos europeus, em sua cultura, é o povo menos xenofóbico, o povo que, apesar de ter grande intolerância à diversidade religiosa, agrega com facilidade a diferença racial.
Sobre a vinda massiva de degenerados para o Brasil, o autor chega a conclusão de que grande parte dos degenerados foram expulsos de Portugal por crimes religiosos, como adultério, que eram considerados mais graves que assassinatos.
Freyre aborda aspectos negativos da predominância latifundiária e de monocultura no Brasil, chegando a afirmar que o brasileiro em sua avidez pelo plantio de cana-de-açúcar, esquecia-se da necessidade de outros gêneros, como legumes e frutas, e passava fome. Esta má alimentação levou ao degredo racial de toda a camada média da população. Em compensação, o Grande latifundiário e o escravo negro escapam à deficiência nutricional, sendo que, o escravo escapa por possuir grande valor, não só o valor de sua compra, mas, por dele depender toda a produção de seu senhor.
Para concluir o capítulo, Freyre passa a desmistificar a hibridez apenas entre índios e portugueses, evidenciando a mistura entre negros e índios, índios e portugueses e portugueses e negros. Fala da sensualidade dos portugueses, da falta de tabu sexual entre os índios e da escassez de mulheres negras para mostrar como todos os povos tinham seus motivos para efetuar a mistura. Encerra com o ponto negativo, o rápido avanço da sífilis no povo brasileiro em formação.
Capítulo 2 - O indígena na formação da família brasileira
Qual é o papel do índio na cultura brasileira? Qual foi o relacionamento estabelecido entre indígenas e portugueses? Qual era o papel do homem, da mulher, das crianças e até mesmo dos homossexuais na sociedade nativa? Qual o papel desempenhado pelo jesuíta? Qual o resultado final deste encontro? São estas as principais questões que o autor tenta responder neste capítulo.
Segundo as pesquisasde Freyre, quando comparada a dos espanhóis e a dos ingleses, a colonização portuguesa não pode ser chamada de brutal, o português não é racista como os ingleses e miscigena, o português não é intolerante como os espanhóis e tenta converter os índios. Por isso, a cultura do índio influiu grandemente na cultura brasileira.
Abordando de maneira geral o capítulo, podemos dizer que Freyre atribui a caça, a pesca e serviços pesados ao homem, o plantio, a educação e afazeres da tribo à mulher, o trabalho místico e feminino aos homossexuais e ao pequeno índio cabia uma educação rigorosa que o preparasse para a vida adulta. Freyre ressalta a todo momento o misticismo existente na cultura indígena, o que influenciava nas cores usadas, nos adornos, nos nomes, nos costumes e até nos tratamentos das doenças.
Quanto ao papel "civilizador" do jesuíta, Freyre afirma ter sido um dos principais motivos da devastação da cultura indígena, submetia os homens à agricultura, o que levava a depressão e a morte, o contato direto também contaminava os índios com doenças trazidas da Europa, o que também levava a morte. Freyre afirma também o aumento da mortalidade infantil. Causando um lento extermínio dos índios.
Capítulo 3 - O Colonizador português: antecedentes e predisposições.
O autor retoma aqui diversos pontos trabalhados no primeiro capítulo. As motivações do português para a expansão ultramarina, a adaptabilidade do português ao Brasil. A força da Igreja Católica em Portugal (que no Brasil é substituída pelo núcleo patriarcal da Casa Grande). O autor fala do acolhimento de sangue estrangeiro pelos portugueses no Brasil (desde que o estrangeiro se dissesse católico). Trata de modo geral, neste capítulo, da maneira natural com que os portugueses encaravam a miscigenação e principalmente com a facilidade com que aceitavam interferências culturais (de índios, europeus, árabes e judeus).
Freyre passa a falar da deficiência da alimentação portuguesa, com base no peixe: "Colonizou o Brasil uma nação de homens mal-nutridos."(313), desnutrição que se reflete também no Brasil. Freyre justifica a vinda do escravo africano no Brasil como reflexo da constatação de que o Brasil não serve para o extrativismo bruto e sim para a o cultivo agrário da cana e de que nem o índio nem o português tem a força de ânimo para a execução de tal trabalho braçal exigido no cultivo agrário, concluindo o capítulo dizendo "que o Brasil era o açúcar e o açúcar era o negro."(342)
Capítulos 4 e 5 - O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro
A primeira afirmação do capítulo é a de que não exista brasileiro (mesmo o mais alvo e loiro) sem um vestígio de negro ou de índio. Informação esta que serve de base para a elaboração do capítulo cujo objetivo é mostrar a profundeza da influência da cultura negra (e um pouco da indígena) no povo brasileiro. Muito do capítulo 4 é especulação sobre as influências da alimentação nos caracteres genéticos, sobre se a miscigenação por si é degeneradora ou se essa degeneração se dá pela má alimentação (reflexo da condição social), fala sobre superioridades ou não de raça, influências ou não de raça. Ou seja, como já foi dito no prefácio, este capítulo é o mais perigoso de ser lido sem uma contextualização do período em que o livro foi escrito. No entanto, nas entrelinhas, por trás de todos os termos como braquicefalia e sei lá o que cefalias, Freyre vai diluindo seu ponto de vista, ao mesmo tempo que apresenta argumentos de uma diferenciação racial, problematiza as condições sociais, valoriza a cultura do negro, critica aqueles que inferiorizam o negro. Junto a este tema, como que em uma complementação, o autor passa a mapear as etnias de negros vindo para o Brasil e fazer um esboço de sua cultura na África, mostrando que este surto de "história da África" que temos hoje no Brasil já era observado com curiosidade por estudiosos quase 100 anos atrás.
Ainda no capítulo 4, Freyre passa a abordar uma questão que achei interessantíssima: a sensualidade africana e mulata seria depravação natural deste grupo? Questão de inferioridade de raça como muitos cientistas apontam? Ou simplesmente consequência da escravidão? O autor argumenta incansavelmente em favor da tese de que a luxúria é resultado do autoritarismo da Casa-Grande e não da sensualidade da Senzala. Fruto do sistema escravista que autoriza um grupo a praticar quaisquer atos que queira em um outro grupo, resultando na banalização do ato sexual com escravas, as vezes ainda impúberes. Soma-se a isso o fato deste ato sexual poder trazer aumento de capital, afinal, a gravidez da escrava nada mais é do que um futuro novo escravo para seu senhor.
O assunto da sexualidade continua permeando o livro até seu término, no entanto, mesclado com outras questões interessantíssimas como a influência dos escravos que trabalhavam dentro da Casa Grande na vida da família dos senhores de engenho. Aqui vale a pena fazer outra observação. No prefácio do Fernando Henrique, ele critica Gilberto Freyre por este apresentar um relacionamento quase sem brutalidades entre senhores e escravos. Eu discordo desta opinião. Temos de lembrar que um dos objetivos do livro é mostrar a MISTURA, a INFLUÊNCIA, ou seja, não focar demais na SEPARAÇÃO, na RUPTURA. Freyre deixa em vários momentos bem claro o sadismo português em relação ao escravo e faz uma distinção bem clara entre o escravo 'quase-animal' que realiza o trabalho bruto do campo e que quase não é citado no livro por fazer parte da SEPARAÇÃO E RUPTURA e o escravo 'quase-gente' que realiza o trabalho doméstico ou nas ruas dos centros urbanos, este sim largamente trabalhado no livro por fazer parte da MISTURA e INFLUÊNCIA. Portanto, não é de se estranhar que o livro cite apenas uns casos de violência e sadismo e não trate com mais insistência deste assunto.
Freyre vai tratar ainda do amolecimento da língua portuguesa falada no Brasil, em consequência da influência dos escravos negros, dentro de casa, cuidando das crianças brancas. Das influência das negras contadoras de histórias. Passa a falar da educação, das crianças, livres em excesso nos primeiros anos, rígida em excesso após os primeiros sinais de amadurecimento (pequenos adultos, contidos, solenes, todo vestidos de preto). Fala também de professores negros, da educação dos padres. Volta ao tema da sexualidade para tratar da frequência com que religiosos criavam família no Brasil. Fala da precocidade com que as filhas dos senhores de engenho se casavam, da vida preguiçosa que as famílias da Casa Grande passaram a levar, resultado da diligencia com que os negros efetuavam todo o trabalho. Ao final do capítulo 5, Freyre faz um excelente trabalho sobre a influência da culinária africana na culinária brasileira. O livro termina falando, na última página, das doenças e mortes por suicídio, dos negros, reflexos dos abusos da escravidão.
Resenha do primeiro Capítulo de Casa-grande & senzala.
FREYRE, GILBERTO, 1900-1987 Casa Grande & Senzala: Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil; 45º Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2001
Gilberto Freyre foi um sociólogo, antropólogo e escritor, nascido em recife, 15 de março de 1900 e veio a falecer em 18 de julho de 1987. Teve grande importância no cenário brasileiro e mundial. Sendo até nossos dias, relembrado como fundamental para reconstituição histórico-social do Brasil e de Portugal. Estudou na universidade de Columbia nos Estados Unidos onde conheceu Franz Boas, seu orientador e sua principal referência intelectual. Segue, em 1921, na faculdade de ciências políticas (inclusive as ciências sociais judiciais) da universidade de Colúmbia, cursos de graduação e pós-graduação. Em 1922 defendeu sua tese de mestrado "social life in Brazil in the middle of the 19th century" (vida social no Brasil nos meados do século XIX). Foi membro da academia pernambucana de letras e da academia portuguesa de história, ensinou em várias instituições de ensino superior, tanto no Brasil como no exterior. Além de sua importânciacomo sociólogo e antropólogo, exerceu o cargo de deputado federal, eleito por pelo estado de Pernambuco. Teve diversos artigos e livros publicados. Além de sua maior obra: Casa grande e senzala, podemos citar como outras grandes obras do autor: Sobrados e mucambos, 1936; Assucar, 1939; Ordem e Progresso, 1957. Brasis, Brasil e Brasília, 1968; O brasileiro entre outros hispanos, 1975, entre outros.
Capítulo 1 - Características Gerais da colonização portuguesa no Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida.
No primeiro capítulo do livro Casa-grande e senzala que é denominado: Características gerais da colonização do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida, Gilberto Freyre utiliza-se do método histórico da reconstituição dos acontecimentos históricos para explicar sua obra. Ele remonta todo o processo, no qual, os portugueses puderam se adaptar e “colonizar” com tão pouco gente este vasto território. Também é marcante o método comparativo empregado neste capítulo, em que, a todo o momento, seja comparando a outras colonizações como a inglesa ou a espanhola; fazendo referências a outras áreas do Brasil, ele está sempre buscando analogias plausíveis para dar ainda mais credibilidade a suas teses.
O autor inicia o primeiro capítulo falando sobre as características dos portugueses que possibilitaram a colonização. Desde as guerras com os mouros, a influência semita é visível à estrutura do português. Povo de grande mobilidade e adaptabilidade, tanto física como social, o semita impõe suas marcas ao português que já não tinha um estereótipo social ou mesmo físico determinado. “População indecisa no meio de dois bandos contendores [nazarenos e maometanos], meio cristã, meio sarracena e que ambos contava parentes, amigos, simpatias de crenças e costumes. (ALEXANDRE HERCULANO, 1853, apud, FREYRE, 2001. P. 81).
Essa influência africana, estimulada pela guerra, está intrinsecamente associada ao fervor sexual e a adaptabilidade do português, pois, como diz Freyre: ''A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. (FREYRE, 2001, p. 80).
A mobilidade foi um dos segredos do português. Com uma população de insignificante número, não se explica a colonização de territórios tão distantes uns dos outros, como na África, América e Ásia, se não, pela sua mobilidade e poder de miscigenação. O português dominou territórios muito extensos e implantou-se de forma marcante em todos esses. Havia também a preocupação com as atividades específicas que cada região necessitava. Sua experiência de outras colônias foi muito importante para sanar este problema. Deslocava-se homens de acordo com suas experiências profissionais. “Os indivíduos de valor, guerreiro, administradores, técnicos, eram por sua vez deslocados pela política colonial de Lisboa como peças num tabuleiro de gamão: da Ásia para a América ou daí para a África, conforme conveniências de momento ou de religião.” (FREYRE, 2001, p. 83).
Sobre a miscibilidade do português, Freyre nos remete que a dificuldade imposta pela pequena população portuguesa, foi logo suprimida pelo desejo sexual desenfreado; e estimulado pelas razões econômicas e políticas do Estado. A figura da moura-encantada, mulher morena cheia de misticismo, já estava para o imaginário português associada ao seu mais puro desejo sexual. “[...] que os colonizadores vieram encontrar parecido, quase igual, entre as índias nuas e de cabelos soltos do Brasil. (FREYRE, 2001, p. 84). A essa união com a mulher de cor, foi necessário o rompimento de alguns preceitos religiosos, como a desestruturação inicial do casamento. Mas foi de grande valia para a miscigenação da raça, ao aumento de mão de obra e até mesmo a estruturação social para os portugueses que viriam para o Brasil em períodos futuros. “Quanto a miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, excedeu ou sequer igualou nesse ponto aos portugueses.” (FREYRE, 2001, p. 83).
A família patriarcal é o fator preponderante na estruturação social e agrária no Brasil. Essa estrutura agrária era necessariamente escravocrata, e desenvolvida pelos portugueses em consequência da falta de riquezas organizadas, ou seja, o ruralismo no Brasil foi uma consequência do clima e do solo diferente para o plantio do de Portugal. Tudo era desequilíbrio, diferentemente do que se dizia desde a primeira discrição do solo, feita pela famosa carta de Pero Vaz de Caminha: “tudo que se planta dá”. Uma terra de alimentação instável, dificultando a vida pros colonizadores do Brasil. Enchentes e secas, pobrezas e riquezas. 
Grandes excessos e grandes deficiências. Nada mais natural a utilização do negro e do índio na força de trabalho e na formação da casa-grande. Uma consequência à colonização portuguesa quase sem gente, que já havia se implantado em Ceuta na África e mantinha relações com este e outros povos africanos, facilitando o comércio de escravos para sua nova colônia. E a família colonial, quer vindas de Portugal, quer da união com gente da terra é que possibilita a fazenda, incentiva a compra de escravos e introduz o mando político. È também muito contrária aos objetivos da Companhia de Jesus que não permite: “Nenhuma individualidade nem autonomia pessoal ou de família. (FREYRE, 2001, p. 96). Enfim a família rural dá rumo a colonização portuguesa no Brasil. Chocando-se com a idealizada pelos jesuítas.
Sobre a pobre alimentação em razão da monocultura e da inadaptabilidade ao clima, só os extremos antagônicos, homens brancos das casas-grandes e negro das senzalas, eram exceções. Os primeiros pela natural escolha pautada em sua posição social. Os negros “[...] porque precisavam de comida que desse para os fazer suportar o duro trabalho da bagaceira.” (FREYRE, 2001, p.105). A policultura teria provavelmente resolvido os problemas nutritivos da formação brasileira. Mas sua implantação foi improvável pela pressão de uma influência econômica. A má formação alimentar em razão da monocultura de da inadaptabilidade ao solo, agi, no desenvolvimento físico e econômico com a mesma influência do solo deficiente e da instabilidade do clima, além disso, os alimentos formados por estas terras são de pobreza química notável, refletindo em uma sociedade pessimamente nutrida. 
Por isso, grande parte dos alimentos, mandava-se vir de Portugal. Poucos tinham a capacidade de dar-se ao luxo de tais compras. Ainda assim, os víveres não vinham em sua maioria, bem conservados. Desagregado de seus nutrientes, toda essa importação era uma tentativa de equilibrar a falta de alimentos que se encontrava nestas terras.
Já em São Paulo, os vastos terrenos pastoreios, os mantinha grandes consumidores de carne. Há também certa variedade de produção de cereais, como o trigo, a mandioca e o milho. Alimentos muito ricos em calorias, e também muito importantes para estruturar a singularização na formação paulistana. Enquanto que nas regiões do nordeste a população sofre no seu desenvolvimento econômico pela monocultura; os paulistas se mantêm os mais equilibrados em virtude de sua maior divisão de terras: a agrícola e a pastoril. 
“A vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvantagem da sifilização.” (FREYRE, 2001, p.119).
A miscigenação fora muito importante para a formação do brasileiro. Importante para preparar a estrutura que as próximas gerações de portugueses encontrariam, e para nos mostrar que somente a colonização portuguesa seria possível nas terras brasileiras. Em contrapartida, fora responsável pela disseminação de pragas e doenças não antes encontradas entre os autóctones. 
Como influência social, a sífilis só se encontra em menor importância em relação a má nutrição. A sífilis não foi uma praga importada somente por portugueses, mas também, por franceses e espanhóis. A mulher sofre em proporção desfavoráveis com as doenças europeias. Se torna uma marca de honra nas criançasas marcas da sífilis. E notoriamente essa relação de poder do homem, aliada ao sadismo imposto pela relação social dos senhores e escravas, é relacionada a circunstância econômica da nossa formação patriarcal, da mulher ser tão impotente ao domínio do homem. A mulher sempre reprimida sexual e socialmente pela figura do pai e do marido.
Gilberto Freyre utiliza-se de palavras conclusivas e sintetiza este primeiro capitulo, mais especificamente, em sua última página. Freyre conclui que a formação da sociedade brasileira esta pautada sob o equilíbrio entre antagonismos. Como o acontece entre o católico e o herege; o jesuíta e o fazendeiro; o bacharel e o analfabeto, além é claro, do maior deles pra formação da sociedade brasileira e fundada nas relações sociais em torno da casa-grande: o senhor e o escravo. 
Também diz que devido aos choques antagônicos, muitos desses foram vitais para a formação peculiar da sociedade brasileira. Se tratando de características únicas como o nepotismo em seu mais alto grau, a isenção de impostos por grande parte dos poderosos e a miscigenação notória e nossa sociedade.
CONCLUSÃO 
Toda a obra de Gilberto Freyre é notoriamente clássica mesmo aos olhos de grandes historiadores que se utilizaram de “Casa grande & senzala” como fonte de referências e uma de suas principais fontes para desenvolverem seus trabalhos.
A adaptabilidade do português tida como o único dos colonizadores modernos qualificados ao clima brasileiro a e sua forma de legitimar a miscigenação, entre portugueses, nativos e negros, são formas de se pensar a história corroboradas pelo processo de reconstituição histórica que autores posteriores como Sergio Buarque de Holanda em grande clássico: Raízes de Brasil, claramente, dialogam com o texto de Gilberto Freyre.
Sua forma de escrever, neste primeiro capítulo que é definido como “características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida; embora extremamente fiel as normas acadêmicas ainda nos dias de hoje, nos remete ao modelo de escrita de livros romancistas. Transformando sua leitura agradável e de fácil transcorrência. Entretanto, devido aos longos anos de sua obra e seu distanciamento da constante transformação que se deu, e continua a acontecer na língua, seja ela escrita ou falado, por ocasião de sua moradia em países como Estados Unidos e Portugal, alguns termos se encontram em desuso já nos primeiros anos de sua obra, o que acarreta em dificuldades para uma leitura sem grandes pausas por algumas vezes.
O autor peca em alguns momentos quando se utiliza de generalizações não contundentes a particularidade que se dá essencialmente nas divisões históricas entre Nordeste e Sudeste. Sobre a deficiência alimentar, relata a pobreza química do solo e a falta de equilíbrio dos rios, mas não define sua área de atuação o que se tratando de um território tão vasto - em especial após as missões jesuíticas que avançaram nos domínios espanhóis, mesmo com o entendimento que ainda não havia uma delimitação territorial – torna-se perigoso pensarmos, já nesse momento, no Brasil como homogêneo em suas formas de produção, de clima e até mesmo, a divisão de escravos. 
Em alguns momentos neste primeiro capítulo, introduz a mão de obra do negro e do nativo, de forma simplista e não fundamentada, como igualmente dividida por todo o território. Podemos, neste momento, nos utilizar de outras obras que dialogam claramente com este primeiro capítulo de Casa-grande e senzala. O Autor Caio Prado Júnior, em “Histórica Econômica do Brasil” e também em “Formação do Brasil Contemporâneo”, faz de suas obras um complemento, principalmente no que se refere a visão econômica da sociedade brasileira no período colonial, ao texto de Freyre. Sendo especifico na exploração de cada região, como na proximidade do rio Amazonas. Onde será bastante preciso refutando a generalização de Freyre em torno da casa-grande e colocando o nativo como único necessário a exploração de um terreno úmido e uma região na qual o negro é praticamente inadaptável.
O texto de Casa-grande e senzala é um dos pioneiros no rompimento com uma historiografia européia. Nesta cisão, Freyre crítica os modos exploração impostos pela colonização portuguesa e personaliza o comportamento do nativo e do negro. Particulariza o escravo, não visto somente como uma mercadoria, ainda que o seja assim o tratamento imposto pelos portugueses. Mas Freyre aborda sua importância social para a formação dessa sociedade híbrida que se dá nessas terras. Ele introduz de forma bastante contundente a importância não só do negro, como do nativo na estruturação da sociedade agrária. Que acontece por consequência do português, não encontrar estruturas econômicas, como as que a colonização hispânica encontrou nas sociedades estruturadas dos Incas e Astecas, além é claro da falta do ouro, não encontrado de início por estas “bandas”.
Sua historiografia comparativa através de analogias é de grande ajuda para esclarecer a formação da sociedade brasileira. Utilizando neste primeiro capítulo de comparações entre as colônias das Américas: portuguesa, espanhola e inglesa. É também muito importante para as entendermos as relações antagônicas e seus equilíbrios. 
É portando essencial para toda produção historiografia se tratando de Brasil, especialmente ao período de colonização, dar maior atenção aos antagonismos que Casa grande e senzala sintetiza de forma bastante clara. Como entre Europa e África em que os portugueses se encontram, mesmo que pendendo mais para um dos lados, o europeu, em total equilíbrio entre ambos.
Esta obra é indicada para professores e alunos de sociologia, antropologia, e história. Ou para aqueles que buscam conhecer a formação da sociedade brasileira, remontando os fatos a partir de todo o período colonial. Sendo referência para se desenvolver e reconstituir as questões sociais, da formação de uma sociedade agrária, escravocrata e hibrida.

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